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AAppoossttiillaa ddee QQuuíímmiiccaa AAmmbbiieennttaall II SUMÁRIO 1 CLASSIFICAÇÃO DA MATÉRIA ...................................................................... 3 1.1 Propriedades da Matéria ................................................................................... 3 1.1.1 Propriedades Gerais....................................................................................... 3 1.1.2 Propriedades específicas ............................................................................... 4 1.2 Os Estados Físicos da Matéria .......................................................................... 6 1.3 Substâncias Puras e Misturas ........................................................................... 9 1.4 Separação de Mistura...................................................................................... 12 1.5 Referências ..................................................................................................... 24 2 SOLUÇÕES .................................................................................................... 27 2.1 Tipos de Soluções ........................................................................................... 27 2.2 Propriedades coligativas.................................................................................. 29 2.2.1 Osmoscopia ou Pressão Osmótica .............................................................. 30 2.2.2 Tonoscopia ................................................................................................... 33 2.2.3 Ebulioscopia ................................................................................................. 35 2.2.4 Crioscopia .................................................................................................... 37 2.3 Cálculo das Concentrações das Soluções ...................................................... 39 2.3.1 Fração Molar ................................................................................................ 39 2.3.2 Molalidade .................................................................................................... 40 2.3.3 Molaridade ................................................................................................... 42 2.3.4 Percentagem ponderal ................................................................................. 45 2.3.5 Partes por milhão (ppm) ............................................................................... 46 2.4 Referências ..................................................................................................... 47 3 EQUILÍBRIO QUÍMICO ................................................................................... 50 3.1 Reações Químicas .......................................................................................... 50 3.2 Estequiometria ................................................................................................. 53 3.2.1 Cálculos estequiométricos envolvendo substâncias gasosas ...................... 58 3.2.2 Cálculos estequiométricos envolvendo rendimento de reações, reagentes em excesso e reagentes limitantes. .......................................................................... 60 3.3 Constante de equilíbrio .................................................................................... 62 3.3.1 O quociente reacional .................................................................................. 67 3.4 Fatores que influenciam o equilíbrio químico .................................................. 68 3.4.1 Efeito da temperatura ................................................................................... 69 3.4.2 Efeitos da adição ou remoção de um reagente ou de um produto ............... 71 3.4.3 Efeito da variação de pressão ...................................................................... 71 3.5 Referências ..................................................................................................... 73 4 ÁCIDOS E BASES .......................................................................................... 76 4.1 Ácidos e bases segundo Arrhenius ................................................................. 76 4.2 Ácidos e bases segundo BrØnsted e Lowry .................................................... 78 4.3 Força relativa de Ácidos e Bases .................................................................... 81 4.4 Ácidos e Bases de Lewis ................................................................................. 84 4.5 O Produto Iônico da Água ............................................................................... 86 4.5.1 O pH de soluções ......................................................................................... 88 4.6 Força de ácidos e bases fracas ....................................................................... 89 4.7 Referências ..................................................................................................... 91 5 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE AQUÁTICO ......................................... 94 5.1 A água na natureza ......................................................................................... 94 5.1.1 Ciclo Hidrológico .......................................................................................... 96 5.1.2 Ciclo internos da água .................................................................................. 97 5.2 Tipos de impurezas presentes na água ........................................................... 98 5.2.1 Sólidos presentes na água ........................................................................... 98 5.2.2 Organismos presentes na água ................................................................. 100 5.3 PARÂMETROS DE QUALIDADE DA ÁGUA ................................................. 100 5.3.1 Parâmetros Físicos .................................................................................... 100 5.3.2 Parâmetros Químicos ................................................................................. 102 5.3.3 Parâmetros biológicos ................................................................................ 107 5.4 Referências ................................................................................................... 109 1 Professor da disciplina: Carlos Henrique Callegario Zacchi Material adaptado: Elisângela Aparecida da Silva Química Ambiental 1 2 Meta Apresentar ao estudante os critérios de classificação da matéria, a formação de substâncias puras e misturas e os métodos de separação de misturas. Objetivos Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: ✓ Identificar as propriedades gerais e específicas da matéria; ✓ Reconhecer as mudanças de estado; ✓ Identificar substâncias puras e misturas; ✓ Conhecer os métodos de separação de misturas; ✓ Identificar o método de separação mais adequado para uma mistura complexa. 3 1 CLASSIFICAÇÃO DA MATÉRIA 1.1 Propriedades da Matéria O termo matéria pode ser definido como “qualquer coisa que possua massa, ocupe lugar no espaço e esteja sujeita à inércia”. Assim, matéria é tudo aquilo que existe e que é formada por partículas elementares de massa não nula. As propriedades da matéria podem ser dividas em propriedades gerais e propriedades específicas. As propriedades gerais são aquelas observadas em qualquer corpo, independente da substância da qual ele é feito e, portanto, não permitem identificar uma substância. As propriedades específicas são aquelas que dependem do tipo de substância da qual uma matéria é formada e, portanto, permitem identificar uma substância. Este módulo também mostra o conceito de matéria e algumas importantes unidades usadas para expressar a massa e o volume, duas propriedades de qualquerporção de matéria. 1.1.1 Propriedades Gerais Substâncias diferentes podem apresentar as mesmas propriedades gerais. Por exemplo, podemos ter 1 kg de ouro, 1 kg de arroz, 1 kg de carne. Quando alguém nos diz que comprou 1 kg, ou comprou 1 L, a indagação que segue é: "de que". 1 kg de que? 1 L de que? A informação não nos permite identificar de que substância se trata. São propriedades gerais da matéria: Inércia: a matéria tende a permanecer em seu estado de movimento ou de repouso. Impenetrabilidade: dois corpos não podem ocupar, ao mesmo tempo, o mesmo lugar no espaço. 4 Divisibilidade: a matéria pode ser dividida em porções cada vez menores. Massa: quantidade de matéria existente em um corpo. É importante que não se confunda MASSA com PESO. O peso é uma medida de força, a força com a qual um corpo é atraído pela ação da gravidade. Uma massa de 50 kg, por exemplo, tem um peso na Terra e outro peso diferente na Lua. O peso é determinado pela relação entre a massa e a aceleração da gravidade. O valor da 2 2 aceleração da gravidade na Terra é de 9,8m/s e na Lua esse valor é de 1,6m/s . O peso é dado por: P = m * a Em que m é a massa e a é a aceleração da gravidade. Exemplo 1: Calcule o peso do corpo com 50 kg de massa na Terra. P = 50Kg x 9,8m/s2 P= 490 kg.m/s2 2 A unidade obtida desta relação é kg.m/s que equivale a Newton (N), e pode ser lido P = 490N (lê-se quatrocentos e noventa newtons). Volume: Ocupar lugar no espaço é uma característica da matéria que remete à grandeza denominada volume. Nesse sentido, o volume de uma porção de matéria expressa o quanto de espaço é ocupado por ela. As principais unidades de volume são: metro cúbico (m3), decímetro cúbico (dm3) centímetro cúbico (cm3) e litro (L). 