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Antropologoa aula 7

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Aula 7: Claude Lévi-Strauss: vida e obra
Apresentação
Em 1938, aos 30 anos de idade, Claude Lévi-Strauss estava no Brasil conduzindo uma equipe que era então composta de especialistas, dentre eles a etnógrafa Dina Lévi-Strauss, primeira esposa de Lévi-Strauss; o especialista em doenças tropicais Dr. Jean Vellard e o antropólogo brasileiro, Luiz de Castro Farias.
Durante breves períodos de campo entre os índios caduveus e os bororos, essa viagem foi a iniciação de Lévi-Strauss como antropólogo. Ao invés de analisar um único grupo, em profundidade, e realizar uma imersão cultural solitária — como fez, por exemplo, o antropólogo Bronislaw Malinowski estudado na Aula 4 — ele preferiu realizar um rápido levantamento de diferentes povos indígenas habitantes do interior do Brasil.
Dessa expedição, Lévi-Strauss publicou, em 1955, ou seja, 15 anos depois, o livro Tristes trópicos no qual narra as experiências vividas em seu primeiro trabalho de campo. O livro lança também o primeiro esboço do seu método, o Estruturalismo, na qual, segundo Wilcken (2011, p. 11):  A abordagem que procura desvendar as simetrias ocultas que se encontram sob todas as culturas. Lévi-Strauss, em tristes trópicos, cativou os leitores com os primeiros esboços deste método, ao mesmo tempo dando uma coerência inesperada à aparente confusão desordenada das ideias e práticas indígenas.
Claude Lévi-Strauss é o homem central do Estruturalismo. Enquanto no século XX a divisão do trabalho intelectual se limita ao conhecimento cada vez mais fragmentado, Lévi-Strauss aposta na realização do equilíbrio entre o sensível e o inteligível 1.
Claude Lévi-Strauss: vida e obra
O nascimento
Gustave Claude Lévi-Strauss nasceu, em 1908, em Bruxelas. Cresceu em Paris em um apartamento na Rue Poussin, no fim do 16º arrondissement (bairro). Foi criado em uma família judaica laica, descendendo da Alsácia (região da França localizada à leste do país, junto às fronteiras alemã e suíça) tanto pelo lado paterno como materno.
Ainda menino, Lévi-Strauss ouvia as histórias de um idílico passado oitocentista perdido. Seu bisavô, Isaac Strauss, foi o primeiro violinista da orquestra do balneário de Vichy, sob Napoleão III, regendo ao mesmo tempo o conjunto nos bailes imperiais das Tulherias e no Ópera de Paris.
O pai de Lévi-Strauss, Raymond, seguiu uma carreira modesta, iniciando seus estudos superiores na École des Hautes Études Commerciales, tendo conseguindo um emprego na Bolsa de Valores de Paris. Ele se casou com a prima, Emma Lévy, filha de um rabino, enviada a Paris para aprender datilografia e taquigrafia.
Raymond, que era um homem das artes, não conseguindo adaptar-se ao cotidiano de pequeno funcionário, matriculou-se na École de Beaux-Arts e começou a pintar retratos para se sustentar.
Lévi-Strauss era filho único, e desde cedo, foi introduzido no mundo das artes. Ainda na primeira infância rolava pelo atelier do pai que ficava no próprio apartamento da família Strauss. Seus primeiros passos foram dados em meio a telas, tintas e pincéis.
Lembrando aqueles tempos, Lévi-Strauss (apud WILCKEN, 2011, p. 31) disse:
Leitura
“Meu pai e dois tios meus eram pintores. Minha mãe e duas irmãs se casaram com pintores, e eu nasci e cresci em ateliês de artistas [...], longe de qualquer formação acadêmica [...]. Tinha lápis e pincel na mão, quando comecei a aprender a ler e a escrever”.
Os poucos recursos financeiros não foram empecilhos para que os pais de Lévi-Strauss lhe proporcionassem uma sólida base cultural. Todas as semanas levavam o filho ao teatro para assistir às óperas wagnerianas (Richard Wagner [1813-1883] foi maestro, compositor, diretor e ensaísta alemão) e os concertos de música clássica.
Experimentando todas as formas de artes, crescia o menino que, na vida adulta, iria revolucionar a maneira de praticar Antropologia.
