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AULA I – INTRODUÇÃO À IMUNOLOGIA – PROF. DANIEL A imunologia é o estudo daquilo que nos protege, nos deixa “intocados”. Portanto, é o estudo do sistema de defesa do nosso organismo. A imunologia é a parte de Biologia que estuda o sistema imune, um sistema composto por órgãos, células (de defesa) e moléculas responsáveis por manter a homeostase. A função do sistema imune é muito mais ampla que simplesmente proteger ou defender o organismo. O sistema imune é integrado a outros sistemas do nosso corpo, existindo uma conexão entre os sistemas nervoso e imune, bem como com o sistema endócrino. ▪ QUEM SÃO OS INVASORES? Antígeno é qualquer coisa que pode ser reconhecida e que pode ou não gerar resposta imunológica. A maior fonte de substâncias estranhas que entramos em contato diariamente é a alimentação. Nesse contexto, existe a tolerância a um antígeno, que consiste na repressão de respostas a antígenos que vem por via oral ou que tenham sido tolerizados desde cedo na vida. Isso é importante no que diz respeito a diferença da resposta imune a um alimento ou a um patógeno. Os alimentos não geram resposta imunológica devido ao contexto, que no caso é anti-inflamatório, o que leva a essa supressão no trato gastrointestinal. No entanto, se uma pessoa desenvolve alergia a um alimento, por exemplo, houve contexto inflamatório que permite a resposta imune. ▪ CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE Para as células do sistema imune, existem os precursores linfoide e mieloide. O precursor linfoide dá origem aos linfócitos B e T e ao Natural Killer, que estão relacionadas à imunidade adaptativa (exceto a NK); enquanto o precursor mieloide dá origem às demais células da medula óssea como as plaquetas, as hemácias, os macrófagos, relacionados à imunidade inata. A imunidade adaptativa requer um contato, uma exposição ao antígeno para que haja uma adaptação específica a ele. Já a imunidade inata é aquela que já possuímos desde que nascemos, estando sempre pronta para funcionamento. ▪ ÓRGÃOS LINFÓIDES Os órgãos linfoides podem ser primários ou secundários. O órgãos linfoides primários produzem e maturam as células do sistema imune, sendo eles a medula óssea vermelha e o timo, enquanto nos órgãos linfoides secundários há a apresentação de antígenos e geração de respostas imunológicas, sendo eles linfonodos, o baço, o fígado, etc. Outro fator importante, relacionado ao sistema imune inato, é o sistema linfático, que, independentemente do sistema circulatório sanguíneo, drena o líquido intersticial e tem relação com órgãos linfoides secundários. Os antígenos da circulação sanguínea são apresentados no baço, enquanto os antígenos teciduais, ou seja, da circulação linfática, são apresentados nos linfonodos. ▪ IMUNIDADE INATA A imunidade inata é a primeira linha de defesa (barreira) contra infecções. Suas funções essenciais são: resposta inicial aos micróbios, imunovigilância e reparo tecidual, e estímulo a resposta imune adaptativa. Obs.: A imunovigilância é a capacidade do sistema imune de reconhecer um antígeno tumoral ou uma modificação no tecido envolvido e proporcionar o ataque às células neoplásicas ou células (antigas) modificadas (ação desregulada/podem apresentar perigos ao organismo). Os tipos principais de respostas que a imunidade inata faz são inflamação e defesa antiviral. Os componentes da imunidade inata são a barreira anatômica (química e física), células (como as NK, fagocíticas e dendríticas), e proteínas solúveis (como citocinas e substâncias antibacterianas). Obs.: as proteínas complemento são complexos proteicos composto por diversas proteínas que se autoclivam ou clivam proteínas subjacentes que vão induzir funções imunológicas, sendo a principal delas a apoptose da célula-alvo ou do microorganismo em questão. Outra função é a amplificação da ação inflamatória. O sistema complemento pode ser dividido em 3 grupos quanto a seu modo de ativação: (1) ativação por via clássica (anticorpos envolvidos no processo, principalmente IgM e IgG); (2) ativação por via alternativa; (3) ativação por ligantes de manose e nucose. Em todas as vias, há a formação de MAC, um complexo de ataque a membrana plasmática, que forma um tubo na membrana que permite a entrada de água, matando a célula por choque osmótico. A defesa contra um antígeno segue 3 momentos ou 3 linhas de defesa. As duas primeiras linhas são de responsabilidade da imunidade inata, enquanto a terceira é de responsabilidade da adaptativa. Na primeira linha, encontra-se