5 1.1.2 Propriedades específicas As propriedades específicas são utilizadas pelos cientistas e pesquisadores para identificar uma substância. Em geral, não é possível identificar apenas visualmente um determinado composto que chega para ser analisado. Além de arriscado, não é conveniente CHEIRAR e nem PROVAR substâncias desconhecidas. Quando não se sabe de que substância se trata, existem testes que a identificam, através de suas propriedades ESPECÍFICAS. São propriedades específicas da matéria. 1) Densidade:É dada pela razão entre a massa e o volume de um corpo (d = m/v). A unidade oficial usada para a densidade é g/cm3 (gramas/centímetro cúbico). Alguns fatores que afetam a densidade: A densidade depende, em primeiro lugar, do tipo de material em questão. Um parâmetro que devemos considerar para a densidade de um mesmo material é a temperatura que ele se encontra. Ao aquecer um objeto, observa-se a dilatação do mesmo (aumento de volume), e isso interfere no valor da densidade. Esse efeito é mais pronunciado no caso de gases. Nesse caso, variações de pressão e volume influenciam no valor da densidade. Exercite: (Pases UFV/Adaptada) Uma propriedade intensiva é aquela que independe do tamanho da amostra como, por exemplo, a densidade. Uma amostra de 5,0 g de um gás tem uma densidade igual a 0,00268 g cm-3 a 0°C. No gráfico a seguir, está representada a variação da densidade desse gás em função da temperatura. 6 Responda: a) Explique o comportamento exibido no gráfico. b) Qual a densidade e o volume ocupado por essa massa de gás a 20 ºC? 2) Ponto de fusão (PF) e ponto de ebulição (PE) Saber os valores do ponto de fusão e do ponto de ebulição de uma substância significa poder prever se, em determinada temperatura, a substância estará sólida, líquida ou gasosa. a. Ponto de fusão: Temperatura na qual uma substância pura passa do estado sólido para o estado líquido. b. Ponto de ebulição: Temperatura na qual uma substância pura passa do estado líquido para o estado gasoso. Exercite: Observe na tabela abaixo alguns valores referentes à Temperatura de Fusão (T.F) e Temperatura de Ebulição (T.E.) para algumas substâncias puras. Supondo que você esteja em um dia de calor intenso no deserto, 50º C, qual o estado físico (sólido, líquido ou gasoso) que essas substâncias estarão? Substância T.F (°C) T.E (°C) Estado Físico Mercúrio -38,0 356 Ferro 1535 2750 Cloro -101 -34,5 Fenol 43 182 Água 0 100 A tabela 1 apresenta valores de densidade, ponto de fusão e ponto de ebulição de algumas substâncias. Tabela 1-1: Propriedades específicas de algumas substâncias Substância Densidade (g/cm³) Ponto de Fusão (ºC) Ponto de Ebulição (ºC) Água 1,00 0 100 Mercúrio (Hg) 13,6 - 38 357 Ferro (Fe) 7,86 1583 3000 Alumínio (Al) 2,70 660 2450 Enxofre (S) 2,07 119 445 7 1.2 Os Estados Físicos da Matéria Estados físicos da matéria são conjuntos de configurações que a matéria macroscópica pode apresentar. Os estados físicos se relacionam com a energia, a velocidade do movimento das partículas de uma substância e sua forma de agregação. A matéria pode se apresentar em três diferentes estados físicos: sólido, líquido e gasoso, conforme ilustrado na figura 1. As características de cada estado dependem da temperatura e pressão na qual ela se encontra. Figura 1-1: Estados físicos da matéria: Exemplo da água. FONTE: Studio Argozino/ Ciências – Física e Química, Carlos Barros e Wilson Paulino O estado sólido apresenta partículas com maior agregação e maior organização e menor energia e movimento. Assim, os sólidos possuem forma e volume definidos. O estado líquido apresenta partículas um pouco menos agregadas e um grau de organização e energia intermediárias. Nesse caso, já é possível uma movimentação relativa dessas partículas. Os líquidos possuem, portanto, forma variável e volume definido. Comparando o estado líquido e o sólido, imagine a situação: um cubo de gelo ao sair 8 pode ser colocado em um copo, mas não ocupará sua forma. Por outro lado, se tivermos um copo de água no estado líquido, podemos colocá-lo em uma garrafa, ou em uma forma de gelo. Entretanto, se o volume inicial de líquido, for, por exemplo, 100 mL, e este volume for colocado em uma garrafa de 1L, o líquido não ocupará mais do que 100 mL. O estado gasoso apresenta partículas com máxima desagregação e organização, e máxima energia e movimento. Os gases possuem forma e volume variáveis, eles tendem a ocupar todo o volume disponível para eles. Imagine um frasco de perfume aberto em um canto de uma sala de aula. Após algum tempo, todos os presentes nesta sala sentirão o aroma exalado pelo perfume. Mudanças de temperatura e pressão promovem alterações na organização, agregação, energia e movimentos das partículas. Essas alterações levam às mudanças de estado da matéria, sem, entretanto, promover alterações na qualidade e na quantidade da matéria. As mudanças de estado da matéria são: • Fusão: passagem do estado sólido para o estado líquido. • Ebulição/evaporação: passagem do estado líquido para o estado gasoso. • Condensação ou liquefação: passagem do estado gasoso para o estado líquido. • Solidificação: passagem do estado líquido para o estado sólido. • Sublimação: passagem do estado sólido para o estado gasoso, ou vice-versa, sem passar pelo estado líquido. Figura 1-2: Mudanças de estado. FONTE: fonte: http://www.superkid.com.br/pergunte/agua/estado_da_agua.php http://www.superkid.com.br/pergunte/agua/estado_da_agua.php 13 Podemos representar essas observações por meio de um gráfico, chamado de diagrama de mudança de estados físicos. Nesse exemplo, temos uma temperatura inicial da água igual a -40º C até alcançar o estado gasoso, cuja temperatura final registrada é de 120 °C, por exemplo. Durante esse intervalo de experimento, a temperatura e o tempo transcorrido são registrados desde o início. De possedessas informações coletadas, um gráfico denominado curva de aquecimento da água pode ser plotado, obtendo-se um aspecto o da figura A abaixo. De modo análogo, uma amostra pode ser submetida ao resfriamento. Tomando como base a mesma amostra anterior, inicialmente a 120 ºC (estado gasoso) pode-se esboçar a curva de resfriamento da água até que esta alcance o estado sólido, -40 ºC por exemplo. De modo análogo, essas curvas podem ser representadas para qualquer substância, desde que suas temperaturas de fusão e ebulição sejam conhecidas. Fonte: FELTRE, Ricardo. Química. 6.ed. São Paulo: Moderna, 2004. 3 v. 1.3 Substâncias Puras e Misturas Quando reunimos as letras do alfabeto formamos uma infinidade de palavras. De modo semelhante, quando diferentes elementos químicos se reúnem eles formam substâncias. Determinar as propriedades específicas dos materiais é uma forma de identificar se temos uma substância pura ou uma mistura. Por exemplo, ao separarmos pequenas quantidades de alguns materiais do nosso dia a dia, como sal de cozinha, fio de cobre, vinho, água destilada e determinarmos suas propriedades específicas, vamos perceber algumas diferenças entre eles. Veja a Tabela 2. 14 Tabela 1-2: Propriedades específicas de algumas substâncias. Material Densidade (g/cm³) Ponto de Fusão (ºC) Ponto de Ebulição (ºC) 1 L de água destilada 1 0 100 10 L de água destilada 1 0 100 10 g sal de cozinha 2,16 801 1473 1 kg sal de cozinha 2,16 801 1473 100 ml de vinho 1,04 - - 1 L de vinho 1,07 - - 1 kg fios de cobre 8,90 1083 2595 10 g fios de cobre 8,90 1083 2595 Ao analisarmos os dados dispostos na tabela acima percebemos que independente da quantidade de sal de cozinha, água destilada e fios de cobre, os valores de suas propriedades específicas não se alteram. No caso do vinho, além de ocorrer uma pequena modificação no valor da densidade, não há valores especificados para os pontos de fusão e de ebulição. As mudanças de estado de substâncias puras ocorrem a uma temperatura constante, e não dependem da quantidade de material utilizado na determinação da propriedade. No caso de misturas, não existe um valor específico no qual as mudanças de estado ocorrem, essas mudanças acontecem em uma faixa de temperatura (fusão e/ou ebulição). Entre as substâncias apresentadas na Tabela 2 podemos concluir, então, que o vinho é uma mistura, e os demais são substâncias puras. Podemos representar gráficos de aquecimento e resfriamento para uma mistura: 15 Fonte: FELTRE, Ricardo. Química. 6.ed. São Paulo: Moderna, 2004. 3 v. Nota: Existem misturas especiais que acabam se comportando como se fossem substâncias puras, diante dos fenômenos de fusão/solidificação ou de ebulição/condensação. No primeiro caso, temos uma mistura eutética: fusão/solidificação em temperatura constante. No segundo caso, temos uma mistura azeotrópica: ebulição/condensação em temperatura constante Exercite: Faça o esboço do gráfico de aquecimento de uma mistura eutética e o gráfico de resfriamento de uma mistura azeotrópica. As substâncias podem ainda ser classificadas em: • Substâncias puras simples: quando formadas por moléculas que apresentam átomos de um único elemento químico. • Substâncias puras compostas: quando formadas por moléculas que apresentam átomos de elementos químicos diferentes. 