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0 CONTEÚDOS E DIDÁTICA DA GEOGRAFIA 1 CLÁUDIA MARIA DA SILVA SANTOS CONTEÚDOS E DIDÁTICA DA GEOGRAFIA ÁGUA BRANCA-PI 2020 Fonte: https://sites.google.com/site/geografiadobarata/didatica-do-ensino- de-geografia 2 SANTOS, Claudia Maria da Silva. Conteúdos e Didática da Geografia 1ª ed. Água Branca; FAS – Cursos de Graduação. 58p. Bibliografia 1. Pedagogia 2. Educação 3. Título. Ficha Catalográfica Diretor Geral Levi de Sousa Lima Secretária Acadêmica Ivânia Pires de Sousa Oliveira Todos os direitos em relação ao design deste material são reservados à FAS. Todos os direitos quanto ao conteúdo deste material são reservados ao autor. Todos os direitos de Copyright deste material didático são à FAS. Francisco Edesio Carlos Soares Joselina da Silva Costa 3 09 10 12 13 13 16 18 19 19 26 28 29 35 37 38 39 42 44 46 48 50 52 54 61 Apresentação do curso ..................................................................... 06 Apresentação da disciplina................................................. 27 UNIDADE 01 FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 1. O Retorno da Geografia............................................................................. 1.1 Fundamentos teóricos e metodológicos para o ensino de geografia....... 1.2 Geografia segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais.................... 1.2.1 Parâmetros Curriculares Nacionais – Geografia.................................... 1.2.2 Aprender e ensinar Geografia............................................................. ATIVIDADE............................................................................................................ FÓRUM................................................................................................................. UNIDADE 02 ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS PARA OS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DA DISCIPLINA DE GEOGRAFIA Introdução....................................................................................................... 2.1 Por que ensinar Geografia hoje?................................................................ 2.2 O que e como ensinar: considerações metodológicas............................... 2.3 Considerações sobre a avaliação.............................................................. ATIVIDADE...................................................................................................... FÓRUM........................................................................................................... 28 29 30 37 38 38 09 11 20 20 22 26 26 05 06 08 4 39 48 UNIDADE 03 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Introdução................................................................................................. ATIVIDADE............................................................................................... FÓRUM..................................................................................................... 40 47 47 UNIDADE 04 MOTIVAÇÃO E HABILIDADES NO ENSINO DE GEOGRAFIA Introdução................................................................................................ 4.1 Os quatro pilares da educação no ensino de Geografia................... 4.1.1 Ensinar a conhecer......................................................................... 4.1.2 Ensinar a fazer................................................................................ 4.1.3 Ensinar a conviver.......................................................................... 4.1.4 Ensinar a ser................................................................................... 4.2 Competências e habilidades no ensino de Geografia....................... ATIVIDADE............................................................................................... FÓRUM.................................................................................................... REFERÊNCIAS....................................................................................... 49 51 52 52 53 53 53 56 56 57 5 A concretização de um curso superior em Pedagogia na modalidade à distância tem como meta o atendimento às necessidades de toda comunidade quanto ao acesso e atendimento ao um ensino superior de qualidade. Desse modo, propõe-se a importância para o curso de Pedagogia numa perspectiva histórico- cultural, tendo como eixo articulador a interdisciplinaridade e a busca da construção de um currículo integrador. As disciplinas pedagógicas que formulam o currículo foram moldadas para uma sociedade cujo princípio da qualidade torna-se prioridade a partir da relação teoria-prática de um trabalho docente de qualidade que procure satisfazer as necessidades de aprendizagem, enriquecendo as experiências do educando no processo educativo. É dentro desta ideia que o curso de Pedagogia da FAS na modalidade à distância constitui-se de uma base comum formada pelos conhecimentos de ciências humanas aliadas a tecnologia, de uma parte diversificada com uma ampliação dos fundamentos na leitura do fazer pedagógico dentro da escola e da sociedade e uma parte complementar com o objetivo de trabalhar os problemas educativos da realidade educacional em vista a qualificação do professor com novas formas de intervenções como aplicações de ferramentas metodológicas. A FAS tem como recurso didático-educacional o uso de materiais como apostilas/livros, plataformas virtuais, internet, vídeos e principalmente um excelente sistema de acompanhamento à distância através de tutores e monitores. É válido salutar que este curso otimiza sempre seus resultados pelas experiências existentes e atendem a ampla procura de profissionais da área educacional. Os profissionais da área da educação serão orientados a sempre desenvolver a capacidade de intervenção científica e técnica assegurando a reflexão crítica permanente sobre sua prática e realidade educacional historicamente contextualizada. O que espera deste docente é sua capacidade de (re) construir seu projeto pessoal e profissional a partir da compreensão da realidade histórica e profissional diante das políticas que direcionam as práticas educativas na sociedade. 6 Esse material tem o objetivo de preparar o futuro professor para as atividades de planejamento e ensino de Conteúdos e Didática da Geografia, considerando o papel social deste profissional para uma educação reflexiva e transformadora. O ensino de geografia nas séries iniciais do ensino fundamental busca realizar um importante trabalho que visa entre outras coisas, levar a criança a compreender seu lugar no mundo como um agente de mudança e de transformação. Conhecer seu papel enquanto protagonista de sua própria história e em detrimento disso, da própria história da humanidade e também de agente transformador do planeta. O que importa é que ao longo da vida o indivíduo compreenda o quão importante é seu papel e que é fundamental agir de forma consciente, buscando sempre a construção de um futuro melhor. Refletindo sobre esse propósito e buscando algum caminho para saná-lo, surgiu a ideia destes textos escritos por educadores com sólida bagagem pedagógica, experiência prática de sala de aula, representa uma tentativa de retomar pontos cruciais da prática docente. Com explicações objetivas, mas sólida atualização acadêmica, desenvolvendo um esforço consciente de levar ao acadêmico a prática de um “como fazer”, ilustrando fatos com relatos juntando teorias com experimentos. Sãoobras de apoio pedagógico, de natureza teórico- metodológica, destinadas à docentes. Caracterizam-se em apresentar temas para reflexão sobre sua disciplina e proposições metodológicas de atividades fundamentadas na prática relativas ao desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem. Embora cada um de seus textos aborde temas específicos a uma disciplina e propostas de uso de seus conteúdos conceituais em sala de aula, e tenha sido preparado por profissional experiente nesse campo, esse trabalho foi precedido de rigoroso planejamento, no qual se buscou estrita interdisciplinaridade. É por esse motivo que as linhas de abordagem das diferentes disciplinas se identificam e se integram, afastando-se de uma visão curricular independente. 7 8 UNIDADE 01 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Geografia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Fonte: https://pt.slideshare.net/A1973/geografia-nos-anos-iniciais COMPETÊNCIAS E HABILIDADES Contextualizar e conceituar a Geografia e o ensino de Geografia, resinificando sua importância nos anos iniciais do ensino fundamental. 