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Maria Beatriz Machado PEDIATRIA – AULA 19 – CARDIOPATIAS CONGÊNITAS ACIANOGÊNICAS E CIANOGÊNICAS 1. INTRODUÇÃO As cardiopatias congênitas são anormalidades tanto na estrutura como na função cardiocirculatória presentes no nascimento, mesmo que só sejam identificadas na vida adulta Incidência: 1% dos nascidos vivos: 90% dos casos são defeitos isolados (sem fatores de risco) 5% dos defeitos são associados a alterações cromossômicas 5% são não genéticas (medicações, doenças maternas, infecções congênitas, causas ambientais) 3 – 5% dos óbitos no período neonatal 10% dos óbitos infantis 50% das mortes por malformações 2. TESTE DO CORAÇÃOZINHO O que é o teste do coraçãozinho? É um teste feito nos RN entre 24 – 48h de vida ANTES da alta hospitalar, onde verificamos a oximetria de pulso do membro superior direito e membros inferiores. Mesmo realizando o teste, 30% dos RN vão de alta hospitalar sem diagnóstico Resultados do teste do coraçãozinho: SPO2 < 95% OU diferença de ≥ 3% entre as medidas dos membros: Realizar nova oximetria em 1 hora Se na nova oximetria tivermos novamente SPO2 < 95% OU diferença de ≥ 3% entre as medidas dos membros: Ecocardiograma antes da alta hospitalar (NÃO DAR ALTA SEM DIAGNÓSTICO) Se na nova oximetria tivermos SPO2 ≥ 95% E uma diferença < 3% entre as medidas dos membros: Seguimento neonatal de rotina SPO2 ≥ 95% E diferença < 3% entre as medidas dos membros: Seguimento neonatal de rotina 3. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DAS CARDIOPATIAS CONGÊNITAS Sopro: É importantíssimo determinar as características do sopro Verificar se há frêmito associado Lembrar que: Sopro não é sinal de doença Taquidispneia/dispneia Hipoxemia: Cianose Baqueteamento digital Crise hipoxêmica Alteração de pulsos Baixo ganho ponderal Arritmias Síncope Choque cardiogênico Maria Beatriz Machado 4. EXAMES COMPLEMENTARES NAS CARDIOPATIAS CONGÊNITAS Para suspeita diagnóstica: Anamnese: Perguntar sobre idade materna, doenças maternas, doenças familiares, sintomas associados, desenvolvimento da criança, ganho de peso.. Exame físico: Observar o tórax (área cardíaca), palpação para verificar se há frêmito, ausculta cardíaca.. Eletrocardiograma: Não dá diagnóstico de certeza, só nos mostra se há alguma alteração Radiografia de tórax: Não dá diagnóstico de certeza, só nos mostra se há alguma alteração Confirmação diagnóstica: Ecocardiograma (pode ser fetal, transesofágico ou transtorácico) PADRÃO OURO Cateterismo Tomografia Ressonância 5. TIPOS DE CARDIOPATIAS CONGÊNITAS Deixarei aqui um resuminho falando os tipos que podemos ter e que abordaremos para ficar mais fácil entender o resumo depois: Cardiopatias congênitas ACIANOGÊNICAS (saturação > 92%): Podem cursar com: Hiperfluxo pulmonar: Comunicação interatrial Comunicação interventricular Persistência do canal arterial Defeito do septo atrioventricular total Drenagem anômala parcial de veias pulmonares Fluxo pulmonar normal ou hipofluxo: Obstrutivas do ventrículo direito Obstrutivas do ventrículo esquerdo: Coarctação de aorta Cardiopatias congênitas CIANOGÊNICAS (saturação < 92%): Podem cursar com: Hiperfluxo pulmonar: Fluxo pulmonar normal: Transposição das grandes artérias Hipofluxo pulmonar: Tetralogia de Fallot OBS: Só conseguimos ver a cianose quando a saturação está em torno de 84%, portanto, caso tenhamos uma criança saturando 90% e não coloquemos nela o oxímetro de pulso para verificar a saturação, podemos estar deixando passar uma cardiopatia congênita cianogênica (por isso a importância de colocar oxímetro de pulso em todas as crianças na consulta) Maria Beatriz Machado 