as barreiras (pele e mucosa), microrganismos (barreira biológica) e substâncias químicas e secretadas, como pH, ácido lático, lisozima, ácidos graxos insaturados. Na segunda linha de defesa estão as células fagocitárias, dendríticas, NK. No terceiro momento, está presente a imunidade adaptativa. A imunidade inata não depende de nenhum outro mecanismo para que suas funções sejam desempenhadas, enquanto a adaptativa necessita. ▪ RECONHECIMENTO DOS MICRÓBIOS PELO SISTEMA IMUNE INATO As células do sistema imune inato reconhecem os PAMPs, padrão molecular associado ao patógeno, que são moléculas “repetidas”, ou seja, comuns a diversas classes de microrganismos e que não estão presentes nas células normais do hospedeiro. Ex: LPS, lipídeo exclusivo de bactérias gram negativas. Elas também reconhecem os DAMPs, sigla para padrão molecular associado a dano (perigo), que são moléculas que são liberadas das células danificadas ou necróticas (e que o sistema imune inato reconhece). Os receptores celulares da imunidade inata que reconhecem esses padrões são os PRRs (receptores de reconhecimento de padrões), cujas funções principais são opsonização (ligação), ativação do complemento, fagocitose e ativação pró-inflamatória. Os PRRs são receptores que possuem diferentes classes. Os receptores Toll (Toll-like receptors) estão localizados principalmente na superfície da células, reconhecendo moléculas e patógenos extracelulares. Também estão presentes em membranas vesiculares (além das celulares), cobrindo, na verdade, os domínios intracelular e extracelular, dando sinalização para transcrição de genes pró- inflamatórios, por exemplo. Quando na membrana vesicular (como de lisossomos) o reconhecimento de PAMPs pode levar a liberação do conteúdo lissosomal para combate ao antígeno. Existem também os receptores tipo NOD, que reconhecem patógenos citosólicos, ou seja, intracelulares, e sinalizam os mecanismos funcionais das células com relação aos antígenos. Estão relacionados não somente ao reconhecimento, bem como também o balanço de quando vai ser gerada a resposta inflamatória ou não. PERGUNTA DA AULA: Qual a vantagem de ter as duas imunidades, se ambas são capazes de reconhecer os antígenos? Pois apesar de reconhecerem os mesmos antígenos, as duas imunidades apresentam características diferentes nas respostas, desempenham funções diferentes que se complementam. ▪ COMPONENTES CELULARES DA IMUNIDADE INATA: Retomando os conceitos de tópicos anteriores, existem as células da imunidade originadas da linhagem mieloide e linfoide. As células NK, assim como os linfócitos B e T, são originadas da linhagem linfoide, porém pertencem à imunidade inata. Essa célula pertence a esse grupo pois não necessita de um terceiro elemento para realizar reconhecimento, enquanto as da imunidade adaptativa necessitam de reconhecimento prévio ou de um terceiro elemento que auxilia esse reconhecimento. Essa característica diferencia esses tipos de células do sistema imune. Nessa seção, serão descritas algumas células da imunidade inata, sendo que as demais serão descritas ao longo das próximas aulas. O MACRÓFAGO é a célula com maior capacidade de expansão, aumentando até cerca de 8 vezes em processos fagocitários. São capazes de mediar processos na fase tardia da resposta inflamatória,na remodelação tecidual, processo em que atuam produzindo fatores de crescimento para reconstrução da área e fagocitando células mortas. Atuam fazendo fagocitose, limpeza (tecidual) e reparo, mediando reações de inflamação (liberam citocinas) e apresentando antígenos. Os macrófagos são células da linhagem mieloide, que se diferenciam a partir dos monócitos. As CÉLULA DENDRÍTICAS são células originadas a partir de um precursor de célula dendrítica ou a partir de um monócito. Essas células capturam antígenos e os exibem para os linfócitos T. Essas células tem poder de morte muito inferior ao macrófago, porém apresentam poder de fagocitose superior. Essa célula, quando imatura, tem baixa capacidade de apresentação de antígenos, mas é altamente fagocitária. A madura perde essa grande capacidade fagocitária, mas tem alto poder de apresentação. Portanto, as imaturas estão presentes no tecido-alvo e as maduras em linfonodos para realizar a apresentação do antígenos. Os NEUTRÓFILOS apresentam função de fagocitose, podendo fagocitar células opsonizadas, e ainda possuindo receptores para complemento e imunoglobulinas. Uma função importante dos neutrófilos é a NET, que é uma armadilha de ácidos nucleicos e histona, responsável por controlar a