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01 Ebook Contabilidade de Custos UNIDADE 2 - Princípios contábeis e convenções da contabilidade Principais Princípios Contábeis Aplicados na Contabilidade de Custos ........................................................07 Custeio por Absorção .............................................................................................................................11 Análises Custo-Volume-Lucro: Ponto de Equilíbrio Operacional ou Contábil, Econômico e Financeiro e Margem de Contribuição .....................................................................................................................13 Alavancagem Operacional .....................................................................................................................20 Síntese ...................................................................................................................................................26 Referências Bibliográficas ........................................................................................................................27 Sumário 05 Você já se deu conta de que a Contabilidade de Custos e outras ciências são sempre reguladas por algumas normas ou teve a curiosidade de saber por que alguma regra da contabilidade é feita de uma forma e não de outra? Tem a mínima ideia do que seja custeio por absorção ou de por que uma empresa deve adotá-lo em vez do custeio variável? Esses assuntos serão detalhados nesta unidade, que possui por objetivo abordar os mais importantes princípios contábeis aplicados na contabilidade de custos. Nesse contexto, você conhecerá os principais regulamentos contábeis, que têm a função de organizar as ações da contabilidade no tocante à apuração e à apropriação dos custos no contexto empresarial e de desencadear a sua correta destinação nesse complexo sistema. Além disso, esta unidade abordará o custeio por absorção, metodologia derivada dos princípios contábeis de apuração de custos e a única aceita pela legislação contábil e tributária no Brasil. É um método no qual todos os custos de produção são atrelados aos bens elaborados em determinado período, eliminando-se os gastos não envolvidos diretamente nela. Também será descrita a margem de contribuição, que é muito usada como forma de expor valores financeiros que derivam do preço de venda dos produtos, pelos quais, ao subtrair os custos variáveis, tem-se o que “sobra” do preço de venda de cada produto. Desse modo, o valor da margem de contribuição mostra quais são os valores financeiros que foram obtidos pela empresa na venda de seus produtos e qual foi o ganho que ela teve com cada um após eliminar os custos e despesas variáveis. Como complemento ao uso da margem de contribuição, há o conceito de ponto de equilíbrio, que ilustra qual o montante de produtos comercializados para que a empresa consiga cumprir com todos os seus compromissos. Por fim, esta unidade irá expor os conceitos e a utilização da alavancagem operacional no contexto da contabilidade de custos. Unidade 2Apresentação 07 Capítulo 1Princípios contábeis e convenções da contabilidade Principais Princípios Contábeis Aplicados na Contabilidade de Custos A contabilidade de custos é um ramo da contabilidade que se preocupa em apurar e alocar todos os custos empresariais dos diversos negócios existentes, como forma de atingir alguns objetivos, de acordo com o foco dado em cada análise, que pode ser, por exemplo, o perfeito cumprimento da legislação tributária brasileira ou a tomada de decisão gerencial pelos donos e acionistas de empresas. Assim, para atender a todos os objetivos a que se propõe, a contabilidade de custos precisa seguir alguns princípios, que são determinados por órgãos competentes e que servem como direcionadores para que todas as ações dessa ciência sejam desempenhadas adequadamente por cada empresa. Figura 1 – Imagem indicativa dos princípios contábeis aplicados aos custos Fonte: Shutterstock (2014). De acordo com Martins (2010), podem ser citados como princípios aplicados à contabilidade de custos: • princípio da realização da receita; • princípio da competência ou da confrontação entre despesas e receitas; • princípio do custo histórico como base de valor; 08 Laureate- International Universities Ebook - Contabilidade de Custos • princípio da consistência ou uniformidade; • princípio do conservadorismo ou prudência. Vejamos as principais informações acerca de cada um deles como segue. Princípio da realização da receita Figura 2 – Gráfico indicativo do custo e da receita Fonte: Shutterstock (2014). Segundo Martins (2010), esse princípio reconhece que o resultado do exercício de uma empresa só é obtido pela realização de uma receita. Cabe ressaltar que as receitas somente podem acontecer quando há uma entrega de produtos ou serviços para terceiros. Esse fato gera alguns conflitos entre as várias ciências (Contabilidade, Economia, Sociologia, Administração e Direito, entre outras, que abordam esse assunto), visto que, em cada uma, o conceito de lucro pode surgir de forma diferente. Um exemplo é o caso das indústrias. De acordo com Martins (2010), pode-se perceber que elas reconhecem o resultado obtido em sua atividade quando da realização da receita, isto é, no momento em que temos a existência de uma transferência do bem elaborado para o cliente. Além disso, é interessante salientar que, com relação à Contabilidade de Custos, quando direcionada na prática da Contabilidade Financeira, também não se pode apurar antes desse instante e, no máximo, pode servir como uma ferramenta para previsão de crédito. De outra forma, em linhas econômicas, o lucro já surge durante a confecção do produto, já que temos incorporação