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79 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO Unidade III 5 REABILITAÇÃO PROFISSIONAL No Brasil, os serviços de reabilitação e readaptação existem desde 1944, quando os Institutos de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC) e da Indústria (Ipai) já executavam ações para seus beneficiários. Em 1960, com a Lei Orgânica da Previdência Social, foi regulamentado que a assistência reeducativa e de readaptação profissional deveria cuidar das ações de reabilitação dos segurados que estavam sob regime de benefício de auxílio doença, sendo incluídos no rol dos beneficiários os aposentados e pensionistas por invalidez (BRASIL, 1960). Com a Regulamentação da Lei Orgânica, a delegação dessa assistência foi determinada para a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação e Instituições Congêneres. No entanto, em 1963, a Previdência Social, através do Decreto 53.264/1963, retomou para sua responsabilidade essa assistência. Ainda através desse decreto, houve a criação da Comissão Permanente de Reabilitação Profissional da Previdência Social, com o objetivo de garantir planejamento, orientação, coordenação e fiscalização das ações executadas para a reabilitação profissional em todo o País. Com a unificação dos Institutos de Pensão, em 1966, aconteceu a criação do Instituto Nacional da Previdência Social e, assim, houve a extensão dos benefícios para todos os trabalhadores. Já nas décadas de 1970 e 1980, essas ações passaram a ser executadas pelos Centros de Reabilitação Profissional (CRP), que tinham como característica ser unidades de grande porte e com equipe multiprofissional: médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e professores, que tinham como ações dar suporte e atendimento para os beneficiários, que na sua maioria eram pessoas que tinham sofrido algum tipo de acidente e apresentavam sequela. A Previdência Social, além das atividades específicas para a reabilitação do segurado, também desenvolvia atividades para o retorno e recolocação no mercado de trabalho, com ações de qualificação profissional. Para a utilização deste benefício, o segurado tinha as despesas de transporte, alimentação, hospedagem, documentação, medicação e instrumentos de trabalho custeadas integralmente pela Previdência Social. Com a Nova Constituição promulgada em 1988, houve uma diferenciação das ações executadas, transferindo para o Ministério da Saúde aquelas que se referiam à reabilitação física do trabalhador, e a reabilitação profissional continuou a ser de competência do Ministério da Previdência Social. Com essa divisão de tarefas houve a completa extinção dos Centros de Reabilitação Profissional. 80 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III O novo modelo proposto pela Constituição de 1988 para assistência à saúde, apresentando novos princípios e diretrizes, demonstrou a preocupação de assegurar, a todo cidadão e sua família, políticas públicas que garantam, no momento de maior vulnerabilidade (velhice, doença e desemprego), ações de proteção social. Dentro desse contexto de proteção social, é importante destacar a importância da seguridade social, determinada pelo art. 194 da Constituição federal: “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade destinadas a assegurar o direito à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1988). Observação Segundo Martins (2008, p. 19), a seguridade social é conceituada como: “O Direito da Seguridade Social é o conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos contra contingências que os impeçam de provar as suas necessidades pessoais básicas e de suas famílias, integrado por ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, visando assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. De acordo com essa definição de seguridade social, devemos ter claro o entendimento de que o benefício dado pela Previdência Social tem caráter contributivo, ou seja, para que o trabalhador possa usufruir das atividades de reabilitação, ele precisa ter feito contribuições anteriores à Previdência. Dessa maneira, Martins (2008) e Souza (2008) discutem e entendem que a reabilitação profissional também passa a ser um serviço disponibilizados pela Assistência Social, que tem como um de seus objetivos fazer a inserção no mercado de trabalho dos trabalhadores não segurados. Para Martins (2008), o conceito de reabilitação profissional é “serviço de assistência social que tem por finalidade a integração ao mercado de trabalho e a participação no convívio social dos beneficiários da Previdência Social, incapacitados parcial ou totalmente para o trabalho e os portadores de deficiência física”. O conceito de reabilitação profissional pode ainda ser encontrado em outras referências, inclusive internacionais, como a do Grupo Latino-americano para a Participação, Integração e Inclusão das Pessoas com Deficiência (GLARP-IIPD), que tem sua origem pelas definições nas Recomendações 99 e 168 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sendo: [...] a parte do processo contínuo e coordenado, que compreende a prestação de serviços de avaliação, de orientação, de ajustamento, de formação profissional e de colocação seletiva, para que as pessoas com limitações físicas e/ou mentais possam integrar-se em seu meio social como pessoas úteis (SILVA FILHO, 1997 apud SOUZA, 2008). 81 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO De acordo com a Recomendação n° 168/83 da OIT, que trata da reabilitação profissional e do emprego de pessoas portadoras de deficiência, são definidas as seguintes recomendações: VIII. Reabilitação Profissional como Parte dos Regimes de Seguridade Social 39. Ao aplicar as disposições da presente Recomendação, os membros deveriam inspirar-se nas disposições do art. 35 da Convenção sobre a seguridade social (norma mínima), 1952; do art. 26 da Convenção sobre os benefícios em caso de acidentes do trabalho - doenças profissionais, 1964; e do art. 13 da Convenção sobre os benefícios de invalidez, velhice e sobreviventes,1967, à medida que não estejam obrigados a isso pela ratificação desses instrumentos. 