disseminação de patógenos, capturando os patógenos e garantindo que fiquem restritos a uma área. As células NATURAL KILLER possuem vesículas que contém grânulos ricos em perforinas, granulisina, catepsina B e granzima. Esses componentes estão relacionados a ação das NK de morte das células infectadas, por citotoxidade. Apenas para infecções citoplasmáticas (não-vesiculares). A interação com a célula infectada começa com a liberação de perforinas, que criam poros na célula para a entrada da granulisina e a granzima, que estimulam cascatas de apoptose nessas células. Esse mecanismo de ação das NK se assemelha bastante com o mecanismo do linfócito T CD8. A diferença principal está no fato de que o linfócito precisa de ativar para funcionar, enquanto a NK está sempre ativa, necessitando de que uma célula apresente antígenos normais para que seja desativada. Células NK reconhecem células ligadas a anticorpos na citotoxicidade celular mediada por célula dependente de anticorpo (ADCC). Esse mecanismo ainda será descrito com detalhes. São as principais células que atuam na imunovigilância. A fagocitose é um processo de englobamento de partículas para o interior de uma célula. Pode ser do tipo direta (PRRs), em que a célula é reconhecida e englobada formando um fagossomo. Pode também ser do tipo facilitada (opsonina), em que moléculas de opsonina podem ser ligar na superfície do patógeno, tornando a fagocitose mais rápida e eficiente (capacidade de morte do patógeno). Na presença de anticorpos específicos, por exemplo, a fagocitose se torna mais eficaz e facilitada para tal antígeno. O principal anticorpo relacionado à fagocitose é a IgG, que se liga no receptor FcRg do fagócito. ▪ INFLAMAÇÃO A inflamação é um processo parte da imunidade inata, muito importante e imprescindível na resposta imune. Ela traz mudanças locais e sistêmicas responsáveis por ativação celular, ativação de remodelamento tecidual, gerando danos locais ou sistêmicos. Pertence ao sistema imune inato pois é mediado pelas células desse sistema. Alguns mecanismos da resposta adaptativa dependem de componentes do sistema imune inato para atuar, como as APCs. Células da imunidade inata secretam citocinas e quimiocinas que atuam no recrutamento de outras células e atuam sobre células da imunidade adaptativa como os linfócitos T CD4 (helper), estimulando a diferenciação em diferentes subtipos. Obs.: as principais citocinas liberadas pelas células da imunidade inata são: fator de necrose tumoral (TNF), interleucina 1 (IL-1) e interleucina 6 (IL-6). Existe imunidade adaptativa sem imunidade inata, como por exemplo na resposta adaptativa mediada por célula B, que não depende das células da imunidade inata para ocorrer. ▪ IMUNIDADE INATA X IMUNIDADE ADAPTATIVA IMUNIDADE ADAPTATIVA IMUNIDADE INATA Possui especificidade sobre os antígenos Não possui especificidade/Especificidade a sua maneira Gera memória imunológica Não gera memória imunológica Resposta especializada Resposta não-especializada Diversidade muito grande (receptores por recombinação somática de genes Diversidade limitada (codificada pela linhagem germinativa) Não reatividade ao próprio Não reatividade ao próprio AULA II – ANTÍGENOS, ANTICORPOS E MHC – PROF. DANIEL Nessa aula serão descritos os antígenos e as respostas a eles, além da ação das imunoglobulinas e o papel na apresentação de antígenos dos MHC. ▪ INTRODUÇÃO A IMUNOGLOBULINAS, ANTICORPOS OU GAMAGLOBULINAS Os anticorpos são glicoproteínas sintetizadas pelos linfócitos B, e podem se encontrar ancorados nas membrana ou excretados. Estão presentes em fluidos biológicos e em superfície de algumas células não linfoides. O organismo produz cerca de 2-3g de Ig por dia. São formados por 4 cadeias polipeptídicas (2 leves e 2 pesadas) e possuem 5 tipos alternativos de cadeias pesadas e 2 tipos de cadeias leves. A classe é definida pela cadeia pesada. Logicamente, diferentes genes codificam as porções constantes (Fc) de diferentes classes de anticorpos. Os 5 tipos de anticorpos são: IgA, IgM, IgG, IgE e IgD. As moléculas de anticorpos que apresentam a mesma especificidade possuem em comum a região variável (Fab), onde há o sítio de ligação com o antígeno. A especificidade do anticorpo, portanto, está na porção variável. Anticorpos com a mesma região variável, porém com regiões constantes diferentes, atuarão sobre o mesmo antígeno, porém desempenhando funções diferentes a partir disso. As reações AG-AC seguem o modelo chave-fechadura, fazendo ligações múltiplas (dois pontos pelo menos de ligação ao antígeno) e reversíveis. As