de valores nessa fase, inclusive do próprio resultado. Ainda segundo Martins (2010), esse princípio é o responsável por uma das grandes diferenças entre os conceitos de lucro na Economia e na Contabilidade. Princípio da competência ou da confrontação entre despesas e receitas Para Martins (2010), esse é um princípio de grande importância para a Contabilidade de Custos, que aborda como devem ser reconhecidas as despesas e em qual momento isso acontece. Desse modo, logo após uma receita ter sido produzida, também se deve computar todas as despesas e custos que foram atribuídos a essa geração, ou seja, aqueles que estão 09 relacionados à fabricação do produto ou à prestação do serviço vendido. O custo do produto vendido (CPV) só existirá quando este for negociado, no momento em que gerou receita. Assim, a receita é reconhecida no momento de sua realização, isto é, quando acontece a venda, mesmo que não tenha existido o efetivo pagamento financeiro pelo produto ou serviço. Dessa forma, existe uma sequência atribuída a esse princípio, que consta, primeiramente, da apropriação das receitas em função de sua ocorrência ou realização, e, em um segundo momento, da realização das despesas e custos relacionados ao processo de obtenção de receitas. Por fim, deve-se fazer a devida apropriação das despesas dos processos que não estiverem relacionados com a geração das receitas. Princípio do custo histórico como base de valor Figura 3 – A busca e o uso de valor é o objetivo das empresas Fonte: Shutterstock (2014). Segundo Martins (2010), esse princípio expõe que os valores de entrada dos ativos (iniciais) devem ser contabilizados de forma original, ou seja, aqueles com que foram adquiridos. Estes são chamados de custo histórico. Isso gera alguns conflitos, como na avaliação dos estoques pelo método da média ponderada, que atualiza os valores de entrada dos produtos. Outra forma de conflito diz respeito ao ambiente inflacionário, visto que, em momentos de alta inflação, os produtos estocados são desvalorizados em função desse contexto e, como o lançamento necessita ser feito pelo custo histórico, essas atualizações, via de regra, não são realizadas. Imagine, por exemplo, que determinado produtoé adquirido por R$ 4.500, fica estocado por determinado período para depois ser vendido por R$ 5.500 e a inflação, nesse tempo, tenha sido de 10%. Veja o que acontece! a) Na hipótese de valor puramente histórico: Venda = R$ 5.500; (–) Custo do produto vendido (CPV) = R$ 4.500; 10 Laureate- International Universities Ebook - Contabilidade de Custos Lucro bruto = R$ 1.000. b) Custo histórico do produto vendido corrigido: Venda = R$ 5.500; (–) Custo do produto vendido (CPV) = R$ 4.500,00 x 1,1 = R$ 4.950,00; Lucro bruto = R$ 550. Nesse sentido, pode-se observar que o valor R$ 1.000,00 é uma ilusão, já que está havendo confrontação de uma receita no momento atual com um valor de produção de meses atrás, e, nesse período, tivemos uma inflação relevante. De acordo com Martins (2010), quando temos problemas de inflação, o uso de valores históricos deixa muito a desejar, já que, ao somar todos os custos de produção de determinado item, estocá-lo e levá-lo a balanço pelo valor original, acabamos por ter um ativo que diz quanto custou produzi-lo na época em que foi elaborado. Princípio da consistência ou uniformidade Segundo Martins (2010), no caso da existência de diversas alternativas para o registro contábil de um mesmo evento, todas válidas dentro dos princípios geralmente aceitos, a empresa deve adotar uma delas de forma consistente. Em outras palavras, a alternativa adotada deve ser utilizada sempre, não podendo a identidade mudar o critério para cada período. De outra forma, quando existir a necessidade dessa mudança de procedimento, a organização deve descrever o fato e o valor da diferença no lucro com relação ao que seria apropriado se não tivéssemos a quebra de consistência. Princípio do conservadorismo ou da prudência Figura 4 – Um dos princípios da contabilidade de custos é a prudência Fonte: Shutterstock (2014). Segundo Martins (2010), inicialmente, o conservadorismo obriga a adoção de um espírito de precaução por parte do profissional de contabilidade. Além disso, quando o contador tiver dúvida sobre tratar determinado gasto como Ativo ou Redução de Patrimônio Líquido, deve optar pela forma mais precavida e, nesse caso, deve escolher a segunda. Exemplificando, 11 sendo duvidoso o recebimento de um direito ativado, este deve ser baixado para o resultado de forma direta ou por meio da constituição de uma provisão. Ou, ainda, se determinado estoque, mensurado pelo custo de aquisição (mercadoria) ou de fabricação (produto), estiver ativado por um valor que exceda seu valor de venda, deve ser reduzido ao montante desse último, custo ou mercado: dos dois, o menor. Princípio da materialidade ou da relevância Segundo Martins (2010), esse princípio é de caráter relevante para a Contabilidade de Custos, já que leva em consideração que os itens da empresa que possuem valor irrisório devem ter um tratamento contábil de menor valor, isto é, não é preciso dar tanta importância para a contabilização desse produto pela sua baixa relevância. De outra forma, ela desobriga de um tratamento mais rigoroso aqueles itens cujo valor monetário é pequeno quando considerado internamente dos gastos totais. Custeio por Absorção Você já pensou se é possível, no Brasil, apurar os custos com diferentes critérios ou se a contabilidade de custos é feita de apenas uma maneira? E se há mais de uma metodologia, como escolher a melhor? Este tópico vai abordar o custeio por absorção, único método de apuração de custos aceito pela legislação contábil e tributária, com exposição de seus procedimentos