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mandado de segurança

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À COLENDA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ
MAGNÓLIA, brasileira, cearense, estado civil, profissão, portadora da CI nº.., inscrita no CPF sob o nº.., endereço eletrônico, residente e domiciliada em Caicó, na rua, nº, bairro, Ceará, representada por seu advogado conforme procuração in fi ne assinada (doc. Nº), com endereço profissional na rua, bairro, nº, Cidade, CEP, vem, respeitosamente, perante a Vossa Excelência, com fulcro no art. 5º, LXIX, da Constituição da Republica Federativa do Brasil e na Lei nº 12.016/09, impetrar o presente:
MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL REPRESSIVO COM PEDIDO LIMINAR
visando proteger direito líquido e certo seu, indicando como coator o Excelentíssimo Senhor, SECRETÁRIO DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ, o qual é vinculado à pessoa jurídica da SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO, sediada na rua, nº, bairro, Imaginária, Ceará, pelos fundamentos de fato e de direito que se seguem:
1. DOS FATOS:
A impetrante é uma jovem moça que recentemente foi diagnosticada com uma grave doença: lúpus. Passou alguns dias internada em Hospital Público estadual, na capital do Estado, após receber alta, retornou à sua cidade natal. Entretanto, em razão do seu quadro clínico, foi receitado que a impetrante fizesse uso contínuo do medicamento xxxxx, conforme consta nos documentos acostados nesta inicial, em especial o seu prontuário médico.
O medicamento de que a impetrante necessita é gratuitamente fornecido pelo SUS, conforme consulta feita à lista de medicamentos elaborada pelo Poder Público. Em razão disso, a jovem dirigiu-se ao posto de saúde municipal mais perto de sua casa no dia 10.10.2017 para solicitar a medicação. Lá chegando foi informada de que o fornecimento de medicamentos estava suspenso há alguns meses, em razão de uma ordem da Prefeitura Municipal.
Não lhe restando alternativa, a impetrante elaborou requerimento e protocolou junto à Prefeitura, explicando sua situação e solicitando o fornecimento de medicamentos. Referido documento, conforme se faz prova em anexo, foi formalizado em 11/10/2017. No dia 15/10/2017 obteve a resposta formal da Prefeitura, informando que a compra de todos os medicamentos estava suspensa por tempo indeterminado.
Diante disso, o impetrante procurou um advogado de sua confiança e por meio do presente instrumento pretende fazer valer seus direitos, conforma argumentação legal abaixo demonstrada.
Destaca-se, Excelência, que o presente remédio constitucional está sendo impetrado dentro do prazo legal de 120 dias, a contar da notificação recebida no dia 15/10/2017, na forma do art. 3º, parágrafo único e art. 24 da Lei nº 12.016/09.
1. DO MÉRITO:
2. 
2.1 – DO DIREITO À SAÚDE E A RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO:
O direito a saúde é um direito fundamental social, assegurado no art. 6º da Constituição Federal, a qual estabelece ainda em seu art. 196, que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
O Direito à saúde tem uma dimensão tanto coletiva, como individual; ele não apenas significa uma diretriz a ser cumprida pelo Estado, mas um direito público subjetivo. Nesse sentido, o ilustre ex-ministro do STF Celso de Mello, ao julgar o AgR-RE 271.286-8/RS, proferiu voto no sentido de reconhecer o direito à saúde como um direito exigível judicialmente, destacando que:
[…] “a essencialidade do direito à saúde fez com que o legislador constituinte qualificasse como prestações de relevância pública as ações e serviços de saúde (art. 197)”, legitimando a atuação do Poder Judiciário nas hipóteses em que a Administração Pública descumpra o mandamento constitucional em apreço.
Nesse sentido, ressalta-se que a Constituição determina que o Estado, além de preservar a saúde dos indivíduos tem o dever de promovê-la mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos. Sobre a competência do Estado para tanto, no art. 23, II, da CF/88 há a previsão de que tal dever pertence aos três entes federativos: União, Estados e Municípios, nos seguintes termos: “Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...] II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiências”.
O STF já firmou entendimento inclusive de que essa responsabilidade é solidária entre todos os entes federativos, conforme a decisão proferida no RE 855178 RG / Sergipe, vejamos pela ementa abaixo:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE. TRATAMENTO MÉDICO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. O tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser composto por qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente” (RE 855178 RG/SE – Sergipe. Relator: Min. Luiz Fux. Julgamento: 05/03/2015. DJe – 050 Divulg 13-03-2015 Public 16-03-2015).
No mesmo art. 196, a Constituição Federal fala que o direito à saúde deve ser garantido mediante políticas sociais e econômicas, políticas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos, políticas que visem o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde, o que revela o dever do Estado na promoção da saúde, tanto no âmbito preventivo como no âmbito do tratamento médico e hospitalar, bem como o caráter integral do direito à saúde, que não se resume a medidas relativas ao tratamento médico, mas a todas as ações ligadas à proteção e promoção da saúde, incluindo o fornecimento de medicamentos médicos, o desenvolvimento de novas tecnologias etc. Essa previsão contida na norma constitucional, faz com que todas as medidas necessárias para a consecução dessas políticas públicas sejam exigíveis do Estado.
