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UNIDADE 2WWW.UNINGA.BR ENSINO A DISTÂNCIA SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4 O MOVIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL EMERGENTE NA AMÉRICA LATINA ........................................................ 5 PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA ..................................................................... 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................ 17 O MOVIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL EMERGENTE NA AMÉRICA LATINA 01 PROF.A MARIA JOSÉ CARVALHO POMBALINO Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Só- crates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande res- ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conheci- mento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Diretora de Ensino a Distância: Profa. Ma. Daniela Ferreira Correa PRODUÇÃO DE MATERIAIS Designer Educacional: Clovis Ribeiro do Nascimento Junior Diagramador: Alan Michel Bariani Revisão Textual: Letícia Toniete Izeppe Bisconcim / Mariana Tait Romancini Domingos Produção Audiovisual: Eudes Wilter Pitta / Heber Acuña Berger Revisão dos Processos de Produção: Rodrigo Ferreira de Souza Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 4WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO “Assistente Social é aquela moça boazinha que o governo paga para ter dó dos pobres”. Todas as vezes que é citado, o Assistente Social contém esses dois elementos: a moça e o pobre. Isso, vocês vão compreender no decorrer do desenvolvimento desta unidade, tem aparência de verdade, mas apenas aparência. As origens do Serviço Social estão fincadas na assistência aos pobres, por mulheres piedosas, alguns séculos atrás. De lá para cá, muitas coisas mudaram e o Serviço Social, que era uma profissão essencialmente feminina, das ricas damas de caridade que cederam lugar às filhas, passou a ser uma profissão também composta por homens e outros gêneros. Definir como foi o Serviço Social, conhecer e refletir sobre seu contexto histórico, de seu surgimento, é o que nos propomos nesta unidade. Fazemos assistência social ou Serviço Social? Acredito que perguntar o que é o Serviço Social não seja a questão certa. O melhor seria: “o que fazem e pensam os assistentes sociais, contando um pouco de sua história?”. O Serviço Social é fruto da união da cidade com a indústria. Seu nascimento teve cenário nas inquietudes sociais que surgiram do capitalismo. Disponho-me a escrever sobre a história do Serviço Social nesta unidade, pois, como alunos do curso de Serviço Social, vocês deverão num primeiro momento conhecer a gênese histórica dos processos de mudança na América Latina. Esta unidade, visa propiciar o conhecimento e a compreensão da origem do Serviço Social e, apesar dos desafios de uma sociedade capitalista, os enfrentamentos dos profissionais, para atender a população que necessita de nossos serviços. Plano de estudo Dividimos as quatro unidades em três tópicos, que buscaremos desenvolver de forma didática, para que vocês possam realmente compreender e realizar com tranquilidade as atividades e provas. Bons estudos! 5WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA O MOVIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL EMERGENTE NA AMÉRICA LATINA IGREJAS, COMO REPRODUÇÃO DO CAPITALISMO NA GÊNESE DA PROFISSÃO A gênese do Serviço Social na América Latina constituiu uma preocupação dos estudiosos na compreensão da inserção desta profissão frente às relações de poder e os grupos sociais. Castro (2011) identificou o Serviço Social como uma resposta ao capitalismo na América Latina, ou seja, a partir das lutas sociais pelo controle do poder público. O mesmo autor coloca que a Igreja e o Serviço Social tinham um vínculo muito grande e que a partir dos movimentos políticos sociais, a vinculação da Igreja com o Serviço Social foi se diluindo no decorrer das décadas, deixando, porém, um vínculo ideológico no exercício da profissão. Segundo Iamamoto (2011, p.18), como profissão inscrita na divisão do trabalho, o Serviço Social surge como uma parte de um movimento social mais amplo, de bases confessionais, articulado à necessidade de formação doutrinária e social do laicato, para uma esperança mais ativa da Igreja Católica no ‘mundo temporal’, nos inícios da década de 1930. Ambos autores colocam que vivíamos na década de 30 conflitos que mobilizaram as classes operárias nas duas primeiras décadas do século XX. E o Serviço Social surge na emergência que solucionaria estes conflitos, atendendo de forma assistencialista os menos favorecidos. Castro (2011) expõe a inserção do Serviço Social no meio concreto em que atua como o a ocupação de um território habitado por outras profissões. A crise de desenvolvimentismo na América Latina resulta em revoluções populares de diversos países e, com isso, as ciências sociais tiveram que tomar uma nova orientação que questiona as bases do Serviço Social. A contradição em que o assistente social passa de “apóstolo” para agente de transformação, passa por uma situação contraditória entre o “promotor social empregado” e o “cientista da revolução social desempregado”. Sociedades como esta, com o capitalismo “espremendo” a classe trabalhadora, trouxe a fundação em 1869 da Sociedade de Organização da Caridade em Londres, que praticava a assistência social. Segundo Estevão (2006, p.15), a novidade principal era colocar como princípio a necessidade de criar instituições que formassem pessoas especificamente para realizar tarefas de assistência social, colocando, desta forma, a institucionalização do Serviço Social em sua pauta. Antes de serem instituídas, as profissões se legitimam pela sua eficácia social e/ou política. Podemos dizer que o Serviço Social te como marco inicial a organização da Associação Social na fundação da Sociedade de Organização da Caridade, na cidade de Londres em 1869. Os seus princípios de trabalho eram: 1. Cada caso será objeto de uma pesquisa escrita; É importante ressaltar que esse e outros movimentos de institucionalização fo- ram fatores que colaboraram para a criação da profissão, pois o que se fazia voluntariamente passa a se esboçar como subsídios para a legalização de umaprofissão secundária. 6WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2. Este relatório será entregue a uma comissão que decidirá o que fazer; 3. Não se dará ajuda temporária, mas metódica e prolongada até que o indivíduo ou sua família voltem às suas condições normais; 4. O assistido será agente de sua própria readaptação como também seus parentes, amigos e vizinhos; 5. Será solicitada ajuda às instituições adequadas em favor do assistido; 6. Os agentes dessas obras receberão instruções gerais e escritas e se formarão por meio de leitura e estadias práticas; 7. As instituições de caridade enviarão a lista de seus assistidos para formar um fichário central com objetivo de evitar abusos e repetições de pesquisas; 8. Formar-se-á um repertório de obras de beneficência que permita organiza-los convenientemente. Para Estevão (2008, p. 14) é importante ressaltar que neste momento, mesmo que por meio da Assistência, já havia uma organização para se realizar um trabalho de emancipação da pessoa “pobre”. Desde que existem pessoas menos favorecidas, existem outras pessoas que se preocupam com elas. Mas a partir do surgimento da sociedade capitalista, a preocupação com as classes “despossuídas”, como denominaram na época, e os problemas sociais e políticos que esta população poderia criar, tornou-se uma necessidade da burguesia, que com o sistema capitalista, chegou ao poder. Igreja e Estado dividiam suas tarefas, a primeira centra sua atenção no aspecto social, importante ressaltar que eram todas as igrejas (Católica e Protestante), e o segundo é propunha a paz política. Segundo Estevão (2008, p. 12), toda assistência social nessa época era feita da forma não sistemática, sem qualquer teorização a respeito, além de vagas justificativas ideológicas. É a partir da metade do século XX, na França, que se constitui uma caridade de caráter assistencial, baseada no esboço de uma técnica mais organizada o que nos remete a rever a criação da organização da Associação Social, descrita com seus princípios neste tópico. O que fazia uma dama da caridade na segunda metade do século XIX, antes de se iniciar a criação das organizações assistenciais? As damas de caridade dividiam as paróquias em grupos de vizinhança, dividiam responsabilidade para distribuir ajuda material e dar conselhos, o que denominavam de fazer um trabalho educativo. As conferências São Vicente de Paulo, em 1833, fizeram seu trabalho baseado em torno de visitas e ajudas a domicílios, creches, escola de reeducação de delinquentes, cuidados e socorros a refugiados e imigrantes, segundo Estevão (2008, p.12). O trabalho se expandia e o que era feito somente nas paróquias passou a ser feito por toda a cidade. A assistência era exercida em caráter não profissional, com contribuição voluntária daqueles que possuíam bens para aqueles que eram