40. Sempre que possível e apropriado, os regimes de seguridade social deveriam garantir programas de formação, colocação e emprego (incluído o emprego protegido) e de serviços de reabilitação profissional para pessoas portadoras de deficiência, com inclusão de serviços de assessoramento em matéria de readaptação, ou contribuir para sua organização, desenvolvimento e financiamento. 41. Esses programas deveriam prever incentivos para as pessoas portadoras de deficiência que procurem um emprego e medidas que facilitem a transição gradual ao mercado regular do emprego (OIT, 1983). Saiba mais Visite o site da Fundacentro e verifique que, dentro das Políticas Públicas em Segurança e Saúde do Trabalho, há um departamento exclusivo em Reabilitação Profissional onde é possível estudar diversas publicações científicas e de amparo legal. FUNDACENTRO (FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO). Reabilitação profissional. São Paulo, [s.d.]. Disponível em: <http://www.fundacentro.gov.br/politica- publicas-em-sst/reabilitacao-profissional>. Acesso em: 5 fev. 2016. Já para Kertzman (2007 apud SOUZA, 2008), a reabilitação profissional é o serviço que visa proporcionar aos beneficiários, incapacitadosparcial ou totalmente para o trabalho, em caráter obrigatório, independentemente de carência, e às pessoas portadores de deficiência os meios indicados para o reingresso no mercado de trabalho e no contexto em que vivem. 82 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Lembrete A OIT considera reabilitação profissional como: “[...] permitir que a pessoa deficiente obtenha e conserve um emprego e progrida no mesmo, e que se promova, assim, a integração ou a reintegração dessa pessoa na sociedade” (BRASIL, 1991a). Com a análise de todo esse contexto, é importante identificar que, dentro da Constituição do Sistema Único de Saúde, existem vários princípios e diretrizes que norteiam a forma como devem ser operacionalizadas todas as ações de saúde e, entre esses princípios e diretrizes, encontramos o da intersetorialidade, que traz como definição a necessidade de integração de diversos setores sociais e especializados para proporcionar ao cidadão uma integração com o Estado e suas políticas públicas. Assim, a política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador (PNSST), que foi normatizada pelo Decreto 7.602/2011, é um exemplo prático dessa intersetorialidade, já que articulou e definiu ações dos Ministérios da Saúde, da Previdência Social e do Trabalho e Emprego, para a garantia da integralidade da Saúde do Trabalhador. Para o Ministério da Previdência, através do Instituto Nacional de Seguridade Social, foram delegadas as ações de Habilitação e Reabilitação profissional, tendo as seguintes ações designadas pelo Decreto n° 3.048/1999, art. 137, incisos I a IV (BRASIL, 1999a): • Avaliação do potencial laborativo. • Orientação e acompanhamento da programação profissional. • Articulação da comunidade. • Acompanhamento e pesquisa da fixação no mercado de trabalho. De acordo com o projeto “Reabilitação Profissional: Articulando Ações em Saúde do Trabalhador e Construindo a Reabilitação Integral”, da Diretoria de Saúde do Trabalhador, são pressupostos da Reabilitação Profissional: 1. A reabilitação profissional é uma ação da Seguridade Social; 2. Entende-se por Seguridade Social, o conjunto de ações integradas de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social; 3. As instituições públicas e privadas possuem papéis específicos e são igualmente responsáveis pelas condições de saúde e segurança nos ambientes e processos de trabalho, bem como na inclusão social e profissional da pessoa com deficiência; 83 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO 4. O território do segurado ou da pessoa com deficiência precisa ser considerado enquanto espaço de referência para o processo de Habilitação e Reabilitação Profissional; 5. O trabalho de Reabilitação Profissional é uma ação interdisciplinar e deve acontecer por meio de equipes multiprofissionais, com vistas a ampliar a percepção individual e dimensão coletiva, considerando o trabalho como fundante para a construção do ser social; 6. A reabilitação Profissional deve fortalecer e aprimorar a prevenção de riscos ocupacionais e mitigar os efeitos da incapacidade laboral; 7. A Reabilitação Profissional deve reconhecer as capacidades e potencialidades de cada trabalhador, considerando suas dimensões subjetivas, por meio da valorização da escuta, da empatia e do apoio, em detrimento do definir, decidir e do eleger pelo outro; 8. O reabilitado é um sujeito ativo do seu processo de reabilitação profissional, dotado de vontade própria. Portanto, capaz de encontrar soluções para suas circunstâncias; 9. O acesso à informação é um direito fundamental de todo cidadão e deve estar pautada na celeridade, na uniformização e na transparência de processos de trabalho e protocolos (BRASIL, 2013b, p. 4-5). É importante, durante o processo de reabilitação profissional, perceber que o beneficiário é um trabalhador ou um potencial trabalhador que precisa ser visto como uma pessoa produtiva, que possui expectativas, principalmente sobre a sua capacidade de voltar a ser produtivo mesmo diante de uma incapacidade instalada. Por isso, a importância de a equipe de reabilitação profissional buscar o entendimento de qual é o significado de reinserção no mercado de trabalho para aquele beneficiário. Os profissionais que fazem o atendimento ao trabalhador precisam estar inseridos em um ambiente que transmita confiança, garantindo assim vínculo do trabalhador, através da conquista da confiança do trabalhador por ter, em especial, criado um espaço de escuta adequado para a identificação das potencialidades e para o enfrentamento das dificuldades desse sujeito. No “Mapa Estratégico da Previdência Social” referente aos anos 2012 a 2015, uma das ações inscritas foi “aprimorar a prevenção de riscos ocupacionais e mitigar os efeitos da incapacidade laboral” (BRASIL, [s.d.]b). Em 2012, o INSS contava com cerca de 1.360 agências da Previdência Social, das quais apenas 417 disponibilizavam ações de reabilitação profissional. Em 2015, o INSS identificou 31.401 beneficiários elegíveis para o programa e conseguiu reabilitar 17.387, apenas um pouco mais da metade, o que faz com que a fila de espera para esse tipo de benefício apenas cresça. Isso