6. CARDIOPATIAS CONGÊNITAS ACIANOGÊNICAS Saturação > 92% Podemos ter as cardiopatias congênitas acianogênicas: Com hiperfluxopulmonar: Comunicação interatrial Comunicação interventricular Persistência do canal arterial Defeito do septo atrioventricular total Drenagem anômala parcial de veias pulmonares Com fluxo pulmonar normal ou hipofluxo: Obstrutivas do ventrículo direito Obstrutivas do ventrículo esquerdo Podemos ter cardiopatias congênitas acianogênicas COM ou SEM SHUNT Shunt: Comunicação (pode ser comunicação entre os átrios, entre os ventrículos, etc). Geralmente quando temos o shunt, temos um hiperfluxo pulmonar (porque teremos um desvio do fluxo sanguíneo da esquerda para a direita, o que vai levar maior fluxo para as câmaras direitas do coração, e consequentemente para o pulmão) Lembrar que esse sangue que está indo da esquerda para a direita JÁ FOI OXIGENADO, e por isso são patologias acianogênicas. 6.1. CARDIOPATIAS CONGÊNITAS ACIANOGÊNICAS COM HIPERFLUXO PULMONAR 6.1.1. QUADRO CLÍNICO A Dra disse que todas as cardiopatias congênitas acianogênicas com hiperfluxo pulmonar possuem os mesmos sintomas, então ela colocou o quadro clínico em conjunto aqui, e depois falaremos um pouco mais sobre cada patologia. Depende da intensidade do “shunt” “Shunt” pequeno = Assintomático Geralmente descobrimos devido a um sopro auscultado em consulta de rotina. “Shunt” moderado/grande = Sintomas de hiperfluxo pulmonar (congestão pulmonar) Cansaço para mamar (interrupção frequente das mamadas) Taquidispneia e sudorese excessiva Infecções respiratórias de repetição Baixo ganho pondero-estatural IC aguda: Pode ser a primeira manifestação A patologia que mais causa isso é a coarctação de aorta crítica (as câmaras cardíacas ficam muito dilatadas e o bebê entra em choque cardiogênico). OBS: Geralmente a mãe chega na consulta dizendo que o bebê fica pálido enquanto está mamando, fica suando muito, e interrompe muito as mamadas. Maria Beatriz Machado 6.1.2. TIPOS 6.1.2.1. COMUNICAÇÃO INTERATRIAL Presença de orifício entre os átrios (shunt/comunicação entre os átrios) 6 – 10% das cardiopatias congênitas Desvio do fluxo da esquerda para a direita causa sobrecarga das câmaras direitas O sangue tende a ir do local de maior pressão para o de menor pressão. Por isso ele desvia o fluxo da esquerda para a direita (porque as câmaras direitas possuem menor pressão). Se o shunt for muito pequeno, a criança não terá repercussões clínicas Se o shunt for grande, a criança terá repercussões clínicas O bebê terá congestão pulmonar e ficará muito cansado. Ele gastará muita energia para respirar e não vai conseguir mamar corretamente, assim não ganhará peso, ou pode até perder peso). Exame físico: Desdobramento constante fixo da segunda bulha: A segunda bulha (fechamento da aórtica e pulmonar) desdobra variavelmente de acordo com a respiração. Quando temos a CIA, as válvulas sempre se fecham separadamente, alterando a ausculta cardíaca (TUM-TRA) Sopro sistólico discreto durante a ejeção (1 a 2+/6+) auscultado no foco pulmonar (devido ao hiperfluxo) O sopro não é algo muito característico dessa patologia porque o átrio é uma câmara de baixa pressão 6.1.2.2. COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR Presença de orifício entre os ventrículos (shunt/comunicação entre os ventrículos) É a cardiopatia mais frequente (10 – 40%) Além de ser a cardiopatia mais diagnosticada, é a que mais está associada a outras cardiopatias. Sobrecarga das câmaras esquerdas Como teremos grande quantidade de fluxo retornando para o pulmão e chegando novamente as câmaras esquerdas do coração, elas vão se tornar dilatadas. Exame físico: