Buscar

RecLaz-CRC 3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 174 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 174 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 174 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

RECREAÇÃO E LAZER
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Recreação e Lazer – Prof. Ms. Robson Amaral da Silva
Olá! Meu nome é Robson Amaral da Silva. Sou licenciado em 
Educação Física pela Universidade Federal de São Carlos (CEF/
UFSCar – 2006), especialista em Lazer pela Universidade Federal 
de Minas Gerais (UFMG – 2008) e mestre em Educação pela 
UFSCar (PPGE/UFSCar – 2010). Atualmente, sou professor do 
Claretiano – Centro Universitário de Batatais nos cursos de 
Bacharelado (presencial e a distância) e Licenciatura (presencial 
e a distância). Sou pesquisador da Sociedade de Pesquisa 
Qualitativa em Motricidade Humana, membro do Núcleo de 
Estudos de Fenomenologia em Educação Física (Nefef/UFSCar), 
pesquisador da linha Práticas Sociais e Processos Educativos e 
Estudos Socioculturais do Lazer. Ultimamente, também tenho me debruçado sobre 
questões afetas ao lazer e à recreação, publicando artigos científicos em periódicos 
nacionais e internacionais, além de capítulos de livros relacionados a essa temática. 
E-mail: robsonsilva@claretiano.edu.br
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
RECREAÇÃO E LAZER
Robson Amaral da Silva
Batatais
Claretiano
2014
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
© Ação Educacional Claretiana, 2012 – Batatais (SP)
Versão: dez./2014
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 790.1 S583r 
 
 Silva, Robson Amaral da 
 Recreação e lazer / Robson Amaral da Silva – Batatais, SP : Claretiano, 2014. 
 174 p. 
 
 ISBN: 978-85-8377-238-5 
 
 1. Lazer. 2. Ludicidade. 3. Educação. 4. Recreação. 5. Políticas do lazer. 
 I. Recreação e lazer. 
 
 
 
 
 
 
 CDD 790.1 
 
 
 
 
 
 
 
 CDD 658.151 
Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional
Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação 
Aline de Fátima Guedes
Camila Maria Nardi Matos 
Carolina de Andrade Baviera
Cátia Aparecida Ribeiro
Dandara Louise Vieira Matavelli
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Josiane Marchiori Martins
Lidiane Maria Magalini
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Patrícia Alves Veronez Montera
Raquel Baptista Meneses Frata
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli
Simone Rodrigues de Oliveira
Bibliotecária 
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11
Revisão
Cecília Beatriz Alves Teixeira
Eduardo Henrique Marinheiro
Felipe Aleixo
Filipi Andrade de Deus Silveira
Juliana Biggi
Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Rafael Antonio Morotti
Rodrigo Ferreira Daverni
Sônia Galindo Melo
Talita Cristina Bartolomeu
Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa 
Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai 
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luis Antônio Guimarães Toloi 
Raphael Fantacini de Oliveira
Tamires Botta Murakami de Souza
Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer 
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na 
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do 
autor e da Ação Educacional Claretiana.
Claretiano - Centro Universitário
Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000
cead@claretiano.edu.br
Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006
www.claretianobt.com.br
SUMÁRIO
CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 9
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 19
UnidAdE 1 – RECREAÇÃO E LAZER: APONTAMENTOS HISTÓRICOS E 
CONCEITUAIS NO CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 21
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 21
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 22
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 23
5 RECREAÇÃO E LAZER: VÍNCULOS HISTÓRICOS .............................................. 24
6 LAZER: ASPECTOS CONCEITUAIS .................................................................... 66
7 RECREAÇÃO: (BREVES) APOnTAMEnTOS COnCEiTUAiS .............................. 75
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 77
9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 78
10 E-REFERÊnCiAS ................................................................................................ 79
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 79
UnidAdE 2 – DIMENSÕES POLÍTICAS DO LAZER
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 83
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 83
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 84
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 84
5 O LAZER COMO DIREITO SOCIAL .................................................................... 85
6 O PROCESSO HISTÓRICO DE POLÍTICAS DE LAZER NO BRASIL ..................... 95
7 POLÍTICAS: UNIVERSAIS OU FOCALIZADAS? .................................................. 109
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 114
9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 114
10 E-REFERÊnCiAS ................................................................................................ 115
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 117
UnidAdE 3 – INTERFACES ENTRE O LAZER E A EDUCAÇÃO
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 119
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 119
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 120
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 120
5 A EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE ..................................................... 121
6 RECONHECENDO O CAMPO DE ESTUDOS DO LAZER .................................... 127
7 ARTICULAÇÕES ENTRE O LAZER E A EDUCAÇÃO ........................................... 130
8 ARTICULAÇÕES ENTRE A EDUCAÇÃO E O LAZER ........................................... 138
9 OS CONTEÚDOS CULTURAIS DO LAZER .......................................................... 140
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................144
11 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 145
12 E-REFERÊnCiAS ................................................................................................ 145
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 145
UnidAdE 4 – LAZER: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 149
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 149
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 150
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 151
5 CONHECENDO OS PROFISSIONAIS DO LAZER ............................................... 151
6 A ANIMAÇÃO CULTURAL ................................................................................. 155
7 PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO DA CULTURA .................................................... 158
8 POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO ................................................................ 164
9 COMENTANDO UM EXEMPLO DE ATUAÇÃO NO CAMPO DO LAZER ........... 169
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 172
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 172
12 E-REFERÊnCiAS ................................................................................................ 173
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 173
CRC
Caderno de 
Referência de 
Conteúdo
Conteúdo –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Introdução aos estudos do lazer e da recreação. Lazer, ludicidade e educação. 
Formação e atuação profissional no campo do lazer e da recreação. Políticas 
(públicas) de lazer. Pesquisa aplicada ao lazer.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Caro aluno, seja muito bem-vindo!
Agora iniciaremos os estudos de Recreação e Lazer, que 
compõe os cursos de Graduação na modalidade EaD. 
No Caderno de Referência de Conteúdo, você encontrará as 
quatro unidades básicas que compõem o material, preparadas es-
pecialmente para que você possa realizar seus estudos relativos a 
esta obra. Com isto, esperamos que você tenha contato com con-
hecimentos que irão contribuir para seu processo de formação e 
atuação profissional no campo da Educação Física, em especial no 
que se refere à área de recreação e lazer.
© Recreação e Lazer8
Na Unidade 1, trazemos à baila uma discussão sobre a ocor-
rência histórica do lazer e da recreação. 
O lazer e a recreação percorreram trajetórias diferentes, mas 
são fenômenos que apresentam interfaces diretas. Ainda na pri-
meira unidade, apresentamos e discutimos os conceitos veicula-
dos por estudiosos nesses campos, com o propósito de superar o 
senso comum, muitas vezes presente na abordagem dos temas.
O lazer e a política são as temáticas que perpassam a Uni-
dade 2. Para discussão desses aspectos, o lazer foi compreendido 
como um direito social, e, para isso, percorreu um processo históri-
co-social que envolveu necessariamente a reflexão em torno de 
temas como cidadania, participação popular e reivindicações so-
ciais – que o levaram a ser visto como uma das dimensões da vida 
humana que pode contribuir para a superação das desigualdades 
sociais. 
A Unidade 3 trata da relação entre lazer e educação. Seu 
principal objetivo é apresentar a vocês as interfaces que o campo 
do lazer vem construindo em sua articulação com a educação (e 
vice-versa). 
Como ponto de partida, tornou-se necessário discutir o con-
ceito de "campo". Há um reconhecimento do lazer como um pro-
cesso educativo, cuja reflexão e vivência precisam ser sistematiza-
das em vários âmbitos, atingindo especialmente o contexto da 
educação não formal, pois caracteriza um locus importante para 
a intervenção dos profissionais da Educação Física que trabalham 
com o lazer. 
Os desafios postos para a sociedade e os educadores neste 
século 21 também são abordados, bem como a questão dos con-
teúdos culturais do lazer, o que representa uma rica possibilidade 
para o desenvolvimento da educação em uma perspectiva lúdica.
"Lazer: formação e atuação profissional" é o título da quarta 
unidade. Nela, são abordadas questões afetas ao processo forma-
9
Claretiano - Centro Universitário
© Caderno de Referência de Conteúdo
tivo dos profissionais que irão trabalhar neste campo e os possíveis 
espaços que por ele podem ser ocupados. 
A perspectiva da animação cultural é tomada como elemen-
to central na busca da construção de uma intervenção significativa 
no âmbito da cultura, seja ela erudita, popular ou de massa. 
