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SOLANO PORTELA- 5 Pecados Que Ameaçam Os Calvinistas

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5 Pecados que 
Ameaçam 
os Calvinistas 
 
 
 
 
Solano Portela 
 
Editado e publicado por: 
Books & Gospel 
ÍNDICE 
 
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4 
1. O PECADO DO ORGULHO ESPIRITUAL .......................................... 6 
2. O PECADO DA INTOLERÂNCIA FRATERNAL ............................. 13 
3. O PECADO DA ACOMODAÇÃO NO APRENDIZADO ................... 21 
4. O PECADO DA FALTA DE AÇÃO ................................................... 25 
5. O PECADO DO ISOLAMENTO ......................................................... 28 
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... 32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O Que é Calvinismo? 
Quando nós nos referimos a calvinismo, estamos falando daquela 
compreensão da mensagem das Escrituras Sagradas que conclui que Deus é 
soberano sobre todas as coisas. 
(1)
 
A Palavra de Deus foi habilmente estudada e assim exposta por João 
Calvino, seguindo as pegadas de Agostinho e do apóstolo Paulo. Nos 
escritos de Calvino temos não novas doutrinas, mas o ensino cristalino, 
procedente da Bíblia, de várias doutrinas da fé cristã que refletem essa 
soberania de Deus em todos os aspectos da nossa vida. Esta compreensão 
tem sido às vezes rotulada de As Doutrinas da Graça e resumida nos 
conhecidos Cinco Pontos do Calvinismo. 
(2)
 
Ela esteve presente nos escritos e ensinamentos dos grandes expoentes da 
Reforma do Século XVI, e é encontrada nas históricas confissões do 
período, inclusive na Confissão de Fé de Westminster, adotada pela Igreja 
Presbiteriana do Brasil. Aqueles que aceitam que a Bíblia apresenta com 
essa perspectiva a pessoa de Deus, e as limitações consequentes do homem, 
têm sido chamados de calvinistas, entre os quais nos incluímos. 
Esclarecimentos Sobre o Tema 
Alguns podem pensar que vamos lidar com ―Os Cinco Pecados do 
Calvinismo‖. Apesar dessa ideia possivelmente trazer entusiástica reação 
de aprovação da parte de certos setores da igreja, quero esclarecer que não 
estaremos tratando dos ―Pecados do Calvinismo‖ nem iremos escrever 
contra o calvinismo. Nossa preocupação é com os pecados que ameaçam os 
calvinistas. Esses, vale esclarecer, não são pecados que caracterizam os 
calvinistas. Eles podem ser encontrados em muitos campos de persuasão 
cristã e, nesse sentido, o alerta é generalizado. Nossa preocupação é, 
entretanto, a de que os calvinistas não se considerem imunes a esses 
perigos pois os pecados que vamos mencionar também representam séria 
ameaça ao seu testemunho como cristãos eficazes na Igreja de Deus. 
É importante ressaltar, em adição, que o nosso tema não é ―Os Cinco 
Pecados que Ameaçam os Calvinistas‖. Infelizmente existem mais de cinco 
pecados que nos ameaçam, mas, com a graça de Deus, vamos abordar 
apenas cinco destes e não todos eles. As pessoas que compartilham uma 
apreciação pelo calvinismo representam um solo fértil a esse estudo, o qual 
procede de um intenso desejo de que, como calvinistas, sejamos 
conhecidos tanto pelas nossas firmes convicções como pela ampla 
demonstração do Fruto do Espírito em nossas vidas. 
Pecados que Não Abordaremos 
O Intelectualismo Estéril 
A nossa tentativa é a de dar um passo além de alertar aos perigos do 
intelectualismo estéril. Parece-nos que muitos avisos já foram soados a este 
respeito. Registro, como exemplo, um artigo na revista Banner of Truth no 
qual W. J. Seaton diz: 
Nosso sistema educacional está próximo de educar pessoas acima de sua 
inteligência e nossa igrejas reformadas devem ter cuidado para não 
produzir novas gerações educadas teologicamente acima do nível de sua 
espiritualidade… Podemos ter uma geração que abraça o status da fé 
reformada mas que nunca se acha confrontada com o estigma de ser 
merecedora das chamas do inferno, salva apenas pelo exercício da livre 
graça de Deus, tão claramente expostas pelo calvinismo.
(3)
 
Esse é o alerta contra o intelectualismo estéril que, em algumas ocasiões, 
encontramos em nosso meio. Devemos ter pleno convencimento que não 
existe aquilo que é chamado de ortodoxia morta, pois ela é nada mais, nada 
menos, do que heterodoxia viva. Que Deus nos preserve de retirar a vida de 
sua mensagem e ensinamentos. 
Pecados relacionados com caráter pessoal 
Não vamos, em adição, tratar de pecados ou atitudes pessoais, como: 
avareza, egoísmo, maledicência e outras situações pecaminosas, das quais 
oramos para que Deus nos livre sempre. Nossa proposição, portanto, é a de 
examinar alguns pecados adicionais que, corporativamente, podem estar 
rondando os calvinistas e que podem prejudicar tanto a nossa vida 
espiritual, quanto a de outros. Geralmente estes pecados ocorrem a partir de 
distorções de nossas próprias e corretas persuasões. É Satanás, utilizando a 
alavancagem dessas convicções, procurando confundir os nossos corações, 
objetivando levar a ruína, de uma forma toda especial, a fé reformada que 
tanto desejamos propagar e vê-la aceita. 
1. O PECADO DO ORGULHO ESPIRITUAL 
 
