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Seção 1 SUA PETIÇÃO DIREITO PENAL 2 SUA CAUSA! Olá, operador do Direito! Mais uma vez, trabalharemos a prática da realidade profissional do Direito Penal. As atividades da prática jurídica são sempre muito desafiadoras, mas igualmente gratificantes, e o auxiliarão no estudo de todas as demais disciplinas jurídicas que serão trabalhadas. Sua dedicação, aliada a uma correta preparação e aprendizado, fará de você um profissional capacitado na atuação prático-profissional na advocacia criminal. Quanto à habilitação profissional, a aprovação no “Exame de Ordem” será uma mera consequência de seu empenho. Mas tenha a certeza de que iremos trilhar o caminho correto para que você obtenha o sucesso desejado no exame, a partir do estudo do processo e do direito material. O que lhe aguarda é uma carreira profissional brilhante. Vamos juntos? Nesta seção, você se posicionará como um advogado criminalista contratado para defender os interesses do Sr. José Percival da Silva, também conhecido como Zé da Farmácia. Zé da Farmácia é um político muito famoso, do Município de Conceição do Agreste/CE, possuindo grande influência em todo o estado do Ceará, e que, atualmente, ocupa o cargo de Presidente da Câmara dos Vereadores daquele município. Seção 1 DIREITO PENAL Na prática! 3 Por ser muito conhecido, Zé da Farmácia sempre atraiu os “holofotes” da imprensa local, bem como os olhares atentos das autoridades policiais. Tanto que todo esse “sucesso” acabou lhe custando muito caro. Isso porque, no dia 03 de fevereiro de 2018, o Delegado de Polícia do Município, Dr. João Rajão, recebeu em seu gabinete o Sr. Paulo Matos, empresário, sócio de uma empresa interessada em participar das contratações a serem realizadas pela Câmara de Vereadores. Imediatamente, o Sr. Paulo relatou ao Delegado que, naquela data, o Vereador João Santos, o João do Açougue, que exerce, atualmente, a função de Presidente da Comissão de Finanças e Contratos da Câmara de Vereadores do Município de Conceição do Agreste/CE, junto aos vereadores Fernando Caetano e Maria do Rosário, membros da mesma Comissão, haviam exigido de Paulo o pagamento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para que sua empresa pudesse participar do referido procedimento licitatório, que estava agendado para o dia seguinte. A vítima estava bastante nervosa e apreensiva com tal exigência, uma vez que sua empresa preenchia todos os requisitos legais para participar da referida concorrência, que era fundamental, inclusive, para a manutenção de seu negócio. Deste modo, não titubeou em procurar a polícia e relatar todo o ocorrido. Após ouvir atentamente a narrativa de Paulo, o Delegado João, visando prender todos os envolvidos em flagrante delito, orientou Paulo a sacar o dinheiro e combinar com os vereadores a entrega da quantia na própria sessão de realização da licitação, oportunidade em que uma equipe de policiais disfarçados estaria presente para efetuar a prisão dos envolvidos. Assim, no dia seguinte, no horário e local designados para a realização da concorrência pública, os policiais, que esperavam o ato, realizaram a prisão em flagrante dos vereadores João do Açougue, Fernando Caetano e Maria do Rosário, no momento em que estes conferiam o valor entregue por Paulo. 4 Ocorre que, por ironia do destino, seu cliente, Zé da Farmácia, na qualidade de Presidente da Câmara de Vereadores do Município de Conceição do Agreste/CE, resolveu, naquele exato dia, assistir à Sessão da Comissão de Finanças e Contratos da Câmara para verificar se ela estava realizando seu trabalho de maneira correta e eficaz. Desta forma, mesmo sem ter ciência de nenhum dos fatos aqui narrados, estava presente no Plenário da Câmara no momento da operação policial e acabou também preso em flagrante, acusado de participar do esquema criminoso. Apresentados ao Delegado João Rajão, este lavrou o respectivo auto de prisão em flagrante delito da forma estabelecida na legislação pátria (pela prática do delito de corrupção passiva, previsto no artigo 317, do Código Penal) e o encaminhou ao Juiz competente no prazo devido. Comunicada a Autoridade Judiciária, esta determinou a apresentação dos presos, em audiência de custódia, a ser realizada no dia seguinte à prisão. Na data e no horário designados, os réus foram representados pelo Procurador da Câmara dos Vereadores, que requereu a liberdade deles, com a decretação de medidas cautelares diversas da prisão. Entretanto, o MM. Juiz, acatando o pedido do Ministério Público de conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, decretou a prisão preventiva de todos, nos termos do art. 310, II, c/c art. 312, c/c art. 313, I, todos do CPP, para garantia da ordem pública, tendo em vista a gravidade e a repercussão do crime. No dia seguinte, você, como ADVOGADO, é procurado pela esposa do Zé da Farmácia, que, desesperada, deseja contratá-lo para atuar na defesa de seu cliente. ADVOGADO: O pedido realizado pelo Procurador da Câmara dos Vereadores foi correto? Qual é a medida a ser tomada visando à imediata liberdade de seu cliente? A prisão dele foi legal? 