moléculas apresentam uma região de dobradiça, que junta a porção constante com a variável, e garantindo certa mobilidade para o anticorpo. Os anticorpos podem estar na forma membranar ou na forma secretada. A forma membranar apresenta uma região hidrofóbica transmembranar, não apresentada pela forma secretada. Obs.: a forma secretada também não apresenta as caudas citoplasmáticas que permitem o anticorpo membranar ativar mediadores dentro do citoplasma. Os antígenos apresentam determinantes relacionados à interação com o anticorpo. A natureza dos determinantes antigênicos pode ser: (1) determinante conformacional, em que o anticorpo detecta formas específicas do antígeno, ou seja, não consegue reagir com o antígeno caso ele perda sua forma; (2) determinante linear, que é passível de ligação e reconhecimento pelo anticorpo com o antígeno nativo ou desnaturado; (3) e determinante neoantigênica, relacionada a regiões que são reconhecidas apenas no antígeno desnaturado, quando esse epítopo é exposto. Os anticorpos reagem com diferentes tipos de moléculas do antígeno, como DNA, proteína, glicolipídeos e etc., sendo uma reação “plural”, que independe da natureza do antígeno. Já o reconhecimento dependente de célula só reconhece proteínas, como no caso do reconhecimento por células T. Duas características importantes das imunoglobulinas são a especificidade, relacionada com a particularidade da ação do anticorpo, ou seja, sua relação especial com o antígeno; e a avidez, relacionada com a força do anticorpo. As imunoglobulinas apresentam regiões hipervariáveis, que são regiões localizadas no interior da região variável do Ac onde há a maior avidez. Na forma secretada, a IgM é pentamérica; as IgG, IgE e IgD são monoméricas; a IgA, por sua vez, é dimérica. Na forma membranar, todas as classes são monoméricas. As moléculas de anticorpos podem sofrer mudanças na região constante, mudando de classe, e assim desempenhando outras funções. ▪ ATIVAÇÃODA CÉLULA T E MHC O MHC é o complexo principal de histocompatibilidade ou antígeno leucocitário humano. É um conjunto de proteínas associadas a membrana celular e específicas na apresentação de fragmentos de antígenos proteicos a determinadas células do sistema. São codificados por vários genes, cuja expressão é codominante. O resultado expresso dos genes de MHC é uma junção dos alelos da mãe e do pai, expressos de maneira codominante, ou seja, ambos estarão codificando proteínas ativas. Obs.: O MHC é muito importante para a imunovigilância, e é expresso por todas as nucleadas, não sendo importante somente para a ativação de linfócitos T. Para a ativação da célula T, três fatores são importantes, representados pelo trio “Antígeno, MHC e TCR”. A ativação requer reconhecimento do MHC. Ocorre a interação da célula apresentadora (APC), que possui MHC, com o linfócito T, cujo receptor é o TCR. Obs.: Linfócito B é APC e reconhece tudo, enquanto o linfócito T reconhece apenas peptídeos. Existem duas classes de MHC, o MHC-I e o MHC-II. Obs.: Todas as células nucleadas apresentam MHC do tipo I. Os MHC classe I apresentam antígenos para linfócitos T CD8, enquanto os MHC classe II apresentam antígenos para linfócitos CD4 (apresenta a região beta-2, que reage com o CD4). Os antígenos vesiculares e extracelulares são apresentados por MHC de classe II, enquanto os antígenos citoplasmáticos são apresentados pelo MHC de classe I. Ex.: Câncer -> mutação do DNA -> proteína citoplasmática -> MHC-I -> linfócito CD8+. ANOTAÇÕES: ▪ PROCESSAMENTO E APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENOS As células apresentadoras de antígenos são as células fagocitárias (dendríticas e macrófagos) e linfócitos B. As APCs captam, processam e apresentam os antígenos. Essas células tem a capacidade de processar os antígenos endocitados, com a presença de moléculas co-estimuladoras. Como já explicado, as APCs ativam células de linfócitos T, disparando uma cascata intracelular de proteínas citoplasmáticas a partir do reconhecimento do antígeno, gerando uma diferenciação do linfócito T “naive” (nunca entrou em contato com antígeno). Obs.: Conceito de restrição ao MHC -> a interação deve ser MHC próprio + antígeno estranho. Caso não seja assim, não há resposta imunológica, ou seja, a célula não é ativada. ▪ ESTÁGIOS DO PROCESSAMENTO DE ANTÍGENOS EXÓGENOS POR MHCII Primeiro ocorre a captação, em que há acesso de antígenos às vias de degradação intracelulares, ou seja, ocorre a fagocitose. Após a fagocitose, ocorre a degradação, em que há proteólise limitada de antígenos