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Seção 1 
SUA PETIÇÃO 
DIREITO 
PENAL 
 
 2 
 
 
 
 
 
 
SUA CAUSA! 
 
Olá, operador do Direito! Mais uma vez, trabalharemos a prática da realidade 
profissional do Direito Penal. As atividades da prática jurídica são sempre muito 
desafiadoras, mas igualmente gratificantes, e o auxiliarão no estudo de todas as 
demais disciplinas jurídicas que serão trabalhadas. 
Sua dedicação, aliada a uma correta preparação e aprendizado, fará de você 
um profissional capacitado na atuação prático-profissional na advocacia criminal. 
Quanto à habilitação profissional, a aprovação no “Exame de Ordem” será uma mera 
consequência de seu empenho. Mas tenha a certeza de que iremos trilhar o caminho 
correto para que você obtenha o sucesso desejado no exame, a partir do estudo do 
processo e do direito material. O que lhe aguarda é uma carreira profissional brilhante. 
Vamos juntos? 
Nesta seção, você se posicionará como um advogado criminalista contratado 
para defender os interesses do Sr. José Percival da Silva, também conhecido como Zé 
da Farmácia. 
Zé da Farmácia é um político muito famoso, do Município de Conceição do 
Agreste/CE, possuindo grande influência em todo o estado do Ceará, e que, 
atualmente, ocupa o cargo de Presidente da Câmara dos Vereadores daquele 
município. 
 
 
Seção 1 
DIREITO PENAL 
Na prática! 
 
 3 
Por ser muito conhecido, Zé da Farmácia sempre atraiu os “holofotes” da 
imprensa local, bem como os olhares atentos das autoridades policiais. Tanto que todo 
esse “sucesso” acabou lhe custando muito caro. 
Isso porque, no dia 03 de fevereiro de 2018, o Delegado de Polícia do 
Município, Dr. João Rajão, recebeu em seu gabinete o Sr. Paulo Matos, empresário, 
sócio de uma empresa interessada em participar das contratações a serem realizadas 
pela Câmara de Vereadores. 
Imediatamente, o Sr. Paulo relatou ao Delegado que, naquela data, o Vereador 
João Santos, o João do Açougue, que exerce, atualmente, a função de Presidente da 
Comissão de Finanças e Contratos da Câmara de Vereadores do Município de 
Conceição do Agreste/CE, junto aos vereadores Fernando Caetano e Maria do Rosário, 
membros da mesma Comissão, haviam exigido de Paulo o pagamento de R$ 
100.000,00 (cem mil reais) para que sua empresa pudesse participar do referido 
procedimento licitatório, que estava agendado para o dia seguinte. 
A vítima estava bastante nervosa e apreensiva com tal exigência, uma vez que 
sua empresa preenchia todos os requisitos legais para participar da referida 
concorrência, que era fundamental, inclusive, para a manutenção de seu negócio. 
Deste modo, não titubeou em procurar a polícia e relatar todo o ocorrido. 
Após ouvir atentamente a narrativa de Paulo, o Delegado João, visando 
prender todos os envolvidos em flagrante delito, orientou Paulo a sacar o dinheiro e 
combinar com os vereadores a entrega da quantia na própria sessão de realização da 
licitação, oportunidade em que uma equipe de policiais disfarçados estaria presente 
para efetuar a prisão dos envolvidos. 
Assim, no dia seguinte, no horário e local designados para a realização da 
concorrência pública, os policiais, que esperavam o ato, realizaram a prisão em 
flagrante dos vereadores João do Açougue, Fernando Caetano e Maria do Rosário, no 
momento em que estes conferiam o valor entregue por Paulo. 
 