5 Uma vez apresentado o caso concreto, você, caro aluno, deve começar a analisar o ocorrido e pensar nas providências a serem tomadas. Visando à resolução deste caso, passaremos por algumas noções de Processo Penal, as quais lhe servirão de ferramenta na elaboração da peça cabível e na resolução de questões. No caso hipotético apresentado, seu cliente Zé da Farmácia foi preso em flagrante delito, acusado da prática do crime de corrupção passiva, e teve sua prisão preventiva decretada após a realização de audiência de custódia. Assim, cabe a você, enquanto advogado contratado para defender os interesses do Zé da Farmácia, traçar a estratégia mais adequada no sentido de obter a imediata libertação de seu cliente. Logo, o primeiro passo é decidir qual é o instrumento adequado (peça), bem como o pedido correto a ser realizado. A primeira alternativa que vem em mente é a interposição de um recurso. Como sabemos, os recursos são meios voluntários de impugnação de uma decisão judicial, decorrentes do princípio do duplo grau de jurisdição, que têm como objetivo o reexame do conteúdo decisório por um órgão jurisdicional superior. Entretanto, tal interposição depende de previsão expressa na lei, conforme requisito do cabimento (possibilidade de se impugnar uma decisão). Ou seja, caso a lei vede a interposição de recurso contra determinado ato judicial e a parte, ainda assim, interpuser uma das espécies de recurso, este sequer será admitido (conhecido) pelo Poder Judiciário, por ausência do requisito processual do cabimento. E é exatamente essa a hipótese do presente caso. Isso porque, como a decisão que decreta a prisão preventiva tem natureza jurídica de decisão interlocutória simples Fundamentando! 6 (aquela que decide questão processual, sem encerrar a relação processual ou uma etapa procedimental), trata-se de ato judicial, em regra, irrecorrível1. Assim, recomenda-se fazer uma análise das ações de impugnação autônomas existentes no processo penal: habeas corpus, mandado de segurança e revisão criminal. Tais ações, conforme já dito, não constituem recursos e, assim, não se subordinam aos requisitos recursais e, por serem autônomas, sequer exigem uma decisão judicial não transitada em julgado. Podem, inclusive, ser utilizadas em casos de decisões com trânsito em julgado formal e material. O habeas corpus caracteriza-se por ser uma ação de impugnação autônoma, de natureza mandamental e de cognição sumária, também não submetida a prazos, destinada a garantir a proteção da liberdade de locomoção dos cidadãos, em casos de atos abusivos do Estado. Encontra-se previsto nos artigos 647 a 667, do CPP.Nos termos do art. 5º, LXVIII, da CR/88, e do art. 647, do CPP, será cabível sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder, não se limitando aos casos de prisão. As hipóteses de coação ilegal, isto é, quando o ato estatal é desprovido de amparo legal, estão previstas no art. 648, do CPP. Por se tratar de um dos mecanismos mais eficazes de defesa e proteção dos direitos individuais, deve ter procedimento célere. Assim, há a possibilidade de uma medida liminar, de natureza cautelar, que permite ao órgão jurisdicional uma intervenção imediata, fundada na verossimilhança da ilegalidade do ato (fumus boni 1 “A regra é que as decisões interlocutórias simples sejam irrecorríveis, não ocorrendo, precisamente por isso, preclusão das vias impugnativas de tais questões, razão pela qual elas poderão ser rediscutidas por ocasião do recurso de apelação. Dependendo de suas consequências jurídicas, poderão ser objeto até mesmo de ações autônomas, como o habeas corpus e o mandado de segurança (cabível também em matéria criminal), como é o caso da decisão de recebimento da denúncia ou queixa e do indeferimento de habilitação do assistente, respectivamente”. (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 14. