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ESTRUTURAS DE CONCRETO Engenharia Agrícola AULA 11 – PILARES: DIMENSIONAMENTO À FLEXO-COMPRESSÃO OBLÍQUA Prof. Juliane da Silva Dávila FLEXO-COMPRESSÃO OBLÍQUA 2 A flexo-compressão oblíqua é a solicitação composta por um esforço normal de compressão agindo fora dos eixos de simetria da seção transversal. Quando o esforço normal atua em um eixo de simetria da seção de concreto, mas o arranjo das barras não é simétrico em relação a esse eixo, a flexão também é oblíqua. Por último, a flexão será oblíqua quando a própria seção não possuir eixo de simetria. FLEXO-COMPRESSÃO OBLÍQUA 3 Na flexo-compressão oblíqua, ao contrário da flexo-compressão normal, tanto a profundidade da linha neutra quanto a sua orientação são desconhecidas. Em geral, linha neutra não é perpendicular ao plano de ação do momento fletor. Assim, surge uma nova incógnita no problema, o que torna sua solução bastante complexa. FLEXO-COMPRESSÃO OBLÍQUA Na Figura 1 apresenta-se uma seção retangular de concreto armado submetida à flexo-compressão oblíqua. Figura 1 – Seção transversal sob flexo-compressão oblíqua Como pode ser visto, a linha neutra está inclinada a um ângulo 𝛼 em relação ao eixo x e não é perpendicular ao plano de ação do momento fletor. Assim, para caracterizar a linha neutra, é necessário encontrar sua profundidade xo e sua inclinação 𝛼. Somente quando o esforço normal de compressão Nd estiver aplicado nos eixos de simetria x e y é que se conhece diretamente o ângulo 𝛼 (casos de flexo-compressão normal). Em vista disso, o dimensionamento da seção torna-se bastante difícil e só pode ser feito através de tentativas. Entretanto, a verificação da capacidade resistente é um problema relativamente simples. FLEXO-COMPRESSÃO OBLÍQUA Com a formulação do problema para uma seção poligonal arbitrária, pode ser desenvolvido um programa para a verificação da capacidade resistente de qualquer forma geométrica de seção transversal. 5 FLEXO-COMPRESSÃO OBLÍQUA Na Figura 2, indica-se uma seção poligonal arbitrária de concreto armado submetida ao esforço normal de compressão Nd. Figura 2 – Caracterização da seção transversal As excentricidades do esforço normal de cálculo (Nd) são ex e ey. Além disso, convenciona-se que a origem do sistema de eixos x-y coincide com o centroide da seção de concreto simples. Logo, a solicitação é composta por Nd, Mxd e Myd, onde: Momentos de cálculo 6 𝑀𝑥𝑑 = 𝑁𝑑 . 𝑒𝑥 𝑀𝑦𝑑 = 𝑁𝑑 . 