A Lei nº 8.808/90, ao dispor sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde e sobre a organização e funcionamento dos serviços correspondentes, possui alguns pontos que merecem ser destacados dentro da temática de fornecimento de medicamentos que estamos abordando, vejamos:
“Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS: […]
III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção;
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;”
Portanto, é inegável que o fornecimento de medicamentos, quando necessários à prevenção, recuperação ou promoção da saúde deve ser assegurado pelo Poder Público ao indivíduo como parte das ações a serem promovidas em nome da proteção ao direito à saúde, sob a mácula de violação a esse direito fundamental.
A respeito da interferência do Poder Judiciário nesta seara, é preciso observar que, em função do princípio da separação de poderes, não cabe ao Poder Judiciário formular políticaspúblicas sociais e econômicas, sob pena da usurpação de competência do Legislativo. E, Excelência, não é isso que se requer na presente demanda! O que se pretende é combater um ato ilegal e abusivo do Poder Público Municipal que está pondo em risco direito líquido e certo da impetrante, qual seja o seu direito fundamental à saúde, especificado no caso pelo acesso gratuito aos medicamentos de que necessita para o tratamento da sua doença.
Nesse sentido, Excelência, convém destacar os ensinamentos do professor Gilmar Mendes2, que, com clareza, afirma que as hipóteses de conflito entre o Estado e o cidadão envolvendo a efetividade do direito à saúde são diversas, e que, quando o Poder Judiciário constatar a existência de política pública concretizadora do direito constitucional, deve então procurar verificar quais as razões para o não cumprimento da mesma, identificando o motivo pelo qual a pretensão do indivíduo foi negada. Destaca que:
“...pode ocorrer de medicamentos requeridos constarem das listas do Ministério da Saúde, ou de políticas públicas estaduais ou municipais, mas não estarem sendo fornecidos à população por problemas de gestão: há política pública determinando o fornecimento do medicamento requerido, mas, por problemas administrativos do órgão competente, o acesso está interrompido. Nesses casos, o cidadão, individualmente considerado, não pode ser punido pela ação administrativa ineficaz ou pela omissão do gestor do sistema de saúde em adquirir os fármacos considerados essenciais, em quantidades suficientes para atender à demanda. Não há duvida de que está configurado um direito subjetivo à prestação de saúde, passível de efetivação por meio do Poder Judiciário.”
Muito bem, o conteúdo acima descrito demostra de maneira objetiva que o direito à saúde é constitucionalmente inquestionável, sendo dever do Estado (Poder Público) garantir o exposto na Constituição Federal de 1988. É, portanto, direito líquido e certo que vem sendo violado por ato ilegal cometido pela autoridade coatora, ensejando a concessão da segurança aqui pleiteada.
2.2 – DO CABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA:
Conforme o Artigo 5º, LXIX, da Constituição da Republica Federativa do Brasil, conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por “habeas corpus” ou “habeas data”, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. (BRASIL, 1988, [s. p.])
Nesse mesmo sentido é a redação do artigo 1º da Lei nº 12.016 de 2009 ao assegurar que:
“Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.”
Registre-se que, para fins de mandado de segurança, equiparam-se às autoridades os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.
1. DA LIMINAR:
Conforme o art. 7º, III da Lei nº 12.016/09, ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida. Diante do exposto, vê-se que o fundamento da presente impetração é relevante e que encontra amparo no texto da Constituição e na jurisprudência atual sinal de bom direito.
De igual modo, há risco na demora da prestação jurisdicional. Observa-se que a impetrante é detentora de lúpus, doença grave, e por essa razão necessita urgentemente de medicamentos específicos para tratamento de saúde. Sendo certo que o não tratamento e a continuidade deste ocasionará complicações em sua saúde podendo chegar a óbito. Por esse motivo necessita em caráter de urgência dos medicamentos xxxxxxxxx (conforme documentos em anexo).
Assim, presentes os requisitos, pede a V. Exa. que, LIMINARMENTE, assegure à Impetrante o direito de obter do Município o fornecimento gratuito dos medicamentos receitados.
4. DOS PEDIDOS:
Diante do exposto, requer:
1. Que seja notificada a autoridade coatora do conteúdo da presente petição inicial;
2. Que seja dado ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada;
3. Que seja ouvido o representante do Ministério Público;
4. Que seja deferido o pedido liminar nos termos formulados;
5. Que seja determinado ao Poder Público municipal que proceda o fornecimento de medicamento específico para o tratamento da impetrante, até que se sane a doença.
Provas pré-constituídas anexas.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Caicó-CE
15/11//2017
– assinado digitalmente –
Advogada
OAB/CE xxxxx

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