demonstra a necessidade 84 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III de melhoria dessa política, com a necessidade de maior investimento para a garantia de retorno ao trabalho do beneficiário (BRASIL, 2013b). Segundo Simonelli et al. (2010), dados da Diretoria de Saúde e Segurança Ocupacional da Secretaria de Políticas de Previdência do Ministério da Previdência Social indicam que o INSS paga, por ano, aproximadamente R$ 10,5 bilhões em benefícios para trabalhadores que tiveram acidentes e doenças do trabalho e aposentadorias especiais decorrentes da condição do ambiente de trabalho. Portanto, é importante que haja mudanças nas políticas públicas de modo a garantir que o Estado consiga intervir de maneira preventiva nos agravos à saúde do trabalhador, pois o que não deve ser natural é que a condição de lesões e sequelas dos trabalhadores sejam encaradas como naturais. Para uma adequada reabilitação dos trabalhadores acidentados são necessárias mudanças nos setores de trabalho e nos critérios que levam à consideração da incapacitação. A avaliação adequada dos trabalhadores deve ser embasada de acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e dos processos de trabalho com a Avaliação Ergonômica do Trabalho (AET). Outro objetivo da empresa com essas avaliações é a identificação do número de casos de trabalhadores que estão em processo de reabilitação e, dessa maneira, executar ações preventivas para a redução de danos à classe trabalhadora, consequentemente reduzindo os custos previdenciários e de saúde. Observação No Brasil, os conceitos fundamentais para o início do processo de reabilitação profissional estão definidos no Decreto n° 3.298/99, que dispõe sobre a Política Nacional de Integração da Pessoa com Deficiência, que consolidou as normas definidas na Lei n° 7.853/89: “I – Deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; II – Deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente paranão permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e III – Incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida” (BRASIL, 1999b). 85 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO A partir da análise da incapacidade, inicia-se o processo de identificação das possibilidades de reinserção desse trabalhador. É importante que o beneficiário receba uma prescrição, através do diagnóstico de sua atividade atual, e identifique quais são as estratégias necessárias e seguras, e quais ações podem ser de risco. A reabilitação profissional é destinada a possibilitar aos segurados da previdência uma inclusão social sempre que for necessário. Segundo a legislação, a reabilitação é obrigatória aos segurados, inclusive aos aposentados e seus dependentes, e têm direito ao benefício: • O segurado em gozo de auxílio-doença, seja decorrente de acidente de trabalho ou previdenciário. • O aposentado por aposentadoria especial, por tempo de serviço ou idade, que permanece em atividade laborativa e que sofre acidente do trabalho. • Aposentado por invalidez. • O dependente maior de 14 anos portador de deficiência. Para conseguir ser atendido pelas ações de reabilitação profissional, o segurado deve ser submetido à perícia com os médicos do INSS, para o reconhecimento das incapacidades para o trabalho ou para as atividades habituais. Após o diagnóstico, seja de origem ocupacional ou não, a responsabilidade do tratamento médico e/ou cirúrgico e/ou de reabilitação física será do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa responsabilidade está em acordo com o que determina a Constituição federal, definindo as áreas de atuação da Saúde, da Previdência Social e da Assistência Social. A Lei Orgânica da Saúde, Lei n° 8.080/90, prevê que a reabilitação física é de competência do SUS e fica a cargo do INSS a reabilitação profissional e o pagamento dos benefícios durante o período de afastamento (BRASIL, 1990a). Quando identificado na perícia que há nexo causal reconhecido com o trabalho, o benefício concedido será de auxílio-doença acidentário. O profissional mais indicado para a realização dessa prescrição deve ser um profissional de ergonomia, que, segundo Simonelli et al. (2010), deve levar em consideração os seguintes critérios: • O processo de recuperação e a funcionalidade do trabalhador a ser inserido. • A ocupação antes do afastamento. • Os impactos cognitivos sobre o trabalhador em decorrência da defasagem nos processos de produção durante o período de afastamento. • Os impactos psicológicos derivados da gravidade da lesão. 86 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III É importante que essa análise leve em consideração quais serão os aspectos positivos e negativos da reabilitação do trabalhador, identificando as condições facilitadoras e aquelas que serão dificultadoras. Dessa maneira será muito mais adequado o retorno ao trabalho do beneficiário, pois haverá uma adequação dos procedimentos e ações que serão executadas no seu ambiente de trabalho. Com o conhecimento adquirido pela Análise Ergonômica do Trabalho, é possível entender como os trabalhadores conseguirão atender às expectativas das tarefas que a ele forem designadas, atendendo aos objetivos com um menor desgaste nessa execução e verificando quais são as habilidades, novas ou não, que o trabalhador deve desenvolver para a realização daquela tarefa ou serviço. Simonelli et al. (2010, p. 71) descreve uma proposta de um modelo de reinserção no trabalho, que deve ser dividida em três etapas: I – Análise das tarefas e atividades: a) Estudo das tarefas nas situações de referência: posturas, movimentos, requisitos técnicos das tarefas, mudanças técnicas e organizacionais; b) Análise das estratégias de operação: procedimentos operacionais, conhecimentos tácitos, conhecimentos contextualizados; [...] II – Classificação de funcionalidade e adequação do trabalho: c) Análise do trabalhador reinserido: potencialidades, barreiras, facilitadores, conhecimentos operacionais; d) Programa de reabilitação; e) Adequação da situação de trabalho: rearranjo do local e das tarefas com adaptações de artefatos, facilitadores para as tarefas, acessibilidade e relações sociais; em função do resultado da análise das tarefas e atividades. III – Reinserção (projeto e avaliação da prescrição): f) Estágio de reinserção: ocupação do posto pelo trabalhador reinserido com acompanhamento psicossocial e de desempenho técnico; g) Avaliação das tarefas e do local pelo trabalhador e por técnicos envolvidos; h) Geração de novos requisitos de tarefas e novas adequações. 