 4 
Ocorre que, por ironia do destino, seu cliente, Zé da Farmácia, na qualidade de 
Presidente da Câmara de Vereadores do Município de Conceição do Agreste/CE, 
resolveu, naquele exato dia, assistir à Sessão da Comissão de Finanças e Contratos da 
Câmara para verificar se ela estava realizando seu trabalho de maneira correta e eficaz. 
Desta forma, mesmo sem ter ciência de nenhum dos fatos aqui narrados, 
estava presente no Plenário da Câmara no momento da operação policial e acabou 
também preso em flagrante, acusado de participar do esquema criminoso. 
Apresentados ao Delegado João Rajão, este lavrou o respectivo auto de prisão 
em flagrante delito da forma estabelecida na legislação pátria (pela prática do delito 
de corrupção passiva, previsto no artigo 317, do Código Penal) e o encaminhou ao Juiz 
competente no prazo devido. 
Comunicada a Autoridade Judiciária, esta determinou a apresentação dos 
presos, em audiência de custódia, a ser realizada no dia seguinte à prisão. 
Na data e no horário designados, os réus foram representados pelo Procurador 
da Câmara dos Vereadores, que requereu a liberdade deles, com a decretação de 
medidas cautelares diversas da prisão. 
Entretanto, o MM. Juiz, acatando o pedido do Ministério Público de conversão 
da prisão em flagrante em prisão preventiva, decretou a prisão preventiva de todos, 
nos termos do art. 310, II, c/c art. 312, c/c art. 313, I, todos do CPP, para garantia da 
ordem pública, tendo em vista a gravidade e a repercussão do crime. 
No dia seguinte, você, como ADVOGADO, é procurado pela esposa do Zé da 
Farmácia, que, desesperada, deseja contratá-lo para atuar na defesa de seu cliente. 
 
 ADVOGADO: O pedido realizado pelo Procurador da Câmara dos Vereadores foi 
correto? Qual é a medida a ser tomada visando à imediata liberdade de seu cliente? 
A prisão dele foi legal? 
 
 5 
 
 
Uma vez apresentado o caso concreto, você, caro aluno, deve começar a analisar 
o ocorrido e pensar nas providências a serem tomadas. Visando à resolução deste caso, 
passaremos por algumas noções de Processo Penal, as quais lhe servirão de 
ferramenta na elaboração da peça cabível e na resolução de questões. 
No caso hipotético apresentado, seu cliente Zé da Farmácia foi preso em 
flagrante delito, acusado da prática do crime de corrupção passiva, e teve sua prisão 
preventiva decretada após a realização de audiência de custódia. 
Assim, cabe a você, enquanto advogado contratado para defender os interesses 
do Zé da Farmácia, traçar a estratégia mais adequada no sentido de obter a imediata 
libertação de seu cliente. Logo, o primeiro passo é decidir qual é o instrumento 
adequado (peça), bem como o pedido correto a ser realizado. 
A primeira alternativa que vem em mente é a interposição de um recurso. Como 
sabemos, os recursos são meios voluntários de impugnação de uma decisão judicial, 
decorrentes do princípio do duplo grau de jurisdição, que têm como objetivo o 
reexame do conteúdo decisório por um órgão jurisdicional superior. 
Entretanto, tal interposição depende de previsão expressa na lei, conforme 
requisito do cabimento (possibilidade de se impugnar uma decisão). Ou seja, caso a lei 
vede a interposição de recurso contra determinado ato judicial e a parte, ainda assim, 
interpuser uma das espécies de recurso, este sequer será admitido (conhecido) pelo 
Poder Judiciário, por ausência do requisito processual do cabimento. 
E é exatamente essa a hipótese do presente caso. Isso porque, como a decisão 
que decreta a prisão preventiva tem natureza jurídica de decisão interlocutória simples 
Fundamentando! 
 
 6 
(aquela que decide questão processual, sem encerrar a relação processual ou uma 
etapa procedimental), trata-se de ato judicial, em regra, irrecorrível1. 
Assim, recomenda-se fazer uma análise das ações de impugnação autônomas 
existentes no processo penal: habeas corpus, mandado de segurança e revisão 
criminal. 
Tais ações, conforme já dito, não constituem recursos e, assim, não se 
subordinam aos requisitos recursais e, por serem autônomas, sequer exigem uma 
decisão judicial não transitada em julgado. Podem, inclusive, ser utilizadas em casos 
de decisões com trânsito em julgado formal e material. 
O habeas corpus caracteriza-se por ser uma ação de impugnação autônoma, de 
natureza mandamental e de cognição sumária, também não submetida a prazos, 
destinada a garantir a proteção da liberdade de locomoção dos cidadãos, em casos de 
atos abusivos do Estado. Encontra-se previsto nos artigos 647 a 667, do CPP.Nos termos do art. 5º, LXVIII, da CR/88, e do art. 647, do CPP, será cabível 
sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua 
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder, não se limitando aos casos 
de prisão. As hipóteses de coação ilegal, isto é, quando o ato estatal é desprovido de 
amparo legal, estão previstas no art. 648, do CPP. 
Por se tratar de um dos mecanismos mais eficazes de defesa e proteção dos 
direitos individuais, deve ter procedimento célere. Assim, há a possibilidade de uma 
medida liminar, de natureza cautelar, que permite ao órgão jurisdicional uma 
intervenção imediata, fundada na verossimilhança da ilegalidade do ato (fumus boni 
 
