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CORRADI, Gabriela - Disciplina Militar na Universidade - VIII Ephis UFMG

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Disciplina militar na universidade: a federalização da 
Escola de Educação Física de Minas Gerais 
 
Gabriela Fischer Fernandes Corradi 
Mestranda em História e Culturas Políticas 
Universidade Federal de Minas Gerais 
gabifischer86@gmail.com 
 
Resumo 
 
O Decreto-lei nº 997, 21 de outubro de 1969, determinou a incorporação das Escolas de 
Educação Física de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul e a Escola de Serviço Social de 
Natal às Universidades Federais de seus respectivos Estados. Assim a Escola de Educação 
Física (EEF) de Minas Gerais passa a ser uma unidade acadêmica da UFMG. O que esse 
episódio nos diz sobre o momento político no qual se encontrava o Brasil? Esse é o ponto 
central da minha pesquisa. A EEF se incorpora à UFMG trazendo toda sua estrutura, alunos e, 
principalmente, seus 32 professores. A EEF foi fundada em Minas em 1952, sendo, no início, 
2 escolas – uma do Estado de Minas Gerais e outra das Faculdades Católicas. Pela baixa 
procura, as duas escolas, praticamente idênticas, se fundem em 1953, passando a ser 
financiada pelo Estado e administrada pela Universidade Católica. Com 17 anos, a EEF chega 
à UFMG em pleno funcionamento, ainda que sob uma séria crise. O meu particular interesse 
pela EEF é o fato de ela abrigar uma estrutura bastante conveniente para a Ditadura e 
inconveniente para a UFMG. Isso se devia principalmente ao fato de 12 de seus professores 
serem militares e por terem grande comunicação direta com o governo federal. Essa ligação é 
fundamental para compreender com quais estratégias a Ditadura Militar tentou entrar na 
Universidade. A Educação Física foi uma dessas estratégias, pois essa disciplina é 
historicamente marcada por sua ligação com as forças armadas e com o espírito militar. Essa 
ligação é bastante explorada no artigo “In Corpore Sano” (1997) de Celso Castro (FGV) que 
atribui ao exército brasileiro a responsabilidade pela implantação da Educação Física no 
Brasil. Foucault também evidencia essa ligação ao dizer que a disciplina e o adestramento se 
alcançam, dentre outras formas, pelos exercícios físicos “única cerimônia que realmente 
importa” (Vigiar e Punir. Vozes, 2014, p.135). Na UFMG, a EEF cumpriria o papel de estar 
em todos os cursos, incutindo a moral e disciplina nos jovens, desenvolveria projetos do 
governo, como o Projeto Brasil (1974) e teria professores alinhados com seus propósitos 
como contato direto com a universidade, ferindo, segundo minha hipótese, a autonomia que 
UFMG prega ter exercido durante a Ditadura. Preste a completar 50 anos, a “federalização” 
da EEF é ainda nebulosa e o interesse militar pela Educação Física é subestimado pela 
historiografia. Minha intenção é jugar luz sobre esse episódio, deste período tão sombrio de 
nossa história. 
 
Palavras-chave: Ditadura Militar; educação física; universidades. 
 