Sopro sistólico na borda esternal esquerda baixa, com irradiação em faixa Dependendo do tamanho do shunt, podemos até mesmo ter o frêmito. Quando auscultamos no 3, 4 ou 5º espaço intercostal temos o sopro, e conforme movimentamos o estetoscópio para a esquerda ou direita, ele vaidiminuindo (por isso é em faixa). O sopro da CIV é aquele que geralmente some com o tempo Conforme a criança cresce, o músculo se desenvolve e a comunicação acaba se fechando sozinha. Maria Beatriz Machado 6.1.2.3. PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL Falta de oclusão do canal que comunica o istmo da aorta ao teto da bifurcação das artérias pulmonares (comunicação fisiológica durante a vida fetal) Ou seja, esse canal é presente na vida intraútero e depois que o bebê nasce, ele deve fechar (são dois fechamentos, um até as 72 horas de vida, e outro até 21 dias de vida). Sobrecarga das câmaras esquerdas Quando não temos o fechamento do canal arterial, o fluxo vem pela aorta, acha uma pressão baixa na artéria pulmonar e desvia seu fluxo para ela, indo para os pulmões. Esse fluxo desviado também retorna para as câmaras esquerdas dilatando-as. Exame físico: Sopro contínuo na região infraclavicular esquerda (sopro em maquinário) Ele é contínuo porque ocorre na sístole e diástole. Pulsos amplos Devido ao roubo do fluxo da aorta durante a diástole. Maior diferencial de pressão entre sístole e diástole 6.1.3. TRATAMENTO DAS CARDIOPATIAS CONGÊNITAS ACIANOGÊNICAS COM HIPERFLUXO Clínico: Suporte nutricional: Precisamos dar calorias para esses bebês de alguma forma. Medicações (para insuficiência cardíaca): Não precisa saber as doses, somente as medicações Captopril: 1 – 2mg/kg/dia Furosemida: 1 – 3mg/kg/dia Espironolactona: 1 – 3mg/kg/dia Hidroclorotiazida: 1 – 3mg/kg/dia Digoxina: 5 – 10mg/kg/dia Utilizamos mais nos casos de defeito do septo atrioventricular Profilaxia para endocardite: É feita nas cardiopatias com shunt Antes de procedimentos invasivos e procedimentos dentários, é dada uma dose única de amoxacilina para o paciente 1 hora antes do procedimento (crianças até 29kg: 50mg/kg; crianças > 29kg: 2g) Cirúrgico: Correção dos defeitos OBS: Nos bebês sintomáticos que ainda não podem ser operados, a associação entre furosemida, captopril e espironolactona consegue segurar bem os sintomas. 6.1.4. COMPLICAÇÕES DAS CARDIOPATIAS CONGÊNITAS ACIANOGÊNICAS COM HIPERFLUXO Quando a patologia não é tratada: Desnutrição Infecções: Pneumonia de repetição; Endocardite infecciosa ICC Hipertensão pulmonar: SÍNDROME DE EISENMENGER (comentada abaixo) Arritmias Maria Beatriz Machado 6.1.4.1. SÍNDROME DE EISENMENGER Ocorre mais nos adolescentes e adultos Disfunção endotelial pelo hiperfluxo pulmonar Estiramento circunferencial das arteríolas Aumento da tensão no leito vascular pulmonar Remodelamento (proliferação da camada muscular lisa, aumento da matriz intracelular e trombose intravascular) Aumenta resistência vascular pulmonar Inversão do shunt D – E Explicação: Quando a criança evolui com hipertensão pulmonar por muito tempo, a pressão pulmonar aumenta tanto que fica supra sistêmica (maior no tronco pulmonar do que na aorta), e por isso cessa o fluxo da esquerda para a direita, e pode haver inversão desse fluxo. Quando isso ocorre, a patologia que antes era acianogênica, se torna cianogênica (vai sangue não oxigenado da direita para a esquerda, e consequentemente para o organismo). Quando chegamos nesse ponto, não adianta mais fazer a correção do defeito, porque a pressão na árvore pulmonar está alta e fixa, e se fechar o orifício, o ventrículo direito entra em insuficiência. 