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2011. p. 567) 7 iuris) e no perigo derivado do dano inerente à demora da prestação jurisdicional ordinária (periculum in mora). O mandado de segurança, por sua vez, é um importante instrumento jurídico existente no ordenamento jurídico brasileiro para a reparação de abusos administrativos. Nos termos do art. 5º, LXIX, da CR/88, bem como do art. 1º, da Lei nº 12.016/09, será concedido para proteção de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que algum cidadão brasileiro sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la, por ato ilegal ou com abuso de poder de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. E justamente por ampliar o âmbito de proteção não alcançado pelo habeas corpus, constitui-se o mandado de segurança em um importante instrumento processual-constitucional, colocado à disposição dos cidadãos. Encontra-se regulamentado pela Lei nº 12.016/09. Importante ressalva é a de que o exercício da ação de Mandado de Segurança está submetido ao prazo decadencial de 120 (cento e vinte) dias, nos termos do art. 23, da Lei nº 12.016/09. Já a Revisão Criminal é um meio extraordinário de impugnação, não submetido a prazos, que tem como objetivo rescindir uma sentença transitada em julgado. Trata- se de uma ação independente que visa anular ou reformar injustas sentenças condenatórias transitadas em julgado. Está prevista nos artigos 621 a 631, do CPP, sendo que as hipóteses taxativas de cabimento se encontram no art. 621, do CPP. Desta forma, você precisa tomar alguma dessas providências de maneira imediata, já que seu cliente se encontra preso e você não tem dúvidas de que a decretação da prisão preventiva configura uma coação absolutamente ilegal, pois não há motivos para que ele não responda ao processo em liberdade, principalmente, porque não tem qualquer participação na conduta criminosa. 8 E então, caro aluno, já sabe qual é a medida a ser adotada? Cumpre ressaltar, ainda, que em situações como esta, independentemente do meio de acesso ao Judiciário, apenas dois pedidos podem ser realizados, dependendo das circunstâncias: pedido de relaxamento de prisão e/ou pedido de liberdade provisória. Independente da modalidade da prisão, chegando ao conhecimento da autoridade judicial a existência de uma prisão ilegal, isto é, prisões determinadas sem a observância das previsões legais, deverá a autoridade judicial, nos limites de seu poder jurisdicional, determinar seu imediato relaxamento. É, portanto, cabível em qualquer procedimento, para quaisquer crimes, quando houver excesso de prazo ou qualquer outra irregularidade na prisão. Uma vez relaxada a prisão, a consequência imediata será a soltura do preso, sem a imposição a ele de quaisquer restrições de direitos (medidas cautelares), por se tratar da anulação de um ato praticado com violação à lei. O relaxamento de prisão está previsto no art. 5º, inciso LXV, da Constituição da República: “LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”. A liberdade provisória, por sua vez, será cabível sempre que a prisão cautelar for legal, a lei permitir e não for necessária e adequada a manutenção da prisão do indivíduo (prisão preventiva – art. 312, do CPP). Desta forma, a prisão preventiva é substituída por qualquer uma das medidas cautelares diversas da prisão previstas no artigo 319, do CPP, e o sujeito é posto imediatamente em liberdade. A liberdade provisória está prevista no artigo 321, do CPP: Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 9 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código. Desta forma, por tudo o que foi relembrado aqui, percebe-se que é a (i)legalidade da prisão que irá determinar qual será o pedido a ser formulado. Isso porque, se for ilegal, o pedido a ser elaborado será o de relaxamento da prisão. Por outro lado, se for legal, mas cabível a sua substituição por qualquer outra espécie de cautelar diversa da prisão, a medida cabível será o pedido de liberdade provisória. Para isso, torna-se fundamental analisar as hipóteses em que se admite a prisão em flagrante delito. Flagrante esse que se dá sempre que o indivíduo for surpreendido e capturado no momento do cometimento da infração penal, sendo ela tentada ou consumada. Tais espécies estão previstas no artigo 302, do Código de Processo Penal: Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: I - está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-la; III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. Apesar de possuírem a mesma consequência jurídica, a doutrina divide as hipóteses de flagrante em