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Livro - Imitadores de Cristo

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Todos os direitos reservados. Copyright © 2022 para a língua portuguesa
da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de
Doutrina.
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte,
sob quaisquer formas ou meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia,
distribuição na web e outros), sem permissão expressa da Editora.
Preparação dos originais: Ester Soares
Revisão: Miquéias Nascimento
Adaptação da capa: Elisangela Santos
Projeto gráfico e Editoração: Elisangela Santos
Conversão para Epub: Cumbuca Studio
CDD: 240 – Moral cristã e teologia devocional
e-ISBN: 978-65-5968-109-9
ISBN: 978-65-5968-111-2
As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida,
edição de 2009, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em
contrário.
Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos
lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br.
SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373
Casa Publicadora das Assembleias de Deus
Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJ
CEP 21.852-002
1ª edição: 2022
SUMÁRIO
1. Morrer para Viver: Abrindo Mão do “eu” para Seguir a Cristo
2. Ser Discípulo: uma Jornada de Aprendizagem.
3. Quem Segue a Cristo Estuda a Palavra
4. Quem Segue a Cristo Cultiva a Prática da Oração e do Jejum
5. Quem Segue a Cristo Anda na Prática do Perdão e do Amor.
6. Quem Segue a Cristo Compreende o Reino de Deus.
7. Quem Segue a Cristo Anda em Fidelidade.
8. Quem Segue a Cristo Compartilha a Mensagem da Graça.
9. Quem Segue a Cristo Aprende Novos Valores.
10. Quem Segue a Cristo Purifica o Coração.
11. Quem Segue a Cristo Frutifica no Reino de Deus.
12. Evidências de um Fiel Seguidor de Jesus.
13. O Discípulo de Jesus e a Verdadeira Esperança.
Referências Bibliográficas
Capítulo 1
MORRER PARA VIVER:
ABRINDO MÃO DO “EU”PARA
SEGUIR A CRISTO
Por Thiago Brazil
INTRODUÇÃO
A adoração não pode ser uma atividade mecânica, automática, burocrática.
É exatamente isso que diferencia o seguir a Jesus da religiosidade mundana
que está a nossa volta. Já nas primeiras igrejas que seguiam a Cristo, os
discípulos sofreram intimidações e perseguições por parte tanto de setores
legalistas como de grupos libertinos. Ou seja, por um lado participantes de
experiências religiosas farisaicas procuravam impor a sua rigidez cerimonial
sobre os ombros libertos dos seguidores de Jesus Cristo, e por outro havia os
devassos que participavam de cultos associados a rituais de luxúria e
embriaguez que desejavam impor o seu padrão moral como lógica vigente
na sociedade.
Os setores sociais radicais de ascendência hebreia procuravam judaizar o
cristianismo a todo custo, e isso na pior acepção possível, ou seja,
burocratizá-lo, enrijecê-lo de leis culturais, mandamentos moralistas,
prescrições dietéticas e normas de vestuário. Já as demais igrejas de
influência cultural greco-romana pressionavam as Igrejas Primitivas a ser
lenientes com determinados pecados e relapsos com relação a certos
conceitos morais. Em suma: desejavam estabelecer um balcão de
negociação espiritual com a iniquidade estrutural daquela sociedade.
Seguindo o caminho tênue entre esses dois extremos, a fé no Cristo optou
por construir a sua própria identidade, sempre reconhecendo as
hereditariedades culturais e respeitando as experiências sociais vigentes. O
verdadeiro relacionamento com Deus faz-nos ao mesmo tempo pessoas
sensíveis ao mundo a nossa volta e, também, pessoas maduras que sabem
muito bem a sua identidade.
Por isso, não devemos contaminar a obra de Deus com nossas tradições
ou exigências humanas. O cristianismo é uma vocação simultaneamente
transcultural e supracultural, ou seja, em razão da sua natureza missional, a
esperança em Cristo tem como horizonte alcançar todas as gentes, de todas
as nações e em todos os lugares; por outro lado, em virtude da sua condição
principiológica, aquilo que o cristianismo proclama nunca esteve restrito
apenas a um espectro social, mas operacionalizou-se acima de todas as
diferenças étnicas, culturais e/ou históricas.
Espontaneidade e autenticidade são duas marcas inquestionáveis do
cristianismo. A fé em Cristo não cabe na camisa de força das pretensões
humanas; ela é muito maior, exuberante, fantástica. Sempre que alguém
tentar limitar a graça de Deus por meio de dogmas humanos e produções
adâmicas, esse alguém se manifestará como iníquo e irreverente. Nem o
Altíssimo e muito menos a sua glória podem ser enquadrados dentro do
legalismo farisaico ou do desregramento dos incontinentes. Rótulos,
padronizações, rituais, fórmulas mágicas e receitas prontas são conceitos
pertinentes às produções humanas. O Reino é regido por outra lógica: o
amor, a criatividade, a liberalidade, a generosidade.
Quais os verdadeiros desafios para seguir a Cristo? Sim, interessa-nos
neste capítulo refletir sobre os reais problemas que todo aquele que deseja
seguir a Jesus Cristo piamente enfrentará. Não trataremos de
pseudoproblemas, nem de falsos dilemas pessoais, pois estes são oriundos de
uma compreensão de mundo tacanha, medíocre e anticristã. A natureza
adâmica, a influência da sociedade perdida e o ódio de Satanás são as reais
oposições que enfrentamos cotidianamente. Todavia, não daremos
palanque ao mal nesta reflexão. Pensaremos sobre as saídas e as formas de
enfrentamento para solapar os poderes do mal e sermos mais que
vencedores por meio do amor demonstrado na cruz.
O conhecimento de Cristo faz com que experimentemos uma transformação
existencial. Somos salvos para sermos as verdadeiras pessoas que Deus nos
criou para ser
Será que valeu a pena todo o sacrifício de Cristo? A completa doação de
Jesus por nós deve ser definida como?
Graça, maravilhosa graça! Essas são as palavras definidoras para aquilo que
Jesus oferece-nos desde a eternidade, passando pelo calvário e chegando até
o trono do Céu. Foram momentos de agruras, dores indescritíveis, punições
e humilhações que não cabiam ao Mestre, mas Ele enfrentou todas por
muito nos amar. Profeticamente, Isaías vislumbra o incomensurável amor
de Cristo. O profeta antevê a angústia e o desespero que o Salvador
enfrentaria, mas também a alegria e o contentamento com os efeitos do
sacrifício do Redentor.
Essa é a fundamental diferença entre o desperdício de uma vida e o
sacrifício dela. Quem joga fora a sua vida faz isso por meio de uma
existência guiada de modo egoísta pelo prazer e a autossatisfação. O que
testemunhamos nesse caso é uma perversa veneração a Mamon ou às mais
baixas inclinações humanas. Aquele que desonra a Deus desgastando
gratuitamente a existência é movido por um sentimento mesquinho e por
uma completa insensibilidade com a vida e sofrimento alheio.
Já o autossacrifício obedece outra lógica: ele é sempre movido pelo
desprendimento e por uma grandiosa vontade de fazer bem ao outro, ainda
que isso custe o enfrentamento de covardes forças malignas. A doação
sempre visa o bem alheio, pois entende a existência como a mais especial
dádiva celeste e, assim sendo, o mais alto nível de adoração a Deus.
Ninguém nos amaria assim, a ponto de sacrificar tudo para promover
nossa felicidade — e de maneira gratuita — sem a expectativa de qualquer
retorno. Essa foi a boa obra que alegrou desde a eternidade o coração de
Cristo e que o moveu a enfrentar o calvário. Por isso fomos salvos,
transformados, comprados para viver na eternidade.
A operação do pecado deformou a imagem do Criador em nós. A
referência mais clara que podemos ter com relação a esse fato é aquela que
nos conta sobre a tragédia no Éden. Depois da Queda, a vida de Adão e
Eva virou de cabeça para baixo, e a paz e a harmonia que eles
experimentavam no paraíso de Deus tornaram-se em nada depois das
trágicas decisões do primeiro casal.
O desequilíbrio cósmico que se estabeleceu teve como autores exclusivos
o primeiro casal, porém maculou de forma insuperável a estrutura de toda a
realidade; de seres orgânicos e inorgânicos a seres inanimados e animais
não humanos, tudo no Universo— e não apenas no planeta Terra — foi
diretamente afetado pelo pecado humano.
Essa compreensão oniabrangente dos efeitos do pecado concede-nos
outro olhar sobre o problema da depravação. O caos existencial que se
irrompeu com o pecado — “O Pecado” no singular, entendido como
fratura estrutural do equilíbrio universal preestabelecido pelo Altíssimo, e
não apenas o efeito das transgressões individuais de repercussão limitada —
extravasa o raio de influência de uma pessoa em específico e repercute na
sociedade, no mundo e na realidade como um todo.
Partindo dessa concepção, é preciso reconhecer que as consequências
mais desastrosas da transgressão edênica não repercutiram apenas na
relação entre humanidade e a natureza, mas também na própria
constituição do ser da natureza humana. A cruz é um empreendimento
celeste de restauração da glória divina enevoada pela putrefata fuligem da
iniquidade humana. E nós, que somos leitores da Bíblia, conhecemos a
história: Jesus Cristo venceu!
Diante da vitória de Cristo, abriu-se a possibilidade de um refazimento
integral da humanidade. O ódio, a culpa e a morte já não são mais as
potências definidoras da realidade, e o amor, a graça e a vida assumiram o
rumo da história. A monstruosidade da humanidade foi frontalmente
denunciada no escândalo do Calvário, ou seja, aquilo que deveria ser
símbolo da mais abjeta condenação — a cruz — converteu-se em palanque
de revelação da glória de Deus no mundo.
Por isso, somos convidados para um reencontro com o Criador e,
posteriormente, um retorno a nossas origens, àquilo que somos de fato:
filhos e filhas amados do Aba! Assim, paulatinamente, a humanidade pode
despir-se dos velhos vínculos demonizantes e reexperimentar a paz de viver
no paraíso de Deus.
Quando Adão e Eva perceberam-se nus, diferentemente daquilo que o
senso comum pode induzir, eles não se viram como eram de fato, por
inteiro. Pelo contrário, o primeiro casal — e, dali em diante, toda a
humanidade — percebeu que o pecado tem repercussões imediatas, as
quais são impossíveis de esconder ou desconsiderar. Eles não se viram mais
completos, plenos; antes, enxergaram o abandono que marca a vida dos
rebeldes, sentiram a nudez vexatória que acompanha aqueles que resolvem
viver escandalosamente.