As relações estabelecidas entre a Ditadura Militar e as universidades se inscrevem no 
contexto das profundas mudanças ocorridas no país e, especialmente, na estrutura do ensino 
superior no Brasil. Oficializada pela Lei nº 5540, no final de 1968, a reforma universitária já 
era pauta do governo do presidente deposto João Goulart. Modernizar o ensino superior era 
uma necessidade, mesmo para o governo instaurado com o golpe de 1964. Mas as mudanças 
previstas por Goulart, e almejadas por grande parte da comunidade universitária, não se 
encaixavam nos planos do novo governo que, apesar de não possuir um projeto definido, tinha 
em sua essência a rejeição a qualquer ideia tida como esquerdista ou comunista, adjetivos 
comumente atribuídos ao presidente deposto e aos seus projetos de reforma de base. 
Em uma comparação inevitável, a ditatura militar brasileira se diferenciava 
essencialmente dos outros regimes autoritários do Cone Sul por ser modernizadora. Segundo 
Renato Ortiz, além dessa diferença em relação às ditaduras dos vizinhos, o regime militar era 
radicalmente diferente dos governos anteriores do nosso próprio país, pois, graças à sua 
natureza autoritária, ele podia apontar as metas a serem atingidas com maior eficácia e 
racionalização (ORTIZ, 2014, p.113). Por sua composição heterogênea, o grupo vitorioso de 
1964 acabou por desenvolver uma política de controle que visava ao amortecimento de 
conflitos sociais e políticos entre diversos grupos, tanto quanto fosse possível. 
Paradoxalmente, o sucesso dessa política dependia da existência de um aparato repressivo 
eficiente. Assim, as ações do governo podem ser traduzidas pela ideia de modernização 
conservadora ou autoritária, o que traduz as contradições que muitas vezes puderam ser 
percebidas nas políticas do regime – O período militar combina repressão política e expansão 
econômica, ação policial e modernização da máquina do Estado e incentivo às atividades 
empresariais (ORTIZ, 2014, p.114). É nesse pacote de modernizações conservadoras que as 
universidades vão passar pelas reestruturações que fizeram delas o que conhecemos hoje. 
A modernização era também uma demanda dos embaixadores estadunidenses, 
aliados do novo governo. A influência norte-americana foi uma das responsáveis pela 
inclusão das universidades na lista das reformadas, os acordos estabelecidos entre o Brasil e 
os EUA – os acordos MEC-Usaid
1
 – foram muito importantes para o desenvolvimento 
acadêmico no Brasil. 
Antes das reformas as faculdades se organizavam em torno dos professores 
catedráticos, figuras poderosas, com cargos vitalícios, que eram apontados como os grandes 
responsáveis pela fraca produção científica do país. Os professores inferiores na hierarquia 
eram pouco produtivos, pois eram mal remunerados e não tinham autonomia, tendo suas 
atividades determinadas pelos professores catedráticos de suas áreas. Além disso, o número 
de vagas ofertadas para os cursos superiores era muito reduzido. 
 
1 MOTTA, 2014b, p.110 e sgts. 
As propostas para as reformas eram muitas e muito distintas, assim como eram os 
grupos dos componentes e apoiadores da ditadura. Assim, apesar de se tratar de um governo 
autoritário, o regime militar acabou não optando por um único projeto de reforma, 
acomodando diferentes pressões e opiniões em uma reforma que combinava elementos, por 
vezes, conflitantes e contraditórios
2
. 
A UFMG foi pioneira nas reformas, que nela já estavam em curso antes de ser 
promulgada a Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968. Pouco tempo antes do golpe, assume 
a reitoria o professor Aluísio Pimenta (1964-1967), que foi responsável por várias mudanças, 
melhorando, por exemplo, a gestão orçamentária, destinando uma parte significativa dos 
recursos para um fundo de pesquisa. Por estar incluída, em sua ampla base de apoio, a 
esquerda, a gestão de Pimenta foi interrompida por uma intervenção militar, que fez com que 
um coronel fosse nomeado interventor durante quatro dias. Ainda que Pimenta tenha 
reassumido o cargo, essa era uma amostra do tom que seria dado à relação da ditadura militar 
com as universidades. Como a única pauta que o unia claramente os vitoriosos de 1964 era o 
anticomunismo, a primeira preocupação deste governo foi o expurgo dos inimigos derrotados 
– na chamada Operação Limpeza
3
 – que nas universidades fez com que muitos professores, 
funcionários e alunos fossem perseguidos, expulsos e presos imediatamente após o golpe. 
Nessa onda de perseguições, a UFMG era uma das universidades mais visadas por possuir 
muitos intelectuais e estudantes envolvidos com organizações de esquerda
4
. Mas muitos 
professores acabaram sofrendo perseguições, ainda que não fossem comunistas, “por 
defenderem a ordem democrática e a liberdade de expressão, sendo taxados como 
colaboradores de grupos „subversivos‟” (FERNANDES, 2013, p.4). A ditadura não foi um 
período fácil para as universidades que, apesar da inquestionável modernização, sofreu com 
uma diversidade de açõesrepressivas e de censura. 
Findada a ditadura militar, ou pelo menos os anos de chumbo dela, teve início um 
movimento de reconstrução das memórias de vários grupos em relação à ditadura, 
especialmente das esquerdas. Naquele momento “toda a sociedade civil parecia ser 
oposicionista e democrática” (NAPOLITANO, 2014, p.14). Assim também aconteceu com a 
memória da UFMG sobre suas posições diante do governo ditatorial dos militares. Ao tratar 
das memórias sobre a UFMG durante a ditadura militar
5
, Iara Silva analisa e questiona a ideia 
de que a universidade era completamente autônoma em relação ao regime e resistente a ele. 
 