9 Conteúdos e Didática da Geografia 1. O Retorno da Geografia No processo de democratização dos anos 80 os conhecimentos escolares passaram a ser questionados e redefinidos por reformas curriculares. As transformações da clientela escolar composta de vários grupos sociais que viviam um intenso processo de migração, do campo para as cidades, e entre os Estados, com acentuado processo de diferenciação econômica e social, forçavam mudanças no espaço escolar. As novas gerações de alunos habituavam-se à presença de novas tecnologias de comunicação, especialmente o rádio e a televisão, que se tornaram canais de informação e de formação cultural. Entrava pelas portas das escolas uma nova realidade que não poderia ser mais ignorada. O currículo real forçava mudanças no currículo formal. Essas mudanças passaram a ser consideradas e discutidas pelos diversos agentes educacionais preocupados em absorvê-las à organização e ao currículo escolar. Os professores (as) tornaram uma importante voz na configuração do saber escolar, diminuindo o poder dos chamados “técnico educacional”. Nesse contexto iniciaram-se as discussões sobre o retorno da Geografia ao currículo escolar a partir das séries iniciais de escolarização. Reforçaram-se os diálogos entre pesquisadores e docentes do ensino fundamental, ao mesmo tempo em que se assistia a uma expansão dos cursos de pós-graduação em Geografia, com presença significativa de professores de primeiro e segundo graus, cuja produção foi absorvida parcialmente pela expansão editorial na área do ensino de historiografia. Fonte: https://suportegeog rafico77.blogspot.c om/2018/07/base- nacional-comum- curricular- geografia.html 10 Conteúdos e Didática da Geografia As propostas curriculares passaram a ser influenciadas pelo debate entre as diversas tendências historiográficas. Os historiadores voltaram-se para a abordagem de novas problemáticas e temáticas de estudo, sensibilizados por questões ligadas à geografia social, cultural e do cotidiano, sugerindo possibilidades de rever no ensino fundamental o formalismo da abordagem geografia tradicional. A geografia chamada “tradicional” sofreu diferentes contestações. Suas vertentes historiográficas de apoio querem sejam o positivismo, o estruturalismo, o marxismo ortodoxo ou o historicismo, produtoras de grandes sínteses, constituidoras de macro-objetos, estruturas ou modos de produção, foram colocadas sob suspeição. A apresentação do processo geográfico como a seriação dos acontecimentos num eixo espaço-temporal europocêntrico, seguindo um processo evolutivo e sequência de etapas que cumpriam uma trajetória obrigatória, foi denunciada como redutora da capacidade do aluno, como sujeito comum, de se sentir parte integrante e agente de uma geografia que desconsiderava sua vivência, e era apresentada como um produto pronto e acabado. Introduziu-se a chamada Geografia Crítica, pretendendo desenvolver com os alunos atitudes intelectuais de desmistificação das ideologias, possibilitando análise das manipulações dos meios de comunicação de massas e da sociedade de consumo. Paralelamente às análises historiográficas, ocorreram novos estudos no âmbito das ciências pedagógicas, especialmente no campo da psicologia cognitiva e social. Difundiam-se estudos sobre o processo de ensino e aprendizagem nos quais os alunos eram considerados como participantes ativos do processo de construção do conhecimento. Uma perspectiva que, para o ensino de Geografia, significava valorizar atitudes ativas do sujeito como construtor de sua vida, em consonância com a visão de alguns educadores sobre propostas pedagógicas construtivistas. Os currículos foram ampliados com conteúdo de Geografia a partir das escolas de educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental. Os conteúdos passaram a ser avaliados quanto às necessidades de atender um público ligado a um presenteísmo intenso, voltado para ideias de mudanças constantes do novo cotidiano tecnológico. Os professores passaram a perceber a impossibilidade de se transmitir nas aulas o conhecimento de toda a Geografia da humanidade em todos os tempos, buscando alternativas às práticas reducionistas e simplificadoras da geografia oficial. Questionando-se sobre se deveriam iniciar o ensino da Geografia por Geografia do 11 Conteúdos e Didática da Geografia Brasil ou Geografia Geral alguns professores optaram por uma ordenação sequencial e processual que intercalasse os conteúdos das duas geografias num processo contínuo da Antiguidade até nossos dias. Outros optaram por trabalhar com temas e, nessa perspectiva, desenvolveram-se as primeiras propostas de ensino por eixos temáticos. Para os que optaram pela segunda via, iniciou-se um debate, ainda em curso, sobre as questões relacionadas ao tempo geográfico, revendo a sua dimensão cronológica, as concepções de linearidade e progressividade do processo geográfico, as noções de decadência e de evolução. Os métodos tradicionais de ensino têm sido questionados com maior ênfase. Os livros didáticos, difundidos amplamente e enraizados nas práticas escolares, passaram a ser questionados em relação aos conteúdos e exercícios propostos. A simplificação dos textos, os conteúdos carregados de ideologias, os testes ou exercícios sem exigência de nenhum raciocínio são apontados como comprometedores de qualquer avanço que se faça no campo curricular formal. Dessa forma, o ensino de geografia atualmente está em processo de mudanças substantivas em seu conteúdo e método. Muitas vezes no ensino fundamental, em particular na escola primária, a Geografia tem permanecido distante dos interesses do aluno, presa às fórmulas prontas do discurso dos livros didáticos ou relegada a práticas esporádicas determinadas pelo calendário cívico. Reafirmar sua importância no currículo não se prende somente a uma preocupação com a identidade nacional, mas sobretudo no que a disciplina pode dar como contribuição específica ao desenvolvimento dos alunos como sujeitos conscientes, capazes de entender a Geografia como conhecimento, como experiência e prática de cidadania. 1.1 Fundamentos teóricos e metodológicos para o ensino de geografia O conceito adotado para o objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico, entendido como aquele produzido e apropriado pela sociedade, composto por objetos – naturais, culturais, sociais técnicos – e ações pertinentes a 12 Conteúdos e Didática da Geografia relações socioculturais e político-econômicas. Objetos e ações estão inter- relacionados. A espacialização dos conteúdos de ensino, bem como a explicação das localizações relacionais dos eventos(objetos e ações) em estudo, são próprias do olhar geográfico sobre a realidade. Para situar as construções conceituais das diferentes linhas de pensamento geográfico, destacam-se que os conceitos de paisagem e região, por exemplo, foram inicialmente tratados pela chamada Geografia Tradicional, no final do século XIX. Da perspectiva teórica dessa linha de pensamento, tinham um significado diverso do que é dado a eles, agora, pela vertente crítica da Geografia. Atualmente, esse conceito foi ampliado e ressignificado pela vertente crítica da Geografia que o associa às relações de poder da escala micro à macro. Paisagem À ideia de que aos povos das regiões consideradas “mais civilizadas” caberia o direito e, ao mesmo tempo, o compromisso de explorar meios geográficos distintos, distantes dos seus, beneficiando-se e levando benefícios aos povos “menos civilizados” das regiões onde o homem ainda não sabia como fazer o meio revelar-se para si. O ensino assumiu o mesmo método da pesquisa: estudar o espaço geográfico compartimentadamente. No Brasil, a partir da década de 1980, com o movimento da Geografia Crítica, os conceitos de região e de paisagem foram retomados, historicizados e ressignificado. Hoje, as teorias críticas da Geografia reconhecem a dimensão subjetiva da paisagem, já que o domínio do visível está ligado à percepção e à seletividade, mas acreditam que seu significado real é alcançado pela compreensão de sua objetividade. A paisagem é percebida sensorial e empiricamente, mas não é o espaço, é, isto sim, a materialização de um momento histórico. Sua observação e descrição servem como ponto de partida para as análises do espaço geográfico, mas são insuficientes para sua compreensão. Por isso, o tratamento pedagógico a ser dado 13 Conteúdos e Didática da Geografia ao conceito de paisagem, na escola, deve ser o de “par dialético” do espaço geográfico, de materialidade que não se auto explica completamente. Região As regiões são o suporte e a condição de relações globais que de outra forma não se realizariam. Ao prosseguir sua argumentação, o mesmo autor afirma que no mundo globalizado onde as trocas são intensas e constantes, a forma e o conteúdo das regiões mudam rapidamente. Cabe à escola tratar esse conceito a partir das determinações políticas e econômicas que formam e definem a longevidade das regiões. Tal análise rompe a abordagem tradicional que apresenta aos alunos uma divisão regional cristalizada, muitas vezes ultrapassada, que não corresponde à dinâmica atual da constante (re) organização dos espaços regionais. Lugar O conceito de lugar busca incorporar sua dimensão subjetiva, mas acrescenta seu potencial político, numa abordagem teórica e pedagógica que indica a possibilidade de os lugares assumirem-se como territórios. O lugar é o espaço onde o particular, o histórico, o cultural e a identidade permanecem presentes. É no lugar que a globalização acontece, pois, cada vez mais ele participa das redes e deixa de explicar-se por si mesmo. Alguns lugares se destacam economicamente por seus objetos e pelas ações que neles se realizam. Este é o olhar sobre o lugar, como produtividade e rentabilidade oferecidas ao capital. Essa relação local-global traz, em suas contradições próprias, a possibilidade tanto de os lugares se tornarem reféns dos interesses hegemônicos quanto de se contraporem a eles, o que organiza e fortalece a ideia de política (relações de poder). O conceito de lugar discutiu-o em sua relação com o processo de globalização da economia e, de algum modo, considerou seus aspectos subjetivos, 14 Conteúdos e Didática da Geografia com a ampliação da abordagem e ênfase às potencialidades políticas dos lugares em suas relações com outros espaços, próximos e/ou distantes. O ensino de Geografia deve assumir o quadro conceitual das teorias críticas dessa disciplina, que incorporam os conflitos e as contradições sociais, econômicas, culturais e políticas, constitutivas de um determinado espaço. Território Território é um conceito ligado à ideia de relações de espaço e poder. No território, portanto, seja nacional, regional ou local, acontecerá a relação dialética de associação e confronto entre o lugar e o mundo. Cabe hoje ao ensino de Geografia abordar as relações de poder que constituem territórios nas mais variadas escalas, desde as que delimitam os microespaços urbanos, como os territórios do tráfico, da prostituição ou da segregação socioeconômica, até os internacionais e globais. Natureza Natureza é entendida como um conjunto de elementos naturais que possui em sua origem uma dinâmica própria que independe da ação humana, mas que, na atual fase histórica do capitalismo, acaba por ser reduzida apenas à ideia de recursos. Por sua vez, a ideia de natureza como recurso ganha, atualmente, um elemento complicador: a crescente artificialização do meio, tanto na cidade quanto no espaço rural. Sociedade A sociedade em seus aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos e nas relações que ela estabelece com a natureza para produção do espaço geográfico. Ou seja, a sociedade produz um intercâmbio com a natureza, de modo que a última se transforma em função dos interesses econômicos da primeira. O ensino deve subsidiar os alunos a pensar e agir criticamente, de modo que se ofereçam elementos para que compreendam e expliquem o mundo. 