à peptídeos (fagossomo se funde ao lisossomo gerando ao fagolisossomo). No próximo estágio há a formação do complexo Ag- MHC, em que as moléculas mais simples do antígeno (peptídeos) são carreadas pelo MHC em sua fenda. Finalmente, há a apresentação do antígeno, em que as moléculas de MHCII-antígeno são expressas na superfície para ativação do linfócito T. O MHCII passa por uma maturação relacionada a cadeia invariante do MHCII no Retículo endoplasmático. É necessário prevenir a ligação de proteínas próprias ao MHC maduro, pois o MHC entra em contato com essas proteínas no RE. Portanto, cadeias invariantes (li) estabilizam o MHCII através de ligação não covalente e formação de um complexo. Essa cadeia invariante possui uma região CLIP, que protege a fenda do MHC das proteínas próprias. Depois disso, o complexo segue para o Golgi, onde é empacotado e sai para fusão das vesículas. A catepsina quebra a cadeia invariante, dando início ao processo. Quando ocorre a fusão do fagolisossomo com a vesícula de MHC do Golgi, o MHCII ainda apresenta o CLIP. A remoção do clip ocorre a partir da molécula HLA-DM, que sequestra o CLIP e adiciona um peptídeo para ser carreado na fenda, em um processo ativo (há gasto de ATP). Depois, esses complexos são levados para sua expressão na membrana. Há seleção de complexos MHCII- peptídeo compatíveis para apresentação e os demais para degradação. Essa compatibilidade normalmente está associada ao tamanho. A apresentação, portanto, é feita para o linfócito T CD4, e há produção de citocinas “ativadoras” do sistema fagocítico mononuclear. ▪ ESTÁGIOS DO PROCESSAMENTO DE ANTÍGENOS ENDÓGENOS POR MHCI Nesse caso não há a fase de captação propriamente dita, pois os antígenos já presentes no citoplasma. Ocorre então a degradação, que é feita no proteassoma (conjunto de proteínas de clivagem, que promove a degradação de proteínas no citoplasma). Obs.: o proteassoma é importante também para o reaproveitamento proteico. As ações do proteassoma podem ser reguladas por citocinas pró-inflamatórias. Depois há a formação complexo-peptídeo, no interior do RE, seguindo para a expressão e apresentação na superfície celular da Apc. No início do processo, o proteassoma cliva proteínas marcadas por ubiquitina. Os peptídeos produzidos no citoplasma são fisicamente separados do MHCI, pela membrana do RER. Assim, para que haja o contato, proteínas transportadoras (TAP) permitem a entrada dos peptídeos para dentro do RE (processo ativo / ATP-dependente). Obs.: o transportador tem preferência por peptídeos com mais de 8 aminoácidos com terminal C hidrofóbico. Os peptídeos se ligam à fenda dentro do RE, depois indo para o Golgi onde há a formação da vesícula que permitirá que o complexo seja exportado para a superfície celular (ou degradados por lisossomos no caso de MHC incompatíveis ou sem um peptídeo ligado à fenda). Há, então, a apresentação para o linfócito T CD8+, que tem ação citotóxica, causando a morte das células alvo. Obs.: imunoevasinas produzidas por vírus podem interferir no processamento de Ag que se ligam às moléculas de MHCI. Obs2.: na apresentação cruzada (cross-presentation), antígenos extracelulares podem ser apresentados para linfócitos T CD8 (citotóxicos). Isso porque os antígenos fagocitados podem entrar na via do MHCI, entrando no RE por TAPs presentes no fagossomo. AULA III – RESPOSTA IMUNE HUMORAL E ONTOGENIA – PROF. DANIEL A aula a seguir versa sobre os mecanismos efetores que estão relacionados com a resposte imune humoral e sobre a ontogenia de linfócitos, que consiste no processo que dá sua formação e maturação. ▪ FUNÇÕES DOS ANTICORPOS As imunoglobulinas são produzidas pelos linfócitos B, possuindo funções distintas: Aglutinação: agrupamento dos agentes em um local específico, para direcionar os mecanismos do sistema imune para agir sobre uma área. Evita a difusão do antígeno no organismo, promovendo uma contenção local. Neutralização: capacidade do Ac de se ligar à toxina ou patógeno inibindo de forma física a ligação desta com receptores celulares e impede a ação tóxica. Ex.: soro antiofídico. Opsonização: capacidade do Ac de se ligar ao antígeno, o que facilita a fagocitose. Fagocitose: processo de englobamento do antígeno para dentro da célula. Ativação do complemento: ativado pelos anticorpos tanto IgM quanto IgG, sendo que os anticorpos solúveis não ativam o complemento, apenas quando ele está ligado na célula. Há a via clássica (dependem de anticorpos) e a alternativa. Sistema complemento pode causar a morte do patógeno pela formação do MAC