Definindo Orgulho Espiritual 
O primeiro pecado que procuraremos examinar é o pecado do orgulho 
espiritual. Poderíamos definir o orgulho espiritual como sendo uma atitude 
de desprezo aos outros irmãos. Seria abrigar a sensação de se achar 
possuidor de uma visão superior. Seria o desenvolvimento de uma atitude 
de rejeição do aprendizado, contrária à humildade que Deus requer dos 
seus servos. Seria achar que se é conhecedor de uma faceta de compreensão 
que os demais irmãos ainda não alcançaram. 
A Tendência de se Criar uma Hierarquia dos Salvos 
A natureza humana pecadora carrega para o seio da comunidade cristã o 
orgulho espiritual sob diversas formas. Uma tendência sempre latente na 
Igreja através da história foi a de subdividir a dicotomia estabelecida pela 
Bíblia, na divisão das pessoas. Com relação ao posicionamento perante o 
criador, todos estão subdivididos em salvos ou perdidos; crentes ou 
descrentes; os que receberam a fé por dom de Deus ou aqueles sem fé que 
se encontram no caminho da perdição. 
Ocorrências ao Longo da História da Igreja 
O renitente orgulho espiritual tem gerado muitos movimentos dentro da 
Igreja que acrescentam uma terceira categoria de pessoas, no que diz 
respeito ao status espiritual dos homens perante Deus: os 
sobrenaturalmente agraciados com um fenômeno fora do comum, que 
difere e está além do ato soberano de Deus da salvação. 
Se fizermos uma rápida viagem ao longo da história da igreja, veremos que 
estamos confrontando uma das mais sérias demonstrações da natureza 
humana caída e que Satanás sutilmente traz, em ondas intermitentes, ao 
seio da igreja para perturbar o relacionamento dos fiéis. 
Os Gnósticos e o Orgulho Espiritual na Igreja Neotestamentária 
Mesmo no início de sua história neotestamentária, a Igreja experimentou 
uma ―cristianização‖ da heresia secular gnóstica, que afirmava certos 
patamares de conhecimento serem misteriosamente propriedade de uns 
poucos. Esses protognósticos ―cristãos‖ do primeiro século cresceram e 
tornaram-se uma força destrutiva dentro das igrejas. 
No segundo século da era cristã o movimento gnóstico já havia atingido 
―grandes proporções‖.
(4) 
Os gnósticos dividiam os crentes entre os que 
possuíam conhecimento espiritual apenas rudimentar e aqueles que 
possuíam o verdadeiro conhecimento (gnosis), velado aos demais. 
Encontramos presente a tríplice divisão: (1) os descrentes, (2) os crentes 
rudimentares e (3) os crentes iluminados. 
Os Alegoristas e o Orgulho Espiritual 
No terceiro século os alegoristas dividiram os crentes entre aqueles que 
entendiam o sentido mais espiritual e profundo das passagens e aqueles que 
não conseguiam penetrar além do significado literal do texto. Orígenes, 
grande expoente da Escola de Alexandria, mas um dos proponentes doalegorismo, ensinava, na realidade, que a Palavra de Deus possuía três 
sentidos: (1) o sentido comum, histórico—inteligível aos de mente simples; 
(2) o sentido espiritual—que se constituía na alma das Escrituras; e (3) o 
sentido perfeito—que representava um sentido espiritual mais profundo, 
possível de ser expresso somente por meio de alegorias. Mais uma vez uma 
subdivisão estranha ao conceito bíblico do estado espiritual das pessoas, é 
introduzida no ensinamento das igrejas, refletindo o desenvolvimento de 
orgulho espiritual. 
Os Quakers e o Orgulho Espiritual 
Na época dos puritanos tivemos o surgimento dos Quakers que 
declaravam-se possuidores de uma experiência fora do normal com o 
Espírito Santo. Uma constante, em suas pregações, era a procura pela 
―inner light‖ – luz interior, que declararia a perfeita vontade do Espírito a 
cada um na qual brilhasse. Com sua diferenciação dos ―crentes comuns‖ 
eles representaram um novo surgimento da tão prejudicial divisão tríplice, 
evidência de orgulho espiritual. 
A ideia do Crente Carnal e o Orgulho Espiritual 
Pulando para época mais recente, até dentro do campo evangélico 
conservador fundamentalista, mesmo quando este ainda não havia se 
tornado quase todo pentecostal, foi gerada uma nova e superior categoria 
de crentes–o crente espiritual. Este seria aquele que deu o segundo passo de 
aceitação. Já havia aceito a Cristo como Salvador, mas, em um segundo 
passo e em uma segunda experiência, o aceita como Senhor. Essa aceitação 
do senhorio de Cristo faz com que ele se dissocie do crente carnal. Crentes 
carnais seriam aqueles que permanecem em um estágio inferior e primitivo 
de espiritualidade mantendo um comportamento virtualmente similar ao do 
descrente. Temos, novamente, o ensinamento da existência de três 
categorias de pessoas: os descrentes, os crentes carnais e os crentes 
espirituais. 
As Experiências Pentecostais e o Orgulho Espiritual 
O pentecostalismo, abrigou e renovou esta tendência dentro da igreja, 
dando-lhe novos rótulos, mas postulando uma hierarquia dos salvos 
estranha à Palavra de Deus. Ele trouxe à cena evangélica o inusitado e o 
extraordinário como sendo não apenas parte da realidade existencial, 
histórica e religiosa da Igreja, mas como objeto de anelo e desejo na vida 
individual de cada crente. Os ensinamentos do pentecostalismo deixaram a 
expectativa de que sem estas experiências algo estaria a faltar na vida do 
cristão. Era necessário se atingir um patamar superior, obter-se uma 
segunda bênção, elevar-se acima do nível do crente comum. Gerou-se 
assim uma hierarquia de crentes: os batizados vs. os não-batizados pelo 
Espírito Santo, ou, utilizando uma outra terminologia: os recebedores vs. os 
―ainda-carentes-de-uma-segunda-bênção‖. 
A questão da Cura Divina e o Orgulho Espiritual 
A questão da cura divina, trazida pelo pentecostalismo, segue linhas 
paralelas semelhantes. Ela coloca os crentes em uma escala hierárquica, 
qualificando o seu cristianismo, fazendo uma divisão entre os que já 
atingiram um patamar de fé que é suficiente a torná-los recebedores de 
curas milagrosas vs. aqueles cuja fé é insuficiente ao recebimento destas 
bênçãos. Tais experiências estariam reservadas aos mais aquinhoados 
espiritualmente. Via de regra, formamos uma casta de orgulhosos 
espirituais que vivem a propagar as graças ―alcançadas‖, em função da sua 
fé. 
O Perigo do “gnosticismo reformado” 
Com tantas recaídas, de segmentos diversos da igreja cristã, no mesmo 
problema, o meu ponto é que nós calvinistas precisamos nos guardar para 
não seguirmos esta trilha tão repisada na história da igreja. Não podemos 
nos considerar imunes ao desenvolvimento de uma atitude de que ―nós 
reformados‖ somos os iluminados, únicos entendedores das verdades 
divinas que se encontram veladas à grande parte dos crentes comuns, a não 
ser que recebam a explicação lógica e incontestável de nossa parte. Muitos 
calvinistas têm se deixado levar pela síndrome da descoberta da pólvora, 
passando a demonstrar o mais evidente orgulho espiritual, no 
relacionamento com os irmãos, prejudicando o testemunho da fé 
reformada. 
Um Exemplo de Como o Orgulho Pode Tomar Conta de Nós 
Vou citar o que me disse um grande amigo meu, e não gostaria que 
entendesse que eu o estou acusando de orgulho espiritual. Faço a citação 
apenas como exemplo de como devemos nos guardar, porque às vezes 
imperceptivelmente, estamos nos colocando, como calvinistas, numa casta 
especial de iluminados, cujo resultado será o desenvolvimento desse tão 
perigoso orgulho espiritual do qual devemos fugir. Após haver lido 
extensivamente vários trabalhos sobre justificação e de ter ouvido uma 
brilhante exposição desta doutrina, dentro da perspectiva bíblica/reformada, 
ele me disse: ―Estou impressionado e chegando à conclusão de que 
ninguém sabe na realidade o que é a justificação…‖ Continuando, disse: ―o 
nosso povo não tem a mínima ideia do que significa ser justificado.‖ 
Notem que essas palavras foram ditas não com orgulho, mas com 
humildade e profunda admiração pelo trabalho de Cristo, mas quero 
chamar atenção para o fato de que essa apreensão doutrinária, e até essa 
apreciação das doutrinas da graça, traz em si a semente latente e 
destruidora que pode germinar, sem muito esforço, em orgulho espiritual. 
Minha resposta, na ocasião, foi: ―Sabem, meu irmão, elas sabem sim. Se 
uma pessoa foi realmente resgatada pelo precioso sangue de Cristo ela sabe 
experimentalmente o que é justificação‖. 
A Experiência da Graça de Deus 
Não estou colocando experiência acima da revelação escriturada, mas estou 
fazendo uma distinção entre saber o que é, e saber realizar uma exposição 
lógica, sistemática e detalhada de uma doutrina. Não podemos nunca cair 
no engano de que a ignorância espiritual é algo que será arraigado pela 
visão que temos da soberania de Deus. Não podemos nunca menosprezar a 
simplicidade dos crentes comuns, resgatados que foram por Cristo Jesus, 
pelo Deus soberano que todos amamos, predestinados desde a fundação do 
século, separados para a glória do Deus todo poderoso. Eles sabem o que é 
justificação, mesmo que nunca tenham ouvido falar de Lutero e Calvino, 
mesmo que não consigam dizer os cinco pontos do calvinismo, mesmo que 
não consigam explicar o que é justificação. O Deus poderoso que salva, o 
faz soberanamente, não dependendo da perspicácia, lógica ou inteligência 
do escolhido. 
O Exemplo do Cego de Jericó 
Temos que nos mirar no exemplo do cego curado por Jesus, em João 9. Ele 
não sabia muitas coisas. Havia discernido autoridade, nas palavras de Jesus, 
por isso fez o que ele mandou e o classificou como ―profeta‖ (v. 17). Não 
sabia, entretanto, a razão da sua cura. Não sabia a procedência ou o destino 
do soberano que o curara (Vs. 12 e 25). Além do lodo com o qual havia 
sido untado, não sabia, obviamente, explicar como fora curado (vs. 11 e 
27). Uma coisa porém ele sabia e isso lhe era suficiente naquela ocasião: 
―uma cousa sei, eu era cego e agora vejo‖. 
Razões Para Nossa Ampla Comunhão 
Por que podemos ter comunhão genuína com aqueles que não são 
calvinistas? Porque se verdadeiramente salvos, somos irmãos, filhos do 
mesmo Deus soberano. Porque apesar das inconsistências verificadas nas 
suas formulações teológicas, por mais que digam que a salvação foi fruto 
do pretenso ―livre arbítrio‖ do homem; por mais que, em seus discursos, 
venham a inferir uma subordinação das ações de Deus a este ―livre 
arbítrio‖, quando se põem de joelhos e oram, oram a um Deus soberano que 
tudo pode, a um Deus que é tudo e oram a ele reconhecendo que nada são. 
Incoerências Humanas 
Temos que reconhecer que nós mesmos, como seres humanos falíveis, 
nunca somos totalmente coerentes com nossas premissas. Querem um 
exemplo? Sabemos da importância do Dia do Senhor, do domingo. Temos 
a convicção que neste dia devemos nos reunir e adorarmoso nosso Deus. A 
maioria de nós, aqui, nunca pensaria esquecer o nosso culto dominical para 
nos envolvermos em, vamos dizer, uma partida de futebol. Entretanto 
muitos de nós torcemos bastante por este ou aquele clube de futebol. 
Secretamente apoiamos tanto o divertimento quanto o ganha-pão naquele 
dia, ou pelo menos fechamos os olhos e estabelecemos um duplo padrão de 
comportamento: um para nós e para os nossos filhos e outro, desculpável, 
para aqueles por quem nós torcemos. Chegamos até a inventar uma 
categoria de cristãos, ―os atletas de Cristo‖, que sacramentaliza, cristianiza 
e justifica a atividade no domingo. Isto é: peça a nossa opinião e 
condenaremos o esporte dominical. Observe a nossa prática e 
condescendência e verificará uma aceitação tácita dos esportes praticados 
no Dia do Senhor. O que é isso? Incoerência humana, para sermos bem 
gentis, e Deus nos aguenta! 
Por acaso achamos que poderemos encontrar total coerência entre o 
discurso e a prática nos demais cristãos? Digo isso apenas para reforçar que 
é bastante provável que venhamos a encontrar a fé genuína reformada em 
pessoas, mesmo quando o discurso externo estiver um pouco incoerente 
com a nossa fé reformada. Nunca devemos ser orgulhosos e 
menosprezadores daqueles que constituem a verdadeira igreja de Cristo, 
pela qual ele deu o seu sangue. Conclamando calvinistas a ter um 
comportamento cordato e humilde, o Rev. Ian Hamilton, da Escócia, disse: 
―A graça de Deus deveria adoçar nossas discordâncias. Existe um grande 
perigo de absolutizar a nossa forma de fazer as coisas. Devemos nos apegar 
àqueles que se apegam a Cristo‖. 
(5)
 