2 MOTTA, 2014a, p.21. 
3 Estima-se que entre 20 e 30 mil pessoas tenham sido detidas no momento do golpe. MOTTA, 2014b, p.26. 
4 FERNANDES, 2013, p. 4. 
5 SILVA, 2017. 
Ao criticar essa memória de resistência, ela reforça que “é fundamental destacar que os 
dirigentes da UFMG tampouco eram colaboradores do regime e não eram entusiastas da 
perseguição a estudantes, funcionários e docentes” (SILVA, 2017, p.56), mas que um 
determinado grupo de docentes foi capaz de permanecer por um período considerável no 
poder dentro da universidade “por estarem bem articulados no interior da instituição e, 
também, por conseguirem manter relações, ainda que conflituosas em alguns momentos, de 
diálogo com a ditadura” (SILVA, 2017, p.21). 
No contexto a UFMG recebe, por decreto, a Escola de Educação Física de Minas 
Gerais como sua nova unidade acadêmica. O caso dessa incorporação é importante para a 
compreensão das relações estabelecidas entre a ditadura e a UFMG, pois pode ser entendido 
como um caso de intervenção do regime na universidade. 
Segundo Celso Castro, a introdução da educação física no Brasil foi uma iniciativa 
militar, quando “a Educação Física era vista pelo Exército e por amplos setores do Estado e da 
sociedade civil como uma atividade militar” (CASTRO, 1997, p.62). Em 1929, a Educação 
Física passou a ser obrigatória em todos os estabelecimentos de ensino, para todos os 
estudantes, de ambos os sexos, a partir da idade de 6 anos, o que aumentava a demanda por 
professores. Em 1933 foi criada a Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), que, em 
1938, formava, em caráter de emergência, professores civis “incutindo-lhes o espírito de 
ordem e disciplina” (CASTRO, 1997, p.67). Em 1939 é criada a Escola Nacional de Educação 
Física e Desportos (ENEFD), na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, que se baseava no 
modelo da Escola do Exército. 
Antes da criação das primeiras Escolas na capital mineira, os professores só se 
formavam em cursos superiores de Educação Física se saíssem do Estado, sendo a ENEFD o 
principal destino. Para os que desejavam se formar professores sem sair de Minas Gerias 
havia duas maneiras. A formação das professoras se dava através de cursos de 
aperfeiçoamento, oferecidos às normalistas que apresentassem maior vigor físico e 
habilidades para a área. Os homens se formavam entre os jovens militares mais dispostos para 
as atividades esportivas. Normalmente, eram militares de baixa patente e origem mais 
humilde6. Em 1952 foram inauguradas duas Escolas de ensino superior de Educação Física – 
uma do Estado e outra das Faculdades Católicas de Minas Gerais. Mas, a baixa procura e os 
 
