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TCC ATUALIZADO (1) (gabriella bueno)

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47
UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO 
FACULDADE DE DIREITO “LAUDO DE CAMARGO” 
NÚCLEO DE PESQUISA
GABRIELLA BUENO CAIXE DA FONSECA
JUSTIÇA DESPORTIVA E O CONTRATO DE TRABALHO ESPECIAL DESPORTIVO 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIBEIRÃO PRETO  
NOVEMBRO/2019
GABRIELLA BUENO CAIXE DA FONSECA
JUSTIÇA DESPORTIVA E O CONTRATO DE TRABALHO ESPECIAL DESPORTIVO 
MONOGRAFIA APRESENTADA COMO EXIGÊNCIA PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE BACHAREL EM CIÊNCIAS JURÍDICAS.
ORIENTADOR DE CONTEÚDO: Prof. Me. João Paulo Romero Baldin 
ORIENTADOR DE METODOLOGIA: Prof. 
Dr. Juvêncio Borges Silva
 
 
RIBEIRÃO PRETO 
NOVEMBRO/2019
GABRIELLA BUENO CAIXE DA FONSECA
JUSTIÇA DESPORTIVA E O CONTRATO DE TRABALHO ESPECIAL DESPORTIVO 
 
 
 
MONOGRAFIA APRESENTADA COMO EXIGÊNCIA PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE BACHAREL EM CIÊNCIAS JURÍDICAS.  
 
 
 
Aprovação: ___/____/____  
 
 
 
________________________________________ 
Orientador(a) 
 
_________________________________________ 
Prof.(ª)Indicado(a) pela Faculdade 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário
1.	INTRODUÇÃO	6
2.	ORIGEM E EVOLUÇÃO DA JUSTIÇA DESPORTIVA	7
2.1. ORIGEM HISTÓRICA DO FUTEBOL NO MUNDO	7
2.2. A ORIGEM HISTÓRICA DO FUTEBOL NO BRASIL	8
2.3. PROFISSIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL NO BRASIL	9
2.4. INÍCIO DA NORMATIZAÇÃO DO DESPORTO NO BRASIL	9
2.4.1	Confederação brasileira de futebol e as federações estaduais	11
2.5. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DESPORTO	12
2.6. O NOVO CÓDIGO BRASILEIRO DE JUSTIÇA DESPORTIVA	13
2.6.1 Edição do novo código e revogação do antigo CBDF	13
2.7. ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DESPORTIVA	14
3	DIREITO DESPORTIVO TRABALHISTA	18
3.1. LEI ZICO	18
3.2. LEI PELÉ	20
3.2.1	Principais inovações	21
3.3.	O CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL	24
3.3.1 O contrato de trabalho na CLT	24
3.3.2	Contrato de trabalho especial do atleta profissional	26
3.3.3	Empregador e empregado	33
3.4 JUSTIÇA COMPETENTE	36
4	CLÁUSULA PENAL NO CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL	39
4.1 NASCIMENTO DA CLÁUSULA PENAL	39
4.2 APLICABILIDADE DA CLÁUSULA PENAL	40
4.3 SUBSTITUIÇÃO DAS CLÁUSULAS PENAIS NA LEI 9.615/98	41
5	CONCLUSÃO	44
6	REFERÊNCIAS	45
INTRODUÇÃO
ORIGEM E EVOLUÇÃO DA JUSTIÇA DESPORTIVA
2.1 . ORIGEM HISTÓRICA DO FUTEBOL NO MUNDO
O marco inicial da história do futebol no mundo se dá no ano de 4.500 a.C, no Japão, de nome Kemari. É o primeiro registro documentado acerca de um jogo que envolvia bola e jogar com as mãos e os pés. Tratava-se de um jogo disputado por nobres da corte imperial. Esse é o registro mais antigo do esporte, e desde então, inúmeros outros registros que denotam seu surgimento foram observados ao decorrer da história em diversos países, tais como China, Itália, França, Grécia, Inglaterra e outros[footnoteRef:1]. [1: NETO, Jaime Barreiros. Direito Desportivo. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2010. v. 1., p.16] 
 Mas, o primeiro registro do futebol na forma em que conhecemos atualmente, tem início no século XIX e origem inglesa. O esporte era praticado em colégios e clubes, de forma recreativa e com regras próprias, entre elas, que se utilizasse somente o pé para jogar. No ano de 1814, na cidade Cambridge, em uma conferência, foi estabelecido um código do qual as regras constantes dele seriam as utilizadas como forma de jogar o futebol. Anos depois, em outubro de 1863, onze clubes e escolas debateram novamente essas regras do esporte em uma taberna chamada Freemason’s, na cidade de Londres. Foi então criada The Football Association (FA), a mais antiga associação de futebol do mundo. Diversos integrantes de clubes londrinos, que jogavam suas próprias versões do jogo, se encontraram com o objetivo de estabelecer um código com regras definitivas para a regulamentação do esporte. Seis reuniões depois, as regras foram elaboradas e aprovadas. E com a criação da FA, nasceu o futebol como o esporte que conhecemos nos dias atuais. Em 30 de novembro de 1872, foi realizada a primeira disputa internacional, envolvendo as seleções da Inglaterra e da Escócia.[footnoteRef:2] [2: NETO, Jaime Barreiro. op. Cit., p. 17] 
É importante mencionar também o surgimento da maior instituição de futebol do mundo. A Federação Internacional de Futebol, conhecida como FIFA, é uma organização sem fins lucrativos e de âmbito internacional, que dirige associações de alguns esportes, sendo um deles o futebol. Sua criação se deu cerca de 40 anos depois do evento ocorrido na taberna Freemason’s, pois à medida que o futebol tomava forma, passou a necessitar de uma organização que regulasse as relações entre os países. O autor Jaime Barros[footnoteRef:3] relata que foi um holandês, Carl Anto Wilhelm Hirschmann quem deu início à ideia, elaborando um estatuto que regularia o futebol, e em 21 de maio de 1904 havia nascido a FIFA (em inglês, Federation International Football Association). Seus países fundadores foram Holanda, Bélgica, Suíça, Espanha, Dinamarca e Suécia. Outros países passaram a integrá-la posteriormente, especificamente no segundo congresso que foi celebrado um ano depois da sua criação. Esses países foram Alemanha, Áustria, Itália, Hungria e Inglaterra. Foi pela FIFA, inclusive, que surgiu a criação da Copa do Mundo, evento mundial que tem ocorrência até os dias de hoje. A ideia de um campeonato entre os países já existia, mas não prosperou pelo advento da I Guerra Mundial, então, somente no ano de 1930 foi inaugurada, através de um congresso realizado em Amsterdã, decidindo-se a realização de uma competição para todas as entidades filiadas da FIFA, determinando-se que seria organizada de quatro em quatro anos, tornando-se uma tradição, desde então, nunca interrompida. [3: Ibidem, P. 18] 
2.2. A ORIGEM HISTÓRICA DO FUTEBOL NO BRASIL
A história do futebol brasileiro tem início em 1894, com a chegada de Charles Miller a são Paulo, filho de pai inglês e mãe brasileira[footnoteRef:4], que estudou na Inglaterra e aprendeu a jogar futebol na universidade, trazendo consigo todas as regras do jogo e uma bola. O pai de Charles trabalhava em empresa ferroviária[footnoteRef:5], e no Brasil, Charles reuniu um grupo de ingleses, formando duas equipes, de forma que a primeira partida se deu em 15 de abril de 1894, em um campo da Companhia Viação Paulista, com placar final de 4 a 2 para um dos times. [4: SPINELI, Rodrigo. A cláusula penal nos contratos dos atletas profissionais de futebol. Ed. Cidade. Editora, 2010. p. 16] [5: SPINELI, Rodrigo. Op cit. P. 16] 
Essa foi a primeira partida realizada no Brasil na forma do futebol moderno. O primeiro campeonato foi o campeonato paulista, realizado em 1902, entre os dias 03 de maio e 26 de outubro, vencido pelo time de Charles Miller, São Paulo Athtletic[footnoteRef:6]. [6: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 19] 
A figura de Charles Miller foi tão importante na história do futebol brasileiro, que seu nome foi doado à praça em frente ao Estádio Municipal do Pacaembu, na cidade de São Paulo; cidade em que nasceu e constituiu sua carreira dentro do futebol. [footnoteRef:7] [7: SPINELI, Rodrigo. Op. Cit. P. 16] 
2.3. PROFISSIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL NO BRASIL
O futebol era jogado de forma amadora, e inclusive, restrito às pessoas de maior poder aquisitivo, excluindo-se pessoas humildades, e até pessoas negras, como forma de discriminação, aduz SPINELI (2011)[footnoteRef:8]. [8: SPINELI, Rodrigo. Op. Cit. P. 17] 
A seleção brasileira de futebol, primeira liga nacional, foi criada em 1914 e era formada por oito associações regionais. Em 1919 já havia conquistado o título do campeonato sul-americano, e em 1922 começou a ser conhecida pelo mundo, de forma que os melhores jogadores da liga passaram a ser ambicionados por clubes europeus que à época já eram profissionalizados. Em 1933, oficialmente, foi realizado o primeiro gol “remunerado”, quando se realizou uma partida entre o Santos e o São Paulo[footnoteRef:9] e um jogador foi pago pelo São Paulopara jogador uma partida. Antes disso, os jogadores que recebiam alguma remuneração era “por fora”, e não oficialmente. Passaram a existir a Federação Brasileira de Futebol, que geria o futebol nacional, e a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) para gestão de todo e qualquer esporte, sendo que ambas entidades, mais tarde, se fundiram.[footnoteRef:10] [9: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 20] [10: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 30] 
Inicialmente, parte dos interessados eram contrários à profissionalização do futebol brasileiro por questões financeiras, inclusive clubes importantes, que foram extintos por não aderirem à isso. Mas, passada a década de 30, o profissionalismo foi firmado e por essa razão passou a ser necessário que o futebol fosse normatizado, ocasionando no surgimento do Direito Desportivo e atuação do Direito do Trabalho dentro do futebol.[footnoteRef:11] [11: SPINELI, Rodrigo. Op. Cit. P. 17] 
2.4. INÍCIO DA NORMATIZAÇÃO DO DESPORTO NO BRASIL
A evolução legislativa desportiva no Brasil é definida, analisada e estudada pelos juristas e doutrinadores em três tempos distintos.