87 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO O trabalhador, quando é afastado de seu trabalho em decorrência de acidentes ou de doenças ocupacionais, acaba gerando um sentimento de constrangimento e de incapacidade pelas lesões físicas e psicológicas instaladas. Quando o trabalhador é reinserido no trabalho através da reabilitação, esse sentimento pode se agravar em decorrência do tempo que ele tenha ficado afastado e se no retorno tiver havido mudanças no ambiente de trabalho, como também no quadro de funcionários que passarão a ser seus colegas de trabalho. Dessa maneira, aumenta sua necessidade de interação e adaptação a esse novo ambiente, que pode ter sofrido alterações nos processos de trabalho. Para uma adequada reinserção do trabalhador é importante que seja vinculado um processo adequado de reabilitação, garantindo que esses processos não sejam identificados como artificiais, mas com uma efetiva realização da integração do trabalhador como colaborador produtivo dentro da cadeia de processos da empresa. A ocorrência de um acidente ou de uma doença relacionada ao trabalho nunca é um fenômeno esperado e sempre é considerado indesejável, quer tendo sido gerado pelo ambiente de trabalho ou pelos processos das ações que são executadas nas tarefas pelo trabalhador e que foram geradas pela falta de estrutura adequada entre a real condição necessária e aquela que efetivamente acontece (SIMONELLI et al., 2010). Por isso a reabilitação deve identificar quais são os determinantes do desequilíbrio do processo do trabalho e avaliar quais ações preventivas devem ser executadas para garantir a correção de um ambiente inadequado e que favorece o adoecimento dos trabalhadores. [...] a superação da situação de exclusão de trabalhadores com restrições físicas e psíquicas, decorrentes de agravos ocupacionais do mercado de trabalho, só terá possibilidade de ocorrer com a construção de uma política pública de reabilitação profissional, que deverá ter à frente o Estado, promovendo o diálogo entre as áreas de desenvolvimento de uma integração de fato entre assistência, fiscalização e vigilância das condições de trabalho e previdência social (MAENO; VILELA, 2010, p. 96). A reabilitação profissional deve assegurar a reintegração social dos trabalhadores que têm algum tipo de restrição, mas que ainda possuem condições de atuar de maneira profissional, garantindo efetivamente a construção de uma política pública de bem-estar social, que seja conduzida pelo Estado com definições conceituais, legais e intersetoriais,através do desenvolvimento de atividades locais. A Previdência Social, por sua vez, deve exercer seu papel fundamental na seguridade social, garantindo a participação da sociedade nas decisões para novos pressupostos que levem à excelência de seus serviços. 88 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Saiba mais No site da Previdência Social, há uma página destacada para a Saúde do Trabalhador, onde é possível ter acesso a um mapa de boletins sobre o pagamento de benefícios por incapacidade e estatísticas sobre segurança do trabalho, além de outras publicações. BRASIL. Boletim quadrimestral. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/a-previdencia/saude-e-seguranca-do- trabalhador/boletim-quadrimestral/>. Acesso em: 5 fev. 2016. ___. Estatísticas de saúde e segurança no trabalho. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/a-previdencia/saude- e-seguranca-do-trabalhador/estatisticas-de-saude-e-seguranca-no- trabalho/>. Acesso em: 5 fev. 2016. ___. Saúde e segurança do trabalhador. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/a-previdencia/saude-e-seguranca-do- trabalhador/>. Acesso em: 5 fev. 2016. 5.1 O trabalho em situações especiais De acordo com a Recomendação nº 168/83, que trata da reabilitação profissional e do emprego de pessoas portadoras de deficiência, são determinações para a reabilitação profissional nas zonas rurais: IV. Reabilitação Profissional nas Zonas Rurais 20. Deveriam desenvolver-se esforços especiais para lograr que os serviços de reabilitação profissional se ampliem com o fim de que as pessoas portadoras de deficiência que habitam nas zonas rurais e comunidades distantes possam beneficiar-se disso no mesmo grau e condições que nas zonas urbanas. O desenvolvimento de tais serviços deveria formar parte integrante das políticas nacionais de desenvolvimento rural. 21. Com tal objetivo, deveriam tomar-se medidas para: a) designar os serviços existentes de reabilitação profissional nas zonas rurais ou, quando não existam, os mesmos serviços nas zonas urbanas, como centros de formação do pessoal de reabilitação em zonas rurais; b) criar unidades móveis de habilitação e reabilitação profissionais que atendam às pessoas portadoras de deficiência das zonas rurais e atuem 89 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO como centro de divulgação de informação a respeito da formação rural e oportunidades de emprego para pessoas portadoras de deficiência; c) formar os especialistas em desenvolvimento rural e desenvolvimento comunitário em técnicas de reabilitação profissional; d) conceder empréstimos ou subvenções e facilitar ferramentas e materiais para ajudar as pessoas portadoras de deficiência residentes nas coletividades rurais a estabelecer e administrar cooperativas ou a trabalhar por conta própria em pequenas indústrias familiares ou em atividades agrícolas, artesanatos ou outras; e) incorporar a assistência às pessoas portadoras de deficiência nas atividades de desenvolvimento rural existentes ou projetadas, destinadas à população em geral; f) facilitar o acesso das pessoas portadoras de deficiência a moradias situadas a distância razoável de seu local de trabalho (OIT, 1983). 