15 Conteúdos e Didática da Geografia Como espaço privilegiado de análise e produção de conhecimentos, a escola deve subsidiar os alunos no enriquecimento e sistematização dos saberes para que se tornem sujeitos capazes de interpretar, com olhar crítico, o mundo que os cerca. Por isso, é tarefa do professor e dos alunos terem uma atitude investigativa de pesquisa, recusarem a mera reprodução da interpretação do mundo, feita por outros, e assumirem seu papel de agentes transformadores da realidade. A função da Geografia na escola é desenvolver o raciocínio geográfico, isto é, pensar a realidade geograficamente e despertar uma consciência espacial. Conteúdos Estruturantes É fundamental para o ensino da Geografia que o professor crie e planeje situações nas quais os alunos possam conhecer e utilizar procedimentos como a observação, a descrição, a experimentação, a analogia e a síntese, considerando a especificidade e a contextualização dos processos, questões, fenômenos, fatos e conceitos geográficos. Dimensão econômica da produção do/no espaço. Geopolítica. Dimensão socioambiental. Dimensão cultural e demográfica. Fonte: https://educador.bra silescola.uol.com.br/ estrategias- ensino/como-deixar- sua-aula-geografia- mais- interessante.htm 16 Conteúdos e Didática da Geografia Os alunos precisam aprender a analisar, a explicar, a compreender e também a representar processos geográficos presentes no espaço e realizadores dos diferentes tipos de paisagens e territórios. Para tanto, é preciso considerar as formas e os meios que auxiliem o professor no alcance desses propósitos. A cartografia é um conhecimento que vem se desenvolvendo desde a pré-história até os dias de hoje, sintetizando informações e expressando situações - sempre envolvendo ideias de produção e organização do espaço. A linguagem cartográfica ocupa um lugar de importância, desde o início da escolaridade, contribuindo para que os alunos venham não só a compreender e a utilizar uma ferramenta básica de leitura do mundo, os mapas, mas também a desenvolver capacidades relativas à representação do espaço. As formas mais usuais de se trabalhar com a linguagem cartográfica na escola ainda são situações nas quais os alunos têm de colorir mapas, copiá-los, escrever os nomes de rios ou cidades, memorizar as informações nelesrepresentadas. Contudo esse tratamento metodológico não garante que eles construam os conhecimentos necessários, tanto para ler mapas quanto para representar o espaço geográfico. Para que isso se concretize, é preciso partir da ideia de que a linguagem cartográfica é um sistema de símbolos que envolvem proporcionalidades, uso de signos ordenados, técnicas de projeção e de análise das representações. A leitura de representações cartográficas também pretende atender a diversas necessidades, das mais cotidianas (chegar a um lugar que não se conhece, entender o trajeto dos mananciais, por exemplo) às mais específicas (como delimitar áreas de plantio, compreender zonas de influência do clima). Fonte: https://educador.brasiles cola.uol.com.br/estrategi as-ensino/a-utilizacao- mapas-no-ensino- geografia.htm 17 Conteúdos e Didática da Geografia A escola deve criar oportunidades para que os alunos construam conhecimentos sobre e com essa linguagem em dois sentidos: como pessoas que representam e codificam o espaço e como leitores das informações expressas através dela. Isso não significa que os procedimentos tenham um fim em si mesmo. Observar, descrever, experimentar e comparar fatos e fenômenos por meio de representações cartográficas são ações que permitem construir noções espaciais, favorecem compreensões geográficas, estimulam a identificação de problemas e a elaboração de soluções que a Geografia, como ciência, produz. O estudo do meio constitui alternativa metodológica bastante específica do ensino de Geografia, proporcionando a abordagem das questões ambientais, sociais, políticas, econômicas, culturais, entre outras. Além disso, proporciona a observação, a compreensão, a avaliação e a intervenção em processos físicos da natureza. Outra abordagem das questões geográficas na escola, compatível com a proposta curricular em foco, inclui o uso dos meios de comunicação de massa e as novas tecnologias de informação. Os cuidados com essa utilização também incluem a formação de atitudes e o desenvolvimento de procedimentos, preferencialmente trabalhados numa perspectiva interdisciplinar e sem a limitação tecnicista da Geografia quantitativa e da Geografia tradicional. Essas alternativas metodológicas têm em sua essência a aplicação dos princípios da pesquisa, observados o caráter da problematização, da coleta e análise de dados, da formulação de reflexões, de julgamentos e de sínteses. Precisam, também, considerar a perspectiva da formação crítica e da alfabetização comunicativa da cidadania na sociedade da informação. Os equipamentos que permitem essas práticas não podem ser priorizados pela metodologia de aprendizagem, apenas pelo seu simples domínio e uso. São as formas de usar suas possibilidades de comunicação e de informação que se constituem alternativas didáticas. Assim, projetar um filme, acessar a internet, capturar um texto, assistir a um programa televisivo, escrever um texto no computador são ações que se tornam educativas pela intencionalidade pedagógica do ensinar e do aprender, não porque são práticas do nosso tempo. Santos (1999, p.05) explicita bem a questão, ao afirmar: 18 Conteúdos e Didática da Geografia “[...] Cada gesto, cada palavra, dentro de uma casa de ensino, têm de ser precedidos de uma indagação de sua finalidade. Não é a informação em si que é importante, mas a sua organização face a uma finalidade. É preciso esquecer esse elogio isolado às coisas, ainda que pareçam inteligentes, e buscar a inteligência das coisas mediante a solidariedade[...]” (Santos, 1999, p.05) Destaca-se assim a necessidade de promover a aprendizagem voltada para a promoção do ser humano, para a distribuição mais justa da produção de bens/serviços entre as pessoas e para a manutenção/sustentabilidade do sistema Terra. A Geografia é uma das ciências cujo ensino pode contribuir para a satisfação dessas necessidades. Considerando-se a responsabilidade do professor de Geografia, diante dessas demandas, é preciso enfatizar que tanto as possibilidades tecnológicas mais recentes na infraestrutura escolar, quanto aquelas mais tradicionais, como o uso do quadro de giz, do livro didático, de cartazes, de jornais ou de revistas, devem ser cercadas de cuidados didático-pedagógicos para que alcancem resultados significativos no ensino. A relação íntima entre as imagens e as paisagens geográficas, com sua complexidade de fenômenos e processos, deve estimular o exercício constante de diversificação do uso dos recursos didáticos disponíveis na escola, além de provocar a criatividade na exploração de possibilidades presentes no cotidiano do aluno, tais como as propagandas, a literatura ou as obras de arte. A interdisciplinaridade precisa ser considerada como a proposta educativa, por excelência, capaz de promover o diálogo entre os professores, usando seus respectivos saberes, “não como panaceia para os males que atingem a dissociação do saber” (Fazenda, 1979, p.13), mas, segundo Fernandes como uma possibilidade de visão do mundo em desenvolvimento, “superando o que diz respeito ao conteúdo e/ou conhecimento relativo de uma disciplina como uma busca de ultrapassagem das fronteiras estabelecidas arbitrariamente num dado momento histórico e, especialmente, como tentativa do resgate da totalidade para superar a fragmentação da própria vida, compreendendo a VIDA em sua complexidade, conexões, interações, relações, reorganizações e transformações em movimento permanente.” (Fernandes, 2004, p.147). Associando essa compreensão ao caráter da Geografia como ciência de análise e síntese da percepção de mundo, a prática docente trabalhará as interfaces 19 Conteúdos e Didática da Geografia das categorias espaço/tempo, identidade/diversidade, lugar/território, poder/saber, trabalho/consumo, natureza/sociedade, local/global, cultura/inclusão, entre outras, para a formação do sujeito-cidadão. Assim, os objetivos do estudo da Geografia são: a) Desenvolver o raciocínio geográfico e o senso crítico a partir da