pobres. Ainda hoje, temos paralelo ao trabalho técnico do profissional de Serviço Social os grupos de voluntários que atuam em várias áreas, principalmente no terceiro setor (ONGs – Organizações Não Governamentais). Nesta época o Serviço social passou a atuar no marco de relações de produção – propriamente capitalistas – cada vez mais nítidas, buscando se organizar as exigências destas. Não é a ação em si que define ou não o conteúdo assistencialista. Uma determinada 7WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA atividade pode ter num momento histórico um cunho profundamente assistencialista de raiz religiosa e caritativa e pode mudar de sentido e de perspectivas sob outras condições sociais sob o domínio do capital. Devemos ver a relação Igreja e Serviço Social como um novo conceito e reflexão. As transformações sociais “gritaram” para uma redefinição do assistencialismo católico e da doutrina social da igreja católica, definindo suas políticas e relação de poder frente ao novo quadro emergente de forças, segundo Castro (2011). Aqui, começamos a verificar o Serviço Social, enquanto protagonistas de uma prática diferenciada da tradicional caridade. Não podemos desprezar que os elementos que mais colaboraram para o Serviço Social têm sua origem nas ações da igreja católica. Segundo Castro (2011, p. 48): A Igreja mantém uma unidade ideológica ‘oficial’ Através dos meios de revolução ideológica progressiva. Como em toda ideologia, a relação entre os diferentes níveis da religião está assegurada pela política; neste caso, exercendo-se uma férrea disciplina sobre os intelectuais para que não ultrapassem certos limites na distinção e não a tornem catastrófica e irreparável. Ao longo dos séculos, a Igreja teve seu poder junto não somente à política, mas nas hierarquias, principalmente os intelectuais buscavam manter suas ideologias entre padres e bispos frente às profissões. A hierarquia católica desenvolveu um controle sobre os intelectuais e profissionais laicos de forma que foram se organizando em instituições, movimentos, etc. Portilho apud Castro (2011, p.48) reflete que: [...] não podemos explicar a posição conservadora pela igreja na sociedade moderna se não levarmos em conta a importância do seu material ideológico, dos seus duradouros e pacientes esforços para operar a sua própria seção da estrutura material da ideologia. Este material ideológico é essencialmente constituído pela literatura e pela imprensa bem como pela organização escolar universitária. A estrutura organizativa passou por muitos processos, a igreja foi reorientando sua estratégia geral e passado o tempo do mundo mercantil, onde os reis se submetiam ao seu império. O capital deu início à organização da sociedade e à definição de relações de poder e estendeu essas responsabilidades também à igreja. Gramsci apud Castro (2011, p. 49) diz que: A categoria dos eclesiásticos pode ser considerada como a categoria intelectual organicamente vinculada à aristocracia fundiária, estava juridicamente equiparada a ela e assim produziu a emergência de outras categorias favorecidas e ampliadas pelo reforço do poder central monarca até o absolutismo. Gradualmente, vai-se formando a aristocracia da razão, com seus próprios privilégios e uma camada de administradores, cientistas, teóricos e filósofos leigos. Para a igreja daquela época, a recomendação feita aos ricos tinha um sentido humanizador na qual dizia que os pobres não fossem tratados como escravos, mas que tivessem o seu salário pago adequadamente. 8WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA Os conselhos de conduta às duas classes em conflito deveriam receber da igreja, e de todo bom cristão, o apoio ofensivo que conduzisse à conquista do objetivo terreno, mas supremo, da conciliação entre elas, segundo Castro (2011, p.58). Para que isto realmente se efetivasse, o Estado deveria promover e defender o bem estar dos operários. Neste momento, recomendava-se a criação de associações assistencialistas que atendessem as necessidades dos menos favorecidos. São as associações que já citamos anteriormente. Segundo Iamamoto (2011), a profissão não se caracteriza só como uma nova forma de se fazer a caridade, mas como intervenção ideológica de classe trabalhadora mesmo com base no assistencialismo, os efeitos vinham a ser políticos, enquadrar os trabalhadores nas relações sociais vigentes. Buscando um diferencial à caridade tradicional, que simplesmente era mera reprodutora da pobreza.O Serviço social propõe uma ação educativa, e, ao mesmo tempo, preventiva dos problemas sociais. Atuando por meio de entidades filantrópicas privadas e através do estado, o Serviço social orienta-se para uma individualização da proteção legal, entendida como assistência educativa, adaptada aos problemas individuais. Desconhecendo o caráter de classe dos antagonismos sociais, os efeitos desses antagonismos são considerados relevantes para um tratamento sócio educativo da clientela, segundo Iamamoto (2011 p.20). A mesma autora confirma que o Serviço Social busca uma ação organizativa entre a população trabalhadora junto à igreja, que os operários não venham aderir ao associativismo católico. O Serviço Social nasce e se desenvolve na órbita desse universo teórico e passa a receber influência do pensamento conservador europeu ao incorporar a noção de comunidade como matriz analítica da sociedade capitalista e como projeto norteador da ação profissional. Mas a comunidade é erigida sob a ótica da interpretação da sociedade capitalista, tendo o princípio da solidariedade como diretriz ordenadora das relações sociais, conforme Iamamoto (2011, p.26). Importante ressaltarmos que o próprio Serviço social da época, europeu e latino americano, não é somente em parte, resultado de uma proposta da igreja, mas autor da gênese do novo pensamento social cristão, como depois o seriam em grau e amplitude superior os próprios partidos políticos de cariz cristão, segundo Castro (2011, p. 62). REFLITA Na base do conservadorismo há um componente utópico assimilado pelo Serviço Social, um universo teórico, ligado à filosofia cristã. É aqui que a comunidade ressurge num cenário de um reformismo conservador e orienta a ação profissional. 9WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA Em 1899, na cidade de Amsterdã, funda-se a primeira escola de Serviço Social do mundo e inicia-se também o processo de secularização da profissão. Para o Serviço Social, as explicações religiosas do mundo são substituídas por explicações científicas. O nascimento da Sociologia também vai dar o suporte teórico para o Serviço Social, segundo Estevão (2008, p.17). Como falamos anteriormente, sobre a relação da igreja com o nascimento do serviço social, muitos autores colocam que as damas de caridade, que pretendiam ganhar o céu, acreditavam seriamente que os pobres eram a causa de sua própria situação e bastava uma ajuda inicial e conselhos para que abrissem a porta para os benefícios que o capitalismo oferecia a todos. Neste momento, ao se depararem com famílias numerosas e com muitos filhos, verificou- se que não adiantava ajudar só a pessoa, mas se pensar na família. Inicia-se, então, o trabalho com as famílias, principalmente com “menores”, na área da higiene e outras. Havia uma sociedade capitalista se desenvolvendo e em tempos de crises econômicas, com a pobreza e a miséria se alastrando devido ao rápido crescimento urbano e industrial, o poder público não se preocupou em assumir os custos da assistência social, e este trabalho ficava para as religiões e instituições particulares. A Sociologia tentou dar conta de tudo isto e oferecer uma explicação não religiosa ao que acontecia na sociedade e, ao mesmo tempo, havia na sociedade americana várias experiências de filantropia e caridade, tendendo a procurar um espaço dentro das profissões emergentes, segundo Estevão (2008 p. 17). Mary Richmond, uma assistente social norte-americana, séc. XX, começou a pensar e escrever sobre o que é o Serviço Social e como ele deveria ser exercido como profissão. Figura 1 - Ellen Mary Richmond. Fonte: José (2017). A assistente social Mary Richmond foi a primeira que escreveu sobre a diferença entre fazer assistência social, ou caridade, ou filantropia, e o Serviço Social. Seu livro Caso Social Individual que mostrou e refletiu sobre uma prática profissional não institucionalizada, segundo Estevão (2008). 10WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA Importante conhecermos um pouco do pensamento desta pioneira da profissão – Mary Richmond – que acreditava que dar ajuda material às pessoas pobres não era Serviço Social; era apenas um meio, mas não um fim. A situação da questão social e problemas enfrentados pelos menos favorecidos nesta sociedade capitalista. Para Richmond, era importante se preocupar com a história individual de seu cliente (hoje denominados em nossa profissão como usuário da assistência social e para quem são construídas as políticas públicas). Buscar verificar se o pessoal (cliente) não havia conseguido desenvolver suas potencialidades, enquanto pessoa e cidadão, pois não havia permitido um correto e completo desenvolvimento com sua potencialidade. Ela acreditava que a personalidade das pessoas, independentemente de suas vontades, de seu meio social, podia atrofiar ou seja, se sentir incapaz de realizar muitos de seus objetivos por falta de oportunidade e condições necessárias. Estevão (2008) coloca que Mary Richmond pretendia estudar e investigar profundamente o meio social da pessoa, através de conversas informais, entrevistas, visitas domiciliares e outros. Sempre registrando as informações coletadas na tentativa de descobrir possibilidades para a pessoal desenvolver sua personalidade e conseguir ajuda para sua casa. A preocupação já era em incentivar a pessoa a se emancipar, que caminho seguir. Mary Richmond chamou esse procedimento de ação. Na verdade, mesmo hoje, onde temos um desenvolvimento do ensino e consequentemente das escolas de Serviço Social, ainda estamos muitas vezes presos a uma ação imediatista e assistencialista que só difere desta época, pois hoje temos as políticas públicas, o Serviço Social após a reconceituação iremos estudar na próxima unidade. A mesma assistente social pioneira do Serviço Social acreditava que ações indiretas sobre o meio seriam para fazer com que este contribuísse para o tratamento não só pelo apoio, mas também com a efetiva melhoria de relações sociais entre cliente e o seu meio, segundo Estevão (2008, p. 21). Castro (2011), fala um pouco da formação profissional, ou seja, as primeiras escolas de Serviço Social em que contexto teve lugar e que papel desempenhou a igreja neste processo. Este autor coloca que no Chile, anos 20, aparecem novos grupos sociais na vida chilena, e com isso várias mudanças no país e sua economia. A história chilena, toda década de 20, foi marcada por um período de severa crise institucional e muitos protestos. Ao falarmos deste marco histórico no Chile e para mostrar que com isso, em 1925 é fundada a primeira escola de Serviço Social neste país. O fator preponderante para a profissionalização do Serviço Social está no papel da classe operária e outros setores populares. Sob a sua incessante combatividade, a sociedade chilena foi progressivamente sacudida e as classes dominantes, através do Estado, impedidas de acolher as suas exigências e aspirações. Neste sentido, a burguesia chilena é pioneira, ao institucionalizar diversas reivindicações populares e operárias no seio do direito burguês. (CASTRO, 2011, p. 70) Importante lembrarmos que ações para Mary Richmond era conhecer a pessoa, através de visitas domiciliares, como já colocamos anteriormente e sempre fazer os relatórios, ter os registros e buscar possíveis soluções. 11WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O| U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA A primeira escola de Serviço Social no Chile, em 1925, e pouco depois na Escola Elvira Matte de Cruchaga se inserem no quadro político que acabamos de esboçar. Podemos dizer que a história da profissão será melhor compreendida à medida que esclarecemos o contexto global em que estas primeiras escolas foram ciadas. Tanto à chilena quanto às de outros países cabe uma observação sobre sua origem, por estes centros de estudos colocarem em jogo duas estratégias, de um lado a do Estado e de outro a da Igreja Católica e seus aparelhos comuns, segundo Castro (2011). Também merece destaque alguns elementos contidos no ideal da escola. A vocação concebe-se o Serviço Social, mais que uma simples profissão. Falava-se da entrega incondicional, do espírito de sacrifício, do querer cuidar tanto do corpo quanto da alma humana. Já o segundo elemento que não se trata de um Serviço Social paliativo, de ajudar, enfatiza-se a necessidade de uma aproximação à ciência e à técnica. Retomando a nossa pioneira Mary Richmond, o seu grande mérito foi dar um estatuto de seriedade à profissão. Que poderíamos fazer muito mais que caridade, buscarmos novos procedimentos, técnicas que viabilizassem o exercício profissional. Mary Richmond secularizou a profissão e ao mesmo tempo teve a lucidez de perceber que era necessário dar bases técnicas à prática sistemática que se exercia, oferecendo formas de trabalhar nas quais os assistentes sociais se reconhecessem, segundo Estevão (2008, p. 21). Foi a partir dela que os profissionais passaram a escrever, criticar e construir mudanças. (CASTRO, 2011, p. 80) O programa, entre outros fundamentos, compreendia os seguintes: religião, pedagogia, sociologia, economia social, assistência social, direito, instrução cívica, anatomia e fisiologia, higiene pessoal e pública e ética profissional. Destacaram-se nos chamados ramos práticos: tratamentos de caso social individual, encaminhamentos jurídicos, técnicas de escritório e estatística, contabilidade, primeiros socorros, cuidados domiciliares a doentes, puericultura, nutricionismo, trabalhos manuais, exercícios de oratória. Segundo o autor citado acima, em 1938 não se tinha uma diferenciação entre o campo das assistentes sociais e enfermeiras por isto tiveram muitos conflitos profissionais. A saúde era a maior preocupação do campo do Serviço Social. Tabela 1 - Informes da Escola de Serviço Social de Sâo Paulo. Fonte: Carvalho (1982). 12WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA Podemos verificar que há um predomínio do Serviço Social Médico, que vai passando a ter espaço nas indústrias e consequentemente nas escolas. Enfim um processo de crescimento. Com o decorrer dos anos, nota-se uma diversificação nos campos de interesses da atuação do Serviço Social e consequentemente eram sugeridas às escolas que se adaptassem ensinamentos às necessidades da sociedade, ou seja, da realidade capitalista que trazia o conflito de classes e, por suposto, o surgimento das “questões sociais”, que iremos abordar no decorrer desta disciplina. Segundo Castro (2011), a escola de Serviço Social reconhece o seu papel mediador do Estado, para melhorar as relações entre o capital e o trabalho, com o auxílio das classes dominantes, na perspectiva da escola formar profissionais que com esforço conquistasse a funcionalidade no interior das relações de classe, propondo assim soluções para os problemas. No próximo módulo, iremos falar do nascimento do início do Serviço Social no Brasil, o que tem reflexos da igreja católica e surgiu no interior dos movimentos das classes sociais. Figura 2 - Alejandro Del Río. Fonte: Domínio Público (2017). DESENVOLVIMENTO E EXPANSÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL Como profissão inscrita na divisão do trabalho, o Serviço Social surgiu como parte de um movimento mais amplo, articulado à necessidade de formação doutrinária e social para uma presença mais efetiva da Igreja Católica. Com a incorporação plena no desenvolvimento comunitário o Serviço Social passou por um processo de mudanças substantivas que incidiram no conjunto da profissão. Socialmente, experimentou-se uma etapa de revalorização que lhe atribuiu novas responsabilidades e lhe 1897 Escola de Filantropia Aplicada por Mary Richmond, em Toronto. 1925 1ª Escola de Serviço Social Chilena (de origem estatal, tendo como fundador Alejandro Del Rio, que era médico e como já falamos neste tópico, ele buscou a Bélgica para poder instituir a escola de Serviço Social e era destinada a formar profissionais que complementavam o trabalho médico. 1929 – A segunda escola de Serviço Social Chilena. Católica, fundada por Miguel Cruchaga. O interesse da igreja em um Centro Católico Ortodoxo para a formação de assistentes sociais ou agentes sociais adequados às mudanças sofridas pela sociedade chilena, o maior objetivo de se fundar esta escola era de recuperar seu papel de condutor moral da sociedade. 13WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA conferiu uma posição melhor no interior das administrações públicas que também elas viviam um processo de modernização, segundo Castro (2011, p.151). Sendo assim, o impacto sobre a profissão foi grande frente à situação que se encontravam os países latino-americanos. Com a hegemonia do desenvolvimentismo do Serviço Social, vieram as reformas sociais, feitas nos primeiros anos de profissão por vários setores empenhados numa humanização do capitalismo. Estas novas propostas se intimidavam frente ao pragmatismo profissional, que na época buscava o trabalho centrado em casos e grupos. O desenvolvimento emergente no continente trouxe a conquista do bem estar social, a democracia, a integração e o progresso, segundo Castro (2011). Assim, os assistentes sociais do continente, com sua prática, conheceram e avaliaram o programa desenvolvimentista, onde se foi oferecido a possibilidade destes profissionais se aperfeiçoarem, das mais variadas formas, com bolsas de estudo e especializações, acesso a cargos hierárquicos, participação nas pesquisas multidisciplinares, veio a ampliação e diversificação do mercado de trabalho para o Serviço Social. O pano de fundo do trabalho do assistente social é dado pelo exaurimento de um padrão de desenvolvimento capitalista. [...] o das ‘ondas longas’ de crescimento, que vinham seguros desde o fim da Segunda Guerra