e atuam na inflamação. Além disso, o complemento pode levar a resposta imune ao criar peptídeos (do antígeno) que podem servir para ativação de linfócito. Obs.: componentes formados por uma via de ativação podem ser utilizados por outra via. Inflamação: pode mediar o processo inflamatório. ADCC: função de citotoxicidade dependente de Ac. A IgG pode se ligar aos antígenos e essas moléculas opsonizadas por IgG se ligam a NK por meio de receptores de IgG, permitindo a citotoxicidade. Além disso, IgE se liga ao helminto, e assim é possível a ligação ao eosinófilo (receptores da porção Fc de IgE de alta afinidade),causando a morte citotóxica do helminto. Obs.: as NK normalmente são suprimidas se ocorre apresentação de antígenos, pois ela não reconhece antígenos. ▪ ESTRUTURA DOS ANTICORPOS Como já explicado na aula anterior, os anticorpos apresentam uma região Fc, responsável pela função, que diferencia os tipos de imunoglobulinas, pois é característica de cada tipo de Ig. Determina a função efetora, se ligando à célula. Obs.: o complemento e as células fagocitárias (na fagocitose facilitada) interagem com a porção Fc. A especificidade é dada pela região variável, o sítio de ligação do antígeno. As classes de anticorpos serão descritas na página a seguir: A IgM é expressa como anticorpos monoméricos ligados à membrana nas células B, é secretada é um pentâmero que apresenta, portanto, 5 unidades mantidas juntas por ligações dissulfeto. É a primeira classe de imunoglobulina produzida (junto com IgD) e possui 10 sítios de ligação a antígenos (secretada). A IgD tem função biológica ainda pouco conhecida, sendo um receptor de células B “naive” e ativando essas células. A IgG é a imunoglobulina mais abundante no soro (80%), e é responsável pela proteção fetal (difusão placentária) e pela ativação do complemento. É a imunoglobulina relacionada com a opsonização (fagocitose facilitada por IgG). A IgE está relacionada à ação de mastócitos e basófilos, que apresentam receptores para Fc de alta afinidade para IgE. A ligação cruzada (cross binding) de IgE media a granulação. Está relacionada à resposta a parasitas (principalmente helmintos, sendo mediada por eosinófilos). A IgA é a mais abundante no organismo humano, existente na forma de monômero ou dímero e está presente nas mucosas. Neutraliza toxinas e adesinas bacterianas, sendo produzida pelos plasmócitos nas mucosas e excisada para o lúmen, onde tem muco. ▪ RESPOSTA IMUNE HUMORAL A imunidade humoral é mediada por anticorpos secretados por células da linhagem dos linfócitos B. Os antígenos multivalentes (diferente composição química) podem ativar a célula B por meio do receptor de linfócito B (BCR), sem auxílio de células T. No entanto, pode também haver ativação de células B por células T CD4 (helper), em que as células T reestimulam as células B, ativando a produção de anticorpos mais potentes. Nesse último processo, antígenos proteicos ativam a célula CD4 (por célula fagocítica) e ativam a célula B (nos folículos linfoides, estando em forma solúvel), e essas duas células vão ao encontro uma da outra por quimiotaxia. A célula B apresenta o antígeno para o linfócito CD4 ativado que reestimula a célula B por liberação de citocinas e CD40L. Isso leva à mudança de isótipo precoce e geração de plasmócitos de curta duração. Os últimos acontecimentos ocorrem nos centros germinativos e incluem mutação somática e a seleção de células de alta afinidade (maturação de afinidade), mudança de isótipo, geração de células B de memória e geração de plasmócitos (produtores de anticorpos) de longa vida. ▪ ONTOGENIA E DESENVOLVIMENTO DE LINFÓCITOS Para o desenvolvimento de linfócitos, trabalha-se com o conceito de repertório, que é o conjunto das células antígeno-específicas (todos os clones) presentes no sistema. O desenvolvimento do repertório segue 3 fases essenciais, que serão descritas a seguir. Primeiro, tem-se uma fase de proliferação, em que há uma alta atividade mitótica, mediada por IL-7, da célula tronco da linhagem linfoide produzindo várias células nascentes (clones). Essas células são assim chamadas pois ainda não apresentam os receptores em sua superfície. Nelas, estão ativados os mecanismos de recombinação gênica para expressão dos receptores, sejam eles TCR ou BCR. Obs.: TCR tem semelhança considerável com os anticorpos de superfície (BCR). Obs.: Primeiro sinal de ativação (padrão TCR-ANTÍGENO-MHC), segundo sinal de ativação (co-estimuladores), terceiro sinal (citocinas nos dois sentidos). A ativação por citocinas pode ser o segundo