Adão e Eva tiram os olhos da glória e da majestade do Eterno, e assim
como Pedro fez em meio à sua caminhada singular do barco a Jesus, eles
também afundaram na jornada da vida. Tal qual aconteceu com o
experiente pescador, o primeiro casal desesperou-se, não por algo ter
repentinamente mudado no seu entorno — o mar continuou a ser mar, e o
paraíso permaneceu paraíso —, mas porque eles, depois de uma
tresloucada decisão, mudaram a si mesmos para o resto das suas vidas.
O que a humanidade vê quando olha para si? E o que os filhos de Adão e
Eva percebem? Seria a vergonha do pecado e a culpa produzida pelo seu
edênico erro? Então, os filhos dos homens ainda não conhecem Jesus de
fato! Quem vive no paraíso de Deus é completamente dependente dEle,
frágil, está nu; todavia, isso não é problema algum, pois o amor do Altíssimo
veste-nos de dignidade e paz. Essa é a profunda diferença que a salvação
promovida por Jesus veio restabelecer na humanidade: as condições
coletivas permanecem as mesmas — todos ainda somos limitados e
estruturalmente carentes do Senhor —, mas cada um de nós pode
experimentar o regresso ao coração do Pai, um maravilhoso retorno ao
centro da vontade de Deus.
O grande problema da maioria das pessoas é que elas anseiam pela
realização do movimento errado; elas querem mudar o passado, quando, na
verdade, deveriam alegrar-se com a expectativa da chegada do futuro que
já vem. Nunca mais a humanidade voltará para o Éden; a busca por esse
regresso ao paraíso pode ser tão adoecedora quanto perturbadora. As
promessas de Jesus apontam para outra direção, e viveremos eternamente
não no Éden, mas na Nova Jerusalém. Desprender-se das tragédias do
passado é parte do processo de libertação que a salvação em Cristo traz
para a humanidade. Nossa esperança é um futuro de redenção eterna, paz
ininterrupta e alegria sem fim.
Quem se diz seguidor de Cristo experimenta transformações de vida, não
podendo permanecer sendo a mesma pessoa, ou seja, alguém dominado
pelo pecado e exposto na sua vergonha por causa da iniquidade. Os
escândalos que a igreja cristã sempre enfrentou ao longo da história são
uma prova inconteste de que nunca deixou de faver entre nós indivíduos
que até queriam o Cristo, mas nunca abandonaram as suas terríveis práticas
iníquas. A ausência de uma mudança radical de vida é a prova de que
jamais houve permanência no plano eterno da salvação.
A bondade do Senhor é tamanha que, além de abençoar-nos, ainda nos
comunica antecipadamente a sua misericórdia. Não estamos isolados no
mundo, não somos objetos caóticos, muito menos seres inanimados sem
valor, rodopiando na escuridão do Universo. Somos filhas e filhos e, uma
vez acolhidos no coração do Pai, somos tratados com dignidade e amor.
O caso de Abraão é emblemático para exemplificar como Deus age em
nosso favor. Tendo visitado a tenda do patriarca, os personagens celestes
confabulam entre si se seria justo deixar Abraão ignorante com relação aos
poderosos acontecimentos que sucederiam aquela visita. A resposta
obviamente foi não; esconder daquele peregrino as linhas gerais do plano
divino seria uma perversidade, uma vez que ele já havia abandonado toda
uma vida próspera e bem-sucedida para seguir passo a passo a orientação
divina.
Como lemos no texto de Gênesis, a Abraão é revelada a grandeza do
plano divino, a forma sobrenatural de como Sara gerará um filho na velhice
e que uma descendência forte e poderosa sucederá dessa criança. Nisto se
revela o amor do Eterno: Ele não só faz, como também comunica a cada
um de nós, os seus servos, o seu majestoso plano.
Se hoje é mais um dia em que você acorda e, assim como Abraão, decidiu
seguir com fidelidade os caminhos do Senhor, descanse nEle. Se você ainda
não entendeu tudo o que acontecerá, saiba disto: você nem precisa saber.
Basta que seu coração continue acreditando na bondade do Senhor
manifesta na história.
Daquele ponto em diante, Abraão passou a experimentar um pequeno
vislumbre da bondade do Altíssimo — tão pequeno que ele resolveu dar-lhe
o nome de Isaque. Não, não precisamos nem de muito, nem de tudo para
sermos felizes; basta-nos o que nos conceder o Senhor pela sua graça e
compaixão.
A IMPORTÂNCIA DO BATISMO NA TRADIÇÃO
CRISTÃ
As inúmeras referências que Paulo faz sobre o batismo nos seus textos —
em especial naqueles em que ele trata sobre a salvação — demonstram a
seriedade dessa prática cerimonial no cristianismo primitivo.
Diferentemente daquilo que muitas pessoas pensam, o batismo não se trata
de uma mera formalidade humana. Um entre inúmeros ritos de passagem
existentes. A experiência do batismo deve ser entendida como a
exteriorização de uma experiência de fé íntima e pessoal, da qual temos o
privilégio de vivenciar pessoal e coletivamente.
Essa é, sem dúvida alguma, uma característica fundamental do
cristianismo: tudo pendula entre o pessoal e o coletivo, o eu e o nós. Da
mesma maneira que não existe cristianismo despessoalizado, ou seja,
sabendo que é impossível ser cristão sem ter um engajamento pessoal com a
causa de Cristo, também é impossível declarar-se seguidor de Jesus sem ter
vínculos sociais, comunitários. O conceito de ascetismo não tem qualquer
conexão prévia com a vivência de uma vida com Jesus; dito de outra forma,
não existe cristão ermitão. Podemos até enfrentar momentos específicos de
abandono e isolamento, porém isso nunca será um estado contínuo de nossa
existência. Deus está conosco, e geralmente podemos perceber a presença
do Senhor conosco por meio dos abraços das pessoas queridas que estão a
nossa volta.
Partindo dessas premissas, o batismo cristão ganha significância coletiva.
Significa a adesão a uma igreja específica, sendo a publicização de uma
identificação com um coletivo, com um todo maior. O batismoé muito
diferente de um ritual de purificação antigo. Não se trata de um simples
submergir em águas. O mais importante nele não é o ato em si, onde é feito
ou por quem é ministrado, e sim a igreja que se identifica com essa
celebração.
A coletividade dos santos está espiritualmente ligada a Cristo pela obra do
Calvário e socialmente anunciada por meio do batismo nas águas.
Imersão/morte e emersão/ressurreição são binômios gloriosos que
proclamam a conexão do Salvador e o seu povo. O batismo não anuncia
uma questão de purificação religiosa — isso quem procura são os fariseus,
legalistas e profissionais da religião. O batismo cristão é símbolo significante
do amor de Deus pelo mundo.
O batismo cristão declara nossa entrada simultaneamente: no corpo de
Cristo, ou seja, na assembleia universal dos santos salvos no amor de Deus,
e na igreja local específica — aqui se revela o absurdo que seria ser
imergido em águas em qualquer comunhão com a igreja que promove a
celebração.
Estamos ligados a Jesus Cristo e também unidos uns aos outros. Nosso
batismo em águas só tem repercussão espiritual quando espelha de modo
comunitário a consciência do amor que vivemos no Eterno. O batismo não
é uma ordenança para demonstrar que as pessoas são individualmente
salvas — o que obviamente seria uma heresia, além de um absurdo. Nosso
Senhor ordenou-nos fazer discípulos de todas as nações e, como
consequência natural desse processo de discipulado, batizá-los como forma
de revelar ao mundo nossa identificação uns com os outros, que é obra de
nossa vinculação com o próprio Deus.
Seguir a Jesus não é um convite a ser famoso, e sim uma decisão pessoal em
manifestar a glória de Deus
A vida cristã é um profundo mergulho no coração de Deus. Por esse
motivo, não há espaço para narcisismos, egoísmos ou idolatria a si mesmo
no percurso da carreira de um discípulo de Jesus Cristo.
A Bíblia Sagrada é muito clara ao afirmar a importantíssima diferença
entre amar a si mesmo — momento fundamental no processo de amar a
Deus — e ser amante de si mesmo. O amor a si nasce como consequência
direta de quem se reconhece amado por Deus e, por isso, corresponde ao
instante individual do movimento coletivo de adoração a Deus. O percurso
apresentado por Jesus é: o amor divino por nós, que veio primeiro lógica e
temporalmente, impulsiona-nos a amar a Deus acima de tudo e todos;
depois, como num processo inevitável, vivenciamos a experiência do amor
divino por meio da prática do amor ao próximo, que só é possível se cada
um de nós compreendermo-nos como alcançados pelo amor que vem do
Céu.
Já o amante de si mesmo é aquele que experimenta uma degeneração das
formas puras de amar. Ele é alguém egoísta, que não se constrange em
prejudicar outras pessoas se os seus projetos pessoais ambiciosos forem
alcançados. A expressão grega para resumir essa postura decadente é,
literalmente, phílautos, isto é, aquele que só considera aquilo que diz respeito
a si.
Capítulo 2
SER DISCÍPULO:UMA JORNADA
DE APRENDIZAGEM
Por Thiago Brazil
INTRODUÇÃO
O cristão é chamado a uma jornada de aprendizado. Não existe crente
sobre a face da terra que tenha atingido a perfeição. Esse, inclusive, é o
significado do conceito de operosidade da salvação cristã. Nosso percurso
enquanto seguidores de Cristo constitui-se como um movimento de
enriquecimento de dons, talentos, ministérios e vocações.
Mas tudo o que recebemos de Deus vem a nós com a qualidade do
crescimento, do aprimoramento, da potencialização — não que as bênçãos
de Deus sejam incompletas ou imperfeitas —, mas assim precisa ser em
virtude de nossos erros, pecados e falhas que atrapalham o bom
desenvolvimento do Reino em nós. Logo, aprender a servir ao Senhor é um
processo de autoconhecimento pelo qual todo discípulo que deseja servir ao
Eterno com sinceridade precisa passar.
Reflitamos, então, sobre os caminhos que precisamos percorrer para
glorificar ao Altíssimo em nossas vidas, sempre reconhecendo que a
majestade dEle é perfeita e imutável, enquanto todos somos miseráveis
pecadores carecendo constantemente de aperfeiçoamento e aprendizado.
A vocação cristã é um chamado ao aprendizado daquilo que Deus quer para
nós
A vocação para o serviço no Reino dos céus precisa ser entendida como o
momento em que Deus, reconhecendo nossas virtudes e fragilidades, dota-
nos de habilidades especiais para o ministério. Assim como o primeiro
homem tinha uma variedade de ações que poderia cumprir, sendo-lhe
dado, contudo, apenas uma vedação e uma obrigação — não comer da
árvore do conhecimento do bem e do mal e cuidar do jardim de Deus,
respectivamente —, também cada um de nós precisa ter a consciência de
que nasceu para servir.