De posse desses breves comentários, você pode construir 
um pequeno esboço dos assuntos que serão tratados, podendo, 
dessa forma, se preparar de maneira adequada para este "jogo do 
saber".
Uma vez realizado este contato inicial, por meio da exposição 
das principais temáticas a serem desenvolvidas, apresentaremos, 
a seguir, no tópico Orientações para estudo, algumas orientações 
de cunho motivacional, dicas e estratégias que o auxiliarão em 
seus estudos.
2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO
Abordagem geral
Prof. Ms. Robson Amaral da Silva
Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais 
deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de 
aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse 
modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento 
básico necessário a partir do qual você possa construir um refe-
rencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no 
futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência 
cognitiva, ética e responsabilidade social.
A proposta deste estudo está pautado em duas premissas 
básicas: a primeira consiste no reconhecimento de que, conforme 
nos ensinou o grande educador Paulo Freire, educar é um ato po-
lítico-pedagógico: político por ser carregado de intencionalidades, 
sejam elas para reproduzir o sistema vigente ou para transformá-
© Recreação e Lazer10
-lo, e pedagógico no sentido de abarcar métodos e processos de 
ensino e de aprendizagem, envolvendo tanto aqueles que ensinam 
quanto aqueles que aprendem. 
A segunda premissa que sustenta as reflexões contidas neste 
material articula-se com a primeira, pois considera o lazer e a rec-
reação como ações socioeducativas, cujas intencionalidades bus-
cam contribuir no processo de humanização dos indivíduos, com 
vistas à construção de uma sociedade mais justa, digna e solidária, 
por meio de seus processos metodológicos. 
O profissional da Educação Física que atua no campo do lazer 
e da recreação é também um educador. Daí vem a necessidade de 
aprofundar conhecimentos sobre questões que alimentam a área 
da educação na atualidade, buscando articulações com o campo 
de estudos do lazer e da recreação. Afinal, um simples "par ou ím-
par" – recurso geralmente usado para "selecionar" os jogadores de 
uma equipe –, por exemplo, carrega, em sua essência, uma inten-
ção político-pedagógica pouco problematizada pelos profissionais 
que atuam na área.
Sendo assim, este material didático tem como desafio maior 
compreender a inter-relação dessas duas dimensões da vida hu-
mana – a educação e o lazer – com outras que também estão pre-
sentes (como a política e a economia, por exemplo), fornecendo 
subsídios para que você possa atuar significativamente no campo 
da recreação e do lazer. 
Essas dimensões se relacionam de forma direta e mútua 
quando se pensa, de um lado, nas possibilidades que a educação 
encontra para atingir seuspropósitos, tendo o lazer e a recrea-
ção como aliados, e, de outro, nas possibilidades que a recreação 
e o lazer encontram na educação, para que os sujeitos possam 
aprender a vivenciá-los de maneira crítica e criativa. Dito de outro 
modo, é o que chamamos de "duplo aspecto educativo do lazer" 
(e que será detidamente abordado ao longo dos nossos estudos), 
tal como destacado por autores como Requixa (1979, 1980) e Mar-
11
Claretiano - Centro Universitário
© Caderno de Referência de Conteúdo
cellino (2010), que o entendem como instrumento e fim, veículo e 
objeto de educação.
Para aprofundar o entendimento dessa perspectiva de edu-
cação, consideramos fundamental compreender o conceito de 
"lúdico", elemento muito presente nas pesquisas e nas interven-
ções que articulam o recreação/lazer e a educação. A partir daí, 
sugerimos a análise de possibilidades de trabalho para que o edu-
cador possa desenvolver habilidades na perspectiva de uma edu-
cação comprometida com o lazer. 
Na esteira desse pensamento, a perspectiva da animação 
cultural tem muito a acrescentar no campo do lazer/recreação. A 
partir dela, poderemos identificar o papel do profissional de lazer 
no sentido de potencializar o alcance dos cidadãos aos mais dife-
rentes bens culturais que se apresentam em ruas, bairros e mu-
nicípios, entendendo a importância política de sua atuação. Para 
tanto, é necessário identificar a animação cultural como uma tec-
nologia educacional de intervenção e uma poderosa ferramenta 
pedagógica que permite nortear nossas ações. 
Ao tomarmos a relação lazer/recreação, educação e animação 
cultural como temas fundamentais, ampliamos o entendimento cor-
rente de que o lazer seria uma mera mercadoria a ser consumida, e 
passamos a dimensioná-lo na esfera dos direitos sociais. Aqui cabe 
uma "parada" para refletirmos sobre o pensamento de Linhales 
(1998, p. 78), ao pensar o lazer nesta condição (de direito social):
O que hoje consideramos como direitos sociais pressupõe a ga-
rantia e a provisão, por parte do Estado, de políticas capazes de 
dar suporte ao bem-estar de todos os cidadãos. Os conteúdos ou 
áreas sociais implicados na promoção do bem-estar constituem di-
reitos mínimos e universais conquistados historicamente. Devem 
ser compreendidos como uma construção decorrente dos múlti-
plos conflitos e interesses que legitimam as chamadas democracias 
capitalistas contemporâneas.
Dando continuidade à discussão sobre o lazer como direito 
social, é importante incluir um novo componente no debate que 
relaciona Estado e sociedade: mercado e estratégias de indução 
© Recreação e Lazer12
ao consumismo. É preciso considerar que o lazer não pode ser um 
momento exclusivo do consumo nem estar a serviço do consumo. 
Isso pode impedir o indivíduo ou os grupos sociais de diversificar 
formas alternativas e próprias de lazer.
Os meios de comunicação de massa a serviço da indústria 
cultural mobilizam como uma avalanche sensorial o psiquismo dos 
ouvintes com mensagens de nível medíocre (qualitativamente fa-
lando), empobrecendo a comunicação concreta do homem com 
seu meio, com os outros e reduzindo as dimensões emancipató-
rias do lazer.
Como afirma Gomes (2008, p. 76-77),
Uma sociedade dominada pela lógica da produção e do consumo 
(alienado) de bens e de serviços é, precisamente, uma sociedade 
que se apresenta como a única habilitada a produzir o lazer, en-
quanto uma de suas valiosas mercadorias – ao passo que deveria 
representar uma condição fundamental para a promoção da quali-
dade de vida dos sujeitos, enquanto cidadãos que buscam momen-
tos lúdicos e enriquecedores no seu dia a dia. Não há preocupação 
com uma análise mais consistente sobre o significado sociocultural 
e político na vida das pessoas, bem como sobre as contradições 
que o permeiam em nosso contexto. Concebido apenas pela lógica 
do mercado, ao lazer restaria promover o entretenimento e a dis-
tração alienantes, algo para se matar o tempo e para escapar do 
tédio.
O lazer/recreação necessita de ser visto e efetivado como 
um momento de crescimento da pessoa em vista de uma melhor 
qualidade de vida. Como prática sociocultural em permanente 
construção, se configura em formas de conhecimento, saberes en-
raizados na cultura, manifestação da linguagem, forma de signifi-
cação coletiva do mundo e possibilidades éticas e estéticas que 
contribuam para o processo de humanização dos indivíduos por 
meio de experiências educativas (ISAYAMA; LINHALES, 2006).
Nesse sentido, o lazer merece ser efetivado como descanso e 
não apenas para recuperar a força de trabalho em vista do próprio 
trabalho. Ele deve incluir a dimensão da distração como relaxa-
mento, diversão e, sobretudo, deve ser o motor do desenvolvim-
13
Claretiano - Centro Universitário
© Caderno de Referência de Conteúdo
ento humano pela dimensão lúdica da vida, pelo conhecimento de 
novas culturas, pela apreciação da beleza, pela produção estética 
e pelo desenvolvimento das próprias potencialidades.
Munidos dessas argumentações, iniciamos nossos estudos. 
Esperamos que esta caminhada seja um prazer (elemento funda-
mental para o entendimento tanto da recreação como do lazer), 
ainda que por vezes seja árdua, pois trata-se do ato de estudar.
Você está preparado para este desafio? Então, vamos lá!
Desejo bons estudos a todos!
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um 
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de 
conhecimento dos temas tratados em Recreação e Lazer. Veja, a 
seguir, a definição dos principais conceitos: 
1) Cultura: de acordo com Chauí (1994), "é a maneira pela 
qual os humanos se humanizam por meio de práticas 
que criam existência social, econômica, política, reli-
giosa e artística" (p. 295). Daolio (2008) afirma que as 
definições contemporâneas para esse termo têm consi-
derado, além da produção material e externa aos seres 
humanos, as maneiras de compreender a cultura, que 
também incorporam os processos contínuos e dinâmi-
cos de orientação e significação empreendidos pelos ho-
mens, ou seja, um processo de manipulação simbólica. 