6.2. CARDIOPATIAS CONGÊNITAS ACIANOGÊNICAS COM FLUXO PULMONAR NORMAL/HIPOFLUXO Com fluxo pulmonar normal (ocorre obstrução do lado esquerdo do coração): Estenose aórtica, coarctação de aorta, estenose mitral Com hipofluxo pulmonar (ocorre obstrução da chegada do fluxo ao pulmão): Estenose pulmonar OBS: A Dra disse para prestar atenção em pegadinhas, porque temos a tendência de pensar que a estenose aórtica e coarctação de aorta possuem fluxo pulmonar alterado, e elas não tem! O fluxo pulmonar é NORMAL Manifestações clínicas dependem do grau da obstrução Discreta: Assintomática Moderada: VE: Sinais de baixo débito cardíaco (palidez, sudorese fria, vertigem) VD: Dispneia e fadiga Grave: Dor precordial Síncope Morte súbita Maria Beatriz Machado 6.2.1. TIPOS 6.2.1.1. COARCTAÇÃO DA AORTA Constrição localizada na região ístmica da aorta: Na vida fetal: Se tivermos uma constrição na região ístmica da aorta, o fluxo sanguíneo terá dificuldade de passagem. Com isso, teremos um aumento de pressão na artéria pulmonar, porque ela está tentando empurrar o fluxo pelo canal arterial e há uma grande resistência (lembrar que na vida fetal temos o canal arterial aberto). Devido a essa resistência, teremos aumento de pressão na artéria pulmonar e no ventrículo direito, e assim ele vai se tornar dilatado. No nascimento: Quando o bebê nasce, o canal arterial vai se fechar, e assim quem vai se tornar responsável por empurrar o sangue para a artéria aorta, será o ventrículo esquerdo. Como temos a constrição na região ístmica da aorta, com obstrução da passagem do fluxo, teremos um aumento de pressão no ventrículo esquerdo e ele também vai se dilatar, porém, precisamos lembrar que já temos uma dilatação e disfunção do ventrículo direito, então esse bebê entrará em falência cardíaca. Clínica: Temos duas fases Até 1 ano: Sinais de ICC Quando temos coarctação importante Crianças mais velhas e adultos Quando temos uma coarctação menos grave Assintomáticos Sintomas pré-coarctação: Hipertensão, cefaleia pulsátil Sintomas pós-coarctação: Claudicação intermitente 90% dos adultos: HAS Exame físico: Pulsos assimétricos: Pulso bom nos membros superiores e fraco nos membros inferiores (pode até não ser palpável) Diferencial de pressão nos membros superiores e membros inferiores Sopro sistólico na região interescapular Tratamento: Clínico: Seguimento Medicação: Propranolol 1 – 4mg/kg/dia Cirúrgico x hemodinâmico Depende de cada caso OBS: O tratamento primário é cirúrgico (istmoplastia), porque se apenas colocarmos um balão na região de constrição e dilatarmos a aorta, ela pode recoarctar logo em seguida, então o ideal é tentar operar invés do balão. 7. CARDIOPATIAS CONGÊNITAS CIANOGÊNICAS Cardiopatias que cursam com cianose (saturação ≤ 92%) Se temos cianose, OBRIGATORIAMENTE precisamos ter uma mistura de sangue não oxigenado com sangue oxigenado, então temos um shunt onde o fluxo vai da direita para a esquerda. O sangue que está chegando nas veias cavas vai através de alguma comunicação, para a artéria aorta. Maria Beatriz Machado Cianose: Coloração azulada da pele e/ou mucosas. Pode ser central ou periférica. Central: Desvio de sangue da direita para a esquerda Periférica: Relacionada a fenômenos vasomotores, a saturação é normal (fenômeno de Raynaud) Podem cursar com: Hiperfluxo pulmonar: Atresia mitral Fluxo pulmonar normal: Transposição das grandes artérias Hipofluxo pulmonar ou obstrutivas: Tetralogia de Fallot Muito importante! 