Nos tempos estranhos em que vivemos, algumas pessoas que se anunciam
seguidoras de Cristo querem viver como se fossem turistas nesta geração.
Não nos esqueçamos disto: somos peregrinos, e não excursionistas.
Devemos a Cristo que nos salvou o compromisso de prestação de contas de
tudo aquilo que Ele capacitou-nos para realizar. Desculpas genéricas como
falta de tempo, medo de repreensão ou ausência de apoio humano jamais
serão aceitas pelo Criador.
Assim, tal qual na célebre parábola sobre a operosidade da salvação,
devemos cooperar para que tudo aquilo que está em nossas mãos atinja a
sua natureza plena. Subutilizar os dons, ministérios e vocações divinos é
algo perigosíssimo que pode, inclusive, implicar em um processo de
afastamento progressivo do amor de Deus. Devemos, então, vigiar para
jamais desprezarmos aquilo que o bondoso Senhor destinou-nos como
tarefa a realizar.
Por outro lado, há ainda outra possibilidade temerária com relação a
nosso relacionamento com o Redentor: o risco de valorizarmos muito
determinados campos de nossa vida em detrimento de outros.
Reconheçamos o que somos; uma integralidade de milagres, sonhos e
libertações. Sim, nada do que somos deriva de nossas próprias capacidades.
Tudo é bênção divina. Por esse motivo, é nosso dever zelar e cultivar todas
as áreas de nossas vidas.
Como resultado de nossa sociedade moderna, muitas pessoas aprendem a
vida de modo compartimentalizado, dividida em espaços segmentados e
incomunicáveis uns com os outros. As pessoas pensam que aquilo que
ocorre no mundo do trabalho não tem qualquer repercussão no universo
familiar, que, por sua vez, está isolado da realidade espiritual, e assim por
diante. Perigoso engano! Tudo em nossas vidas está interconectado, e por
isso mesmo carrega sérias repercussões espirituais.
O esforço braçal de um pescador deve ser socialmente reconhecido;
entretanto, Deus deseja mais ainda de nós. Fomos criados por Ele para uma
espetacular missão no Reino dos céus. Pedro glorificava ao Salvador
pescando? Claro que sim! Ele poderia passar os dias da sua vida nessa
maravilhosa empreitada laboral e, por fim, ir aos céus? Evidentemente que
sim! Para além das redes e do barco, o Altíssimo tinha uma missão
proclamativa a Pedro. Foi dessa forma que um homem humilde, envolvido
em um trabalho manual, conseguiu vislumbrar a glória celeste e tornar-se
extremamente útil para o plano eterno desenhado para a humanidade.
Nossa condição não difere em nada com relação à de Pedro, não há
dicotomias entre vocações, ministérios, dons, serviços e mordomias. Todos
somos chamados para adorar ao Criador em tudo o que fizermos,
permitindo-nos ser instrumentos do Reino de Deus nessa geração. Pedro
era, sim, um pescador. Na verdade, nunca deixou de sê-lo. Talvez o
chamado ministerial de Pedro tenha ficado soterrado debaixo de
preocupações e medos humanos, quando, na verdade, o que lhe faltava
mesmo era apenas confiar no Senhor, que nos conhece desde antes da
fundação do mundo.
Romanos 8.38,39 é parte de um hino de louvor a Deus que era cantado
nas primeiras igrejas cristãs, e aqui é registrado por Paulo, que aponta
vários aspectos marcantes da caminhada de um discípulo de Jesus. O louvor
pode e deve ser lido como um belíssimo canto sobre a convicção salvífica,
ou seja, sobre a fé que salva.
Lembremo-nos disto: a carta éescrita à igreja que se congrega em Roma,
que era o centro do mundo antigo naquele momento histórico, mas
também antro de todo tipo de violência, maldade e perseguição. Ser cristão
naquele ambiente era uma decisão que implicava constante risco de morte,
pois o culto ao imperador era exclusivista. Assim sendo, qualquer outra
forma de adoração é entendida como uma questão política e, por isso, deve
ser impiedosamente esmagada.
Mesmo assim, diante de tantas adversidades, os crentes em Roma e em
todas as comunidades dos cristianismos primitivos cantavam corajosamente
a sua inseparabilidade de Cristo. Nem pessoas, nem circunstâncias ou
determinações — em resumo, nada — poderiam retirar daqueles frágeis
irmãos a convicção de que servir a Deus adorando a Jesus Cristo é a única
opção existente.
Eles não procuravam subterfúgios, jeitinhos ou acordos com o império da
morte. O que aqueles irmãos desejavam era desenvolver uma vida
inteiramente dedicada ao Criador e, para tanto, estavam dispostos a ir às
últimas consequências e, se necessário, até mesmo ao enfrentamento da
morte.
Será que hoje podemos cantar como os antigos cristãos cantaram? Será
que nossa fé em Jesus capacita-nos a reconhecer o quão fantástica é nossa
vida e como o Eterno tem sido bondoso para conosco?
Sejamos tenazes e fortes assim como no passado. Existem várias
artimanhas do Inferno tentando destruir nossa fé, até mesmo tentando
acabar com nossas vidas. Entretanto, assim como o Criador fortaleceu
nossos primeiros irmãos, fazendo-os cantar tão intrepidamente, Ele
certamente será conosco e também nos fará vencer todas as fortalezas do
maligno.
Ninguém é obrigado a submeter-se ao processo de discipulado contínuo
proposto por Jesus, mas aqueles que querem ser aptos para o Reino dos céus
fazem-no com alegria
Não existe qualquer tipo de coerção constrangedora no Reino de Deus.
Dito de outra forma, nada com relação à salvação é-nos imposto de
maneira arbitrária e/ou violenta. Tudo é graça, amor e misericórdia. Jesus
Cristo sempre lançou convites, fez apelos a pessoas ou a multidões.
Ninguém da multidão que seguia o Mestre estava lá por obrigação, em
virtude de uma involuntariedade ou por algum tipo de ordem que roubava
das pessoas a sua liberdade.
Os apóstolos deixaram tudo para trás porque quiseram, em virtude de
um poderoso impulso de fé e esperança na natureza singular do convite que
receberam. É destacável também que as circunstâncias dos chamamentos
foram as mais despretensiosas possíveis: um dia alguém vai ao trabalho,
então ali, em meio à papelada e ao dinheiro que cobra dos outros em nome
do Império Romano, ele ouve o convite de alguém que lhe diz: “Vem,
segue-me!”. E, por mais absurdo que possa parecer a alguém, vários outros
casos aconteceram assim.
Talvez o testemunho dos guardas que partiram sob ordens do sinédrio
judaico com a missão de prender o agitador de Nazaré, mas que voltaram
convencidos de que ele era um profeta de Deus, sirva como referência para
explicar por que tantas pessoas abandonaram imediatamente as suas vidas
para seguir o Salvador de forma dedicada. Além de um discurso
arrebatador, também havia milagres, prodígios e maravilhas.
Feita essa importante reflexão sobre a espontaneidade de nossa vocação
cristã, segue-se outra questão: qual a finalidade comunitária da salvação?
Somos salvos para viver em comunidades tanto aqui como na eternidade.
Sim, faz-se necessário pensar sobre essa questão uma vez que tudo tem
uma repercussão coletiva no cristianismo. Ainda que os atores sejam
individuais, as suas atitudes constroem impactos que estão para além deles
mesmos. A resposta mais imediata a essa temática é o conceito de serviço.
Nossa vocação molda nosso ser para que sejamos capazes de cumprir a
precípua razão de nossa existência: adorar a Deus servindo uns aos outros.
O amor anunciado na cruz já surge comunitário, dadivoso, responsável pelo
acolhimento dos outros. Amar como nos ensina Jesus Cristo é entregar-se
voluntariamente para fazer o bem. Como nosso grande modelo e exemplo,
Cristo conclama-nos a ser promotores de tudo aquilo que se constitui como
bondade. Assim, aprendemos que não somos meros seres passivos
receptores da graça de Deus, também devemos ser prontos agentes da
benignidade em nossa sociedade.
A prática significativa/comunitária do bem publiciza aquilo que está no
coração do salvo, sendo que o oposto também é verdade: quando o mal
aparece eruptivamente na vida de alguém, ou mais especificamente por
meio de alguém, nada mais é do que o sintoma de um coração adoecido,
uma alma que clama por salvação.
Se fomos acolhidos pela graça, resulta disso um movimento natural em
direção ao outro. Enquanto a operação do pecado resulta num movimento
de introspecção egoísta do indivíduo, a salvação impele-nos à generosidade,
à alteridade, ao amor ao próximo.
É aqui que se estabelece o processo natural do discipulado cristão. Quem
nasceu do alto, isto é, aqueles que já experimentaram os efeitos salvíficos do
amor, veem com naturalidade o processo de formação cristã continuado.
Somente os religiosos mentirosos acreditam ser puros e perfeitos diante de
Deus, pois todo verdadeiro salvo reconhece os seus pecados, identifica as
suas falhas e clama pela presença do Espírito Santo para tornar-se alguém
conforme a vontade de Deus.
A compreensão de nossa condição de eternos aprendizes é vital para o
desenvolvimento do Reino de Deus em nós. Práticas como aconselhamento,
exortação e instrução só têm sentido como dons comunitários para servir a
igreja quando cada um de nós sabe ser passível de admoestações e
correções. Quem não se predispõe a aprender jamais será alguém apto para
servir no Reino.
A alegria do discipulado é uma característica marcante na tradição cristã;
por isso, a orientação de novos seguidores de Cristo sempre deve ser feita de
modo gracioso visando o bem-estar espiritual daqueles que estão dando os
seus primeiros passos na caminhada da salvação. Discipular alguém não é
fazer uma lavagem cerebral ou manter alguém debaixo de um controle de
ações e emoções. O discipulador precisa reconhecer a delicadeza do
processo que realiza e sempre ter em mente que trabalha para o
engrandecimento do Reino, e nunca para a formação de grupinhos que lhes
sejam subordinados ou de pessoas acéfalas e inseguras.
Como você mantém um clima de paz na sua vida com tantos acordos
politiqueiros e vista grossa sobre absurdos perto de você? Qual o
fundamento das atitudes que você toma: interesses pessoais ou a vontade de
Deus?
Existem duas condicionantes fundamentais para uma vida de paz
interior: (1) reconhecimento da graça de Deus, que nos justifica, e (2)
autoconsciência das escolhas e atitudes pessoais.