O Amor que Aniquila o Orgulho 
O apóstolo Pedro, escrevendo em sua primeira carta (1.22 e 23) nos fala do 
amor cristão que aniquila o orgulho. Neste trecho lemos: Tendo purificado 
as vossas almas, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor 
fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros, ardentemente, 
pois fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, 
mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. 
A base deste amor é a regeneração comum (v. 23) que todos os cristãos têm 
em Cristo Jesus. Ele é também o nossos exemplo, pois no verso 17 lemos 
que ele julga ―sem acepção de pessoas‖, isto é, com equidade de 
tratamento. O amor comissionado no versículo 22 possui três 
características: 
· É questão de obediência (―obediência à verdade‖), 
· Tem que ser sincero (―não fingido‖) e 
· Tem que ser intenso (―ardentemente‖) 
Tendo sido regenerados pelo Deus vivo e pela Palavra viva, de nada 
podemos nos orgulhar, nem mesmo da nossa compreensão de Deus e de 
Sua majestade, pois só dele procede a iluminação para o entendimento das 
verdades espirituais e ele deseja que sejamos caridosos e pacientes na 
instrução da Sua Palavra. Que Ele nos livre do pecado do orgulho 
espiritual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. O PECADO DA INTOLERÂNCIA FRATERNAL 
 
O Pós-modernismo e a Tolerância 
Uma das características do pós-modernismo é a excessiva tolerância 
impingida a todas as opiniões, ou o que poderíamos chamar de 
relativização das verdades. Como brilhantemente já expôs o Dr. Héber 
Carlos de Campos,
(6) 
o pós-modernismo caracteriza-se pelo pluralismo de 
ideias e pela premissa que nenhuma verdade é a ―verdade verdadeira‖ e que 
temos que ser tolerantes, ou politicamente corretos, com todos os pontos de 
vista. Como calvinistas acreditamos estarmos firmados na verdade, não em 
uma verdade sujeita à compreensão subjetiva de cada um. Essa verdade é 
proposicional, objetiva, não-contraditória e inquestionável pois procede de 
revelação da parte de Deus ao homem, representada pelas inerrantes 
Escrituras Sagradas - a Bíblia. 
Pode parecer estranho, consequentemente, que estejamos classificando 
intolerância como pecado, quando nossa própria compreensão das verdades 
bíblicas nos impele em direção contrária ao pós-modernismo, exigindo a 
nossa intolerância. Devemos fazer uma diferenciação, entretanto, entre 
tolerância externa e a tolerância na fé, ou fraternal (entre irmãos da mesma 
fé). Nesse sentido, o próprio Heber Campos declara: ―Devemos ser 
politicamente corretos quando a verdade não está em jogo‖. 
(7)
 