7.1. TIPOS 7.1.1. CARDIOPATIAS CONGÊNITAS CIANOGÊNICAS COM HIPOFLUXO PULMONAR 7.1.1.1. TETRALOGIA DE FALLOT 7 – 10% das cardiopatias congênitas Possui QUATRO defeitos: 1. CIV tipo mal alinhamento 2. Dextroposição da aorta 3. Obstrução da via de saída do ventrículo direito (VSVD) 4. Hipertrofia do VD (consequência da obstrução da via de saída) O que ocorre: Teremos a CIV que vai desalinhar o septo (ele vai para o lado direito). A aorta vai para o lado direito e se anterioriza (dextroposta). Quando a aorta vai para o lado da artéria pulmonar, ela obstrui essa artéria, ou seja, ela obstrui a via de saída do ventrículo direito. Isso faz com que o ventrículo direito tenha dificuldade de bombear o fluxo sanguíneo pela artéria pulmonar, causando aumentode pressão em seu interior e consequente hipertrofia. Clínica: Depende da obstrução da VSVD Cianose (quanto maior a obstrução, maior a cianose) ICC Posição de cócoras (essa posição aumenta a resistência vascular do lado esquerdo, e isso faz com que aumente a pressão na artéria aorta e ventrículo esquerdo, assim o sangue vai pela artéria pulmonar invés de desviar pela aorta). Baixo ganho ponderal Crise hipoxêmica Principal complicação (falaremos dela adiante) Exame físico: Frêmito Sopro sistólico rude no foco pulmonar (1º e 2º EIE) B2 única Porque como a aorta foi para frente, não conseguimos auscultar a válvula pulmonar se fechando, somente a aórtica. Estalido aórtico protossistólico Devido ao fluxo aumentado na aorta Maria Beatriz Machado Exames complementares: ECG: Desvio do eixo para a direita e sinais de sobrecarga das câmaras direitas RX de tórax: Coração em bota (aumento do VD e tronco pulmonar escavado) Ecocardiograma Cateterismo: Estudo da árvore pulmonar e coronárias (30% dos pacientes com tetralogia de fallot possuem alteração das coronárias) Tratamento: Tratamento clínico: Suporte nutricional Propranolol: 1 – 6mg/kg/dia Ferro Crianças com anemia desencadeiam mais facilmente as crises hipoxêmicas Profilaxia contra endocardite infecciosa Tratamento cirúrgico: Cirurgia de urgência Correção total Complicações: Complicações tardias pós-operatórias: Insuficiência pulmonar: Porque ampliamos o anel valvar pulmonar Dilatação e disfunção do VD – RNM Arritmias Reoperação – quando fazer? Crise hipoxêmica: Comum dos 3 aos 18 meses Acentuação abrupta da cianose: Ocorre por aumento da resistência vascular pulmonar (choro, movimento intestinal), ou por diminuição da resistência vascular periférica (calor, hipotensão, drogas, exercícios) Aumento da resistência vascular pulmonar: O pulmão faz uma constrição aumentando sua resistência e fazendo hipertensão, e assim o fluxo não oxigenado não consegue chegar até ele, sendo desviado pela CIV diretamente para o ventrículo esquerdo e aorta, fazendo com que a saturação sofra uma queda ainda maior. Diminuição da resistência vascular periférica: Quando temos uma vasodilatação periférica, isso faz com que o fluxo não oxigenado do ventrículo direito passe através da CIV para o ventrículo esquerdo e aorta (devido a diminuição da pressão), e assim teremos uma queda da saturação. Clínica: Cianose intensa e generalizada, agitação, taquidispneia (Acidose) Pode evoluir para síncope, convulsão, coma e óbito Tratamento: Posição genupeitoral e oxigenioterapia Morfina: 0,1mg/kg (IM) A morfina vai dilatar a região abaixo da válvula pulmonar, e assim conseguimos tirar o paciente da crise porque o fluxo volta a ir para a artéria pulmonar. Maria Beatriz Machado Correção dos distúrbios metabólicos Correção de anemia ou poliglublia Se houver infecção: Tratar Betabloqueador (propranolol): Para paciente estável Prostaglandina E1: No período neonatal (até 29 dias de vida) Para tentar abrir o canal arterial Cirurgia de urgência: Se as medidas anteriores não resolverem a crise, devemos fazer a cirurgia de urgência. 