Embora algumas vezes façamos uma leitura muito superficial das
Escrituras, os textos da Bíblia são muito mais densos do que a ingenuidade
do senso comum tenta definir. Escrevendo aos coríntios, com quem Paulo
tinha uma longa história de evangelização, discipulado e liderança, o
apóstolo esclarece àqueles irmãos que ele não sente qualquer
constrangimento em exortar e denunciar formas de pecado que se
estabeleciam no interior daquela comunidade.
Paulo não jogava com o público, não estava preocupado com
popularidade ou em agradar determinados setores da igreja para manter o
seu poder. O apóstolo dos gentios tinha tanto convicção quanto paz em
relação àquilo que fazia. Ainda que desagradasse algum interesse particular,
o homem de Deus estava comprometido com as verdades do evangelho e
com os princípios da Palavra.
A consciência de Paulo estava em paz. O seu coração de líder era
amoroso com cada pessoa, mas também zeloso com a igreja como um todo.
Todavia, a liderança do apóstolo foi submetida à forte crítica, pois ele
estava enfrentando pecados que estavam enraizados na vida privada de
alguns indivíduos.
Diante desse impasse — a convicção paulina e a crítica da membresia —,
o homem de Deus invoca o julgamento divino. Essa é, sem dúvida, uma
decisão corajosa, ou seja, somente alguém que é movido pelo Altíssimo
podetomá-lo como testemunha.
Cuidado! Existe um tipo de pseudopaz que pode ser infernal na vida de
uma pessoa e de uma igreja. Escude-se no Senhor, confie na direção que
Ele orienta para sua vida e tenha tranquilidade no coração.
O caminho como a melhor parte da jornada com Deus hoje
Algumas pessoas, a despeito de terem longos anos de contato com a
pregação cristã, ainda não entenderam que a caminhada seguindo Jesus
Cristo é o momento de deslumbre e entusiasmo no Reino de Deus.
Infelizmente, existem pessoas que se aferram a expectativas futuras de tal
forma que não experimentam a alegria do agora que está disponível para as
suas vidas.
Sim, sim... todos almejamos o Céu. É a vida eterna com Cristo que nos
impulsiona diariamente; todavia, a maravilhosa promessa celeste não
invalida a realidade da bênção de Deus aqui e agora sobre nossas vidas.
Não podemos esquecer que somos a igreja do caminho, isto é, o mundo
precisa reconhecer-nos como peregrinos e forasteiros, como aqueles que
experimentam uma existência dinâmica, viva, de puro fluxo; afinal de
contas, somos os caminhantes.
Ser o povo do caminho traz consigo múltiplas implicações. Inicialmente,
quer dizer que nos reconhecemos como aqueles que não estão prontos, ou
seja, como quem está em processo de contínuo melhoramento, como
pessoas imperfeitas que precisam constantemente de mais de Deus para que
possam ser plenas e felizes. Não há nada neste mundo que complete a
fratura existencial que temo. Somos seres fragmentados por natureza, gente
que, por ter sido feita do pó do chão da existência, precisa constantemente
do sopro do Altíssimo para ganhar vida. Esse é outro modo de olhar nossa
incompletude — não como algo que nos angustia, em virtude do
reconhecimento dessa falta permanente, mas como uma bênção que nos
possibilita ser melhores diariamente.
Além disso, ser o povo do caminho também anuncia nossa condição
peregrina: não somos daqueles que estão presos a começos, ou seja, que se
preparam tanto para iniciar um projeto que nunca fazem nada; muito
menos dos que desprezam o presente por romantizar o fim. Esses
experimentam amargas frustrações futuras. Como sabemos que não temos
morada fixa aqui na terra, devemos viver do instante, crer que Deus realiza
milagres e usufruir a felicidade de saber quem é Deus agora.
Diferentemente das outras pessoas, o cristão é aquele que aprendeu a viver
em constante estado de contentamento.
Faz-se necessário um esclarecimento: contentamento é muito diferente de
acomodação. Enquanto o acomodado nada fez e tem que se reduzir à sua
mediocridade, contente é aquele que, depois de todos os esforços pessoais,
aprendeu a ser grato por tudo aquilo que lhe chega às mãos, mesmo que
não seja o que ele esperava. O contente é grato; já o acomodado é
frustrado.
Por fim, o povo do caminho aprendeu que, na viagem, as experiências do
trajeto podem ser tão enriquecedoras quanto a vivência da chegada. O
Reino está entre nós; é para lá que vamos, mas já experimentamos os
vislumbres dele no tempo que se chama hoje. É importante ressaltar que as
glórias do Reino não implicam em uma vida isenta de problemas, imune a
crises ou dores; as bênçãos de servir a Deus constituem-se no fato de sermos
cotidianamente fortalecidos no amor do Criador em meio ao caos que
convivemos.
Por isso, podemos testemunhar, já no presente tempo, as maravilhas de
uma comunhão verdadeira com Jesus Cristo. Finalizo esse momento de
reflexão sobre a caminhada com Cristo fazendo uma associação entre um
ditado popular do nordeste brasileiro e nosso discipulado cristão. O
provérbio nordestino diz-nos assim: “Se queres conhecer alguém, coma um quilo de
sal com esta pessoa.”. Essa metáfora culinária lembra-nos na natureza
temperante dos verdadeiros relacionamentos.
Em nossa sociedade, dedicar tempo a alguém é cada vez mais raro. É por
isso que as pessoas ferem-se e são feridas em relacionamentos. O convite do
evangelho não é para chegarmos ao porto de nossas almas em um só dia de
navegação espiritual; antes, Jesus Cristo convida-nos a cotidianamente
assumir nossa identidade cristã — tomando nossa cruz — e segui-lo. O
discipulado cristão é um processo de amadurecimento; logo, implica em
algo contínuo, enriquecedor e transformador.
Quem comete o desatino de tentar ingerir uma grande quantidade de sal
de uma só vez sofrerá consequências desastrosas, correndo riscos mortais.
Muitos cristãos perderam-se na jornada da vida quando imaginaram ser
capazes de correr em um dia o percurso que estava proposto para uma
vida; e assim muitos acabam feridos, frustram-se, e às vezes perdem as
forças para continuar a caminhada. Assim como se demoram meses para o
uso de um prosaico “quilo de sal” no tempero de nossa alimentação,
devemos seguir com paciência o percurso da existência, conhecendo a
Cristo passo a passo, de glória em glória.
Capítulo 3
QUEM SEGUE A CRISTO
ESTUDA A PALAVRA
Por Marcelo Oliveira
INTRODUÇÃO
A revista eletrônica Fantástico há tempos trouxe uma reportagem em que se
destacam três pessoas: um pastor, a vizinha dele e o marido da sua vizinha.
Com base no texto de Oseias 3.1, o pastor interpretou que poderia
“adulterar” com a sua vizinha, tudo com o consentimento do esposo dela.
Esse pastor também era casado. A confusão toda se deu porque ele leu o
seguinte versículo: “E o SENHOR me disse: Vai outra vez, ama uma mulher,
amada de seu amigo e adúltera [...]” (Os 3.1). No lugar de ler “amada de
seu amigo e adúltera”, o pastor leu o seguinte: “amada de seu amigo e
adultera”. Ele não atentou para o acento agudo e trocou o substantivo pelo
verbo e, por isso, entendeu que estava habilitado pela Palavra de Deus a
manter um relacionamento extraconjugal com o consentimento do marido
da vizinha e, segundo a sua interpretação, de Deus. Chocante, não?!
Esse exemplo extremo, que foi ao ar em rede nacional, infelizmente não é
uma exceção. Há muitas interpretações esdrúxulas a respeito do texto
bíblico que, consequentemente, abrem espaços para criação de heresias,
fundação de seitas e práticas de imoralidade sexual.
Neste capítulo, temos o propósito de ressaltar o compromisso com a
Palavra de Deus de quem segue a Jesus. Para segui-lo, é preciso conhecê-lo.
E a melhor maneira de fazê-lo é por meio da Bíblia, além de confirmá-la
por meio de experiências vividas com Ele na caminhada cristã. Ao longo da
Bíblia, desde o Antigo ao Novo Testamento, o conhecimento dos textos
sagrados é requisito para uma boa prática de fé. Não por acaso, o
evangelista Lucas ressalta a seguinte característica da rebenta igreja em
Jerusalém: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos [...]” (At 2.42).
Quem segue Jesus falará de Cristo para as pessoas, discipulará outras
conforme alcance os corações delas e servirá a Igreja, o Corpo de Cristo.
Para que tudo isso aconteça, o discípulo de Jesus precisa conhecer a Bíblia,
manejá-la bem e vivê-la coerentemente, praticando-a no dia a dia. Ler a
Bíblia, compreender a Bíblia e viver a Bíblia são os objetivos sinceros de
quem segue Jesus com toda a fidelidade e amor. Este capítulo, contudo, não
tem por objetivo ensinar técnicas de leitura e interpretação da Bíblia. O seu
propósito é refletir a respeito da razão de ler as Escrituras, a importância de
estar consciente a respeito da sua vocação, pois isso é determinante para
iniciar um caminho de método e disciplina na leitura da Bíblia. É preciso
responder objetivamente: Onde quero chegar com a leitura da Bíblia?
Por isso, temos ao menos três objetivos com este capítulo para
desenvolver com você: 1) o cristão como um missionário inato; 2) o cristão
como um discipulador por natureza; 3) o cristão como um servo. Assim,
veremos que o senso de urgência no serviço é determinante para preparar-
se bem a fim de executar esse serviço. Nesse caso, estudar a Bíblia é
determinante para o bem da execução do serviço.
I – O CRISTÃO COMO UM MISSIONÁRIO
INATO
O que nos motiva a ler a Bíblia? Por que muitas pessoas gastam horas e
mais horas lendo a Palavra de Deus, interpretando-a e aplicando-a na sua
vida? Muitasvezes olhamos para esses fenômenos apenas como o resultado
de um esforço. Ficamos admirados em tomar conhecimento de que uma
pessoa que leu a Bíblia 30 vezes, outra 60 vezes, ou ainda um pastor de meu
conhecimento que, ao ler a Bíblia pela última vez, escreveu: “Hoje é a
centésima quadragésima quinta vez que leio a Bíblia e ainda tenho muito
que aprender”. Entretanto, o que pude constatar em algumas pessoas que
leram tantas vezes a Bíblia é que a quantidade não foi o principal objetivo.