de forma teórica e prática, através do detalhamento de alguns exemplos. Conforme Martins (2010), custeio é equivalente à apropriação de custos. Além disso, o custeio por absorção é uma forma de apurar os custos empresariais de um produto ou serviço que tem como base que todos os custos de produção são atrelados aos bens ou serviços elaborados em determinado período, não levando em consideração os gastos que não foram utilizados para fazer o produto. Portanto, fique atento a um detalhe importante desse tipo de apuração: devem ser separados os custos efetivos das despesas operacionais para que seus lançamentos sejam feitos de forma diferente no momento de desenvolver o resultado do exercício. Dessa maneira, para exemplificar, consideremos que a clínica AFA realiza dois tipos de procedimentos cirúrgicos: cirurgia do Tipo A e cirurgia do Tipo B. Além disso, ela possui dois departamentos clínicos (Centro cirúrgico e Quartos) e dois de apoio (Manutenção e Administração). No mês de março, foram feitas 120 cirurgias do Tipo A e 40 cirurgias do Tipo B, utilizando custos diretos e indiretos totais mostrados nos quadros a seguir. A clínica AFA cobrava R$ 350,00 por cirurgia do Tipo A e R$ 1100,00 por cirurgia do Tipo B. Cirurgias do Tipo A Cirurgias do Tipo B Total Materiais e medicamentos 14000 6000 20000 Mão de obra 6000 4000 10000 Total 20000 10000 30000 Quadro 1 – Custos diretos relacionados aos procedimentos cirúrgicos no mês de março Fonte: Elaboração própria (2015). 12 Laureate- International Universities Ebook - Contabilidade de Custos Aluguel 20000 Energia elétrica 20000 Depreciação 30000 Material 6000 Total 76000 Quadro 2 – Custos indiretos relacionados aos procedimentos cirúrgicos no mês de março Fonte: Elaboração própria (2015). Supondo sem perda de generalidade que a empresa faça o rateio dos gastos indiretos baseado na MOD (mão de obra direta envolvida na cirurgia), vamos calcular a margem de lucro (lucro/ receita) de cada tipo de cirurgia e da clínica AFA. Observe que, inicialmente, podemos achar o resultado da clínica AFA no mês de março conforme o Quadro 3 sem necessitar de nenhum cálculo algébrico de valores, ou seja, sem precisar fazer nenhum rateio. Cirurgia do Tipo A Cirurgia do Tipo B Empresa Preço 350,00 1100,00 - Quantidade 120 40 160 Receita 42000,00 44000 86000 Custo -106000 Lucro -20000 Margem de lucro -23,26% Quadro 3 – Resultados obtidos pela clínica AFA no período de referência Fonte: Elaboração própria (2015). Como a clínica AFA fez 120 cirurgias do Tipo A, cobrando R$ 350,00 cada, e 40 cirurgias do tipo B, cobrando R$ 1100,00 cada, a receita total foi de R$ 86.000,00. Como foram gastos R$ 30.000,00 de custos diretos e R$ 76.000,00 de custos indiretos, os custos totais foram de R$ 106.000,00. Com a receita de R$ 86.000,00 e custos de R$ 106.000,00, temos prejuízo de R$ 20.000,00 e uma margem de lucro negativa de 23,26%. Dessa forma, perceba que o desafio é entender quanto dos custos indiretos de R$ 76.000,00 está em cada cirurgia, já que a receita de cada produto e os custos são de fácil identificação. O primeiro passo para apurar a margem de lucro de cada tipo de serviço é fazer o rateio, a divisão dos custos indiretos às cirurgias. A base de rateio indicada para essa divisão é a mão de obra direta. Se olharmos no Quadro 1 de custos diretos, onde está a MOD, veremos que gastamos 60% da mão de obra para fazer as cirurgias do Tipo A e, consequentemente, 40% para fazer as cirurgias do Tipo B. Como essa é a base de rateio, vamos distribuir os custos indiretos aos produtos seguindo essa mesma base, como nos mostra o quadro a seguir. MOD Custos indiretos Cirurgia do Tipo A 60,00% 45600 Cirurgia do Tipo B 40,00% 30400 Total 100,00% 76000 Quadro 4 – Percentual de rateio e custos indiretos rateados Fonte: Elaboração própria (2015). 13 Logo, somando os custos diretos do Quadro 1 com os custos indiretos rateados do Quadro 4, podemos encontrar o custo de cada cirurgia, como é apresentado no quadro seguir. Indireto Direto Total Quantidade Unitário 45600 20000 65600 120 546,67 30400 10000 40400 40 1010,00 Quadro 05 – Custo total e unitário de cada tipo de cirurgia Fonte: elaboração própria (2015). Podemos achar a margem de lucro para cada produto por meio dos preços e dos custos unitários ou totais. O resultado será o mesmo. Vamos fazer pelos custos totais como é mostrado no Quadro 6. Assim sendo, observeque esse método nos mostrou que as cirurgias do Tipo A têm margem negativa de 56,19%, e as cirurgias do Tipo B têm a margem positiva de 8,18%. Porém, o lucro da cirurgia do Tipo B não foi suficiente para pagar o prejuízo da cirurgia do Tipo A, ficando a empresa com o resultado negativo no período. Cirurgia do Tipo A Cirurgia do Tipo B Empresa Empresa 350,00 1100,00 Quantidade 120 40 160 Receita 42000 44000 86000 Custo -65600 -40400 -106000 Lucro -23600 3600 -20000 Margem de lucro - 56,19% 8,18% -23,26% Quadro 6 – Absorção simples Fonte: Elaboração própria (2015). Análises Custo-Volume-Lucro: Ponto de Equi- líbrio Operacional ou Contábil, Econômico e Financeiro e Margem de Contribuição Você já ouviu falar em margem de contribuição e em ponto de equilíbrio? Sabe por que é preciso aprender sobre esses conceitos que parecem tão estranhos para a utilização na contabilidade de custos? Este tópico abordará esses dois componentes, que, apesar da estranheza que possam causar à primeira vista, são muitos importantes, em especial a margem de contribuição, que demonstra o que “sobra” do preço de venda de cada produto depois de feitas todas as diminuições relacionadas aos custos e às despesas variáveis, que são aqueles que oscilam em função da quantidade produzida de produtos em uma empresa. No mesmo contexto, a definição de ponto de equilíbrio ilustra qual o montante de produtos é necessário comercializar para que a empresa consiga cumprir com todos os seus compromissos. A margem de contribuição é muito usada como forma de expor valores financeiros que derivam do preço de venda dos produtos após a subtração dos custos e despesas variáveis. Ela mostra quanto a empresa obteve na comercialização de seus produtos e qual foi o ganho com cada um deles unitariamente, obviamente antes de abater os custos e despesas fixas. 