16 Figura 1-3: Tipos de substâncias puras (fonte: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Oitava_quimica/materia10.php Há um fenômeno onde o mesmo elemento químico pode formar substâncias diferentes, chamadas de variedades alotrópicas do elemento. Esse fenômeno é chamado de alotropia. A diferença entre as variedades alotrópicas está no arranjo molecular dos cristais. Na Figura 4 são mostrados dois casos de alotropia. Figura 1-4: Alotropia do carbono. FONTE: http://en.wikipedia.org/wiki/diamond As misturas são formadas por duas ou mais substâncias químicas e cada uma é chamada de componente. A maior parte dos materiais do nosso cotidiano é, na http://en.wikipedia.org/wiki/diamond 17 verdade, uma mistura. As misturas podem ser classificadas em: • Misturas homogêneas: quando são formadas por uma única fase. Por exemplo, misturas de água e sal, água e açúcar, apresentam uma única fase, desde que não seja atingida a condição de saturação. Figura 1-5: Mistura homogênea – água e açúcar dissolvido. FONTE: http://www.estudopratico.com.br/separacao • Misturas heterogêneas: quando são formadas por mais de uma fase. Por exemplo, água e óleo, água e areia, enxofre e limalhas de ferro apresentam duas fases. Figura 1-6: Mistura heterogênea – água e óleo. FONTE: http://www.estudopratico.com.br/separacao 1.4 Separação de Mistura Um dos grandes desafios da Química é obter substâncias puras a partir de misturas. Existem vários métodos de separação de misturas. A escolha do melhor método de http://www.estudopratico.com.br/separacao http://www.estudopratico.com.br/separacao 18 separação e purificação de substâncias depende de alguns fatores, a saber: • do tipo de mistura a ser separada; • das condições materiais e econômicas disponíveis para realizar a separação; • do tempo e energia gastos no processo. Em alguns casos, a separação da mistura é fácil, pois a mistura é heterogênea e os componentes são visíveis a olho nu. No caso das misturas homogêneas, o processo é mais difícil. ➢ Separação de misturas heterogêneas de sólidos: Os processos de separação mais comuns neste caso são: • Catação: é um processo manual de separação. Consiste, simplesmente, em catar os componentes. Em locais onde há coleta seletiva de lixo, é preciso separar os plásticos, vidros, metais, papel. Isso é um processo de catação de uma mistura heterogênea de sólidos. Quando, em casa, separamos o feijão das pedras e outras impurezas, também é um processo de catação. Figura 1-7: Processo de catação em centro de reciclagem. FONTE: http://www.infoescola.com/quimica/catacao/ • Peneiração: é um processo que utiliza peneiras. Essas peneiras possuem malhas que separam os componentes de acordo com o tamanho. É um processo http://www.infoescola.com/quimica/catacao/ 19 utilizado na construção civil e no garimpo, por exemplo. Figura 1-8: Processo de separação utilizando peneiras. FONTE:http://alunosonline.uol.com.br/quimica/metodos-separacao- misturas-comuns-no-cotidiano.html • Levigação: este processo utiliza uma corrente de água para separar corpos mais densos de corpos menos densos, que são arrastados pela água. Muito utilizado no garimpo. Figura 1-9: separação do ouro e areia FONTE: http://alunosonline.uol.com.br/quimica/metodos-separacao-misturas- comuns-no-cotidiano.html • Flotação: neste processo, um líquido é utilizado para separar sólidos de densidades diferentes. Este método é utilizado em estações de tratamento de água. 20 Figura 1-10: Tratamento de água. FONTE: http://alunosonline.uol.com.br/quimica/flotacao.html • Ventilação: este processo também separa sólidos de densidades diferentes através da passagem de uma corrente de ar sobre a mistura. É utilizado na separação das cascas de arroz antes do envase. Figura 1-11: Máquina de beneficiar arroz e outros cereais usa o princípio da ventilação para separar a casca dos grãos. FONTE: http://dicionarioquimicamentefalando.blogspot.com.br/2014/07/separacao-de- misturas.html • Imantação: quando a mistura contém metais, utiliza-se um ímã para atraí-los. Esse processo é usado também em processos de reciclagem, para separar do lixo objetos metálicos. http://dicionarioquimicamentefalando.blogspot.com.br/2014/07/separacao-de-misturas.html http://dicionarioquimicamentefalando.blogspot.com.br/2014/07/separacao-de-misturas.html21 Figura 1-12: Separação da limanha de ferro do pó de enxofre por imantação. FONTE: http://www.brasilescola.com/quimica/ • Dissolução fracionada: consiste em dissolver um dos componentes da mistura. Por exemplo, para separar uma mistura de sal e areia, utiliza-se água. O sal se dissolve e a areia fica depositada no fundo. Em seguida, basta despejar cuidadosamente a parte líquida contendo água e sal, que posteriormente serão separados por outros processos. Figura 1-13: Separação da areia do sal por dissolução fracionada. FONTE: http://emilycaroliny.blogspot.com.br/2015/03/separacao-de-misturas.html ➢ Separação de misturas heterogêneas de sólidos e líquidos: Os processos de separação mais comuns neste caso são: • Filtração: processo muito usado em várias situações. Consiste em fazer a http://www.brasilescola.com/quimica/ http://emilycaroliny.blogspot.com.br/2015/03/separacao-de-misturas.html 22 mistura atravessar um filtro permeável ao líquido, retendo a parte sólida. Filtros de água, coador de café, e processos laboratoriais utilizam a filtração. Figura 1-14: Filtração. A – Quando estamos “coando” o café, estamos realizando uma filtração comum; B – Filtração realizada em laboratório. FONTE: http://www.brasilescola.com/quimica • Decantação: consiste em deixar a mistura em repouso. Após certo tempo haverá a formação de fases que podem ser separadas posteriormente. É utilizado nas estações de tratamento de água, onde após a adição de produtos químicos para aglutinar partículas de areia e argila o sistema fica em repouso e as partículas pesadas formadas se decantam no fundo do tanque de decantação. Figura 1-15: Mistura heterogênea separada por decantação. FONTE: http://images.slideplayer.com.br/1/337046/slides/slide_3.jpg http://www.brasilescola.com/quimica http://images.slideplayer.com.br/1/337046/slides/slide_3.jpg 23 • Centrifugação: pode ser comparada a uma decantação acelerada. Ao girar rapidamente, as partículas sólidas se depositam no fundo do recipiente. Este processo é muito utilizado em laboratório de análises clínicas. Figura 1-16: Mistura heterogênea separada por centrifugação. FONTE: http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Centrifuga (adaptado). ➢ Separação de mistura heterogênea de sólido e gás: Os processos de separação mais comuns neste caso são: • Filtração: para esse processo, o filtro deve ser permeável ao gás, retendo o sólido. Exemplos de utilização: em chaminés de algumas fábricas para reter material particulado, em aspirador de pó e ar condicionado. http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Centrifuga 24 Figura 1-17: Exemplo aspirador de pó – um filtro retém as partículas sólidas separando-as da fase gasosa. FONTE: http://images.slideplayer.com.br/12/3785079/slides/slide_17.jpg • Decantação: o repouso deposita as partículas sólidas. Em casas fechadas, por exemplo, após certo tempo, os móveis ficam cobertos de poeira. Figura 1-18: Partículas sólidas decantadas sobre uma superfície. FONTE: Foto: Reprodução/EPTV • Câmara de poeira: é uma câmara com obstáculos que retém as partículas de poeira à medida que o ar atravessa. É muito utilizado em indústrias. http://images.slideplayer.com.br/12/3785079/slides/slide_17.jpg 25 Figura 1-19: Processo utilizado para separar o ar da poeira. FONTE: FELTRE, Ricardo. Química. 6.ed. São Paulo: Moderna, 2004. 3 v ➢ Separação de mistura homogênea de sólido e líquido: Os processos de separação mais comuns neste caso são: • Evaporação: processo utilizado para se obter sal a partir da água do mar. A água é bombeada para tanques enormes e com o calor do Sol evapora, deixando no fundo apenas o sal, que é recolhido e tratado. Figura 1-20: Obtenção de sal a partir da evaporação da água do mar. FONTE: http://www.soq.com.br/conteudos/em/introducao/p8.php • Destilação simples: na evaporação, o líquido se perde durante o processo. Na destilação, o líquido pode ser recuperado, utilizando um destilador. http://www.soq.com.br/conteudos/em/introducao/p8.php 26 O líquido se aquece até sua temperatura de ebulição, se desprende da mistura e é resfriado no condensador, sendo recolhido. Veja na Figura 21 o esquema de uma montagem de destilação simples. Figura 1-21: Montagem de uma destilação simples. FONTE: FELTRE, Ricardo. Química. 6.ed. São Paulo: Moderna, 2004. 3 v ➢ Separação de mistura homogênea de líquidos: • Destilação fracionada: é baseada no ponto de ebulição da substância pura, onde a temperatura permanece constante durante o processo de mudança de estado. Para que seja eficiente, os líquidos presentes na mistura devem apresentar no mínimo 10°C de diferença entre seus pontos de ebulição. A medida que a temperatura se eleva, os líquidos com ponto de ebulição mais baixo deixam a mistura e são recolhidos após o condensador. 27 Figura 1-22: Montagem de uma destilação fracionada. FONTE: https://pixabay.com/pt/destila%C3%A7%C3%A3o-fracionada-qu%C3%ADmica-161574/ ➢ Separação de mistura homogênea de sólidos: • Fusão fracionada: as ligas metálicas são formadas pela mistura de diferentes elementos. Semelhante ao processo de destilação fracionada, neste caso considera- se o ponto de fusão das substâncias puras. A medida que a temperatura se eleva as substâncias com ponto de fusão mais baixo deixam a mistura e são recolhidas. Figura 1-23: Esquema de fusão fracionada FONTE: https://www.estudopratico.com.br/separacao-dos-tipos-de-misturas-homogeneas-e-heterogeneas/ 28 ➢ Separação de misturas homogêneas de gases: • Liquefação: inicialmente a mistura de gases é liquefeita, ou seja, transformada em líquido e em seguida é submetida a um processo de destilação fracionada. 