6 “Fazia-se, pois, necessário encontrar pessoas de classes menos favorecidas, que fossem capazes de se 
submeterem ao trabalho árduo de ensinar natação. Fundamentava-se, com certeza, na associação do ensino da 
natação – e por extensão, da Educação Física – ao trabalho manual, impróprio para a elite”. SOUSA, 1994, 
p.112. [grifo meu] 
altos custos para a manutenção de duas escolas praticamente idênticas
7
, acabou levando as 
duas escolas a se fundirem, em 1953
8
. 
Com a subida dos militares ao poder em decorrência do golpe de 1964, a educação e 
a educação física passam por significativas mudanças, especialmente a partir de 1968. Para 
Marcus Taborda, que investiga as políticas estatais para a educação física escolar no período 
da ditadura militar
9
, houve mudanças na formação dos professores da Educação Física, uma 
vez que a disciplina, com essas políticas, passou a ser reduzida aos códigos das instituições 
esportivas. Ainda que reduzida ao esporte, o novo regime promovia uma valorização da área e 
neste momento o campo adquiria os contornos acadêmicos que tanto almejava. A 
modernização autoritária, marca das reformas do Regime, atendia ao clamor da Educação 
Física por sua cientificização e investia em uma área estratégica, capaz de dar conta do tempo 
livre dos alunos, ao mesmo tempo em que desumanizando sua prática, valorizando o 
desenvolvimento técnico em detrimento do desenvolvimento crítico e completo
10
. 
Em 21 de outubro de 1969 a Escola de Educação Física de Minas Gerais foi 
federalizada pelo Decreto-lei nº 997, deixando de ser uma escola do Estado de Minas Gerais, 
agregada à Universidade Católica (UCMG), passando à UFMG. A federalização era um 
desejo antigo da Escola, que vinha passando por sérias dificuldades desde meados dos anos 
1950. Mas a incorporação à UFMG não resolveu de imediato os problemas enfrentados até 
então. O decreto que federalizou a EEFMG transferiu, como consequência, toda sua estrutura 
e todo seu quadro de funcionários para a UFMG. O curto documento tratava apenas de 
incorporar as escolas
11
 mencionadas às Universidades Federais de seus estados, mas não 
trazia nenhuma informação sobre como proceder para integrar total e efetivamente as escolas 
federalizadas, deixando toda a iniciativa para a integração por conta dos Reitores das 
instituições que estavam recebendo essas escolas. 
 