Juventude
 Lévi-Strauss em 1930, aos 30 anos de idade. ( Fonte: https://goo.gl/5a3wtn.)
Em 1925, quando estava com 16 anos, o jovem Lévi-Strauss teve contato pela primeira vez com as publicações do psicanalista Sigmund Freud, Introdução geral da Psicanálise (1917) e A interpretação dos sonhos (1900). Freud teve influência decisiva na obra de Lévi-Strauss, que estudou muito dos temas abordados por Freud, tais como: o tabu do incesto, o mito de Édipo e o totemismo. No livro A oleira ciumenta”, Lévi-Strauss trava uma longa conversa com Freud a quem admirava e criticava na mesma intensidade.
Ainda aos 16 anos Lévi-Strauss toma conhecimento da obra dos grandes pensadores que iria influenciá-lo profundamente: Karl Marx e Friedrich Engels.
Aos 17 anos, enquanto cursava Filosofia, no Liceu, leu O capital (escrito por Marx em 1867), e confessou:
Não entendia nada daquilo. Na verdade, o que eu descobri, em Marx, foram outras formas de pensamento também novas para mim: Kant, Hegel...
Mas com Marx, Lévi-Strauss aprendeu a ultrapassar a barreira do empírico 2:
Leitura
“Marx nos ensinou que as Ciências Sociais se constroem tão pouco nos planos dos acontecimentos [...]. Em um nível diferente da realidade, o marxismo parecia-me proceder da mesma maneira que a Geologia e a Psicanálise, entendida no sentido que lhes dera seu fundador. Os três demonstram que compreender consiste em reduzir um tipo de realidade a outro; que a realidade verdadeira nunca é mais patente; e que a natureza do verdadeiro já transparece no zelo que este emprega em se ocultar. Em todos os casos, coloca-se o mesmo problema, que é o da relação entre o sensível e o racional, e o objetivo pretendido é o mesmo: uma espécie de super-racionalismo, visando integrar o primeiro ao segundo, sem nada sacrificar de suas propriedades (LÉVI-STRAUSS, 2009, p. 55).
Mesmo sendo um leitor precoce dos grandes pensadores, Lévi-Strauss (2009, p. 51) confessou:
Leitura
“Desconhecia tudo acerca da etnologia 3, jamais seguira um curso e, quando Sir James Frazer fez sua última visita à Sorbonne e proferiu uma conferência memorável – em 1928, creio –, embora eu estivesse a par do acontecimento, nem sequer me veio a ideia de assistir a ela”.
Em 1930, Lévi-Strauss recebeu seu diploma em Direito e Filosofia (ele cursou ambos os cursos simultaneamente). A partir de então começou a realizar uma série de exames — conhecida como ordálio da agrégation — que habilitava os graduados a lecionar no ensino médio e, em seguida, vir a lecionar na universidade. Lévi-Strauss foi aprovado na primeira tentativa, começando em seguida a dar aulas de Filosofia.
Na juventude, Lévi-Strauss se distraia dos rigores de sua vida acadêmica visitando a natureza ao redor de Paris. Fora de Paris seu pensamento sintetizava-se. Em maneiras diversas, sempre lhe retornava a mesma ideia, que adotou desde cedo e nunca abandonou.
Para Lévi-Strauss, sempre existiram dois níveis: a realidade e uma espécie de subtexto analítico. Muitas vezes, via-se que a relação entre ele era complexa e escapava à intuição imediata [...].
(WILCKEN, 2011, p. 45)
Durante seus três anos como professor de Filosofia, no ensino médio, tinha uma vaga informação que estava surgindo um campo novo de estudo nas Ciências Humanas. Foi o escritor Paul Nizan quem influenciou Lévi-Strauss a conhecer a etnologia.
Nos tristes trópicos
 Claude Lévi-Strauss em seu trabalho de campo entre o povo indígena caduveu, Brasil, 1938. ( Fonte: https://goo.gl/qzaXst.)
Lévi-Strauss iniciou sua vida profissional como etnólogo quando foi convidado a fazer parte da missão francesa que auxiliou o governo de São Paulo a fundar a Universidade de São Paulo (USP), em 1934.
Em entrevista ao Jornal francês Le Monde, Claude Lévi-Strauss disse:
O Brasil foi a experiência mais importante de minha vida, não só por causa da distância, do contraste, mas também porque determinou minha carreia. Tenho uma profunda dívida com aquele país.