1 “A regra é que as decisões interlocutórias simples sejam irrecorríveis, não ocorrendo, precisamente por isso, preclusão 
das vias impugnativas de tais questões, razão pela qual elas poderão ser rediscutidas por ocasião do recurso de apelação. 
Dependendo de suas consequências jurídicas, poderão ser objeto até mesmo de ações autônomas, como o habeas corpus 
e o mandado de segurança (cabível também em matéria criminal), como é o caso da decisão de recebimento da denúncia 
ou queixa e do indeferimento de habilitação do assistente, respectivamente”. (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de 
Processo Penal. 14. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2011. p. 567) 
 
 7 
iuris) e no perigo derivado do dano inerente à demora da prestação jurisdicional 
ordinária (periculum in mora). 
O mandado de segurança, por sua vez, é um importante instrumento jurídico 
existente no ordenamento jurídico brasileiro para a reparação de abusos 
administrativos. Nos termos do art. 5º, LXIX, da CR/88, bem como do art. 1º, da Lei nº 
12.016/09, será concedido para proteção de direito líquido e certo, não amparado por 
habeas corpus ou habeas data, sempre que algum cidadão brasileiro sofrer violação 
ou houver justo receio de sofrê-la, por ato ilegal ou com abuso de poder de autoridade 
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público, seja 
de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. 
E justamente por ampliar o âmbito de proteção não alcançado pelo habeas 
corpus, constitui-se o mandado de segurança em um importante instrumento 
processual-constitucional, colocado à disposição dos cidadãos. Encontra-se 
regulamentado pela Lei nº 12.016/09. Importante ressalva é a de que o exercício da 
ação de Mandado de Segurança está submetido ao prazo decadencial de 120 (cento e 
vinte) dias, nos termos do art. 23, da Lei nº 12.016/09. 
Já a Revisão Criminal é um meio extraordinário de impugnação, não submetido 
a prazos, que tem como objetivo rescindir uma sentença transitada em julgado. Trata-
se de uma ação independente que visa anular ou reformar injustas sentenças 
condenatórias transitadas em julgado. Está prevista nos artigos 621 a 631, do CPP, 
sendo que as hipóteses taxativas de cabimento se encontram no art. 621, do CPP. 
Desta forma, você precisa tomar alguma dessas providências de maneira 
imediata, já que seu cliente se encontra preso e você não tem dúvidas de que a 
decretação da prisão preventiva configura uma coação absolutamente ilegal, pois não 
há motivos para que ele não responda ao processo em liberdade, principalmente, 
porque não tem qualquer participação na conduta criminosa. 
 
 8 
E então, caro aluno, já sabe qual é a medida a ser adotada? 
Cumpre ressaltar, ainda, que em situações como esta, independentemente do 
meio de acesso ao Judiciário, apenas dois pedidos podem ser realizados, dependendo 
das circunstâncias: pedido de relaxamento de prisão e/ou pedido de liberdade 
provisória. 
Independente da modalidade da prisão, chegando ao conhecimento da 
autoridade judicial a existência de uma prisão ilegal, isto é, prisões determinadas sem 
a observância das previsões legais, deverá a autoridade judicial, nos limites de seu 
poder jurisdicional, determinar seu imediato relaxamento. É, portanto, cabível em 
qualquer procedimento, para quaisquer crimes, quando houver excesso de prazo ou 
qualquer outra irregularidade na prisão. Uma vez relaxada a prisão, a consequência 
imediata será a soltura do preso, sem a imposição a ele de quaisquer restrições de 
direitos (medidas cautelares), por se tratar da anulação de um ato praticado com 
violação à lei. 
O relaxamento de prisão está previsto no art. 5º, inciso LXV, da Constituição da 
República: “LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade 
judiciária”. 
A liberdade provisória, por sua vez, será cabível sempre que a prisão cautelar for 
legal, a lei permitir e não for necessária e adequada a manutenção da prisão do 
indivíduo (prisão preventiva – art. 312, do CPP). Desta forma, a prisão preventiva é 
substituída por qualquer uma das medidas cautelares diversas da prisão previstas no 
artigo 319, do CPP, e o sujeito é posto imediatamente em liberdade. 
A liberdade provisória está prevista no artigo 321, do CPP: 
Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da 
prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, 
impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 
 