6 PCMSO E PPRA O amplo campo de atuação da higiene e da segurança do trabalho consegue atingir seus objetivos com a aplicação prática e eficaz de seus principais programas de prevenção: o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT). O PCMSO e o PPRA são obrigatórios para todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores regidos pela CLT, e o PCMAT é específico para os empregadores e as instituições da indústria da construção civil. Os responsáveis pela gestão desses programas são os profissionais que compõem o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), que, em conjunto com a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), realizam esforços conjuntos na prevenção de acidentes, no controle da saúde nas empresas e em campanhas de conscientização para alcançar os objetivos citados. Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) O PPRA é definido e regulamentado pela NR 9, contida na Portaria 3.214, de 8 de junho de 1978, do Ministério do Trabalho e Emprego. Como já falamos em outras oportunidades, o PPRA faz parte de um conjunto de programas obrigatórios que as empresas devem atender dentro das normas regulamentadoras que, no final, constituirão um sistema de gestão de segurança e saúde do trabalho para as empresas. Não se pode esquecer também que este programa será a referência base para o médico do trabalho elaborar o seu programa de saúde ocupacional (PCMSO). 90 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Este programa se torna importante no sentido que ele tem a responsabilidade de identificar e prever riscos, quantificá-los e determinar a forma de controle para que o mesmo não afete a saúde ou integridade física do trabalhador. A seguir, leia a Norma Regulamentadora que aborda o PPRA: NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais 9.1 – Do objeto e campo de aplicação. 9.1.1 – Esta Norma Regulamentadora – NR estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. 9.1.2 – As ações do PPRA devem ser desenvolvidas no âmbito de cada estabelecimento da empresa, sob a responsabilidade do empregador, com a participação dos trabalhadores, sendo sua abrangência e profundidade dependentes das características dos riscos e das necessidades de controle. 9.1.2.1 – Quando não forem identificados riscos ambientais nas fases de antecipação ou reconhecimento, descritas nos itens 9.3.2 e 9.3.3, o PPRA poderá resumir-se às etapas previstas nas alíneas “a” e “f” do subitem 9.3.1. 9.1.3 – O PPRA é parte integrante do conjunto mais amplo das iniciativas da empresa no campo da preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, devendo estar articulado com o disposto nas demais NR, em especial com o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO previsto na NR 7 9.1.4 – Esta NR estabelece os parâmetros mínimos e diretrizes gerais a serem observados na execução do PPRA, podendo os mesmos ser ampliados mediante negociação coletiva de trabalho. 9.1.5 – Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. [...] 9.2 – Da estrutura do PPRA. 9.2.1 O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais deverá conter, no mínimo, a seguinte estrutura: 91 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO a) planejamentoanual com estabelecimento de metas, prioridades e cronograma; b) estratégia e metodologia de ação; c) forma do registro, manutenção e divulgação dos dados; d) periodicidade e forma de avaliação do desenvolvimento do PPRA. 9.2.1.1 – Deverá ser efetuada, sempre que necessário e pelo menos uma vez ao ano, uma análise global do PPRA para 2 avaliação do seu desenvolvimento e realização dos ajustes necessários e estabelecimento de novas metas e prioridades. 9.2.2 – O PPRA deverá estar descrito num documento-base contendo todos os aspectos estruturais constantes do item 9.2.1. 9.2.2.1 – O documento-base e suas alterações e complementações deverão ser apresentados e discutidos na CIPA, quando existente na empresa, de acordo com a NR 5, sendo sua cópia anexada ao livro de atas desta Comissão. [...] 9.3 – Do desenvolvimento do PPRA. 9.3.1 – O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais deverá incluir as seguintes etapas: a) antecipação e reconhecimentos dos riscos; b) estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e controle; c) avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores; d) implantação de medidas de controle e avaliação de sua eficácia; e) monitoramento da exposição aos riscos; f) registro e divulgação dos dados. 9.3.1.1 – A elaboração, implementação, acompanhamento e avaliação do PPRA poderão ser feitas pelo Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho - SESMT ou por pessoa ou equipe de pessoas que, a critério do empregador, sejam capazes de desenvolver o disposto nesta NR. 9.3.2 – A antecipação deverá envolver a análise de projetos de novas instalações, métodos ou processos de trabalho, ou de modificação dos já existentes, visando a identificar os riscos potenciais e introduzir medidas de proteção para sua redução ou eliminação. 92 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III 9.3.3 – O reconhecimento dos riscos ambientais deverá conter os seguintes itens, quando aplicáveis: a) a sua identificação; b) a determinação e localização das possíveis fontes geradoras; c) a identificação das possíveis trajetórias e dos meios de propagação dos agentes no ambiente de trabalho; d) a identificação das funções e determinação do número de trabalhadores expostos; e) a caracterização das atividades e do tipo da exposição; f) a obtenção de dados existentes na empresa, indicativos de possível comprometimento da saúde decorrente do trabalho; g) os possíveis danos à saúde relacionados aos riscos identificados, disponíveis na literatura técnica; h) a descrição das medidas de controle já existentes. 9.3.4 A avaliação quantitativa deverá ser realizada sempre que necessária para: a) comprovar o controle da exposição ou a inexistência riscos identificados na etapa de reconhecimento; b) dimensionar a exposição dos trabalhadores; c) subsidiar o equacionamento das medidas de controle. Fonte: Brasil (1978b, p. 1-2) Observação O PPRA tem como obrigatoriedade a avaliação, o controle e o monitoramento dos riscos ambientais físicos, químicos e biológicos do ambiente de trabalho. Porém, fica a critério do SESMT a inclusão de outros riscos laborais, como o risco ergonômico e de acidentes, em seu programa de prevenção, como é feito em algumas empresas, que, não sendo obrigatório pela NR 9, qualifica mais ainda a gestão dos riscos nas organizações. 