Nas lições de JAIME (2010)[footnoteRef:12] observa-se que o primeiro tempo tem início com o Decreto-lei 1.056/39, que criou a Comissão Nacional de Desportos (CND), cujo objetivo era cuidar dos problemas concernentes ao desporto e apresentar o plano geral de sua regulamentação. Foi responsável pela elaboração do “Código Nacional de Desportos”. Seguido da Lei Orgânica do Desporto Nacional, o Decreto-Lei nº 3.199/41, que criou o Conselho Nacional de Desporto e os Conselhos Regionais de Desporto, o primeiro de âmbito nacional e o segundo estadual. No entendimento do autor, até então, o desporto era visto pelo Estado somente como forma de recreação, mas foi a partir deste decreto-lei que se viu o princípio da unicidade dentro do desporto[footnoteRef:13], pois era aceita a existência de apenas uma entidade nacional legalmente reconhecida e as entidades regionais filiadas à esta. Posteriormente, ainda, houve o decreto-lei 5.342/43, que instituiu competência para Conselho Nacional de Desportos disciplinar as atividades desportivas, que levou ao reconhecimento oficial da prática desportiva como profissional dentro futebol, determinando que os contratos de jogadores e técnicos fossem registrados na Confederação Brasileira de Desportos (CBD), entidade essa fundada em 1914 responsável por administrar todas as modalidades esportivas no Brasil, melhor abordada no item 1.6. [12: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 24] [13: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 25] 
Ulteriormente, no que é chamado de segundo período[footnoteRef:14], em 1964, o Decreto 53.820/64 foi promulgado e fixou critérios para a profissão de atleta profissional de futebol e estabeleceu a sua quota de recebimento de 15% no valor de venda do seu passe, além de dispor a respeito de férias do atleta. A Emenda Constitucional 1, de 1969, estabeleceu competência da União para legislar sobre normas gerais de desporto. a Lei 5.939/73, legislou sobre benefícios da seguridade social aos atletas profissionais de futebol; a Lei 6.251/75 aderiu à União a competência para legislar sobre normas gerais de Desporto, sendo a primeira lei geral sobre desporto nacional, e atribuiu ao Conselho Nacional do Desporto funções legislativas, executivas e judiciais. A Lei nº 6.354/76, com as alterações introduzidas pelas Leis Zico e Pelé, melhor abordadas mais a frente, que deliberava sobre as relações de trabalho do atleta profissional de futebol; e a Portaria do MEC 702/81, alterada pelas portarias MEC 25/84 e 328/87, que criou o Código Brasileiro Disciplinar de Futebol, que continuou em vigor mesmo após a edição da lei Pelé, gerando, em 2003, sua substituição pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva. [14: BELMONTE, Alexandre Agra. Direito Desportivo, Justiça Desportiva e principais aspectos jurídicos-trabalhistas da relação de trabalho do atleta profissional. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 1a. Região , v. 47, 2010. P. 77] 
O terceiro ciclo, que instituiu nova fase para o Direito Desportivo brasileiro, surgiu com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que trouxe em seu artigo 217 os princípios concernentes à prática desportiva, estabelecendo limites gerais de competência à Justiça Desportiva. O desporto passou a ser exercido na iniciativa privada, com bem menos intervenção estatal. Foi promulgada a Lei 8.672/93, conhecida como Lei Zico, que conduziu inovações ao mundo desportivo, tais como transformação de clubes em empresas, e exclusão de órgãos parte da justiça desportiva.
Em 1998, a Lei nº 9.615, conhecida como Lei Pelé, revogou a Lei 8.672/93, conservando, no entanto, boa parte de seu conteúdo. Depois de alguns anos de vigência, a Lei Pelé foi alterada pela Lei nº 9.981/00, pela Lei 10.672/03, e pela Lei 12.395/11, tendo seus artigos alterados e revogados para melhores adaptações, e pelas Leis 13.155/15 e 13.322/16 alguns vetos e inclusões de artigos e incisos. Andando conjuntamente com a evolução das necessidades que o futebol apresentava, as principais inovações da Lei Pelé foram a extinção da Lei do Passe, passando a ser possível o passe livre dos jogadores, para os contratos de trabalho firmados por atletas profissionais a partir de 26 de março de 2001; a criação de ligas de futebol independentes da Confederação Brasileira de Futebol e das federações estaduais; e a faculdade de transformação dos clubes de futebol em empresas com fins lucrativos, sendo todos esses temas abordados mais à frente.
2.4.1 Confederação brasileira de futebol e as federações estaduais
Em 08 de junho de 1914, quando o desporto ainda não era normatizado, sentia-se a necessidade de uma entidade de caráter nacional para a organização do futebol brasileiro. Então, oito associações estaduais se reuniram para criar a Federação Brasileira de Sports (FBS), que não perdurou por falta de capacidade para dirimir os conflitos de poder existentes entre o futebol carioca e o futebol paulista[footnoteRef:15], fundindo-se com a Federação Brasileira de Football, e dando origem à Confederação Brasileira de Desportos em 05 de dezembro de 1916, que se tornou responsável pela gerência de todas as modalidades esportivas. Em 1979, a Confederação Brasileira de Desportos se transformou em Confederação Brasileira de Futebol (CBF)[footnoteRef:16]. [15: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P.29] [16: Disponível em: <https://www.cob.org.br/pt/confederacoes/CBF. > Acesso em: 20 de Outubro de 2019.] 
A lei Zico de 1993 foi a responsável pela extinção do monopólio da CBF sobre o futebol brasileiro. Ela trouxe a permissão de criação de ligas independentes das entidades de administração de desporto, e a permissão perdurou na Lei Pelé, que foi regulamentada pelo governo federal.[footnoteRef:17] As ligas são conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado, com organização e funcionamento próprios que podem organizar seus próprios campeonatos sem interferência das federações estaduais e da CBF, sendo que não é possível a criação de mais de uma liga por estado territorial. Ainda que seja permitida a criação de ligas independentes, na prática, isso não ocorre com frequência, por interesses externos relacionados à questões financeiras e a monopolização que de fato ocorre com a CBF. [17: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. ] 
2.5. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DESPORTO
Caracterizando o terceiro período do Desporto no Brasil, a promulgação da Constituição Federal de 1988 trouxe os princípios que dizem respeito ao Desporto[footnoteRef:18]. [18: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 47] 
A Constituição traz a prática do esporte como prática recreativa de lazer. Mas também é conhecido pela CF, que o esporte promove saúde, entretenimento e integração social do homem, sendo, portanto, um amplo direito social. Em seu artigo 217 traz a regulamentação clara do Desporto: 
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados:I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; 
 II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento; 
 III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional; 
 IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.
Ao trazer um capítulo sobre desporto, o objetivo deste foi corrigir a forma como o esporte estava sendo tratado pelo Estado. Era regulamentado somente de forma informal, e a partir disso, passaram a ser dotadas de autonomia as entidades desportivas dirigentes e as associações. Com isso, ficou clara a relevância do desporto na ordem social, observando-se, ainda, que o capítulo sobre desporto fica junto ao capítulo da educação e da cultura. 
2.6 . O NOVO CÓDIGO BRASILEIRO DE JUSTIÇA DESPORTIVA
2.6.1 Edição do novo código e revogação do antigo CBDF
Mencionado no tópico 1.4, o Código Brasileiro Disciplinar de Futebol (CBDF), mesmo após edição da Lei Pelé, continuou sendo válido somente no que não a contrariasse. Com isso, algumas normas foram de pronto revogadas e o CBDF passou a ser ultrapassado. Assim surgiu a necessidade de edição de um novo código que disciplinasse o futebol brasileiro, além dos demais esportes. Então foi editado, por meio da Resolução 01 do Ministério do Esporte de 2003, o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), aplicável à toda modalidade esportiva e revogando por completo o CBDF[footnoteRef:19]. [19: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 53] 
O CBJD trouxe inovações relevantes, tais como, maiores penas para infrações praticadas por atletas, penas pecuniárias altas, e até modificações na área da Justiça Desportiva, como a exigência de suas decisões serem fundamentas afim de facilitar o caminho para o contraditório e a ampla defesa, instituído em seu artigo 38[footnoteRef:20]. [20: Idem, p. 53] 
Mesmo com as novas alterações, não foi o suficiente para que as críticas contra o código que regulava o desporto fossem cessadas. O Conselho Nacional do Esporte (CNE), por esse motivo, promoveu diversas audiências públicas em todo o país no ano de 2009, para coletar informações e instituir uma discussão sobre a definição de novas normas, para maior adaptação da legislação desportiva brasileira. Não foi necessário um novo código, mas a resolução nº 29 do CNE de 31 de dezembro de 2009, publicada no Diário Oficial da União, alterou o conteúdo do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que agora é considerado mais eficiente para atender aos conflitos concernentes dos tribunais desportivos[footnoteRef:21]. [21: Ibidem, p. 54] 
2.7. ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DESPORTIVA
O CBJD é aplicável a todas as modalidades desportivas, não só o futebol. No entanto, seu artigo 2º dispõe acerca dos princípios a serem observando na sua aplicação. Estes princípios, que devem estar sempre presentes em todos os processos desportivos, são a ampla defesa, a celeridade, o contraditório, a economia processual, a impessoalidade, a independência, a legalidade, a moralidade, a oficialidade e o devido processo legal[footnoteRef:22]. [22: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 55] 
O autor Barreiros Neto[footnoteRef:23] apresenta em seus estudos o funcionamento da Justiça Desportiva. No que tange à organização da Justiça Desportiva, o CBJD utiliza-se das disposições gerais encontradas na Lei Pelé. Indica em seu 3ºartigo que os órgãos da Justiça Desportiva, que são dotados de autonomia, são o Superior Tribunal de Justiça (STJD) com jurisdição correspondente à da CBF, os Tribunais de Justiça Desportiva (TJD), com jurisdição correspondente às federações estaduais de futebol, e as Comissões Disciplinares Nacionais e Regionais, que são os colegiados de primeira instância dos mencionados órgãos, composta por auditores diversos. Os órgãos do Superior Tribunal de Justiça Desportiva são o Tribunal Pleno e as Comissões Disciplinares[footnoteRef:24]. [23: BARREIROS NETO, Jaime. Op. Cit. P. 49] [24: Ibidem, p. 56] 
Em seu conteúdo, o CBJD dispõe sobre a composição dos órgãos, em seus artigos 4º e 5º, em conformidade com o disposto no artigo 55 da Lei Pelé (Lei 9.615/98)[footnoteRef:25]: [25: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9615consol.htm>. Acesso em 22 de Outubro de 2019.] 