Havia uma razão de natureza profunda que fazia com que elas repetissem o
ritual ordinário de ler a Bíblia para crescer espiritualmente. Havia algo que
dava sentido para elas fazerem isso de maneira disciplinada e que, ao
mesmo tempo, não fosse um peso ou um martírio: a clareza do propósito
ministerial. Por isso, deveríamos olhar para o que motiva uma pessoa a ler,
estudar e aplicar a Bíblia na vida; enfim, preparar-se no estudo sério,
metódico e rigoroso das Sagradas Escrituras. O texto bíblico base deste
capítulo, Atos 8.26-39, ajuda-nos a refletir a respeito dessa questão a partir
da motivação de um verdadeiro discípulo de Jesus, a saber, o diácono-
evangelista Filipe.
Somos Conhecidos dEle
A narrativa do capítulo 8.26-31 de Atos dos Apóstolos inicia com um
chamado do anjo do Senhor dizendo a Filipe que este deveria levantar-se e
seguir para Gaza (At 8.26). Essa não é uma primeira experiência de
chamado do diácono carismático. Em Atos 6, lemos que ele foi
comissionado a servir como diácono da igreja em Jerusalém (At 6.5). Filipe
atendeu ao chamado dos apóstolos. Dentre muitas qualidades, o diácono
Filipe era um homem cheio do Espírito Santo e de sabedoria. O livro de
Atos dos Apóstolos revela que o diácono Filipe foi um poderoso pregador
na Igreja Primitiva (At 8.4-8; 21.8). O seu ministério de evangelista deu-se
justamente por ser um poderoso pregador do evangelho. Nesse sentido,
Filipe era um pregador carismático da Palavra e apresentava-a com muita
sabedoria. Sabedoria e carisma permeavam o ministério de Filipe. Assim, o
diácono-evangelista recebeu um chamado para desempenhar na Igreja de
Cristo. Nesse caso, a igreja reconheceu uma vocação que era verdade nele.
Geralmente, antes de um chamado ser confirmado de maneira pública, ele
acontece interiormente (Jr 1.4). Essa vocação celestial foi determinante para
Filipe aperfeiçoar-se e desenvolver-se no ministério que Deus estabeleceu
para ele: pregador do evangelho.
Com Filipe, aprendemos que, antes de pensar em técnicas e habilidades
para o ministério, é preciso pensar a respeito do que nos move no Reino de
Deus. O que movia Filipe era a paixão pela pregação do evangelho. Ele foi
chamado para isso. Sem isso, a sua vida não tinha sentido. O que move
você? O que dá sentido a sua vida? O crente em Jesus precisa tomar a
consciência em Cristo de quem é para Deus. É preciso responder a seguinte
pergunta: o que vim fazer neste mundo? Ora, olhe para a natureza e
contemple o propósito de Deus para a vida dos pássaros, o seu canto, o
cuidado da sua prole, o seu voo sobre a natureza. Tudo está inscrito no
instinto dos animais para fazer cumprir o propósito pelo qual os criou Deus.
Olhe as árvores para dar os seus frutos determinados, o Sol para governar o
dia, e a Lua para governar a noite. Olhe para as estações do ano, como
uma advém após a outra conforme cada ciclo: o verão, o outono, o inverno
e a primavera. Tudo acontece de acordo com o propósito estabelecido por
Deus (Gn 1.14-18). E você? Não estamos neste mundo sem finalidade, sem
propósito nem objetivo. A tragédia que pode acontecer na vida de alguém é
viver de maneira inconsciente a respeito do propósito de vida ou perder o
seu sentido. Filipe sabia o porquê de estar neste mundo. O apóstolo Paulo
sabia a razão de fazer o que fazia. O Senhor Jesus Cristo fez tudo o que fez
por nós porque sabia o que era para ser feito no seu ministério neste
mundo.
Quando temos consciência do propósito de Deus para nossas vidas, a
compreensão a respeito da importância de uma leitura viva da Palavra de
Deus fará todo o sentido, pois essa leitura será encaixada no propósito de
nossa existência, e, por isso, fará total sentido executar um método, seguir
uma disciplina de leitura, pois isso alimentará e fortalecerá o propósito de
Deus dentro de nós. Ter consciência a respeito da própria vocação recupera
o sentido da vida e fortalece-o por meio da leitura e meditação da Palavra
de Deus (Sl 119.15).
Servir a Jesus Exige Disposição para Quebrar os Próprios Preconceitos
Na obra Panorama do Pensamento Cristão, refletindo a respeito do propósito do
trabalho, o autor Miroslav Wolf escreve: “o propósito do trabalho é atender
as necessidades da vida. [...] A necessidade de trabalhar para prover as
necessidades da vida acha-se por trás do dever de trabalhar”.1 Tomo
emprestada essa descrição de Wolf para dizer que, na obra de Deus, nossa
vocação ministerial tem a ver com suprir as necessidades espirituais de
nossos irmãos em Cristo. Nesse sentido, uma vez que temos claro o
propósito de Deus em nossa vida, devemos servir o próximo sem
preconceitos porque sabemos que estamos servindo a Cristo. Filipe foi um
pioneiro em evangelizar um homem que, a princípio, seria impensável levar
o evangelho a ele, pois a sua origem era da Etiópia. Entretanto, o pregador
carismático tinha uma missão, e o etíope, uma necessidade. Deus preparou-
o para suprir a necessidade daquele etíope. Por isso, nosso estudo com a
Palavra de Deus deve levar em conta as necessidades que pessoas de
diversas culturas, grupos e etnias apresentam para receber o evangelho de
Cristo. Nosso Senhor deixou-nos uma ordem para pregar e discipular toda
criatura (Mc 16.15). Entretanto, cada criatura tem uma história, uma
subjetividade e um modo de ser. Com os olhos voltados para as Escrituras e
com a sensibilidade apurada pelo Espírito Santo, tenhamos disposição para
servir Jesus de maneira desprendida e sacrifical. Essa disposição passa por
gastar horas meditando nas Sagradas Escrituras para ter o coração cheio da
Palavra de Deus a fim de proclamar o evangelho a toda criatura.
A Natureza Imprevisível de Seguir a Jesus
Filipe era uma pessoa comum chamada por Deus para fazer uma obra
extraordinária. Essa é a beleza do evangelho de Cristo. Certamente, você
conhece pessoas que fizeram coisas extraordinárias sem aparentes condições
para fazê-las. São esses preconceitos que precisamos desfazer. Você e eu
fazemos parte de uma tradição cristã, a pentecostal, que tem vários
testemunhos de pessoas improváveis fazendo coisas improváveis em lugares
mais improváveis ainda. Seguramente, em sua cidade ou em seu bairro há
igrejas estabelecidas por pessoas que, aos olhos humanos, eram improváveis,
mas que foram usadas por Deus para estabelecer o Corpo visível de Cristo a
fim de que uma porta de salvação fosse aberta.
Militar na obra de Deus requer disposição, mente ungida e coração
aquecido para fazer a vontade daquEle que lhe chamou para uma grande
tarefa. Por isso, ao longo de nossa jornada cristã no caminho com Jesus,
deparamo-nos com situações imprevisíveis. Entretanto, a previsibilidade de
nosso Senhor estabiliza nossa caminhada que, na maioria das vezes, é
imprevisível. Assim, podemos fazer a vontade de Deus com fidelidade e, de
maneira imprevisível, realizar ações que glorifiquem o nome do Senhor.
Seguir Jesus é fazer um caminho de muitas realizações significativas na vida
de pessoas. Assim, basta uma palavra de Jesus para nosso coração ser
tocado e, consequentemente, sermos impulsionados a fazer coisas grandes
para Deus. Tudo começa com o chamado da Palavra de Deus.
II – O CRISTÃO COMO UM DISCIPULADOR
POR NATUREZA
Discipular pessoas talvez seja a mais importante tarefa de um discípulo do
Senhor Jesus. Quando falamos de discipulado, falamos de responsabilidade.
A relação de mestre e discípulo revela-nos algo gracioso que infelizmente se
perdeu na educação de nossos dias. O discípulo deseja imitar o seu mestre.
Para imitá-lo, é preciso absorver o máximo do que o mestre ensina, alémde
testar esse ensino por meio da aplicação na vida. Assim, o discípulo conhece
o conteúdo e tem autoridade de passá-lo adiante porque experimentou as
suas implicações na própria vida.
Não por acaso, a respeito do ensino de Jesus, a multidão disse: “E aconteceu
que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina,
porquanto os ensinava com autoridade e não como os escribas” (Mt
7.28,29). Ora, diferentemente dos escribas, Jesus vivia o que ensinava.
A Responsabilidade Pessoal e o Preparo para a Evangelização
Dentre as várias razões por que os cristãos devem ler a Bíblia, quero
destacar uma que George H. Guthrie escreve na sua obra Lendo a Bíblia para
a Vida: “Nós lemos a Bíblia para ministrar a outros seguidores de Cristo e
àqueles que ainda têm de responder ao evangelho, recebendo a aprovação
de Deus pelo trabalho bem feito”.2 Na obra da evangelização, Deus espera
que façamos um “trabalho bem feito”. É importante ressaltar esse fato. Pelo
o que representa, o trabalho da evangelização deveria ser a tarefa mais bem
feita da igreja. Essa tarefa começa na capacitação de quem ministrará a
Palavra de Deus para quem ainda não a conhece.
Quem vai evangelizar precisa ter a consciência da sua responsabilidade
pessoal. Em primeiro lugar, é disto que se trata: de uma responsabilidade.
Em segundo lugar, quem é responsável avalia se tem ou não certas
habilidades para executar a tarefa bem — que, em nosso caso, é a de
ensinar a Palavra de Deus. Podemos sugerir algumas perguntas que ajudam
a realizar essa averiguação: 1) Tenho ciência do propósito de cada um dos
Evangelhos?; 2) Sei distinguir os Evangelhos das Epístolas?; 3) Compreendo
os principais textos do Novo Testamento que ensinam a respeito do pecado
e da salvação?; 4) Sou um leitor assíduo da Bíblia?; 5) Além de ler a Bíblia
de modo geral, dedico-me ao estudo detido e detalhado de, pelo menos, um
livro da Bíblia?
Além de preparar-nos espiritualmente, com oração e jejum, precisamos
preparar-nos intelectualmente. Foi Deus que nos concedeu a faculdade das
emoções e, também, a faculdade da razão para fazer uso dela. É uma
bênção quando razão e coração unem-se na magna obra da evangelização.
Por isso, se você tem a consciência de um propósito maior para servir na
obra de Deus, é hora de tomar esse propósito e usá-lo como fundamento
para desempenhar bem o que o Senhor Jesus colocou em suas mãos para
fazer.
Somos Convidados para Sermos Discipuladores
Se formos discipulados um dia, Deus espera que sejamos discipuladores. E a
matéria de um discipulado fiel é a Bíblia, a Palavra de Deus. Discipulamos o
outro com a Palavra de Deus. Nesse sentido, nossa atenção deve estar
voltada para comunicar a Palavra de Deus da maneira mais clara possível.
