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Aula 5 Indicadores Epidemiológicos

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Fundamentos de Estatística e Epidemiologia
Aula 5: Indicadores Epidemiológicos
Apresentação
Nesta aula, abordaremos os principais indicadores epidemiológicos.
Começaremos pelos indicadores de endemia, epidemia e pandemia. Nosso foco será o conceito de frequência e a relação
entre a prevalência e a incidência de doenças.
Estudaremos, ainda, os indicadores de mortalidade e, para �nalizar, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD).
Objetivos
 Identi�car as diferenças entre endemia, epidemia e pandemia;
 Relacionar as características da prevalência e da incidência das doenças;
 Esclarecer a importância do PNAD.
 Endemia, epidemia e pandemia
Três outros termos necessitam ser de�nidos:
Endemia
É de�nida como a presença habitual de uma doença em uma
determinada área geográ�ca. Pode, também, referir-se à
ocorrência usual de uma determinada doença, dentro de uma
área.
Epidemia
É de�nida como a ocorrência em uma comunidade ou região,
de um grupo de doenças de natureza similar, excedendo
claramente a expectativa normal, derivada de uma fonte
comum de propagação.
Pandemia
Refere-se a uma epidemia de dimensões mundiais.
Como podemos saber quando temos um excesso além do que é
esperado? Na verdade, como sabermos o quanto esperar? Não existe
uma resposta precisa para essa pergunta.
Através de uma vigilância permanente, podemos determinar quais são os níveis usuais ou esperados. No que se refere ao
excesso, às vezes um teste interocular pode ser convincente: A diferença é tão clara que lhe golpeia entre os olhos.
 Doença endêmica versus epidêmica.
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Exemplo
Por exemplo, em dezembro de 1952, um denso nevoeiro desceu sobre Londres. De 6 a 9 de dezembro, a névoa se tornou tão
densa que a visibilidade foi reduzida a cerca de 9 metros em partes de Londres.
Os pedestres tinham di�culdades para acharem seus caminhos, mesmo em áreas conhecidas. Por vezes, as pessoas não
conseguiam ver suas próprias mãos e seus pés.
Veja, na �gura, as tendências, na época, nas taxas de mortalidade e os níveis de dióxido de enxofre (SO ). O nível de SO serve
como um indicativo útil de níveis gerais de poluição atmosférica. Como visto na �gura 2, o nevoeiro foi acompanhado de um
rápido aumento na taxa de mortalidade, excedendo claramente as taxas normais. Essa taxa permaneceu elevada por algum
tempo após a névoa se dissipar. Mais de 4.000 mortes foram atribuídas ao nevoeiro.
Recentemente, análises adicionais sugeriram que cerca de 12.000 mortes além do esperado ocorreram de dezembro de 1952
até fevereiro de 1953. Muitas dessas mortes ocorreram em pessoas que já sofriam de doenças crônicas pulmonares ou
cardiovasculares.
O desastre do Nevoeiro Londrino, ou A Grande Névoa, como �cou conhecido, desencadeou a formulação de leis, incluindo o
Clean Air Acts de 1956 e 1968, que baniu as emissões de fumaça negra e exigiu que residentes de áreas urbanas operadores
de fábrica convertessem suas máquinas de combustíveis para produzirem menos fumaça.
Mortalidade semanal aproximada e concentração de SO na Grande Londres, 1952-1953.2
2 2
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 Prevalência (de doenças)
 (Fonte: janews / Shutterstock.)
Na linguagem comum, o verbo prevalecer conota a ideia de destaque sobre os fatos ou acontecimentos circundantes. Como
conceito derivado, prevalência denota uma propriedade dos acontecimentos, fazendo com que estes se destaquem da
circunstância. Como termo usado pela ciência epidemiológica, prevalência denota, aí, a frequência de casos de morbidade ou
outra condição qualquer que se destaca por sua casuística em valores maiores que zero sobre os eventos de saúde ou não
doença, especialmente, destacando-se sobre os demais casos passados, coincidentes com eles no tempo e no espaço, e que
já não são mais casos, por terem desaparecido ou evoluído para morte ou cura.