Lei 9.615/98 - Art. 55. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva e os Tribunais de Justiça Desportiva serão compostos por nove membros, sendo: 
I - dois indicados pela entidade de administração do desporto; 
II - dois indicados pelas entidades de prática desportiva que participem de competições oficiais da divisão principal; 
III - dois advogados com notório saber jurídico desportivo, indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil; 
IV - 1 (um) representante dos árbitros, indicado pela respectiva entidade de classe; 
V - 2 (dois) representantes dos atletas, indicados pelas respectivas entidades sindicais.
E ainda, do CBJD[footnoteRef:26]: [26: Disponível em: <https://conteudo.cbf.com.br/cdn/201507/20150709151309_0.pdf>. Acesso em 23 de Outubro de 2019.] 
Art. 4º O Tribunal Pleno do STJD compõe-se de nove membros, denominados auditores, de reconhecido saber jurídico desportivo e de reputação ilibada, sendo: 
I - dois indicados pela entidade nacional de administração do desporto; 
II - dois indicados pelas entidades de prática desportiva que participem da principal competição da entidade nacional de administração do desporto; 
III - dois advogados indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; 
IV - um representante dos árbitros, indicado por entidade representativa; e 
V - dois representantes dos atletas, indicados por entidade representativa. 
(...) 
Art. 5º Cada TJD compõe-se de nove membros, denominados auditores, de reconhecido saber jurídico desportivo e de reputação ilibada, sendo: 
I - dois indicados pela entidade regional de administração de desporto; 
II - dois indicados pelas entidades de prática desportiva que participem da principal competição da entidade regional de administração do desporto; 
III - dois advogados indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil, por intermédio da seção correspondente à territorialidade; 
IV - um representante dos árbitros, indicado por entidade representativa; e 
V - dois representantes dos atletas, indicados por entidade representativa.
Portanto, notabilizado que o STJD e os TJD são formados por nove membros, denominados auditores, e dois deles são indicados pela entidade de administração do desporto, dois são indicados pelos clubes, e dois advogados são indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e ainda, há um representante dos árbitros e dois representantes dos atletas. As comissões disciplinares, por sua vez, são compostas por cinco membros, indicados pela maioria dos membros dos plenos dos respectivos tribunais desportivos. 
Os auditores do STJD e dos TJDs e das comissões disciplinares devem ser bacharéis em Direito, com notório saber jurídico desportivo e reputação ilibada, não podendo integrar o mesmo órgão auditores que tenham parentesco na linha ascendente ou descendente, na linha reta ou colateral. 
Junto ao STJD e aos TJDs, funcionam as Procuradorias da Justiça Desportiva. São exercidas por ao menos dois procuradores com mandato igual ao dos auditores, e dirigidas por um procurador-geral, que é escolhido por votação da maioria absoluta do Tribunal Pleno, dentre três nomes de livre indicação e da respectiva entidade de administração do desporto. Os procuradores são quem oferecem denúncia nos casos previstos em lei, dão parecer nos processos de competência dos órgãos em que são vinculados, e exercem as atribuições que lhe forem conferidas pela legislação desportiva, além de serem responsáveis pela interposição dos recursos previstos em lei. No que diz respeito aos procuradores, adota-se o previsto no artigo 20 do CBJD, e no que for cabível, as incompatibilidades e impedimentoimposto aos auditores.
Há também os defensores, aplicável a redação do artigo 29 do CBJD, que dispõe “qualquer pessoa maior e capaz é livre para postular em causa própria ou fazer-se representar por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), observados os impedimentos legais”[footnoteRef:27]. Assim, a atuação de leigos perante a Justiça Desportiva é possível em hipótese de defesa de causa própria. O artigo 31[footnoteRef:28] também abrange a respeito dos defensores, estabelecendo: [27: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 57] [28: Disponível em: <https://conteudo.cbf.com.br/cdn/201507/20150709151309_0.pdf>. Acesso em 23 de Outubro de 2019.] 
Art. 31. O STJD e o TJD, por meio das suas Presidências, deverão nomear defensores dativos para exercer a defesa técnica de qualquer pessoa natural ou jurídica que assim o requeira expressamente, bem como de qualquer atleta menor de dezoito anos de idade, independentemente de requerimento.
A Lei 9.615/98 também traz a regulamentação da Justiça Desportiva, embora seus artigos que a regulamentam tenham sofridos algumas alterações, primeiro com a edição da lei 9.981/00 os artigos 52 e 55, e com a lei 12.395/11 os artigos 50 e 53.
O artigo 50 da Lei Pelé traz: 
“Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva, limitadas ao processo e julgamento das infrações disciplinares e às competições desportivas, serão definidos nos Códigos de Justiça Desportiva, facultando-se às ligas constituir seus próprios órgãos judicantes desportivos, com atuação restrita às suas competições.
 Assim, foi recriado o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) com a redação do artigo 52, e reforçada sua competência para julgamento das questões desportivas previstas no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, assegurando a ampla defesa e o contraditório. Fica notória a autonomia e a independência atribuídas aos órgãos da Justiça Desportiva, que já haviam sido previstos constitucionalmente, mas reiterados no artigo 52, quando diz que os tribunais são unidades autônomas e independentes das entidades de administração do desporto, com competência para processar e julgar questões previstas nos códigos de justiça desportiva (texto do 52). A composição em si dos órgãos demonstra por si só a independência para com as entidades administrativas do desporto, verificando a representatividade diversificada dos membros componentes dos tribunais, onde quase todos são apontados por entidades diversas, e somente dois são apontados pela entidade de administração desportiva[footnoteRef:29]. [29: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 50] 
O artigo 52 da Lei Pelé define, em suma, a composição da justiça Desportiva como o STJD, os TJDs, e as Comissões disciplinares. Assim dispõem o Código Brasileiro de Justiça Desportiva e a Lei Pelé sobre a organização e competência da Justiça Desportiva no âmbito do futebol brasileiro. 
3 DIREITO DESPORTIVO TRABALHISTA
3.1. LEI ZICO
Posto tudo que foi abordado até o presente capítulo, tratados a profissionalização do futebol, a normatização do desporto e a organização da justiça desportiva, resta clara a existência de relação entre o atleta profissional e a entidade de prática desportiva. Cabe dizer que a natureza dessa relação é trabalhista, ou seja, regida por contrato de trabalho. Não é contemporânea a regulamentação específica sobre as relações entre atletas e clubes, visto que por muito tempo, por analogia, aplicou-se a CLT para reger esse vínculo. Contudo, começou a tomar forma própria a relação trabalhista do atleta com a Lei 8.672/93, popularmente conhecida como Lei Zico. Foi ela quem abriu espaço para discussão da relação entre atletas e clubes, além de trazer um conceito de desporto mais próximo ao que possuímos atualmente. 
O que ensejou sua promulgação foi o fato de que, até então, a lei regente do esporte nacional era a lei 6.251/75, promulgada durante a ditadura militar. Segundo Marcelo Weishaupt Proni[footnoteRef:30], [30: PRONI, Marcelo Weishaupt. Esporte-Espetáculo e futebol-empresa. Campinas, Unicamp, 1998. (Tese de Doutorado em Educação Física), p. 215. APUD JUNIOR, Miguel Archanjo Freitas.; HIRATA, Edson. BASTIDORES DO JOGO: AS INTERFERÊNCIAS NA ELABORAÇÃO DA LEI PELÉ. Projeto História (Online), v. 49, 2014.
] 
o advento da Nova República (1985) apontavam para o declínio da tutela estatal sobre o futebol e para a necessidade de uma organização mais autônoma do esporte profissional. A solução para os problemas vividos pelo futebol brasileiro - afirmava-se desde o início da década - passava por uma completa reestruturação das bases legais e institucionais nas quais ele se erguera. Era o momento de limpar o ‘entulho autoritário’ e criar um novo ambiente jurídico, uma configuração institucional mais moderna, que permitissem aos clubes o salto para a ‘modernidade.’