7 O currículo das duas escolas só se diferenciava pela presença da cadeira de Cultura Religiosa ofertada apenas 
na unidade das Faculdades Católicas. Com a fusão das escolas, o currículo adotado foi o das Faculdades 
Católicas, mantendo o ensino religioso. 
8 A fusão se deu em acordo firmado entre D. Cabral, então arcebispo de Belo Horizonte e Reitor da UCMG, e 
JK, então governador do Estado. A escola passou a funcionar de forma híbrida – mantida com recursos estaduais 
e administrada pela UCMG. 
9 OLIVEIRA, 2004. 
10 “O que se vê no interior da Revista [Brasileira de Educação Física] é um debate em torno da desumanização da 
sociedade e das práticas culturais em geral. (…) A “modernização” – mote da ditadura militar – tinha chegado 
pra ficar”. (OLIVEIRA, 2004, p.04). 
11 O decreto incorporava às universidades federais de seus estados três escolas: as Escolas de Educação Física de 
Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, e a Escola de Serviço Social de Natal. 
Foram integrados ao quadro de pessoal da UFMG 32 professores
12
 vindos da Escola 
de Educação Física da UCMG. Alguns deles já atuavam há mais de 30 anos como professores 
de Educação Física, muitos eram fundadores do curso superior em Minas Gerais. Destes 
professores, 14 eram, na UCMG, professores catedráticos, transformados em titulares com a 
Reforma Universitário de 1968. Todos os professores esperavam que, ao serem incorporados 
à UFMG, teriam seus cargos mantidos sem grandes problemas. Mas, todos os titulares foram 
enquadrados como Professores Adjuntos. Esse enquadramento, que “rebaixava” os titulares à 
posição de adjuntos, pegou os professores de surpresa, que, desapontados, abriram um 
processo solicitando que os cargos originais fossem reestabelecidos. Em 1971, quase dois 
anos após o Decreto 997, o Processo nº045 é aberto no Conselho de Graduação, com o 
objetivo de resolver a questão do enquadramento do pessoal docente da EEFMG. O processo 
se arrastou por mais 2 anos passando por cinco órgãos diferentes. Uma Comissão Especial foi 
criada em 1973 para realizar os estudos pertinentesao caso e realizar o enquadramento dos 
professores. O primeiro parecer e o último
13
 sobre o caso são os únicos favoráveis à 
reivindicação dos professores da EEF. Os relatores de outros órgãos que produziram algum 
documento referente ao processo traziam sempre as mesmas (in)conclusões: os relatores se 
declaravam incapazes de julgar os títulos e méritos dos professores da unidade, pois, nos 
currículos apresentados por estes professores, os títulos seriam “diversos e revestidos de 
peculiaridades especiais”
14
. 
Mas, o que havia de tão peculiar na formação destes professores? Dos 33 docentes da 
Escola de Educação Física, 13 tinham formação considerada superior em Educação Física. 
Nove eram médicos. Seis tinham formação em outras áreas, como Letras, Jornalismo, Direito 
e Teologia. Mas, sobre a formação acadêmica destes professores, o mais surpreendente é que 
6 deles não possuíam nenhuma formação superior, sendo que 3 destes eram professores 
Titulares na UCMG. Outro ponto interessante é que nenhum dos 33 professores possuía 
mestrado ou doutorado, nem mesmo os médicos. 
Apesar disso, os currículos apresentados pelos professores são extensos e detalhados, 
mostrando inúmeros feitos, publicações e cursos. Mas, em sua maioria, as qualificações 
profissionais, os méritos destes professores, especialmente os que ocupavam cadeiras de 
 
12 No processo constam sempre 33 professores, mas foram trazidos da UCMG 32. O professor Fernando Antônio 
Grosso foi contratado em 1971, em meio ao processo de enquadramento. Assim, me refiro durante todo o 
restante do texto aos 33 professores presentes nos documentos que compõe o processo, meu objeto. 
13 Um em 1970 outro em 1973, ambos pelo mesmo professor, Amaro Xisto de Queiroz, e ambos solicitados 
diretamente pelo reitor, Marcello de Vasconcellos Coelho. 
14 Trecho do parecer final da Comissão Especial da Coordenação de Ensino e Pesquisa, criada para realizar o 
exame dos títulos dos professores da EEF para fins de enquadramento. EEFFTO/CEMEF-Fundo Escola de 
Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (1969-1979) – CX.01/PT.07. 
ensino de esportes, eram baseados em conquistas esportivas – medalhas, prêmios como atleta 
ou como treinador e a produção de manuais de regras esportivas. Além da formação um tanto 
particular, havia o que é ponto o mais interessante, dado o contexto político da época: muitos 
destes professores eram militares – 12 dos 33 professores, metade dos homens que 
lecionavam na EEF pertenciam às Forças Armadas Brasileiras ou à Polícia Militar de Minas 
Gerais. Esse pertencimento fica muito aparente nos currículos destes professores, pois alguns 
dos méritos apresentados eram os feitos militares – medalhas, patentes e atuação em órgãos 
militares. 
A inserção da Escola de Educação Física na UFMG é um indicativo da conturbada 
relação estabelecida entre esta universidade e o regime. A Escola chegou à UFMG com 32 
professores em plena atuação. Mas, ao serem incorporados à UFMG, estes professores se 
viram sem condições de administrar devidamente a unidade, pois sem titulares não havia 
Congregação, órgão fundamental para a administração das escolas
15
. O que parece ter havido 
neste caso foi uma tentativa, por parte de setores da UFMG, de impedir integração efetiva da 
escola, impedindo também seu funcionamento regular, o que era sentido pelos professores. 
Mas, essa tentativa de impedir o enquadramento não se deu como resistência frontal ao 
decreto. Havia apenas uma protelação que parecia não ter fim. 
Além da composição peculiar deste corpo docente, a EEF possuía uma estreita 
relação com o Departamento de Educação Física e Desporto do MEC. Desta relação vinham 
para a escola financiamentos diversos, inclusive uma vultosa verba para a construção da sede 
no campus
16
. As vantagens desta relação para o regime viriam através do importante papel 
que a escola desempenharia em seu favor dentro da UFMG: 
De acordo com a Resolução n. 5/70, da Coordenação de Ensino e Pesquisa, a 
prática de Educação Física na Universidade Federal de Minas Gerais será 
ministrada ou orientada pela Escola de Educação Física. Todos os 
professores de Educação Física das escolas, faculdades e institutos que 
compõe a UFMG, deverão pertencer ao Departamento de Educação Física 
desta Escola, a ser instalado. Dirigindo, coordenando ou orientando todas as 
atividades de educação física e dos desportos na Universidade Federal de 
Minas Gerais, nossa Escola desempenhará o papel de verdadeiro elo de 
 