Geografia do cotidiano local/global/local e das sistematizações de aprendizagens escolares; b) Estimular a compreensão das relações entre a dinâmica da natureza e as dinâmicas sociais como processo de permanente (re)construção do espaço geográfico; c) Compreender a espacialidade e a temporalidade dos fenômenos geográficos em suas dinâmicas, interações e contradições; d) Valorizar o conhecimento produzido pela investigação das categorias e dos fenômenos geográficos, em suas múltiplas manifestações, para manutenção da sustentabilidade do sistema Terra; e) Perceber o ser humano como agente ativo na construção de relações sociais que respeitem e admitam as diferenças entre as pessoas, no processo de sua inserção no multiculturalismo; f) Desenvolver habilidades e capacidades para a leitura de representações geográficas e para o mapeamento cotidiano de fatos, fenômenos e processos geográficos, em diferentes escalas e a partir de diferentes instrumentos e técnicas específicas da cartografia, assim como de diferentes tipos de linguagens; g) Reconhecer impactos resultantes das produções sociais e dos processos da natureza no meio ambiente; h) Analisar intervenções sobre a organização do espaço geográfico para melhor aproveitamento dos recursos disponíveis nele; i) Relacionar a ética ao consumo para o exercício pleno da cidadania planetária; j) Valorizar o patrimônio natural e cultural, local e mundial, por meio da pesquisa e da ação, para garantir sua manutenção e usufruto pelas populações. Fonte: MELO, Rosângela Menta. Fundamentos teóricos e metodológicos do ensino de geografia. 2011. Disponível em: http://estagiocewk.pbworks.com/f/apostila_met_ens_geo2011_rosangelamenta_1SEM.pdf. 20 Conteúdos e Didática da Geografia 1.2 Geografiasegundo os Parâmetros Curriculares Nacionais Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s - são referências de qualidade para os Ensinos Fundamental e Médio do país, elaboradas pelo Governo Federal. O objetivo é propiciar subsídios à elaboração e reelaboração do currículo, tendo em vista um projeto pedagógico em função da cidadania do aluno e uma escola em que se aprende mais e melhor. Os PCN’s, como uma proposta inovadora e abrangente, expressam o empenho em criar novos laços entre ensino e sociedade e apresentar ideias do "que se quer ensinar", "como se quer ensinar" e "para que se quer ensinar". Os PCN não são uma coleção de regras e sim, um pilar para a transformação de objetivos, conteúdo e didática do ensino. Agora vejamos o que os PCN’s dizem sobre o ensino de Geografia no ensino fundamental. 1.2.1 Parâmetros Curriculares Nacionais - Geografia A Geografia, na proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, tem um tratamento específico como área, uma vez que oferece instrumentos essenciais para compreensão e intervenção na realidade social. Por meio dela podemos Fonte: https://educador.brasilescola.uol.com.br/orientacoe s/pcnparametros-curriculares-nacionais.htm Ensino e Aprendizagem de Geografia no Primeiro Ciclo. Disponível em: https://www.infoescola.com/pedagogia/ensin o-e-aprendizagem-de-geografia-no-primeiro- ciclo/ 21 Conteúdos e Didática da Geografia compreender como diferentes sociedades interagem com a natureza na construção de seu espaço, as singularidades do lugar em que vivemos, o que o diferencia e o aproxima de outros lugares e, assim, adquirirmos uma consciência maior dos vínculos afetivos e de identidade que estabelecemos com ele. Também podemos conhecer as múltiplas relações de um lugar com outros lugares, distantes no tempo e no espaço, e perceber as marcas do passado no presente. O documento de Geografia propõe um trabalho pedagógico que visa a ampliação das capacidades dos alunos, do ensino fundamental, de observar, conhecer, explicar, comparar e representar as características do lugar em que vivem e de diferentes paisagens e espaços geográficos. A primeira parte descreve a trajetória da Geografia, como ciência e como disciplina escolar, mostrando suas tendências atuais e sua importância na formação do cidadão. Apontam-se os conceitos, os procedimentos e as atitudes a serem ensinados, para que os alunos se aproximem e compreendam a dinâmica desta área de conhecimento, em termos de suas teorias e explicações. Na segunda parte, encontra-se uma descrição de como pode ser o trabalho com essa disciplina, para as séries iniciais, de primeira à quarta: objetivos e conteúdos. No final, o documento traz uma série de indicações sobre a organização do trabalho escolar do ponto de vista didático. Nas orientações didáticas, os princípios e os procedimentos de Geografia são apresentados como recursos a serem utilizados pelo professor no planejamento de suas aulas e na definição das atividades a serem propostas para os alunos. Embora cada uma dessas partes possa ser lida com independência, o conhecimento do documento, como um todo, enriquecerá, mais ainda, a experiência do professor em sala de aula. Assim, é importante que a proposta seja integralmente lida e discutida pelos professores, que, com o apoio de bibliografia, poderão fazer as devidas adaptações à realidade de suas escolas e às características dos alunos com os quais trabalham. PCNS como trabalhar a Geografia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch ?v=P94R_iK6nNE 22 Conteúdos e Didática da Geografia 1.2.2 Aprender e ensinar Geografia Independentemente da perspectiva geográfica, a maneira mais comum de se ensinar Geografia tem sido através do discurso do professor, ou do livro didático. Este discurso sempre parte de alguma noção ou conceito chave e versa sobre algum fenômeno social, cultural ou natural que é descrito e explicado, de forma descontextualizada do lugar ou do espaço no qual se encontra inserido. Após a exposição, ou trabalho de leitura, o professor avalia, através de exercícios de memorização, se os alunos aprenderam o conteúdo. Abordagens atuais da Geografia têm buscado práticas pedagógicas que permitam apresentar aos alunos os diferentes aspectos de um mesmo fenômeno em diferentes momentos da escolaridade, de modo que os alunos possam construir compreensões novas e mais complexas a seu respeito. Espera-se que, dessa forma, eles desenvolvam a capacidade de identificar e refletir sobre diferentes aspectos da realidade, compreendendo a relação sociedade-natureza. Essas práticas envolvem procedimentos de problematização, observação, registro, descrição, documentação, representação e pesquisa dos fenômenos sociais, culturais ou naturais que compõem a paisagem e o espaço geográfico, na busca e formulação de hipóteses e explicações das relações, permanências e transformações que aí se encontram em interação. Para tanto, o estudo da sociedade e da natureza deve ser realizado de forma conjunta. No ensino, professores e alunos deverão procurar entender que ambas — sociedade e natureza — constituem a base material ou física sobre a qual o espaço geográfico é construído. É fundamental, assim, que o professor crie e planeje situações nas quais os alunos possam conhecer e utilizar esses procedimentos. A observação, descrição, experimentação, analogia e síntese devem ser ensinadas para que os alunos possam aprender a explicar, compreender e até mesmo representar os processos de construção do espaço e dos diferentes tipos de paisagens e territórios. Isso não significa que os procedimentos tenham um fim em si mesmos: observar, descrever, experimentar e comparar servem para construir noções, espacializar os fenômenos, levantar problemas e compreender as soluções propostas, enfim, para conhecer e começar a operar com os procedimentos e as explicações que a Geografia como ciência produz. 23 Conteúdos e Didática da Geografia A paisagem local, o espaço vivido pelos alunos deve ser o objeto de estudo ao longo dos dois primeiros ciclos. Entretanto, não se deve trabalhar do nível local ao mundial hierarquicamente: o espaço vivido pode não ser o real imediato, pois são muitos e variados os lugares com os quais os alunos têm contato e, sobretudo, que são capazes de pensar sobre. A compreensão de como a realidade local relaciona- se com o contexto global é um trabalho que deve ser desenvolvido durante toda a escolaridade, de modo cada vez mais abrangente, desde os ciclos iniciais. Além disso, o estudo da paisagem local não deve restringir-se à mera constatação e descrição dos fenômenos que a constituem. Deve-se também buscar as relações entre a sociedade e a natureza que aí se encontram presentes, situando-as em diferentes escalas espaciais e temporais, comparando-as, conferindo-lhes significados, compreendendo-as. Estudar a paisagem local ao longo dos primeiros e segundo ciclos é aprender a observar e a reconhecer os fenômenos que a definem e suas características; descrever, representar, comparar e construir explicações, mesmo que aproximadas e subjetivas, das relações que aí se encontram impressas e expressas. Nos ciclos subsequentes, o ensino de Geografia deve intensificar ainda mais a compreensão, por parte dos alunos, dos processos envolvidos na construção do espaço geográfico. A territorialidade e a temporalidade dos fenômenos estudados devem ser abordadas de forma mais aprofundada, pois os alunos já podem construir compreensões e explicações mais complexas sobre as relações que existem entre aquilo que acontece no dia-a-dia, no lugar no qual se encontram inseridos, e o que acontece em outros lugares do mundo. Os problemas socioambientais e econômicos — como a degradação dos ecossistemas, o crescimento das disparidades nadistribuição da riqueza entre países e grupos sociais, por exemplo — podem ser abordados a fim de promover um estudo