Intolerância vs. Intransigência 
Nesse sentido, por uma questão de clareza, gostaria de propor que 
diferenciássemos as duas situações distintas, chamando a intolerância 
externa de intransigência. Assim, consideradas e verificadas a aceitação de 
certas verdades bíblicas, básicas e comuns, devemos ser tolerantes, 
mantendo, simultaneamente, a intransigência (intolerância externa). 
Um dos grandes problemas que confrontamos é o de confundir intolerância 
com intransigência. Em muitas ocasiões somos intolerantes e chegamos a 
nos orgulhar disso, como se fosse uma marca necessária às nossas 
convicções teológicas. Definindo mais detalhadamente, intolerância 
fraternal, a atitude que não deveríamos ter, o pecado que deveríamos evitar, 
é: 
· Falta de amor no trato com os nosso irmãos; 
· Falta de discernimento das questões prioritárias, do que é mais importante 
em nossa fé cristã. 
O ensino de Paulo Sobre Tolerância Fraternal 
Em Colossenses 3.12-16 temos ensinamento do apóstolo Paulo sobre a 
necessidade de demonstração de tolerância fraternal. Diz-nos o texto: 
12. Revestí-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração 
compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, 
13. suportando-vos e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa 
contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei vós também. 
14. E, sobre tudo isto, revestí-vos do amor, que é o vínculo da perfeição. 
15. E a paz de Cristo, para a qual também fostes chamados em um corpo, 
domine em vossos corações; e sede agradecidos. 
16. A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; 
ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos 
espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações. 
A orientação de Paulo é precisa e inquestionável. Da mesma forma com 
que fomos perdoados e recebidos em extrema graça e tolerância, por nosso 
Senhor Jesus Cristo, assim também, seguindo o Seu exemplo, devemos 
desenvolver semelhante atitude e testemunho para com os nossos irmãos 
(v. 13). O sentimento que deve ser notado pelos circunstantes, é o amor, o 
qual, ele nos comissiona, deve ser nossa vestimenta (―revesti-vos‖ – v. 14). 
Esse estilo de vida é compatível e conduz à paz de Cristo (v. 15), gerando 
harmonia e ações de graças. Notem que, realisticamente, Paulo constata a 
possibilidade de diferenças de opiniões, situação em que é própria e cabível 
o ensino e a admoestação (v. 16). Tais diferenças devem ser tratadas com a 
palavra de Cristo, que deve habitar em nossos corações, resultando em 
amplo louvor ao nome de Deus. 
Detalhando o Conceito de Intransigência 
Não obstante, as advertências acima, existe campo para a intransigência 
que não é pecado. Dentro da definição que propusemos, intransigência 
seria, então: 
· zelo pela verdade 
· compreensão das doutrinas prioritárias da Palavra de Deus 
Intransigência é o contrário de transigir, ou seja ultrapassar os limites; 
quebrar as regras recebidas. Nesse sentido, intransigência deve ser 
característica de cada calvinista, de cada crente convicto das verdades 
bíblicas. Ele não pode abrir mão das doutrinas claras, declaradas na Palavra 
de Deus. Ele não pode ultrapassar os limites traçados por Deus. 
O Ensino de Paulo sobre Intransigência 
Um exemplo dessa atitude, que é correta e própria, é encontrado na pessoa 
de Paulo, conforme sua inspirada declaração, em Gálatas (1.6-10). Nesse 
trecho Paulo fala de crentes ―não tão quentes‖ que estão desenvolvendo um 
ministério paralelo ao seu, indo de igreja em igreja, pregando. A reação de 
Paulo é bastante diferente daquela expressa na cartaaos Filipenses 1.12-18, 
onde foi bastante benevolente e tolerante. Os dez primeiros versos da carta 
aos Gálatas dizem o seguinte: 
1. Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por intermédio de 
homem algum, mas sim por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou 
dentre os mortos), 
2. e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia: 
3. Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, 
4. o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente 
século mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, 
5. a quem seja a glória para todo o sempre. Amém. 
6. Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos 
chamou na graça de Cristo, para outro evangelho, 
7. o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem 
perverter o evangelho de Cristo. 
8. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro 
evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema. 
9. Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos 
pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. 
10. Porventura procuro eu agora o favor de homens, ou o de Deus? Ou 
procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo 
de Cristo. 
Nos versículos 1 a 5, Paulo fez a sua apresentação, indicando a sua 
autoridade apostólica, demonstrando que ela vem de Deus e não de 
homens. A carta foi primariamente dirigida à Igreja da Galácia, mas teve 
ampla circulação entre as demais igrejas. Paulo dá glória a Deus e indica 
que Jesus Cristo se deu por nós para nos livrar das maldades desta era, 
passando a tratar de um problema que estava surgindo naquela igreja: a 
aceitação de um evangelho adulterado. 
No v. 6 ele mostra uma profunda perturbação interna – "estou 
assombrado", diz, demonstrando grande admiração que os membros 
daquela igreja estivessem mudando rapidamente de convicções. A afeição e 
a lealdade estava sendo colocada em outra doutrina, pois estavam dando 
ouvidos a "alguns" (v. 7) que perturbavam e queriam perverter o evangelho 
de Cristo. Pregavam um outro evangelho (grego: heteros-- distinção com o 
outro, do verso seguinte, que é allos. Aqui, heteros = ouk allo, ou seja 
diferente, ―não outro‖). Paulo referia-se, sem dúvida, aos judaizantes que 
pretendiam adicionar algumas coisas "palpáveis, visíveis", à simples 
pregação do evangelho. Quem sabe eles diziam que era apenas uma 
questão de método? Talvez fosse muito mais atraente, desse mais 
substância, ou talvez até, mais emoção ao evangelho. Estas pessoas se 
apresentavam com autoridade e se propunham a declarar o método de 
salvação. Paulo mantém a designação "evangelho" porque era apresentado 
como tal, mas na realidade, diz ele, não é evangelho nenhum (sistema 
diferente, mensagem diferente, doutrina diferente)! 
No v. 8, Paulo dirige-se ao fundo do seu extenso vocabulário grego para 
classificar estas pessoas e lança uma fortíssima condenação. 
Independentemente de quem quer que seja: estas pessoas, ele próprio, ou 
até um anjo do céu—se vier trazer um evangelho que vá além (note que 
não era necessariamente diferente na aparência, mas com algumas coisas 
adicionadas) daquele que eles tinham previamente ouvido da parte dele, tal 
pessoa deveria ser considerada anátema (isto é: amaldiçoado). Estas 
palavras contêm uma terrível responsabilidade a nós que fomos 
comissionados a pregar e a transmitir as verdades de Deus. 
Para que não pairasse qualquer dúvida sobre o seu zelo, sobre sua posição, 
ele repete mais uma vez as mesmas palavras, no versículo 9. Não quer ser 
mal-entendido, não quer deixar "passar em branco", não quer parecer 
precipitado - é um pensamento depurado e destilado sob o fogo do zelo e 
sob o direcionamento sobrenatural do Espírito Santo. 
Podemos negligenciar o aviso contido e pensar que Paulo se referia 
somente à sua situação específica. Afinal, não temos mais judaizantes em 
nosso meio! Muitos de nós chegam a fazer, corretamente, a aplicação 
destas palavras à pregação da Igreja Católica Romana, com suas adições e 
condições anexadas à Graça salvadora de Cristo. Isto não basta, temos que 
analisar o que está acontecendo no campo chamado "evangélico". 
Tristemente iremos, em muitas ocasiões, encontrar a proclamação de 
"outro" evangelho. 
Paulo poderia ter particularizado a questão, especificado quem ele 
combatia, mas quis o Espírito Santo, em sua soberania, deixar a colocação 
de forma genérica, de tal modo que o princípio fosse enfatizado — não 
podemos mexer com o cerne do evangelho. 
Nesse sentido, devemos ser intransigentes porque, no versículo 11, ele 
coloca: ―Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim 
anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi 
de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo‖. Eis a razão de 
Paulo para ter esta convicção: o evangelho não é doutrina de homens, mas 
sim revelação de Jesus Cristo. Ele contraria a perspicácia, os desejos e as 
motivações carnais do homem. Temos que ter a coragem de "remar contra a 
maré" e proclamar o puro Evangelho de Cristo, sendo intransigentes nisso. 
Uma Demonstração de Tolerância, na Vida de Paulo 
Na epístola aos Filipenses (1.12-18), Paulo mostrou-se bastante tolerante 
com relação àqueles que pregavam a Cristo até com o motivo errado, mas 
sem adulterar o conteúdo da mensagem. Não é que ele recomende a falta de 
sinceridade ou os motivos errados dos que se aproveitavam de suas cadeias 
para pregar, mas ele é surpreendentemente tolerante. No entanto, não há 
nenhuma menção, no trecho, de que houvesse distorção no conteúdo da 
mensagem. Paulo sabia analisar os detalhes, discernir as prioridades e se 
concentrar nas questões cruciais da fé cristã. Ele não temia ser conhecido e 
caracterizado por sua intransigência, quando o cerne do evangelho estava 
sendo adulterado. Entretanto, ele não queria ser classificado de intolerante, 
se este perigo estava ausente. Ele não queria ser ―do contra‖ contra tudo, 
mas sim contra o que se merecia ser contra. A tolerância tem que ser uma 
atitude sempre presente em nossa vida para com aqueles irmãos com os 
quais temos algumas diferenças. A nossa intransigência deve se conter 
àquelas coisas que estão perturbando os pontos fundamentais do evangelho, 
mas a caridade cristã, o amor de Cristo, deve ser refletido em nossas 
atitudes, derramando-se sobre todos aqueles que foram resgatados pelo 
preciosos sangue de Cristo. 
John Owen e Tolerância 
Um dos maiores teólogos e expositores da Palavra de Deus que já existiu, o 
puritano John Owen (1616-1683), viveu em uma era retratada por muitos 
como uma época de intolerância. Owen era realmente intransigente, com 
relação às doutrinas cardeais do evangelho, mas, surpreendentemente, ele 
era extremamente tolerante com aqueles que não compartilhavam a sua 
interpretação da Palavra de Deus. Naquela ocasião ele era conselheiro de 
governantes e respeitado por esses. Não seria inusitado, para a época, valer-
se de sua posição de influência para promover expurgos e perseguições 
religiosas. Muitos assim o fizeram. Owen, entretanto, proferiu vários 
sermões e escritos defendendo a tolerância e o tratamento amoroso da falta 
de entendimento de muitos. 
Poderíamos dizer que Owen teve esta coragem de ―remar contra a maré‖ da 
sua época, defendendo um tratamento meramente eclesiástico das questões 
religiosas, consciente de que o Senhor era o legítimo proprietário das 
consciências, a quem os homens haveriam de prestar contas por suas 
persuasões e convicções. 
Em um de seus sermões ele retrata bem a intransigência de Paulo, quando 
declara: ―Algumas coisas, na realidade, estão tão claramente estabelecidas 
nas escrituras e tão bem determinadas, que não é possível questioná-las ou 
negá-las‖.
(8) 
Owen continua, entretanto, e se posiciona em defesa da 
tolerância, refletindo uma atitude que, comparada com anossa intolerância 
contumaz, deveria nos envergonhar, tamanha é a sua sensibilidade. Escreve 
ele: 
…mas, geralmente, erros ocorrem em coisas de difícil compreensão, que 
não são tão claras e evidentes… Com relação a tais, é muito difícil 
classificá-las de heresias. A sensibilidade de nossos próprios males, falhas, 
incompreensões, escuridão e o nosso conhecimento parcial, deveria operar 
em nós uma opinião caridosa para com as pobres criaturas que, 
encontrando-se em erro, assim estão com os corações sinceros e retos, com 
postura semelhante aos que estão com a verdade.
(9)
 