15
 Em ofício de abril de 1973, o então diretor da EEF, Pedro ad‟Víncula Veado Filho relata a importância da 
resolução do caso para a unidade: “Várias questões, de interesse vital para a administração da unidade, estão a 
espera da constituição de sua congregação e esta, por sua vez depende da solução do assunto em pauta”. 
EEFFTO/CEMEF-Fundo Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (1969-1979) – 
CX.01/PT.07. 
16 “A construção da nova sede é a principal meta da atual administração da Escola e contou desde logo com o 
apoio do Departamento de Educação Física e Desportos do Ministério da Educação e Cultura, que já destinou ao 
empreendimento vultosa verba”. Trecho do documento intitulado “A Escola de Educação Física no „campus‟ 
Pampulha”, de 30 de outubro de 1972, produzido pelo então diretor da Escola Pedro ad‟Víncula Veado Filho. 
EEFFTO/CEMEF-Fundo Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (1969-1979) – 
CX.01/PT.07. 
congraçamento e integração estudantil, numa posição de extraordinária 
importância na vida universitária
17
. [grifo meu] 
Conclusão 
Com a definição do processo de enquadramento dos professores, a Escola de 
Educação Física pôde, nos anos seguintes, exercer suas atividades pedagógicas e 
administrativas devidamente. Durante o restante da década de 1970 a escola experimentou 
grandes avanços e conquistas para si própria e para o campo em geral. 
O ano de 1974 foi de trabalho intenso para os professores da EEF. Para começar, era 
preciso realizar uma reforma curricular. Desde a federalização, e devido a Reforma 
Universitária, e escola havia apenas adaptado seus currículos ao sistema de créditos, mas não 
havia ainda o reestruturado para se adequar ao novo perfil do ensino universitário que a 
Reforma vinha implantar. Nesse mesmo ano a Escola apresentou sua proposta de reforma ao 
CEP e acabou se envolvendo em mais um episódio de tensão com a universidade. A proposta 
foi rejeitada e a EEF só conseguiria aprovar um novo currículo em 1976. 
Neste mesmo ano a EEF desenvolveu um dos projetos mais importantes para a 
análise que esta pesquisa pretende fazer, na busca pelos elementos de ligação entre a Ditadura 
Militar e Educação Física no país. O Projeto Brasil foi realizado pela Ditadura Militar durante 
o ano de 1974, com coordenação central no Laboratório de Fisiologia do Exercício da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (LABOFISE/UFRJ) e fazia parte um projeto ainda 
maior chamado Campanha Nacional de Esclarecimento Desportivo. O Projeto Brasil tinha 
como principal objetivo realizar estudos diversos sobre as condições físicas dos cidadãos 
brasileiros, para ser vir de base ao desenvolvimento de políticas para saúde e educação. A 
EEF, dentro da UFMG desenvolveu as atividades do Projeto Brasil, realizando medições e 
estudos sobre o corpo de diversos cidadãos mineiros, apresentando seus relatórios para o 
DED/MEC. O Projeto representou um importante avanço para o desenvolvimento científico 
do campo e da própria escola, pois resultou na inauguração de seu primeiro laboratório de 
pesquisa, o Laboratório de Fisiologia do Esforço, o LAFISE
18
, em 1976. Os alunos da 
 