mais amplo de questões sociais, econômicas, políticas e ambientais relevantes na atualidade. O próprio processo de globalização pelo qual o mundo de hoje passa demanda uma compreensão maior das relações de interdependência que existem entre os lugares, bem como das noções de espacialidade e territorialidade intrínsecas a esse processo. Tal abordagem visa favorecer também a compreensão, por parte do aluno, de que ele próprio é parte integrante do ambiente e também agente ativo e passivo das transformações das paisagens terrestres. Contribui para a formação de uma 24 Conteúdos e Didática da Geografia consciência conservacionista e ambiental, na qual se pensa sobre o ambiente não somente em seus aspectos naturais, mas também culturais. Para tanto, as noções de sociedade, cultura, trabalho e natureza são fundamentais e podem ser abordadas através de temas nos quais as dinâmicas e determinações existentes entre a sociedade e a natureza sejam estudadas de forma conjunta. Porém, para além de uma abordagem descritiva da manifestação das forças materiais, é possível também nos terceiro e quarto ciclos propor estudos que envolvam o simbólico e as representações subjetivas, pois a força do imaginário social participa significativamente na construção do espaço geográfico e da paisagem. A Geografia, ao pretender o estudo dos lugares, suas paisagens e território, tem buscado um trabalho interdisciplinar, lançando mão de outras fontes de informação. Mesmo na escola, a relação da Geografia com a Literatura, por exemplo, tem sido redescoberta, proporcionando um trabalho que provoca interesse e curiosidade sobre a leitura do espaço e da paisagem. É possível aprender Geografia desde os primeiros ciclos do ensino fundamental através da leitura de autores brasileiros consagrados — Jorge Amado, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, entre outros — cujas obras retratam diferentes paisagens do Brasil, em seus aspectos sociais, culturais e naturais. Também as produções musicais, a fotografia e até mesmo o cinema são fontes que podem ser utilizadas por professores e alunos para obter informações, comparar, perguntar e inspirar-se para interpretar as paisagens e construir conhecimentos sobre o espaço geográfico. A Geografia trabalha com imagens, recorre a diferentes linguagens na busca de informações e como forma de expressar suas interpretações, hipóteses e conceitos. Pede uma cartografia conceitual, apoiada numa fusão de múltiplos tempos e numa linguagem específica, que faça da localização e da espacialização uma referência da leitura das paisagens e seus movimentos. Na escola, assim, fotos comuns, fotos aéreas, filmes, gravuras e vídeos também podem ser utilizados como fontes de informação e de leitura do espaço e da paisagem. É preciso que o professor analise as imagens na sua totalidade e procure contextualizá-las em seu processo de produção: por quem foram feitas, quando, com que finalidade, etc., e tomar esses dados como referência na leitura de informações mais particularizadas, ensinando aos alunos que as imagens são 25 Conteúdos e Didática da Geografia produtos do trabalho humano, localizáveis no tempo e no espaço, cujas intencionalidades podem ser encontradas de forma explícita ou implícita. O estudo da linguagem cartográfica, por sua vez, tem cada vez mais reafirmado sua importância, desde o início da escolaridade. Contribui não apenas para que os alunos venham a compreender e utilizar uma ferramenta básica da Geografia, os mapas, como também para desenvolver capacidades relativas à representação do espaço. A cartografia é um conhecimento que vem se desenvolvendo desde a pré- história até os dias de hoje. Através dessa linguagem é possível sintetizar informações, expressar conhecimentos, estudar situações, entre outras coisas — sempre envolvendo a ideia da produção do espaço: sua organização e distribuição. As formas mais usuais de se trabalhar com a linguagem cartográfica na escola são através de situações nas quais os alunos têm de colorir mapas, copiá- los, escrever os nomes de rios ou cidades, memorizar as informações neles representadas. Mas esse tratamento não garante que eles construam os conhecimentos necessários, tanto para ler mapas como para representar o espaço geográfico. Para isso, é preciso partir da ideia de que a linguagem cartográfica é um sistema de símbolos que envolve proporcionalidade, uso de signos ordenados e técnicas de projeção. Também é uma forma de atender a diversas necessidades, das mais cotidianas (chegar a um lugar que não se conhece, entender o trajeto dos mananciais, por exemplo) às mais específicas (como delimitar áreas de plantio, compreender zonas de influência do clima). A escola deve criar oportunidades para que os alunos construam conhecimentos sobre essa linguagem nos dois sentidos: como pessoas que representam e codificam o espaço e como leitores das informações expressas através dela. Fonte: BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: geografia. Secretaria de Educação fundamental. Brasília: MEC. SEF, 1997. 26 Conteúdos e Didática da Geografia 1. Quais os principais objetivos do ensino de geografia nos anos iniciais? 2. A partir do processo de democratização dos anos 80, destaque as mudanças ocorridas nas escolas. 3. Qual a função da geografia na escola? 4. Qual a importância de se trabalhar a linguagem cartográfica? 5. Faça um texto (entre 20 e 25 linhas) mapeando os principais aspectos de ensino da Geografia, abordados nos PCN’s. Comente a afirmativa: “Os métodos tradicionais de ensino têm sido questionados com maior ênfase. Os livros didáticos, difundidos amplamente e enraizados nas práticas escolares, passaram a ser questionados em relação aos conteúdos e exercícios propostos. ” 27 Conteúdos e Didática da Geografia UNIDADE 02 Orientações Pedagógicas para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental da disciplina de Geografia Fonte: https://canaldoensino.com.br/blog/5-dicas-para-ensinar- geografia-aos-seus-alunos COMPETÊNCIAS E HABILIDADES Conhecer a trajetória da Geografia como disciplina escolar, fornecendo orientações didáticas e pedagógicas para uma aprendizagem significativa. 28 Conteúdos e Didática da Geografia Introdução No princípio a Geografia fomentava o amor pela Pátria... A Geografia voltada para os Anos Iniciais pode desempenhar um importante papel no desenvolvimento das crianças, justificando, uma vez mais, sua presença e permanência no currículo escolar. Nunca é demais recordar que a Geografia Escolar, no Brasil ou na Europa, foi introduzida no currículo das escolas primária e secundária para desempenhar um papel intimamente associado à classe dirigente: incutir nas novas gerações a ideologia do nacionalismo. No entender da classe dirigente, era necessária a construção da nação, do sentimento de pertencimento a um território e um povo comuns, que compartilhassem de um mesmo passado, de uma história que fosse de todos. Foi no contexto do projeto de construção da nação, portanto, que a escola desempenhou um expressivo papel na reprodução da cultura, na difusão da ideia de Pátria. Quanto aos conteúdos propriamente ditos, a escola primária lidava com aqueles saberes que possibilitassem a formação de valores pátrios. Assim, cabia à Geografia desenvolver um trabalho pedagógico que assegurasse a reprodução de conceitos básicos dos elementos formadores da “paisagem natural”, como os rios e as formas de relevo, além de atribuir os nomes geográficos a esses elementos. Dessa forma, as denominações locaisforam substituídas por aquelas criadas por instituições direta ou indiretamente ligadas ao poder. No caso brasileiro, coube ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) essa atribuição, em especial no século XIX; a partir de 1938, ano de sua criação, o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística desempenhou destacado papel nessa jornada. De outro lado, as aulas de Geografia tratavam de disseminar imagens e símbolos que reforçassem a inculcação do nacionalismo patriótico. É o caso da utilização de mapas, mas sobre tudo do mapa do Brasil, decalcado nos cadernos dos alunos; dependurado nas paredes das salas de aula. Conteúdos, imagens e símbolos eram trabalhados de forma a consolidar a ideia e o sentimento de uma pátria una e indivisível. Não era à toa, portanto, que os alunos deviam memorizar os nomes de rios, de montes, de capitais estaduais, além de terem na ponta da língua informações a respeito dos “maiores e melhores”, isto é, dados estatísticos dos principais produtores industriais, de matérias-primas, de produtos agropastoris, etc. 29 Conteúdos e Didática da Geografia Os manuais de ensino de Geografia, com isso, apresentavam um vasto questionário ao término de cada assunto, quando não eram constituídos tão somente de perguntas e repostas, a serem decoradas e reproduzidas nas avaliações. Cumpre recordar que durante os anos 70 e 80, a Geografia e a História integraram a área de Estudos Sociais, o que representou um esvaziamento de seus conteúdos específicos. Ao término da década de 80 houve o retorno das duas disciplinas com a renovação de seus conteúdos, impulsionadas pela abertura democrática e oxigenadas pelas respectivas ciências de referência. 