𝑒𝑦 FLEXO-COMPRESSÃO OBLÍQUA A seção transversal possui “n” barras de aço. As coordenadas de uma barra genérica, em relação ao sistema de eixos cartesianos x-y são 𝑥𝑠𝑖 e 𝑦𝑠𝑖. Se todas as barras têm o mesmo diâmetro, a área da seção de uma barra é dada por: Onde: 𝐴𝑠𝑖: Área da seção de uma barra; 𝐴𝑠: Área total de armadura na seção transversal; 𝑛: Número de barras de aço da seção transversal. 𝐴𝑠𝑖 = 𝐴𝑠 𝑛 𝑖 = 1 𝑎 𝑛 FLEXO-COMPRESSÃO OBLÍQUA Na Figura 3, representa-se a parte da seção de concreto que está comprimida pelo bloco retangular de tensões. Nessa figura, Acc indica a área de concreto comprimida com a tensão constante σcd. A tensão de compressão na flexo-compressão oblíqua é: Figura 3 – Área de concreto comprimida 8𝜎𝑐𝑑 = 0,80. 𝑓𝑐𝑑 EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO Aplicando as equações de equilíbrio do problema, resulta: 9 𝑁𝑑 = න 𝐴𝑐𝑐 𝜎𝑐𝑑 𝑑𝐴 + 𝑖=1 𝑛 𝐴𝑠𝑖 . 𝜎𝑠𝑑𝑖 𝑀𝑥𝑑 = න 𝐴𝑐𝑐 𝜎𝑐𝑑 . 𝑥𝑑𝐴 + 𝑖=1 𝑛 𝐴𝑠𝑖 . 𝜎𝑠𝑑𝑖 . 𝑥𝑠𝑖 𝑀𝑦𝑑 = න 𝐴𝑐𝑐 𝜎𝑐𝑑 . 𝑦𝑑𝐴 + 𝑖=1 𝑛 𝐴𝑠𝑖 . 𝜎𝑠𝑑𝑖 . 𝑦𝑠𝑖 No dimensionamento da seção, são dados os esforços solicitantes Nd, Mxd e Myd e as incógnitas envolvidas nas três equações de equilíbrio são x0, α e As que são resolvidas por tentativas. USO DAS TABELAS Um programa interativo foi desenvolvido e este coloca em evidência a taxa mecânica de armadura em função de As, visto no dimensionamento à flexo-compressão normal. As tabelas apresentadas no livro foram geradas para seções duplamente simétricas, pois esse tipo de seção são encontradas com maior frequência em pilares de pontes, edifícios, sendo assim, o algoritmo capaz de resolver os principais problemas de interesse prático. 10 USO DAS TABELAS 11 Em cada tabela, encontra-se indicada a seção transversal com a correspondente disposição das barras da armadura. O número “n” de barras na seção também é indicado junto ao título d tabela. As tabelas fornecem a taxa mecânica de armadura 𝝎, com a qual se calcula a área de aço. Para identificar a tabela a ser usada, deve-se verificar a disposição das barras da armadura e o valor do esforço normal reduzido v. Para valores diferentes dos tabelados, pode-se fazer uma interpolação linear. USO DAS TABELAS Os parâmetros de entrada das tabelas para a obtenção da taxa mecânica de armadura para o cálculo da seção são os esforços reduzidos representados por: Com a taxa mecânica de armadura 𝜔, calcula-se a área de aço necessária na seção. 12 𝑣 = 𝑁𝑑 𝐴𝑐 . 𝜎𝑐𝑑 𝜇𝑥 = 𝑀𝑥𝑑 𝐴𝑐 . ℎ𝑥 . 𝜎𝑐𝑑 𝜇𝑦 = 𝑀𝑦𝑑 𝐴𝑐 . ℎ𝑦 . 𝜎𝑐𝑑 𝐴𝑠 = 𝜔. 𝐴𝑐 . 𝜎𝑐𝑑 𝑓𝑦𝑑 𝐴𝑐 = ℎ𝑥. ℎ𝑦 14 EXEMPLO 15 Exemplo 1: Dimensione a seção transversal submetida a um esforço normal de serviço Nk=800 kN e aos momentos fletores de serviço Mxk=2000 kN.cm e Myk=4000 kN.cm. O concreto possui fck=20 MPa e o aço é o CA-50. Considere o cobrimento (com estribo) igual a 4 cm. EXEMPLO RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 16 1º Cálculo dos Valores de Cálculo a. 