sinal, caso não haja co- estimuladores. As células nascentes ativadas expressam a cadeia pesada dos receptores. Posteriormente, é rearranjado com adição da cadeia leve, formando o receptor. Ocorre, durante esse processo, a segunda fase, que é a recombinação somática (geração dos receptores funcionais). Depois disso, há a terceira fase que consiste no teste de capacidade da célula com o receptor, e as células selecionada são as maduras (funcionais), que vão para a periferia. Obs.: essas fases ocorrem nos órgãos linfoides primários, sendo eles o timo (células pré-T) e medula óssea (célula pré-B). Abaixo será feita a descrição detalhada do processo de ontogenia dos linfócitos. A partir do percursor comum, a linhagem linfoide dá origem ao precursor de célula B (Pró-B) e ao precursor de célula T (Pró-T). A partir disso, há comprometimento com a linhagem à qual pertencem. A ativação de fatores de transcrição para cada um dos receptores desses precursores é distinta, o que está relacionado a rearranjos gênicos que muitas vezes deletam o DNA. Obs.: células linfoides não são utilizadas para a determinação gênica, devido ao poder de recombinação e alteração gênicas que essas células possuem. Essas células que vão gerar os linfócitos B e T maduros expressam as Rag (do tipo 1 e 2), que são as enzimas (recombinases) que reconhecem as sequências de DNA relacionadas a cada região necessária ao receptor e aproxima essas regiões, ao criar alças que ligam essas partes. Essas regiões são chamadas de regiões V, D e J. As Rag clivam essas partes que serão transcritas em RNAm para a estrutura da cadeia pesada do receptor. Em seu processo de clivagem, deixam janelas que são ligadas pela TdT. A TdT é uma DNA ligase que está relacionada a montagem, ou seja, a junção das partes expressas. Isso ocorre principalmente para a cadeia pesada. Na clivagem, os segmentos de DNA não são cortados nos pontos específicos do receptor, deixando aberta uma janela de leitura que a TdT polimeriza, corrigindo as diferenças (“erros de corte/falhas de ligação”), garantindo maior diversidade dos receptores. Obs.: Para a expressão da cadeia leve, há ação principalmente do Rag. Assim, ocorre o rearranjo genético, em que sequências de DNA distantes, unidas por mecanismos enzimáticos de excisão das sequências separadoras, gera uma diversidade ilimitada de receptores (proteínas funcionais) e, assim, do repertório de células B e T. Assim, há a expressão da cadeia pesada (recombinante) formadas pelos segmentos gênicos V, D e J. Depois soma-se a cadeia leve, estimulada por outros fatores de transcrição e que também passa por recombinação, formando o receptor de antígeno completo. Para cadeia leve não existe segmentos D levando à máxima: cadeia pesada (VDJ-C) e cadeia leve (VJ). Há uma estrutura exclusiva da ontogenia das células de linfócitos B que é a cadeia de linfócito pré-B (Ig-μ) que estrutura a cadeia pesada do receptor de linfócito B (BCR) e estimula a recombinação de genes para a expressão da cadeia leve. Obs.: a diversidade dos receptores é dada por 3 fatores: (1) diversidade de segmentos gênicos, pois há diferentes segmentos V, D e J); (2) a diversidade combinatória, pois a combinação é feita de forma aleatória; (3) a diversidade juncional, relacionada a diversidade da ligação feita pela TdT. Depois, há a exposição da célula a um antígeno fraco, para que reconheça. As células, a partir disso, selecionadas funcionais são consideradas as células maduras. A porção constante dos linfócitos B podem se alterar uma vez que a célula entra em contato com o antígeno. Assim, a célula B pode parar de expressar a região constante de IgD e passar a apresentar IgG, por exemplo. Obs.: o microambiente é fundamental na seleção do repertório. AULA IV –RESPOSTA IMUNE CELULAR – PROF. DANIEL A última aula desse bloco fecha os conteúdos abordados dando uma visão geral a respeito da resposta imune celular e seus mecanismos de ação. ▪ INTRODUÇÃO Retomando os conteúdos já discutidos em aula anteriores, sabe-se que o precursor de células T se desloca para o timo, onde ocorrerá sua maturação. Lá, a célula T se diferencia em dois grandes subgrupos: (1) as células T CD4, conhecidas também como auxiliadoras, cujas funções são auxiliar as funções imunes, sejam elas de resposta inata ou adaptativa, reconhecimento de antígenos via MHC II, mediar resposta contra patógenos extracelulares, secretar citocinas pró ou anti-inflamatórias; (2) as células T CD8, cuja ação principal é citotóxica, que leva à morte celular por apoptose, fazendo também o reconhecimento