(LE MONDE, 2005)
Em seu livro Tristes trópicos, Lévi-Strauss (1955) conta que sua carreia de etnólogo começa em um domingo de outono de 1934, quando recebeu um telefonema do diretor da Escola Normal Superior, Célestin Bouglé, lhe propondo apresentar sua candidatura comoprofessor de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP).
Bouglé informou a Lévi-Strauss que os arredores de São Paulo estavam repletos de índios e que Lévi-Strauss poderia estudá-los nos fins de semana. Contudo, tais expectativas foram logo desmentidas:
Leitura
Fiquei um tanto espantado quando, durante um almoço a que me levara Victor Margueritte, ouvi da boca do embaixador do Brasil em Paris a versão oficial: “Índios? Infelizmente, prezado cavalheiro, lá se vão anos que eles desapareceram. Ah, essa é uma página bem triste, bem vergonhosa da história de meu país. Mas os colonos portugueses do século XVI eram homens ávidos e brutais. Como reprová-los por terem participado da rudeza geral dos costumes? Apanhavam os índios, amarravam-nos na boca dos canhões e estraçalhavam-nos vivos, a tiros. Foi assim que os eliminaram, até o último. Como sociólogo, o senhor vai descobrir, no Brasil, coisas apaixonantes, mas nos índios, não pense mais, não encontrará nem um único [...]” (LÉVI-STRAUSS, 2009, p. 46).
Lévi-Strauss parte para o Brasil, não para buscar o exotismo “Odeio as viagens e os exploradores (2009:15), mas segundo Dosse (2007: 41) “para abandonar a filosofia especulativa e converter-se definitivamente a uma jovem disciplina ainda muito marginal — a Antropologia”.
Quem era Lévi-Strauss às vésperas de embarcar para o Brasil?
Para Wilcken (2011), ele era:
Leitura
“Um professor do ensino médio, recém-casado, de recursos modestos, que ganhara a feliz oportunidade de ensinar no exterior. Como muitos jovens antes e depois dele, seu idealismo político tinha desaparecido logo depois de concluir seus estudos na universidade.
Havia passado por uma série de instituições francesas, frequentando um liceu parisiense famoso, estudado na Sorbonne, prestando serviço militar e iniciando o magistério na província.
Como temperamento, tinha a severidade dos jovens intelectuais parisienses da época, abrandada por um humor sardônico”. (WILCKEN, 2011, p. 49-50)
No final do ano letivo de 1935, Lévi-Strauss e sua esposa permaneceram no Brasil — os docentes franceses voltavam à Europa para as férias — na tentativa de realizar um trabalho de campo no Brasil. Depois de algumas semanas de viagem, Lévi-Strauss faz contato com os índios caduveu.
Os desenhos pintados pelas índias em suas próprias faces fascinaram Lévi-Strauss durante toda vida. Nas duas semanas que permaneceu entre esse povo, tirou várias fotos dos rostos pintados das mulheres. Em momentos distintos de sua carreira, Lévi-Strauss retomaria o tema das pinturas faciais caduveus.
O segundo grupo indígena com o qual Lévi-Strauss fez contato, no Brasil, foram os bororos. Durante as três semanas que conviveu entre eles, Lévi-Strauss experimentou de fato a experiência etnográfica. Ele conservou até o fim da vida todo material coletado, que era revisitado esporadicamente.
Sobre os bororos, disse:
Leitura
“Estávamos imersos na riqueza e na fantasia de uma cultura excepcional [...]. Era uma sociedade que abolira o tempo, e que anseio maior poderíamos ter do que abolir o tempo e viver em uma espécie de presente, que é um tempo passado, constantemente revitalizado e preservado, tal como foi sonhado no mito e na crença?” (LÉVI-STRAUSS apud WILCKEN, 2011, p. 74)
A influência dos bororos no desenvolvimento do estruturalismo Lévi-straussiano foi decisiva, tanto que, no começo dos anos de 1990, ele disse à equipe de um documentário francês:
Leitura
“Agora que tento reconstruir minha história intelectual – é muito difícil, pois [minha] memória terrível –, tenho a sensação de que sempre fui o que mais tarde veio a se conhecer como estruturalista, mesmo quando criança. Mas conhecer os bororos, que eram os grandes teóricos do estruturalismo – aquilo foi dádiva dos céus para mim!” (LÉVI-STRAUSS apud WILCKEN, 2011, p. 75)
Em 1937, Lévi-Strauss parte para seu último trabalho de campo, no Brasil, e dessa vez realizará suas pesquisas etnográficas entre os índios nhambiquaras e os mundés.