93 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO A seguir, encontra-se um modelo de matriz para antecipação e conhecimento dos riscos ambientais. Quadro 5 – Modelo de matriz: antecipação e conhecimento de riscos Reconhecimento dos riscos ambientais Nome da empresa Funções existentes Técnico de segurança responsável: Setor de trabalho: Descrição das atividades Agentes Tipo Fonte geradora Gradação Medidas de prevenção Efeitos Exposição EPC EPI Físico Químico Biológico Gradação dos riscos Categoria Gradação efeitos à saúde Categoria Gradação de exposição 0 Efeitos reversíveis e pequenos 0 Nenhum contato com o agente ou desprezível 1 Efeitos reversíveis à saúde, preocupante 1 Contatos esporádicos com o agente 2 Efeitos severos à saúde, preocupante 2 Contato frequente com o agente à baixa concentração 3 Efeitos irreversíveis à saúde, preocupante 3 Contato frequente com o agente às altas concentrações 4 Ameaça à vida, lesão incapacitante ocupacional 4 Contato frequente à altíssima concentração Saiba mais Para ter acesso à NR 9 na íntegra, acesse: BRASIL. Norma Regulamentadora 9: Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Brasília, 1978. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/images/ Documentos/SST/NR/NR-09atualizada2014III.pdf>. Acesso em: 8 fev. 2016. Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO O PCMSO é regulamentado pela NR 7, contida na Portaria 3.214, de 8 de junho de 1978, do MTE, e pode ser definido como um programa que tem como objetivos estabelecer o nexo causal entre a atividade profissional e um determinado risco no ambiente de trabalho e, após a detecção, realizar o monitoramento e o devido controle para que não ocorram danos à saúde do trabalhador. 94 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Como já visto em outras disciplinas ao longo do curso, deve-se ter em mente que este programa faz parte de um sistema de gestão em SST, que as empresas devem desenvolver, e este depende diretamente do Programa de Prevenção Riscos Ambientais, previsto na NR 9, a partir da qual se identificaram e quantificaram os riscos dos ambientes e atividades de trabalho, que serão a base para que o Médico do Trabalho possa desenvolver o PCMSO. Entre os aspectos a serem considerados e analisados pelo médico, podemos citar as questões de incidentes conhecidos que afetam o trabalhador ou a coletividade, utilizando-se, nesse caso, a análise clínica-epidemiológica ao que se refere à relação do trabalho com a saúde do trabalhador. Nesse sentido, o trabalho do médico Bernardino Ramazzine em 1700 é um grande exemplo, pois foi ele que se preocupou e documentou a questão da importância de se conhecer a atividade do trabalho e o seu ambiente nos impactos à saúde do trabalhador. Em sua obra, ele descreve as doenças que cada profissão irá causar no trabalhador e a forma como deverá ser tradada. O PCMSO, por sua vez, deve agir de forma preventiva, sendo a visão mais atualizada da medicina do trabalho, a partir da qual deve-se preocupar em cuidar e manter a saúde do trabalhador, evitando de todas as formas que ele adoeça. Lembrete No caso da saúde do trabalhador, o médico coordenador do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), o engenheiro de segurança do trabalho ou os encarregados serão os responsabilizados penalmente pelo crime de periclitação da vida quando os ambientes de trabalho deixarem de observar seus deveres legais, expondo os operários a perigo de vida. Com uma medicina do trabalho que faz uso correto das ferramentas de que dispõe, pode-se rastrear e diagnosticar, de forma precoce, problemas que possam estar afetando a saúde do trabalhador e, assim, intervir de forma preventiva, evitando seu agravo, que pode levar a consequências permanentes e irreversíveis à saúde do trabalhador. Assim, para se obter sucesso nesse programa, deve-se trabalhar com planejamento adequado e segui-lo, de forma documentada e constante no relatório anual que deverá ser gerado. São responsabilidades do empregador: • Garantir a elaboraçãoe a efetiva implementação do PCMSO, bem como zelar pela sua eficácia. • Custear todos os procedimentos relacionados ao PCMSO, sem ônus para o empregado. • Indicar, entre os médicos do SESMT da empresa, um coordenador responsável pela execução do PCMSO. 95 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO • No caso de a empresa estar desobrigada de manter médico do trabalho, de acordo com a NR 4, deverá o empregador indicar médico do trabalho, empregado ou não da empresa, para coordenar o PCMSO. • Inexistindo médico do trabalho na localidade, o empregador poderá contratar médico de outra especialidade para coordenar o PCMSO. O médico coordenador deverá realizar os exames médicos previstos na NR 7 ou delegá-los a outro profissional médico familiarizado com os princípios da patologia ocupacional e suas causas, bem como com o ambiente, as condições de trabalho e os riscos a que está ou será exposto cada trabalhador a ser examinado. O PCMSO deve incluir, no desenvolvimento de suas atividades, a realização obrigatória dos seguintes exames médicos: • Admissional: deve ser realizado antes que o trabalhador assuma suas atividades. • Periódico: é realizado regularmente e deve considerar os prazos estipulados pelo médico- coordenador, a análise dos riscos por setor e função, assim como a idade do colaborador. • Retorno ao trabalho: realizado obrigatoriamente no primeiro dia da volta ao trabalho do trabalhador ausente por período igual ou superior a 30 dias por motivo de doença ou acidente, de natureza ocupacional ou não, ou parto. • Mudança de função: realizado obrigatoriamente antes da data da mudança. Entende-se por mudança de função toda e qualquer alteração da atividade, posto de trabalho ou setor que implique exposição do trabalhador a risco diferente daquele a que estava exposto antes da mudança. • Demissional: será obrigatoriamente realizado até a data da homologação da dispensa, desde que o último exame médico ocupacional tenha sido realizado a mais de 135 dias para as empresas de grau de risco 1 e 2, e 90 dias para as empresas de grau de risco 3 e 4. As avaliações que devem compreender esses exames são: avaliação clínica, abrangendo anamnese ocupacional e exame físico e mental; além de exames complementares, realizados de acordo com os termos específicos na NR 7 e seus anexos. Para cada um desses exames realizados, o médico emitirá o Atestado de Saúde Ocupacional (ASO), em duas vias. Este atestado deverá ser feito quando o trabalhador for admitido (admissional), periódico, conforme a programação do PCMSO, quando o trabalhador for demitido (demissional) para a homologação da sua demissão, em casos de retorno ao trabalho, depois de algum afastamento de suas atividades e, por fim, quando o trabalhador mudar de função, atestando que ele está apto (ou não) para a nova função. Esse documento (que é obrigatório) deverá ser emitido em duas vias para que o trabalhador possa ficar com uma e o empregador possa manter arquivada a outra, ficando esta à disposição da fiscalização do trabalho, quando ela ocorrer. 