Olhando ainda para Filipe, no capítulo 8 de Atos, Lucas mostra que Filipe
explicou ao etíope que Jesus era o objeto da profecia de Isaías. Se fizéssemos
um teste, notaríamos que as profecias do livro de Isaías não são tão simples
de interpretar. O diácono-evangelista, porém, mostrou Jesus com muita
sabedoria e levou o etíope às águas batismais (At 8.38).
Nosso desafio é apresentar a verdade da Bíblia de maneira simples, mas
que impacte a vida do pecador. Nesse aspecto, quem discipula tem o desafio
de apresentar os grandes textos bíblicos ou as grandes doutrinas bíblicas de
maneira clara, simples e espiritual. O discipulador desenvolve a sua vocação
para a vida. Assim, somos chamados a ser discipuladores de vidas.
A Compaixão para com aqueles que Têm Carência de Deus
O discípulo de Cristo deve estar pronto a receber qualquer pessoa que
tenha carência de Deus (Mt 10.5-8). Ora, há uma necessidade, e nós temos
a solução. A necessidade daquele etíope era a respeito da pessoa que a
profecia de Isaías dizia. Filipe tinha a resposta que supria aquela carência.
Quantas são as pessoas que se dirigem a nós com grandes necessidades?! E
temos a mensagem que pode suprir qualquer carência humana. Como
Jesus, a compaixão deve ser uma realidade em nós. Aqui, aparece de uma
maneira prática também a importância de meditar nas Sagradas Escrituras.
Quem faz isso, ou seja, quem lê a Bíblia, compreende-a, aplica-a em seu
coração e tem uma consequência inevitável: cultivar a compaixão. Com a
Bíblia, compreendemos a miséria do coração do ser humano. Percebemos
incapacidade humana de fazer a vontade de Deus sem ter uma experiência
de salvação. As dimensões do coração humano estão patentes nas Sagradas
É
Escrituras; por isso a ordem de nosso Senhor em discipular cada criatura. É
a Palavra de Deus que preencherá o vazio do coração do homem sem Deus.
III – O CRISTÃO COMO UM SERVO
Vimos que temos uma responsabilidade e devemos estar preparados para
executá-la; que fomos convidados por Jesus a discipular outras pessoas; e
que devemos cultivar a compaixão no trabalho da evangelização e do
discipulado. Essas três realidades abrem-nos a seguinte verdade: o discípulo
de Jesus, isto é, o cristão, é um servo. Como servo, ele não pode duvidar do
poder transformador da mensagem do seu mestre; como servo, ele não pode
pensar o Reino de Deus como número; como servo, ele tem de desgastar-se
na obra da evangelização. O cristão é um servo.
Nunca Duvide do Poder Transformador do Evangelho
O evangelho é poderoso para transformar a vida de qualquer pessoa. O
relato de Filipe com o etíope mostra que não há barreiras culturais,
religiosas, sociais e políticas que impeçam o evangelho de tocar o coração
do ser humano. Por exemplo, talvez alguém possa ficar incrédulo diante da
conversão de um traficante que porta um fuzil nas mãos. Entretanto,
conheço alguns irmãos que sobem deliberadamente as favelas do Rio de
Janeiro e, sob a mira de fuzis, pregam ousadamente o evangelho para esses
traficantes. O que faz uma pessoa subir ao morro de uma favela para fazer
isso ou, até mesmo, tirar das mãos de traficantes jovens condenados pelo
tribunal do tráfico? Além do amor de Deus derramado no coração, o crente
que sobe o morro do Rio de Janeiro tem uma profunda convicção do poder
transformador do evangelho. Ele sabe que, na maioria das vezes, não é mais
o poder do Estado que mudará esse quadro. Não é o CAPS (Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), ou um centro socioeducativo, que
transformará aquele jovem — embora essas entidades sejam importantes na
sociedade e devam estar em pleno funcionamento, porém estão distantes da
maioria da população que precisa. O crente que sobe naquele morro sabe
que a única salvação para aquele jovem é o poder transformador do
evangelho. Por isso, o Senhor Jesus tem usado pessoas com ousadia para
pregar o evangelho do arrependimento e, para a glória de Deus, nas favelas
do Rio de Janeiro. E não são poucos os casos de traficantes que largaram os
fuzis e passaram a portar a Bíblia, a Harpa Cristã e a Revista de Escola
Dominical. Portanto, o evangelho “[...] é o poder de Deus para a salvação
de todo aquele que crê [...]” (Rm 1.16).
Não Pense em Números; Pense nos Impactos da Obediência
Filipe tinha como público apenas uma pessoa: o etíope. O que importou
para ele foi obedecer a chamada divina para pregar o evangelho a um único
homem. Assim, o homem que pregou a um só homem é o mesmo que
pregou para multidões (At 8.5-13). A obra da evangelização coloca-nos
alguns desafios. Às vezes somos desafiados a evangelizar uma multidão,
outras vezes uma única pessoa. Logo, quem tem o senso de obediência ao
evangelho sabe que não importa o número do público, mas a verdade de
que você tem uma ordem, uma mensagem poderosa e uma pessoa carente.
Depois de Cumprir tudo o que Deus Mandar Fazer, Faça mais!
No discipulado de Jesus, jamais podemos estar satisfeitos conosco mesmos.
Sempre tem alguma coisa que podemos fazer melhor. Sempre há trabalho
para o crente. Certa vez, nosso Senhor disse assim: “Assim também vós,
quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis,
porque fizemos somente o que devíamos fazer” (Lc 17.10). Num contexto
de vaidades, com pessoas desejando aparecer sempre nas redes sociaisou
serem vistas para obter benefícios, essa mensagem de Jesus é para esvaziar
qualquer ego. Na lógica de nosso Mestre, se pudéssemos fazer todos os bens
do mundo, ainda assim ficaríamos em dívida. O amor com que nos amou
nosso Senhor cobriu uma dívida impagável. Tal consciência determina o
senso que teremos da urgência e do preparo para a evangelização.
CONCLUSÃO
Introduzimos o presente tema trazendo um caso triste de falta de preparo
com o texto bíblico. Aquela matéria, no lugar de aproximar as pessoas do
evangelho, acabou afastando-as da mensagem de salvação. Ter a
consciência de nossa vocação, preparar-nos para executá-la para a glória de
Deus e executá-la bem são os objetivos de toda pessoa que deseja servir ao
Senhor.
Neste capítulo, abordamos o chamado para a evangelização, meditamos
a respeito da importância de estar conscientes desse chamado e de
preparar-se para atendê-lo com perícia. Você já sabe a respeito do chamado
de Deus para sua vida? Tem-se preparado para exercer esse chamado?
Como você se imagina desenvolvendo as tarefas desse chamado?
Leve a sério estes conselhos: Quando você fizer qualquer tarefa, não
deixe de, em primeiro lugar, perguntar a razão de fazer aquilo; segundo,
faça sempre para Deus; e terceiro, faça bem feito.
1 PALMER, Michael D. O Panorama do Pensamento Cristão. Rio de Janeiro:
CPAD, 2001, p. 229.
2 GUTHRIE, George H. Lendo a Bíblia para a Vida: Seu Guia para Entender e
Viver a Palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 13.
Capítulo 4
QUEM SEGUE A CRISTO
CULTIVA A PRÁTICA DA
ORAÇÃO E DO JEJUM
Por Telma Bueno
INTRODUÇÃO
Nas Escrituras Sagradas, tanto no Antigo como no Novo Testamento,
encontramos várias referências ao jejum e à oração como uma prática do
povo de Deus. Mas o que é o jejum e a oração? Existe uma definição que
seja completa e plena quando se trata desses temas? Não podemos afirmar.
Acredito, contudo, que a oração é nosso diálogo com Deus e que o jejum é
a abstinência de alimentos por um período de tempo para uma maior
consagração a Deus.
É importante ressaltar que a oração não é um monólogo; temos um Deus
que ouve e responde todas as nossas orações (Jr 33.3). Por meio da oração e
do jejum, expressamos nossa gratidão ao Eterno e também as nossas
necessidades e anseios. Pois já pensou o que seria de nós se não fosse o
Senhor (Sl 124)? Por meio da oração e do jejum, também acertamos as
“contas” com o Pai, ou seja, buscamos o perdão divino pelas faltas
cometidas (1 Jo 1.9). Não somos mais escravos do pecado (Rm 6.14), mas,
como seres humanos, estamos sujeitos ao erro e precisamos diariamente
buscar o perdão de Deus, confessar nossas falhas e abandoná-las.
Ao fazermos a leitura dos Evangelhos, veremos que Jesus, o Filho de
Deus, orou e jejuou em diversas ocasiões durante o seu ministério terreno.
Distintas vezes Ele afastou-se para lugares desertos a fim de orar e buscar
uma maior comunhão com o Pai. Antes de enfrentar a cruz — a missão
para a qual Ele veio ao mundo —, orou no jardim do Getsêmani com
tamanha intensidade “que o seu suor tornou-se em grandes gotas de
sangue” (Lc 22.44). O Salvador também jejuou e disse que chegaria o dia
em que os seus discípulos teriam que jejuar. A prática do jejum e da oração
não foi revogada pelo Mestre e deve ser observada por todos os seus
seguidores em todos os tempos.
Depois de verem o Mestre orando, os primeiros discípulos manifestaram
o desejo de aprenderem com Jesus a orar. Tal fato mostra-nos o quanto eles
foram influenciados pelos momentos em que Jesus Cristo passava junto ao
Pai em oração. Certa vez, os discípulos disseram: “Senhor, ensina-nos a
orar [...]” (Lc 11.1). Então, Jesus ensina-lhes uma oração breve, diferente
das que faziam os fariseus, porém belíssima e rica de instruções. O Mestre
ensina a tão conhecida oração do Pai-Nosso ou Oração Dominical. Muitos
acreditam que essa oração deva ser decorada, repetida de forma mecânica e
vazia por todos os seguidores de Cristo. Esse, entretanto, nunca foi o
propósito do Salvador. Podemos afirmar que Jesus apenas apresentou um
roteiro, um modelo, que os seus seguidores poderiam utilizar se assim
desejassem. Neste capítulo, não vamos tratar a respeito da oração do Pai-
Nosso. O que desejamos enfatizar, devido à sua relevância, é o fato de que o
Mestre orava e jejuava. O seu exemplo conduziu os seus discípulos a fazer o
mesmo.