1.5 Referências ATIKINS, P., Princípios de Química- questionando avida moderna e o meio ambiente. 2a Edição. Editora Bookman, São Paulo, SP, 2001. KOTZ, J. C., TREICHEL, P., Química e Reações Químicas Volume 1.3a Edição. Editora LTC, Rio de Janeiro, RJ. 1998 KOTZ, J. C., TREICHEL, P., Química e Reações Químicas Volume 2.3a Edição. Editora LTC, Rio de Janeiro, RJ. 1998. FELTRE, Ricardo. Química. Volume 1. 6.Edição. Editora Moderna, São Paulo, SP. 2004. 29 Professor da disciplina: Carlos Henrique Callegario Zacchi Material adaptado: Elisângela Aparecida da Silva Química Ambiental 1 30 Meta A meta deste capítulo é mostrar o comportamento de gases, sólidos e líquidos quando dissolvidos em solventes líquidos. Objetivos Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: ✓ Identificar as diferenças entre os tipos de dispersões; ✓ Conhecer as propriedades coligativas; ✓ Entender como o número de partículas de solvente influencia e determina as propriedades coligativas. 31 2 SOLUÇÕES 2.1 Tipos de Soluções As dispersões são misturas de duas ou mais substâncias onde as partículas de uma fase, a fase dispersa, se distribuem no meio de outra fase - a fase dispersante. Existem três tipos de dispersões: as soluções verdadeiras, as soluções coloidais e as suspensões. A diferença entre cada tipo de dispersão é o tamanho médio das moléculas dos constituintes. Solução é a mistura homogênea de duas ou mais substâncias, constituindo uma única fase. Denomina-se solvente o componente em maior quantidade, e o soluto, o componente em menor quantidade. Nas soluções pode haver mais de um soluto, mas apenas um solvente. Em nosso cotidiano, muitas soluções apresentam a água como solvente: sucos de fruta, refrigerantes, cerveja. Alguns produtos de uso doméstico podem apresentar solventesdiferentes da água, como por exemplo, os óleos lubrificantes, os líquidos limpadores. Outras misturas, ainda, não apresentam solventes líquidos. É o caso do ar que respiramos, constituído por uma solução dos gases nitrogênio, oxigênio, dióxido de carbono, vapor de água, além de outros gases em proporções muito pequenas. Quanto à solubilidade, as soluções podem ser: • Saturadas: quando a quantidade máxima possível do soluto dissolveu-se no solvente e a solução atingiu o equilíbrio. • Insaturada: quando a concentração do soluto dissolvido no solvente for menor que a concentração na saturação. 32 • Supersaturada: quando a quantidade de soluto dissolvido no solvente for maior que a concentração na saturação. Instintivamente, podemos prever que a adição de um soluto a um solvente deverá promover alterações nas propriedades do líquido. Na realidade, esta é a razão do preparo de diversas soluções. Ao adicionarmos um soluto a um solvente, estaremos alterando ou mesmo eliminando forças intermoleculares presentes. Um exemplo disso é a adição de fluido de radiador à água de resfriamento do motor de um carro. O fluido de radiador irá dificultar a ebulição da água, e nos climas mais frios, evitará o seu congelamento. Modificações de pontos de congelação e de ebulição de solventes puros são chamadas de propriedades coligativas, item que veremos mais adiante. Soluções verdadeiras são aquelas onde os constituintes apresentam dimensões inferiores a 1nm (lê-se 1 nanômetro, e equivale a 10-9metros). Além disso, não se observa sedimentação do soluto e suas partículas estão na forma de íons ou moléculas relativamente pequenas. São exemplos de soluções verdadeiras sal de cozinha ou açúcar com a água, etanol com água. Soluções coloidais, também chamadas simplesmente de colóides, são soluções heterogêneas onde as partículas dos constituintes apresentam tamanho médio entre 1nm e 1µm (lê-se 1micromêtro e equivale a 10-6 metros). Essas soluções representam um estado intermediário entre uma solução verdadeira e uma suspensão. Elas têm grande importância em aplicações médicas e industriais. Entre os colóides encontramos alimentos comuns, como leite e gelatina; componentes biológicos, como sangue, humor vítreo, cristalino. Soluções coloidais são capazes de espalhas um feixe de luz incidente sobre elas. O espalhamento da luz por colóides é conhecido como efeito Tyndall. A Tabela 2-1 mostra os tipos de colóides. 33 Tabela 2-1: Tipos de coloides Tipos Fase Dispersante Fase Dispersa Exemplos Aerossol Gás Líquido Nevoeiro, nuvens, névoa de aerossol Gás Sólido Fumaça, vírus atmosférico Espuma Líquido Gás Creme de barbear, creme batido Sólido Gás Espuma de borracha, pedra-pomes Emulsão Líquido Líquido Maionese, leite, cremes faciais. Sol Líquido Sólido Gordura, lama Gel Sólido Líquido Gelatina, queijo, manteiga Sol sólido Sólido Sólido Vidro leitoso, ligas de aço, gemas preciosas Suspensões são misturas heterogêneas, visíveis ao microscópio comum, onde as partículas dos constituintes apresentam tamanho superior a 1µm. As fases de uma dispersão podem ser separadas por filtração. Quando em repouso, as partículas sedimentam-se espontaneamente no fundo do vaso. 2.2 Propriedades coligativas As propriedades de uma solução são chamadas de propriedades coligativas. Essas propriedades dependem do número de partículas de soluto na solução e não da natureza desse soluto. Elas expressam as diferenças entre as propriedades do solvente puro e da solução. As propriedades coligativas surgem do abaixamento do potencial químico do solvente como resultado da adição de soluto. São elas: pressão osmótica ou osmoscopia, tonoscopia, crioscopia, ebulioscopia. 34 2.2.1 Osmoscopia ou Pressão Osmótica Define-se por osmose o movimento de moléculas de solvente através de uma membrana semipermeável, no sentido da menor concentração de soluto para a região de maior concentração de soluto, conforme apresentado na Figura 2-1. Em outras palavras, osmose é à saída de solvente do meio menos concentrado para o meio mais concentrado. A pressão osmótica é a pressão contrária a este movimento de moléculas de solvente, no sentido de impedir a osmose. Figura 2-1: Osmose, um transporte passivo. FONTE: http://www.suapesquisa.com/o_que_e/osmose.htm A osmose acontece em diversos sistemas da natureza. Nas células do corpo humano, a osmose é um processo de extrema importância. A concentração de sais nas células, por exemplo, é controlada pelo sistema de osmose. Como não ocorre gasto de energia, a osmose é considerada um tipo de transporte passivo. Em animais, a membrana plasmática é considerada imperfeita quanto à semi- permeabilidade, pois como não é atravessada apenas pela água, permitindo também a passagem de outras substâncias como íons de sódio e potássio, é possível a ocorrência de osmose por transporte passivo. Quando permite a passagem de uma grande quantidade de água (meio hipotônico), pode resultar em ruptura da célula. Um exemplo clássico é a ruptura das hemácias conhecidas como http://www.suapesquisa.com/o_que_e/osmose.htm 35 hemólise, conforme exemplificado na Figura 2-2. Quando ao contrário, há uma grande saída de água (meio hipertônico) a célula se enruga. Figura 2-2: Hemólise de uma hemácia. FONTE: http://universofx.blogspot.com/2010/04/vandalos-hemoliticos.html Considerando duas soluções A e B, se ambas apresentam a mesma concentração global de íons, a entrada e saída de solvente entre elas possui a mesma velocidade, elas são ditas isotônicas. Se a solução A apresenta concentração de íons menor que a solução B, o solvente se movimentará de A para B, e A é dita hipotônica em relação a B. Se, por outro lado, a solução A possui concentração de íons maior que B, o solvente se movimentará de B para A, e A é dita hipertônica em relação a B, conforme observado na Figura 2-3. Essas relações têm grande importância para profissionais da área de saúde. Figura 2-3: Osmose: Meio Isotônico, Meio Hipotônico e meio Hipertônico. FONTE: http://www.maph49.galeon.com/memb1/solutions.html Hipertônica Hipotônica Isotônica http://universofx.blogspot.com/2010/04/vandalos-hemoliticos.html http://www.maph49.galeon.com/memb1/solutions.html 36 Do ponto de vista molecular, uma membrana semipermeável não é barreira para o movimento de moléculas de água, que podem ir e vir nos dois sentidos. Quando a solução contém moléculas maiores, como moléculas de açúcar e moléculas de proteínas, por exemplo, o número de moléculas de água que atingem a membrana durante um certo tempo, é menor no lado onde há solução. Com o tempo, mais moléculas de água passam através da solução no sentido da água pura para a solução, do que no sentido oposto. O deslocamento das moléculas acontece da região de maior concentração de água (baixa concentração de soluto), para a região de menor concentração de água (maior concentração de soluto). Isso acontece com qualquer solvente, desde que a membrana utilizada permita a passagem apenas às moléculas do solvente, barrando as moléculas de soluto. Após certo tempo, o sistema atinge o equilíbrio, pois, à medida que a osmose avança, a água dilui a solução e a pressão nesta contrabalança a pressão da água que entra, cessando o movimento. Essa pressão exercida pela solução no sistema em equilíbrio recebe o nome de pressão osmótica (π), e pode ser medida pela seguinte relação: Π= cRT (Equação 1) Em que R é a constante dos gases ideais (0,082057L.atm/K.mol) e T é a temperatura absoluta em Kelvin (K). Tal relação é uma analogia à lei dos gases ideais; PV = nRT (Equação 2) Quando substituímos P por π e sendo c corresponde a n/V (número de mols/volume desolução). 