Responder à questão Qual a prevalência, aqui e agora, da doença
x? seria o mesmo que responder a Quantos casos diagnosticados da
doença x se impõem à nossa atenção aqui e agora? ou Qual a
frequência, aqui e agora, da doença?
 Assim, em saúde pública, prevalência é o termo descritivo da força com que subsistem as doenças nas comunidades.
Atenção
As medidas mais simples para prevalência são as contagens absolutas e frequências absolutas de total de casos da doença
segundo as variáveis independentes entre os doentes (por exemplo, a contagem total de 300 casos existentes distribuídos na
frequência de 200 casos em adultos e 100 casos em crianças).
Superiores a essas, por seu valor descritivo da probabilidade da doença na população, existem os coe�cientes de prevalência,
medidas secundárias que possibilitam comparar a probabilidade de existência de uma dada doença no tempo e no espaço e
todas as demais variáveis referentes à população: Idade ou grupo etário, sexo, ocupação, etnia, entre outras.
Operacionalmente, o coe�ciente de prevalência pode ser calculado pela divisão entre o número de casos conhecidos de uma
dada doença e o número de indivíduos da população, multiplicando o resultado pela base referencial da população que é
potência de 10, usualmente 1.000, 10.000 ou 100.000, de livre escolha, conforme a conveniência ou a tradição:
Coeficiente de prevalência  =     ×  
Nº de casos conhecidos de uma dada doença
 População
10n
Deve �car bem estabelecido que número de casos conhecidos de uma dada doença mede os casos que subsistem, isto é,
mede a soma dos casos anteriormente conhecidos e que ainda existe com os casos novos que foram diagnosticados desde a
data da computação anterior.
Incidência (de morbidade)
Os conceitos dos termos prevalecer e incidir contêm em comum, como ideia central, a ação de acontecer. Assim, por
prevalecer deve ser compreendida a sequência das ações de acontecer e permanecer existindo em um momento considerado,
enquanto incidir denota simplesmente a ação de acontecer.
Comentário
A ciência epidemiológica apropriou-se de ambos os conceitos, dando-lhes feição nova sob a forma dos termos incidência e
prevalência. Incidência, em Epidemiologia, traduz a ideia de intensidade com a qual a morbidade incide sobre uma população em
um intervalo de tempo, enquanto prevalência, conforme salientado na seção anterior, é termo descritivo da força com que
subsistem casos das doenças nas comunidades.
A incidência de doenças é medida, grosso modo, pela contagem de casos
emergentes e pela frequência absoluta de casos relacionados à unidade de
intervalo de tempo—dia, semana, mês ou ano. Assim, as sentenças três
casos novos por dia ou 300 casos por ano são relações que expressam a
incidência, ou seja, a intensidade com que estão surgindo casos novos, seja
por dia, seja por ano, tomados esses intervalos como unidade de tempo.
Para efeito de relativização da medida e de sua aplicação ao estudo comparativo do risco de incidência de doenças numa
mesma população em épocas diferentes, ou em populações diversas numa mesma época, usa-se o coe�ciente de incidência.
Este, na realidade, é um coe�ciente por habitante e por unidades de tempo, tal qual foi referido no parágrafo anterior para a
frequência absoluta de incidência, porém tomado em relação ao total de indivíduos sob risco na população.
Operacionalmente, o coe�ciente de incidência é de�nido como a razão entre o número de casos novos de uma doença que
incide em uma comunidade em um intervalo de tempo determinado e o número de habitantes de uma população expostos
durante o mesmo período multiplicado o resultado por potência de 10, que é base referencial da população:
 Nº de casos novos de uma doença.
 Incidentes numa população durante um intervalo de tempo.
 Coe�ciente de incidência= X 10 de uma doença.               
 Nº de pessoas suscetíveis à doença.
 Expostas ao risco da doença durante o referido intervalo de tempo.
Visto por esse prisma, o coe�ciente de incidência é uma variação de crescimento tomada no tempo, correspondendo a uma
velocidade de crescimento.O coe�ciente de incidência mediria a velocidade com que os novos casos de doença são agregados
ao contingente dos que no passado adquiriram a doença e que, à data do cálculo do coe�ciente de incidência, permanecem
doentes.