Podemos observar as primeiras impressões sobre os nhambiquaras em uma carta que ele enviou do campo ao poeta e escritor brasileiro Mário de Andrade:
Leitura
“Sobre a viagem, não direi nada. Esta região do Brasil é uma terra deserta e esquecida por Deus, por onde viajamos 700 quilômetros. Fomos recebidos calorosamente pela equipe de funcionários do telégrafo em Utiariti, que haviam preparado uma bela cabana nas margens do rio, situada, em um gesto de grande consideração, bem ao lado do acampamento nhambiquara.
Escrevo-lhe entre uma quinzena de homens, mulheres e crianças totalmente nus (mas é uma pena, pois o corpo deles não é bonito), de índole extremante acolhedora, visto que são o mesmo grupo (e provavelmente os mesmos indivíduos) que matou missionários protestantes em Juruena, cinco anos atrás.
Infelizmente, o trabalho promete ser muito difícil: não há intérprete disponível, é completa a ignorância do português, e é uma língua fonética que parece impossível de entender. Mas estamos aqui apenas há 24 horas”. (LÉVI-STRAUSS apud WILCKEN, 2011, p. 94)
1
Entre os índios caduveus, Lévi-Strauss tinha ficado impressionando com a beleza estética dos rostos femininos belamente pintados.
2
Na aldeia bororo, com seu formato circular, entendeu a complexidade da cultura daqueles índios.
3
Já os nhambiquaras, com sua cultura extremamente rudimentar, não ofereciam a Lévi-Strauss nenhuma via fácil de acesso.
Os nhambiquaras são assim descritos por Wilcken (2011, p. 94-95):
Leitura
Falavam uma língua sussurrada e ciciante. Dormiam nus na terra batida, rolando para perto das brasas da fogueira noturna quando a temperatura caía na madrugada [...] seus bens terrenos que mal chegavam a encher os cestos cilíndricos que amarravam na testa, ao estilo sherpa [...].
As duras condições enfrentadas em seu trabalho de campo — calor, longas jornadas de caminhadas, privações alimentares, entre outros — e as dificuldades de localizar uma via de acesso à cultura nhambiquara, fizeram Lévi-Strauss repensar os quase cinco anos de sua vinda para o Brasil:
Leitura
“Agora, fazia quase cinco anos desde que eu saíra da França e interrompera minha carreira universitária. Enquanto isso, meus colegas mais prudentes estavam começando a escalada acadêmica: os que tinham tendências políticas, como eu tivera antes, já eram membros do parlamento e logo seriam ministros.
E aqui estava eu, palmilhando regiões desertas atrás de alguns patéticos remanescentes humanos”. (LÉVI-STRAUSS apud WILCKEN, 2011, p. 100)
A expedição se aproximava do fim. O último grupo indígena a realizar contato foi dos mundés. Lévi-Strauss foi o primeiro antropólogo a ter contato com eles. Apesar de ter passado apenas quatro dias entre esse grupo indígena, afirma: “captei aspectos do pensamento e da organização social mundés [...] – o vocabulário e o sistema de parentesco, os nomes das partes do corpo e o vocabulário das cores, segundo um diagrama que eu sempre levava comigo” (LÉVI-STRAUSS apud WILCKEN, 2011, p. 107).
Assim, chegava ao fim o trabalho de campo. Novamente, ele escreve ao amigo Mário de Andrade:
Leitura
“A viagem foi longa e difícil, mas nunca esquecerei esses oito meses; foram repletos de experiências fascinantes. Em termos científicos, penso que renderam um bom material, com muitas coisas novas – material que irá alterar a fundo o pensamento corrente. Acredito sinceramente que a expedição deixará sua marca”. (LÉVI-STRAUSS apud WILCKEN, 2011, p. 111)
Exílio
Em 1939, Lévi-Strauss volta a Paris, objetivando assumir uma vaga de professor no Lycée Henri-IV que lhe estava reservada. Entretanto, com a proximidade da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ele parte para a América do Norte, chegando a Nova York em maio de 1941. Lá se apresenta na New School for Social Research, uma espécie de centro de acolhida para exilados da guerra.