37 Exemplo: Qual é a pressão exercida por uma solução de concentração 0,10M (lê-se 0,10 molar), a 25 ºC? π = (0,10mol/L).(0,0821L.atm/K.mol).(298K) = 2,4 atm Obs: A relação que converte 25°C para Kelvin é: T(Kelvin) = 273 + T(Celsius) Os cálculos de concentração molar serão explicados futuramente. 2.2.2 Tonoscopia (Equação 3) A tonoscopia é a diminuição da pressão máxima de vapor de um solvente quando a ele é adicionado um soluto não volátil. A pressão de vapor do solvente puro sempre será maior do que a pressão de vapor da solução, pois o soluto “rouba” energia cinética das moléculas de solvente, funcionando como uma barreira que dificulta a movimentação das moléculas do solvente líquido para a fase gasosa. Podemos admitir que a pressão de vapor na superfície da solução, Psolvente, seja proporcional à fração molar do solvente, Xsolvente. Psolvente= Xsolvente × K Em que K é uma constante de proporcionalidade. Se considerarmos o solvente puro, a equação 2.4 fica: P0solvente= Xsolvente × K (Equação 4) (Equação 5) 38 Em que P0solvente é a pressão de vapor do solvente puro, Xsolvente fração molar e K é igual à pressão de vapor do solvente puro. A substituição de K na equação 4 leva à Lei de Raoult: Psolvente= Xsolvente× P0solvente (Equação 6) A lei de Raoult é uma descrição de modelo simplificado das soluções. Uma solução ideal é aquela que obedece à lei de Raoult. A maioria das soluções não é ideal, entretanto, a lei de Raoult pode ser usada com boa aproximação para estudar o comportamento das soluções em geral. Aplicação da Lei de Raoult: O etilenoglicol é um componente de líquidos anticoagulantes para motores, fluidos de freio, além de solvente na indústria de tintas e de fibras sintéticas. Se 800g de etilenoglicol forem dissolvidos em 1,50kg de água, qual será a pressão de vapor da água na solução a 90oC? DADO: A pressão de vapor da água pura a 90°C é de 525,8mmHg. Primeiro temos que calcular o número de mols de água e de etilenoglicol e, em seguida a fração molar da água. Conversão de unidades: 1 Kg = 1000g 1,50 kg = 1500g 1 mol de água (H2O) = 18,02g 1 mol de etilenoglicol ( C2H4(OH)2) = 62,07g 39 Agora, calculamos a fração molar da água (xágua): 𝐹𝑟𝑎çã𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑎𝑟 𝑑𝑎 á𝑔𝑢𝑎 = 83,2(𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎) 83,2 (𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎) + 13,0(𝑚𝑜𝑙𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑡𝑖𝑙𝑒𝑛𝑜𝑔𝑙𝑖𝑐𝑜𝑙) Pela Lei de Raoult, Págua = Xágua . P0água, então: Págua = (0,87)(525,8mmHg)= 457,5mmHg Pressão de vapor da água pura a 90°C sem etilenoglicol = 525,8 mmHg Pressão de vapor da água pura a 90°C com etilenoglicol = 457,5 mmHg Comparando com o valor da pressão de vapor da água pura, à 90°C, a adição de etilenoglicol reduziu a pressão de vapor em 11%. Obs: Os cálculos de fração molar, molaridade serão explicados oportunamente. 2.2.3 Ebulioscopia A ebulioscopia é o aumento da temperatura de ebulição de um líquido quando a ele é adicionado um soluto não volátil. Segundo a lei de Raoult, a pressão de vapor do solvente em uma solução é menor que a pressão de vapor dele puro. Logo, pode-se inferir que o ponto de ebulição do solvente puro deverá ser maior que seu ponto de 40 ebulição na solução, pois o soluto “segura” as moléculas de solvente, dificultando sua passagem para o estado gasoso. Pela lei de Raoult, a pressão de vapor do solvente puro é maior que a pressão de vapor do solvente em uma solução, então, é intuitivo que ocorra uma elevação em seu ponto de ebulição, quando em solução. A elevação ebulioscópica, ∆teb, pode ser determinada pela seguinte relação: (Equação 7) Δteb = keb× msoluto A constante de proporcionalidade Keb, neste caso recebe o nome de constante ebulioscópica e corresponde à elevação de temperatura provocada pela concentração de 1 mol do soluto, e é característica de cada solvente. Na equação 7, m se refere à molalidade da solução (que também pode ser representada pela letra W), que será estudada posteriormente. Não é possível calcular diretamente o ponto de ebulição, por se tratar de uma solução, mas a equação 7 fornece a variação do valor. Veja o seguinte exemplo: Qual será a temperatura de ebulição de uma solução aquosa contendo 20g de glicose (C6H12O6) dissolvidos em 100g de água? Dados: keb da água é de 0,5121°C/m. Conversão de unidades: 1 mol de água (H2O) = 18,02g 1 mol de glicose (C6H12O6) = 180,0g 1 mol C6H12O6 ---------- 180,0 g x ---------- 20,0 g x = 0,11 mol de glicose Então, temos 0,11 mol de glicose em 0,100 kg de água, o que nos informa a concentração do soluto: 0,11 mol C6H12O6 ---------- 100,0 g de H2O x ---------- 1000 g de H2O x = 1,1 molal de glicose 41 Assim, a elevação ebulioscópica da água é de: Δteb = keb× msoluto Δteb = 0,5121ºC/m x 1,1 molal = 0,563ºC A temperatura de ebulição da água pura é de 100°C. Com uma variação de 0,563°C, o valor da temperatura de ebulição da solução é de 100,56°C. 2.2.4 Crioscopia A crioscopia é o abaixamento do ponto de congelação de um líquido quando a ele é adicionado um soluto não volátil. O abaixamento crioscópico, ∆tf, é dado por uma relação semelhante à elevação ebulioscópica: Δtf =kf × msoluto (Equação 8) Neste caso, Kf é a constante crioscópica do solvente, e também é específica para cada solvente. Em países com clima muito frio, pode haver congelamento da água em encanamentos domésticos e em sistema de refrigeração de veículos. Para se prevenir isso, habitualmente adiciona-se anticongelante tanto em tanques de água como em sistemas de refrigeração de veículos. Vejamos um exemplo: Que volume de fluido anticongelante deve ser adicionado em um tanque com 4 kg de água para que seu ponto de congelamento seja reduzido de 10°C? Dados: ∆tf= 10°C e o valor de kf da água é de -1,86°C/m. 42 Para encontrar a concentração da solução basta substituir os valores de ∆tf e kf na equação 2.8. Δtf = kf × msoluto 10°C = -1,86°C/m x msoluto msoluto = 10°C / 1,86°C/m msoluto = 5,38 m A concentração molal encontrada é lida da seguinte forma: 5,38 mol de etilenoglicol por 1 kg de água. A massa de água dada é de 4kg, então: 5,38 mol de etilenoglicol ---------- 1,0 Kg de H2O x ---------- 4,0 K g de H2O x = 21,5 mol de etilenoglicol A massa molar do etilenoglicol é 62,07g/mol, então, para o número de mols encontrado acima temos uma massa de: 1,0 mol de etilenoglicol ---------- 62,07 g 21,5 mol de etilenoglicol ---------- x g x = 1334,5 g de etilenoglicol A densidade do etilenoglicol é de 1,11kg/L, o que nos fornece um volume de fluido anticongelante de: Conversão de unidades: 1334,5 g = 1,3345 Kg 43 𝐷𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 (Equação 9) Volume do fluido = 1,3345kg/1,11kg/L Volume de fluido = 1,202 L 2.3 Cálculo das Concentrações das Soluções As concentrações das soluções podem ser obtidas de formas diferentes, de acordo com a necessidade. As formas mais utilizadas de se obter a concentração de uma solução são a fração molar, molaridade, molalidade e parte por milhão. 2.3.1 Fração Molar A fração molar de um componente A, XA, em uma solução, é o quociente entre o número de mols de A e a soma total do número de mols de todos os componentes da solução. Considere uma solução composta por A, B e C. A fração molar de A, XA é dada por: 𝑋𝐴 = 𝑚𝑜𝑙𝑠 𝑑𝑒 𝐴 𝑚𝑜𝑙𝑠 𝑑𝑒 𝐴 + 𝑚𝑜𝑙𝑠 𝑑𝑒 𝐵 + 𝑚𝑜𝑙𝑠 𝑑𝑒 𝐶 (Equação 10) O número de mols de uma substância é dado por: 𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑒 𝐴 (Equação 11) 𝑛 = 𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑀𝑜𝑙𝑎r 𝑑𝑒 𝐴 44 A massamolar (MM) é dada pela soma das massas dos elementos que formam a substância, multiplicada pelo índice do elemento. Veja o exemplo: Uma solução contém 2 mols de etanol e 18 mols de água. Qual é a fração molar de cada componente desta mistura? Unidades: MM do hidrogênio= 1g/mol; MM do oxigênio = 16g/mol. Massa da água (H2O) = 2x (massa molar do hidrogênio) + massa molar do oxigênio. MM da água = 18 g/ mol 𝑋𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 = 2,0 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 2,0 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 + 18 𝑚𝑜𝑙á𝑔𝑢𝑎 2 = 20 = 0,100 𝑋á𝑔𝑢𝑎 = 18 𝑚𝑜𝑙á𝑔𝑢𝑎 2,0 𝑚𝑜𝑙 + 18 𝑚𝑜𝑙 = 0,9 𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 á𝑔𝑢𝑎 A soma das frações molares de todos os componentes da solução é sempre igual a 1. (Equação 12) 𝑋𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙 + 𝑋á𝑔𝑢𝑎 = 1 2.3.2 Molalidade Molalidade (W) é o quociente do número de mols de soluto por quilograma do solvente. 45 𝑊 = 𝑛𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 𝑚𝑠𝑜𝑙𝑣𝑒𝑛𝑡𝑒 (𝑘𝑔) (Equação 13) Exemplo: Uma solução é preparada dissolvendo-se 5 g de NaNO3 em 2000 g de água. Qual é a molalidade da solução? (Massa molar do Na= 23 g.mol-1, massa molar do N = 14 g.mol-1; massa molar do O= 16 g.mol-1). Dados: MM do Sódio (Na) = 23,0 g; MM do Nitrogênio (N) = 14,0 g; MM do Oxigênio (O) = 16,0 g. Cálculo da MM do Nitrato de sódio (NaNO3) = 23,0 + 14,0 + (3 x 16,0) = 85,0 g. Inicialmente calculamos o número de mols (n) de NaNO3: 1,0 mol de NaNO3 ---------- 85,0 g X mols ---------- 5,0 g x = 0,06 mols NaNO3 Substituindo este valor na equação da molalidade temos: O valor encontrado acima pode ser calculado por regra de três: 0,06 mol de NaNO3 ---------- 2,0 kg X mols ---------- 1,0 Kg x = 0,03 molal de NaNO3 46 A maior vantagem de se trabalhar com a molalidade é que ela independe da temperatura, enquanto a molaridade tem seu valor alterado de acordo com a temperatura. 