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 Indicadores demográ�cos e de mortalidade
 (Fonte: sasirin pamai / Shutterstock.)
A necessidade de uma medida que pudesse expressar o padrão de vida ou índice de vida levou a Organização das Nações
Unidas, em 1952, a convocar um grupo de trabalho encarregado de estudar métodos satisfatórios para de�nir e avaliar o nível
de vida das coletividades humanas.
De lá para cá, houve avanços conceituais sobre vida e saúde que trouxeram a consciência de que é preciso olhar mais para a
estrada da vida, atentos à interação com os demais viajantes, aos relacionamentos coletivos e ao espaço para desempenho de
função sociais. Apesar disso, na saúde pública, ainda não se aprendeu a pensar na saúde como sendo o caminho que se quer
construir para tornar a vida uma viagem fácil, boa e longa.  
Prevalecem dominando nos indicadores básicos da Saúde no Brasil medidas de vida que, em grande proporção, estão
limitadas à dimensão da vida biológica. Pouco ou quase nenhuma avaliação é feita de maneira sistemática da dimensão do
eixo do desempenho de papéis pelo indivíduo, quanto ao desempenho de atitude cívica na coletividade e postura ética na
sociedade.
Dos três eixos de dimensões da vida, o eixo de desenvolvimento, relativo à evolução do corpo, é o que tem sido mais bem
estudado. Aqui, trata-se de descrever medidas de desenvolvimento que aludam aos eventos de maior interesse para a saúde
pública, eventos referentes, as ocorrências mórbidas e o óbito.
 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios— PNAD
 Clique no botão acima.
O sistema de pesquisas domiciliares, implantado progressivamente no Brasil a partir de 1967, com a criação da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios— PNAD, tem como �nalidade a produção de informações básicas para o
estudo do desenvolvimento socioeconômico do País. Trata-se de um sistema de pesquisas por amostra de domicílios
que, por ter propósitos múltiplos, investiga diversas características socioeconômicas e demográ�cas, umas de caráter
permanente nas pesquisas, como as características gerais da população, de educação, trabalho, rendimento e
habitação, e outras com periodicidade variável, como as características sobre migração, fecundidade, nupcialidade,
saúde, segurança alimentar e outros temas que são incluídos no sistema de acordo com as necessidades de
informação para o País.
A PNAD teve início no segundo trimestre de 1967, sendo os seus resultados apresentados com periodicidade
trimestral até o primeiro trimestre de 1970. A partir de 1971, os levantamentos passaram a ser anuais com realização
no último trimestre.
A pesquisa foi interrompida para a realização do Censo Demográ�co 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010. No período 1974-
1975, foi levada a efeito uma pesquisa especial, denominada Estudo Nacional da Despesa Familiar— Endef que, além
dos temas anteriormente pesquisados pela PNAD, investigou consumo alimentar e orçamentos familiares.
Durante a realização do Endef, o levantamento básico da PNAD foi interrompido. Em 1994, por razões excepcionais, a
PNAD não foi realizada. A partir de 2004, os resultados da pesquisa passaram a agregar informações das áreas
urbana e rural para todas as unidades da Federação, grandes regiões e Brasil.
As notas técnicas do PNAD apresentam os conceitos e de�nições utilizados na pesquisa e trazem considerações de
natureza metodológica que permitem conhecer os principais aspectos de sua evolução histórica. Em complemento a
essas informações, consolida os tópicos investigados na PNAD desde 1992, relativamente às seguintes
características: Unidade domiciliar, dados gerais dos moradores, migração, educação, trabalho das crianças de 5 a 9
anos de idade, trabalho e fecundidade.
Atividade
1. Endemia signi�ca que a doença:
a) Ocorre claramente em excesso com relação à expectativa de normalidade.
b) Está habitualmente presente em populações humanas.
c) Afeta um grande número de países simultaneamente.
d) Exibe um padrão sazonal.
e) É prevalente entre animais.