Em Nova York, Lévi-Strauss visita os museus, percorre os corredores das bibliotecas das grandes universidades, vasculha as ruas à procura de antiquários e sebos, conhece poetas e artistas boêmios do surrealismo 4: “Fiquei amigo de Breton. Eleme introduziu no círculo dos surrealistas, que acabava de reencontrar” disse Lévi-Strauss em entrevista realizada por Eribon, e ainda: “encontrávamos uns na casa dos outros. O “jogo da verdade” estava muito na moda. E nós explorávamos juntos os restaurantes exóticos de Nova York”. (p. 50). Mas, segundo Wilcken (2011):
Leitura
“A ligação de Lévi-Strauss com o surrealismo foi uma associação fecunda de ideias. Ele se interessava pelas preocupações artísticas daqueles meados do século: o poder subversivo do subconsciente, a importância do mito, da irracionalidade e da justaposição. Os surrealistas consideravam a Antropologia e a Psicologia as principias disciplinas modernistas”. (WILCKEN, 2011, p. 134)
Em Nova York, Lévi-Strauss também entrou em contato com alguns antropólogos, dentre os quais destaca-se Franz Boas — estudado na Aula 2 — e uma das suas discípulas a também antropóloga Ruth Benedict.
Lévi-Strauss começou a lecionar no outono de 1941 na New School for Social Research. Já no começo do ano de 1942 foi inaugurada, em Nova York, a Ècole Livre de Hautes Études, uma espécie de universidade francesa no exílio. Lá, Lévi-Strauss começou a lecionar Antropologia e conheceu o linguista russo Roman Jakobson.
Jakobson introduziu Lévi-Strauss aos vários conceitos da Linguística — por exemplo, a distinção da língua como sistema abstrato e a língua como é falada — que Lévi-Strauss introduziu para as Ciências Sociais. Assim, segundo Wilcken (2011, p. 164):
Leitura
Os diversos fios de pensamento de Lévi-Strauss agora se juntavam. A nova linguista traçava uma linha que abrangia toda sua história intelectual anterior — o fascínio por Marx e Freud, o interesse pela Geologia.
Ele percebeu que os relatórios etnográficos que andava lendo, por mais vívidos que fossem não passavam de meros fonemas de superfície — como a paisagem para a Geologia, os fatos históricos para o marxismo, o desejo, a repulsa e a neurose para a Psicanálise.
Estruturalismo
 “Almoço estruturalista”. ( Fonte: https://goo.gl/QiCkgU.)
Lévi-Strauss volta a Paris em 1948, assumindo uma seção da École Pratique des Hautes Études, da Universidade de Paris. Em 1958, publicou a coletânea Antropologia Estrutural, na qual afirma que, para merecer o nome de “estrutura 5” um modelo científico deve satisfazer, exclusivamente, a quatro condições:
Em primeiro lugar, o modelo deve oferecer um caráter de sistema, isto é, consistir de elementos tais que uma modificação qualquer de um deles acarrete alteração em todos os outros.
Em segundo lugar, todo modelo deve pertencer a um grupo de transformações – cada uma das quais corresponda a um modelo da mesma família, de modo que o conjunto dessas transformações constitua um grupo de modelos.
Em terceiro lugar, as propriedades exigidas por essas duas condições devem prever de que modo reagirá o modelo, em caso de modificação de um dos elementos.
Finalmente, é necessário que o modelo seja construído tal como seu funcionamento possa explicar todos os fatos observados. (LÉVI-STRAUSS, 2008, p. 301-302)
Observamos que a primeira dessas condições revela a posição de Lévi-Strauss — e dos demais estruturalistas — contra o empirismo. Pois o empirismo revela a realidade tal como é observada pelos sujeitos por meio da experiência do sensível, o objeto observado passa a ser o que é dado, o fato.
Para o Estruturalismo Lévi-straussiano, um fato isolado, por si mesmo, nunca possui um significado. Lévi-Strauss trás como exemplos os vocábulos fromage, cheese e queijo.