Em 1648 Owen pregou um extenso sermão no Parlamento Britânico, na 
Câmara dos Comuns, intitulado ―Sobre Tolerância‖, no qual defendeu, 
mais uma vez a demonstração do amor cristão e a não-intervenção dos 
poderes governamentais nas diferenças de opiniões eclesiásticas.
(10)
 
A Tolerância de Cristo 
O grande exemplo de tolerância, nos é fornecido pelo próprio Cristo. Em 
Mateus 20.20-28 lemos sobre o incidente onde Jesus recebe o pedido da 
mulher de Zebedeu, para que seus filhos (Tiago e João) tivessem lugar de 
proeminência no reino que Ele havia acabado de anunciar. Possivelmente 
possuída de um conceito errado sobre a natureza desse reino e pleiteando 
cargos de importância política, ela funda a instituição do ―lobby 
governamental‖. Com essa atitude, ela demonstra uma ampla falta de 
percepção espiritual, mas essa falha não era só dela. Seus filhos parecem 
apoiá-la e participar ativamente do pedido. Em sua resposta, Jesus diz que 
eles estão ―por fora‖, ou seja, ―não sabem o que pedem‖. 
Depois de estarem por tanto tempo tão próximos a Jesus, ouvindo os Seus 
ensinamentos, podemos até pensar, como é que eles erraram o alvo dessa 
maneira? Como é possível que não se aperceberam da natureza espiritual 
do reino e da postura de servos que deveriam ter? Mas a situação é mais 
grave ainda, porque os outros dez, passaram a demonstrar igual atitude de 
inveja e ira, com relação àquele pedido inoportuno. Se eles estivessem 
imbuídos da atitude de servos, conscientes de que deveriam, cada um, 
―considerar os outros maiores do que a si mesmo‖, certamente teriam dito a 
Jesus – ―realmente, eles parecem ser bem qualificados para terem um lugar 
de importância no reino! Não nos importamos se eles forem nomeados‖. 
Mas não, eles estavam, com certeza, pensando: ―Por que eles, e não nós?‖ 
Repentinamente, depois de tantos ensinamentos, Jesus viu todos os Seus 
auxiliares imediatos, os homens com os quais deixaria a Sua igreja, 
envolvidos em uma disputa rasteira sobre cargos e influência pessoal… 
Como Ele deve ter se entristecido. Qual foi sua reação? 
Registra o texto que Jesus, pacientemente, chamou a todos ao lado e passou 
a ensinar-lhes, mais uma vez, a natureza do Seu reinado espiritual, a 
verdadeira missão que lhes seria confiada. Que demonstração de amor e de 
tolerância com a falta de entendimento daqueles irmãos. Que exemplo de 
paciência, para nós, e que incentivo para que sejamos mais tolerantes e 
caridosos com os nossos irmãos. Que Deus nos livre do pecado da 
intolerância. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. O PECADO DA ACOMODAÇÃO NO APRENDIZADO 
 