Mundial e encontraram seu último momento de vigência precisamente na década de sessenta... nas suas expressões menos consequentes, estes movimentos puseram em questão a racionalidade do Estado burguês e suas instituições e nas suas expressões mais radicais, negam a ordem burguesa e o seu estilo de vida (NETTO, 2011, p.143). Este foi o cenário mais adequado para promover a contestação de práticas profissionais do Serviço Social tradicional que serviam à ordem burguesa. O profissional e a profissão foram questionados. Saiu do tradicionalismo, reviu sua prática, seus aprendizados, segundo Netto (2011), primeiro a revisão crítica que se processa na fronteira das ciências sociais. A impregnação do superficialismo que impregnavam as ciências sociais universitárias não provinha de protagonistas alheios á comunidade científica, mas tinha como domínio as respeitáveis instituições que buscavam socorro no Serviço Social e segundo seria o processo sócio-político de outras instituições vinculadas com o Serviço Social, como as igrejas em especial a católica e algumas protestantes. Diferenciado da caridade tradicional vista como mera reprodutorada pobreza, o Serviço Social propõe uma ação educativa entre a família trabalhadora, que segundo Iamamoto (2011), não numa linha curativa mas preventiva dos problemas sociais. Tendo assim uma visão diferente da assistência pública que reconhecendo a singularidade do indivíduo atua com respostas diferenciadas aos problemas sociais, respeitando a particularidade de cada um: fixaram-se diversas normas de funcionamento, entre as quais se destacaram as seguintes pautas de ação: o assistente social tinha a missão de operar como agen- te catalizador nas comunidades. Longe de concretizar a sua atividade sobre ob- jetos de intervenção particularizados, definiu-se que ele seria um generalizador (CASTRO, 2011, p. 153). O assistente social trabalhando junto à população, aceitando os pontos de vista e indicações que permitissem a mesma identificar as suas necessidades para dinamizar-se e procurar a sua resolução. As relações agentes de transformação x comunidade foram especialmente valorizadas por muitos autores com um aspecto merecedor de especial atenção porque 14WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA Manifesta através de um comportamento adequado, os agentes profissionais de transformação sentem-se desiludidos e frustrados, perdendo a confiança das pessoas a que desejam ajudar. Estes, embora, não expressem sabem, que a maior parte das mudanças técnicas têm amplas repercussões sociais e pessoais. O agen- te de transformação precisa ser capaz de sentir com as pessoas com quem tra- balha as tensões do equilíbrio cultural que deflagra. E deve mostrar e apresentar o tipo de equilíbrio essencial dentro da tensão necessária para a saúde mental e social numa cultura em desenvolvimento (CASTRO, 2011, p.155). Desde o pós-guerra, a Conferência Internacional do Serviço Social (CISS) converteu-se em órgão consultivo das Nações Unidas, da Unesco e da OMS, reconhecendo que a Conferência renovou a busca de novas ideias e passou a proporcionar aos diferentes países o conhecimento das novas experiências, favorecendo a internacionalização do Serviço Social. É importante mostramos o crescimento da profissão, outras atividades ou formas de organização internacional do Serviço Social, como o Congresso Internacional de Escolas de Serviço Social (CIESS), que juntamente com a Conferência Internacional, buscavam discutir os programas de ensino, a formação dos futuros profissionais. Observemos, em primeiro lugar, que subsiste com força uma concepção linear do desenvolvimento da profissão, fundada na ideia de que esta, iniciada num ponto dado, percorrera um longo e ascendente itinerário, até alcançar a modernidade, que combinava humanismo e tecnologia (CASTRO, 2011, p. 164). O instrumento que poderia, e foi, defendido como eficaz para atingir a meta do desenvolvimento era o planejamento. No VI Congresso, houve consenso do papel que competia ao assistente social: O assistente social deve ser um agente de transformação. O que implica tanto uma mudança no indivíduo como nas estruturas e instituições sociais. O assistente social interpreta a problemática social, como testemunha direta das experiências vividas pelas pessoas com as iguais se ocupa. Diante das situações como crianças dormindo na rua, cobertas com jornais, ou amontoados em um barraco, vítimas potenciais de acidentes de morte ou da inanição, enquanto seus pais correm a cidade em busca de pão ou emprego. Diante de situações assim o assistente social não pode permanecer indiferente como um mero observador. A I Conferência Internacional de Serviço Social aconteceu em Paris, em 1928 e contou com a presença de 2.481 delegados de 42 países. Depois veio a II Confe- rência, onde 34 países foram representados por 1.200 delegados, em Frankfurt. A III Conferência, em Londres 1936. A seguinte, convocada para Amsterdã, em 1940, foi cancelada devido à Guerra. Depois do conflito mundial, foram restabelecidas as conferências entre os anos de 1946 – 1947. REFLITA A conferência Internacional de Centros Sociais e a Federação Internacional de Assistentes Sociais, fundadas em 1950, tinham a finalidade de estudar coletivamente as normas e as necessidades profissionais e representar o corpo profissional em organismos internacionais. 15WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA Deve interpretar esta situação tornando-se um porta voz das necessidades dos indivíduos e do seu direito a promover mudanças (CASTRO, 2011, p. 166). Até aqui, podemos, claramente, verificar uma peculiaridade, ou mais uma direcionada ao desenvolvimento da profissão na América Latina, um apelo para que o assistente social seja um agente de transformação que está impregnado de uma moral, quase que religiosa que nos remete ao humanitarismo dos primeiros tempos da profissão. Paralelo a estas posições no interior do Serviço Social, existiam divergências de pensamento e ideologia, os regimes populistas desenvolvimentistas fracassaram, pois suas políticas foram meros instrumentos do expansionismo norte-americano que, após a Segunda Guerra Mundial, consolidou sua situação de polo hegemônico do capitalismo, conforme Castro (2011). Já por outro lado, intensificaram os movimentos populares. As insatisfações no campo, os protestos contra o reordenamento rural e a cidade começaram a apresentar expressões de descontentamento. Em 1967, estudantes e docentes de Serviço Social assumiram com empenho o trabalho de revisar completamente a profissão. Esta movimentação não era somente na época preocupação dos profissionais de Serviço Social. Foi nesta época que o Serviço Social fez sua conceptualização, marcada por um forte compromisso com a classe popular. Iamamoto (2011) nos leva a refletir com relação a expansão do Serviço Social e a competência teórico-metodológica, o discurso acentua seu caráter tecnocrático e conservantista. A competência como uma estratégia e dissimulação real. Explicando melhor, como atuamos em prol das classes menos favorecidas, hoje mais organizadas, se muitas vezes ou na maioria das ações que pretendemos desenvolver, estamos profissionalmente subordinados como os usuários da assistência, ou seja, para quem efetivamente devemos trabalhar dentro de uma hierarquia institucional ritualista e “pobre” no seu conteúdo. Como citamos anteriormente, em Iamamoto (2011, p.204): [...] englobando necessariamente o enfrentamento do processo teoria/ realidade, o ensino da prática envolve outros desafios teórico-metodológicos e pedagógicos, que, embora cruciais, pouco vêm sendo enfatizados: o da relação entre teorias gerais e universidades da sociedade por um lado, as manifestações particulares e singulares dos fenômenos sociais, por outro em outros termos: a passagem dos conceitos gerais, de alto nível de abstração para pós-situações históricas específicas, aprendendo suas determinações particulares, suas expressões singulares, não repetíveis. Quando a autora discute a singularidade dos tratamentos das questões sociais enfrentadas pelo usuário hoje nos remete ao início da profissão, em que o “pobre” como era identificado, ou o “nosso cliente”, não é visto na sua individualidade, em muitas práticas do assistente social de hoje. Profissionais que utilizam do conhecimento geral aprendido nas universidades para atuar com o indivíduo, sem respeitá-lo como único e que o enfrentamento de sua situação é diferente REFLITA O VI Congresso Pan Americano trabalhou em cima desta temática, as discussões sobre o desenvolvimento, planejamento, transformação, agentes de transformação, Serviço Social,função do assistente social e formação dos profissionais. 16WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA do outro. Retomando Mary Richmond (apud ESTEVÃO, 2008, p.22) Tratar indivíduos isoladamente ou fazer Serviço Social de casos tornou-se lugar comum. E até hoje faz parte da formação profissional do assistente social aprender a resolver “casos”. Décadas depois, aparece o segundo método de atuação em Serviço Social, que é o Serviço Social de Grupo. Pouco a pouco a prática profissional foi desenvolvida em grupos, o assistente social podia montar grupos para discussões, reflexões, orientações e até mesmo na época oferecer ajuda necessária que o grupo atendido precisava. Após o Serviço Social de caso, de Grupo usou- se o desenvolvimento do Serviço Social de Comunidade, ou seja, a necessidade de uma ação intergrupos. Destaque no início da profissão o Serviço Social trabalhava com as técnicas de caso, grupo e comunidade. Neste período das ideias desenvolvimentistas buscam tirar os países da América Latina do atraso e trazê-los para a modernidade capitalista. Chamavam de o País de Terceiro Mundo onde se dá a transição de uma sociedade tradicional para uma sociedade moderna. Nesta época, a emergência de problemas que foram surgindo influenciam os projetos dos profissionais de Serviço Social. Na década de 1960, o Serviço Social se expande ao assumir propostas desenvolvimentistas, também estavam em plena expansão nos países Latino americanos. Neste momento, os assistentes sociais propõem a aceitar o desafio de sua participação no novo projeto desenvolvimentista, exigem posição e funções, e avaliam formas para preparar-se para desempenhá-las a contento (ESTEVÃO, 2006, p. 29). Não podemos esquecer que com o florescimento da indústria, em nossos países europeus, o Serviço Social encontra um campo para o seu desenvolvimento. O desenvolvimento do Serviço Social nas empresas ocorre paralelo ao seu desempenho na área pública e até hoje é um campo de atuação que mantém uma certa autonomia com relação aos outros. Por mais bem-intencionados que fossem os assistentes sociais, dentro do Serviço Social latino-americanos, a questão política deixava bem evidente que o que faziam não era suficiente para responder as verdadeiras questões advindas da crise latino-americana. O primeiro método de atuação do Serviço Social foi o Serviço Social de caso. Tratava-se de um trabalho de organização da comunidade, entendido como “a arte” e o processo de desenvolver os recursos potenciais e os talentos de grupos de indivíduos e dos indivíduos que compõem esses grupos (ESTEVÃO, 2006, p. 25). 17WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA [...]1965 não começou sem crítica feroz questionando o desenvolvimento, mas com a crítica à pretensa neutralidade exigida dos técnicos e à importação de mé- todos. Começava-se então a lutar por um Serviço Social com feições próprias, isto é, com métodos e técnicas mais de acordo com nossa realidade (ESTEVÃO, 2008, p. 34). Neste momento, passa-se a pensar, teorizar e ensaiar um Serviço Social tipicamente latino-americano. Para Estevão (2008), em 1965, o mundo estava entrando em fase de ebulição, e com isso os sociólogos deixaram de acreditar na harmonia e no equilíbrio social e passaram a falar e pensar nas lutas de classes, conflitos de interesses. Os assistentes sociais deixam de falar em pobre, carente, patologia social e voltam-se para um trabalho que objetiva em mudanças de estrutura, trabalhadores, compromisso com a população e revolução. Até, então, fazer Serviço Social era reproduzir a ideologia burguesa, capitalista e consequentemente exploradora. Como era muito difícil pensar o cotidiano profissional e o compromisso com a população passando pelo materialismo dialético, muitos assistentes sociais passavam a confundir a prática profissional com a militância política. Como qualquer trabalho institucional era conhecido como reacionário e aliviador de tensão, podemos dizer que até hoje enquanto profissionais trazemos este “ranso” da história da profissão. Nos anos 70, na América Latina, os assistentes sociais se sentiam intimidados em apresentar sua prática cotidiana. Mas a sociedade precisa do trabalho deste profissional que necessita ter um “jogo de cintura”, pois o capitalismo vinha com pequenas imposições diárias, que de nada facilita o trabalho do assistente social. Segundo Estevão (2008, p. 62): “o Serviço Social é uma prática profissional de nível universitário, inserida na divisão social do trabalho, como qualquer outra profissão, divide com trabalhadores urbanos as incertezas e esperanças”. O Serviço Social emergente que nasceu na década de 1920 e na década de 70 vem metamorfoseando-se em problemática profissional, em diversos países. É indiscutível que a profissão experimentou uma profunda reflexão, se constituiu justamente na erosão política. Em um Serviço Social tradicional que tem essa curva ascendente, por quase uma década, segundo Netto (2011). Contradições derivadas da estratégia desenvolvimentista impulsionaram e afirmam os protestos populares dos movimentos sociais na América Latina pelas ciências sociais, Castro (2011) indica que foi este o maior impulso para o desenvolvimento expansão do Serviço Social. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, nos propomos a conhecer o surgimento da profissão Serviço Social na América Latina, e verificamos que o Serviço Social na sua gênese estava marcado por ações filantrópicas e caritativas da igreja. As escolas eram de cunho religioso e ensinaram uma prática do Serviço Social baseado em doutrinas. Por muito tempo, atuamos nessa perspectiva até chegar aos dias atuais. Sobre a égide do sistema capitalista, a realidade se constituía e com isto as expansões das questões sócias no continente latino americano, onde iniciaram as manifestações operárias. E em 1925 surge a primeira escola de Serviço Social na América Latina, no Chile (Católica) em 1927 com a criação da escola Cruchaga no México a profissão ganha um ponto de relevância, começando a criar um caráter institucional, este foi um marco para o Serviço Social Latino Americano, que trouxe mudanças significativas para a profissão. Era um Serviço Social conservador e consistia em intervir na vida dos trabalhadores ainda com base assistencialista. Nas décadas de 1960 e 1970, o Serviço Social vai modificando 18WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 1 ENSINO A DISTÂNCIA suas atuações, com maior reflexão e conhecimento do homem como único e a questão social, com suas variantes. Foi um desafio para o Serviço Social e outras profissões que nasceram no ápice do capitalismo, realmente realizarem um trabalho que não ficasse a prol do capital. Falamos sobre a nossa pioneira no Serviço Social, Mary Richmond, sua 1ª escola de treinamento, esta assistente social foi quem na profissão fez o primeiro pensar reflexivo sobre o que é ser um assistente social, diferenciando o Serviço Social do puro assistencialismo. Importante ressaltarmos as fases que passamos com o serviço social, de caso, grupo e comunidade e que após a Guerra teve que ser um Serviço Social desenvolvimentista, pois os países estavam em crise, aumentavam os movimentos populares e as escolas de Serviço Social tiveram que buscar meios de atender seus alunos para poderem trabalhar com as questões emergenciais da crise, não podiam mais pautar-se na ajuda, orientaçãoe outros. Mas ter um caráter interventivo na realidade das pessoas. Sendo assim, podemos entender que o Serviço Social acompanhou o movimento histórico marcado por relações e classe de poderes. Cresceu, modificou, consolidou-se e até nos tempos atuais busca-se sempre a luta pelos direitos iguais a todos. No princípio de uma sociedade justa e igualitária na América Latina. Dos tempos em que o assistente social era conhecido como a “moça boazinha” que o governo paga para ter dó dos pobres até hoje, houve muitas mudanças no conceito do Serviço Social. Não são mais as “boas mocinhas”, mas profissionais preparados, mudaram os métodos, estratégias, não se deve ficar parado, estanque, mas ir às ruas, ir próximo ou direto onde está o nosso usuário. Como já dissemos anteriormente, o Serviço Social na América Latina teve sua gêneses marcada por ações filantrópicas e caritativas, administradas pela igreja, cresceu, modificou-se, emancipou-se e consolidou-se em uma perspectiva emancipatória, que busca sempre a luta pelos direitos iguais a todos no princípio de uma sociedade justa e equalitária. O Serviço Social hoje, em vez de jogar “panos quentes” nas feridas do capitalismo, deve procurar encaminhá-las para as políticas públicas, emancipa-los a terem direito a melhores condições de vida e exercer realmente sua cidadania. 1. A História do Serviço Social na América Latina, Igreja, relações de produção. https://www.youtube.com/watch?v=XDREkM3cyY0 2. As primeiras escolas de Serviço Social no mundo. https://www.youtube.com/watch?v=lMn7ej1NZ9k 3. Palestra com a Professora Marilda Villela Iamamoto https://www.youtube.com/watch?v=zDOnXgCH_1Y&t=16s 4. Serviço Social no Brasil - 80 anos de história, ousadia e lutas https://www.youtube.com/watch?v=qExDNXsdy2A Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. Raul de Carvalho e Marilda Iamamoto. Editora Cortez. UNIDADE 19WWW.UNINGA.BR ENSINO A DISTÂNCIA SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 20 A IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL ............................................................................................ 