O autor nos alerta para o fato de que os profissionais da 
Educação Física não atuam diretamente sobre o corpo 
ou sobre os movimentos em si, mas, sim, tratam dos se-
res humanos em suas manifestações culturais, relacio-
nadas ao corpo e ao movimento humano.
2) Indústria cultural: expressão que aparece pela primeira 
vez no livro Dialética do Esclarecimento, de Max Horkhei-
mer e Theodor W. Adorno, e que foi cunhada para substi-
tuir, com maior precisão, o termo cultura de massa. Com 
© Recreação e Lazer14
essa mudança, os autores visavam não confundir uma 
cultura produzida popularmente com o processo de pro-
dução conforme os princípios da indústria. Os autores 
percebiam que produções ligadas ao rádio, ao cinema, 
às revistas ilustradas, entre outras, eram adaptadas ao 
consumo das massas, baseando-se no princípio de sua 
comercialização, e não em seu próprio conteúdo e confi-
guração (BASSANI; VAZ, 2008).
3) Lúdico: para Gomes (2004), o lúdico pode ser entendido 
como uma "expressão humana de significados da/na cul-
tura referenciada no brincar consigo, com o outro e com 
o contexto. Por essa razão o lúdico reflete as tradições, 
os valores, os costumes e as contradições presentes em 
nossa sociedade. Assim, é construído culturalmente e 
cerceado por vários fatores: normas políticas e sociais, 
princípios morais, regras educacionais, condições con-
cretas de existência" (p. 145, grifos da autora).
Esquema dos Conceitos-chave
Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais 
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um 
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhávelé que você 
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o 
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o 
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas 
próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos 
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações entre 
os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais com-
plexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na or-
denação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se 
que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esque-
mas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimen-
to de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos 
significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.
15
Claretiano - Centro Universitário
© Caderno de Referência de Conteúdo
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas 
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, 
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos 
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, 
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem 
pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure 
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais 
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez 
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você 
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por 
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas 
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-
cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-
cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com 
o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do 
site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).
© Recreação e Lazer16
Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave de Recreação e Lazer.
Como pode observar, esse Esquema dá a você, como dis-
semos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre 
um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu 
processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, de acordo com 
o esquema, lazer/recreação são fenômenos que não podem ser 
entendidos isoladamente; devem ser relacionados aos aspectos 
históricos, econômicos, políticos, culturais e sociais. 
Ao desconsiderarmos essas relações, estaremos esvaziando 
a compreensão desses fenômenos, favorecendo, dessa forma, a 
utilização destes como mercadoria, e não como uma prática social 
que pode contribuir para o processo de edificação de uma socie-
dade mais justa, digna e solidária.
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de 
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como 
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, 
17
Claretiano - Centro Universitário
© Caderno de Referência de Conteúdo
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio con-
hecimento. 
Questões autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser 
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. 
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como 
relacioná-las com a prática do ensino de Recreação e Lazer, pode 
ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, medi-
ante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você 
estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. 
Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus 
conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática 
profissional.
As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-
ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por 
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos 
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, 
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, 
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. 
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus 
colegas de turma.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus 
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
© Recreação e Lazer18
Figuras (ilustrações, quadros...)
Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no 
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o con-
ceitual faz parte de uma boa formação intelectual.
Dicas (motivacionais)
Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada, 
a Educação como processo de emancipação do ser humano. É 
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e 
científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem 
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se 
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a 
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, 
uma capacidade que nos impele à maturidade. 
Você, aluno na modalidade EaD, necessita de uma forma-
ção conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com 
a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da 
interação com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o 
seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em 
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie 
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta 
a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os 
19
Claretiano - Centro Universitário
© Caderno de Referência de Conteúdo
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos 
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, 
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na 
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando 
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a 
esta obra, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para 
ajudar você.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASSANI, Jaison José; VAZ,Alexandre Fernadez. Indústria Cultural. In: GONZÁLEZ, 
Fernando Jaime; FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo (Org.). Dicionário crítico de Educação 
Física. 2. ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2008. 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
DAOLIO, Jocimar. Cultura. In: GONZÁLEZ, Fernando Jaime; FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo 
(Org.). Dicionário crítico de Educação Física. 2. ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2008. 
GOMES, Christianne Luce. Lúdico. In: ______. (Org.). Dicionário crítico do lazer. Belo 
Horizonte: Autêntica, 2004. p. 141-146. 
______. Lazer, trabalho e educação: relações históricas, questões contemporâneas. 2. 
ed. rev. ampl. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
ISAYAMA, Helder Ferreira; LINHALES, Meily Assbú. Introdução. In: ______ (Org.). Sobre 
lazer e política: maneiras de ver, maneiras de fazer. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. 
p. 7-15.
LINHALES, Meily Assbú São as políticas públicas para a Educação Física/Esportes e Lazer, 
efetivamente, políticas sociais? Motrivivência, Florianópolis, v. 10, n. 11, p. 71-81, 1998.
MARCELLINO, Nelson Carvalho Lazer e educação. 15. ed. Campinas: Papirus, 2010.
REQUIXA, Renato. As dimensões do lazer. Revista Brasileira de Educação Física e 
Desportos, Brasília, n. 45, p. 54-76, 1980.
______. Conceito de lazer. Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, Brasília, n. 
4, p. 11-21, 1979.
Claretiano - Centro Universitário
1
EA
DRecreação e Lazer: 
Apontamentos Históricos 
e Conceituais no 
Campo da Educação 
Física
1. OBJETIVOS
• Conhecer questões pertinentes ao campo de estudos so-
bre o lazer e a recreação.
• Aprofundar conhecimentos sobre concepções e funda-
mentos do lazer e da recreação, reconhecendo-os como 
objeto de estudos sistematizados.
• Compreender o processo de constituição histórica do 
lazer e da recreação em nossa sociedade, identificando 
características que permaneceram ou sofreram modifica-
ções ao longo dos tempos.
• Discutir, conceitualmente, aspectos relacionados ao lazer 
e à recreação.
2. CONTEÚDOS
• Recreação e lazer: vínculos históricos.
© Recreação e Lazer22
• Aspectos históricos da recreação.
• Ocorrência histórica do lazer.
• Sociedade greco-romana.
• Sociedade medieval.
• Sociedade urbano-industrial.
• Sociedade contemporânea.
• Lazer: aspectos conceituais.
• Recreação: (breves) apontamentos conceituais.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) Tenha em mãos o Glossário para que você consulte os 
conceitos relativos a esta unidade, assim como o Esque-
ma dos Conceitos-chave. Essas ferramentas irão facilitar 
seu estudo.
2) Por se tratar de uma unidade que trata de fatos históri-
cos relacionados à recreação e ao lazer, faça uma leitura 
atenta deste conteúdo e acesse outras informações rela-
cionadas à temática a fim de comprovar ou reelaborar o 
conteúdo tratado.
3) Durante a leitura tente apreender o movimento histórico 
e todo o contexto que o envolve. Lembre-se, a recreação 
e o lazer não estão isentos do contexto político, social, 
econômico e cultural das diferentes etapas históricas.
4) Faça uma consulta à bibliografia indicada no tópico Re-
ferências Bibliográficas, ao final desta unidade, visando 
aprofundar os principais conceitos abordados.
5) Para um enriquecimento de seu estudo, navegue nos si-
tes indicados no tópico E-Referências, ao final da unida-
de, favorecendo, dessa forma, o seu processo educativo.
6) Tenha empenho e dedicação em seus estudos. Sempre 
que tiver alguma dúvida, entre em contato com profes-
23
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
sores e tutores do Centro Universitário Claretiano para 
saná-las.
7) Recomendamos o filme Gladiador (EUA, 2000), dirigido 
por Ridley Scott, que retrata de maneira adequada as 
manifestações em Roma no período histórico estudado.
8) Assista ao filme O nome da rosa (Alemanha, 1986), diri-
gido por Jean-Jacques Annaud, baseado no livro com o 
mesmo título, de autoria de Umberto Eco. Ele fornece 
um exemplo de como era um mosteiro medieval e das 
contradições nele presentes. 
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
No cotidiano de muitas pessoas, é comum a menção aos 
vocábulos "lazer" e "recreação". Se sairmos às ruas perguntando 
o significado de ambos os termos, veremos que dificilmente uma 
pessoa não saberá anunciar um entendimento para essas ex-
pressões. 