Definindo a Acomodação 
Acomodação no aprendizado, é quando atingimos um ponto no qual 
achamos que já dominamos todas as verdades, ou seus aspectos principais, 
e paramos de nos empenhar no estudo da palavra. Ficamos repisando as 
mesmas verdades desprezando a riqueza de conhecimento que nos espera 
na Palavra de Deus. 
O Jovem – Presa Fácil desse Pecado. 
Com frequência encontramos a ocorrência desse pecado nos jovens que 
foram expostos e convencidos das realidades das Doutrinas da Graça. Após 
devorarem alguns livros, após aprenderem a formular e a discutir os ―cinco 
pontos‖, estacionam por aí. Acham, entretanto, que já dominaram tudo o 
que se pode saber, dedicando-se a grandes e extensas discussões, como se 
mestres fossem. 
O Alerta aos Seminaristas 
Em 04.10.1911, o grande teólogo norte-americano, Benjamin Breckinridge 
Warfield, foi comissionado a apresentar uma palestra no Princeton 
Theological Seminary sobre o tema: ―A Vida Religiosa do Estudante de 
Teologia‖. Para surpresa de alguns, ele falou pouco, inicialmente, sobre a 
parte devocional da vida de cada estudante, mas colocou extrema ênfase na 
necessidade do estudo. Disse ele: ―…antes de ser erudito o ministro deve 
ser devotado a Deus, mas o mais grave erro é colocar estas coisas em 
contradição‖. Continua ele: ―…existe alguma coisa fundamentalmente 
errada na vida do estudante de teologia que não estuda‖.
(11)
 
É interessante notar como Warfield identifica a vida cristã espiritualmente 
rasa. Em sua correta visão ela é evidenciada pelo desprezo ao estudo, pela 
acomodação no aprendizado. 
Os Alertas de Provérbios 
O livro de Provérbios apresenta inúmeras exortações com relação à 
importância da sabedoria e, consequentemente, à dedicação ao estudo e ao 
aprendizado. Dois versos parecem retratar a nossa observação, de pessoas 
que se esmeram nas discussões com pouca profundidade de conhecimento. 
O primeiro é Provérbios 18.12, que diz: ―O insensato não tem prazer no 
entendimento, senão em externar o seu interior‖. Se estivermos com grande 
vontade de externarmos o nosso interior, vamos parar um pouco para 
meditação: muitas vezes, estamos mesmo é precisando de continuado 
aprendizado e instrução. O segundo verso é Provérbios 19.27, onde lemos: 
―Filho meu, se deixas de ouvir a instrução, desviar-te-ás das palavras do 
conhecimento‖. O escritor inspirado do provérbio, pressupõe que o 
conhecimento foi apreendido e existe na vida do leitor (―filho meu‖), mas 
ele soa um alerta para que não haja acomodação no aprendizado. O ouvir a 
instrução é uma ação contínua que nos preservará dos desvios do 
conhecimento. 
Com certeza, não podemos nunca deixar que este pecado encontre guarida 
em nossa vida e nem que venhamos a nos acomodar sem meditação e sem 
estudo e conhecimento das verdades de Deus. 
Pedro Fala aos Calvinistas 
Em sua segunda carta (2 Pedro 1.3-11) Pedro traz uma palavra de grande 
importância aos calvinistas. O trecho diz: 
3. Visto como pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas 
que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que 
nos chamou para a sua própria glória e virtude, 
4. pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes 
promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza 
divina, livrando-vos da corrupção, das paixões que há no mundo. 
5. Por isso mesmo vós, reunindo toda vossa diligência, associai com a 
vossa fé, a virtude; com a virtude, o conhecimento; 
6. com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a 
perseverança; com a perseverança, a piedade; 
7. com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. 
8. Porque, estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com 
que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de 
nosso Senhor Jesus Cristo. 
9. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o 
que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. 
10. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior confirmar a 
vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em 
tempo algum. 
11. Pois, desta maneira, é que vos será amplamente suprida a entrada no 
reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. 
Pedro enraíza no ―divino poder‖ de Deus (v. 3) todas as questões 
pertinentes à nossa existência, tudo que é necessário e relacionado com o 
amor, bem como com o pleno conhecimento do próprio Deus. Não é que 
ele esteja apenas afirmando que Deus é a fonte, mas ele está ensinando que 
de Deus recebemos tudo, em plenitude. Com essa proposição ele reafirma a 
plena soberania de Deus até na aplicação do conhecimento. A seguir, Pedro 
nos indicaque tudo isso representa o cumprimento das promessas de Deus 
para nós, representando, igualmente, um grande contraste com as corruções 
deste mundo (v. 4). Passa então a detalhar as áreas importantes da vida, que 
devem merecer a nossa concentração (vv. 5 a 7). Essas áreas são 
apresentadas num ―crescendo‖ no qual a interligação de uma com a outra é 
demonstrada, cada uma sendo construída no alicerce previamente 
construído, sendo interdependentes (fé, virtude, conhecimento, domínio 
próprio, perseverança, piedade, fraternidade, amor). A demonstração dessas 
virtudes, em nossas vidas, não nos deixará ociosos, nem infrutíferos, nem 
com a visão obscurecida, mas nos trará ao pleno conhecimento de Cristo e 
não deixará que venhamos a nos esquecer do milagre da salvação – daquilo 
que Cristo fez para a purificação dos nossos pecados (vv. 8 a 9). 
Estamos afirmando que a palavra é pertinente para os calvinistas, porque ao 
iniciar com o detalhamento dessas virtudes que procedem do poder de Deus 
e que por Sua agência são derramadas sobre nós, Pedro enfatiza: 
―…reunindo toda a vossa diligência‖ (v. 5). Isso significa que não existe 
lugar para acomodação no aprendizado. Mesmo que tudo isso esteja sob a 
abrangência da soberana vontade de Deus e intrinsecamente fazendo parte 
de Seus decretos, temos que procurar com diligência o conhecimento de 
Deus e a aplicação desse conhecimento em nossas vidas. Devemos nos 
esforçar e esperar que Deus, em sua divina providência, nos conceda o 
conhecimento do qual tanto necessitamos e as vidas santas que devem se 
seguir ao conhecimento da Sua pessoa e dos Seus caminhos. 
Essa questão é tão importante para Pedro que ele, sob a divina inspiração 
do Espírito Santo, repete a admoestação, no verso 10, quando indica que 
devemos procurar, ―com diligência cada vez maior‖ a confirmação da 
nossa vocação e eleição através da prática do conhecimento de Deus, que 
vem pela dedicação ao continuado aprendizado e pela consequente vida 
santa, que Ele requer de cada um de nós. Que Deus nos livre do pecado da 
acomodação no aprendizado de Suas verdades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. O PECADO DA FALTA DE AÇÃO 
 