 
Os anos 1990 estavam passando por grandes alterações, em diversos âmbitos, e dessa forma, inclusive em relação à redemocratização, e era notória a forte oposição à legislação vigente que regia o desporto à época, principalmente pelo fato de que os clubes não conseguiam explorar de forma comercial o futebol. O projeto de Lei Zico, apelido pelo qual era conhecido Artur Antunes Coimbra, à época responsável pela Secretaria do Desporto da Presidência da República de 1990 a 1991, que nesse tempo ganhou status de Ministério, foi encaminhado ao Congresso e primordialmente abrangia 3 aspectos: a discussão sobre o passe do jogador de futebol, a regulamentação da comercialização do futebol nos clubes, e a democratização nas entidades de administração do desporto, fazendo com que o Estado tivesse menor intervenção no esporte, de forma que a regulamentação do desporto passasse a ser de iniciativa privada. Trouxe o aspecto da iniciativa privada em seu artigo 11[footnoteRef:31], capítulo IV, com a possibilidade do gerenciamento do esporte através de empresas: [31: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8672.htm>. Acesso em 28 de Outubro de 2019.] 
 Art. 11. É facultado às entidades de prática e às entidades federais de administração de modalidade profissional, manter a gestão de suas atividades sob a responsabilidade de sociedade com fins lucrativos, desde que adotada uma das seguintes formas: 
 I - transformar-se em sociedade comercial com finalidade desportiva; 
 II - constituir sociedade comercial com finalidade desportiva, controlando a maioria de seu capital com direito a voto; 
 III - contratar sociedade comercial para gerir suas atividades desportivas. 
 Parágrafo único. As entidades a que se refere este artigo não poderão utilizar seus bens patrimoniais, desportivos ou sociais para integralizar sua parcela de capital ou oferecê-los como garantia, salvo com a concordância da maioria absoluta na assembléia geral dos associados e na conformidade dos respectivos estatutos. 
Foi promulgada somente em 1993, mas a Lei Zico trouxe consigo inovações consideradas benéficas ao atleta profissional, se destacando entre elas a redação dos artigos 22 e 23: 
Art. 22. A atividade do atleta profissional é caracterizada por remuneração pactuada em contrato com pessoa jurídica, devidamente registrado na entidade federal de administração do desporto, e deverá conter cláusula penal para as hipóteses de descumprimento ou rompimento unilateral. 
 § 1º A entidade de prática desportiva empregadora que estiver com pagamento de salários dos atletas profissionais em atraso, por período superior a três meses, não poderá participar de qualquer competição, oficial ou amistosa. 
 § 2º Aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais da legislação trabalhista e da seguridade social, ressalvadas as peculiaridades expressas nesta lei ou integrantes do contrato de trabalho respectivo. 
(...) 
 Art. 23. O contrato de trabalho do atleta profissional terá prazo determinado, com vigência não inferior a três meses e não superior trinta e seis meses. 
 Parágrafoúnico. De modo excepcional, o prazo do primeiro contrato poderá ser de até quarenta e oito meses, no caso de atleta em formação, não-profissional, vinculado à entidade de prática, na qual venha exercendo a mesma atividade, pelo menos durante vinte e quatro meses.
O instituto do passe, no entanto, ainda não havia sido extinto, de forma que era trazido pela conhecida como “Lei do Passe”, de nº 6.354/76, que ao mesmo tempo em que trazia benefícios para o atleta profissional, tais como férias remuneradas, recesso e assinatura da CTPS, era conhecida por esse nome pois regulamentava o instituto. O passe era conceituado como importância devida por um empregador a outro, pela cessão do atleta durante a vigência do contrato ou depois de seu término”, vide artigo 11 da mesma. Em razão disto, um jogador profissional poderia ficar vinculado a um clube mesmo após o término do seu contrato, sem receber salário, o que causou fortes críticas a esse instituto. Embora se constituísse somente com concordância do atleta, que tinha direito à 15% do valor da transação, o passe conflitava com o livre exercício da profissão, sendo muitas vezes mencionado por juristas como análogo ao trabalho escravo no Brasil, conforme menciona Rodrigo Spineli[footnoteRef:32]: [32: SPINELI, Rodrigo. Op. Cit. P. 27] 
O fim do passe é visto por desportistas e juristas como a principal vitória legislativa de todo o percurso histórico de nosso esporte. Afinal, para muitos, o passe, em um sentido estrito, colocava o jogador de futebol na condição de escravo de seu empregador, uma vez que se este quisesse, o atleta ficaria sem contrato, ou seja, sem receber, e proibido de exercer a sua profissão.
Em suma, a Lei Zico tinha por objetivo modificar a organização do futebol nacional, promovendo fim do passe, proporcionando maior autonomia aos atletas, trazendo maior liberdade em seus contratos, diminuir nos clubes a intervenção estatal, sendo que no entanto, todos esses objetivos não se completaram, pois destaca-se que a Lei Zico foi a propulsora para a Lei Pelé, sendo esta revogadora da Zico, e é vigente nos dias atuais, mas manteve boa parte do escopo da Lei 8.672/93, não diferindo muito entre si, principalmente na parte inicial. 
3.2. LEI PELÉ
A Lei 9.615/98, popularmente conhecida por Lei Pelé, tem esse nome pois Edson Arantes do Nascimento, o conhecido jogador profissional que carrega esse apelido, foi quem deu início à aludida Lei, quando assumiu o Ministério dos Esportes, possuindo como um de seus principais objetivos acabar com a figura do passe. Foram recrutados uma série de juristas que, juntos, deram forma à nova Lei que regularia a relação no esporte, e a mesma foi promulgada em 24 de março de 1998, sancionada pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso, trazendo consigo importantes inovações ao mundo desportivo[footnoteRef:33]. [33: SPINELI, Rodrigo. Op. Cit. P. 25] 
Em seu artigo 28, traz as determinações referentes ao atleta profissional. Mais importante, determina em seu §4º, com redação da Lei 12.395/11, que estes tenham os mesmos benefícios e garantias de trabalhadores sujeitos às leis trabalhistas e de seguridade social, ressalvadas as peculiaridades constantes da Lei, motivo pelo qual ao versar sobre atletas profissionais, fala-se em contrato especial de trabalho.
3.2.1 Principais inovações
Iniciando pela Lei do Passe (Lei nº 6.354/76), a mesma trouxe além de benefícios, prejudicialidade aos atletas profissionais. Esse prejuízo se dava na forma que, na prática, o passe funcionava como posse do registro do atleta por parte da entidade desportiva, e o jogador ficava vinculado ao clube mesmo após o fim do seu contrato, que em regra durava de três meses a dois anos, sendo permitida a transferência do atleta após 32 anos de idade ou com mais de 10 anos de serviços prestados ao clube, o que significa período muito superior ao contrato firmado entre a entidade administrativa e o jogador[footnoteRef:34]. Como forma de compensação, o jogador tinha direito à 15% do valor da transação da venda de seu passe quando ocorresse (SPINELI, 2011)[footnoteRef:35]. Se fazia necessária anuência do atleta para que ocorresse, mas o atleta em si não tinha a possibilidade de transferir-se para outro clube sem permissão do empregador, mesmo passado o prazo do contrato de trabalho firmado entre eles. Isso significa que o trabalhador não tinha o direito de optar pelo emprego que considerasse melhor para si. Para Hugo Braga[footnoteRef:36], o instituto do passe era incontestavelmente inconstitucional, visto que feria o inciso XIII do artigo 5º da Constituição Federal: [34: CAMPAGNONE, Vinicius Gonçalves. Legislação no futebol profissional do Brasil: da Lei do passe aos agentes FIFA. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em EDUCAÇÃO FÍSICA) - UNICAMP - Faculdade de Educação Física. P. 28] [35: SPINELI, Rodrigo. Op. Cit. P. 19] [36: BRAGA, Hugo Albuquerque. O contrato de trabalho do atleta profissional de futebol. Revista de direito do trabalho, São Paulo, SP, v. 36, n. 137, p. 143-216, jan./mar. 2010. Disponível em <https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/116311>. Acesso em 25 de Outubro de 2019. P. 150] 
Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.
Uma das maiores repercussões trazidas pela Lei Pelé foi o fim do passe, tratado pelo artigo 28 da referida lei. No entanto, era estipulado pelo artigo 93 da mesma que entraria em vigor o fim do passe no período de dois anos após a vigência da Lei Pelé, para que os clubes tivessem tempo suficiente para adaptar-se à nova regra, sendo o prazo final 26 de março de 2001. Em 14 de julho de 2000, o artigo 93 foi alterado com a redação da lei 9.981, para trazer esclarecimento referente ao direito adquirido, assunto que foi alvo de algumas críticas por parte dos legisladores[footnoteRef:37], pressionados por clubes que temiam por problemas com seus contratos vigentes à época do fim do passe. Ainda assim, foi o artigo 28 da Lei 9.615/98 o marco final para o instituto do passe, com redação alterada em 2011 pela Lei 12.395. Com base neste artigo, finalizado o contrato de trabalho, finaliza-se também o vínculo desportivo do atleta com a entidade empregadora, interpretando-se agora que o passe pertence ao atleta, e não à entidade empregadora. Agora, o que se tem, é o passe livre. Com o fim do passe, foi dado lugar à chamada cláusula penal, que será abordada a posteriori. [37: SPINELI, Rodrigo. Op. Cit. P. 25.] 