Esses, quando isolados da estrutura alimentar que os determina, aparentemente se referem à mesma realidade. O mesmo não acontece quando são considerados no interior das distintas estruturas alimentares a que pertencem como por exemplo, a cozinha francesa, a cozinha inglesa ou a cozinha brasileira, nas quais se revelam completamente diferentes. Assim, para os franceses, fromage conota um gosto picante, enquanto para os ingleses cheese quase não possui gosto, e para os brasileiros, queijo denota um sabor salgado.
Para Lévi-Strauss, uma estrutura se constrói tendo como base oposições binárias pertinentes. A pertinência dessa oposição é definida como uma operação que pressupõe:
Cada unidade da estrutura é uma simples relação, insignificante em si mesma.
A descrição das unidades relativas deve cobrir a totalidade dos fenômenos de um campo assim estruturado.
Os elementos não pertinentes devem ser eliminados.
A estrutura deve ser construída a partir das menores unidades significativas do domínio estudado.
Ademais, as oposições binárias pertinentes conferem valor aos elementos constituintes do sistema. Esse valor é exclusivamente de posição.
Assim, para Lévi-Strauss, a estrutura é um sistema de relações. A partir de sistemas desse gênero, a sociedade é feita de:
Parentesco e filiação
Comunicação linguística
Troca econômica
Arte
Mito
Ritual
Atividade
2. Enquanto no século XX operava-se uma forte fragmentação do trabalho intelectual, Lévi-Strauss procurou inspiração para sua abra na arte e na tecnologia. Quais foram as principais áreas do conhecimento que influenciaram Lévi-Strauss na elaboração do seu método de análise estruturalista?
Gabarito
Claude Lévi-Strauss propôs, em sua obra, a junção de áreas do conhecimento historicamente separadas desde longa data: as Ciências Sociais e as Ciências Exatas, a cultura e a natureza. Observamos, também, uma forte inspiração do surrealismo, da Linguística, da estética e da música. Em seu estudo sobre o parentesco, percebemos a influência da cibernética e da Matemática moderna. Nos estudos dos mitos, a inspiração vem das partituras musicais. Por fim, em seu estudo sobre o pensamento indígena, sentimos a presença das artes visuais. Assim, de acordo com Dosse (2007, p. 39):
“Dividido entre a vontade de reconstruir as lógicas internas, subjacentes ao real, e uma sensibilidade poética que o liga fortemente ao mundo da natureza, Lévi-Strauss concebeu grandes sínteses intelectuais no modelo das partituras musicais”.
3. Em seus livros As estruturas elementares do parentesco (1952) e Antropologia estrutural (1958), Lévi-Strauss opôs-se à perspectiva descritiva dominante na Antropologia até antão praticada, assumindo a análise estrutural, em que a estrutura é o conjunto de instituições típicas de uma dada sociedade.
Esse pressuposto teórico foi assumido no campo da Psicanálise por Jacques Lacan; na Teoria Literária, por Roland Barthes; e na Filosofia, por Michel de Foucault.
A noção de estrutura funcionou como unificadora para muitas Ciências Humanas. Michel Foucault afirmava que o estruturalismo “não é um método novo, ele é a consciência despertada e inquieta do saber moderno”. Jacques Derrida definia essa abordagem como uma “aventura do olhar”, e Roland Barthes enxergava o estruturalismo como a passagem da consciência para a ciência paradigmática, ou seja, o advento da consciência do paradoxo (DOSSE, 2007, p. 12).
De acordo com Claude Lévi-Strauss, o que é estrutura?
Gabarito
Em seu livro Antropologia estrutural, publicado em 1958, Lévi-Strauss (2008, p. 301-302) afirma que, para merecer o nome de “estrutura”, um modelo científico deve satisfazer, exclusivamente, a quatro condições:
1ª – O modelo deve oferecer um caráter de sistema, isto é, consistir de elementos tais que uma modificação qualquer de um deles acarrete alteração em todos os outros.
2ª – Todo modelo deve pertencer a um grupo de transformações – cada uma das quais corresponda a um modelo da mesma família, de modo que o conjunto dessas transformações constitua um grupo de modelos.
3ª – As propriedades exigidas por essas duas condições devem prever de que modo reagirá o modelo, em caso de modificação de um dos elementos.
4ª – É necessário que o modelo seja construído tal como seu funcionamento possa explicar todos os fatos observados.

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