2.3.3 Molaridade A molaridade (M) ou concentração molar de uma solução é definida pelo quociente entre o número de mols (n) do soluto e o volume em litros (L) da solução. Apesar de ser uma muito útil em cálculos estequiométricos, é inconveniente no trabalho com propriedades coligativas, já que seu valor varia com a temperatura. 𝑀𝑚𝑜𝑙𝑠/𝐿 = 𝑛𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 𝑉𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜(𝐿) (Equação 14) A concentração comum (C), ou simplesmente concentração de uma solução difere da concentração molar por utilizar a massa em gramas do soluto no lugar do número de mols do soluto. Sua unidade é g/L. Assim: 𝐶(g/L) = 𝑚(𝑔) 𝑉(𝐿) (Equação 15) Exemplo: Qual é a concentração de uma solução que contém 30,0g de soluto em 1L de solução? 𝐶 = 𝑚𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 = 𝑉𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 Exemplo: Qual é a molaridade de uma solução que contém 30g de NaCl em 500mL de água? = 30,0 𝑔 1,0 𝐿 = 30,0 𝑔/𝐿 47 Dados: MM Sódio (Na) = 23,0 g; MM Cloro (Cl) = 35,5 g; V = 500 mL = 0,500 L. Inicialmente calcula-se a massa molar (MM) da substância NaCl: MM NaCl = 23,0 + 35,5 = 58,5 g/mol; Agora, calcula-se o número de mols (n): 𝑛𝑁𝑎𝐶𝑙 = 𝑚𝑁𝑎𝐶𝑙 𝑀𝑀𝑁𝑎𝐶𝑙 30,0 𝑔 = 58,5 𝑔/𝑚𝑜𝑙 = 0,51 𝑚𝑜𝑙 O valor encontrado acima pode ser calculado por regra de três: 1 mol de NaCl ---------- 58,5 g X mols ---------- 30,0 g x = 0,51 mol de NaCl Com estes valores já é possível calcular o valor da molaridade (M) da solução dada. 𝑀 = 𝑛𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 𝑉𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 0,53 𝑚𝑜𝑙 = 0,500 𝐿 = 1,02 mol/L Cálculo por regra de três: 0,51 mol de NaCl ---------- 0,500 L X mols ---------- 1,0 L x = 1,02 mol/L de NaCl 48 Exemplo: Calcule a concentração e a molaridade de uma solução contendo 5g de H2SO4 em um volume de 5L. (Dado: 1 mol de H2SO4 = 98g). 𝐶 = 𝑚𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 = 5,0 𝑔(𝐻2𝑆𝑂4) 5,0 𝐿 = 1,0 𝑔/𝐿 V𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 Ou, 5,0 g de H2SO4 ---------- 5,0 L X g ---------- 1,0 L x = 1,0 g/L de H2SO4 Para a molaridade: 𝑛H2SO4 = 5,0𝑔 98,0 𝑔/𝑚𝑜𝑙 = 𝟎, 𝟎𝟓 𝒎𝒐𝒍 𝑀 = 𝑛H2SO4 𝑉𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 0,05 𝑚𝑜𝑙 = 5,0 𝐿 = 𝟎, 𝟎𝟏 𝒎𝒐𝒍/𝑳 Resolução 2, por regra de três: 49 Esse exemplo mostra a diferença de valores entre a concentração comum e a molaridade de uma solução. 2.3.4 Percentagem ponderal Calcular a concentração em percentagem ponderal (porcentagem por peso) é simplesmente dividir a massa do soluto pela massa da solução e, em seguida, multiplicar o resultado por 100. No caso do exemplo anterior, a percentagem ponderal do nitrato de sódio (NaNO3) é dada por: 𝑃𝑒𝑠𝑜 = 5,0 𝑔 NaNO3 100 = 0,2 𝑝𝑜𝑛𝑑𝑒𝑟𝑎𝑙 NaNO3 5,0 𝑔 NaNO32000 𝑔 á𝑔𝑢𝑎 A concentração em percentagem pode ser expressa em peso/peso (p/p), peso/volume (p/V), e volume/volume (V/V). Então: 𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑝/𝑝 = 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑔 𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑔 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 𝑥 100 (Equação 16) 𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑝/𝑣 = 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑔 𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑚𝐿 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 𝑥 100 (Equação 17) 𝑃𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑣/𝑣 = 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑚𝐿𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑚𝐿 𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 𝑥 100 (Equação 18) ATENÇÃO: Para percentuais em p e v, as unidades utilizadas devem ser iguais tanto no numerador quanto no denominador. 50 2.3.5 Partes por milhão (ppm) As soluções naturais, em geral, são muito diluídas. Expressar a concentração dessas soluções através de porcentagem é inconveniente, dado o uso de muitos zeros e potências de 10. Assim, os químicos, neste caso, alteram frequentemente o multiplicador. Exemplo: O hidrogenossulfato de sódio (NaHSO4) é uma substância química utilizada para ajustar o pH da água de piscinas. Qual é a concentração de íons Na+ em ppm, quando adiciona-se 400g de NaHSO4 em uma piscina com 5,0x105 litros de água? (Dados: Na= 23 g.mol-1; H= 1 g.mol-1; S= 32 g.mol-1; O=16 g.mol-1) Este problema deve ser resolvido em duas etapas. Na primeira etapa, calculamos a quantidade de íons Na+ em 400g de NaHSO4. Dados: MM Sódio (Na) = 23,0 g; MM Hidrogênio (H) = 1,0 g; MM Enxofre (S) = 32,0 g; MM Oxigênio (O) = 32,0 g; MM NaHSO4 = 120,0 g Fazendo uma regra de três simples: 120,0 g de NaHSO4 ---------- 23,0 g Na+ 400,0 g NaHSO4 ---------- X g de Na+ x = 77,0 g = 77000 mg Na+ Utilizando este valor de íons sódio, podemos agora calcular a concentração em ppm de íons Na+. A concentração em ppm equivale a mg/L. 𝑝𝑝𝑚𝐍𝐚+ = 77000 𝑚𝑔 5,0 𝑥 105𝐿 = 0,15 51 2.4 Referências KOTZ, J. C., TREICHEL, P., Química e Reações Químicas Volume 1.3a Edição. Editora LTC, Rio de Janeiro, RJ. 1998 KOTZ, J. C., TREICHEL, P., Química e Reações Químicas Volume 2.3a Edição. Editora LTC, Rio de Janeiro, RJ. 1998 52 Professor da disciplina: Carlos Henrique Callegario Zacchi Material adaptado: Elisângela Aparecida da Silva Química Ambiental 1 53 Meta O principal objetivo deste capítulo é apresentar as características do estado de equilíbrio bem como introduzir os processos reversíveis e irreversíveis. Objetivos Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de: ✓ Compreender o que representa o estado de equilíbrio; ✓ Escrever a expressão da constante de equilíbrio para uma reação química; ✓ Identificar quando uma reação química é reversível e quando uma reação química é irreversível; ✓ Calcular a constante de equilíbrio de uma reação química; ✓ Aplicar o princípio de Le Chatelier para prever o efeito de uma perturbação sobre um sistema reacional em equilíbrio. 54 3 EQUILÍBRIO QUÍMICO O conceito de equilíbrio abrange as mais diferentes áreas. Buscamoso equilíbrio em nossas relações pessoais, tanto familiares quanto profissionais; países buscam o equilíbrio em suas relações econômicas; os diversos componentes ambientais buscam o equilíbrio para manter a harmonia dos ecossistemas. Todas estas ações estão sob a atuação de forças dinâmicas que podem alterar rapidamente o equilíbrio. O estudo do equilíbrio de reações químicas além de ser fundamental dentro do contexto da Química, tem vasta aplicação em processos industriais. 3.1 Reações Químicas Uma reação química é a transformação de uma ou mais substâncias em outras substâncias, sem que ocorra modificação dos elementos químicos envolvidos. Nas transformações físicas, nem os elementos e nem as substâncias químicas são transformadas. Em processos nucleares, ocorre a transformação do elemento químico. Para que a reação química aconteça é necessário que exista afinidade entre os reagentes. As funções químicas determinam a afinidade entre os reagentes, e as transformações podem ser observadas experimentalmente. Uma função química é um grupo de substâncias compostas que possuem propriedades semelhantes, propriedades estas denominadas de propriedades funcionais. As funções químicas são divididas, segundo a química clássica. O critério de classificação de uma substância considera o tipo de íons que se formam quando a substância é dissolvida em água. São quatro os tipos de funções inorgânicas: ácido, base, sal e óxido. As funções orgânicas possuem uma cadeia carbônica e os compostos incluídos nestas funções são chamados de compostos orgânicos. Ao misturarmos duas ou mais substâncias elas que podem reagir entre si e duas situações são possíveis: 55 • A reação ocorre com o consumo completo das substâncias, chamadas de reagentes, havendo a conversão total delas em outras substâncias denominadas produtos. • Os reagentes não se convertem totalmente em produtos. Neste caso, as concentrações dos reagentes diminuem ao longo de certo tempo, teq, e atingem um valor constante a partir daí, ou seja, a reação atingiu o equilíbrio químico. Atingir o equilíbrio não significa que a reação parou de ocorrer. Quando um sistema atinge o equilíbrio as velocidades da reação e a velocidade da reação inversa são iguais, porém opostas. A Figura 3-1 mostra a variação nas concentrações de reagentes e produtos durante uma reação química. Figura 3-1: Variação da concentração de reagentes e produtos de uma reação química. As reações químicas são descritas pelas equações químicas, que apresentam as fórmulas químicas dos reagentes e dos produtos. O primeiro membro de uma equação química mostra os reagentes e o segundo membro mostra os produtos. 56 Reagentes → Produtos As fórmulas químicas mostram quais átomos estão presentes na substância química e sua quantidade. As fórmulas químicas podem ser: • Fórmula centesimal: expressa a percentagem em massa de cada elemento na molécula. Por exemplo, a fórmula centesimal da glicose é: C: 40%; H: 6,66%; O:53,33%. • Fórmula empírica: é obtida pelo quociente entre a percentagem em massa do elemento e a massa atômica deste elemento. No caso da glicose temos: Efetuando a divisão, a fórmula empírica da glicose fica: • Fórmula mínima: obtida pela divisão de todos os coeficientes pelo menor deles, deixando os coeficientes inteiros. Assim, a fórmula mínima da glicose fica C1H2O1. • Fórmula molecular: indica quantos átomos de cada elemento estão presentes em cada molécula de uma substância. É obtida pelo quociente da massa molecular pela massa da fórmula mínima e os coeficientes multiplicados pelo número resultante. A massa molecular da glicose é 180. A massa da fórmula mínima é 30. O quociente entre elas é 6. Multiplicando os coeficientes por 6, a fórmula molecular da glicose fica C6H12O6. 