À semelhança do passe, porém em nada vinculado com ele, no artigo 29 da Lei Pelé, tem-se o direito de preferência do primeiro contrato de trabalho do atleta e a primeira renovação de contrato nos casos em que a entidade desportiva é que formou o atleta, a partir de 16 anos. Esse direito de preferência tem embasamento no fato de que os clubes que formam o atleta investem tempo e dinheiro no mesmo, sendo uma forma de compensação por tal. São os chamados clubes formadores.[footnoteRef:38] [38: BARROS, Alice Monteiro de. Op. Cit. P. 9] 
Outra modificação trazida pela Lei 9.615/98 de suma importância foi a transformação dos clubes de futebol em empresas. No artigo 27, em sua redação originária, dispôs que as atividades relacionadas a competições de atletas passariam a ser privativas de sociedades civis de fins econômicos; sociedades comerciais admitidas na legislação; e entidades de prática desportiva que constituíssem sociedade comercial para administração das atividades tratadas pelo artigo. Esse artigo possuía caráter vinculatório, sendo, portanto, obrigatória a transformação dos clubes em empresas com fins lucrativos. Houve controvérsia, no entanto, em relação a essa obrigação e a própria Constituição Federal, vez que esta dispõeem seu artigo 217 a autonomia das entidades desportivas e associações quanto à sua organização e funcionamento. Consequentemente, houve revogação do artigo 27 da Lei 9.615/98, que ganhou nova redação em 2000 transformando a obrigação em faculdade[footnoteRef:39]. [39: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 35.] 
O conceito de empresa ainda era dissociado, sendo que Marcus Cláudio Acquaviva[footnoteRef:40] trouxe a seguinte definição: “A atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços. Evidentemente, atividade, aqui, significa não um ato isolado, mas uma série pré-determinada e coordenada de atos, visando uma finalidade produtiva.” [40: Dicionário jurídico Acquaviva - versão informatizada - novembro de 1995. Apud Neto, Jaime Barreiros. op. cit. p.35] 
No ano de 2003, o artigo 27 teve sua redação alterada novamente, dessa vez com o intuito de tornar mais rígida a fiscalização da atuação administrativa dos dirigentes das entidades desportivas, prevendo inclusive a aplicação da teoria da desconsideração da pessoa jurídica, cujo conceito é encontrado no artigo 50 do Código Civil:
Art. 27. As entidades de prática desportiva participantes de competições profissionais e as entidades de administração de desporto ou ligas em que se organizarem, independentemente da forma jurídica adotada, sujeitam os bens particulares de seus dirigentes ao disposto no art. 50 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, além das sanções e responsabilidades previstas no caput do art. 1.017 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, na hipótese de aplicarem créditos ou bens sociais da entidade desportiva em proveito próprio ou de terceiros.
Afinal, o interesse em tentar fazer com que os clubes se tornem empresas é melhorar a gestão das entidades administrativas, pois até então, era comum que os clubes mal geridos passassem a endividar-se e algumas vezes até falir. Nesse cenário, até a pressão popular era positiva para que os clubes se modernizassem para atender às práticas comerciais que o futebol passou a exigir. Embora a transformação dos clubes em empresas tenha deixado de ser obrigatória, ainda é evidente o incentivo presente no conteúdo do artigo 27 da Lei Pelé. A gestão financeira em tudo se comunica com os atletas profissionais, visto que a atividade destes é caracterizada por remuneração pactuada em contrato formal de trabalho firmado com entidade de prática desportiva, a pessoa jurídica de direito privado[footnoteRef:41]. Com os clubes transformando-se em empresas, os atletas passam a ser funcionários da empresa. [41: Lei nº 9.615 de 24 de Março de 1998. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9615consol.htm>. Acesso em 26 de Outubro de 2019.] 
3.3 O CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL
3.3.1 O contrato de trabalho na CLT
Para fazer alusão ao contrato de trabalho do atleta profissional, cabe abordar sobe o contrato de trabalho geral. Suas relações de trabalho em regra são geridas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Decreto-Lei nº 5.452/43. Em seu texto, tem-se o conceito de empregador, empregado, e de contrato de trabalho, que é o instrumento pelo qual se firma e rege a relação trabalhista. Está previsto no artigo 442 da Lei.
Pode o contrato ser tácito ou expresso, e quando expresso, nele são redigidos os termos em que o trabalho acontecerá, tais como salário, jornada, local. A regra é que seja por tempo indeterminado, sendo admitidas as seguintes modalidades por tempo determinado: as de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo; de atividades empresariais de caráter transitório; e contrato de experiência. Pode o contrato de trabalho ser individual ou coletivo, podendo este último ser figurado por mais de um trabalhador em um só polo ou até por sindicatos e entidades de representação afim de estabelecer normas para as condições de trabalho de determinada categoria. 
No entendimento de DELGADO[footnoteRef:42], o contrato de trabalho celetista se caracteriza por alguns elementos constitutivos, quais sejam, ser relação de direito privado, consensual, personalíssimo por parte do empregado, e principalmente oneroso, ou seja, as obrigações constantes dele são economicamente mensuráveis, há trocas recíprocas. Ainda de acordo com o entendimento doutrinário, para a validade do contrato, é necessário que estejam presentes alguns elementos jurídicos formais. O primeiro deles é a capacidade das partes, ou seja, aptidão para exercer os atos da vida civil, conforme previsto no Código Civil. O segundo é a licitude do objeto, de forma que o contrato é nulo se a atividade objeto for ilícita, a exemplo da prática de um crime. O terceiro é a manifestação de vontade, visto que para o pacto se considerar válido, deve haver consentimento e vontade livre de vícios de ambas as partes, sendo que os vícios e defeitos levam à nulidade do contrato. Todos os elementos citados são essenciais para constituição do contrato de trabalho, e portanto, o vínculo empregatício. [42: DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16ª edição. Editora LTR. Fevereiro 2017. P. 581] 
Outros institutos que ocorrem com o contrato de trabalho celetista é a interrupção e a suspensão. Estes inviabilizam a extinção do contrato, mas significam período em que não há prestação de serviço para a empresa. A diferença entre eles está em seu conteúdo: a interrupção significa um período em que o contrato ainda conta como tempo de serviço, ou seja, para todos os efeitos legais, inclusive de remuneração. Então, enquanto o empregado está afastado das atividades, suas férias, décimo terceiro e até o salário não são afetados. Alguns exemplos de casos de interrupção são afastamento por doença ou acidente até o 15º dia, visto que a partir do 16º dia enseja suspensão; férias; descanso semanal remunerado e feriados; período em que não houver atividades na empresa por responsabilização desta; licença maternidade; licença remunerada; entre outros. Já o período de suspensão é caracterizado pela ausência de determinados efeitos no contrato, como a remuneração e décimo terceiro salário. Alguns exemplos de suspensão no contrato de trabalho são afastamento por doença a partir do 16º dia; suspensão disciplinar; aposentadoria por invalidez; participação pacífica em greve; etc. Ao final da interrupção o empregado volta as atividades habituais, sem prejuízo de quaisquer direitos adquiridos. Ao final da suspensão, o empregado volta as atividades com os direitos adquiridos até o momento do início da licença, tendo sua continuidade apenas a partir do seu retorno.
Quanto à extinção do contrato, existem algumas modalidades. As principais são a dispensa arbitrária (dispensa injusta), o pedido de demissão, a dispensa por justa causa, e a mais recente trazida pela reforma trabalhista, a de comum acordo. 
A dispensa arbitrária é de prerrogativa do empregador, é imotivada e enseja em pagamento de verbas rescisórias ao empregado, como forma de indenização, sendo elas o aviso-prévio (trabalhado ou indenizado), multa de 40% sobre o FGTS além do mesmo liberado, décimo-terceiro salário, adicional de férias de 1/3 e direito a ingresso no programa de seguro-desemprego. Já o pedido de demissão, é de parte do empregado, porém as verbas rescisórias a serem recebidas são limitadas, recebendo apenas o décimo-terceiro e as férias proporcionais. A dispensa por justa causa suprime ao trabalhador o direito de recebimento de quaisquer verbas rescisórias; e por fim, a de comum acordo, que é a única modalidade de rescisão que não é unilateral, ou seja, depende de concordância tanto do empregador quanto do empregado. Prevista no artigo 484-A da CLT, a rescisão é proposta por uma das partes, e o empregado tem direito ao recebimento das verbas rescisórias, com exceção de metade do aviso prévio, direito de movimentar até 80% do seu FGTS e com queda da multa pela metade, não autorizando ingresso ao programa de Seguro-Desemprego. 
3.3.2 Contrato de trabalho especial do atleta profissional
Dado o conceitoe conteúdo do contrato de trabalho celetista, pode-se analisar o contrato de trabalho desportivo em contrapartida.
Essa modalidade de contrato especial é conceituado por Geraldo Magela Alves[footnoteRef:43] como: [43: ALVES, Geraldo Magela. Manual Prático dos Contratos: doutrina, legislação, jurisprudência, formulários. Rio de Janeiro: Forense, 1996. P. 216. APUD NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 117] 
Designa-se contrato de prestação de serviços profissionais ao ajuste de vontades, no qual uma das partes (o atleta) se obriga, sob subordinação e mediante remuneração para com outra pessoa (a entidade desportiva), ao exercício temporário de atividade ligada ao desporto.