2.1 Por que ensinar Geografia hoje? No passado, a Geografia Escolar serviu, em primeiro lugar, para a inculcação da ideologia do nacionalismo patriótico nas novas gerações. A bandeira e o hino nacionais acompanham as delegações e se misturam em meio aos torcedores onde quer que as competições se desenrolem. Na vitória ou na derrota, os símbolos nacionais são evocados, reforçando os laços afetivos que parecem unir um a um os brasileiros. Contudo, essa comunhão diz respeito ao campo do nacionalismo. No que tange a questões sócioeconômica, a sociedade brasileira mostra-se fraturada, cindida. É nesse âmbito que a Escola, e mais especificamente a Geografia Escolar, devem voltar suas atenções. As questões sócioeconômicas de nosso país são de grande monta, e retratam graves distorções da distribuição da riqueza produzida, seja no campo ou na cidade. Portanto, as fortes desigualdades sociais reinantes no Brasil devem ser tomadas como uma espécie de pano de fundo na definição dos objetivos e finalidades do ensino da Geografia. Às desigualdades sociais devem ser agregadas a diversidade étnico-cultural, tão marcante na realidade do país, mas tão comumente desprezada e distorcida, gerando preconceitos. Em outras palavras, a lida com princípios e saberes no ensino da Geografia devem possibilitar avanços na direção de uma sociedade mais justa e igualitária, e na valorização e no respeito às diferenças culturais. Trata-se de um compromisso ético, a ser desenvolvido sem perder de vista o conteúdo geográfico e seu encaminhamento metodológico. Ou seja, não se trata, em absoluto, de trabalhar valores em si mesmos, em detrimento dos conteúdos escolares. Ao contrário, é no desenvolvimento do trabalho pedagógico que o 30 Conteúdos e Didática da Geografia professor, sistematizando o conhecimento, possibilita o enfrentamento das mais variadas questões da sociedade brasileira. O desenvolvimento de raciocínios geográficos e a formação de uma consciência espacial dizem respeito ao olhar geográfico, à maneira particular da Geografia de ler o mundo, de estudar a sociedade. De fato, a ciência geográfica é uma ciência humana, porém ao estudar a sociedade, busca compreender sua dimensão espacial. Isso significa tomar ou considerar o espaço como um componente da sociedade. Nesse sentido, a Geografia não pode mais ser entendida tão somente como “o estudo da Terra”, e sim como “o estudo da organização do espaço pela sociedade humana”. Essa conceituação revela dois aspectos muito importantes: As propostas curriculares de Geografia deveriam considerar os seguintes questionamentos: “Isso que pretendo ensinar colabora para o desenvolvimento do raciocínio espacial, geográfico? “ Ou: “O espaço enquanto componente da sociedade está sendo contemplado nesse estudo? O raciocínio geográfico refere-se à lida com diferentes tamanhos ou dimensões espaciais, melhor dizendo, ao trânsito e à articulação entre eles. Ou seja, existem trocas e relações entre o espaço local e outros, mais amplos e mais distantes. 2.2 O que e como ensinar: considerações metodológicas Perceber e reconhecer que o espaço é uma dimensão ou componente da sociedade, com condição e meio para a sociedade ser o que é, deve perpassar os conteúdos e as atividades escolares da Geografia. Desde há muito que a organização e a seleção dos conteúdos em Geografia seguem um critério cada vez Que a disciplina escolar e a ciência de referência guardam uma relação, mas que não deve, em hipótese alguma, significar uma “superioridade” da ciência sobre a disciplina escolar, tampouco uma subordinação desta última em relação à primeira; Que a seleção e organização dos conteúdos são (ou deveriam ser) afetados por essa relação. Portanto, conteúdos, conceitos e temas ao serem eleitos para compor as 31 Conteúdos e Didática da Geografia mais questionável e inconsistente. Na realidade, trata-se de um critério que é também uma metodologia, a metodologia dos círculos concêntricos. Essa metodologia ou critério determina que os estudos geográficos devem partir do mais próximo para o mais distante, do conhecido para o desconhecido. O argumento é o grau de amadurecimento das crianças. De fato, existem temas ou questões inapropriadas para determinadas faixas etárias. Contudo, essa metodologia acabou gerando distorções graves, o que resultou numa abordagem estanque e linear dos temas e conteúdo. É o caso de citar os temas comumente desenvolvidos nos anos iniciais do ensino fundamental: família, escola, trajeto casa-escola, profissões, o entorno da escola... Aparentemente não haveria o que comentar, o que “contrariar”. Até porque parece que esses temas se alicerçam numa tradição cultural, tal o tempo que eles têm sido tratados nessa série. Porém, tais temas ou recortes espaciais ficam fechados em si mesmos, isto é, não são remetidos a outras dimensões espaciais. Esse procedimento metodológico resulta em ao menos três situações que desfavorecem o desenvolvimento da criança, visto que: Os lugares, as localidades, não se explicam por eles mesmos. Abordagens sócioespaciais estanques impossibilitam o desenvolvimento do raciocínio espacial, esvaziam as possibilidades de formar um olhar crítico do e no mundo. Torna-se necessário considerar a escolha de temas e problemas geográficos que possibilitem, a um só tempo, respeitar o processo de expansão do horizonte geográfico da criança e fortalecer seus laços afetivos e identitários com o local. Contextualizar de forma problematizada tais temas deve ser uma prática cotidiana de professores dos Anos Iniciais nas aulas de Geografia. Para uma compreensão mais elaborada do espaço geográfico, é necessário contemplar os estudos mais gerais, indo além das abordagens muito particularizadas. Considerando que nos Anos Iniciais também compete à Geografia promover uma alfabetização geográfica, ou seja, criar as condições para que as crianças leiam e interpretem o espaço geográfico, e desta forma ler e interpretar a paisagem e o lugar, o território e a região, essa consideração sobre o ponto de vista do observador é de fundamental importância. Feitaessas considerações, resta tratar de sugerir 32 Conteúdos e Didática da Geografia aquilo que deve ser assegurado nos Anos Iniciais, apontar para os conhecimentos específicos a serem garantidos por meio da disciplina escolar em foco. Nesse caso, destacar os objetivos específicos no ensino da Geografia pode representar um “começo de conversa”. Ei-los: É comum professores comentarem que a Geografia está no dia a dia das pessoas, que é uma disciplina “concreta” e consegue, com muita facilidade, despertar o interesse dos alunos. Porém, não basta permanecer no discurso sobre o cotidiano. Faz-se necessário organizar e encaminhar os conteúdos de tal modo que signifiquem um conjunto de saberes que possibilite agir no espaço com consciência. Isso significa dominar os referenciais do espaço para nele circular sem se perder, ou seja, saber orientar-se. Afora isso, o contato com as diversas mídias, tais como a televisão, a Internet, as revistas, o jornal, demandam, cada vez mais, um posicionamento mais crítico a respeito das informações que por elas circulam. Afinal, pesados jogos de interesses encontram-se em cena, o que exige um olhar atento de seus usuários. Na primeira, a determinação de distâncias e o cálculo de áreas são obtidos a partir de um mapa ou planta, envolvendo o conceito de proporção e a utilização de meios diversos de orientação (bússola, astros...). Na segunda, trata-se de perceber a existência de diferentes escalas de análise, desde a local até a planetária, e reconhecer que elas caminham lado a lado e são de fundamental importância para a avaliação das inúmeras questões de caráter espacial, como o agravamento do efeito Preparar para um agir cotidianamente, de forma consciente, relacionado ao viajar, ao circular com segurança pelo espaço, à compreensão das informações veiculadas pela mídia e à demonstração de interesse e preocupação pelo ambiente e pela alteridade. Preparar para o entendimento das localizações, o que significa saber situar e situar-se no espaço, seja por meio de mapas ou usando referenciais da paisagem e do lugar. Esse trabalho requer o uso da escala cartográfica e, sobretudo, da escala geográfica. 33 Conteúdos e Didática da Geografia estufa, a presença de uma transnacional, um deslizamento de encosta, um loteamento clandestino ou os conflitos envolvendo países. Cabe à Geografia assegurar conhecimentos mínimos, porém fundamentais, para sua compreensão. A título de sugestão, apresenta-se um rol de conteúdos básicos para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, aos quais são associados conceitos imprescindíveis no ensino da disciplina. O conceito de lugar diz respeito aos laços afetivos e identitários que unem as pessoas aos seus espaços de vivência. A casa e a rua, a escola e o local de trabalho, um templo ou espaço religioso, uma praça, a associação dos moradores, dentre outros casos, pode ser citados. Como são esses lugares e o que nos une afetiva e identitariamente a eles são questões que devem mobilizar seus estudos. Além disso, o lugar encontra-se no mundo, está ligado a ele por uma série de aspectos, sejam eles econômicos, políticos ou culturais. Isso reforça a ideia de que os espaços não se encontram isolados e devem ser percebidos nas suas relações, o que equivale a afirmar que “de meu lugar compreendo o mundo”. Embora possa aparentar o conceito ou enfoque de lugar não se restringe aos primeiros dois ou três anos do Ensino Fundamental, sendo merecedor de estudos ao longo de toda a escolaridade. Espaços mais próximos, de dimensão menos ampla, são costumeiramente considerados, mas em determinadas circunstâncias o estado ou o país são a referência afetiva e identitária para toda a classe. Enfim, é uma questão de escala de análise (local, regional, nacional) e de propósito ou finalidade dos estudos. Antes de apresentarmos sugestões de conteúdos relacionados ao conceito de lugar, convém tratar do conceito de paisagem. Contemplar, descrever, analisar são exemplos de operações mentais envolvidas com seu estudo. A princípio, a paisagem é tudo o que os nossos sentidos captam, percebem. Daí se afirmar que a paisagem Proporcionar a aquisição de conhecimentos básicos seja da superfície terrestre ou das sociedades humanas. Vale recordar que a Geografia surgiu, no passado remoto, como possibilidade de entendimento das diferenciações de lugares, de paisagens, de áreas, enfim. Afinal, a superfície terrestre é marcadamente diversificada, tanto nos seus aspectos físicos como humanos. 