96 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III O documento deverá descrever os exames que foram realizados, respectivas datas, e os riscos ocupacionais específicos existentes na atividade desenvolvida pelo trabalhador. Já os resultados desses exames devem ficar sob a responsabilidade do médico, coordenador do PCMSO, respeitando a questão de sigilo profissional entre médico e paciente, ficando registrado em seu prontuário, bem como todos exames complementares que possam ter sido feitos e as ações que tomadas. Esse prontuário deverá ser arquivado, após a demissão do trabalhador, por um período mínimo de 20 anos. Saiba mais Para conhecer, na íntegra, a NR 7, que regulamenta o PCMSO, leia: BRASIL. Norma Regulamentadora 7: Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Brasília, 1978. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/ images/Documentos/SST/NR/NR7.pdf>. Acesso em: 8 fev. 2016. Serviço Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) Todas as empresas devem tratar da segurança e da prevenção de acidentes, bem como das condições do ambiente de trabalho através dos instrumentos do SESMT e da Cipa. Esses serão os órgãos, dentro da empresa, responsáveis pela proteção da integridade física do trabalhador e de qualquer condição anormal ao ambiente que possam afetar a saúde do trabalhador. A CLT, em seus artigos 162 a 165, e a portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho regulamentam o SESMT e a Cipa, tornando-os obrigatórios em todas as empresas públicas e privadas, de administração direta ou indireta, e dos Poderes Legislativo e Judiciário, desde que possuam trabalhadores que tenham vínculo empregatício regido pela CLT. Para sua implantação, deverá ser levado em conta o número de funcionários da empresa, além de quais são os riscos presentes no ambiente de trabalho. O SESMT tem como finalidade principal garantir a integridade física do trabalho, de maneira a controlar os riscos aos quais os profissionais possam estar expostos, avaliando de que maneira podem acontecer melhorias das condições em cada processo de trabalho dentro da instituição, para que não aconteça aquilo que se busca prevenir: o acidente de trabalho. O SESMT deverá ser composto pelos seguintes profissionais: • Engenheiro de segurança do trabalho. • Médico do trabalho. • Enfermeiro do trabalho. 97 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO • Técnicos de segurança do trabalho. • Auxiliares de enfermagem do trabalho. Os profissionais de nível médio, como o técnico de segurança do trabalho e o auxiliar de enfermagem do trabalho devem dedicar oito horas por dia às atividades do SESMT. Os profissionais graduados em nível superior, como o engenheiro de segurança do trabalho, o médico do trabalho e o enfermeiro do trabalho, devem dedicar-se às atividades do SESMT, no mínimo três horas por dia, em tempo parcial, ou seis horas por dia em tempo integral. Observação Aos profissionais especializados em Segurança e em Medicina do Trabalho, é vedado o exercício de outras atividades na empresa, durante o horário de sua atuação nos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. As competências atribuídas aos profissionais que compõem o SESMT podem ser encontradas no item 4.12 da NR 4. Pode-se facilmente observar que essas competências reforçam a questão da priorização na eliminação do risco nas atividades e ambientes de trabalho, como: o uso de EPI é realizado apenas quando são esgotados todos os meios conhecidos para a eliminação dos riscos existentes no ambiente de trabalho; a participação dos profissionais na análise dos aspectos de segurança em novos projetos, aquisição de equipamentos, máquinas etc. Dessa forma, o profissional pode orientar os aspectos de segurança com os seus conhecimentos profissionais na área, obtendo resultados mais positivos e eficazes neste sentido. Outras competências que devem ser bem-desenvolvidas e aplicadas pelo SESMT são: as atribuições das responsabilidades na questão de esclarecer e orientar a empresa no atendimento às normas regulamentadoras; o seu relacionamento com a Cipa, que, quando bem-estruturada e orientada, torna-se um dos canais mais importantes de informação do “chão de fábrica”, possibilitando ações práticas e eficazes para a prevenção, também destacando a importância de trabalhos relacionados à conscientização e à orientação nos aspectosde SST, reforçando uma das ferramentas mais importantes e eficientes da prevenção, a informação; entre outras competências. Saiba mais Para analisar todas as competências exigidas para os profissionais do SESMT, leia a NR 4: BRASIL. Norma Regulamentadora 4: Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. Brasília, 1978. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR4. pdf>. Acesso em: 8 fev. 2016. 