 9 
deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 
deste Código. 
 
Desta forma, por tudo o que foi relembrado aqui, percebe-se que é a 
(i)legalidade da prisão que irá determinar qual será o pedido a ser formulado. Isso 
porque, se for ilegal, o pedido a ser elaborado será o de relaxamento da prisão. Por 
outro lado, se for legal, mas cabível a sua substituição por qualquer outra espécie de 
cautelar diversa da prisão, a medida cabível será o pedido de liberdade provisória. 
Para isso, torna-se fundamental analisar as hipóteses em que se admite a prisão 
em flagrante delito. Flagrante esse que se dá sempre que o indivíduo for surpreendido 
e capturado no momento do cometimento da infração penal, sendo ela tentada ou 
consumada. 
Tais espécies estão previstas no artigo 302, do Código de Processo Penal: 
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: 
I - está cometendo a infração penal; 
II - acaba de cometê-la; 
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por 
qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da 
infração; 
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos 
ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. 
 
Apesar de possuírem a mesma consequência jurídica, a doutrina divide as 
hipóteses de flagrante em três espécies: 
1) Flagrante Próprio: art. 302, incisos I e II, do CPP. Em regra, considera-se a 
execução no momento em que pratica ou se inicia a realização do verbo nuclear do 
 
 10 
tipo. Também é importante ressaltar que, quando o dispositivo legal afirma que “o 
autor está cometendo ou acaba de praticar uma infração penal”, entende-se que o 
fato deve ser típico, jurídico e culpável, cuja análise será apreciada em sede policial. 
Contudo, esse não é o entendimento majoritário. A jurisprudência quase consensual 
tem entendido que a expressão “infração penal” indicaria apenas que o fato – objeto 
de investigação inicial – é, no mínimo, típico. Por essa razão, tem-se prevalecido o 
procedimento que autoriza o policial proceder à prisão em flagrante ainda que 
constate, à primeira vista, eventuais causas excludentes de ilicitude e culpabilidade, 
como a legítima defesa. 
2) Flagrante Impróprio: art. 302, inciso III, do CPP. O fator decisivo no flagrante 
impróprio é a imediatidade, de modo a caracterizar a situação de flagrante. A 
perseguição deve ser iniciada logo após o cometimento do fato, ainda que o 
perseguidor não o tenha efetivamente presenciado. Entretanto, não há critério 
objetivo para a definição da expressão “logo após”, devendo esta ser analisada de 
acordo com o caso concreto e suas circunstâncias. 
3) Flagrante Presumido: art. 302, inciso IV, do CPP. A doutrina entendeque a 
diferença entre o flagrante impróprio e o flagrante presumido reside no fato de que, 
no primeiro, há uma perseguição, e no outro, ocorre um encontro (fortuito, casual). 
Em relação às hipóteses de flagrante próprio, previsto nos incisos I e II, do CPP, 
vale a pena relembrarmos os institutos do flagrante forjado, preparado, bem como do 
flagrante esperado. 
O fragrante forjado ocorre quando é criada uma situação fática, até então 
inexistente para incriminar uma pessoa determinada. Em outras palavras, quando se 
forjam provas de um crime que não ocorreu. 
 