17
 Correspondência do diretor da EEF, Pedroad‟Víncula Veado Filho, destinada ao diretor do Departamento de 
Educação Física e Desportos do MEC, Coronel Eric Tonico Marques, em janeiro de 1971. EEFFTO/CEMEF-
Fundo Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (1969-1979) – CX.01/PT.07. 
18 Hoje, Laboratório de Fisiologia do Exercício, mantendo a sigla. Na época, o termo “esforço” era bastante 
utilizado para dar um ar mais científico para os estudos dos efeitos do movimento proveniente das práticas 
esportivas. 
EEF/UFMG também estiveram presentes, que realizaram colônias de férias do Projeto 
Rondon
19
 em Barreiras, na Bahia, e em Iguatu, no Ceará, entre 1972 e 1976
20
. 
Assim, entendo que a Educação Física se desenvolveu a passos largos durante o 
regime militar, por ser área estratégica, merecendo, assim, grande atenção por parte de um 
governo. Isso porque ela era uma importante ferramenta para a consolidação de um projeto 
educacional que fosse favorável à manutenção do regime, especialmente pelo seu caráter 
potencialmente disciplinador, aproximando a sociedade civil dos valores militares. 
 
Bibliografia 
AMATO, Gabriel. Aula prática de Brasil no Projeto Rondon: estudantes, ditadura e 
nacionalismo. São Paulo: Alameda, 2019. 
CASTRO, Celso. In corpore sano – os militares e a introdução da Educação Física no Brasil. 
Antropolítica, p. 61-78. 1997. 
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Zahar Ed., 2004. 
COSTA, Lamartine Pereira da. Diagnóstico de educação física e desporto no Brasil. 
Brasília: DED-MEC, 1971. 
CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade Reformanda. São Paulo: Editora UNESP, 2007. 
CUNHA, Luiz Antônio. Reforma Universitária em crise: gestão, estrutura e território. 
Avaliação: Revista Da Avaliação Da Educação Superior. p. 7-21. 1998 
FERNANDES, Luan Aiuá Vasconcelos. Repressão nas universidades latino-americanas: A 
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– XXVII Simpósio Nacional de História– Natal, 2013. 
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2014. 
KANITZ, Roberto Camargos Malcher. Escola de Educação Física de Minas Gerais (1950-
1958): O começo de uma história. 107 f.: Monografia (Graduação) – Universidade Federal de 
Minas Gerais, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Belo 
Horizonte, 2003. 
MARTINS, Mateus Carneiro. Dossiê 'situação da escola': indícios da crise vivida pela 
Escola de Educação Física de Minas Gerais na década de 1960. 65 f.: Monografia 
(Graduação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Educação Física, Fisioterapia 
e Terapia Ocupacional. Belo Horizonte, 2010. 
 
19 Conferir AMATO, Gabriel, 2019. 
20 EEFFTO/CEMEF-Fundo Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (1969-1979) – 
CX.51/PT.04 e PT.05; CX.52.PT48. 
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. A ditadura nas universidades: repressão, modernização e 
acomodação. Revista Ciência e Cultura, v.66, nº4, São Paulo, out/dec. 2014a. 
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As estratégias de acomodação na ditadura brasileira e a influência 
da cultura política. Revista Páginas, p.9-25. 2016. 
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