34 Conteúdos e Didática da Geografia é forma e cores, como também odores, sons e tudo o mais que sentimos pelo tato. Contudo, um estudo mais sistemático da paisagem requer a compreensão e o entendimento das razões que levaram uma paisagem a ser o que é, envolvendo os estudos de sua construção. Assim, lugar e paisagem são dois conceitos que se entrelaçam e auxiliam na compreensão de ambos. Vejamos, então, alguns exemplos: As paisagens dos lugares de vivência. Nesse caso, em geral voltado para os primeiros anos, casa, rua, escola, bairro são exemplos de dimensões espaciais a serem enfocados. O que as pessoas realizam nesses lugares, como surgiram, onde ficam, por que aí se localizam, como são e por que são assim são elementos mobilizadores que auxiliam na seleção e organização de conteúdos mais específicos. Mas os demais anos também podem contemplar esses conceitos e ir além, avaliando as mudanças e as permanências das paisagens dos lugares. Eis novos exemplos: Mudanças e permanências nos lugares e nas paisagens As mudanças e permanências nas paisagens rurais paranaenses As paisagens de meu município já foram assim... Outro importante conceito é o de território, o qual possibilita o trato com as relações de poder que se estabelecem no e pelo espaço geográfico. Desde há muito os grupos humanos necessitam exercer um controle sobre as parcelas do espaço onde se encontram estabelecidos. Desde as mais remotas sociedades tribais até o moderno Estado nacional, o país, as mais variadas formas de gestão e controle do espaço existem. Em razão desse controle, limites e fronteiras sempre foram criados. Ultrapassá-los é como se fosse uma transgressão, algo como “avançar o sinal vermelho”. As fronteiras de um país necessitam ser patrulhadas, o que demanda a instalação de postos, situados em locais estratégicos. Mas não podemos nos limitar apenas ao território nacional. Dentro dele existem muitos outros, nas mais variadas condições, e sendo controlados por diferentes grupos e atores sociais. Nesse sentido, uma associação de moradores que luta pelos interesses de seus associados, uma favela que nasceu a partir das necessidades de seus moradores, um acampamento de sem terra são alguns dentre inúmeros exemplos de territórios. Observe, uma vez mais, que os conceitos se imbricam, isto é, lugar, paisagem e território se interpenetram, se sobrepõem um ao outro. Assim, uma favela possui 35 Conteúdos e Didática da Geografia uma paisagem específica, constitui o lugar das pessoas que nela vivem e com ela se identificam e é um território, controlado e gerido por grupos que aí se estabeleceram. Ao se estudar o território, uma série de outros conceitos são abordados e sem os quais seu estudo torna-se inviável: poder, limites e fronteiras, ocupação e formação territoriais, usos do espaço, conflitos, entre outros. Daí que os temas e as dimensões espaciais envolvidas são bastante variadas, por exemplo: Resta comentar brevemente que o espaço geográfico é resultado das maneiras como os grupos humanos se apropriam da natureza. Sendo assim, o espaço é, a um só tempo, um conjunto indissociável de objetos geográficos (cidades, plantações, fábricas, moradias, florestas, rios, hidrelétricas, etc.) e de ações humanas ou práticas sociais. Em outras palavras, não há espaço semsociedade, assim como não há sociedade sem espaço. Isso significa dizer que a construção ou produção do espaço obedece aos interesses e necessidades dos grupos humanos que atuam nesse processo. Mais do que isso, nesse processo de produção, a sociedade assegura a sua reprodução, ela se perpetua. É daí que advém a ideia de organização do espaço, ou seja, os objetos geográficos são distribuídos, ordenados ou arranjados de tal maneira que a vida possa fluir. Isso significa dizer que os bens materiais e imateriais, as ideias, os valores são permanentemente criados e recriados em espaços específicos e necessitam de redes igualmente específicas para circular. É nesse contexto que as fábricas se conectam aos mercados consumidores por meio das vias de transporte; valores financeiros e ideias circulam pela rede mundial de computadores; matérias-primas partem de suas áreas de produção para os locais onde possam ser processadas; pessoas se deslocam pelas mais variadas razões pelo espaço geográfico local, nacional e internacional. Portanto, trabalhar o espaço geográfico e sua produção, buscar compreender a lógica de sua organização envolve a lida com conceitos diversos, como as atividades econômicas dos meios urbanos e rural, os meios e as vias de transporte e de comunicações, o comércio, os serviços, as redes, as cidades e o campo, entre outros. • Invasão ou ocupação: a questão da moradia no Brasil • Por que no centro tem e na periferia não? • Vila, bairro, município...: as diversas formas de “dividir” o espaço geográfico. 36 Conteúdos e Didática da Geografia Por outro lado, essa dinâmica que envolve as relações da sociedade humana e da natureza gera impactos sobre aquilo que entendemos por ambiente natural. Isso pressupõe trabalhar noções do funcionamento dos elementos que formam os ambientes naturais. Destarte, clima, solos, atmosfera, cobertura vegetal, águas, rochas e formações do relevo também integram os estudos geográficos. Contudo, tais estudos não devem se dar por eles mesmos e sim na sua relação com a sociedade. Até porque, uma montanha pode significar um estoque de matérias- primas ou uma paisagem turística, assim como representar um símbolo cultural ou religioso. Além disso, no enfoque geográfico busca-se compreender as razões de sua distribuição pela superfície terrestre. Afinal, tanto as montanhas como os tipos climáticos ou de vegetação seguem padrões específicos de distribuição. Compreendê-los é uma forma de ler e pensar geograficamente o mundo. Feitas essas novas observações, podemos apontar, também, como sugestão, outros temas que se seguem: Quanto ao último tema, convém um último comentário. Desde há muito tempo que o ensino de Geografia é associado a mapas e globos terrestres. Criticado pelo seu uso mecânico, hoje proliferam estudos e obras que apontam para a formação de mapeadores conscientes e leitores críticos de mapas. Trata-se, portanto, de uma proposta de “alfabetização cartográfica”, com início no 1° ano e “sem data” para se encerrar, envolvendo em particular a construção de legenda, bem como o desenvolvimento da lateralidade, uso de referenciais da paisagem e da orientação, além do trabalho envolvendo proporção e escala. Embora esses elementos possam Agricultura no Brasil - A produção rural familiar - Educar para o campo, educar para a cidade - Quem são, onde vivem e como vivem os brasileiros - As festas e o uso do espaço geográfico pelas pessoas - O tempo meteorológico sempre muda - O mundo dá voltas - os dias, as noites e as estações do ano - Ônibus ou trem, barco ou avião: os transportes e a circulação de pessoas e mercadorias - Jornal, rádio e televisão aproximam povos e lugares - A rede de computadores e a circulação de informações - Seja na feira ou no shopping center, as pessoas vão às compras! - Da plantação à mesa, os alimentos percorrem muitos caminhos - Por que cuidar do ambiente? - Mapas, plantas e globos mostram a geografia dos lugares - Mapas e caminhos: a organização de um roteiro. 37 Conteúdos e Didática da Geografia ser tomados como conteúdo, até porque a criança necessita apropriar-se desses saberes, a cartografia é tida como uma das linguagens da Geografia. Isso significa afirmar que os mapas e plantas devem ser incorporados ao trabalho pedagógico das aulas da disciplina e utilizados cotidianamente em sala de aula. Cumpre destacar que o mapa permite que se tenha uma visão de conjunto dos espaços e que se operem importantes raciocínios geográficos a partir de sua leitura e interpretação. 2.3 Considerações sobre a avaliação Considerando-se que avaliar é estabelecer objetivos e viabilizá-los metodologicamente, não custa lembrar que a avaliação é algo muito, mas muito mais amplo que a simples aplicação desse ou daquele instrumento de avaliação. Na realidade, trata-se de um processo, de um conjunto de procedimentos que inclui a escolha ou seleção criteriosa dos conteúdos, a organização adequada dos recursos e meios didáticos, a opção pela metodologia do ensino que melhor condiz com as peculiaridades da turma e com as especificidades dos conteúdos ministrados, a definição dos instrumentos avaliativos, bem como os critérios de avaliação a serem seguidos. Contudo, de nada adiantam esses procedimentos, se a unidade escolar como um todo não tiver clareza de seu projeto, mas de um projeto pedagógico que aponte para a avaliação da aprendizagem com funções bem definidas, dentre elas, a de aprofundamento da aprendizagem e de motivar o crescimento. Nesse contexto, que é o contexto de uma avaliação contínua e diagnostica, é necessário frisar que a nota ou o conceito não podem ter um efeito coercitivo ou disciplinador. Ao contrário, o ensino tem que apontar para a autonomia intelectual e moral das crianças. Sendo assim, no encaminhamento dos conteúdos, é necessário criar situações que permitam a troca de pontos de vista entre as crianças e os professores. Sim ou não e certo ou errado devem ceder lugar a questionamentos relativamente simples, mas que conduzem a criança a uma explicação de seu raciocínio, a uma apresentação de seus argumentos. Fonte: FILIZOLA, Roberto. Orientações pedagógicas para os anos iniciais do ensino fundamental de 9 anos. Geografia. 