 11 
Já o flagrante preparado (ou provocado) existe quando há uma indução, um 
estímulo, uma participação fundamental das autoridades estatais para que a situação 
fática causadora da prisão exista. Isto é, quando o agente, por meio de uma cilada, 
uma encenação teatral, é impelido à prática de um delito por um agente provocador, 
normalmente um policial ou alguém sob sua orientação2. 
Por estar inteiramente sob o controle das autoridades que, inclusive, foram 
determinantes para a existência da situação fática, considera-se que o agente não 
possui qualquer chance de êxito em sua empreitada criminosa, já que em momento 
algum o bem jurídico tutelado é colocado em risco. Deste modo, aplica-se a regra do 
crime impossível, prevista no art. 17, do Código Penal: “Art. 17. Não se pune a tentativa 
quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é 
impossível consumar-se o crime”. 
Logo, não restam dúvidas de que tanto o flagrante preparado quanto o forjado 
são ilegais. Prova disso é o comando existente na Súmula 145, do STF: “Súmula 145 
STF: Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a 
sua consumação”. 
Por outro lado, o flagrante esperado ocorre quando a polícia não induz ou instiga 
ninguém, apenas se coloca em campana (vigilância) e atinge o objetivo de prender o 
agente. Como não há qualquer interferência das autoridades no fato, mas apenas uma 
conduta de espera até que o delito esteja ocorrendo para realizar a prisão, a doutrina 
majoritária entende que o flagrante esperado é perfeitamente válido3. 
Entretanto, tal diferenciação (entre flagrante preparado ou esperado) exige 
sempre muito cuidado e tem sua (i)legalidade aferida em cada caso concreto. 
 
2 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva. 2014. p. 871. 
3 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva. 2014. p. 872. 
 
 
 12 
Por fim, não podemos nos esquecer que o rol constante do art. 302, do CPP, é 
taxativo, ou seja, só será considerada prisão em flagrante delito aquela prisão realizada 
em uma das hipóteses ali previstas, sob pena de tal ato ser ilegal e, portanto, passível 
de imediato relaxamento. 
A prisão em flagrante é uma medida pré-cautelar de caráter pessoal, mas que 
independe de ordem judicial e que se esgota tão logo cumpridas as suas funções 
(procurar evitar, o máximo possível, que a ação criminosa possa vir a produzir todos 
os seus efeitos; facilitar a investigação, já que a qualidade e a idoneidade da prova 
colhida imediatamente após a prática do delito são muito maiores). 
Desta forma, não há justificativa para que ela prossiga no tempo. Tanto que, 
uma vez cumpridas as funções da prisão em flagrante, impõe-se ao juiz que seja 
devidamente fundamentada a manutenção da prisão realizada em flagrante delito, 
seja pela conversão em prisão preventiva, seja pela imposição de outra medida 
cautelar. 
A prisão preventiva, que tem como função garantir a tutela da persecução penal, 
objetivando impedir que eventuais condutas praticadas pelo acusado e ou por 
terceiros possam colocar em risco a efetividade da investigação ou do processo, está 
prevista nos artigos 311 a 316, do CPP: 
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do 
processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, 
de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do 
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por 
representação da autoridade policial. 
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia 
da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da 
instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, 
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente 
de autoria. 
 
 13 
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser 
decretada em caso de descumprimento de qualquer das 
obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 
282, § 4º). 
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a 
decretação da prisão preventiva: 
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade 
máxima superior a 4 (quatro) anos; 
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença 
transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput 
do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - 
Código Penal; 
 
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a 
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com 
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de 
urgência; 
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva 
quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou 
quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, 
devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após 
a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção 
da medida. 
Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se 
o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente 
praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do 
caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 
1940 - Código Penal. 
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão 
preventiva será sempre motivada. 
Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do 
processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como 
de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. 
(grifos nossos) 
 
 14 
 
A Lei nº 12.403/11, que alterou o capítulo de prisão e liberdade provisória do 
Código de Processo Penal, assumiu a natureza cautelar de toda espécie de prisão antes 
do trânsito em julgado. Além disso, ampliou o leque de alternativas para a proteção da 
regular tramitação do processo penal, com a instituição de diversas outras 
modalidades de medidas cautelares que, mesmo sendo menos agressivas ao indivíduo, 
são tão eficazes quanto a prisão. 
Tudo isso para compatibilizar o referido capítulo à ordem constitucional 
democrática que, desde 1988, consagrou a liberdade e o estado jurídico de inocência 
como direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros (art. 5º, da CRFB/88). 
Desta forma, toda e qualquer medida cautelar, inclusive a prisão preventiva, 
deverá se basear na indispensabilidade, a ser aferida em decisão judicial 
fundamentada. 
A prisão preventiva, por sua vez, medida cautelar mais grave, passou a ser 
entendida como a “ultima ratio” e, portanto, só podendo ser decretada de maneira 
subsidiária, isto é, somente quando nenhuma das outras medidas cautelares for 
necessária e adequada ao caso. Nesse sentido, dispõem o caput e o § 6º do artigo 282, 
do CPP: 
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser 
aplicadas observando-se a: 
I - Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou 
a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para 
evitar a prática de infrações penais; 
II - Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do 
fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. 
(...) 
 