Contrato entre atleta profissional e a entidade de prática desportiva é visto como um contrato de trabalho especial, pois, embora se configura diante dos pressupostos previstos no art. 3º da CLT, é submetido ao regime da mesma. É regido por legislação específica, no caso, pela Lei Pelé e códigos Disciplinares de futebol, mas isso não exclui totalmente a aplicabilidade da CLT, visto que a própria 9.615/98 prevê em seu artigo 28, §4º aplicação das leis trabalhistas de forma subsidiária nos contratos de trabalho desportivos, ressalvadas as peculiaridades da Lei. Por esse motivo é considerado modalidade especial de contrato de trabalho: apesar de não ser regido pela CLT, ainda sim é considerado contrato trabalhista. A Lei Pelé preocupou-se, ainda, em distinguir o desporto profissional do não-profissional. Em seu artigo 3º, inciso I, descreve o desporto profissional como “(...) caracterizado pela remuneração pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade de prática desportiva”, e o não profissional é caracterizado em seu inciso II, dizendo “de modo não-profissional, identificado pela liberdade de prática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio”. Difere ainda, dessas duas categorias, o atleta amador. Esse é o indivíduo que pratica o esporte como forma de lazer, sem qualquer tipo de incentivo material ou lucros auferidos. Nisso, já se diferencia do atleta não-profissional, que no caso, é permitido que receba patrocínio e incentivos materiais, conforme letra de lei. É de categoria não-profissional, mas é considerado atleta. O atleta profissional de fato é considerado de alto rendimento, o que significa que se encaixa em categorias competitivas. Segue a definição de esporte de alto rendimento apresentada por SAMULSKI e NOCE, 2002[footnoteRef:44]: [44: Samulski, D. e Noce, F. (2002a). Perfil psicológico de atletas paraolímpicos brasileiros. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 8 (4), 157-166. 
 Apud Rodrigues Albuquerque, Maicon; da Costa, Varley Teoldo; Martin Samulski, Dietmar; Noce, Franco AVALIAÇÃO DO PERFIL MOTIVACIONAL DOS ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO DO TAEKWONDO BRASILEIRO https://www.redalyc.org/pdf/3111/311126259006.pdf ] 
No esporte de alto rendimento exige-se uma alta produtividade dos atletas sem, entretanto, garantir aos mesmos o sucesso de conquistas nos títulos esportivos disputados. Todo o esforço pessoal desprendido por um atleta nos treinamentos e competição é cercado de incertezas e imprevisibilidades (Samulski e Noce, 2002a).
É obrigatório que conste do contrato de trabalho do atleta profissional as cláusulas indenizatória e compensatória, sendo que a primeira corresponde a um preço pré convencionado entre as partes que se configura caso o atleta quebre o vínculo contratual, enquanto a segunda corresponde à valor devido pela entidade empregadora caso ocorra rescisão contratual por parte da mesma de forma imotivada, antes do término do prazo contratual[footnoteRef:45]. A rigor, essa modalidade de contrato possui as seguintes características[footnoteRef:46]: a) é formal, ou seja, a Lei determina que no caso de contratos de atletas profissionais de futebol, seus contatos de trabalho devem ser necessariamente escritos, contendo informações obrigatórias; b) é solene, pois obrigatoriamente deve ser registrado na entidade de administração nacional de modalidade desportiva; c) é temporário, tem prazo de duração determinado, variando de três meses à cinco anos. Ainda, é dever das associações empregadoras numerar os contratos de trabalho em ordem cronológica e sucessiva com datas e assinaturas de próprio punho do atleta ou seu responsável sob pena de nulidade (JAIME,2010[footnoteRef:47]). Conforme apontam os estudos de HUGO BRAGA[footnoteRef:48], cabe salientar que, caso o contrato não seja escrito, isso não enseja na invalidade da relação de emprego entre atleta e clube. O que ocorre é que, trata-se de relação irregular, fora dos preceitos legais, e por isso, o atleta não pode ser registrado nas entidades de administração de Futebol e não poderá fruir de prerrogativas legais. [45: MELO FILHO, Álvaro. Op. Cit. P. 110-122.] [46: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 118] [47: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 119] [48: BRAGA, Hugo Albuquerque. Op. Cit. P. 10] 
Conforme mencionado ser temporário, o prazo do contrato do atleta profissional deve ser no mínimo de 3 meses, para que seja possível a demonstração das habilidades profissionais, e não pode superar o período de 5 anos, de acordo com o artigo 30 caput da Lei Pelé, com redação alterada pela Lei 9.981/00. A capacidade para contratar se dá inicialmente aos 16 anos, de forma assistida, e livre aos 18, em virtude do Código Civil. 
No que diz respeito à temporariedade, essa característica dentro do contrato de trabalho especial é desfigurada se em comparação com as hipóteses de trabalho temporário previstos na CLT[footnoteRef:49]. O artigo 443 da CLT traz as condições para que o contrato de trabalho seja por tempo determinado, quais sejam, transitoriedade do serviço do empregado ou atividade do empregador; e contrato de experiência. Foge da regra o contrato do atleta pois apesar de caráter temporário, não há restrição ao número de vezes que pode ser renovado, não ultrapassando o limite máximo de cinco anos. Sendo o contrato do atleta profissional obrigatoriamente por tempo determinado, cabe mencionar o caso do jogador Eliezer Murillo[footnoteRef:50], que jogava no clube Grêmio Football Porto Alegrense. No caso em tela, o jogador trabalhou de 1994 a 2000 para o clube, por meio de vários contratos sucessivos, até que o clube cessou seu interesse no jogador e vendeu seu passe ao clube Fluminense. Diante da situação, o atleta buscou perante a Justiça Trabalhista o reconhecimento de unicidade contratual, alegando que ao final de cada contrato, nunca fora efetuada sua rescisão, sendo ele ajustado 3 vezes. Na demanda, Eliezer buscou, junto ao reconhecimento de contrato único, o direito de arena, gratificações, prêmios e outras verbas. Em primeira instância, foi reconhecida a existência de contrato único, e o Grêmio foi condenado a pagar as verbas recorrentes. A partir daí, ambas as partes recorreram ao TST, e foi afastada a unicidade contratual, descartando a pretensão quanto aos três contratos. No recurso de revista ao TST, Eliezer insistiu no reconhecimento de um contrato único, “contudo, o fato de o contrato de trabalho de atleta profissional ser prorrogado indefinidas vezes não desnatura sua natureza de contrato por prazo determinado” observou a ministra Cristina Peduzzi. O entendimento da Oitava turma foi de que “não é aplicável a essa modalidade contratual, assim, o art. 451 da CLT, segundo o qual a prorrogação de um contrato por prazo determinado por mais de uma vez o transmuta em contrato por prazo indeterminado. Com efeito, prorrogação e indeterminação de prazo são institutos que não se confundem, sendo perfeitamente concebível a prorrogação de sucessivos contratos por prazo determinado. Não se trata de inovação na legislação trabalhista. Nesses termos, não há incompatibilidade entre a prorrogação contratual e o fato de o contrato ter prazo determinado. A renovação do vínculo de trabalho de atleta profissional por sucessivas vezes não implica o reconhecimento de várioscontratos de trabalho, mas sim, um único contrato que foi prorrogado diversas vezes."[footnoteRef:51]. [49: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 118] [50: BELMONTE, Alexandre Agra. op. Cit. P. 84] [51: Oitava turma do Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista nº RR-35/2002-012-04-00.7. Disponível em <https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2009610/recurso-de-revista-rr-35003720025040012-3500-3720025040012/inteiro-teor-10362080>. Acesso em 02 de Novembro de 2019.] 
O fenômeno da suspensão e interrupção são aplicáveis ao contrato do jogador profissional. Anteriormente conceituados no tópico 2.3.1, o instituto da suspensão se dá quando um atleta for emprestado temporariamente a outro clube, o qual se sub-roga no dever de pagamento de salários devidos e o cedente é isento de qualquer contraprestação enquanto dura o empréstimo. Em regra, conforme determina art. 472 da CLT, o tempo de afastamento é computado na contagem do tempo de duração contratual, com exceção em acordando as partes de forma diferente. No caso de não cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e fiscais por parte do cessionário, o cedente ficará responsável subsidiariamente pelas mesmas. Já o instituto da interrupção se dá quando o atleta for convocado a compor a seleção brasileira de futebol, e diferente do caso de suspensão, o clube empregador continua obrigado ao pagamento dos salários ao atleta, e é indenizado posteriormente pela CBF. Isso está disposto no artigo 41 da Lei Pelé[footnoteRef:52]. [52: BRAGA, Hugo Albuquerque. Op. Cit. P. 171.] 
As formas de rescisão do contrato do jogador profissional também podem se dar por rescisão indireta que pode ser levada pelas hipóteses do artigo 483 da CLT; por justa causa; e ainda, por distrato. Mas a regra é que o contrato cesse ao final do prazo estipulado entre as partes, encerrando o vínculo[footnoteRef:53]. [53: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 136.] 
 De seu conteúdo, é obrigatório que conste os nomes das partes contratantes devidamente atualizadas e caracterizadas, o prazo de vigência do contrato (mínimo 3 meses e máximo 5 anos), o modo e a forma de remuneração, especificando o salário, os prêmios, as gratificações, e quando houver as bonificações, e se previamente convencionadas, devem constar do contrato também. Enquadram-se no conceito de salário para o atleta o mesmo previsto no artigo 457 da CLT. Mas nesse quesito, há especificações quanto ao contrato especial. Faz parte da remuneração a gratificação de nomenclatura “bicho”, que carrega esse nome em correlação ao jogo de azar chamado “jogo do bicho”. No entanto, essa gratificação ocorre geralmente por ocasião de vitórias ou empates, como forma de estímulo aos atletas e se incorpora para todos os efeitos ao salário, refletindo inclusive em férias e 13º salário. Outra parcela que integra a remuneração, mas não é confundida como gratificação, é a chamada “luva”. Essa se dá em função da eficiência do atleta demonstrada antes da contratação em si. Pode ser em dinheiro, títulos, imóveis ou automóveis. Agora, outra gratificação que pode vir a ocorrer é a chamada “contrato de imagem”, dos quais os clubes remuneram os mais famosos e mais importantes jogadores. Para JAIME, 2010[footnoteRef:54], essa gratificação trata de tentativa de burlar os direitos trabalhistas, pois por muitas vezes, ocorre o atraso no pagamento referente a esse contrato de imagem, alegando que o “contrato de imagem é distinto do contrato de trabalho”. Contrato de imagem não é a mesma coisa que direito de imagem, que é o direito previsto pela Constituição Federal no artigo 5º inciso X e XXVIII. Esse direito de imagem é regulado também pela Lei Pelé: [54: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 131.] 