98 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III Dimensionamento do SESMT O dimensionamento do SESMT deve ser vinculado à graduação do risco da atividade principal e ao número total de empregados da empresa. Para se chegar à composição do SESMT de uma determinada empresa, deve-se conhecer o grau de risco de sua atividade principal, ou seja, conhecer a Classificação Nacional da Atividade Econômica (CNAE) da empresa para saber o grau de risco estabelecido pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Na tabela a seguir, podemos verificar como acontece o dimensionamento: Tabela 3 – Dimensionamento do SESMT Grau de risco Nº de empregados 50 a 100 101 a 250 251 a 500 501 a 1.000 1.001 a 2.000 2.001 a 3.500 3.501 a 5.000 Acima de 5.000 Para cada grupo de 4.000 ou fração de 2.000 **Técnicos 1 Téc. Seg. Trabalho 1 1 1 2 1 Engenheiro Seg. Trab. 1* 1 1* Aux. Enf. Trabalho 1 1 1 Enfermeiro Trabalho 1* Médico do Trabalho 1* 1* 1 1* 2 Téc. Seg. Trabalho 1 1 2 5 1 Engenheiro Seg. Trab. 1* 1 1 1* Aux. Enf. Trabalho 1 1 1 1 Enfermeiro Trabalho 1 Médico do Trabalho 1* 1 1 1 3 Téc. Seg. Trabalho 1 2 3 4 6 8 3 Engenheiro Seg. Trab. 1* 1 1 2 1 Aux. Enf. Trabalho 1 2 1 1 Enfermeiro Trabalho 1 Médico do Trabalho 1* 1 1 2 1 4 Téc. Seg. Trabalho 1 2 3 4 5 8 10 3 Engenheiro Seg. Trab. 1* 1* 1 1 2 3 1 Aux. Enf. Trabalho 1 1 2 1 1 Enfermeiro Trabalho 1 Médico do Trabalho 1* 1* 1 1 2 3 1 (*) Tempo parcial – mínimo de 3 horas (**) o dimensionamento total deverá ser feito levando-se em consideração o dimensionamento de 3.501 a 5.000 mais o dimensionamento do(s) grupos(s) de 4.000 ou fração acima de 2.000. Obs.: hospitais, ambulatórios, maternidade, casas de saúde e repouso, clínicas e estabelecimentos similares de saúde e repouso, clínicas e estabelecimentos similares com mais de 500 (quinhentos) empregados deverão contratar um Enfermeiro em tempo integral. Fonte: Brasil (1978a). 99 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO Resumo Estudamos um pouco sobre a definição de Reabilitação Profissional, que desde a década de 1960, de acordo com a Lei Orgânica da Previdência Social, já tinha estabelecido e regulamentado as ações de reeducação e readaptação do trabalhador, sendo essas atribuições do Ministério da Previdência Social. Com a promulgação da nova Constituição em 1988, essas atividades deixaram de ser executadas exclusivamente pelo Ministério da Previdência Social e parte delas foram passadas para o Ministério da Saúde. Nessa nova definição de ações a serem executadas, deveriam ser privilegiadas aquelas que tinham por definição fazer a reinserção do trabalhador no mercado de trabalho, integrando-o em suas necessidades. Além das recomendações nacionais, estudamos também um pouco sobre como a Organização Internacional do Trabalho instituiu Normas Técnicas e Recomendações Internacionais, inclusive com a preocupação de diferenciação em determinadas áreas, como as recomendações específicas para a saúde do trabalhador rural. Depois discutimos a importância da implantação de programas específicos ligados à saúde do trabalhador e que são amparados pela legislação, como: • Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO): regulamentado pela NR 9, do Ministério do Trabalho e Emprego. • Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA): regulamentado pela NR 7. Além desses programas, ainda foram discutidas as principais ações que devem ser executadas pelo Serviço Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT). Exercícios Questão 1. No que se refere às Normas Regulamentadoras (NRs), relativas à segurança e medicina do trabalho e que devem, obrigatoriamente, ser cumpridas por todas as empresas privadas e públicas, desde que tenham empregados celetistas, avalie as afirmativas a seguir: 100 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade III As NRs determinam que o departamento de segurança e saúde no trabalho é o órgão interno ao qual compete coordenar, orientar, controlar e supervisionar todas as atividades inerentes ao processo. PORQUE Na NR3, está previsto que a Delegacia Regional do Trabalho poderá interditar e/ou embargar o estabelecimento, as máquinas, ou setor de serviços se eles demonstrarem grave e iminente risco para o trabalhador, mediante laudo técnico, e/ou exigir providências para prevenção de acidentes do trabalho e doenças profissionais. Analisando a relação proposta entre as duas afirmativas, assinale a opção correta. A) As duas afirmativas são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. B) As duas afirmativas são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa para a primeira. C) A primeira afirmativa é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa. D) A primeira afirmativa é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira. E) As duas afirmativas são proposições falsas. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas Justificativa geral: Ambas afirmativas estão corretas. A principal diretriz do Departamento de Segurança do Trabalho é evitar riscos e danos à saúde do trabalhador. A NR 3 se refere ao Embargo ou Interdição de locais que apresentem riscos à saúde do trabalhador. Embora corretas, as afirmativas se referem a NRs diferentes, portanto, uma não justifica a outra. Questão 2. Para gerenciar os riscos à saúde do trabalhador, a Norma Regulamentadora 9 (NR9) define riscos ambientais como os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. Além disso, a Norma Regulamentadora 17 – Ergonomia (NR17) estabelece parâmetros que permitem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores. No contexto dos trabalhadores que lidam com a coleta, o transporte, a reutilização, a reciclagem, o tratamento e a disposição final de entulhos da construção civil gerados em cidades brasileiras, avalie as afirmativas que se seguem: 101 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MEDICINA DO TRABALHO I – O trabalho de coleta, armazenamento e transporte dos entulhos caracteriza-se como de baixo risco ergonômico às características psicofisiológicas dos trabalhadores. II – Nas centrais de processamento de entulho, o ruído gerado pelos equipamentos trituradores dos resíduos representa agente físico que requer o uso de protetores auriculares pelos trabalhadores. III – O manejo dos entulhos da construção civil emite, no ambiente de trabalho, plumas de agentes biológicos, como bactérias, fungos, protozoários e vírus, que requerem o uso de máscaras respiratórias pelos trabalhadores. IV– A reciclagem dos entulhos é geradora de poeiras eventualmente contendo asbesto, um agente químico que penetra pelas vias respiratórias e digestivas do trabalhador, podendo provocar asbestose e câncer do pulmão e do trato digestivo. É correto apenas o que se afirma em: A) I. B) II. C) I e III. D) II e IV. E) III e IV. Resolução desta questão na plataforma.
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