 15 
§ 6º - A prisão preventiva será determinada quando não for cabível 
a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319). 
 
Assim, a prisão preventiva só pode ser decretada quando não houver nenhuma 
outra medida cautelar diversada prisão adequada a garantir a efetividade da 
investigação ou do processo. Havendo, elas devem ser aplicadas obrigatoriamente. 
Tais medidas cautelares estão previstas nos artigos 319 e 320, do CPP: 
MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO INCLUÍDAS A PARTIR DA LEI Nº 
12.403/2011 
Comparecimento periódico em juízo no 
prazo e nas condições fixadas pelo juiz. 
Suspensão do exercício de função 
pública ou de atividade de natureza 
econômica. 
Proibição de acesso ou frequência a 
determinados lugares. 
Recolhimento domiciliar no período 
noturno e nos dias de folga. 
Proibição de manter contato com pessoa 
determinada. 
Proibição de ausentar-se do país, 
mediante a entrega do passaporte. 
Proibição de ausentar-se da Comarca. Monitoração eletrônica. 
Internação provisória do Acusado. Fiança. 
Fonte: elaborado pelo autor (2017). 
 
Desta forma, sempre que a regularidade do processo ou da investigação puder 
ser garantida através de uma ou mais medidas cautelares diversas da prisão, ela deve 
ser, preferencialmente, decretada por meio do instituto da liberdade provisória. 
Não há, contudo, a necessidade de se escolher qual a medida cautelar diversa 
da prisão a ser decretada. Tal função cabe à autoridade judiciária exclusivamente. 
 
 16 
Observe o quadro a seguir com uma síntese dos fundamentos legais: 
Quadro Síntese 
Habeas Corpus Arts. 647 a 667, do CPP. 
Súmulas 208, 319, 606, 690 a 694, do 
STF. 
Mandado de segurança Lei nº 12.016/09. 
Revisão criminal Art. 621 a 631, do CPP 
Prisão preventiva Arts. 311 a 316, do CPP. 
Medidas cautelares Art. 282, do CPP. 
Espécies de medidas cautelares 
diversas da prisão 
Arts. 319 e 320, do CPP. 
 
Liberdade provisória Arts. 321 a 350 do CPP (em especial, arts. 
321 e 322). 
Relaxamento de prisão Art. 5º, LXV, da CR/88. 
Prisão em flagrante Art. 302, do CPP. 
Fonte: elaborado pelo autor. 
 
Com todos os elementos fornecidos, agora, você já está apto a responder: a 
prisão em flagrante de seu cliente foi legal ou ilegal? Qual é a medida processual a ser 
adotada? 
Com certeza, você já sabe qual é a peça adequada e os passos que devem ser 
seguidos! 
 
 
 17 
 
 
Questão 01 
Texto-base: Maria, desempregada e mãe de três filhos menores, foi presa em flagrante 
delito acusada de ter cometido o delito de roubo, ao tentar subtrair pacotes de fraldas 
de uma farmácia, portanto uma arma de fogo. 
Enunciado: Com relação a esta prisão em flagrante, assinale a alternativa CORRETA: 
a) O flagrante preparado de Maria seria admitido pela doutrina e jurisprudência, desde 
que os atos preparatórios não interferissem na organização do crime pelo agente da 
conduta delituosa. 
b) Considera-se flagrante próprio aquele em que o agente está cometendo o crime e, 
somente neste caso, admite-se que qualquer do povo possa prender o autor da 
infração penal. 
c) O flagrante esperado de Maria seria aceito pela doutrina e jurisprudência. 
Consiste, em suma, nas medidas de vigilância adotadas pela autoridade policial ou 
pelo particular que, no momento da execução do crime, prende o agente. 
d) Caso Maria seja presa em flagrante delito, o auto de prisão em flagrante não poderá 
ser lavrado até o comparecimento do defensor público para assistência jurídica ao 
preso. 
e) Na hipótese de Maria, na posse dos objetos roubados, ter sido perseguida pela 
autoridade policial por dois dias seguidos, sem interrupção, não se poderá mais 
reconhecer o flagrante, devido ao decurso de mais de 24 horas da prática do fato 
delituoso. 
Resposta: LETRA C. 
 