14 Laureate- International Universities Ebook - Contabilidade de Custos Dessa forma, pode-se calcular a margem de contribuição (MC) pela seguinte fórmula: MC = preço de venda unitário – custo e despesa variável unitário Fique atento a um detalhe importante! A margem de contribuição não corresponde ao lucro de um produto ou serviço vendido, pois ainda é necessário apurar os valores de todos os custos fixos, que não fazem parte desses cálculos. Portanto, a margem de contribuição serve para demonstrar qual é a relação entre o preço de venda dos produtos e seus custos e despesas variáveis, bem como para demonstrar o valor que sobrará para o pagamento dos custos fixos e despesas fixas e o lucro desejado. Suponha, por exemplo, que uma empresa tenha um produto que é vendido pelo preço de R$ 1.200,00, como uma televisão. Agora, confira os seus custos para produzi-lo e como se calcula a margem de contribuição. Cálculo da margem de contribuição (–) Despesas com vendas R$ 150,00 (–) Custos indiretos R$ 260,00 (–) Mão de obra R$ 315,00 (–) Serviços terceirizados R$ 84,00 Quadro 7 – Exemplo de cálculo de margem de contribuição Fonte: Elaboração própria (2015). Perceba que a empresa possui despesas com vendas de R$ 150,00, além de R$ 260,00 com R$ 315,00 com funcionários e R$ 84,00 com serviços terceirizados, o que gera o valor total de R$ 809,00, que são todos os custos variáveis. Desse modo, para se encontrar o valor da margem de contribuição, é preciso aplicar a fórmula abaixo: MC = preço de venda unitário – custo e despesa variável unitário MC = 1.200,00 – 809,00 MC = 391,00 A margem de contribuição desse produto é de R$ 391,00; contudo, esse não é o lucro da empresa obtido na venda da televisão, e sim o valor financeiro resultante depois do pagamento dos custos variáveis. Para encontrar o lucro, é preciso descontar também os custos fixos. Assim, imagine que a empresa tenha, por exemplo, custos fixos no valor de R$ 250,00 por unidade vendida. De forma geral, o seu lucro será de R$ 141,00, que é obtido pela subtração do valor da margem de contribuição pelos custos fixos (R$ 391,00 – R$ 250,00 = R$ 141,00). Essa suposição é apenas ilustrativa, pois os custos fixos são obtidos de forma total, tendo que se fazer o devido rateio pela quantidade produzida. Perceba que, no cálculo da margem de contribuição, é utilizado o custo e despesa variável, desconsiderando-se qualquer tipo de custo fixo. Já o ponto de equilíbrio é um índice que mede a relação entre os custos totais e as receitas totais, indicando a quantidade física de produtos que uma empresa deve produzir (e vender) para que consiga cumprir com todas as suas obrigações financeiras e contábeis, tanto as relacionadas aos custos variáveis quanto aos fixos. A apuração do lucro bruto da empresa surgirá pela diferença da quantidade de produtos realmente vendidos para a quantidade demonstrada no cálculo do ponto de equilíbrio. Se a quantidade vendida for maior do que os valores do ponto de equilíbrio, a empresa obteve lucro. No entanto, se a quantidade produzida e comercializada for menor do que o valor do 15 ponto de equilíbrio, a organização não obteve lucro e nem conseguiu arcar com todos os seus compromissos financeiros. Nesse contexto, pode-se calcular o ponto de equilíbrio de três formas, que são o ponto de equilíbrio contábil, o ponto de equilíbrio financeiro e o ponto de equilíbrio econômico. O ponto de equilíbrio contábil é o quociente entre o custo fixo total e a margem de contribuição unitária, ou seja, em símbolos temos a fórmula: PE contábil = CF ÷ MC Para o ponto de equilíbrio financeiro, é necessário que sejam incluídos no cálculo dos custos os valores relacionados à depreciação e às possíveis dívidas que a empresa possa ter no período de análise. A fórmula é: PE financeiro = (CF – depreciação + dívidas) ÷ MC Por fim, para o cálculo do ponto de equilíbrio econômico, são considerados os custos fixos e mais o valor desejado dos lucros, ou seja, é exposta a quantidade de produtos que precisam ser comercializados para que a empresa possa cumprir com as suas obrigações financeiras e mais o lucro pretendido. Esses valores devem ser divididos pela margem de contribuição, que expõe os custos variáveis e o preço de venda. Assim, o ponto de equilíbrio econômico considera todos os custos da empresa, inclusive a produção de lucros aos acionistas. É dado pela seguinte fórmula: PE econômico = (CF + Lucro Desejado) ÷ MC Confira, agora, um exemplo prático desses cálculos para que você compreenda todos esses conceitos: Uma empresa fabrica três tipos de produtos de beleza. A sua linha de produção realiza o processo produtivo para xampu, condicionador de cabelos e perfumes. As quantidades anuais e o preço de venda unitário de cada um estão mostrados no quadro a seguir. A empresa possui um empréstimo de R$ 100.000,00, que é dividido entre os produtos de forma igualitária, e os acionistas pretendem obter um lucro de 10% sobre o faturamento bruto total. Considere que não existem estoques e calcule a margem de contribuição de cada produto e os respectivos pontos de equilíbrio (contábil, econômico e financeiro). Produtos vendidos Produção anual (em unidades) Preço venda unitário XAMPU 212.355 R$ 12,00 CONDICIONADOR 97.355 R$ 18,00 PERFUMES 112.004 R$ 38,00 Quadro 8 – Dados iniciais do exemplo Fonte: Elaboração própria (2015). Veja que as quantidades produzidas de cada produto e os preços de venda são diferentes. Desse modo, a empresa fabricou 212.355 unidades de xampu e comercializou toda a sua produção ao preço de R$ 12,00 cada. Fez 97.355 frascos de condicionador, comercializados por R$ 18,00 a unidade, e, por fim, também produziu e vendeu 112.004 unidades de perfumes, ao valor unitário de R$ 38,00. 