2009. Disponível em: http://estagiocewk.pbworks.com/f/apostila_met_ens_geo2011_rosangelamenta_1SEM.pdf.. Acesso em fevereiro/2012 38 Conteúdos e Didática da Geografia 1. Por que aprender e ensinar geografia no ensino fundamental? 2. Na perspectiva do texto como deve ocorrer a avaliação? 3. Relacione os tipos de paisagem existente no planeta. 4. Cite os principais recursos que o professor utiliza para ministrar aula de geografia. 5. Explique porque a avaliação é continua e diagnóstica? Comente a importância da interdisciplinaridade no ensino de geografia. Projeto: Adaptação de Pontos cardeais: orientação, lugar e paisagens. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/5422/adapta cao-de-pontos-cardeais-orientacao-lugar-e- paisagens Leitura de mapas e paisagens. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/2330/leitura- de-mapas-e-paisagens 39 Conteúdos e Didática da Geografia UNIDADE 03 A Importância do Ensino da Geografia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Fonte: http://pibidgeografia.blogspot.com/2010/09/importancia-do- ensino-da-geografia-na.html COMPETÊNCIAS E HABILIDADES Delimitar tendências e temáticas da Geografia, identificando seus conceitos fundamentais. 40 Conteúdos e Didática da Geografia Introdução As discussões sobre a melhoria na qualidade do ensino é hoje uma necessidade que envolve a todos nós profissionais da Educação, preocupados com a formação dos futuros professores que atuarãona Educação Básica e Superior. Mais especificamente sobre a Educação Básica, muitas perspectivas estão sendo apontadas, não somente pelo poder público, mas pelo envolvimento dos profissionais que constantemente avaliam currículos que resultam nas reestruturações dos cursos de Licenciatura. Especificamente na área das Ciências Humanas, os conteúdos de Geografia têm merecido, por parte dos professores pesquisadores, muitos avanços que resultam em publicações que lançam olhares sobre novos problemas da cotidianidade escolar ou de como o ensino especificamente na disciplina de Geografia em tela tem se modificado. Os professores saem dos cursos de Licenciatura para atuarem nas Escolas a partir da metade do Ensino Fundamental. Teorias e práticas tentam se acomodar nesse cenário que é a Escola. A dificuldade maior está em desenvolver na prática as teorias estudadas nos cursos de Licenciatura, quando os professores se deparam com os alunos que tiveram noções muito tênues sobre a Geografia ou sobre Tempo e Espaço nas séries iniciais, os fios condutores que irão levar os alunos, nas etapas Fonte: Novas estratégias para trabalhar com a disciplina de geografia no ensino fundamental. Disponível em: http://www.ub.edu/geocrit/b3w-1041.htm 41 Conteúdos e Didática da Geografia seguintes, ao desvelamento de conceitos e temas dessa disciplina que exigirão um estado de abstração um pouco maior. A temática aqui resulta dessas inquietações, ou seja, como são trabalhados os conceitos mais elementares da Geografia, qual sejam o Tempo e o Espaço, de que maneira os professores introduzem os alunos nessas temáticas? Como eles, os alunos são despertados para a compreensão desses conceitos? Essas relações que se estabelecem nas séries iniciais serão percebidas nas séries seguintes? Que tipo de recursos didáticos os professores utilizam para despertar nos alunos o gosto e envolvimento com essa disciplina? Sabemos que, nas séries iniciais, os profissionais são formados em Pedagogia, tem na sua formação a Metodologia do Ensino de Estudos Sociais, isso explica em parte as dificuldades desses profissionais que estudaram sobre o Ensino de Estudos Sociais, de maneira insuficiente, porque tem que atender também o Ensino de Ciências, Matemática, Língua Portuguesa e Artes, por exemplo. Ao mesmo tempo percebemos dificuldades no professor que fica na outra ponta do processo, ou seja, aquele que tem a formação, mas não dialoga com o professor das séries iniciais e precisa mostrar aos seus alunos a importância de estudar Geografia na mesma proporção da importância de estudar as outras disciplinas. Dessa forma, percebemos a necessidade de reconhecer os profissionais envolvidos, o tipo de formação que apresentam, os currículos que desenvolvem nessas séries os conceitos que são trabalhados e a forma como são trabalhados. Entender como os alunos das séries seguintes se relacionam com a Geografia e que valores atribuem à disciplina nas suas grades curriculares é o ponto central que representa um grande desafio para nós professores dos cursos de Licenciatura. Hoje muitos estudos focam essas questões sem, no entanto, estabelecer uma relação direta com os anos iniciais do ensino fundamental. Sobre a Geografia e as suas formas de ensiná-la, algumas vertentes entendem a Geografia como o estudo da experiência humana no tempo. Essa permite entender que a Geografia estuda a vida de todos os homens e mulheres, com a preocupação de recuperar o sentido de experiências individuais e coletivas. Outros autores têm atravessado essa perspectiva no sentido de valorizar toda e qualquer experiência vivida, ao sabor da Nova Geografia Crítica. Esse pode ser um dos principais critérios para a seleção dos conteúdos e sua organização em temas a serem ensinados com o objetivo de contribuir para a 42 Conteúdos e Didática da Geografia formação de consciências individuais e coletivas em uma perspectiva crítica. Na formação da consciência crítica é necessário que a injustiça se torne um percebido claro para a consciência, possibilitando aos sujeitos se inserirem no processo geográficos e fazendo com que eles se inscrevam na busca de sua afirmação. A consciência crítica possibilita a inscrição dos sujeitos na realidade para melhor conhecê-la e transformá-la, formando-o para enfrentar, ouvir e desvelar o mundo procurando o encontro com o outro, estabelecendo um diálogo do qual resulta o saber. Assim os homens: desafiados pela dramaticidade da hora atual, se propõem a si mesmo com problema. Descobrem que sabem pouco de si e se fazem problema eles mesmos. Indagam, respondem e suas respostas os levam a novas perguntas. Dessa forma, os estudos Culturais nos apresentam problemas aos quais procuramos respostas que nos levam a outros problemas que vão repercutindo no ensino e que, por sua vez, resultam na compreensão do ensino escolar como um todo, pois na verdade temos um ensino integrado nas séries iniciais que, vai se diferenciando nas séries seguintes de forma que essa compartimentalização enfraquece os elos da interdisciplinaridade que entendemos como primordial para o ensino. Sobre o ensino da Geografia, Lana Cavalcanti (2005), apresenta alguns pressupostos: na relação cognitiva de crianças, jovens e adultos com o mundo, o raciocínio espacial é necessário, pois as práticas sociais cotidianas têm uma dimensão espacial, o que confere importância ao ensino de geografia na escola; os alunos que estudam essa disciplina já possuem conhecimentos geográficos oriundos de sua relação direta e cotidiana com o espaço vivido; o desenvolvimento de um raciocínio espacial conceitual pelos alunos depende, embora não exclusivamente, de uma relação intersubjetiva no contexto escolar e de uma mediação semiótica. Fonte: https://educador.bra silescola.uol.com.br/ estrategias- ensino/dicas-para- melhorar-as-aulas- geografia.htm 43 Conteúdos e Didática da Geografia Essas e outras orientações metodológicas têm sido atribuídas a uma visão socioconstrutivista do ensino, na qual se considera esse processo como construção de conhecimentos pelo aluno. A afirmação anterior é uma premissa inicial que tem permitido formular uma série de desdobramentos para o ensino de Geografia: o aluno é o sujeito ativo de seu processo de formação e de desenvolvimento intelectual, afetivo e social; o professor tem o papel de mediador do processo de formação do aluno; a mediação própria do trabalho do professor é a de favorecer/propiciar a inter-relação (encontro/confronto) entre sujeito (aluno) e o objeto de seu conhecimento (conteúdo escolar); nessa mediação, o saber do aluno é uma dimensão importante do seu processo de conhecimento (processo de ensino aprendizagem). Cavalcanti (2005) ainda esclarece que: a perspectiva sócioconstrutivista (...) concebe o ensino como uma intervenção intencional nos processos intelectuais, sociais e afetivos do aluno, buscando sua relação consciente e ativa com os objetos de conhecimento (...). Esse entendimento implica, resumidamente, afirmar que o objetivo maior do ensino é a construção do conhecimento pelo aluno, de modo que todas as ações devem estar voltadas para sua eficácia do ponto de vista dos resultados no conhecimento e desenvolvimento do aluno. Tais ações devem pôr o aluno, sujeito do processo, em atividade diante do meio externo, o qual deve ser 'inserido' no processo como objeto de conhecimento, ou seja, o aluno deve ter com esse meio, (que são os conteúdos escolares) uma relação ativa, uma espécie de desafio que o leve a um desejo de conhecê-lo. (CAVALCANTI, 2005, p.66) Os professores, ao ensinarem Geografia, necessitam despertar nos seus alunos a perspectiva da formação ou construção de um discurso que chamamos de Linguagem Geográfica que deve ser apreendida pelos educandos
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