Primeira fase! 
 
 18 
Comentário: 
a) INCORRETA – Súmula 145, do STF. 
b) INCORRETA – Admite-se que qualquer do povo possa prender o autor da infração 
penal em qualquer das hipóteses de flagrante previstas no artigo 302, do CPP. 
c) CORRETA – Não há qualquer interferência por parte da polícia. 
d) INCORRETA – Não há essa necessidade. A Defensoria deve ser apenas comunicada 
da prisão. 
e) INCORRETA – Não há qualquer previsão legal quanto ao prazo máximo. 
 
Questão 02 
Texto-base: As hipóteses de prisão em flagrante delito encontram-se previstas no 
artigo 302, do CPP, que apresenta um rol taxativo. 
 
Enunciado: Dentre as hipóteses de prisão em flagrante, destaca-se a o flagrante 
preparado, o qual ocorre quando: 
 
a) O agente não é induzido a praticar o crime. 
b) Não se prende o autor imediatamente, pois se espera que ele cometa o crime mais 
grave para, então, prendê-lo. 
c) Sem qualquer interferência, a polícia aguarda o momento da execução do crime para 
efetuar a prisão. 
d) O agente não é levado a cometer o fato para ser preso. 
 
 19 
e) Quando há fundamental interferência da polícia da realização do ato. 
 
Resposta: LETRA E. 
Comentário: O flagrante preparado (ou provocado) existe quando há uma indução, um 
estímulo, uma participação fundamental das autoridades estatais para que a situação 
fática causadora da prisão exista. Isto é, quando o agente, por meio de uma cilada, 
uma encenação teatral, é impelido à prática de um delito por um agente provocador, 
normalmente, um policial ou alguém sob sua orientação. 
 
 
 
Caro aluno, qual ação deverá ser proposta? Revisão criminal? Mandado de 
segurança? Ou habeas corpus? 
Você já sabe que qualquer peça começa pelo endereçamento, que, obviamente, 
não pode estar errado. Para isso, deve-se verificar, com muita atenção, a autoridade 
judiciária competente para analisar e, se for o caso, reformar a decisão questionada. 
Para isso, é fundamental a verificação de quem é a autoridade coatora (isto é, a 
autoridade responsável pela coação ilegal). 
Em relação ao prazo, o habeas corpus e a revisão criminal não possuem prazo 
para interposição. O mandado de segurança, por sua vez, deve ser impetrado no prazo 
de 120 (cento e vinte) dias, contados a partir da ciência do ato impugnado pelo 
interessado (art. 23, da Lei nº 12.016/09. 
Nesta etapa, após a definição da petição adequada ao caso, é preciso estar 
atento à (ir)regularidade do procedimento adotado, bem como à correta 
fundamentação legal. 
Vamos Peticionar! 
 
 20 
Não se esqueça, também, de fazer referência em sua peça, da juntada de 
comprovante de residência, certidão de antecedentes criminais (em caso de réu 
primário) e comprovante de trabalho ou de estudo (se houver), para demonstrar o 
intuito de seu cliente em colaborar e participar do processo. 
Além disso, recomenda-se juntar cópia integral de todo o procedimento 
existente até o momento (auto de prisão em flagrante delito, ata da audiência de 
custódia etc.). 
Nos pedidos, como o objetivo é a imediata libertação do Zé da Farmácia, é 
fundamental e obrigatório que se peça a expedição de alvará de soltura, que é o único 
meio de se atingir esse fim. 
Lembre-se de que, no Exame de Ordem você será avaliado pela correta 
indicação do foro competente, preâmbulo, qualificação das partes, fundamentação 
jurídica, pedidos e requerimentos, lógica e argumentação, além de ortografia e 
gramática. Vamos peticionar?

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