𝑓𝑐𝑑 = 𝑓𝑐𝑘 𝛾𝑐 = 2,0 1,4 = 1,43 𝑘𝑁/𝑐𝑚² b. 𝑓𝑦𝑑 = 𝑓𝑦𝑘 𝛾𝑠 = 50 1,15 = 43,48 𝑘𝑁/𝑐𝑚² c. 𝑁𝑑 = 𝑁𝑘. 𝛾𝑓 = 800.1,4 = 1120 𝑘𝑁 d. 𝑀𝑥𝑑 = 𝑀𝑥𝑑 . 𝛾𝑓 = 2000.1,4 = 2800 𝑘𝑁. 𝑐𝑚 e. 𝑀𝑦𝑑 = 𝑀𝑦𝑑 . 𝛾𝑓 = 4000.1,4 = 5600 𝑘𝑁. 𝑐𝑚 EXEMPLO f. 𝜎𝑐𝑑 = 0,80. 𝑓𝑐𝑑 = 0,80.1,43 = 1,14 𝑘𝑁/𝑐𝑚² g. 𝐴𝑐 = ℎ𝑥. ℎ𝑦 = 20.40 = 800 𝑐𝑚² 17 EXEMPLO RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 2º Cálculo dos Parâmetros a. 𝑣 = 𝑁𝑑 𝐴𝑐.𝜎𝑐𝑑 = 1120 800.1,14 = 1,23 b. 𝜇𝑥 = 𝑀𝑥𝑑 𝐴𝑐.ℎ𝑥.𝜎𝑐𝑑 = 2800 800.20.1,14 = 0,15 c. 𝜇𝑦 = 𝑀𝑦𝑑 𝐴𝑐.ℎ𝑦.𝜎𝑐𝑑 = 5600 800.40.1,14 = 0,15 Para o tipo de seção deste exemplo, deve-se empregar a Tabela A2.2, interpolando linearmente entre os valores correspondentes a 𝑣 = 1,2 e a 𝑣 = 1,4 para a obtenção da taxa de armadura relativa a 𝑣 = 1,23. Analogamente, é necessário fazer uma interpolação linear para obter a solução correspondente aos momentos 𝜇𝑥 = 0,15 e 𝜇𝑦 = 0,15. 18 EXEMPLO RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 19 Entrando na Tabela A2.2 com 𝑣 = 1,2, deve-se interpolar linearmente: 𝑦𝑎−𝑦1 𝑦2−𝑦1 = 𝑥𝑎−𝑥1 𝑥2−𝑥1 = 0,15−0,1 0,2−0,1 = 𝑥𝑎−0,57 0,82−0,57 = 0,7 𝑦𝑎−𝑦1 𝑦2−𝑦1 = 𝑥𝑎−𝑥1 𝑥2−𝑥1 = 0,15−0,1 0,2−0,1 = 𝑥𝑎−0,89 1,11−0,89 = 1,0 Dessa forma, 𝜔 = 0,7+1,0 2 = 0,85 𝜇𝑦 𝜇𝑥 0,1 0,2 0,1 0,57 0,82 0,2 0,89 1,11 EXEMPLO RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 20 Entrando na Tabela A2.2 com 𝑣 = 1,4, deve-se interpolar linearmente: 𝑦𝑎−𝑦1 𝑦2−𝑦1 = 𝑥𝑎−𝑥1 𝑥2−𝑥1 = 0,15−0,1 0,2−0,1 = 𝑥𝑎−0,76 0,99−0,76 = 0,88 𝑦𝑎−𝑦1 𝑦2−𝑦1 = 𝑥𝑎−𝑥1 𝑥2−𝑥1 = 0,15−0,1 0,2−0,1 = 𝑥𝑎−1,05 1,27−1,05 = 1,16 Dessa forma, 𝜔 = 0,88+1,16 2 = 1,02 𝜇𝑦 𝜇𝑥 0,1 0,2 0,1 0,76 0,99 0,2 1,05 1,27 EXEMPLO RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 21 Feitas as interpolações relativas aos momentos obtém-se os seguintes resultados: ▪ Para 𝑣 = 1,2: 𝜔 = 0,85 ▪ Para 𝑣 = 1,4: 𝜔 = 1,02 Entretanto, é necessário interpolar novamente, tendo em vista que 𝑣 = 1,23, logo: 𝑦𝑎−𝑦1 𝑦2−𝑦1 = 𝑥𝑎−𝑥1 𝑥2−𝑥1 = 1,23−1,2 1,4−1,2 = 𝑥𝑎−0,85 1,02−0,85 = 0,88 , logo, 𝜔 = 0,88. EXEMPLO 𝑣 𝜔 1,2 0,85 1,4 1,02 RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 22 Dessa forma, a área de área de aço será: 𝐴𝑠 = 𝜔. 𝐴𝑐 . 𝜎𝑐𝑑 𝑓𝑦𝑑 = 0,88.800.1,14 43,48 = 18,46 𝑐𝑚² EXEMPLO RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 3º Detalhamento da Armadura a. Determinação das Barras Para ∅ 20 mm: 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎𝑠 = 𝐴𝑠 𝐴𝑠∅ = 18,46 3,14 = 5,88, logo, 6 barras. 𝑒ℎ,𝑚í𝑛 = 𝑏−2. 𝑐+∅𝑡 −𝑛º 𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎𝑠.∅𝑙 𝑛º 𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎𝑠−1 = 20−2. 