16 Laureate- International Universities Ebook - Contabilidade de Custos Para facilitar o entendimento desse assunto, confira os devidos custos fixos, já rateados por cada produto. Veja que estes são expostos em valores financeiros anuais. Para saber o valor total dos custos fixos, é preciso somar os custos dos três produtos em separado. Percebatambém que os custos fixos são compostos apenas de três itens, que são a mão de obra, a depreciação e a manutenção, em valores anuais, expostos pelo próximo quadro. Custo fixo – XAMPU Mão de obra R$ 440.000,00 Depreciação (ano) R$ 72.000,00 Manutenção (ano) R$ 60.900,00 Custo fixo – XAMPU R$ 572.900,00 Custo fixo – CONDICIONADOR Mão de obra R$ 280.000,00 Depreciação (ano) R$ 108.000,00 Manutenção (ano) R$ 91.350,00 Custo fixo – CONDICIONADOR R$ 479.350,00 Custo fixo – PERFUMES Mão de obra R$ 80.000,00 Depreciação (ano) R$ 60.000,00 Manutenção (ano) R$ 50.750,00 Custo fixo - PERFUMES R$ 190.750,00 Quadro 9 – Custos fixos totais de cada produto do exemplo Fonte: Elaboração própria (2015). Do mesmo modo, acompanhe os valores dos custos variáveis dos produtos, com cada um dos seus constituintes, que são apenas três (matéria-prima, energia e materiais indiretos), expostos de forma unitária. Pode-se verificar que o xampu possui o total de custos variáveis por unidade no valor de R$ 7,75, enquanto o do condicionador é de R$ 10,57 e o dos perfumes é de R$ 32,08. Custo variável unitário – XAMPU Matéria-prima (unitário) R$ 2,50 Energia (unitário) R$ 1,80 Materiais indiretos (unitário) R$ 3,45 Custo variável unitário – XAMPU R$ 7,75 17 Custo variável unitário – CONDICIONADOR Matéria-prima (unitário) R$ 4,90 Energia (unitário) R$ 1,55 Materiais indiretos (unitário) R$ 4,12 Custo variável unitário –CONDICIONADOR R$ 10,57 Custo variável unitário – PERFUME Matéria-prima (unitário) R$ 18,00 Energia (unitário) R$ 2,20 Materiais indiretos (unitário) R$ 11,88 Custo variável unitário – PERFUME R$ 32,08 Quadro 10 – Custos variáveis totais de cada produto do exemplo Fonte: Elaboração própria (2015). De posse de todos os dados, o primeiro passo é realizar o cálculo da margem de contribuição de cada produto, que é a base para se encontrar o ponto de equilíbrio. Para isso, aplique a fórmula abaixo: MC = preço de venda unitário – custo variável unitário Desse modo, comece calculando a margem de contribuição para o produto xampu: MC = preço de venda unitário – custo variável unitário MC = 12,00 – 7,75 MC = 4,25 Em seguida, parta para o cálculo da margem de contribuição do produto condicionador: MC = preço de venda unitário – custo variável unitário MC = 18,00 – 10,57 MC = 7,43 Por fim, descubra a margem de contribuição para o produto perfumes: MC = preço de venda unitário – custo variável unitário MC = 38,00 – 32,08 MC = 5,92 A condensação desses cálculos está no quadro adiante. MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO XAMPU R$ 4,25 CONDICIONADOR R$ 7,43 PERFUMES R$ 5,92 Quadro 11 – Resultados da margem de contribuição dos produtos Fonte: Elaboração própria (2015). 18 Laureate- International Universities Ebook - Contabilidade de Custos Agora que já se sabe o valor da margem de contribuição, pode-se passar para as contas do ponto de equilíbrio. Serão calculados os três tipos diferentes de ponto de equilíbrio, com as peculiaridades de cada um. Em primeiro lugar, você fará o cálculo do ponto de equilíbrio contábil, que utiliza a seguinte fórmula: PE contábil = CF ÷ MC Não esqueça que é preciso fazer esse cálculo para cada um dos três produtos da empresa. Aplicando a fórmula para o xampu, tem-se: PE contábil = CF ÷ MC PE contábil = 572.900 ÷ 4,25 PE contábil = 134.800 Em seguida, faça as contas para o condicionador: PE contábil = CF ÷ MC PE contábil = 479.350 ÷ 7,43 PE contábil = 64.515 Por fim, repita o procedimento com o produto perfumes: PE contábil = CF ÷ MC PE contábil = 190.750 ÷ 5,92 PE contábil = 32.221 Os resultados obtidos pelo ponto de equilíbrio contábil dos três produtos você vê abaixo: Ponto de equilíbrio contábil CF/ MC XAMPU 134.800 CONDICIONADOR 64.515 PERFUMES 32.221 Quadro 12 – Ponto de equilíbrio contábil dos produtos do exemplo Fonte: Elaboração própria (2015). Isso significa que a empresa precisa produzir e comercializar 134.800 unidades de xampu somente para poder cumprir todas as suas obrigações financeiras no tocante aos custos fixos e aos variáveis atribuídos a esse produto. Nesse caso, ela produziu e vendeu 212.355. Da mesma forma, para o produto condicionador, a empresa precisa produzir e comercializar 64.515 unidades somente para poder cumprir todas as suas obrigações financeiras no tocante aos custos fixos e aos variáveis. Nesse caso, ela fabricou e vendeu 97.355 unidades de condicionador, das quais 64.515 foram para cobrir os custos. Por fim, para o produto perfumes, a empresa precisa fazer e comercializar 32.221 unidades para cumprir todas as suas obrigações financeiras em relação aos custos fixos e aos variáveis. Nesse caso, produziu e vendeu 112.004. O passo seguinte é calcular o ponto de equilíbrio financeiro, que é obtido por meio da fórmula abaixo: PE financeiro = (CF – depreciação + dívidas) ÷ MC 19 Perceba que o ponto de equilíbrio financeiro subtrai do total de custos fixos a depreciação e acrescenta