2. É uma alteração, espacial e temporalmente delimitada, do estado de saúde-doença de uma população, caracterizada por uma
elevação progressivamente crescente, inesperada e descontrolada dos coe�cientes de incidência de determinada doença,
ultrapassando e reiterando valores acima do limiar epidêmico preestabelecido. Esta de�nição aplica-se a:
 
a) Pandemia
b) Epidemia
c) Surto epidêmico
d) Endemia
e) Nenhuma das respostas
3. Vamos supor que, em janeiro de 1996, 1.000 adultos residentes em uma comunidade aceitaram o convite para serem
examinados para hipotireoidismo em uma clínica local. Oito pessoas foram diagnosticadas com a doença. Destas, cinco já
vinham fazendo tratamento, mas três não sabiam da existência da doença. O mesmo grupo de pessoas foi examinado
novamente em janeiro de 1998 e foram descobertos, então, seis casos novos de hipotireoidismo. Destes, dois tiveram sintomas
meses antes e já haviam sido diagnosticados e tratados por um médico. Registrou-se também que das oito pessoas
diagnosticadas no exame de 1996, uma havia suspendido a medicação e morrido em 1997 de doença cardíaca mixedematosa.
Fora isso, todas as pessoas examinadas em 1996 compareceram ao exame de 1998.
Qual foi a prevalência de hipotireoidismo para o período de dois anos?
a) 7/1.000
b) 8/1.000
c) 9/1.000
d) 13/1.000
e) 14/1.000
4. Uma ocorrência epidêmica restrita a um espaço extremamente delimitado: Colégio, quartel, edifício de apartamento, bairro etc.
é dita:
a) Surto endêmico
b) Surto epidêmico
c) Epidemia focal
d) Epidemia de contágio
e) Nenhuma das respostas
5. Das seguintes a�rmativas sobre epidemia por fonte comum:
1. O seu critério diferenciador é a inexistência de um mecanismo de transmissão de hospedeiro a hospedeiro.
2. O fator extrínseco é veiculado pela água, alimento, ar ou introduzido por inoculação.
3. Não existe propagação da doença pessoa a pessoa: Todos os afetados devem ter tido acesso direto ao veículo
disseminador, necessariamente ao mesmo tempo e no mesmo lugar.
4. Trata-se geralmente de uma epidemia explosiva e bastante localizada em relação às variáveis tempo, espaço e pessoa.
Estão corretas:
a) Somente 1 e 3.
b) Somente 2 e 4
c) Somente 1, 2 e 4
d) Somente 1, 3 e 4
e) Todas (1 a 4)
Notas
Prosumer1
Um consumidor que é, ao mesmo tempo, produtor de conteúdo
Unicórnio2
Termo introduzido em 2013 por Aileen Lee, referindo-se a empresas que conseguem algo que parece impossível (como achar
um unicórnio), que é ser avaliada em 1 bilhão de dólares antes mesmo de abrir seu capital nas bolsas de valores. E o que elas
fazem para conseguir esse feito? Introduzem grandes inovações no mercado, enxergam a riqueza de dados que a internet
fornece e conseguem ter o controle deles extraindo valor das transações de dados.
Cibridismo3
É estar on e off o tempo todo.
Somos seres ciber-hídridos, ou seja, temos uma constituição biológica, expandida por todas as interfaces tecnológicas que
adquirimos, e, cada vez mais, estaremos replicados em todas essas plataformas. Nossos conteúdos, dados pessoais, fotos,
vídeos, leituras, tudo o que faz parte da nossa vida está integrado nas interfaces que utilizamos, e não vivemos sem eles. Isso é
ser cíbrido.
Referências
GORDIS, Leon. Epidemiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2010.
MEDRONHO, Roberto de Andrade. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2002.
ROTHMAN, H. J.; GREENLAND, S. Epidemiologia moderna. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 887p.
ROUQUAYROL, Maria Zélia. Epidemiologia e saúde. 3. ed. Rio de Janeiro: MedBook, 1988.
Próxima aula
O modelo de estudos observacionais em Epidemiologia.
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