21 DITADURA E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL PÓS 64 ........................................................................................... 26 A BUSCA DE NOVAS TENDÊNCIAS E ATUALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL ...................................................... 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................... 35 SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL, RELAÇÕES SOCIAIS, TRABALHO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL E DESENVOLVIMENTO DA PROFISSÃO PROF.A MARIA JOSÉ CARVALHO POMBALINO 02 20WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Neste módulo, iremos conhecer e refletir sobre a origem do Serviço Social no Brasil. Como já vimos, o Serviço Social teve sua origem americana, denominado Social Work (trabalho social), que foi organizado e estruturado por organizações religiosas, especialmente a Igreja Católica Romana. Tinha uma prática inspirada na providência divina. “O trabalho social consistia no reforço da moralidade e da submissão das classes dominadas. Era, portanto, o controle social da família operária para adequar e ajustar seu comportamento às exigências da ordem estabelecida” (FALEIROS, 2001, p. 8). Como estratégia de ajustar a falta de entrosamento e “defeito” do indivíduo nas relações sociais, a tarefa do trabalhador social era aliviar o sofrimento e melhorar a situação de milhares de seres humanos. Diante disto, a igreja tinha como missão manter a paz. Nessa conjuntura, o Serviço Social, ou seja, a profissão não era regulamentada, mas as damas de caridade “assistentes sociais” contribuíram voluntariamente para realizar atividades solicitadas pela igreja. Cronologicamente, faz-se a uma breve contextualização do processo da profissão no Brasil, tomando como foco a década de 1930. Para isto, iremos considerar não o capitalismo e o trabalhador individualmente, mas o conjunto dos capitalistas e dos trabalhadores, enquanto classes sociais. Relações que contribuíram para o surgimento do Serviço Social no nosso país, buscando mostrar como se deram realmente estas relações, o desenvolvimento e consequentemente a consolidação da profissão. Não podemos deixar de lado a história do Serviço Social na América Latina, pois no Brasil tivemos reflexos não só da crise que se consolidou na época e a instituição do profissional de Serviço Social. Enfrentamento de desafios frente às relações sociais, para sair do assistencialismo e ter um espaço técnico profissional no Brasil. Bons estudos! 21WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA A IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL No momento em que o capital se liberou do custo de reprodução da força de trabalho, limitou-se a procurar no mercado, segundo suas necessidades, a força de trabalho tornada mercadoria, segundo Iamamoto (2011, p. 133). Há uma exploração abusiva, luta que o operariado desenvolve em um determinado momento, para o restante da sociedade burguesa, ameaçando os valores, a moral e a religião. Período em que o proletariado fica retratado para a sociedade brasileira por meio de grandes movimentos sociais que objetivavam a conquista da cidadania social. Figura 3 - Primeiras Assistentes Sociais diplomadas no Brasil, em 1938, pela Escola de Serviço Social de São Paulo, atualmente Faculdade de Serviço Social da PUC-SP. Fonte: Iamamoto (1982). Surgem as leis sociais em conjunturas históricas que a partir do aprofundamento do capitalismo marcam o deslocamento das questões sociais. A implantação do Serviço Social no Brasil se dá no decorrer desse processo histórico. Para aprender o sentido histórico do Serviço Social, é necessário analisar antes o “problema social”, seu posicionamento e as ações assumidas e desenvolvidas pelos diferentes grupos e facções dominantes, segundo Iamamoto (2011). A crise do Comércio Internacional em 1929 e o movimento de outubro de 1930 representam um marco importante na sociedade brasileira. Segundo Ortiz (2010, p. 87): a emergência do Serviço Social no Brasil situa-se historicamente nos anos 30 do século XX, quando se observa a afirmação e o fortalecimento do projeto reformista, conservador, absolutamente afinado com o processo de consolidação do capitalismo no Brasil. Ortiz (2010) coloca que o desenvolvimento industrial apesar de ter consolidado a inclusão e a participação brasileira no circuito capitalista internacional, não objetivava elevar o Brasil à condição de país plenamente desenvolvido. A evolução dessas posições nas décadas de 1920 e 1930, quando se referia à questão social, se dá a implantação do Serviço Social no Brasil, políticas demarcaram os limites dentro dos quais irá surgir e atuar o Serviço Social, caridade e a repressão, limites em relação aos quais deve se 22WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA constituir numa alternativa. O Serviço Social constituiu-se em mais uma das profissões cuja inserção na dimensão social e técnica do trabalho deram-se a partir de uma vinculação orgânica com as prerrogativas e princípios desse projeto. Na verdade, foram as formas de tratamento as impressõesdaí “questões Sociais” empreendidas a partir dos pilares desse projeto, que geram as condições objetivas para a emergência e institucionalização da profissão, que por sua vez, estabeleceu e apresentou suas respostas sócio profissionais também batizada por ele (ORTIZ, 2010, p. 88). A mesma autora chama atenção para os fundamentos da constituição de uma específica imagem social para o Serviço Social, que seria: 1. A natureza e as características assumidas pelo projeto reformista-conservador no cenário brasileiro da primeira metade do século XX. 2.O processo de emergência do Serviço Social brasileiro e sua relação particular como o projeto em questão. 3.Os desdobramentos deste para a construção de uma determinada imagem social da profissão. (ORTIZ, 2010, p. 88) Já na primeira década do século, difundem-se outras formas em que o componente assistencial aparece menos. Maior destaque as Ligas Operárias, em que os operários se unem na luta e defesa de seus direitos. No desenvolver das lutas operárias, confederações operárias, englobando diversos ofícios e cidades e uma imprensa operária que se destaca pela combatividade. Figura 4 - Luta de classe. Fonte: Pinto (2014). Os movimentos desencadeados pelo proletariado, a resposta principal e mais evidente do estado na Primeira República, a violência do estado se faz constantemente presente na trajetória das lutas do movimento operário. A boa sociedade da época, cujo elemento nativo principal se compõe dos setores burgueses, ligados à agro exportação e de seus prolongamentos nos setores médios, mais abastados, será em seguida aos movimentos que marcam a conjuntura dos anos de 1917 a 1920 que a ação assistencialista dessa elite terá um grande desenvolvimento, constituindo- se na principal base para o surgimento do Serviço Social, segundo Iamamoto (2011). Para melhor compreensão de como foi o surgimento do Serviço Social no Brasil e para chegar ao Brasil pós 1960, é necessário compreender toda a história e momento político que nosso país estava enfrentando, só assim vamos compreender como começam a surgir as primeiras formas da profissão. 23WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA Segundo Estevão (2008), a questão social que se impõe neste momento, nada mais é do que a necessidade de se levar em consideração os interesses da classe operária em formação. Este processo histórico se dá a implantação do Serviço Social, com a iniciativa particular de vários grupos de classe dominante, que tem a Igreja Católica como porta-voz. A partir da queda da República Velha, inicia-se o que os historiadores do período consideram como segundo ciclo de mobilização do movimento católico laico. Neste momento, a igreja tem como objetivo conquista de sólida posição na sociedade civil, através das quais procurará implementar projeto de restauração de sua ação normativa na sociedade. No período 1935-1937, se transitará para a implantação do Estado Novo, aplicação efetiva de certos aspectos da legislação trabalhista, a ação sindical do movimento católico terá grande crescimento, contando para isso com o apoio total do Estado, segundo Iamamoto (2011). E como já expusemos, e voltamos a confirmar, o Serviço Social surge nesse período, como desdobramento da ação social e da ação católica, não estará isento destas marcas. A importância dessas instituições e obras é a de centralizar a partir da cúpula da hierarquia, não pode ser subestimada na análise do gênese do Serviço Social no Brasil, se sua ação concreta é extremamente limitada, se seu conteúdo é assistencial e paternalista, será a partir de seu lento de- senvolvimento que se criarão as bases materiais e organizacionais, principalmente humanas, que a partir da década seguinte permitirão a expansão da ação social e o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social. (IAMAMOTO, 2011, p. 177) Em 1935, foi criada a lei 2.4947, de 24/12. O departamento de Assistência Social do Estado, primeira iniciativa deste gênero no Brasil. A ele competiria: A) Superintender todo serviço de assistência e proteção social B) Celebrar, para realizar seus programas, acordos com instituições de caridade, assistência e ensino profissional. C) Harmonizar a ação social do Estado, articulando-a com a dos particulares. D) Distribuir subvenções e matricular as instituições particulares realizando seu cadastramento. Além do que selecionamos, caberia a estruturação dos serviços sociais, de menores, desvalidos, trabalhadores e egressos de reformatórios, penitenciárias e hospitais de consultoria REFLITA Como já falamos o Serviço Social é filho da cidade e da indústria, fica claro que no Brasil sua existência começa com o processo de industrialização e concentração urbana, momento que o proletariado começa a brigar pelo seu lugar na vida política. No Brasil, surgem nesse movimento as instituições assistenciais como: Associação das Senhoras Brasileiras (1920), no Rio de Janeiro, e a Liga das Senhoras Católicas (1923), em São Paulo. São obras que envolvem de forma mais direta e ampla os nomes das famílias que integram a grande burguesia paulistana e carioca. 24WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA jurídica do Serviço Social. Esse departamento citado era subordinado à Secretaria de Justiça e Negócios Interiores. A maior parte dos artigos da lei é dedicada à assistência ao menor, apenas um artigo se refere ao serviço de proteção ao trabalhador. A seção de assistência social que tendo por finalidade “realizar o conjunto de trabalhos necessários ao reajustamento de certos indivíduos ou grupos a condição normais de vida”, foi organizada em 1938. Neste ano, o departamento sofre uma mudança de siglas, passando a denominar-se Departamento de Serviço Social. O estado (nesse caso, o governo do Estado de São Paulo) ultrapassa o marco de sua primeira área de intervenção, a regulamentação do mercado de trabalho para superintender a gestão da assistência social. Centraliza-se a assistência tornando a cada vez mais burocrática, e dependente das subvenções de serviços por parte do estado, através de convênios. Assim, figuras de destaque, saídas das instituições particulares, serão cooptados para constituir os quadros técnicos e conselhos consultivos, segundo Iamamoto (2011). Instituto de Serviço Social (SP) surge em 1940 como desmembramento da Escola de Serviço Social, destinando-se à formação de trabalhadores sociais especializados para o Serviço Social no trabalho. A formação técnica especializada para a prática da assistência surge no Rio de Janeiro, a partir de uma forma mais variada de iniciativas. A primeira Semana de Ação Social do Rio de Janeiro (1936) foi considerada como marco para a introdução do Serviço Social na então capital da república. O assistente social deveria, assim, ser uma pessoa da mais íntegra formação moral, que a um sólido preparo técnico alie o desinteresse pessoal, uma grande capacidade de devotamento e sentimento de amor ao próximo, deve ser realmente solicitado pela situação penosa de seus irmãos, pelas injustiças sociais, pela ignorância, pela miséria e a esta solicitação devem corresponder as qualidades pessoais de inteligência e vontade. Deve ser dotado de outras tantas qualidades inatas, cuja enumeração é bastante longa: devotamento, critério, senso prático, desprendimento, modéstia, simplicidade, comunicatividade, bom humor, calma, sociabilidade, trato fácil e espontâneo, saber conquistar a simpatia, saber influenciar e conversar (CARVALHO apud IAMAMOTO & CARVALHO, 1986, p. 227). Os mesmosautores colocam que, para o ingresso no curso de Serviço Social, era necessário que o candidato tivesse mais de 18 anos e menos de 40, ter concluído o ensino fundamental, apresentar três cartas de referência e se submeter ao exame médico. A existência de assistentes sociais diplomados se limitará por um longo período quase apenas ao eixo Rio-São Paulo. A demanda por assistentes sociais diplomados, durante o período que nos remetemos a refletir, excedeu o número de profissionais disponíveis. Os assistentes sociais passaram a prestar serviço e tornaram-se funcionários das grandes instituições. Com o surgimento das grandes instituições, o mercado de trabalho se amplia para o Serviço Social e isto rompe com o estrito quadro de sua origem para se tornar uma atividade 1939, a Escola de Serviço Social passa por rápidos processos de adequação, firmando convênios para vigorização de centros familiares. 25WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA institucionalizada e legitimada pelo Estado e pelo conjunto das classes dominantes, segundo Iamamoto (2004, p. 93). O Assistente Social, agora, identificado como um profissional assalariado, inserido no mercado de trabalho, iria poder desenvolver suas ações a partir da execução das políticas assistenciais, que citamos anteriormente que eram disponibilizadas pelo estado e setores empresariais, tendo como público alvo o proletariado. Na medida que se aprofundava o processo de expansão e consolidação do regime capitalista e que se agravavam na mesma medida, especialmente no segundo pós-guerra e nas décadas seguintes, as crises sociais econômicas e políticas começavam a cair por terra a hegemonia do discurso e das práticas burguesas e com ela a reificada concepção do mundo da burguesia (MARTINELLI, 2005, p.136). Segundo Iamamoto, (2011), o Serviço Social apareceu modificado, atuando através de canais administrativos, mantendo sua ação educativa doutrinária da população que atendia, mas não se trata mais de um apostolado doutrinário de salvação das classes operárias. Ao Serviço Social, foi dado, neste momento, especialmente pelas funções econômicas, políticas e ideológicas que presidem o surgimento e o desenvolvimento das instituições às quais é incorporado, outro nível de especificidade do Serviço Social institucionalizado. Na busca de sua própria teoria, o Serviço Social brasileiro vivenciou vários conflitos ideológicos e políticos. Nos últimos anos da década de 1950 e início da seguinte podem ser localizadas as primeiras manifestações públicas de que se tem conhecimento, no interior do “campo social”, que se posicionam contra a manutenção do status quo. Essas posições diferenciadas no Serviço Social florescem especialmente entre profissionais vinculados a trabalhos de desenvolvimento de comunidade, que se lançam na busca de alternativas à proposta oficial, veiculada através de organismos internacionais na tentativa de adequação de diretrizes e métodos de atuação comunitária às peculiaridades da conjuntura nacional, segundo Iamamoto (2011, p.380). Como vimos, o discurso institucional do Serviço Social tende a adaptar-se às preocupações das classes dominantes e às suas demandas. Buscamos mostrar a realidade em que nasceu o Serviço Social no Brasil, o contexto político que o país se encontrava até a década de 60. REFLITA Na década de 1960, que se observa a existência de um meio profissional em expansão. No decorrer destes anos, a profissão sofrerá suas mais acentuadas transformações, tanto no campo teórico, métodos e técnicas nele utilizados. Há também um significativo alargamento das funções exercidas por assistentes sociais. E no período que se situa entre os dois primeiros Congressos Brasileiros do Serviço Social (1947-1961). 26WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA DITADURA E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL PÓS 64 O período da ditadura militar marcou profundamente o Serviço Social brasileiro. Ao mesmo tempo em que a vertente profissional crítica, que emergiu entre os anos de 1961 e 1964, foi sufocada pela repressão, a profissão foi reforçada pela expansão do mercado de trabalho e pelo debate gerado na categoria sobre questões relacionadas à teoria e ao método do Serviço Social. O fundo golpe que a autocracia burguesa desferiu sobre o que podemos chamar de cultura de esquerda não se reduz à inspiração marxista, não se esgota no fato de ter interrompido brutalmente um acúmulo crítico que nos anos sessenta começava a configurar uma tradição marxista no Brasil, que na década desbordou fronteiras do movimento comunista organizado e lançando raízes na cultura brasileira. Isto já era um dano para os vetores democráticos, mas a autocracia burguesa foi além, deixou componentes macroscópicos que conspirariam contra a possibilidade de se resgatar o patrimônio acumulado em mais de meio século provenientes de lutas sociais e confrontos ideológicos, segundo Netto (2011). Para se compreender melhor o Serviço Social, o pós golpe de 1964, é preciso uma breve pausa a fim de estabelecer esse cenário na época em que começaram a surgir as primeiras formas da profissão. Segundo Estevão (2008, p. 40) “[...] questão social, que se impõe num momento nada mais é do que a necessidade de se levar em consideração os interesses da classe operária em transformação”. É neste contexto histórico que o Serviço Social nasce a partir de vários grupos de classe dominante, que tem na Igreja Católica seu porta voz. As condições de trabalho no Brasil eram as piores possíveis, trabalhavam o número de horas que a indústria solicitava, não se tinha auxílio doença, férias e o salário do operário (trabalhador) e de sua família, pois menores de 14 anos eram incluídos como trabalhadores das empresas, salário era somente para se alimentarem, não morrer de fome. Daí começam a surgir os movimentos sociais, sindicatos e uma luta pela promulgação de uma lei trabalhista. Como foi frisado anteriormente Serviço Social é filho da cidade e da indústria e ficou claro que no Brasil começa com o processo de industrialização e concentração urbana, momento em que o proletariado começa a brigar, também, pelo seu lugar na vida política. 27WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 5 - Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Fonte: Folha de São Paulo (2013). As empresas começaram a oferecer uma precária assistência médica, as caixas de auxílio, as escolas, etc. As tarefas desenvolvidas pelos assistentes sociais durante um período são: principalmente prestar assistência material, prevenir a “desorganização” e a “decadência” das famílias proletárias, efetuar regularização legal das famílias (casamentos), fazer encaminhamentos, colocar em empregos e abrigos provisórios, fichário dos assistidos, cursos de formação moral, etc., segundo Estevão (2006, p.45). Retomamos a este contexto para numerarmos as conquistas da profissão até o golpe de 1964. Neste período de 1964, o lapso histórico que é coberto pela vigência da autocracia burguesa no Brasil demarca também um quadro extremamente importante e significativo no evoluir do Serviço Social no País, voltamos novamente à transição dos anos 1930 e 1940 e a necessidade de um Serviço Social emergente, segundo NETTO (2011). Na base desta reflexão confirma Iamamoto: [...] o processo de erosão do regime instaurado nos desdobramentos do golpe de 1º de abril de 1964 foio marco de seu declínio que emergiram os vetores que propiciaram novo atento às forças que, no interior da profissão e vinculados ao que se passava fora das suas fronteiras, operavam no sentido de promover uma rotação radical do Serviço Social. (NETTO, 2011, p. 9) A LBA – Legião Brasileira de Assistência - foi a primeira instituição pública importante, também criada por decreto lei na área da Assistência Social. Uma organização nacional que, por anos, auxiliou a melhorar a técnica dos profissionais. 28WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA A apreciação do processo de Serviço Social no marco da autocracia burguesa mostra que os movimentos da dinâmica profissional precisavam e foram responder funcionalmente às demandas da autocracia, conforme Netto (2011). Compreender o envolver profissional do assistente social sob o regime autocrático burguês consiste em pensá-lo a partir da realidade vivida na época. É elemento constitutivo da renovação do Serviço Social a emergência a partir de meados da década de 1970, novos teóricos, referidos à profissão e um significativo debate teórico-metodológico Nesta ótica, a renovação do Serviço Social é um avanço mesmo que as concepções herdadas do passado não são medianamente postas em causa, registra-se uma articulação com mais consistência à ordenação dos seus componentes internos. No âmbito desta renovação, construíram-se as principais concepções profissionais que emergem e se afirmaram no período da vigência do autocratismo burguês. Neste contexto, o Serviço Social de uma parte vai criticando práticas e representações sociais tradicionais, de outra introduz diferenciações mesmo no interior das práticas e representações que se reclamavam conectadas a novas emergências, precisamente aquelas que se prendiam ao desenvolvimento de comunidade. Vislumbra-se no primeiro lustro dos anos sessenta um duplo e simultâneo movimento: o visível desprestígio do Serviço Social tradicional e a crescente valorização do que parecia transcendê-lo no próprio terreno profissional, a intervenção no plano comunitário. E, aqui, rebatendo meticulosamente o processo sócio-político em curso e as suas tensões dissociavam em três vertentes profissionais, uma corrente que extrapola para o desenvolvimento da comunidade os procedimentos e as representações tradicionais, apenas alterando o âmbito da sua intervenção; outra que pensa o desenvolvimento da comunidade numa perspectiva macrossocietária, supondo mudanças socioeconômicas estruturais, mas sempre no bojo do ordenamento capitalista; e, enfim, uma vertente que pensa o desenvolvimento da comunidade como instrumento de um processo de transformação social substantivo, conectado à libertação social das classes e O aspecto mais expressivo da renovação do Serviço Social no Brasil foi a tematização especial no plano das suas elaborações ideais, um esforço para revalidação teórica (NETTO, 2011, p. 131). REFLITA Entendemos por renovação o conjunto de características novas, que no marco das constrições da autocracia burguesa, o Serviço Social articulou a base do rearranjo de suas tradições e da assunção do conhecimento da tendência do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática, através de respostas a demandas sociais e da sua sistematização e de validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais. (NETTO, 2011, p. 131) 29WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA camadas subalternas (NETTO, 2011, p. 140) Assim se dá a renovação do Serviço Social, mantendo uma relação com o quadro anterior da profissão, resgata alguns de seus núcleos e bloqueando algumas alternativas de desenvolvimento que estavam embutidas neste colapso. A direção que condensa a renovação com o Serviço Social trata-se de uma vertente que recupera os componentes mais estratificados da herança histórica e conservadora da profissão. Aí, se opera o seu caráter renovador em confronto com o passado, é uma reatualização dele, um esforço de um lado de descrédito, cada vez mais generalizado do acervo positivista e de outros uma recusa às violentas críticas dialéticas, se favorecem do momento que a profissão está passando. Segundo Ortiz (2011, p. 157) “para a afirmação desse novo perfil profissional, era necessário se alterar as próprias condições da formação profissional em dois níveis: ampliando o número de escolas e revendo sua formação curricular”. O mesmo autor citado acima reflete com relação às consequências imediatas do amadurecimento da profissão. A renovação faz com que o Serviço Social torne-se alvo de sua pesquisa, consequentemente, o confronto com as diversas concepções da profissão. Sem dúvida este quadro político econômico golpeou a consciência e o comprometimento dos assistentes sociais em relação aos projetos desenvolvimentistas. Todos os seus cálculos acerca das transformações que adviriam em consequência da implementação das políticas desenvolvimentistas estiveram longe de cumprir-se. Entretanto, a insatisfação mais aguda em face da realidade profissional se dava menos na frente institucional e mais nos meios acadêmicos. Estudantes de Serviço Social assumiam com empenho e vigor a tarefa de revisar completamente a profissão (CASTRO apud ORTIZ, 2010, p. 160). Cabe enfatizar, segundo Netto (2011), as relações e mediações entre políticas cultural e educacional da autocracia com o processo renovador do Serviço Social no Brasil, nas duas décadas posteriores ao golpe de abril. A perspectiva modernizadora, beneficiando-se da supressão política dos suportes que sustentavam vetores básicos da crítica, ao tradicionalismo frente uma universidade burocratizada e ideologicamente neutralizadora. A intenção de ruptura seria impensável sem a tendência hegemônica cultural das correntes progressistas e da esquerda até 1968/69. O desenho global do próximo renovador sequer seria visualizado, se o Serviço Social não experimentasse na sua inserção acadêmica, com eixos principais da renovação inscritos no movimento. REFLITA A terceira direção identificada no processo de renovação do Serviço Social no Brasil, segundo Netto (2011, p. 159) é a perspectiva que se propõe como intenção a ruptura com o Serviço Social tradicional. Ao contrário das anteriores, esta possui como substrato nuclear uma crítica sistemática do desempenho tradicional e os seus suportes teóricos, metodológicos e ideológicos. Com efeito, ela manifesta a pretensão de romper quer com herança teórico-metodológica do pensamento conservador (a tradição positivismo), quer com os seus paradigmas de intervenção social (o reformismo conservador) (NETTO, 2011, p. 159). A renovação do Serviço Social. A profissão não mais seria a mesma tendo em vista os inúmeros desdobramentos observados, seja no ponto de vista da formação profissional, seja quanto às organizações políticas da própria categoria. 30WWW.UNINGA.BR FU ND AM EN TO S HI ST ÓR IC O- TE ÓR IC OS -M ET OD OL ÓG IC OS D O SE RV IÇ O | U NI ND AD E 2 ENSINO A DISTÂNCIA A perspectiva modernizadora, como já falamos, constitui-se na primeira como o processo de renovação do Serviço Social no Brasil e sua formulação encontra-se afirmada nos resultados do primeiro Seminário de Teorização do Serviço Social entre 19 e 26 de março de 1967, na estância hidromineral de Araxá (MG) e se desdobra nos trabalhos do segundo evento efetivado entre 10 e 17 de janeiro
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