7.1.2. CARDIOPATIAS CONGÊNITAS CIANOGÊNICAS COM FLUXO PULMONAR NORMAL 7.1.2.1. TRANSPOSIÇÃO DAS GRANDES ARTÉRIAS (CLÁSSICA) Cardiopatia congênita cianogênica mais diagnosticada no período neonatal (10%) Ela é incompatível com a vida, e se não diagnosticarmos e tratarmos, o paciente vai a óbito. 7% das cardiopatias congênitas O que ocorre: Nessa cardiopatia teremos a artéria pulmonar saindo do ventrículo esquerdo, e a artéria aorta saindo do ventrículo direito. Na vida fetal, devido as comunicações (canal arterial e forame oval) isso não causa repercussão porque os sangues oxigenado e não oxigenado vão se misturar, porém, quando o bebê nasce e as comunicações começam a se fechar, começa a ser feita uma circulação em paralelo, onde não teremos mistura sanguínea. A circulação fica assim: Lado direito: Veias cavas Átrio direito VD Artéria aorta Corpo Veias cavas Lado esquerdo: Artéria pulmonar Pulmões Veias pulmonares Átrio esquerdo Ventrículo esquerdo Artéria pulmonar É uma condição INCOMPATÍVEL com a vida, porque não teremos sangue oxigenado indo para o corpo, então nas primeiras horas de vida (conforme as comunicações vão se fechando) esse bebê começa a evoluir com cianose, taquidispneia e acidose, e caso não seja diagnosticada e tratada imediatamente, ele vai a óbito. Clínica: Cianose nas primeiras horas de vida + taquidispneia Não diagnosticado Não tratado Paciente entra em acidose, fica letárgico e vai a óbito Maria Beatriz Machado Exame físico: Precórdio abaulado e hiperdinâmico (também pode ser normal ao nascimento) B2 única e hiperfonética (como a artéria aorta está anterior, só escutamos a válvula aórtica fechando, não conseguimos auscultar a válvula pulmonar). Sopro sistólico (hiperfluxo) Exames complementares Raio-x de tórax: Contorno cardíaco em forma ovóide ECG: Varia de acordo com a anatomia Ecocardiograma Tratamento: Suporte: Correção dos distúrbios (correção da acidose) Prostaglandina E1: Iniciar na suspeita Para que possamos manter o canal arterial aberto e haja mistura sanguínea (mantendo a vida) Atriosseptostomia (Rashkind) É um cateterismo guiado pelo ecocardiograma. Vamos passar um cateter pela veia cava chegando o átrio esquerdo através do forame oval, e insuflar um balão. Quando o cateter estiver bem posicionado, vamos puxá-lo de volta com esse balão insuflado, para que assim o septo interatrial se rasgue e haja comunicação entre os dois lados do coração para que ocorra mistura sanguínea e o bebê possa sobreviver até que seja feita a correção cirúrgica. Tratamento cirúrgico: Cirurgia de Jatene: Nessa cirurgia vamos recolocar as artérias aorta e pulmonar em seus respectivos lugares. Complicação: Estenose das anastomoses (da aorta ou pulmonar), ou quando temos alterações das coronárias Cirurgia de Sennig: Quando o paciente tem um shunt e não opera no período neonatal, o ventrículo esquerdo fica desadaptado e ele vai ter que ficar com a artéria pulmonar a vida toda (e consequentemente o VD vai ter que ficar com a aorta). Nesses casos é feito um desvio de sangue através dos átrios (é feito um túnel utilizando o próprio tecido atrial do AD para o AE, e outro túnel das veias pulmonares para o lado direito) Complicação: Trombos e arritmias Cirurgia de Mustard: É o mesmo procedimento da cirurgia de Sennig, porém aqui utilizamos pericárdio bovino para fazer os túneis. Complicação: Trombos e arritmias 7.2. COMPLICAÇÕES DAS CARDIOPATIAS CIANOGÊNICAS QUANDO NÃO TRATADAS Destruição energético-proteica Crise hipoxêmica Policitemia (secundária à hipoxemia crônica): Acidente vascular encefálico Infecções: Abscesso cerebral Endocardite bacteriana Arritmias cardíacas Óbito
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