Às vezes, a referência a esses termos se dá de forma sepa-
rada, ou seja, há a utilização de apenas uma das palavras (recrea-
ção ou lazer), e, em outras ocasiões, a associação entre ambas é 
recorrente, indicando, dessa forma, a possibilidade de um vínculo 
relacional. 
A associação entre a recreação e o lazer pode ser verificada 
em algumas áreas do conhecimento, o que gera dúvidas no que 
se refere aos significados, à especificidade e à abrangência desses 
termos. 
De acordo com Gomes (2003), é possível identificar diversas 
interpretações sobre os significados e as relações historicamente 
construídas entre recreação e lazer. Para a autora, poderá ha-
ver uma identificação entre os termos (ambos compartilhando o 
mesmo significado), um entendimento que considera a recreação 
como uma função do lazer ou uma compreensão que aponta para 
a existência de significados distintos para a recreação e o lazer.
© Recreação e Lazer24
Nesta unidade, iremos realizar um passeio pela história da 
recreação e do lazer, buscando compreender os caminhos percor-
ridos por esses fenômenos, a fim de entender a relação destes 
entre si e, posteriormente, com o campo de estudos e a atuação 
profissional da Educação Física. 
Além dessa incursão histórica, teremos a oportunidade de 
compreender os sentidos dos termos "recreação" e "lazer" medi-
ante o contato com autores que se dedicaram a essa discussão.
É sobre essas questões que nos debruçaremos neste pri-
meiro momento.
Bons estudos a todos!
5. RECREAÇÃO E LAZER: VÍNCULOS HISTÓRICOS
Diante da breve exposição introdutória desta unidade, uma 
pergunta pode ser feita como ponto de partida para nossas re-
flexões: por que é comum a associação entre recreação e lazer nos 
estudos e vivências no cotidiano de nosso país?
Essa relação muitas vezes é recorrente em nossa área, e a 
prova disso são os estudos de Bramante (2011), Bruhns (1997), 
Gomes (2003), Isayama (2002) Pimentel (2003) e Pinto (2001), só 
para citar alguns autores. Entretanto, em muitos casos, essa inter-
face não é encontrada em outros campos do conhecimento, como 
podemos observar nas publicações de Magnani (2000), Freitas 
(1999), Teixeira (1999) e Oliveira (2001), autores ligados a áreas 
como Antropologia, Economia, Psicologia Social e Comunicação 
Social.
Dessa forma, para responder à indagação formulada e estim-
ular você a pensar sobre essa relação tão usual em nossa área e no 
cotidiano de muitas pessoas, buscaremos referências na história, 
no sentido de elucidar os vínculos que, ao longo dos tempos, fo-
ram construídos entre a recreação e o lazer.
25
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
De antemão, já teríamos condições de apontar um elemento 
interessante, mas não suficiente, que serve de indicativo para o 
entendimento dessa relação. De acordo com Werneck (2003, p. 
17-18), "essa aproximação entre a recreação e o lazer é uma res-
posta histórica à forma como a Educação Física vem lidando com 
esses saberes na formação profissional e no mercado de trabalho 
em nosso país". 
 Diante dessa afirmação, devemos procurar entender como 
a Educação Física lidou com os saberes que emanavam dos cam-
pos da recreação e do lazer, ao mesmo tempo que incorporava es-
ses conhecimentos à formaçãode seus agentes. Certamente, esse 
processo possuía implicações diretas na sociedade da época, for-
jando indivíduos alinhados com o projeto societário que se alme-
java, e contando, para isto, com o auxílio dos profissionais que se 
formavam. 
Autores como Gomes (2008) e Melo (2003) apontam que o 
desenvolvimento de práticas recreativas foi responsável pela cria-
ção dos cursos de formação profissional em Educação Física em 
nosso país. 
Aspectos históricos da recreação
A história da recreação no Brasil está atrelada à instituição 
escolar e, poderíamos dizer, à própria história da Educação, com 
destaque para o ensino público primário (educação infantil). 
A sua ocorrência ao longo do século 19 aparece como instru-
mento educativo a serviço do projeto médico-higienista que visava 
disseminar ideias e programas relacionados à saúde, à aquisição de 
hábitos higiênicos, à atenção sobre a infância e ao bem-estar físico 
e moral por meio do controle corporal da população brasileira. Tais 
ações deveriam culminar na modificação de comportamentos e 
modos de vida herdados do período colonial (MARCASSA, 2004).
© Recreação e Lazer26
Esse modelo que se pretendia ver edificado procurava atuar 
na saúde biológica e social da população, possuindo ingerência no 
cotidiano dos indivíduos. Buscava-se uma reformulação das con-
sciências e dos saberes sobre o corpo e seus cuidados, sobre as 
práticas corporais e sua importância para a época. Nesse sentido, 
as atribuições da escola se modificam, e essa instituição adquire 
uma nova responsabilidade em face do ideário de progresso social 
que norteia as ações pedagógicas que ali se desenvolvem (MAR-
CASSA, 2004).
Não obstante, o controle corporal que se impõe à população 
brasileira vê na recreação um instrumento pedagógico de grande 
valor e cuja orientação era disciplinar as práticas corporais desfru-
tadas no tempo livre, para que elas não se flexibilizassem com a 
preguiça. A recreação torna-se, então, uma estratégia de controle 
dos tempos, espaços e práticas realizadas na escola, sobretudo nos 
interstícios entre as atividades obrigatórias (MARCASSA, 2004).
A tão temida lassidão não combinava com os pensamentos 
e atitudes que os idealizadores desse projeto societário tentavam 
propagar. A ociosidade poderia levar os indivíduos à vagabunda-
gem, à capoeiragem (também vista como algo negativo) e aos ví-
cios que seriam prejudiciais ao desenvolvimento físico e moral das 
pessoas. Diante desse quadro, a recreação atua decisivamente no 
sentido de propor atividades "sadias", capazes de distinguir afir-
mativamente o corpo higienizado e o relapso corpo herdado da 
tradição colonial (MARCASSA, 2004).
As reconhecidas atividades "sadias" seriam possibilitadas 
mediante um programa escolar que incluísse a vivência de jogos, 
brincadeiras e exercícios ginásticos rigorosamente planejados e 
capazes de desenvolver os comportamentos e atitudes esperados 
para a época, sem desperdício de tempo.
Para Marcassa (2004, p. 197), essas atividades deveriam 
seguir "um ritmo lógico de funcionamento, desde a duração e a 
freqüência do regime alimentar, as horas de sono, as atividades 
27
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
intelectuais e até mesmo o recreio". Como podemos observar, o 
tempo destinado para as atividades escolares deveria ser rigoro-
samente disciplinado.
É por meio das atividades recreativas que os limites entre 
tempo de trabalho e tempo livre são constituídos e assimilados 
desde as etapas iniciais do processo de escolarização das crianças 
(educação infantil), respondendo a interesses político-ideológicos. 
Dessa forma, forja-se, no interior da sociedade, um sistema de re-
compensa ao esforço empreendido no trabalho (e aqui incluímos 
o trabalho escolar), essencial às exigências do mundo do trabalho 
e da sociedade liberal e capitalista que se desenvolvia (MARCASSA, 
2002).
De forma sintética, Marcassa (2004, p. 198) se expressa para 
apontar o papel da recreação nesse período histórico: 
[...] sob os preceitos da ordem, da disciplina e do comportamento 
saudável incorporados à escola, a recreação manifesta-se como co-
adjuvante do processo educativo para o alcance da melhor forma 
de recuperação das forças para o retorno ao trabalho, incluso aí o 
trabalho escolar, a diminuição da delinqüência e a ocupação ad-
equada do tempo livre, fazendo-se protagonista da construção da 
harmonia e do progresso. E tamanho era o "dever civilizador" das 
atividades escolares que ele acaba justificando não só a efervescên-
cia de movimentos políticos e sociais pela instrução da população 
brasileira, como também reforçando, cada vez mais, a prática da 
recreação como estratégia de controle do tempo livre, tanto dentro, 
como fora da escola (Grifos nossos). 
Diante dessas primeiras palavras acerca da trajetória históri-
ca da recreação em nosso país, podemos perceber que ela par-
ticipa da história da educação na condição de um vigoroso recurso 
disciplinar, inicialmente destinado à educação infantil, mas à qual 
a ela não se restringe, alcançando também o processo formativo, 
moral e cívico de jovens e adultos. 
Com o passar do tempo, mais precisamente das três pri-
meiras décadas do século 20, assistimos, no cenário educacional 
brasileiro, à emergência de novas concepções político-pedagógi-
cas, sintetizadas no que podemos chamar de "escolanovismo" ou, 
simplesmente, "Escola Nova". 