Uma Grave Distorção 
Esse pecado tem muita relação com o pecado anteriormente mencionado e 
representa uma grave distorção da doutrina da soberania de Deus. Muitas 
vezes seguimos adquirindo conhecimento e profundidade na nossa fé, mas 
ficamos inativos e não temos colocado a nossa fé em prática – não temos a 
ação que deveríamos ter. Entendemos e nos convencemos das verdades que 
dizem respeito à soberania de Deus, mas indolentemente ficamos 
aguardando o cumprimento dos Seus decretos. 
Falta de Compreensão da Responsabilidade Humana. 
Esse pecado é aquele que leva calvinistas a cruzarem os braços, quando 
deveriam estar agindo, achando que Deus vai atuar de qualquer forma. É 
aquele pecado que faz com que a gloriosa doutrina da predestinação, em 
vez de ser alvo de admiração e humildade, seja utilizada como uma 
desculpa. É o pecado que evidencia a falta de compreensão do que é o 
ensinamento bíblico sobre a responsabilidade humana. Temos que nos 
mirar no exemplo de Paulo. Ele foi o magistral expositor das doutrinas da 
graça, escolhido para isso pelo Espírito Santo de Deus. Mesmo assim, ou 
melhor, precisamente pela sua completa compreensão da soberania divina e 
da responsabilidade humana, vemos Paulo trabalhando, lutando, sofrendo, 
escrevendo cartas, chegando a perder o sono, com o propósito de executar 
o serviço de Deus. 
A “História” de um Casal Puritano 
Lembro-me de uma ilustração que ouvi sobre um casal, da época dos 
puritanos. Por mais duvidoso que seja o relato, ele estimula o nosso 
pensamento sobre a atitude de pessoas com relação à questão da 
responsabilidade humana. Conta-se que um puritano, na Nova Inglaterra, 
habitava com sua família em uma cabana no meio da floresta, distante de 
tudo e de todos, cuidando apenas dos campos plantados, em clareiras 
abertas no meio da floresta. Certo dia teve que sair de sua cabana para ir ao 
vilarejo, atravessando aquela floresta infestada de ursos ferozes, que 
atacavam animais e pessoas. O puritano colocou a sua melhor roupa preta e 
começou a se preparar para a jornada. Ao chegar perto da porta de saída, 
ele estendeu a mão e pegou sua espingarda, verificando se estava 
carregada. Nesse momento sua esposa exclamou! 
– Não entendo essa sua preocupação com a espingarda, porque se você 
estiver predestinado a ser devorado por um urso, será devorado por ele; 
mas se estiver predestinado a chegar ao vilarejo em segurança, assim 
chegará! Deixe essa arma aí! 
O puritano voltou-se à esposa, e com toda longanimidade que lhe era 
habitual, respondeu: 
– Ó mulher! E se eu encontrar um urso que esteja predestinado a levar um 
tiro da minha espingarda e eu estiver sem ela, como é que eu vou fazer? 
Podemos rir com a história, mas muitas vezes estamos, em nossas vidas, 
retratando aquela atitude da mulher daquele puritano. Com frequência, 
passamos a descansar indevidamente na soberania de Deus, quando Ele 
está colocando as coisas na nossa frente, requerendo, de nós, alguma ação. 
Temos que nos conscientizar que vivemos sob a égide da vontade decretiva 
de Deus, mas no conhecimento e sob a diretriz clara de sua vontade 
prescritiva. Nela, conforme expressa nas Escrituras, temos tudo o que 
precisamos saber para agirmos responsavelmente, da forma como Ele quer 
que venhamos a agir. 
Um exemplo prático de Paulo 
Talvez a maior confirmação prática, de como Paulo conjugava esses dois 
lados da moeda, da soberania divina e da responsabilidade humana, é 
encontrado em Atos 27, no relato do naufrágio que sofreu, a caminho de 
Roma. Principalmente os versículos 22 a 44. 
Uma das dramáticas declarações de Paulo, no meio da tempestade que 
precedeu o naufrágio, é que nenhuma vida iria se perder! Ele afirma esse 
prognóstico com tanta segurança porque o anjo de Deus lhe dissera isso. 
Paulo era possuidor, nesse evento, de um conhecimento específico, por 
revelação. No auge da época apostólica ele recebe esta revelação, que todos 
aqueles no navio seriam preservados. Ninguém iria se perder, pois Deus 
tinha outros propósitos. Assim, com uma determinação tão clara, Paulo 
transmite com toda segurança a informação recebida – apesar de todos 
estarem temerosos, as vidas seriam poupadas, no meio da feroz tempestade. 
Notemos, entretanto, que Paulo não fica de braços cruzados, dormindo, 
esperando a milagrosa preservação de todos. Pelo contrário – encontramos 
Paulo ativo, dialogando e persuadindo ao centurião que era necessário que 
aqueles que procuravam safar-se do barco, voltassem ao navio. Paulo 
manda que se alimentem, para ficarem fortes, apesar de saber que Deus iria 
salvar a todos, mesmo em jejum. Ele estava ali cumprindo as suas 
responsabilidades, aquelas que foram colocadas por Deus perante ele. 
Paulo andava passo a passo, sob a vontade prescritiva do Senhor. Depois 
que todas as 270 pessoas que se encontravam a bordo se alimentaram, 
passaram a fazer o que estava à frente para ser feito: aliviaram o navio, 
lançando a carga ao mar. Diz-nos o verso 44 que ―foi assim que todos se 
salvaram em terra‖. 
A plena consciência e convicção da soberania de Deus, na vida de Paulo, 
nunca o levou a ser vítima do pecado da falta de ação. Que este pecado 
nunca esteja presente em nossas vidas, mas que, como Paulo, estejamos 
andando passo a passo debaixo da vontade prescritiva de Deus, revelada 
nas Sagradas Escrituras. Que possamos, como calvinistas, ser confiantes na 
soberania de Deus, mas também que estejamos engajados nas Suas 
verdades, na Sua obra e na Sua palavra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. O PECADO DO ISOLAMENTO 
 
Viver no Passado ou Estudá-lo? 
O isolamento é um pecado que está sempre a nos rondar. O calvinista 
verdadeiro não é aquele que vive no passado mas oque procura aplicar as 
doutrinas bíblicas reveladas à sua situação, ao seu contexto. O seu apreço 
pela história e pelos reformadores não procede de um interesse meramente 
―arqueológico‖. 
A Abordagem do Antiquário 
Martin Lloyd-Jones nos alerta para um perigo que existe dentro do 
interesse pelos acontecimentos que marcaram a Reforma e nossa herança 
puritana. Na realidade, ele nos confronta com uma forma errada e uma 
forma certa de relembrar o passado, do ponto de vista religioso.
(12)
 