três espécies: 1) Flagrante Próprio: art. 302, incisos I e II, do CPP. Em regra, considera-se a execução no momento em que pratica ou se inicia a realização do verbo nuclear do 10 tipo. Também é importante ressaltar que, quando o dispositivo legal afirma que “o autor está cometendo ou acaba de praticar uma infração penal”, entende-se que o fato deve ser típico, jurídico e culpável, cuja análise será apreciada em sede policial. Contudo, esse não é o entendimento majoritário. A jurisprudência quase consensual tem entendido que a expressão “infração penal” indicaria apenas que o fato – objeto de investigação inicial – é, no mínimo, típico. Por essa razão, tem-se prevalecido o procedimento que autoriza o policial proceder à prisão em flagrante ainda que constate, à primeira vista, eventuais causas excludentes de ilicitude e culpabilidade, como a legítima defesa. 2) Flagrante Impróprio: art. 302, inciso III, do CPP. O fator decisivo no flagrante impróprio é a imediatidade, de modo a caracterizar a situação de flagrante. A perseguição deve ser iniciada logo após o cometimento do fato, ainda que o perseguidor não o tenha efetivamente presenciado. Entretanto, não há critério objetivo para a definição da expressão “logo após”, devendo esta ser analisada de acordo com o caso concreto e suas circunstâncias. 3) Flagrante Presumido: art. 302, inciso IV, do CPP. A doutrina entendeque a diferença entre o flagrante impróprio e o flagrante presumido reside no fato de que, no primeiro, há uma perseguição, e no outro, ocorre um encontro (fortuito, casual). Em relação às hipóteses de flagrante próprio, previsto nos incisos I e II, do CPP, vale a pena relembrarmos os institutos do flagrante forjado, preparado, bem como do flagrante esperado. O fragrante forjado ocorre quando é criada uma situação fática, até então inexistente para incriminar uma pessoa determinada. Em outras palavras, quando se forjam provas de um crime que não ocorreu. 11 Já o flagrante preparado (ou provocado) existe quando há uma indução, um estímulo, uma participação fundamental das autoridades estatais para que a situação fática causadora da prisão exista. Isto é, quando o agente, por meio de uma cilada, uma encenação teatral, é impelido à prática de um delito por um agente provocador, normalmente um policial ou alguém sob sua orientação2. Por estar inteiramente sob o controle das autoridades que, inclusive, foram determinantes para a existência da situação fática, considera-se que o agente não possui qualquer chance de êxito em sua empreitada criminosa, já que em momento algum o bem jurídico tutelado é colocado em risco. Deste modo, aplica-se a regra do crime impossível, prevista no art. 17, do Código Penal: “Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”. Logo, não restam dúvidas de que tanto o flagrante preparado quanto o forjado são ilegais. Prova disso é o comando existente na Súmula 145, do STF: “Súmula 145 STF: Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”. Por outro lado, o flagrante esperado ocorre quando a polícia não induz ou instiga ninguém, apenas se coloca em campana (vigilância) e atinge o objetivo de prender o agente. Como não há qualquer interferência das autoridades no fato, mas apenas uma conduta de espera até que o delito esteja ocorrendo para realizar a prisão, a doutrina majoritária entende que o flagrante esperado é perfeitamente válido3. Entretanto, tal diferenciação (entre flagrante preparado ou esperado) exige sempre muito cuidado e tem sua (i)legalidade aferida em cada caso concreto. 2 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva. 2014. p. 871. 3 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva. 2014. p. 872. 12 Por fim, não podemos nos esquecer que o rol constante do art. 302, do CPP, é taxativo, ou seja, só será considerada prisão em flagrante delito aquela prisão realizada em uma das hipóteses ali previstas, sob pena de tal ato ser ilegal e, portanto, passível de imediato relaxamento. A prisão em flagrante é uma medida pré-cautelar de caráter pessoal, mas que independe de ordem judicial e que se esgota tão logo cumpridas as suas funções (procurar evitar, o máximo possível, que a ação criminosa possa vir a produzir todos os seus efeitos; facilitar a investigação, já que a qualidade e a idoneidade da prova colhida imediatamente após a prática do delito são muito maiores). Desta forma, não há justificativa para que ela prossiga no tempo. Tanto que, uma vez cumpridas as funções da prisão em flagrante, impõe-se ao juiz que seja devidamente fundamentada a manutenção da prisão realizada em flagrante delito, seja pela conversão em prisão preventiva, seja pela imposição de outra medida cautelar. A prisão preventiva, que tem como função garantir a tutela da persecução penal, objetivando impedir que eventuais condutas praticadas pelo acusado e ou por terceiros possam colocar em risco a efetividade da investigação ou do processo, está prevista nos artigos 311 a 316, do CPP: Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. 