© Recreação e Lazer28
Para uma análise crítica dessa nova concepção político-ped-
agógica, leia a obra Escola e democracia, de Saviani (2002).
As mudanças advindas da difusão desse ideário pedagógico 
acenam para a edificação de uma escola renovada, capaz de superar 
a pedagogia tradicional. Nos dizeres de Saviani (2002, p. 7),
A pedagogia nova começa, pois, por efetuar a crítica da pedagogia 
tradicional, esboçando uma nova maneira de interpretar a edu-
cação e ensaiando implantá-la, primeiro, através de experiências 
restritas; depois, advogando sua generalização no âmbito dos sis-
temas escolares. 
 No interior dessas transformações, passam a ter centrali-
dade alguns aspectos que não figuravam como (tão) essenciais 
para a educação até então, tais como: qualidade de ensino, ênfase 
nos métodos e processos pedagógicos e processo de ensino e de 
aprendizagem centrado no aluno, para citar apenas alguns. 
Muito embora possamos perceber que mudanças ocorreram 
no interior da escola (principalmente no que se refere aos méto-
dos de ensino e de aprendizagem), a importância dos jogos, das 
brincadeiras e da ginástica "para a formação da personalidade, 
da civilidade, da disciplina e da liberdade" (MARCASSA, 2004, p. 
199) foi reafirmada no combate à fadiga e à degradação física e 
moral dos indivíduos. Temos, dessa forma, a continuidade de uma 
perspectiva funcionalista e utilitária para a recreação no contexto 
escolar e extraescolar.
Apesar do destaque conferido aos três conteúdos (jogos, 
brincadeiras e ginástica), no interior do movimento escolanovista 
um embate se estabelece visando salientar à qual deles caberia 
uma maior eficácia na consolidação da ordem burguesa e capitalis-
ta em curso. Enquanto Fernando de Azevedo defendia a utilização 
da Ginástica Sueca como forma ideal para o emprego do tempo 
livre e ocupação útil do corpo e da mente, Anísio Teixeira busca-
va destacar o papel dos jogos e brincadeiras no amoldamento do 
caráter e da personalidade infantil, afirmando que esses conteú-
dos responderiam melhor aos anseios das crianças (MARCASSA, 
2004).
29
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
De acordo com Werneck (2003, p. 25), o fato é que estamos 
diante de um contexto em que, por meio das atividadesrecreati-
vas, "o controle é dissimulado em um suposto clima de ‘esponta-
neidade’ e ‘liberdade’ proporcionado pela vivência do jogo que, 
como uma ‘receita’, colabora com o processo de reprodução cul-
tural". 
Dessa forma, os jogos (com regras, de recreio ou envolvendo 
outras atividades corporais) realizados nos diferentes espaços con-
tribuem para o amoldamento das personalidades e condutas de 
toda a comunidade (seja escolar ou não escolar), no sentido de 
adaptar os sujeitos às novas relações de trabalho que eram gesta-
das no processo de consolidação da ordem burguesa e capitalista.
Vimos afirmando que a história da recreação não se circun-
screve somente ao âmbito escolar, sendo utilizada em outros tem-
pos e espaços sociais. 
A partir da década de 1920, em nosso país, encontramos 
os primeiros equipamentos públicos de lazer, os chamados Cen-
tros de Recreio, que utilizam a prática da recreação com o obje-
tivo de proporcionar uma ocupação adequada do tempo de lazer 
e diversão. Esses espaços foram criados paralelamente aos proje-
tos de urbanização e modernização dos grandes centros urbanos 
brasileiros (MARCASSA, 2004). 
A experiência pioneira com a estruturação de programas 
de recreação surgiria em Porto Alegre, por iniciativa de Frederico 
Gaelzer, em fins da década de 1920, logo se propagando para out-
ras cidades do Rio Grande do Sul (MELO, 2003). 
De acordo com Gaelzer, o Serviço de Recreação Pública tinha 
como objetivo evitar que os jovens se sujeitassem à delinquência 
e à ociosidade, contando para isso com a ocupação adequada das 
horas de lazer (MARCASSA, 2004).
Essa experiência na capital gaúcha se torna diferenciada para 
a época, pois os locais públicos deveriam possibilitar a prática de 
© Recreação e Lazer30
atividades físicas e recreativas direcionadas, o que constitui uma 
experiência educativa inovadora no referido período em nosso 
país. Para isso, era imprescindível que houvesse equipamentos e 
serviços especializados a fim de orientar e educar os frequenta-
dores desses espaços, a exemplo do trabalho que vinha sendo de-
senvolvido com êxito em vários países, especialmente os Estados 
Unidos (GOMES, 2008).
Outra iniciativa de destaque no cenário nacional ocorreu em 
1935, em São Paulo, com a criação do Serviço Municipal de Jogos 
e Recreio, coordenado por Nicanor Miranda. Para ele, de acordo 
com Marcassa (2004, p. 200):
[...] os centros de recreio, além de equacionar o problema 
higiênico, recreativo e educacional, eram necessários à ordem so-
cial e municipal, uma vez que a recreação era capaz de promover 
a saúde física e mental do cidadão exausto nas metrópoles devido 
aos múltiplos contratempos provocados pela vida moderna. 
Durante a gestão de Miranda, são criados os Parques de Jo-
gos, que abrigavam os programas de Parques Infantis, e os Clubes 
de Menores Operários. No que se refere a essa última iniciativa, 
a preocupação central das ações desenvolvidas em seu contexto 
visavam contribuir para a preparação e a integração da força jo-
vem de trabalho ao mercado cada vez mais competitivo e industri-
alizado (MARCASSA, 2004).
É a partir dessa ação (a instituição dos Clubes de Menores 
Operários) que, no ano de 1943, foi criado o Serviço de Recreação 
Operária (SRO) do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio 
com o mesmo propósito. 
O marco legal (Portaria de nº 52, publicada no Diário Oficial 
da União em 21 de setembro) que institui o SRO foi assinado pelo 
Ministro Alexandre Marcondes Filho, e teve como primeiro ges-
tor e presidente Arnaldo Lopes Sussekind. O SRO era um órgão 
incumbido de difundir e coordenar atividades nos setores cultural, 
desportivo e de escotismo (RODRIGUES, 2006; WERNECK, 2003). 
31
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
Werneck (2003) nos aponta que, nesse contexto (estávamos 
vivendo os anos finais da fase ditatorial do governo de Getúlio Var-
gas), o usufruto "adequado" das horas de lazer dos trabalhadores, 
bem como de sua família, tornava-se uma condição sem a qual os 
repousos assegurados pela legislação, ao se firmarem os contratos 
de trabalho, não poderiam atingir seus objetivos. A eliminação da 
fadiga gerada pelo trabalho era o principal fundamento da pro-
posta desenvolvida.
Nas experiências destacadas anteriormente, a utilização de 
atividades físicas (jogos, esportes, ginásticas, caminhadas, tor-
neios, dança etc.) eram estimuladas e destacadas em relação a 
outras manifestações, como as de cunho artístico, por exemplo 
(MELO, 2003).
Muito embora a não ocupação ou a utilização inadequada 
das horas de lazer continuasse se configurando como um prob-
lema social que poderia colocar em risco a lógica capitalista, pas-
samos a observar uma mudança no significado e na utilização da 
recreação no contexto histórico em questão. 
Diferentemente dos ideários médico-higienistas (como mero 
recurso disciplinador e gerador de corpos e mentes saudáveis) e 
escolanovistas (como uma atividade útil para organização e em-
prego apropriado do tempo livre do trabalho), o sentido atribuído 
à recreação incide sobre os anseios da sociedade do capital, ou 
seja, do controle de todas as dimensões da vida humana, seja den-
tro ou fora do trabalho. Sendo assim, conforme Marcassa (2004, p. 
200), a recreação responde 
[...] como um conjunto de atividades operacionais, como conteúdo 
a ser desenvolvido no tempo/espaço de lazer, à necessidade de re-
posição, manutenção e preparação da força de trabalho, ou mel-
hor, como fenômeno submetido à lógica da política e da economia 
do trabalho.
Como se vê, a recreação passa a ser um instrumento orga-
nizador dos lazeres dos indivíduos. Muito além de um conjunto 
de atividades que visam proporcionar prazer àqueles que desfru-
© Recreação e Lazer32
tam de seus conteúdos, em um suposto clima de espontaneidade 
e liberdade, ou de uma "bem-intencionada" formação moral e 
física, a recreação atende a interesses hegemônicos, forja subje-
tividades, reproduz valores e princípios necessários à manutenção 
e à reprodução da organização societária capitalista.