via MHC I, atuando sobre células infectadas ou tumorais. ▪ MEDIADORES INFLAMATÓRIOS Os mediadores inflamatórios são muitos e atuam em diversas fases da resposta imune sobre diferentes clones celulares. Na aula em questão, focou-se no IL2, IL4, IL5 e interferon gama. O IL2 é uma citocina que está associada a proliferação celular, na presença dela a célula melhor se prolifera e tem maior sobrevida. O IL4 e o IL5 estão associados a processos inflamatórios do tipo TH2 (será discutido na próxima seção), mas também apresenta função na mudança de classe dos linfócitos B, sendo importante inclusive na resposta contra helmintos. O interferon gama é uma citocina ativadora de fagócitos e linfócitos, ou seja, em sua presença essas células desenvolvem suas funções. ▪ SUBTIPOS DE CÉLULAS T CD4 As células CD4 são produzidas e maturadas em órgãos linfoides primários, caem na circulação e assim reconhecem antígenos apresentados nos órgãos linfoides secundários e são recrutadas até o sítio da inflamação para mediar suas funções. Os subtipos de células T CD4 estão relacionados abaixo: As células TCD4 TH1 são células pró-inflamatórias que estão associadas a respostas contra patógenos como bactérias e protozoários extracelulares, sendo responsável pela ativação de mecanismos efetores para combate a esses patógenos, produzindo citocinas que ativam e estimulam essas células. As células TCD4 TH2 são células pró-inflamatórias com ação associada a respostas alérgicas e contra helmintos, produzindo mediadores inflamatórios diferentes que induzem a resposta alérgica e que inibem as citocinas produzidas por TH1. Obs.: indivíduos alérgicos apresentam uma maior concentração de clones de TH2. Já as células TCD4 TH17 estão associadas com respostas inflamatórias agudas e em regiões de mucosa e estão relacionadas com a ativação de neutrófilos. Estão associadas também a doenças autoimunes e à manutenção da homeostase intestinal. Por último, as células TCD4 Treg são células reguladoras, atuando na supressão nas populações de todas essas células, regulando sua expressão. A ativação de cada uma dessas subpopulações gera respostas e ativações efetoras distintas, com a produção de citocinas distintas, configurando uma balança, em que em determinado ambiente há mais clones e reações de TH2, mas há a diminuição de TH1. Obs.: a plasticidade imune consiste na capacidade de haver duas respostas diferentes (TH1 e TH2 por exemplo) para um mesmo patógeno, porém somente em contextos diferentes. Dependendo do ambiente, a célula T CD4 naive, chamada também de CD4 TH0 se diferencia em diferentes subtipos de linfócitos T CD4. O que determina o ambiente é o contexto inflamatório e as citocinas liberadas nesse contexto, garantindo a expressão maior de determinado tipos de clones. Obs.: citocinas do tipo TH1 ou TH2 conseguem modular a resposta adaptativa. Por exemplo, na presença de interferon gama, o linfócito B muda de IgD para IgG, enquanto na presença de IL4 o linfócito muda para IgE. O ambiente para formação de clones TH17 e Treg é bem similar. Em ambos há a presença de TGF-beta, que é um mediador anti-inflamatório, ou seja, que desativa as funções efetoras. No entanto, a célula TH0 se diferenciará em TH17 e não em Treg na presença outros fatores no ambiente (inflamatórios) como o IL6. Portanto, em uma situação de homeostase, haverá em determinada região do trato gastrointestinal, por exemplo, apenas TGF-beta, mas se houver uma lesão de mucosa, fatores como o IL6 estarão presentes, efetivando a maior presença de clones TH17. Obs.: o trato gastrointestinal é o mais rico em TGF-beta, sendo constantemente uma região silenciada. O TH17 produz, então, fatores como IL7, IL17 e IL22, que estimulam respostas inflamatórias. Já os linfócitos TCD4 Treg regulam essas respostas, ao produzirem IL10 e TGF-beta, e, assim, controlam a resposta imune, a proliferação celular, a ativação de fagócitos, etc. O linfócito Treg ainda apresenta grande expressão de CD25, um receptor importante de IL2, que também serve de marcador para pesquisas. O IL2, como já foi falado, é importante para mediar a proliferação celular e inibir a apoptose de células; o CD25, nesse contexto, sequestra a IL2 do meio, fazendo com que as outras células fiquem desprotegidas e diminuam a proliferação celular. Esses mecanismos descritos na aula estão relacionados a resposta imune celular, em que atuam as células T. As diferenças principais entre a imunidade humoral e a imunidade celular estão representadas no esquema ao lado.
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