57 3.2 Estequiometria Antes de iniciarmos o estudo do equilíbrio químico, precisamos conhecer os cálculos estequiométricos. A estequiometria apresenta grande relevância no cotidiano de indústrias e laboratórios, locais onde a todo momento é preciso obter a quantidade de reagentes necessária a uma reação química, prevendo-se a quantidade de produtos obtida em determinadas condições previamente estabelecidas. A palavra estequiometria vem do grego stoicheion, que significa elemento, e metron, que significa medida. Assim, estequiometria significa medida dos elementos químicos, ou seja, as quantidades de cada elemento químico envolvidas em uma reação química. Essas quantidades de reagentes e/ou produtos podem ser calculadas em mols, em massa, em volume, em número de átomos e em número de moléculas. Os cálculos estequiométricos baseiam-se nos coeficientes de uma reação química e fornecem as razões nas quais os mols de uma substância reagem e quantos mols são formados. Uma equação química balanceada fornece as relações quantitativas entre todos os reagentes e produtos. As reações químicas se baseiam em duas leis fundamentais: • Lei de Lavoisier ou Lei da Conservação das Massas: Em qualquer sistema, seja ele físico ou químico, a massa do produto é igual à soma das massas dos reagentes, ou seja, não se cria e nem se elimina matéria, ela é transformada durante o processo. A lei de Lavoisier explica um de nossos mais graves problemas atuais, a poluição ambiental. Como não podemos consumir a matéria até sua completa aniquilação, os resíduos gerados em todas as atividades dos seres vivos tendem a se acumular na 54 natureza, mas esses resíduos podem ser transformados e posteriormente reutilizados. Considere a reação entre o hidrogênio e o oxigênio para a formação da água. Os algarismos destacados são chamados de coeficientes estequiométricos. Neste caso, o número 1 foi evidenciado apenas para ilustrar o exemplo, pois não é usual explicitá-lo nas reações químicas. Agora, observe, na Tabela 3-1, os valores experimentais obtidos para a formação da água. Tabela 3-1: Valores experimentais obtidos para a formação da água Hidrogênio (g) Oxigênio (g) Água (g) 30 60 90 8 16 24 1 2 3 Para cada reação, a massa de água obtida é igual à massa dos reagentes. • Lei de Proust ou Lei das Proporções definidas: Independente do processo químico empregado na obtenção de uma substância, a proporção em massa dos elementos participantes da reação é sempre constante. A Lei de Proust permite prever as quantidades das substâncias que participarão de uma reação química. 55 Para a reação de formação da água, e considerando a Tabela 3-1, obtém-se a Tabela 3-2, de proporções dos elementos. Tabela 3-2: Proporções dos elementos na reação de formação da água. mO/mH mágua/mH mágua/mO 60/30=2 16/8=2 2/1=2 90/30 24/8=3 3/1=3 90/60=1,5 24/16=1,5 3/2=1,5 Como já mencionado anteriormente, a massa molecular de uma substância é a soma da massa de todos os átomos presentes na fórmula, com seus respectivos índices. Outra medida muito usada na química é o mol. Um mol de uma substância equivale a 6,02 x 1023 partículas daquela substância. Relacionando mol e massa, temos que massa molar é a massa em gramas de 1 mol de substância (g/mol ou g.mol-1). O número 6,02x1023 é chamado de número de Avogadro. Figura 3-2: Conservação de massas x = 216,0 g de H2O 56 Uma equação química estará corretamente escrita apenas depois que o acerto dos coeficientes químicos for efetuado, assim, a equação terá significado quantitativo. Para efetuarmos os cálculos estequiométricos os seguintes passos devem ser seguidos: 1- Escreva a equação química envolvida. 2- Acerte os coeficientes da equação. 3- Relacione os coeficientes com mols, para obter uma proporção inicial em mols. 4- Estabeleçauma regra de três simples entre o dado e a pergunta do problema. Vejamos um exemplo simples, envolvendo a reação de formação da água. Exemplo: Que massa de água, em gramas, será produzida a partir de 24g de H2(g)? 1 - Escrever a reação química: 2 - Balancear a equação química: Segundo a nossa equação química, 1 mol de H2(g) fornece 1mol de H2O(g), ou, trabalhando diretamente com as massas, 2g de H2(g) fornecem 18g de H2O(g). Então: 2,0 g de H2 ---------- 18,0 g H2O 24,0 g H2 ---------- X g 57 Exemplo: Reação de combustão do etanol (C2H6O). Nas reações de combustão, um dos reagentes é o oxigênio. Quando a reação é completa, os produtos formados são água e gás carbônico. Ao estabelecermos a proporção em mols, qualquer cálculo pode ser realizado, envolvendo reagentes e produtos, combinando as relações de várias maneiras. Exemplo: Qual a quantidade em gramas de nitrogênio (N2) será consumida para se produzir 500g de amônia? 1 - Escrevendo a reação: N2 + H2 NH3 2 - Balanceando a equação: N2 + 3 H2 2 NH3 58 34,0 g de NH3 ---------- 28,0 g N2 500 g de NH3 ---------- X g x = 412,0 g de N2 Resposta: Serão consumidos 412,0 g de N2. 3.2.1 Cálculos estequiométricos envolvendo substâncias gasosas Até agora, os cálculos apresentados relacionavam apenas as massas ou número de mols de substâncias. Os cálculos estequiométricos podem ser aplicados a qualquer estado de agregação de uma substância (sólido, líquido ou gás). Figura 3-3: Relação molar das substâncias Quando a reação envolve substâncias gasosas, é usual estabelecer a relação entre volumes de reagentes e entre reagentes e produtos. 59 A Lei de Avogadro estabelece que "o volume ocupado por um gás, sob pressão e temperatura constantes é diretamente proporcional ao seu número de moléculas". A relação molar estabelece que os problemas envolvendo cálculos estequiométricos sempre se referem às CNTP. Podemos ainda, ter condições ambientais. Nas CNTP (condições normais de temperatura e pressão) o valor da pressão é 1 atm (1 atmosfera) e a temperatura é de 273K (273 Kelvin) o que equivale à 0oC. Nas condições ambientais a pressão é de 1atm e a temperatura é de 298K, equivalente a 25oC. No caso da reação de formação da água, exemplificado anteriormente, podemos calcular, por exemplo, o volume de O2(g) necessário para a formação de 100g de água. Reação química: H2 +O2→H2O Balanceamento: H2(g) + ½ O2(g) →H2O(l) O balanceamento nos informa que 1/2 mol de O2(g) fornece 18g de água. Ora, 1 mol de uma substância ocupa um volume de 22,4 L nas CNTP, se temos ½ mol de O2, podemos dizer que 11,2L de O2(g) fornecem 18g de água. 11,2 L de O2 ---------- 18,0 g H2O X L ---------- 100 g H2O x = 62,22 L de O2 Com uma regra de três simples obtemos o volume necessário de O2(g) para produzir 100g de água. São necessários 62,22L de O2(g) para produzir 100g de H2O(l). 60 3.2.2 Cálculos estequiométricos envolvendo rendimento de reações, reagentes em excesso e reagentes limitantes. Nos casos anteriores consideramos que as reações são completas, isto é, todos os reagentes são transformados em produtos. Na prática isso não acontece muito frequentemente, devido às impurezas presentes nos reagentes ou a excessos adicionados, ou ainda, à falta de algum reagente. Exemplo: Imagine, por exemplo, que a quantidade de um reagente é inferior à quantidade requerida estequiometricamente. Então calcule o rendimento da reação de produção de amônia quando são adicionados 200g de N2 e 40g de H2. Passo 1: identificamos o reagente que está em excesso ou em falta. A partir da equação balanceada temos: 28g de N2 reagem estequiometricamente com 6g de H2 produzindo 34g de NH3. Então, a pergunta é: quantos gramas de H2 são necessários para reagir com 200g de N2? 28,0 g de N2 ---------- 6,0 g H2 200,0 g de N2 ---------- X g x = 42,85 g de H2 Para a quantidade adicionada de N2 precisamos de 42,85g de H2. Como foram adicionados apenas 40g de H2, ele é o reagente limitante e o N2 é o reagente em excesso. A reação ocorre enquanto houver H2. 61 Passo 2: Conhecendo o reagente limitante, calculamos agora quanto de amônia será produzida com esta quantidade: 6,0 g de H2 ---------- 34,0 g NH3 40,0 g de H2 ---------- X g x = 227,0 g de NH3 Com os 40g de H2 serão formados 227g de amônia. Este é o rendimento real. Passo 3: Calculamos agora a quantidade teórica, a partir da quantidade de N2 adicionado: 28,0 g de N2 ---------- 34,0 g NH3 200,0 g de N2 ---------- X g x = 243,0 g de NH3 Se todo N2 adicionado reagisse, obteríamos 243g de NH3. Este é o rendimento teórico. Passo 4: Agora calculamos o rendimento da reação: 𝑟 = 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑎𝑙 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑎 𝑥 100 (Equação 19) 𝑟 = 227 𝑔 243 𝑔 𝑥 100 = 93,4 Com 200g de N2 a reação tem um rendimento de cerca de 94%. 62 Se necessário, podemos ainda calcular o excesso de N2 adicionado: 6,0 g de H2 ---------- 28,0 g N2 40,0 g de H2 ---------- X g x = 186,7 g de N2 Adicionando 40g de H2 com 200g de N2, haverá um excesso de cerca de 13g de N2. 