os valores de dívidas, se existirem. De novo, é preciso fazer as contas para cada um dos três produtos da empresa que se analisa. Aplicando a fórmula para o xampu, tem-se: PE financeiro = (CF – depreciação + dívidas) ÷ MC PE financeiro = (572.900 – 72000 + 33.333,34) ÷ 4,25 PE financeiro = (533.900) ÷ 4,25 PE financeiro = 125.624 Para o segundo produto da empresa, o condicionador, tem-se: PE financeiro = (CF – depreciação + dívidas) ÷ MC PE financeiro = (479.350 – 108.000 + 33.333,34) ÷ 7,43 PE financeiro = (404.350) ÷ 7,43 PE financeiro = 54.421 Por fim, para o produto perfumes, ao aplicar a fórmula, tem-se: PE financeiro = (CF – Depreciação + Dívidas) ÷ MC PE financeiro = (190.750 – 60.000 + 33.333,34) ÷5,92 PE financeiro = (163.750) ÷ 5,92 PE financeiro = 27.660 Os resultados do ponto de equilíbrio financeiro dos três produtos da empresa podem ser conferidos no quadro a seguir. Ponto de equilíbrio financeiro (CF – D + DÍVIDAS)/MC XAMPU 125.624 CONDICIONADOR 54.421 PERFUMES 27.660 Quadro 13 – Ponto de equilíbrio financeiro dos produtos exemplificados Fonte: Elaboração própria (2015). Isso significa que a empresa precisa produzir e comercializar 125.624 unidades de xampu para poder cumprir todas as suas obrigações financeiras no tocante aos custos fixos e aos variáveis, debitada a depreciação e incluídas as dívidas relacionadas ao produto. Nesse caso, ela fabricou e vendeu 212.355. Da mesma forma, para o produto condicionador, a empresa precisa produzir e comercializar 54.421 unidades para cumprir todas as suas obrigações financeiras no tocante aos custos fixos e aos variáveis, debitada a depreciação e incluídas as dívidas relacionadas ao produto. Nesse caso, ela produziu e vendeu 97.355. Por fim, para o produto perfumes, a empresa precisa produzir e comercializar 27.660 unidades somente para poder cumprir todas as suas obrigações financeiras no tocante aos custos fixos e aos variáveis, debitada a depreciação e incluídas as dívidas relacionadas ao produto. Nesse caso, ela fabricou e vendeu 112.004. Em seguida, faz-se o cálculo do ponto de equilíbrio econômico, através da fórmula abaixo: PE econômico = (CF + lucro desejado) ÷ MC Perceba que o ponto de equilíbrio econômico considera os valores totais de custos fixos e introduz os de lucros desejados. Os cálculos, novamente, têm que ser feitos para cada um dos três produtos. Aplicando a fórmula para o produto xampu, tem-se: 20 Laureate- International Universities Ebook - Contabilidade de Custos PE econômico = (CF + lucro desejado) ÷ MC PE econômico = (572.900 + lucro desejado) ÷ 4,25 PE econômico = (CF + lucro desejado) ÷ 4,25 PE econômico = 194.759 Para o segundo produto, o condicionador, encontra-se: PE econômico = (CF + lucro desejado) ÷ MC PE econômico = (479.350 + lucro desejado) ÷ 7,43 PE econômico = (CF + lucro desejado) ÷ 7,43 PE econômico = 88.101 Finalmente, para o terceiro da empresa, o perfume:PE econômico = (CF + Lucro Desejado) ÷ MC PE econômico = (190.750 + Lucro Desejado) ÷ 5,92 PE econômico = (190.750 + Lucro Desejado) ÷ 5,92 PE econômico = 104.116 Confira os resultados obtidos pelo ponto de equilíbrio econômico dos três produtos da empresa: Ponto de equilíbrio econômico (CF + L)/MC XAMPU 194.759 CONDICIONADOR 88.101 PERFUMES 104.116 Quadro 14 – Ponto de equilíbrio econômico dos produtos do exemplo Fonte: Elaboração própria (2015). Nesse caso, do ponto de equilíbrio econômico, os resultados mostram que a empresa tem que produzir e comercializar 194.759 unidades de xampu somente para poder cumprir todas as suas obrigações financeiras no tocante aos custos fixos e aos variáveis, além de garantir o lucro desejado aos acionistas. No fim, o total fabricado e vendido foi de 212.355. Da mesma forma, para o produto condicionador, a empresa precisa produzir e comercializar 88.101 unidades para cumprir todas as suas obrigações financeiras no tocante aos custos fixos e aos custos variáveis, além de garantir o lucro desejado aos acionistas. A empresa fez e vendeu 97.355. Por fim, para o produto perfumes, a empresa precisa fabricar e comercializar 104.116 unidades para alcançar o ponto de equilíbrio econômico, isto é, pagar todos os compromissos decorrentes dos custos fixos e dos variáveis, além de garantir o lucro desejado aos acionistas. A empresa produziu e vendeu 112.004 unidades. Alavancagem Operacional Você já ouviu falar em alavancagem operacional, tem ideia de como é feita, quais são os seus resultados ou o que ela tem a ver com a contabilidade de custos? Este tópico vai tratar especificamente dela, que é uma estratégia financeira que as empresas utilizam para conseguir obter melhores resultados e, consequentemente, maiores lucros aos seus acionistas. Esse processo inclui ações de risco ao capital investido, mas que trazem bons retornos. Desse modo, quanto maior a alavancagem desejada, maior é o risco e vice-versa. 21 A alavancagem operacional é usada para aumentar os efeitos das vendas sobre o lucro operacional, ou seja, o impacto que o resultado do faturamento da empresa ou as suas receitas possuem sobre o lucro operacional ou LAJIR (Lucro Antes dos Juros e Imposto de Renda). O risco dessa estratégia consiste na incapacidade de a empresa conseguir cumprir com todas as obrigações financeiras que possui. Nesse contexto, para calcular a alavancagem operacional, é preciso que se tenha algumas informações triviais fornecidas pela contabilidade, que são: • quantidade vendida; • preço de venda; • receitas totais; • custos variáveis totais e unitários; • custos fixos totais e unitários. Assim, de posse desses dados, usa-se o seguinte raciocínio: Receitas totais (-) custos variáveis (-) custos fixos (=) Lucros Antes dos Juros e do Imposto de Renda (LAJIR). Desse modo, confira no