Após percorrer as trilhas da história da recreação em nosso 
país, passaremos, agora, a realizar uma incursão sobre a história 
do lazer.
Ocorrência histórica do lazer
Após realizarmos um estudo introdutório sobre a ocorrência 
histórica da recreação, é importante discutir, também, as distintas 
abordagens que tratam da emergência histórica do lazer em nossa 
sociedade. É uma tarefa difícil de ser realizada, pois, como salien-
ta Marcellino (1996), situar o lazer historicamente é um trabalho 
controverso no meio acadêmico. Entretanto, trata-se de um em-
preendimento a que devemos nos dedicar com grande satisfação, 
especialmente em se tratando de uma disciplina que se propõe a 
discutir aspectos relacionados à recreação e ao lazer. Vamos lá!
Basicamente, podemos distinguir dois posicionamentos 
distintos quanto à emergência histórica do lazer. De um lado, en-
contramos autores que defendem a tese de que o lazer sempre 
existiu, afirmando que se o homem sempre trabalhou, também 
deveria dispor de momentos de "não trabalho", períodos que se-
riam preenchidos com atividades de repouso e divertimento. 
Como esses momentos não eram vistos como frações isola-
das na dinâmica social, acredita-se que trabalho e lazer se entrela-
çavam. O "tempo natural" (estações do ano, períodos chuvosos ou 
não, luminosidade natural) balizava as ações cotidianas dos indi-
víduos, e as manifestações culturais vivenciadas nesse período es-
tavam intimamente ligadas ao trabalho produtivo. Por essa razão, 
os adeptos dessa corrente acreditam que o surgimento do lazer 
antecede a era moderna, apresentando-se de maneiras distintas 
ao longo dos tempos.
33
Claretiano - Centro Universitário© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
Essa visão é alvo de controvérsias. Muitos autores questio-
nam os apontamentos sobre o lazer antes do estabelecimento das 
modernas sociedades urbano-industriais, pois, nesse contexto, 
afirmam eles, o lazer ainda não se constituía em um fenômeno 
com características próprias, conforme podemos observar nos 
dias atuais. 
Representantes dessa tendência consideram que o lazer 
surge em conformidade com o sistema capitalista nos centros ur-
banos-industrializados, período no qual passamos a observar uma 
clara cisão entre "tempo de trabalho" e de "não trabalho", fruto 
das transformações decorrentes da Revolução Industrial. 
Nesse momento histórico, a organização temporal das ativ-
idades cotidianas não está mais submetida ao "tempo natural", 
expressando-se na forma de "tempo mecânico".
Essa polêmica sobre a ocorrência histórica do lazer em nossa 
sociedade representa uma ótima oportunidade para problema-
tizarmos a questão, para que você possa refletir sobre o tema a 
partir dos argumentos e objeções elaborados pelos adeptos das 
duas correntes de pensamento que debatem o assunto.
Seguidores da tese de que o lazer sempre existiu, que sem-
pre fez parte do cotidiano das pessoas, tais como De Grazia (1966), 
Medeiros (1975) e Munné (1980), situam a origem desse fenô-
meno nas fases mais remotas da história humana. Para alguns, o 
ponto de partida da gênese do lazer pode ser localizado nas socie-
dades arcaicas, para outros, remonta à Antiguidade grega. 
De acordo com Ethel Bauzer Medeiros (1975, p. 1), o lazer 
"corresponde a uma das necessidades básicas do ser humano", 
não sendo, portanto, preocupação característica das sociedades 
industriais. A autora parte da literatura para indicar o que alguns 
poetas já diziam, ao longo dos tempos, sobre o lazer, bem como 
sobre uma das formas mais tradicionais de ocupá-lo: a recreação. 
© Recreação e Lazer34
Esse tipo de manifestação (o lazer) poderia ser expresso por 
meio de uma série de atividades recreativas, como: jogos, danças 
campestres, banquetes, músicas, pescarias, contos de poesia, fol-
guedos populares, bailes e festas, feiras e romarias.
Para De Grazia (1966), outro adepto dessa primeira corrente, 
os povos primitivos e as civilizações do Oriente, do Egito ou da Pér-
sia, que antecederam a Antiguidade grega, não tinham lazer. 
Em sua visão, falar das origens do lazer significa reportarmo-
nos às ideias constituídas na antiga Grécia, notadamente marcada 
pela vida social dos filósofos, cujo esplendor ocorreu por volta do 
século 5º antes de Cristo. Gomes (2008) afirma que o pensamento 
grego é utilizado como ponto de partida devido a sua potenciali-
dade em fornecer elementos que auxiliem na elucidação dos va-
lores associados ao lazer.
Outro autor que pode ser citado é Frederic Munné (1980), 
também partidário da tendência de que o lazer antecede à Mod-
ernidade e se situa na Antiguidade. De acordo com esse estudioso, 
o "cio" é um modo típico de nos comportarmos no tempo, o qual 
se estrutura em quatro áreas de atividade: 
1) tempo psicobiológico: destinado a necessidades fisioló-
gicas e psíquicas; 
2) tempo socioeconômico: fundamentalmente relativo ao 
trabalho; 
3) tempo sociocultural: em que nos dedicamos à vida em 
sociedade; 
4) tempo de "ócio": ou seja, de lazer, destinado a ativida-
des de desfrute pessoal e coletivo (MUNNÉ; CODINA, 
2002). 
A partir desse pensamento, poderíamos concluir que o lazer 
sempre fez parte da vida dos indivíduos.
A tese de que a ocorrência histórica do lazer antecede às 
sociedades pré-industriais é contestada por alguns autores como: 
Dumazedier (1979), Marcellino (1983), Melo e Alves Junior (2003) 
35
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
e Mascarenhas (2005). As críticas endereçadas ao pensamento 
que advoga pela existência do lazer desde os tempos arcaicos são 
marcadas fortemente pelo pensamento de Dumazedier. 
O autor salienta que, nas sociedades do período arcaico, tra-
balho e jogo, embora diferentes, possuíam significações de mesma 
natureza na vida da comunidade. Como trabalho e jogo se mes-
clavam, apresentando oposição mínima (ou inexistente), o autor 
considera o lazer um conceito inadequado para o período arcaico. 
Dumazedier (1979) não acredita que a ociosidade dos filóso-
fos da antiga Grécia ou da aristocracia medieval possa ser chama-
da de lazer. Para ele, esses privilegiados, cultos ou não, sustenta-
vam sua ociosidade com o suor do trabalho alheio. Tal ociosidade 
não se define em relação ao trabalho, não o complementa nem o 
compensa, apenas o substitui. Para o autor, o lazer pressupõe o 
trabalho. 
O autor reconhece que o tempo fora do trabalho é tão antigo 
quanto o próprio trabalho, mas defende de forma enfática a ideia 
de que o lazer possui traços específicos, característicos da civiliza-
ção nascida da Revolução Industrial. 
Recentemente, Melo e Alves Junior (2003, p. 2) apresenta-
ram suas contribuições para a defesa desse modo de compreender 
a ocorrência histórica do lazer, afirmando que:
A contínua busca de formas de diversão não significa ter sempre 
existido o que hoje chamamos por lazer, na medida em que tais 
formas de diversão guardam especificidades condizentes com cada 
época, que devem ser analisadas com cuidado. Por certo, existem 
similaridades com o que foi vivido em momentos anteriores – e 
mesmo por isso devemos conhecê-los –, mas o que hoje enten-
demos como lazer guarda peculiaridades que somente podem ser 
compreendidas em sua existência concreta atual. O fato de haver 
equivalências não significa que os fenômenos sejam os mesmos.
E, continuando com as reflexões acerca da emergência his-
tórica sobre o lazer, Melo e Alves Junior (2003, p. 2) apontam que 
[...] somente a partir de determinado momento da história que se 
começa a utilizar a palavra lazer para definir um fenômeno social; 
© Recreação e Lazer36
antes, outras palavras denominavam outros fenômenos, similares 
mas não iguais. 
Esse momento pode ser apontado como a Revolução Indus-
trial, conforme vimos anteriormente.
Continuando nessa linha, também podemos situar as contri-
buições de Mascarenhas (2005, p. 230), quando este afirma:
A ruptura com o ritmo "natural" de trabalho, uma imposição pecu-
liar ao capitalismo industrial, como não poderia ser diferente, im-
plicou numa verdadeira revolução do tempo social, opondo tempo 
livre e tempo de trabalho. A possibilidade de alternância contínua 
dos momentos de trabalho e não-trabalho começa aí a ser suplan-
tada. Nesta direção, a produtividade expressa pela nova disciplina 
do relógio torna-se a grande inimiga do ócio, invadindo a esfera 
do tempo livre e buscando conciliá-lo ao trabalho. É então neste 
movimento de administração do tempo livre, de peleja contra os 
valores, hábitos e comportamentos inerentes ao ócio, que pode-
mos localizar o aparecimento do lazer, fenômeno condizente com a 
ideologia da sociedade industrial.