13 Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º). Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal. Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada. Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (grifos nossos) 14 A Lei nº 12.403/11, que alterou o capítulo de prisão e liberdade provisória do Código de Processo Penal, assumiu a natureza cautelar de toda espécie de prisão antes do trânsito em julgado. Além disso, ampliou o leque de alternativas para a proteção da regular tramitação do processo penal, com a instituição de diversas outras modalidades de medidas cautelares que, mesmo sendo menos agressivas ao indivíduo, são tão eficazes quanto a prisão. Tudo isso para compatibilizar o referido capítulo à ordem constitucional democrática que, desde 1988, consagrou a liberdade e o estado jurídico de inocência como direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros (art. 5º, da CRFB/88). Desta forma, toda e qualquer medida cautelar, inclusive a prisão preventiva, deverá se basear na indispensabilidade, a ser aferida em decisão judicial fundamentada. A prisão preventiva, por sua vez, medida cautelar mais grave, passou a ser entendida como a “ultima ratio” e, portanto, só podendo ser decretada de maneira subsidiária, isto é, somente quando nenhuma das outras medidas cautelares for necessária e adequada ao caso. Nesse sentido, dispõem o caput e o § 6º do artigo 282, do CPP: Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: I - Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; II - Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. (...) 15 § 6º - A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319). Assim, a prisão preventiva só pode ser decretada quando não houver nenhuma outra medida cautelar diversada prisão adequada a garantir a efetividade da investigação ou do processo. Havendo, elas devem ser aplicadas obrigatoriamente. Tais medidas cautelares estão previstas nos artigos 319 e 320, do CPP: MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO INCLUÍDAS A PARTIR DA LEI Nº 12.403/2011 Comparecimento periódico em juízo no prazo e nas condições fixadas pelo juiz. Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica. Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares. Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga. Proibição de manter contato com pessoa determinada. Proibição de ausentar-se do país, mediante a entrega do passaporte. Proibição de ausentar-se da Comarca. Monitoração eletrônica. Internação provisória do Acusado. Fiança. Fonte: elaborado pelo autor (2017). Desta forma, sempre que a regularidade do processo ou da investigação puder ser garantida através de uma ou mais medidas cautelares diversas da prisão, ela deve ser, preferencialmente, decretada por meio do instituto da liberdade provisória. Não há, contudo, a necessidade de se escolher qual a medida cautelar diversa da prisão a ser decretada. Tal função cabe à autoridade judiciária exclusivamente. 16 Observe o quadro a seguir com uma síntese dos fundamentos legais: Quadro Síntese Habeas Corpus Arts. 647 a 667, do CPP. Súmulas 208, 319, 606, 690 a 694, do STF. Mandado de segurança Lei nº 12.016/09. Revisão criminal Art. 621 a 631, do CPP Prisão preventiva Arts. 311 a 316, do CPP. Medidas cautelares Art. 282, do CPP. Espécies de medidas cautelares diversas da prisão Arts. 319 e 320, do CPP. Liberdade provisória Arts. 321 a 350 do CPP (em especial, arts. 321 e 322). Relaxamento de prisão Art. 5º, LXV, da CR/88. Prisão em flagrante Art. 302, do CPP. Fonte: elaborado pelo autor. Com todos os elementos fornecidos, agora, você já está apto a responder: a prisão em flagrante de seu cliente foi legal ou ilegal? Qual é a medida processual a ser adotada? Com certeza, você já sabe qual é a peça adequada e os passos que devem ser seguidos! 