3.3 Constante de equilíbrio Para descrever a posição do equilíbrio de uma dada reação química utilizamos as concentrações dos reagentes e produtos em uma expressão chamada de constante de equilíbrio, designada por kc, que é válida em uma determinada temperatura. O valor da kc mostra a extensão da reação, isto é, mostra se a reação é favorável aos reagentes ou aos produtos e pode ser usado para calcular a quantidade de produto presente no equilíbrio, informação fundamental em processos industriais. O valor de kc depende apenas da temperatura e independe das concentrações iniciais dos reagentes e dos produtos. Como regra básica: Se kc >> 1(lê-se: se kc é muito menor que 1), a reação favorece os produtos e a concentração de produtos no equilíbrio será maior do que as concentrações dos reagentes. Se kc << 1 (lê-se: se kc é muito menor que 1), a reação favorece os reagentes e a concentração de reagentes no equilíbrio será maior que a concentração dos produtos. 63 Para uma reação genérica, do tipo: Sejam A, B, C e D substâncias químicas quaisquer, a constante de equilíbrio é dada por: (Equação 20) Os coeficientes a, b, c, e d da equação química são obtidos a partir do balanceamento da equação. Considere a reação química entre o hidrogênio e o iodo. Na fase gasosa, para formar iodeto de hidrogênio, é dada pela seguinte equação química: H2(g)+ I2(g) 2HI(g) A expressão da constante de equilíbrio para esta reação é dada por: 𝐾𝑐 = [𝐻𝐼]2 [𝐻2][𝐼2] Para tornar o exemplo mais claro, suponha que em um balão sejam colocadas quantidades suficientes de hidrogênio e iodo para que as concentrações de cada um deles seja igual a 0,02mol/L, a uma temperatura de 425°C. Após atingido o estado de equilíbrio, as concentrações dos gases no balão são medidas, encontrando-se: [H2] = [I2]= 0,004 mol/L e [HI]= 0,03mol/L. Elabore a seguinte tabela: 64 Tabela 3-3: Relação das quantidades no equilíbrio Substituindo os valores das concentrações na expressão do equilíbrio: [𝐻𝐼]2 0,3162 = = 56,6 [𝐻2][𝐼2] 0,042 𝑥 0,042 Este valor será sempre o mesmo, desde que a temperatura seja mantida a 425°C. Em reações envolvendo sólidos e água, algumas regras devem ser observadas. Como a concentração de moléculas em qualquer sólido é fixa, a concentração de um sólido não se altera pela reação, isto é, ao escrevermos a expressão para a constantede equilíbrio, não consideramos as espécies em estado sólido. Além disso, os experimentos mostram que as concentrações gasosas no equilíbrio não são alteradas pela quantidade de sólido presente, desde que este sólido exista no sistema reacional. Assim, as concentrações de sólidos tanto reagentes quanto produtos não são incluídas na expressão da constante de equilíbrio. Exemplo: A expressão da constante de equilíbrio para a reação abaixo é: 65 Observe que não foi incluída a concentração do Cu(OH)2, que está no estado sólido. Para contornar o inconveniente de trabalhar com números decimais, é comum a multiplicação dos coeficientes estequiométricos das equações químicas de modo a obter números inteiros. Vejamos o efeito dessa operação em kc. Considere a reação de combustão do carbono, já balanceada: Para esta reação temos a seguinte expressão para kc Se multiplicarmos os coeficientes da reação por 2, obtemos a nova reação II, abaixo: Escrevendo a expressão de k, para a reação II, obtemos: 𝐾2 = [𝐶𝑂]2 [𝑂2] = 2,1 𝑥 1047 Comparando K1 e K2 vemos que K2 = K12, isto é, 𝐾2 = [𝐶𝑂]2 = { [𝐶𝑂] }2 = 𝑘𝑙2 [𝑂2] [𝑂2]1/2 66 1 Quando os coeficientes estequiométricos de uma equação química são multiplicados por um mesmo fator, a constante de equilíbrio resultante (k2) será igual a constante de equilíbrio inicial (k1) elevada a uma potência igual ao fator de multiplicação. De modo semelhante, a inversão do sentido da reação se reflete também no valor da constante de equilíbrio. Vejamos a reação de formação da amônia, A constante de equilíbrio é dada pela expressão 𝐾1 = [𝑁𝐻3]2 [𝑁2][𝐻2]3 = 3,5 𝑥 108 Escrevendo-se a reação no sentido inverso A expressão da constante de equilíbrio fica: 𝐾2 = [𝑁2][𝐻2]3 [𝑁𝐻3]2 Percebe-se facilmente que K2 é o inverso de K1, ou seja, 𝐾2 1 = 𝐾 1 = 3,5 𝑥 108 = 2,9 𝑥 10−9 67 Comparando os valores numéricos de K1 e K2 concluímos que a reação direta é muito mais favorável que a reação inversa, K1 >> 1. Por isso a decomposição de amoníaco em seus elementos praticamente não ocorre. 3.3.1 O quociente reacional Para dada reação, uma vez conhecida a concentração de um dos compostos, apenas um único valor da concentração dos demais componentes obedecerá à expressão da constante de equilíbrio. Existem outros valores permitidos para as concentrações que não denotam a situação de equilíbrio, mas seu conhecimento é útil por permitir a identificação do deslocamento momento a momento. A expressão que envolve as concentrações dos componentes em qualquer momento da reação é chamada de quociente reacional (Q). Quando o quociente reacional é igual à constante de equilíbrio, a reação está em equilíbrio. 18 𝑆8(𝑠) + 𝑂2 (𝑔) → 𝑆𝑂2(𝑔) 𝑄 = 𝑆𝑂2(𝑔) 𝑂2 (𝑔) Comparações entre os valores de Q e k permitem a construção do gráfico seguinte. Figura 3-4: Concentração de produtos em função de reagentes, em termos da expressa o de Q. 68 Este gráfico representa uma reação qualquer, com reagentes e produtos. Quando Q > k, o sistema não está em equilíbrio e os produtos reformam os reagentes. Na reta diagonal, Q = k, para qualquer ponto, temos um sistema em equilíbrio. Quando Q < k, o sistema também não está em equilíbrio, e os reagentes se transformam em produtos. Formalmente, a expressão do quociente reacional é igual à expressão da constante de equilíbrio, mas lembre-se sempre que as concentrações envolvidas não são necessariamente as concentrações de equilíbrio. Para uma reação genérica, a expressão de Q é: 𝑄 = [𝐶]𝑐[𝐷]𝑑 [𝐴]𝑎[𝐵]𝑏 Observe que tanto para obter K quanto Q, a expressão é dada pelo quociente dos produtos pelos reagentes. 3.4 Fatores que influenciam o equilíbrio químico Como o equilíbrio químico é um equilíbrio dinâmico, ele é passível de responder às mudanças no sistema reacional. Assim, se uma reação química está em equilíbrio ela tende a permanecer em equilíbrio; se o equilíbrio for perturbado, ela tende a retornar a um estado de equilíbrio. 69 O princípio de Le Chatelier prevê que quando qualquer dos fatores que determinam o equilíbrio de um sistema reacional sofrer modificações, o sistema altera seu estado reacional de modo a reduzir ou contrabalancear o efeito provocado. Embora explique as mudanças ocorridas em sistemas reacionais, o princípio de Lê Chatelier não produz valores numéricos. O equilíbrio químico de um sistema pode ser perturbado por variações de temperatura, variações de concentração de reagentes ou de produtos e pela variação de volume. 3.4.1 Efeito da temperatura As reações químicas em equilíbrio são afetadas significativamente pela temperatura. A elevação da temperatura provoca o aumento da pressão de vapor de um líquido e também aumenta a solubilidade da maioria dos sais. Utilizando o princípio de Lê Chatelier podemos explicar como uma reação vai responder às variações de temperatura. Se há uma elevação de temperatura, a reação química responde deslocando o equilíbrio em direção ao lado que consuma a energia adicionada. Por outro lado, se há um abaixamento de temperatura, a reação química desloca o equilíbrio direção ao lado que gere a energia retirada. Em reações exotérmicas, onde o calor é liberado, como a produção de amônia vista anteriormente, a diminuição de temperatura irá favorecer a produção de amônia, pois, o calor gerado na reação tende a minimizar a diminuição de temperatura. Em reações endotérmicas, onde o calor é absorvido, como a decomposição de PCl5, o aumento de temperatura irá favorecer os produtos. Vale observar que quanto maior for a energia de ativação de uma reação química, mais sensível esta 70 reação será às variações de temperatura. Veja a figura abaixo para uma reação endotérmica. Figura 3-5: Energia de ativação para uma reação endotérmica. Neste caso, a energia de ativação (Ea), é maior para a reação direta, ou seja, no sentido dos reagentes para os produtos. O aumento de temperatura irá favorecer a formação de produtos. Para reações exotérmicas, a energia de ativação (Ea) é maior, ou seja, os reagentes possuem mais energia que os produtos. Portanto, aumentos de temperatura favorecem a reação inversa, que se traduz na decomposição dos produtos. Figura 3-6: Energia de ativação para uma reação exotérmica. 71 3.4.2 Efeitos da adição ou remoção de um reagente ou de um produto Se a concentração de um reagente ou produto for alterada, à temperatura constante, o equilíbrio do sistema é alterado de forma a manter constante o quociente reacional. Em outras palavras, o sistema reacional deslocará o equilíbrio no sentido oposto à alteração. Se reagentes forem adicionados, ou produtos forem retirados, intuitivamente espera-se que mais produtos sejam formados. Contrariamente, se reagentes forem suprimidos ou produtos forem adicionados, espera-se que mais reagentes sejam formados. Isso ocorre de modo a manter constante a concentração ou a pressão parcial dos reagentes ou dos produtos. Veja o caso da reação de formação da amônia. Se o sistema eliminar NH3(g), o equilíbrio será deslocado para o lado direito, para repor a quantidade eliminada. Isso ocorrerá, obviamente, enquanto houver reagentes. Se, por outro lado, NH3(g) for injetado no sistema, o equilíbrio será deslocado para o lado esquerdo da reação, haverá a decomposição de amoníaco em seus componentes. 3.4.3 Efeito da variação de pressão Variações de pressão alteram, em alguma extensão, o equilíbrio químico de todas as reações. Porém, na maioria dos casos, as variações no valor da constante de equilíbrio
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