Sintetizando o que discutimos até então, as questões po-
dem ser colocadas nos seguintes termos: de um lado, temos os 
estudiosos que conferem a existência do lazer, já desde os primór-
dios da humanidade, não havendo a necessidade de reconhecer 
a Revolução Industrial e as suas transformações como ponto de 
partida para o surgimento do lazer; do outro, um grupo de autores 
que se baseia nesse período histórico para defender que, a partir 
das tensões e transformações sociais promovidas por esse evento 
histórico, teríamos a gênese do lazer.
Os argumentos elaborados por Dumazedier, um dos defen-
sores da segunda perspectiva, conforme pudemos observar, tam-
bém são alvo de questionamentos. 
Uma leitura cuidadosa da obra Lazer: necessidadeou novi-
dade?, de Ethel Medeiros (1975), indica que a autora se empenha 
em mostrar que o lazer sempre existiu, refutando, dessa maneira, 
a tese oposta. 
37
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
Medeiros (1975, p. 1) traz em seu texto as seguintes indaga-
ções:
Será o lazer, como querem alguns, preocupação característica da 
sociedade industrial, que a ele recorre para contrabalançar a me-
canização, a rotina e a impessoalidade da linha de fabricação em 
série? Ou corresponde a uma das necessidades básicas do ser hu-
mano, apenas mais aguçada nos nossos dias pelo ritmo veloz, ten-
sões e insegurança do mundo moderno?
Considerando as provocações apontadas anteriormente por 
Medeiros (1975), ao longo do texto, a autora transcreve trechos 
de poemas para mostrar o porquê de ser adepta da posição que 
advoga ser o lazer um fenômeno presente nas sociedades arcaicas. 
Munné (1980), ponderando sobre os argumentos de Du-
mazedier, considera equivocada a conclusão do sociólogo francês 
de que o lazer seja um produto da civilização moderna. De acordo 
com seu ponto de vista, Dumazedier reduz, por definição, qual-
quer possível manifestação histórica do lazer à mera desocupação 
ou ociosidade, o que não seria procedente.
Os argumentos elaborados por Dumazedier, especialmente 
no que diz respeito à consideração do lazer como típico da civiliza-
ção industrial, revelam seu esforço por conferir à chamada "socio-
logia do lazer" o estatuto de ciência (GOMES, 2004b). 
Um dos expoentes da sociologia do lazer foi o inglês Stanley Parker. 
Para um maior detalhamento de seu pensamento, recomendamos 
a leitura da obra Sociologia do Lazer (PARKER, 1978). 
Esse aspecto, geralmente negligenciado pelos autores da 
área, mostra que o autor precisava defender esse pressuposto 
para que o lazer fosse reconhecido como uma parte especializada 
da teoria sociológica. Atitude curiosa não é? Vejamos o porquê 
disso.
Para Dumazedier (1979), toda teoria sociológica precisa 
apresentar três propriedades: ser deduzida de uma teoria mais ge-
© Recreação e Lazer38
ral; possuir uma coerência lógico-dedutiva e demonstrar que ne-
nhum fato importante está em contradição com ela.
Para a sociologia do lazer ser reconhecida como um ramo 
especializado da sociologia, os pesquisadores do lazer deveriam, 
entre outros procedimentos: 
1) fazer um recorte do objeto estudado; 
2) elaborar hipóteses e verificá-las; 
3) utilizar estratégias metodológicas tidas como confiáveis;
4) formular quadros de referência; 
5) apontar categorias de análise.
Os encaminhamentos anteriores seriam imprescindíveis 
para se distinguir a sociologia do lazer dos outros ramos já esta-
belecidos na área: sociologia do trabalho, sociologia da família, 
sociologia da religião, dentre outros. Caso não houvesse essa dife-
renciação, os estudos sobre o lazer acabariam penetrando em out-
ros campos, pois as manifestações culturais vivenciadas antes da 
Revolução Industrial se mesclavam com as outras dimensões da 
cultura.
Seguindo esse raciocínio, se as pessoas associassem o lazer 
com as ações religiosas, por exemplo, as pesquisas sobre o tema 
poderiam se encaixar perfeitamente na sociologia da religião, não 
sendo necessária uma sociologia do lazer. 
Tomando a mesma linha de pensamento, para exemplificar, 
verifica-se que a integração entre lazer e religião é muito comum 
em nosso meio, uma vez que é muito difícil separar o lazer de de-
terminados ritos e festejos religiosos.
Reconhecer a coerência e o mérito do arcabouço teórico for-
mulado por Dumazedier não significa que tenhamos de acatar todas 
as suas ideias. As evidências revelam que o lazer não é um fenôme-
no observável apenas nas civilizações industriais avançadas.
O fato de essa ideia ser comumente aceita mostra que faltam 
aprofundamentos e análises consistentes sobre a produção teóri-
39
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
ca de Dumazedier, um dos primeiros a defender essa proposição. 
Evidentemente, a era Moderna foi fundamental para que o lazer se 
estabelecesse como um fenômeno autônomo, normativo e orga-
nizado, configurando-se na forma como o conhecemos hoje. Esse 
período também foi palco para o estabelecimento de importantes 
reivindicações operárias, o que ressalta o valor desse movimento 
histórico e social para o lazer (GOMES, 2004b).
Ao mesmo tempo que há diferenças marcantes entre o pas-
sado e o presente, também há correlações importantes a serem 
avaliadas. Conhecer e considerar as peculiaridades de outras reali-
dades que compõem a nossa história pode fornecer contribuições 
significativas para apreendermos o processo de constituição do 
lazer.
A vivência das manifestações e das tradições culturais da hu-
manidade também pode nos auxiliar a compreender os significa-
dos comumente atribuídos ao lazer. Mesmo que algumas ideias 
devam ser repensadas e revistas, esse é um lado da questão que 
ressalta a importância das pesquisas dos autores que afirmam não 
ser o lazer um fenômeno recente (GOMES, 2004b). Tal suposição 
convida-nos a recuar na nossa história com o intuito de investigar 
e compreender alguns dos princípios que influenciaram a consti-
tuição do lazer.
Neste instante, é importante possuirmos em nossos horizon-
tes o alerta realizado por Gomes (2004b, p. 138), ao nos colocar 
que "é demasiado arriscado definir, com exatidão, o momento 
histórico em que o lazer se configura na sociedade ocidental" e 
sugerir que "conhecer e considerar as peculiaridades [...] de outras 
realidades que compõe a nossa história pode fornecer expressivas 
contribuições para apreendermos o processo de constituição do 
lazer".
Nesse movimento, torna-se relevante considerar as contri-
buições daqueles que se debruçaram sobre os tempos antigos, 
sobre a época medieval e também sobre a Modernidade, identi-
© Recreação e Lazer40
ficando elementos que nos auxiliem a compreender o processo 
de constituição histórica do lazer em nossa sociedade, procurando 
entendê-lo em relação ao trabalho.
Dessa forma, no próximo tópico, realizaremos um recuo ao 
passado, em uma tentativa de conhecer algumas características 
que possam nos auxiliar na compreensão do processo de consti-
tuição histórica do lazer em nosso meio.
Diversos caminhos poderiam ter sido seguidos, porém, pela 
riqueza de elementos, três contextos devem ser privilegiados: a 
sociedade greco-romana da Antiguidade; a feudal, da Idade Mé-
dia; e a urbano-industrial, da Modernidade.
Sociedade greco-romana
Foi aproximadamente no século 5º a. C. que ocorreu o "flo-
rescimento cultural do mundo grego", como o denominam os his-
toriadores. Essa época é conhecida como a fase clássica da Grécia, 
representada pelo apogeu de Atenas: capital das artes, da ciência, 
da filosofia e da política, fervilhante de novas ideias.
Os atenienses demonstravam paixão pela perfeição. Suas 
construções eram imponentes, a arquitetura e o artesanato prima-
vam pela riqueza de detalhes; os jogos olímpicos eram motivados 
pela busca da excelência. 
Os jogos aconteciam no monte Olimpo e eram, antes de 
tudo, um evento de cunho religioso, no qual deveriam ser ofereci-
dos sacrifícios e orações a Zeus.