Art. 42. Pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo desportivo de que participem. 
§ 1º Salvo convenção coletiva de trabalho em contrário, 5% (cinco por cento) da receita proveniente da exploração de direitos desportivos audiovisuais serão repassados aos sindicatos de atletas profissionais, e estes distribuirão, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do espetáculo, como parcela de natureza civil. 
Portanto, o direito de imagem não tem cunho trabalhista, mas sim, cível. Não pode ser pleiteado em sede trabalhista. Melo Filho[footnoteRef:55] expõe a necessidade de distinguir o direito de exploração individual e o direito de exploração coletiva. Porquanto o direito individual denota a utilização da imagem do jogador como pessoa, para fins comerciais, pelo próprio atleta, ao direito coletivo de exploração da imagem é denominado de direito de arena. O direito de uso de imagem individual do jogador é regulamentado pelo artigo 87-A da Lei 9.615/98[footnoteRef:56]. [55: FILHO, Álvaro Melo. Op. Cit. P. 129] [56: FILHO, Álvaro Melo. Op. Cit. P. 130.] 
Quanto ao direito coletivo de exploração da imagem, o mencionado autor ainda o descreve como: 
[...]uma especificidade do desporto, sendo assegurado aos entes desportivos quando as partidas ou eventos são transmitidos pela televisão (transmissão ou reprodução de imagens, na dicção do legislador), pois resulta em receita diminuída para as equipes participantes,[...][footnoteRef:57] [57: FILHO, Álvaro Melo. Op. Cit. P. 137-138.] 
Este direito sim, por sua vez, tem natureza trabalhista, tendo sido inclusive reconhecido pelo Tribunal Superior do Trabalho[footnoteRef:58]: [58: RR- 1210/2004, Dj 16.03.2007. FILHO, Álvaro Melo. Op. Cit. P. 138-139.] 
[...]Assim sendo, não se trata de contrato individual para autorização da utilização da imagem do atleta, este sim de natureza civil, mas de decorrência do contrato de trabalho firmado com o clube. Ou seja, o clube por determinação legal paga aos seus atletas participantes um percentual do preço estipulado para a transmissão do evento esportivo. Daí vir a doutrina e a jurisprudência majoritária nacional comparando o direito de arena à gorjeta, reconhecendo-lhe a natureza remuneratória. 
Em relação aos contratos em que ainda estavam presentes a figura do passe, tiveram direito os atletas cujo passe foi negociado a 15% do valor da transação, ressaltando que somente os contratos firmados antes de 26.03.2001 poderiam estar sujeitos a tal.
Esses contratos de trabalho são numerados pelas associações empregadores, em ordem sucessiva e cronológica, datados e assinados, de próprio punho, pelo atleta ou pelo responsável legal sob pena de nulidade, além de obrigatório constar nos contratos a carga horária semanal de trabalho e o regime de concentração. Quanto à carga horária, referente à jornada de trabalho do jogador de futebol profissional, anteriormente, era disciplinada pela lei 6.354/76, no seu artigo 6º[footnoteRef:59]. Contudo, foi revogada e o art. 96 da Lei 9.615/98 (Lei Pelé) foi o responsável pela revogação e deixou grande lacuna na legislação, pois a Lei supracitada não trouxe especificações sobre o tema. Em analogia, entende-se aplicável o regrado pelo art. 7º XIII da CF, que diz que a duração do trabalho normal não deve superar 8 horas diárias e 44 horas semanais, também regulado no art. 58 da CLT, facultada compensação de horários e redução de jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. Assim sendo, define-se que os atletas profissionais de futebol têm essa jornada, incluindo nela os treinamentos e períodos de exibição. Deve ser respeitado, ainda, o dia de descanso semanal remunerado, sendo possível o trabalho em domingos e feriados levando em conta a especificidade dessa profissão, que quase sempre leva o jogador a trabalhar nesses dias em especial, sendo compensado com a folga no meio da semana. Há, no entanto, uma peculiaridade em relação à jornada do jogador de futebol. É chamado de regime de concentração, que significa uma adaptação de hábitos e costumes para adaptar-se acompetições importantes, com o intuito de obter melhores resultados. Fica clara a divergência doutrinária e jurisprudencial a respeito do que integra esse regime de concentração, pois para alguns, cabem horas extras caso haja superação das 44h semanais, e para outros, que não há o direito de horas extras em cima do regime de concentração. Há acórdão do TRT da 13ª Região, no sentido: “a concentração do jogador de futebol e uma característica especial do contrato de trabalho profissional, não se admitindo o deferimento de horas extras neste período”[footnoteRef:60]. No entendimento de Jaime Barreiro Neto[footnoteRef:61], o regime de concentração não deve ser computado como hora extra se respeitado o limite de três dias por semana, podendo ser esse prazo ampliado quando em serviço para Federação ou Confederação. [59: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 124] [60: TRT-PB – 13ª Reg., - Proc. RO 783/88 – Rel.: Juiz Paulo Montenegro Pires, pub. DJPB de 05.1.89 apud BARROS, Alice Monteiro de. Op. Cit. P. 25] [61: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 126] 
Como qualquer empregado, o jogador possui direito a férias. Porém, ele foge à regra celetista, pois não está submetido ao que é conceituado como férias na CLT. Isso significa que nem sempre ele tem direito a 30 dias de férias. Ao contrário do empregado geral, o atleta não tem obrigatoriedade de cumprimento total do período de férias. No referente à remuneração devida ao atleta durante o seu período de férias, entende-se que deve ser observado o salário fixo, o saldo de férias, além da média dos prêmios e gratificações e bichos que tenha recebido o atleta durante o período aquisitivo, se revestidas de habitualidade, ensina Jaime[footnoteRef:62]. [62: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 128] 
3.3.3 Empregador e empregado
A Consolidação das Leis do Trabalho conceitua empregador em seu artigo 2º: 
Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço”; e o empregado em seu artigo 3º: “Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. 
É sabido que há uma relação de subordinação entre empregador e empregado nas relações de trabalho comuns, e não há de ser diferente nas relações de trabalho entre atleta e a entidade desportiva. Com efeito, é clara a excentricidade desta relação laboral em especial, já relatava Álvaro Melo Filho (2011)[footnoteRef:63]: [63: FILHO, Álvaro Melo. Nova Lei Pele: avanços e impactos. 1ª edição. Rio de Janeiro: Maquinaria, 2011. v. 1. p. 200] 
[...]avulta a singularidade da relação que une atleta profissional e seu clube, ao reunir conotações especiais, podendo seu ajuste laboral envolver aspectos desportivos (treinos, concentração, preparo físico, disciplina tática em campo), aspectos pessoais (alimentação balanceada, limites à ingestão de álcool, peso, horas de sono), aspectos íntimos (comportamento sexual, uso de medicamentos dopantes), aspectos convencionais (uso de brincos, vestimenta apropriada), e aspectos disciplinares (ofensas físicas e verbais a árbitros, dirigentes, colegas, adversários e torcedores, ou então, recusa de participação em entrevista após o jogo. 
Realçadas as peculiaridades do contrato de trabalho especial do atleta profissional, passamos à análise de quem compõe os polos dessa modalidade especial laboral. Quem é o empregado, e quem é o empregador, de fato. 