A forma errada, seria estudar o passado por motivos meramente históricos. 
Esse estudo seria semelhante à abordagem que um antiquário dedica a um 
objeto. Por exemplo, quando ele examina uma cadeira, ele não está 
interessado se ela é confortável, se dá para se sentar bem nela, se ela 
cumpre adequadamente a função de cadeira. Basicamente a preocupação se 
resume à sua idade, ao seu estado de conservação e, principalmente, a 
quem pertenceu. Isto determinará o valor daquele objeto para ele e, 
consequentemente, o seu estudo é motivado por esta visão. O estudo errado 
da história ocorre, muitas vezes, em função dessa abordagem do antiquário. 
O Alerta de Jesus, Registrado por Mateus 
Em Mateus 23.29-35 teríamos um exemplo desse apreço errado pelo 
passado. O trecho diz: 
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque edificais os sepulcros dos 
profetas e adornais os monumentos dos justos, e dizeis: Se tivéssemos 
vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido cúmplices no derramar o 
sangue dos profetas. Assim, vós testemunhais contra vós mesmos que sois 
filhos daqueles que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de 
vossos pais. 
Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno? 
Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas: e a uns deles 
matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade; 
para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a 
terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de 
Baraquias, que mataste entre o santuário e o altar. 
Jesus diz que aquelas pessoas pagavam tributo à memória dos profetas e 
líderes religiosos do passado. Eles prezavam tanto a história, que cuidavam 
e enfeitavam os sepulcros. Proclamavam a todos que os profetas eram 
homens bons e nobres e atacavam quem havia rejeitado os profetas. Diziam 
eles: ―se estivéssemos lá, se vivêssemos naquela época, não teríamos feito 
isso!‖ Mas Jesus não se impressiona e os chama de hipócritas! A 
argumentação de Jesus é a seguinte: Se vocês se dizem admiradores dos 
profetas, como é que estão contra aqueles que representam os profetas e 
proclamam a mesma mensagem que eles proclamaram? Ele testa a 
sinceridade deles pondo a descoberto a atitude no presente para com 
aqueles que hoje pregam a mensagem de Deus e mostra que eles próprios 
seriam perseguidores e assassinos dos proclamadores da mensagem dos 
profetas. 
O Nosso Teste 
Esse é também o nosso teste: uma coisa é olhar para trás e louvar homens 
famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia se não aceitamos, no presente, 
aqueles que pregam a mensagem de Lutero e de Calvino. Somos mesmo 
admiradores da Reforma, daqueles grandes profetas de Deus? Se não 
aplicamos na vida prática as doutrinas reformadas o nosso interesse é 
apenas o de antiquários. Estamos promovendo e encorajando o pecado do 
isolamento, com esse tipo de visão da história? 
A forma correta de relembrar o passado 
Mas existe uma forma correta de relembrar o passado. Deduzimos esta não 
apenas por exclusão e inferência do texto anterior mas por que temos um 
trecho na Palavra de Deus—Hebreus 13.7-8, que diz: ―Lembrai-vos dos 
vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus, e, considerando 
atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. Jesus Cristo é o 
mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.‖ 
 
As doutrinas são de Cristo. Ele e os seus ensinamentos, são os mesmos 
ontem, hoje, e eternamente. A maneira correta de relembrar a Reforma é, 
portanto, verificando a mensagem, a palavra de Deus, como foi falada, e 
isso não apenas por um interesse histórico de ―antiquário‖ mas para que 
possamos imitar aquela fé demonstrada. Devemos observar aqueles eventos 
e aqueles homens, para que possamos aprender deles. Vamos verificar 
como eles aplicaram as doutrinas eternas aos seus dias e vamos seguir os 
seus exemplos discernindo a essência da sua mensagem e aplicando-a aos 
nossos dias. 
Deus é Sempre Contemporâneo em Seu Falar 
Não podemos, portanto, viver num mundo isolado, demonstrando falta de 
aproximação com a nossa igreja, com os nossos irmãos, com o nosso povo, 
com a nossa realidade. 
Hebreus 1.1-4 mostra que Deus fala de forma diferente a tempos diferentes. 
O cerne da mensagem não muda. Nos nossos dias, a revelação escriturada 
está completa e não estamos defendendo a existência de novas revelações. 
Entretanto, reconhecemos que Deus sempre demonstrou querer falar com o 
homem nos seus termos. Na Palavra de Deus temos os muitos 
antropomorfismos – descrições figurativas da pessoa de Deus, em 
características de homem. Isso é um exemplo de como Deus condescende 
em chegar até o homem. 
Paulo enfatiza a necessidade da comunicação eficaz, indicando que fez-se 
fraco, para os fracos; judeu, para os judeus; e gentio, para os gentios (1 Co 
9). A linguagem das escrituras era o grego comum, falado pelo povo que 
diferia tanto do grego clássico, da literatura, que durante muitos anos 
estudiosos bíblicos postulavam que era um tipo de ―grego sagrado‖. Se 
Deus chega-se até ao homem, nas suas limitações e circunstâncias, 
objetivando a melhor comunicação, porque pensamos que devemos fazer 
os crentes chegar até estilos e formas que não são mais nossas? Porque 
prejudicamos a eficácia da nossa comunicação? Porque cristianizamos 
estilos e formas que não fluem da Bíblia, mas pertenceram a uma época? 
Porque nos tornamos antiquários em vez de usuários e aplicadores práticos 
das verdades de Deus? Lembremo-nos que Deus tem a palavra certa, na 
certeza de sua palavra, para a ocasião certa, na hora certa. Supliquemos a 
Ele que nos livre do pecado do isolamento. 
Minha oração é que nós, calvinistas, possamos ser conhecidos tanto por 
nossa doutrina firme, sadia, segura, intransigente, quanto por nosso amor 
fraternal, por nossa gentileza, por nossa dedicação no estudo e por nossa 
aplicação veraz e eficaz das sãs doutrinas, ao nosso tempo. Que não 
apliquemos esses alertas aos nossos conhecidos ou vizinhos, mas que 
possamos realmente, com sinceridade, buscar a presença de Deus e 
verificar se não estamos sendo alvo das ciladas de Satanás, caindo nesses 
cinco, ou mais pecados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
(1) Benjamin Breckinridge Warfield indica que o princípio fundamental do 
calvinismo é ―uma profunda compreensão de Deus e de Sua majestade, 
acompanhada da constatação, inevitável e precisa, da natureza exata do 
relacionamento mantido entre Ele e Suas criaturas, mui especialmente entre 
Ele e as criaturas caídas em pecado‖ – Calvin and Augustine (Philadelphia: 
Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1956/1971) 288. 
(2) (1) A depravação ou corrução total da natureza humana, caída em 
pecado; (2) a eleição incondicional, dos que constituirão a Igreja de Cristo; 
(3) a expiação limitada, do nosso Senhor Jesus Cristo, que deu o Seu 
sangue por Sua igreja; (4) a graça irresistível do Espírito Santo, chamando 
os eleitos à salvação; (5) a perseverança dos santos até a glorificação, 
preservados pelo poder e pelas promessas de Deus. 
(3)W. J. Seaton, Are We Outgrowing the Five Points of Calvinism? Em 
Banner of Truth (166/167, July/August 1977). 
(4) Kenneth Scott Latourette, A History of Christianity (N. York: Harper & 
Row, 1953, 1975) pp. 26, 114, 123, 124. 
(5) Ian Hamilton, palestra: ―O Propósito que Governa o Culto Reformado‖,no VI Simpósio do Projeto Os Puritanos, Águas de Lindóia, 6-13 de junho 
de 1997. 
(6) Heber Carlos de Campos, O Pluralismo do Pós-Modernismo, Fides 
Reformata (São Paulo: Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição, 
1997), 2/1, 5-28. 
(7) Campos, palestra realizada no VI Simpósio do Projeto Os Puritanos, 
Águas de Lindóia, São Paulo, 6-13 de junho de 1997. 
(8) John Owen, Sermão: ―A Prática do Governo da Igreja‖ em The Works 
of John Owen (Londres: The Banner of Truth Trust, 1967) Vol. VIII, 60. 
(9) Owen, Works, VIII, 61. 
(10) Owen, ―Of Toleration‖, Works, VIII, 163-206. 
(11) Benjamin Breckinridge Warfield, ―The Religious Life of Theological 
Students‖, em Selected Short Writings of B. B. Warfield, John E. Meeter, 
ed. (Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1970) I, 411-
425. 
(12) D. M. Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma (S. Paulo: PES, 1994) 
pp. 2-5.

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