Além de Zeus, muitos outros deuses eram cultuados pelos 
gregos. Acredita-se que o teatro, a tragédia, a comédia e a decla-
mação da poesia tiveram origem nos rituais realizados pelas se-
guidoras de Dionísio, o deus do vinho. A Grécia clássica abrigava 
uma centena de anfiteatros, e neles se encenavam muitas peças 
sobre vários temas.
41
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
Em geral, quandoas heranças gregas são consideradas nas 
discussões sobre o lazer, os autores que debatem o assunto não 
se debruçam sobre os significados das práticas culturais, como as 
citadas anteriormente. Na maioria das vezes, são estabelecidas re-
flexões sobre o ócio, o que nos remete ao termo grego skholé, que 
também é de grande valor para a compreensão do processo de 
constituição histórica do lazer (GOMES, 2008).
Apesar de seu caráter contemplativo e reflexivo, skholé não 
significava passividade, mas um exercício em forma elevada, atribuí-
do à alma racional. Implicava, necessariamente, as condições de 
paz, reflexão, prosperidade e liberdade em face das necessidades 
da vida de trabalho. Como dependia de certas condições educa-
cionais, políticas e socioeconômicas, representava um privilégio 
reservado a uma pequena parcela da sociedade (GOMES, 2008).
A palavra skholé era um termo que, no uso comum, signifi-
cava um tempo desocupado, um tempo para si mesmo que gerava 
prazer intrínseco. Entre os filósofos gregos, quem mais empregou 
essa palavra foi Aristóteles; para ele, o lazer era um estado filosó-
fico no qual se cultivava a mente por meio da música e da contem-
plação (DE GRAZIA, 1966). 
Esse estado seria alcançado apenas por aqueles que con-
seguiam libertar-se da necessidade de trabalhar, pois o trabalho 
produtivo era visto como indigno. O ideal clássico de lazer indi-
cava, portanto, distinção social, liberdade, qualidade ética, relação 
com as artes liberais e busca do conhecimento.
Skholé era associado à vida contemplativa, exercício nobre 
ao qual somente poucos poderiam se entregar. Para Aristóteles 
(s.d), nem todos poderiam se entregar ao ócio, pois a maioria se 
ocupava com a produção do que era necessário e útil e com o ex-
ercício da guerra – como os artesãos, os lavradores e os guerreiros. 
Mas, para esse filósofo, valia muito mais gozar da paz e do repouso 
proporcionados pelo ócio, que era o inverso da vida ativa.
© Recreação e Lazer42
Para você, o que a expressão "vida ativa" representava 
naquela época?
A expressão vita activa designava três atividades humanas 
fundamentais. A primeira delas é o labor, atividade que correspon-
dia ao processo biológico do corpo humano, relacionada às neces-
sidades vitais, assegurando a sobrevivência do indivíduo e a per-
petuação da espécie. Poiesis designava a obra do homo faber, ser 
humano que maneja instrumentos, capaz de produzir e fabricar 
um mundo artificial de objetos, nitidamente distinto de qualquer 
ambiente natural. A praxis, por sua vez, era a única atividade que 
era exercida diretamente entre os homens sem a mediação dos 
objetos ou da matéria. O recurso que predominava era o discurso, 
a palavra. Tratava-se da ação no campo ético e político, como sub-
linha Arendt (1993) (GOMES, 2008). 
Aristóteles foi aluno de Platão. De acordo com a filosofia 
platônica, tal como expresso em suas Leis, um verdadeiro cidadão 
não deveria trabalhar, e sim dedicar-se integralmente à vida con-
templativa. De fato, acreditava-se que um cidadão virtuoso não 
"trabalhava". Quando este destinava um tempo às suas tarefas 
políticas (caso desempenhasse algum cargo público), ou a seus af-
azeres econômicos (como administrar seus domínios, cultivados 
pelos escravos), não estava "trabalhando", apenas zelando pela 
vida habitual do espaço público e do privado, como pontua Veyne 
(2002).
Tamanho era o desprezo pelo trabalho que, de acordo com 
Platão, uma cidade bem feita seria aquela na qual os cidadãos fos-
sem alimentados pelo trabalho rural de seus escravos, e os ofícios 
fossem relegados às pessoas "comuns". Uma vida virtuosa deveria 
ser ociosa. Para Aristóteles, os escravos, os camponeses e os com-
erciantes não poderiam ter uma vida virtuosa, próspera e cheia de 
nobreza: podem-no somente aqueles que dispõem dos meios para 
organizar a própria existência, fixando para si mesmos um objetivo 
ideal (VEYNE, 2002).
43
Claretiano - Centro Universitário
© U1 - Recreação e Lazer: Apontamentos Históricos e Conceituais no Campo da Educação Física
Dessa maneira, apenas os ociosos correspondiam, moral-
mente, ao ideal humano, merecendo ser reconhecidos como ci-
dadãos. Acreditava-se que os trabalhadores não saberiam gov-
ernar a cidade, não podiam, não deviam, não mereciam e nem 
pensavam em fazê-lo: era impossível praticar a virtude levando-se 
uma vida servil ou de trabalho braçal. A pobreza era naturalizada 
por Platão, não sendo compreendida como uma decorrência de 
relações sociais marcadas pela desigualdade.
Essas foram algumas das ideias que marcaram a sociedade 
clássica grega. No entanto, com as conquistas de Alexandre da 
Macedônia, imortalizado como "o Grande", passou-se da idade 
grega para a helenística. Alexandre estendeu o império da Grécia 
às fronteiras da Índia, mas acabou sucumbindo diante da dificul-
dade de controlar o vasto território conquistado a partir de um 
ponto situado na periferia.
Roma foi bastante influenciada pela cultura helênica. A civi-
lização, a literatura, a arte e a própria religião provieram quase 
inteiramente dos gregos. Para Veyne (2002), o Império Romano 
foi a civilização helenística nas mãos brutais de um aparelho de Es-
tado − constituído por imperador e Senado ─ de origem latina. Por 
essa razão, diz-se que Roma foi um império fundado na violência 
e protegido por ela.
Roma estabeleceu-se como núcleo militar e legislativo, local-
izado no centro do cruzamento de fios que constituíam a enorme 
teia do Império. A supremacia de Roma assentava-se em sua força 
militar, e os povos conquistados eram defendidos pelos soldados 
romanos.
Administrar a grande área conquistada pelos romanos não 
foi uma tarefa simples. Roma determinou uma moeda única e pavi-
mentou estradas, possibilitando ao seu exército agir rapidamente 
diante de ataques inimigos. Apenas um cônsul poderia comandar 
um exército, sendo grande a corrupção e a incompetência. Embora 
o latim fosse a língua oficial, cerca de uma dúzia de línguas circu-
© Recreação e Lazer44
lava nas ruas e nas praças romanas. As construções públicas eram 
sempre grandiosas, para que o cidadão comum pudesse participar 
da vida romana.
Como esclarece Veyne (2002, p. 41), em Roma, "todo homem 
público fazia carreira pelo pão e pelo circo". O pão era a base da 
alimentação de Roma, geralmente produzido em casa, pelas mul-
heres. 
O império cresceu à custa do pão: os romanos construíram 
com maestria aquedutos e cisternas, com os quais aproveitavam a 
água das chuvas, transformando tudo em produtividade e riqueza. 
Entretanto, a queda de Roma deveu-se igualmente ao pão, ou mel-
hor, à falta de pão para o povo.
Da mesma maneira que em terra grega, os concursos atléti-
cos e os jogos foram grandes acontecimentos em Roma, e em to-
das as cidades do império foram os grandes espetáculos públicos: 
tratava-se do circo, representado por algumas das práticas cult-
urais que marcaram esta civilização (GOMES, 2008).
Banhos públicos, banquetes e festas; representações teatrais, 
corridas de carros no circo e combates de gladiadores na arena do 
Coliseu eram muito apreciados. Os notáveis eram os responsáveis 
pelo financiamento dos espetáculos públicos que anualmente ale-
gravam a cidade. Quem fosse nomeado pretor ou cônsul deveria, 
de espontânea vontade, desembolsar grandes quantias para pro-
porcionar esses divertimentos ao povo romano (GOMES, 2008).
Os espetáculos típicos de Roma espalhavam-se pelos anfite-
atros do império, e o povo era fascinado pela morte e pela violên-
cia. Na luta de gladiadores, o interesse central da arena repousava 
na morte de um dos combatentes. Para o vencedor, a glória, para 
o derrotado, a morte – ou a piedade, caso sua vida fosse poupada. 
Veyne (2002) ressalta que a decisão de vida ou morte era tomada 
pelo mecenas que proporcionava o espetáculo e pelo público.

Continue navegando