I – A ORAÇÃO COMO TERMÔMETRO DA
ESPIRITUALIDADE
“A oração é a expressão mais íntima da vida cristã, o ponto alto de toda
experiência religiosa genuinamente espiritual.”1 A partir dessa definição de
oração, podemos afirmar que não existe um protocolo específico para a
oração, embora muitos crentes na atualidade prefiram fazer as suas orações
de joelhos. Os judeus nos tempos bíblicos tinham o costume de orar de pé.
Essa era a postura de oração aceita por eles. No entanto, no jardim do
Getsêmani, Lucas diz que Jesus colocou-se de joelhos para orar (Lc 22.41).
Que fique claro que não é a posição de nosso corpo no momento da oração
que vai determinar se ela será respondida pelo Pai Celeste. Lembre-se: o
importante é orar.
Jesus orava, e as Escrituras Sagradas advertem-nos a orar sem cessar (1
Ts 5.17) a fim de que não venhamos cair em tentação. O apóstolo Paulo,
como um seguidor de Jesus, também orava e, na sua epístola aos
Tessalonicenses, revela o quanto orou em favor daqueles irmãos (1.3; 3.10;
2 Ts 1.11). Quando Paulo diz “orai sem cessar”, ele está mostrando que
podemos orar em todo o tempo, em qualquer lugar e a qualquer hora, sem
protocolos. Por intermédio de nosso Sumo Sacerdote, hoje temos acesso a
qualquer momento ao trono do Eterno. O véu do Templo rasgou-se, pois o
sacrifício de Jesus Cristo abriu o caminho para Deus (Mt 27.51).
Para o crente, o momento da oração é sempre prazeroso e jamais deve
ser visto como uma obrigação ou um fardo, pois é nosso tempo, nosso
momento de comunhão e intimidade com o Pai. Afinal, queremos estar
juntos daqueles que amamos! Mas, na atualidade, alguns crentes já não se
sentem mais à vontade e confortáveis para adentrar na presença do Pai em
oração. Talvez seja essa a razão de vermos tantas pessoas desanimadas,
apáticas e insatisfeitas, mesmo sendo membro de uma igreja. Não se
engane! Não há intimidade com Deus sem oração, e nosso relacionamento
com Ele torna-se superficial. Sem um relacionamento mais íntimo e pessoal
com Deus, tornamo-nos como os crentes de Laodiceia: mornos
espiritualmente (Ap 3.16). Mornidão significa letargia e apatia por tudo que
diz respeito ao Reino de Deus. Como você está, meu irmão(ã)? Aqueça sua
alma e seu espírito por intermédio da oração! É tempo de buscarmos a
Deus: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas (Ap 3.22).
Jó era um homem sincero, reto e temente a Deus (Jó 1.1). Acordava de
madrugada e oferecia holocaustos segundo o número dos seus filhos (Jó 1.5),
contudo parecia não desfrutar de um relacionamento íntimo e pessoal com
o pai, pois ele afirma: “Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu
te vejo com os meus próprios olhos” (Jó 42.5, NTLH). Parece que o
levantar de madrugada e os sacrifícios eram somente religiosidade, algo que
foi muito combatido por Jesus Cristo. Jó, todavia, mediante a dor e o
sofrimento, teve um encontro real com o Senhor, e o nome do Pai foi
glorificado na sua vida.
Como discípulos de Jesus Cristo, precisamos apartar a oração de tudo
aquilo que não é condizente com as Sagradas Escrituras, pois há crendices
em relação à prática da oração e do jejum. Há crentes que ainda insistem
em afirmar que a “fila” é menor durante a madrugada e que por isso
obteremos mais rapidamente as respostas.
Durante o seu ministério terreno, Jesus alertou os discípulos quanto à
postura hipócrita de alguns partidos religiosos da sua época. Os membros
desses partidos, em especial os fariseus, gostavam de orar de pé nas ruas e
sinagogas para chamarem a atenção e serem vistos (Mt 6.5). Precisamos
estar alertas e vigilantes para que não venhamos repetir essa mesma prática.
Que nossos momentos de oração, sejam elesem público ou em nossos lares,
não se tornem uma obrigação religiosa. Que também não venhamos usar a
oração como uma ostentação de nossa espiritualidade (Mt 6.5-8).
O discurso de Jesus a respeito da oração no Sermão do Monte foi bem
incisivo (Mt 6.5,6), pois o Mestre em momento algum se preocupou com a
sua popularidade ou em fazer um discurso que agradasse as pessoas.
No texto de Mateus, Jesus não trata a respeito da oração pública, pois Ele
mesmo orava na presença de outras pessoas (Mt 11.25,26). O que realmente
importava para o Mestre era a “ardilosa orquestração de religiosidade”.2 Os
fariseus gostavam de fazer do momento da oração um grande show em que
eles demonstravam ser homens santos. Por várias vezes foram severamente
repreendidos por Jesus em razão da hipocrisia (cf. Mt 23). Não somente na
hora da oração, mas também nos momentos sagrados, os fariseus amavam
os primeiros acentos e faziam de tudo para serem vistos pelos homens.
Jesus afirmou que os fariseus eram hipócritas e condutores cegos, pois a
religiosidade deles estava no exterior, nos rituais e na justiça própria, em
detrimento do que era relevante, ou seja, o juízo, a misericórdia e a fé (Mt
23.23). Era o que Deus exigia deles e também de nós. Jesus exorta os
discípulos para que eles fujam do exibicionismo e da falsidade. Observe o
que nos diz o Comentário Bíblico Pentecostal a esse respeito:
Jesus conclama os discípulos a evitar a tentação do exibicionismo
espiritual procedendo da seguinte maneira: Em suas respectivas casas,
eles devem entrar no quarto interior (tamieion, em geral o quarto mais
central, seguro e retirado numa casa judaica) e fechar ou chavear a
porta. Lá, eles oram ao Pai em segredo, e o Pai que continuamente vê
tudo os recompensará (Mt 6.6). Jesus não somente adverte os
discípulos contra orar como os fariseus, mas Ele também os aconselha
a não orarem como os gentios faziam — os quais, usando de vãs
repetições, presumiam que seriam ouvidos “por muito falarem” (Mt
6.7). O termo “vãs repetições” (battalogeo) ocorre só aqui no Novo
Testamento.3
Você já deve ter percebido que precisamos abrir um parêntese na
temática do capítulo e refletir a respeito da conduta dos escribas e fariseus.
Sabe por quê? Em primeiro lugar, para que jamais venhamos cometer os
mesmos erros que eles. A segunda razão está no fato de que o
comportamento deles mostra-nos que uma vida de oração frutífera não se
alcança através do engano e nem por nossos méritos. Não recebemos nada
do Pai pelo que fazemos. Tudo o que somos e temos é resultado de nossa fé
em Jesus Cristo, do seu amor e da sua graça. Nossa salvação, o melhor que
podemos receber de Deus, dá-se única e exclusivamente pela fé em Jesus
Cristo (Gl 2.16) e mediante a sua maravilhosa graça (Hb. 4.16). Como
seguidores de Jesus Cristo, temos que repudiar o modo de viver dos fariseus,
pois, caso contrário, jamais vamos agradar ao Pai e viver para a sua glória.
Sabemos que os fariseus e os escribas eram extremamente cuidadosos em
relação aos rituais de purificação, e, segundo a Bíblia de Estudo Pentecostal, eles
“coavam a água para evitar engolirem um mosquito, um inseto impuro, de
acordo com as leis”. O exterior deles estava sempre muito limpo e bem
apresentável, mas no seu coração abrigavam o engano e a ganância.
Segundo Jesus, eles eram como os sepulcros caiados (Mt 23.27,28), por fora
lindo, mas por dentro cheios de podridão. Era preciso muita coragem para
dizer o que as pessoas realmente precisavam ouvir, mas podemos ver que
não faltou coragem em Jesus para amar, consolar e também para exortar e
confrontar aquela geração quando era preciso. Tal verdade mostra-nos que
é preciso ter muita coragem para ser um seguidor de Jesus Cristo; somente
os corajosos seguem a Jesus em espírito e em verdade.
Vivemos tempos difíceis em que temos visto pandemias assolando a
Terra, além de guerras e catástrofes naturais. O que podemos fazer diante
das crises de nosso tempo? Conformarmo-nos? O que podemos fazer?
Como seguidores de Jesus Cristo podemos orar e jejuar.
A oração tem poder para mudar os corações e as circunstâncias.
Neemias, ao ouvir a respeito do estado em que se encontrava a cidade de
Jerusalém, chora e lamenta por vários dias (Ne 1.4). Jerusalém estava em
ruínas, pois estava com os seus muros destruídos e as suas portas queimadas.
Os que não foram levados para o cativeiro estavam vivendo em grande
miséria e desprezo (Nm 1.3,4).
Neemias tinha um bom emprego, era copeiro do rei e vivia na fortaleza
de Susã; contudo, lamentou-se em favor dos seus irmãos. Ele não se
conformou com a destruição e rejeitou-se a ver pessoas vivendo sobre
escombros. Depois de chorar e lamentar-se, levantou-se e tomou a atitude
certa: “estive jejuando e orando perante o Deus dos céus” (Ne 1.4). A
oração e o jejum podem mudar toda e qualquer situação adversa.
Mudaram a condição do povo, pois os muros foram reconstruídos, e as
pessoas puderam desfrutar de um novo tempo.
Que venhamos a orar e jejuar, tendo sempre uma prática de oração e
jejum correta, segundo nos ensinou o Mestre, pois sabemos que não é nosso
muito falar que atrairá a atenção do Pai quando orarmos. Ele é atraído por
nosso quebrantamento, nosso desejo de estar na sua presença ainda que não
recebamos aquilo que pedimos com tanta veemência. A Palavra de Deus
narra-nos que os profetas de Baal fizeram um show durante a oração no
monte Carmelo. Eles gritaram para que o deus deles mandasse fogo;
dançaram em volta do altar, só que nada aconteceu. No entanto, quando
Elias invocou ao Senhor em oração de modo simples e breve, o fogo caiu, e
todos puderam ver que o Senhor era o único e verdadeiro Deus (1 Rs
18.25-29).