quadro a seguir um exemplo no qual uma empresa obteve, em determinado período de três anos, as seguintes vendas: ANO 1 ANO 2 ANO 3 VENDAS (unidades) 500 1.000 1.500 Preço unitário de vendas R$ 90,00 R$ 90,00 R$ 90,00 Quadro 15 – Dados iniciais do exemplo Fonte: Elaboração própria (2015). Assim, no ano 1, a empresa comercializou 500 unidades ao preço de R$ 90,00, obtendo uma receita de vendas totais de R$ 45.000,00. No ano 2, vendeu 1.000 unidades por R$ 90,00, atingindo R$ 90.000,00, e, no ano 3, 1.500 unidades a R$ 90,00, ganhando R$ 135.000,00, como é mostrado abaixo: ANO 1 ANO 2 ANO 3 VENDAS (unidades) 500 1.000 1.500 Preço unitário de vendas R$ 90,00 R$ 90,00 R$ 90,00 Receitas totais R$ 45.000,00 R$ 90.000,00 R$ 135.000,00 (–) Custos variáveis R$ 32.500,00 R$ 32.500,00 R$ 32.500,00 (–) Custos fixos R$ 12.500,00 R$ 12.500,00 R$ 12.500,00 (=) LAJIR R$ - R$ 45.000,00 R$ 90.000,00 Quadro 16 – Resultados do exemplo Fonte: Elaboração própria (2015). 22 Laureate- International Universities Ebook - Contabilidade de Custos Do mesmo modo, verifique que a empresa teve custos fixos (de R$ 12.500,00) e variáveis (de R$ 32.500,00) de igual montante nos três anos. Ao fazer os cálculos, obtém-se que os Lucros Antes dos Juros e do Imposto de Renda (LAJIR) foram zero no ano 1, de R$ 45.000,00 no segundo ano e de R$ 90.000,00 no terceiro. Com a devida análise, percebe-se que a empresa teve um bom aumento nas vendas ao longo de todo o período, no qual ela obteve um crescimento de 50% no ano 2 sobre o ano 1, de 500 para 1.000 unidades, bem como em relação ao terceiro com o ano anterior, quando também comercializou 50% a mais – 1.500 a 1.000. Ao decompor o resultado financeiro por meio do LAJIR, também se observa que a empresa obteve um crescimento significativo do segundo para o ano inicial, de zero para R$ 45.000,00, enquanto que, no ano 3, o incremento foi de 100%, de R$ 45.000,00 para R$ 90.000,00. Assim, pode-se afirmar que houve uma alavancagem operacional pelo aumento das vendas, pois a empresa as elevou em 50% nos anos 2 e 3 e conseguiu um acréscimo de 100% no LAJIR no mesmo período. Dessa forma, confirma-se a teoria da alavancagem, na qual um uso menor de ativos produz um maior retorno financeiro aos acionistas ou proprietários. Outro exemplo expõe como ocorre o processo de alavancagem operacional entre duas empresas. Uma delas se utiliza do capital de terceiros, ou seja, possui empréstimos e financiamentos, e a outra usa apenas recursos financeiros provenientes de capital próprio. Os dados preliminares das empresas são mostrados abaixo: EMPRESA A EMPRESA B sem capital de terceiros com capital de terceiros Ativo R$ 16.000.000,00 Ativo R$ 16.000.000,00 Patrimônio líquido R$ 16.000.000,00 Patrimônio líquido R$ 8.000.000,00 Passivo R$ - Passivo R$ 8.000.000,00 Quantidade de ações 800.000 Quantidade de ações 400.000 Valor de cada ação R$ 20,00 Valor de cada ação R$ 20,00 Quadro 17 – Dados das empresas do segundo exemplo Fonte: Elaboração própria (2015). Perceba que as duas possuem o mesmo valor de ativo (R$ 16 milhões), mas a empresa A possui patrimônio líquido de R$ 16 milhões e nada de passivos, isto é, não possui dívidas, enquanto que a B tem R$ 8 milhões de patrimônio líquido e igual valor de passivo (dívidas). Também é mostrado outro detalhe importante, que é a quantidade de ações das duas. A empresa A possui 800.000 e a B tem 400.000. O valor da cada ação, em ambas, é de R$ 20,00. Assim, no próximo quadro, pode-se visualizar que ocorrem três movimentações, com a alteração do lucro operacional das empresas e do retorno dado ao acionista. 23 EMPRESA A EMPRESA B sem capital de terceiros com capital de terceiros Lucro operacional R$ 800.000,00 Lucro operacional R$ 800.000,00 Despesas financeiras R$ - Despesas financeiras R$ 400.000,00 LAIR* R$ 800.000,00 LAIR R$ 400.000,00 LPA R$ 1,00 LPA R$ 1,00 Retorno sobre o patrimônio líquido 5% Retorno sobre o patrimônio líquido 5% Lucro operacional R$ 1.200.000,00 Lucro operacional R$ 1.200.000,00 Despesas financeiras R$ - Despesas financeiras R$ 400.000,00 LAIR R$ 1.200.000,00 LAIR R$ 800.000,00 LPA R$ 1,50 LPA R$ 2,00 Retorno sobre o patrimônio líquido 8% Retorno sobre o patrimônio líquido 10% Lucro operacional R$ 2.400.000,00 Lucro operacional R$ 2.400.000,00 Despesas financeiras R$ - Despesas financeiras R$ 400.000,00 LAIR R$ 2.400.000,00 LAIR R$ 2.000.000,00 LPA R$ 3,00 LPA R$ 5,00 Retorno sobre o patrimônio líquido 15% Retorno sobre o patrimônio líquido 25% Quadro 18 – Ampliação dos dados das empresas do exemplo. LAIR: lucro antes do Imposto de Renda. Em algu- mas situações é usado LAJIR, que é lucro antes dos juros e do Imposto de Renda Fonte: Elaboração própria (2015). Note que, quando o lucro operacional das duas é de R$ 800.000,00, a empresa A obtém um LAIR de R$ 800.000,00, pois esta não possuinenhum tipo de empréstimo ou financiamento como despesas financeiras. Desse modo, como ela tem 800.000 ações, ao dividir o LAIR por essa quantidade, tem-se um lucro por ação (LPA) de R$ 1,00. Para calcular o retorno sobre o patrimônio líquido, divide-se o valor do LAIR (R$ 800.000,00) por aquele, de R$ 16 milhões, o que dará 5%. Verifique que, na empresa B, o seu lucro operacional também é de R$ 800.000,00 e essa obtém um LAIR de R$ 400.000,00, pois possui um empréstimo ou financiamento como despesas financeiras no valor de R$ 400.000,00. Desse modo, como a empresa tem 400.000 ações, ao dividir o LAIR por essa quantidade, tem-se um lucro por ação (LPA) de R$ 1,00. Para calcular o retorno, é preciso dividir o valor do LAIR (R$ 400.000,00) por R$ 8 milhões, que é o do patrimônio líquido, o que dará 5%, como é mostrado pelo quadro. 