17 Questão 01 Texto-base: Maria, desempregada e mãe de três filhos menores, foi presa em flagrante delito acusada de ter cometido o delito de roubo, ao tentar subtrair pacotes de fraldas de uma farmácia, portanto uma arma de fogo. Enunciado: Com relação a esta prisão em flagrante, assinale a alternativa CORRETA: a) O flagrante preparado de Maria seria admitido pela doutrina e jurisprudência, desde que os atos preparatórios não interferissem na organização do crime pelo agente da conduta delituosa. b) Considera-se flagrante próprio aquele em que o agente está cometendo o crime e, somente neste caso, admite-se que qualquer do povo possa prender o autor da infração penal. c) O flagrante esperado de Maria seria aceito pela doutrina e jurisprudência. Consiste, em suma, nas medidas de vigilância adotadas pela autoridade policial ou pelo particular que, no momento da execução do crime, prende o agente. d) Caso Maria seja presa em flagrante delito, o auto de prisão em flagrante não poderá ser lavrado até o comparecimento do defensor público para assistência jurídica ao preso. e) Na hipótese de Maria, na posse dos objetos roubados, ter sido perseguida pela autoridade policial por dois dias seguidos, sem interrupção, não se poderá mais reconhecer o flagrante, devido ao decurso de mais de 24 horas da prática do fato delituoso. Resposta: LETRA C. Primeira fase! 18 Comentário: a) INCORRETA – Súmula 145, do STF. b) INCORRETA – Admite-se que qualquer do povo possa prender o autor da infração penal em qualquer das hipóteses de flagrante previstas no artigo 302, do CPP. c) CORRETA – Não há qualquer interferência por parte da polícia. d) INCORRETA – Não há essa necessidade. A Defensoria deve ser apenas comunicada da prisão. e) INCORRETA – Não há qualquer previsão legal quanto ao prazo máximo. Questão 02 Texto-base: As hipóteses de prisão em flagrante delito encontram-se previstas no artigo 302, do CPP, que apresenta um rol taxativo. Enunciado: Dentre as hipóteses de prisão em flagrante, destaca-se a o flagrante preparado, o qual ocorre quando: a) O agente não é induzido a praticar o crime. b) Não se prende o autor imediatamente, pois se espera que ele cometa o crime mais grave para, então, prendê-lo. c) Sem qualquer interferência, a polícia aguarda o momento da execução do crime para efetuar a prisão. d) O agente não é levado a cometer o fato para ser preso. 19 e) Quando há fundamental interferência da polícia da realização do ato. Resposta: LETRA E. Comentário: O flagrante preparado (ou provocado) existe quando há uma indução, um estímulo, uma participação fundamental das autoridades estatais para que a situação fática causadora da prisão exista. Isto é, quando o agente, por meio de uma cilada, uma encenação teatral, é impelido à prática de um delito por um agente provocador, normalmente, um policial ou alguém sob sua orientação. Caro aluno, qual ação deverá ser proposta? Revisão criminal? Mandado de segurança? Ou habeas corpus? Você já sabe que qualquer peça começa pelo endereçamento, que, obviamente, não pode estar errado. Para isso, deve-se verificar, com muita atenção, a autoridade judiciária competente para analisar e, se for o caso, reformar a decisão questionada. Para isso, é fundamental a verificação de quem é a autoridade coatora (isto é, a autoridade responsável pela coação ilegal). Em relação ao prazo, o habeas corpus e a revisão criminal não possuem prazo para interposição. O mandado de segurança, por sua vez, deve ser impetrado no prazo de 120 (cento e vinte) dias, contados a partir da ciência do ato impugnado pelo interessado (art. 23, da Lei nº 12.016/09. Nesta etapa, após a definição da petição adequada ao caso, é preciso estar atento à (ir)regularidade do procedimento adotado, bem como à correta fundamentação legal. Vamos Peticionar! 20 Não se esqueça, também, de fazer referência em sua peça, da juntada de comprovante de residência, certidão de antecedentes criminais (em caso de réu primário) e comprovante de trabalho ou de estudo (se houver), para demonstrar o intuito de seu cliente em colaborar e participar do processo. Além disso, recomenda-se juntar cópia integral de todo o procedimento existente até o momento (auto de prisão em flagrante delito, ata da audiência de custódia etc.). Nos pedidos, como o objetivo é a imediata libertação do Zé da Farmácia, é fundamental e obrigatório que se peça a expedição de alvará de soltura, que é o único meio de se atingir esse fim. Lembre-se de que, no Exame de Ordem você será avaliado pela correta indicação do foro competente, preâmbulo, qualificação das partes, fundamentação jurídica, pedidos e requerimentos, lógica e argumentação, além de ortografia e gramática. Vamos peticionar?
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