II – APRENDENDO A ORAR COM JESUS
Se hoje temos acesso direto ao Pai mediante a oração é porque Jesus
morreu em nosso lugar e porque o véu do Templo foi rasgado de alto a
baixo, rompendo a barreira divina que havia entre a humanidade pecadora
e o Deus Santo (Mt 27.51). Na posição de Senhor, o Mestre não precisava
orar, mas, enquanto homem, em carne e sangue, necessitava da oração e do
jejum para manter a comunhão com o Pai e também para deixar-nos o seu
exemplo. O ministério terreno de Jesus foi breve, pois durou cerca de três
anos e meio, e a oração foi a sua marca. Os Evangelhos mostram que Jesus
buscava ter um momento de oração já pela manhã, ainda bem cedo. Ele
procurava um lugar mais reservado e ali revelava toda a sua dedicação ao
Pai: “E, levantando-se de manhã muito cedo, estando ainda escuro, saiu, e
foi para um lugar deserto, e ali orava” (Mc 1.35). Várias referências
mostram-nos que essa não era uma ação isolada do Mestre, mas era algo
habitual que fazia parte da sua rotina (Mt 14.23; Mc 6.46; Lc 5.16; 9.18,28).
Orar era algo tão comum na vida de Jesus que os seus discípulos foram
influenciados e impactados por essa prática. Eles pedem ao Mestre que os
ensine a orar. Essa vontade de aprender a orar veio do relacionamento
deles com Jesus. Já sabemos que a oração ensinada por Jesus foi o Pai-
Nosso, que se tornou a mais conhecida de todos os tempos. Observe o que
nos diz Lawrence Richards a respeito da oração modelo de Cristo:
Santificado seja o teu nome. Exaltamos a Deus e o louvamos pelo que Ele
é. Saboreamos o privilégio de nos aproximar daquele que é o Senhor
do Universo com nosso louvor e ações de graças.
Venha o teu Reino. Afirmamos nossa submissão a Deus como Rei de um
reino universal do qual somos cidadãos. Comprometemo-nos a viver
aqui e agora em obediência ao Senhor, como se seu reino já tivesse
sido estabelecido na terra.
Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano. Reconhecemos nossa dependência
do Senhor e alegremente colocamos nele toda a nossa confiança. Não
pedimos hoje o suficiente para atender às necessidades do amanhã,
pois sabemos que Deus é nosso Pai, e que podemos confiar
plenamente nEle.
Perdoa-nos nossos pecados. Reconhecemos as nossas imperfeições e
fraquezas, e não dependemos dos supostos méritos de nossas obras,
mas da disposição de Deus em nos perdoar. Demonstramos essa
atitude através da boa vontadede tratar os outros como somos
tratados por Deus; assim, ‘também perdoamos a qualquer que nos
deve’.
Não nos conduza em tentação. Como Deus a ninguém tenta (Tg 1.13),
aqui essa palavra deve ser entendida no sentido de ‘testar’. Esse
pedido não revela qualquer dúvida de que Deus nos dará condições
de vencer, e demonstra a nossa fé. Algumas pessoas são tão inseguras
em seu relacionamento com Deus que procuram tentações para
poder vencê-las, e assim se asseguram de que realmente pertencem ao
Senhor. Deus permitirá que enfrentemos provas, e também dará o
escape para que as possamos suportar (1 Co 10.13). Como confiamos
que isso é verdade, não precisamos procurar nenhuma prova, mas
expressar a nossa fé pedindo ao Senhor que nos livre das tentações.4
O Mestre Jesus ensinou o seu povo a respeito do Reino de Deus;
entretanto, Ele não somente ensinou, como também viveu na prática tudo o
que lecionou. O seu discurso não era diferente da sua prática, pois Ele foi
sempre coerente. Parece que está faltando coerência na atualidade. Muitos
ensinam a respeito da necessidade da oração, mas não oram. Sem qualquer
sombra de dúvida, podemos afirmar que tal atitude é hipocrisia.
Uma das ocasiões em que Jesus orou intensamente foi antes da escolha
dos seus primeiros discípulos. A Bíblia diz que o Salvador passou a noite em
oração antes de tão importante decisão, pois Ele sabia da importância
desses homens na proclamação do Reino, especialmente depois da sua
partida. Jesus não confiou no seu discernimento, no fato de que conhecia os
corações dos homens. Ele falou com o Pai antes da sua escolha. Uma
escolha que a principio parecia fácil, mas não era, pois esses homens teriam
os seus nomes escritos na cidade celestial segundo João (Ap 21.14). Já
pensou no tamanho da responsabilidade?
Sigamos o exemplo do Mestre e que jamais venhamos tomar qualquer
decisão, seja em nossa vida, seja no ministério, sem antes falarmos com
Deus em oração. Depois do novo nascimento, devemos ser guiados pelo
Pai; por isso, precisamos seguir o exemplo de Jesus, que fez tudo debaixo da
orientação divina. Os discípulos, até mesmo Judas, foram escolhidos
segundo a direção do Todo-Poderoso.
Podemos também ver o Senhor Jesus orando antes de cumprir a missão
por que Ele veio ao mundo: morrer por nossos pecados. Jesus sabia o quão
difícil seria carregar nossos pecados naquela cruz, enfrentando a dor física,
emocional e espiritual. Então, Ele foi até o seu jardim favorito para ali falar
com o Pai a respeito de tudo o que estava sentindo. Aprendemos com Jesus
que não é fraqueza expressar nossos verdadeiros sentimentos. Podemos
apresentar ao Pai tudo aquilo que está dilacerando nossa alma. Como
homem, Jesus experimentou a aflição daquele momento tão difícil, mas o
Salvador também demonstrou o seu compromisso e a sua firmeza em fazer
somente a vontade do Pai.
Os discípulos de Jesus foram juntos com Ele para o lugar da oração, mas
não conseguiram orar em meio à aflição e aos momentos terríveis que logo
viriam. O texto bíblico de Lucas 22.45 diz que Jesus encontrou-os
dormindo de tristeza. Em breve, Jesus seria preso e morto, e os discípulos
ficariam decepcionados com a sua prisão e morte, pois esperavam um
messias político que os libertasse do domínio do Império Romano, mas
Jesus não veio ao mundo com uma missão política. O seu Reino não era
deste mundo, e tal verdade não foi compreendida pelos judeus. Jesus,
contudo, orou: “Pai, se for da tua vontade, Eu estou pronto para dar minha
vida para que todas as pessoas que acreditarem em mim sejam salvas dos
seus pecados.” Jesus era consciente da sua missão neste mundo e abriria
mão da sua vontade para cumprir todos os planos do Pai.
III – A IMPORTÂNCIA DO JEJUM
Lendo o Antigo Testamento, encontramos vários momentos específicos em
que pessoas e até cidades inteiras jejuaram. Aprendemos que a prática do
jejum estava sempre associada à oração, à humilhação e ao
quebrantamento diante do Senhor, seja para receber o perdão por alguma
falta, seja para alcançar uma graça ou uma resposta. Muitos só alcançaram
vitória e o livramento porque jejuaram e oraram. Então, vejamos algumas
referências encontradas no Antigo Testamento a respeito do jejum e da
oração:
a) O povo de Deus, para ver-se livre dos filisteus, voltou-se para o Senhor,
arrependeu-se dos seus pecados e jejuou quando estava em Mispa e era
governado por Samuel (1 Sm 7.1-6). Não recue diante do inimigo. Ore,
busque a Deus de coração, e você verá a resposta do Senhor em seu
favor.
b) O profeta Joel, que exerceu o seu ministério no Reino do Sul, Judá, e ao
falar a respeito do iminente castigo de Deus afirma: “Ainda assim, agora
mesmo diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e
isso com jejuns, e com choro, e com pranto” (Jl 2.12). O povo precisava
voltar-se para o Senhor enquanto havia tempo, pois a destruição
sobreviria a todos em breve. O profeta Joel fala de uma conversão
genuína marcada pelo jejum e a contrição.
c) Vemos também o exemplo de Acabe, um dos piores reis do Reino do
Norte, quando confrontado pelo profeta Elias a respeito da sua adoração
aos ídolos e da morte de Nabote, buscou ao Senhor com jejum e pano
de saco (1 Rs 21.27). Vestir-se de pano de saco era uma prática que
demonstrava humilhação. Essa atitude do rei não mudou o
posicionamento de Deus, mas apenas aprazou o juízo divino que viria
sobre a casa de Acabe. Esse texto bíblico também nos revela a
misericórdia e a bondade de Deus para com aqueles que se arrependem
verdadeiramente dos seus pecados e buscam a Deus com contrição e
quebrantamento. Nunca é tarde demais para humilhar-se e buscar o
perdão divino.
d) Os homens de Nívive, uma cidade importante da Assíria, depois de
ouvirem a mensagem de juízo entregue pelo profeta Jonas, jejuaram
com panos de saco clamando para que o juízo do Senhor contra a
cidade fosse revogado (Jn 3.5). Deus ouviu e atendeu ao pedido dos
ninivitas, revelando o quanto Ele é bom e a sua graça estende-se a todos
aqueles que o buscam.
e) Daniel orou e jejuou a favor do retorno do seu povo do cativeiro. Ele
buscou ao Senhor em “oração, e rogos, e jejum, e pano de saco, e cinza”
(Dn 9.1-13). Deus mais uma vez ouve e responde a oração do contrito.
Vamos prosseguir com nossa reflexão a respeito do jejum trazendo uma
definição desse termo. Como podemos definir o jejum? A definição é breve
e simples: É a abstinência total ou parcial de alimentos durante um
determinado período.5 O propósito é reservar um tempo maior para a
oração e comunhão com o Senhor. Como já vimos, de acordo com os
preceitos bíblicos, o jejum deve estar associado à oração, pois jejuar não é
somente se abster de alimentos como fazem alguns adeptos de algumas
religiões orientais. O propósito deve ser reservar um momento específico
para uma maior comunhão com Deus.
O jejum na Bíblia implica em total abstinência de toda comida por
um certo período. Sua duração variava de algumas horas durante o
dia (jejuaram aquele dia até à tarde, Jz 20.26) até 40 dias, como no
caso de Moisés, Elias e Jesus. As pessoas também jejuavam em meio à
necessidade durante uma escassez de comida (At 27.21,33-36), por
causa da falta de apetite resultante de profundas emoções (como Ana
e Jônatas, 1 Samuel 1.8,18; 20.34), ou por motivos religiosos.
A origem da prática religiosa do jejum está perdida em um passado
obscuro, mas essa disciplina foi disseminada por todas as religiões da
Antiguidade. Em culturas de armazenamento de alimentos (em
oposição ao cultivo de alimento), o jejum era frequentemente
compulsório devido à incerteza de se obter comida. É possível que a
ignorância supersticiosa interpretasse a escassez de grãos silvestre,
frutas e caça como uma expressão da vontade de Deus, e assim os
homens tenham começado a considerar o jejum como um dever
religioso. Pensando que os deuses estivem enciumado pelos prazeres
desfrutados pela raça humana, os homens talvez tenham presumido
que a abstinência iria alcançar o favor destes. Por outro lado, a
inclinação natural de privar-se de comida durante

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