24 Laureate- International Universities Ebook - Contabilidade de Custos EMPRESA A EMPRESA B sem capital de terceiros com capital de terceiros Lucro operacional R$ 800.000,00 Lucro operacional R$ 800.000,00 Despesas financeiras R$ - Despesas financeiras R$ 400.000,00 LAIR R$ 800.000,00 LAIR R$ 400.000,00 LPA R$ 1,00 LPA R$ 1,00 Retorno sobre o patrimônio líquido 5% Retorno sobre o patrimônio líquido 5% Quadro 19 – Resolução do primeiro momento das empresas do exemplo. Fonte: Elaboração própria (2015). No segundo momento, perceba que, quando o lucro operacional das duas empresas é de R$ 1.200.000,00, a A obtém um LAIR de R$ 1.200.000,00, pois não possui nenhum tipo de empréstimo ou financiamento. Desse modo, como a empresa possui 800.000 ações, dividindo- se o LAIR por essa quantidade, tem-se um lucro por ação (LPA) de R$ 1,50. Para calcular o retorno, divide-se o valor do LAIR (R$ 1.200.000,00) por R$ 16 milhões, que é o valor do patrimônio líquido, o que dará 8%. Da mesma forma, na empresa B, veja que o seu lucro operacional também é de R$ 1.200.000,00, e esta obtém um LAIR de R$ 800.000,00, pois possui um empréstimo ou financiamento (despesas financeiras) no valor de R$ 400.000,00. Desse modo, como ela tem 400.000 ações, divide-se o LAIR por essa quantidade para chegar ao lucro por ação (LPA), de R$ 2,00. Para calcular o retorno, divide-se o valor do LAIR (R$ 800.000,00) por R$ 8 milhões, que é o patrimônio líquido, o que dará 10%, como é mostrado a seguir. EMPRESA A EMPRESA B sem capital de terceiros com capital de terceiros Lucro operacional R$ 1.200.000,00 Lucro operacional R$ 1.200.000,00 Despesas financeiras R$ - Despesas financeiras R$ 400.000,00 LAIR R$ 1.200.000,00 LAIR R$ 800.000,00 LPA R$ 1,50 LPA R$ 2,00 Retorno sobre o patrimônio líquido 8% Retorno sobre o patrimônio líquido 10% Quadro 20 – Resolução do segundo momento das empresas exemplificadas Fonte: Elaboração própria (2015). Por fim, no terceiro momento, note que, quando o lucro operacional das duas é de R$ 2.400.000,00, a empresa A obtém um LAIR de R$ 2.400.000,00, pois não possui nenhum tipo de empréstimo ou financiamento como despesas financeiras. Desse modo, como ela tem 800.000 ações, ao dividir o LAIR por essa quantidade, tem-se um lucro por ação (LPA) de R$ 3,00. Para saber o retorno, divide-se o valor do LAIR (R$ 2.400.000,00) por R$ 16 milhões, que é o patrimônio líquido, o que dará 15%. 25 Na empresa B, perceba que o seu lucro operacional também é de R$ 2.400.000,00, e esta obtém um LAIR de R$ 2.000.000,00, pois possui um empréstimo ou financiamento como despesas financeiras no valor de R$ 400.000,00. Assim, como ela tem 400.000 ações, ao dividir o LAIR por essa quantia, chega-se ao lucro por ação (LPA), de R$ 5,00. Repete-se o mesmo procedimento já realizado para calcular o retorno: divide-se o valor do LAIR (R$ 2.000.000,00) por R$ 8 milhões, que é o patrimônio líquido, o que dará 25%, como você pode verificar a seguir. EMPRESA A EMPRESA B sem capital de terceiros com capital de terceiros Lucro operacional R$ 2.400.000,00 Lucro operacional R$ 2.400.000,00 Despesas financeiras R$ - Despesas financeiras R$ 400.000,00 LAIR R$ 2.400.000,00 LAIR R$ 2.000.000,00 LPA R$ 3,00 LPA R$ 5,00 Retorno sobre o patrimônio líquido 15% Retorno sobre o patrimônio líquido 25% Quadro 21 – Resolução do terceiro momento das empresas do exemplo Fonte: Elaboração própria (2015). Perceba que, conforme aumenta o valor do lucro operacional – que está diretamente relacionado com as vendas –, cresce o retorno sobre o patrimônio líquido da empresa que possui dívidas, na forma de empréstimos e financiamento, em comparação com aquela que financia seus negócios com capital próprio. Assim, chega ao fim essa ilustração básica da alavancagem operacional, na qual a empresa utiliza capitais de terceiros para poder aumentar o seu retorno. 26 Laureate- International Universities Ebook - Contabilidade de Custos Nesta unidade, foram abordados os princípios contábeis que são aplicados na contabilidade de custos, com exposição e detalhamento das principais normas e regras no tocante ao processo de apuração dos custos, despesas, receitas, ganhos e lucros. Você conheceu o custeio por absorção, metodologia derivada desses princípios obrigatória no Brasil, por determinação da legislação contábil e tributária. Em seguida, foi detalhada a margem de contribuição, muito utilizada como forma de expor valores financeiros que derivam do preço de venda dos produtos após a subtração dos custos variáveis. Assim, a margem de contribuição serve para ilustrar qual é o valor unitário de cada produto vendido depois do pagamento de todos os custos variáveis, ou seja, ela é a diferença entre o preço de venda e esses custos. Você ainda viu o que é ponto de equilíbrio e a alavancagem operacional, estratégia financeira que as empresas utilizam para conseguir obter melhores resultados e, consequentemente, melhores retornos aos seus acionistas. Assim, chega ao fim esta unidade, que abordou os mais importantes princípios contábeis aplicados na contabilidade de custos. SínteseSíntese 27 ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. DANTAS, J. A.; MEDEIROS, O. R.; LUSTOSA, P. R. B. Reação do mercado à alavancagem operacional: um estudo empírico no Brasil. XXIX EnANPAD – Brasília, 2005. Publicado na Revista de Contabilidade e Finanças da USP, nº 41, p.72-86. mai/ago. 2006. São Paulo. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rcf/v17n41/v17n41a06.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2014. HOJI, M. Administração financeira e orçamentária. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2014. MARTINS, E. Contabilidade de custos – livro-texto. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. ReferênciasBibliográficas
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