4 −2.2,0 2−1 = 8 𝑐𝑚, logo, OK! 𝑒𝑣,𝑚í𝑛 = ℎ−2. 𝑐+∅𝑡 −𝑛º 𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎𝑠.∅𝑙 𝑛º 𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎𝑠 −1 = 40−2. 4 −3.2,0 3−1 = 13 𝑐𝑚, logo, OK! EXEMPLO 𝒆𝒉,𝒎í𝒏 ≥ 𝟐 𝒄𝒎 ∅𝒍 𝟏, 𝟐 𝒅𝒎á𝒙,𝒂𝒈𝒓 2,0 cm 1,2.1,9=2,28 cm 𝒆𝒗,𝒎í𝒏 ≥ 𝟐 𝒄𝒎 ∅𝒍 𝟎, 𝟓 𝒅𝒎á𝒙,𝒂𝒈𝒓 2,0 cm 0,5.1,9=0,95 cm 23 RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 24 b. Determinação da Taxa de Armadura 𝜌 = 𝐴𝑠,𝑢𝑡𝑖𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜 𝐴𝑐 . 100 = 18,84 800 . 100 = 2,36% 𝜌𝑚í𝑛 ≤ 𝜌 ≤ 8% 𝑜𝑢 4% 𝜌𝑚í𝑛 = 0,15. 𝑁𝑑 𝐴𝑐 . 𝑓𝑦𝑑 . 100 = 0,15. 1120 800.43,48 . 100 = 0,48% ≥ 0,4% EXEMPLO RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 25 c. Determinação dos Estribos O diâmetro mínimo dos estribos deve ser: ▪ ∅𝑡 ≥ 5𝑚𝑚 ▪ ∅𝑡 ≥ ∅𝑙 4 = 20 4 = 5 𝑚𝑚 Logo, o ∅t mínimo é 5 mm. Logo, S=20 cm 𝑺 ≤ 𝟐𝟎 𝒄𝒎 𝑴𝒆𝒏𝒐𝒓 𝒅𝒊𝒎𝒆𝒏𝒔ã𝒐 𝒅𝒐 𝒑𝒊𝒍𝒂𝒓 = 𝟐𝟎 𝒄𝒎 𝟏𝟐. ∅𝒍 = 𝟏𝟐. 𝟐, 𝟎 = 𝟐𝟒 𝒄𝒎 EXEMPLO RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 26 ℎ = 3,5 𝑚 = 350 𝑚 ℎ𝑣 = 40 𝑐𝑚 𝑙 = ℎ − ℎ𝑣 = 350 − 40 = 𝟑𝟏𝟎 𝒄𝒎 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝐸𝑠𝑡𝑟𝑖𝑏𝑜𝑠 = 𝑙 𝑆 = 310 20 = 15,5, logo, 16 estribos. 𝐶𝑒 = 2. 𝑎 + 𝑏 + ∆𝑐 𝐶𝑒 = 2. (20 − 2.4) + (40 − 2.3 ) + 10 𝐶𝑒 = 2. 12 + 32 + 10 = 98 𝑐𝑚 16 N2 Ø 5 – c/20 - 98 EXEMPLO 𝑎 = 𝑏𝑎𝑠𝑒 − 2. 𝑐𝑜𝑏𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 ∆𝑐 𝑏 = 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 − 2. 𝑐𝑜𝑏𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 Usar 10 cm (Tabela Valores ∆𝐶) RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 27 EXEMPLO RESOLUÇÃO DO EXEMPLO 1 28 4º Desenho 0 350 6 Ø 2040 20 32 12 5 5 FUNDAÇÃO 6 N 1 Ø 2 0 - 4 3 8 1 6 N 2 Ø 5 – c/ 2 0 - 9 8 6 N 3 Ø 2 0 – 3 4 2 EXEMPLO 8 N 4 Ø 1 6 - 1 7 6 EXERCÍCIO 29 Exercício 1: Dimensione a seção transversal, submetida a um esforço normal de serviço Nk=1000 kN. O concreto possui fck=30 MPa e o aço é o CA-50. Considere os seguintes dados: ▪ d’ = 4 cm; ▪ ex = 15 cm; ▪ ey = 25 cm. EXEMPLO REFERÊNCIAS 30 ALVA, G. M. S.; EL DEBS, A. L. H.; GIONGO, J. S. Concreto armado: projeto de pilares de acordo com a NBR 6118:2003. Universidade de São Paulo – Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Engenharia de Estruturas. São Carlos, 2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6118: Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014. BASTOS, P. S. S. Pilares de concreto armado. Notas de aula, 2017. DE ARAÚJO, J. M. Curso de concreto armado. Editora Dunas: v. 3, 2 ed. Rio Grande, 2003. MARANGON, E. Dimensionamento de pilares à flexo-compressão oblíqua. Notas de aula, 2015.
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