À luz do que disciplina a CLT, sujeito do empregado é sempre o atleta, na condição de pessoa natural, e o empregador é sempre a entidade desportiva, sendo sempre a associação. A Lei 6.354/76, que foi revogada pela Lei 12.395/2011 trazia em seus artigos 1º e 2º a definição de empregador e empregado. E, atualmente, não mais se encontra essa definição em legislação desportiva específica, mas os artigos 34 e 35 da Lei Pelé trazem os deveres do empregador e do empregado, respectivamente, além dos deveres constantes da lei trabalhista e de seguridade social que são aplicados ao jogador profissional, ressalvado o que é expresso em legislação específica e/ou nos contratos de trabalho. De acordo com a lei citada, os deveres da entidade empregadora se resumem à: “I-registrar o contrato especial de trabalho desportivo do atleta profissional na entidade de administração da respectiva modalidade desportiva; II- proporcionar aos atletas profissionais as condições necessárias à participação nas competições desportivas, treinos e outras atividades preparatórias ou instrumentais; III- submeter os atletas profissionais aos exames médicos e clínicos necessários à prática desportiva”[footnoteRef:64]. Ainda, de acordo com o artigo 45 da Lei, é obrigação da empregadora também contratar seguro de acidentes de trabalho para os atletas profissionais que sejam a ela vinculados, com intuito de cobrir os riscos que estão sujeitos em razão da função que exercem. Quando aos atletas, os deveres dos empregados se restringem em: I- participar dos jogos, treinos, estágios e outras sessões preparatórias de competições com a aplicação e dedicação correspondentes às suas condições psicofísicas e técnicas; preservar as condições físicas que lhes permitam participar das competições desportivas, submetendo-se aos exames médicos e tratamentos clínicos necessários à prática desportiva; III- exercitar a atividade desportiva profissional de acordo com as regras da respectiva modalidade desportiva e as normas que regem a disciplina e a ética desportivas[footnoteRef:65] Essas obrigações foram incluídas pela Lei 9.981 de 2000, que foi sancionada com o intuito de alterar alguns dispositivos da Lei Pelé, sendo as obrigações do empregador e do empregado elencadas um destes dispositivos. [64: Lei 9.615/98 ] [65: Lei 9.615/98] 
Ainda é concernente ao empregador, ou seja, à entidade desportiva, o chamado poder disciplinar. É outro ponto que torna evidente o vínculo trabalhista existente entre atleta e a entidade. Esse poder se refere à faculdade e competência que as entidades possuem para aplicar determinadas sanções, tais como advertência, censura escrita, multa, suspensão, desfiliação ou desvinculação, sendo que as medidas de suspensão, desfiliação e desvinculação só podem ser aplicadas após decisão definitiva da justiça desportiva. Nas palavras de Alice Monteiro de Barros[footnoteRef:66], o atleta de trabalho pode ter as sanções aplicadas não só pelo seu empregador, mas também por dirigentes de entidades regionais, estaduais e até internacionais, mas sempre repercutindo no contrato de trabalho. Essas sanções disciplinares podem se dar por descumprimento das obrigações que são impostas ao atleta, sem falar da incidência das cláusulas penais. Já o descumprimento dos deveres da entidade desportiva pode ensejar em rescisão indireta do contrato, que significa resolução culposa do contrato por culpa do empregador, com postulação de reparo dos danos materiais e morais incidentes. [66: BARROS, Alice Monteiro de. Op. Cit. p. 11] 
A figura do atleta profissional deve ser conceituada: é pessoa física que pratica modalidade de esporte de forma profissional, por meio de associação desportiva, a quem fica subordinado e por quem é remunerado mediante contrato formal de trabalho. Relativamente ao jogador de futebol, atleta é aquele que mediante subordinação e remuneração fixada em contrato formal de trabalho é contratado por prazo determinado para disputar partidas de futebol, as quais deve se apresentar e exibir com os símbolos do ente contratante.
 O atleta que não for profissional, mas em formação, maior de quatorze e menor de vinte anos de idade, não possui vínculo empregatício com o chamado clube formador, mas pode, no entanto, receber auxílio financeiro à título de bolsa aprendizagem, pactuada de forma livre entre eles[footnoteRef:67]. A Lei permite que a partir dos 16 anos o atleta assine o seu primeiro contrato profissional, observadas as disposições referentes ao direito de preferência,mas ao mesmo tempo veda a participação em competições desportivas profissionais de atletas não profissionais com idade superior a vinte anos. [67: Lei 9.615/98, artigo 29, § 4
] 
É possível a cessão ou transferência do atleta profissional de futebol, e está regulada nos artigos 38, 39 e 40 da Lei 9.615/98. O artigo 38 versa sobre a necessidade de uma formal e expressa anuência do atleta para que sua transferência seja legal. Entende-se que deve ser escrita[footnoteRef:68]. A transferência do atleta pode se dar por meio de contrato de empréstimo, o que enseja em suspensão do contrato de trabalho, conforme mencionado em capítulo anterior. O contrato de empréstimo é a cessão ou transferência temporária de um atleta por período não inferior a três meses e nem superior ao prazo restante para o término do contrato principal, realizada pelo clube empregador para outra entidade esportiva, que figurará no polo como nova empregadora. O pacto, ainda, fica sujeito à cláusula de retorno, voltando a viger o antigo contrato caso o atleta regresse ao clube cedente, se o contrato originário ainda estiver em vigor. [68: Zainaghi 2004 p; 8 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Nova legislação desportiva. 2. ed. São Paulo: Ed. LTr, 2004. apud Braga. Hugo Albuquerque, op. cit. p. 189] 
Há ainda a possibilidade da transferência ou cessão para clubes estrangeiros, e é regulada pelo artigo 40 da Lei Pelé: 
Art. 40. Na cessão ou transferência de atleta profissional para entidade de prática desportiva estrangeira observar-se-ão as instruções expedidas pela entidade nacional de título. 
§ 1o As condições para transferência do atleta profissional para o exterior deverão integrar obrigatoriamente os contratos de trabalho entre o atleta e a entidade de prática desportiva brasileira que o contratou. 
§ 2º O valor da cláusula indenizatória desportiva internacional originalmente pactuada entre o atleta e a entidade de prática desportiva cedente, independentemente do pagamento da cláusula indenizatória desportiva nacional, será devido a esta pela entidade de prática desportiva cessionária caso esta venha a concretizar transferência internacional do mesmo atleta, em prazo inferior a 3 (três) meses, caracterizando o conluio com a entidade de prática desportiva estrangeira.
As regras referentes à transferência do atleta profissional para o exterior deverão estar contidas obrigatoriamente no contrato de trabalho firmado com o clube empregador. 
Existe a modalidade contratual chamada de pré-contrato, ou contrato preliminar entre os atletas profissionais e os clubes. Trata-se de advento em que as partes contratam entre si obrigação futura de celebrar um contrato fixo em determinado momento. Embora não haja previsão legal dentro da legislação desportiva, com o advento do Código Civil de 2002, entende-se possível a sua ocorrência. Alice Monteiro Barros dispõe a respeito do tema[footnoteRef:69]: [69: BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Ed. LTr, p. 511. apud BRAGA, Hugo Albuquerque. Op. Cit. P. 155] 
As negociações preliminares ou pré-contrato não se confundem
com o contrato preliminar; aquele não gera direito e obrigação, mas
apenas ressarcimento de danos, na forma do art. 186 do CC/2002, que
estabelece: ‘Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito (BARROS, 2008b, p. 511).
3.4 JUSTIÇA COMPETENTE
Era existente a discussão à respeito de qual a justiça competente para processar os litígios dentro do desporto. O artigo 217 da Constituição Federal consagra o princípio da autonomia da Justiça Desportiva, o que significa que as decisões proferidas por ela devem ser respeitadas, respeitando também seus princípios pela CF elencados. 
No âmbito das relações trabalhistas, a Lei 6.345/76, dispunha no conteúdo do seu artigo 29 que os litígios dessa natureza seriam admitidos na Justiça do trabalho somente depois de esgotadas as instâncias da Justiça Desportiva. Contudo, essa Lei foi revogada por incompatibilidade ao que ocorre nas situações fáticas. Em seus estudos, SPINELI (2010)[footnoteRef:70], expõe: [70: SPINELI, Rodrigo. Op. Cit. P. 20] 
O atleta profissional era proibido de procurar seus direitos imediatamente na Justiça Trabalhista. Antes deveria esgotar todas as instâncias na Justiça Desportiva. Esse atleta levaria tempo demais para percorrer todas as instâncias na Justiça Desportiva antes de adentrar na esfera trabalhista. Não havia condições de se aventurar, ainda mais se considerarmos uma vida profissional útil de no máximo vinte anos, jogando em alto nível por no máximo oito anos. A parada de um ano poderia acarretar um efeito desastroso na carreira do atleta.
O Decreto 2.574/98, que regulamentava a Lei Pelé, trazia no seu artigo 53 que[footnoteRef:71]: [71: Decreto-lei 2.574/98. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2574.htm>. Acesso em: 29 de Outubro de 2019.] 
 a organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva, limitadas ao processo e julgamento das infrações disciplinares e às competições desportivas, serão definidas em Código Desportivo, que tratará diferentemente a prática profissional e a não-profissional. 
§1o Ficam excluídas da apreciação do Tribunal de Justiça Desportiva as questões de natureza e matéria trabalhista, entre atletas e entidades de prática desportiva, na forma do disposto no §1o do Art. 217 da Constituição Federal e no caput deste Artigo.
Essa redação foi alvo de críticas por seu conteúdo ser totalmente incoerente ao que dispõe o inciso XXXV, do artigo 5º da Constituição Federal de 88: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Posto isso, o Decreto 2.574/98 foi revogado, e o ingresso em juízo não mais ficou condicionado ao esgotamento da instância administrativa. 
Embora o artigo 50 da Lei 9.615/98 com redação da Lei 9.981/00 vigente, dispõe que “a organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça serão definidos em Códigos de Justiça Desportiva, e cumprimento obrigatório para as filiadas de cada entidade de administração de desporto nos quais executar-se-ão as matérias de ordem de trabalhista e de Direito Penal Comum”[footnoteRef:72], em controvérsia, ainda, o artigo 217, §1º da própria CF dispõe que “o Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada por lei”. Entende-se, portanto, que somente em relação à questões disciplinares e competições esportivas é necessário esgotamento da via administrativa, visto que a justiça desportiva tem plena capacidade e estrutura para dirimir os conflitos referentes à esses quesitos. Mas quanto às relações trabalhistas desportivas, não há dúvida de que a Justiça do Trabalho tem competência para examinar a relação entre o atleta profissional e o respectivo clube, pois decorre da previsão do artigo 114 da CF: [72: NETO, Jaime Barreiros. Op. Cit. P. 51] 
 Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (...)
Pode, portanto, o atleta fazer livre postulação perante a Justiça do Trabalho para o que entender de direito, tal como salários não pagos, FGTS, etc[footnoteRef:73]. [73: GRISARD, Luiz Antonio. O atleta profissional de futebol à luz do direito do trabalho. Curitiba 2003. Universidade do esporte. universidade federal do paraná. Disponível em <https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/53290/Luiz%20Antonio%20Grisard.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em 22 de Outubro de 2019. P. 105] 
4 CLÁUSULA PENAL NO CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL
4.1 NASCIMENTO DA CLÁUSULA PENAL
A denominada cláusula penal, dentro do direito civil, é aquela que dentro dos contratos, determina as penalidades aplicadas

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