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1 DIREITO TRIBUTÁRIO AULA 01 – TRIBUTO E CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS Para realizar as metas programáticas de uma dada sociedade (educação, saúde, segurança, etc.), o Estado precisa de recursos financeiros. Parte desses recursos é gerada pelo patrimônio do próprio Estado (receita originária), outra parte é lograda por intermédio da contribuição que a cada cidadão lhe é imposta (receita derivada). O Direito Tributário estuda justamente essa última fonte de receita: a que interfere no patrimônio individual do contribuinte para fazer a máquina girar. Moldado por princípios constitucionais gerais e específicos da tributação, o Direito Tributário é ramo do Direito Público e obedece a seus critérios de interpretação e integração. Receitas Públicas: Receita originária: recebida pelo Estado sem exercer seus poderes de autoridade e coercibilidade. Receita derivada: auferida pelo Estado por meio do uso do seu poder soberano. Enquanto os tributos são receitas derivadas (art. 9º, Lei n. 4.320/64), em razão de sua compulsoriedade, as tarifas ou preços públicos são receitas originárias, pois são facultativos. Art. 9º Tributo é a receita derivada instituída pelas entidades de direito publico, compreendendo os impostos, as taxas e contribuições nos termos da constituição e das leis vigentes em matéria financeira, destinando-se o seu produto ao custeio de atividades gerais ou especificas exercidas por essas entidades. Tributos são espécies de receita derivada (diferentes das receitas originárias, produzidas pelo patrimônio público), arrecadadas pelo Estado para financiar a despesa pública. Tributos: Tributo é toda a prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, 2 instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada (CTN, art. 3º). Ausência de voluntariedade. Pagamento do tributo é em dinheiro, mas não há impedimento a outras formas de pagamento, desde que a legislação tributária assim determine. O serviço militar, o trabalho nas mesas eleitorais e a composição do corpo de jurados não são tributos – ausência de pecúnia. Não constitua sanção de ato ilícito – a cobrança de tributo não representa uma imposição de penalidade. Instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada – Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude lei (CF, art. 5°, II) – Princípio da estrita legalidade. A cobrança de tributo não pode derivar do poder discricionário do agente público, que deve obedecer estritamente os mandamentos da lei. Classificação Jurídica dos Tributos: Ingenuidade do art. 4º do CTN; Cotejo entre Hipótese de Incidência e Base de Cálculo; VINCULAÇÃO À ATUAÇÃO ESTATAL - Tributos Vinculados e Tributos Não Vinculados à Atuação Estatal: Tributos vinculados são as taxas e as contribuições de melhoria, porque esses tributos têm, como fatos geradores, atividades estatais específicas. No caso das taxas, o serviço público ou o exercício do poder de polícia; no caso das contribuições de melhoria, a obra pública da qual decorra valorização imobiliária. Os não vinculados são os impostos, cujo fato gerador não é uma atividade estatal específica relativa ao contribuinte, mas decorre sim de um sinal de riqueza do contribuinte. IMPOSTOS: 3 Basta ver a definição legal de imposto no art.16, CTN: Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. Os fatos geradores dos impostos revelam sinais de riqueza do contribuinte, trazidos pela CF88, como: importar produtos estrangeiros (II); exportar produtos nacionais ou nacionalizados (IE); auferir renda e proventos de qualquer natureza (IR); ter a propriedade de veículo automotor (IPVA); prestar serviço de qualquer natureza (ISS) etc. Quanto aos Empréstimos Compulsórios e às outras Contribuições (essas últimas, às vezes), não possuem fato gerador previamente eleito pela CF88, mas somente as finalidades para as quais poderão ser criados esses tributos. A Constituição Federal de 1988, no seu art. 145, estabeleceu a competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para instituir os impostos, as taxas e a contribuição de melhoria. Já o Código Tributário Nacional (CTN), no seu art. 5º, dispõe que os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria. Porém, a doutrina dominante e o STF entendem que são cinco espécies tributárias, a saber: impostos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimo compulsório e as contribuições especiais ou parafiscais. É a chamada classificação qüinqüipartite ou quinária das espécies tributárias. Perceba que Emendas Constitucionais (EC) criaram três novas subespécies de tributos, quais sejam: • O art. 149-A, com redação determinada pela EC n. 39/2002, autorizou apenas o Distrito Federal e os Municípios a instituírem a contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública (COSIP ou CIP), podendo ser realizada sua cobrança na fatura de consumo de energia elétrica; • O art. 149, § 1º, com redação determinada pela EC nº 41/2003, autorizou os Estados, o Distrito Federal e os Municípios a instituição da contribuição previdenciária, cobrada de seus servidores, para o custeio, em beneficio destes, do sistema previdenciário respectivo, cuja alíquota não será inferior à da 4 contribuição previdenciária dos servidores titulares de cargos efetivos da União; • O art. 195, IV, com redação determinada pela EC nº 41/2003, autorizou a cobrança pela União de contribuição de seguridade social sobre o importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei infraconstitucional a ele equiparar. TAXAS: Prevê a CF88, em seu art.145: Art.145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:[...] II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição. [...] § 2º - As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos. Esse dispositivo constitucional tem bastante semelhança com o art.77, CTN, que ainda está em vigor: Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a imposto nem ser calculada em função do capital das empresas. Não pode ter FATO GERADOR idêntico ao dos Impostos: As taxas são tributos cujo fato gerador é uma atividade realizada pelo Estado, por isso, classificadas como tributo vinculado a uma atividade do Estado. 5 Já os impostos são tributos cujo fato gerador é “uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte” (art.16, CTN). Assim, são classificados como tributos não vinculados. Por isso, as taxas não podem ter fato gerador idêntico ao dos impostos, como inclusive prevê o parágrafo único do art.77, CTN. Não pode ter BASE DE CÁLCULO idêntica à dos Impostos: Também a taxa não pode ter base de cálculo própria da dos impostos. Se isso fosse possível, o legislador poderia burlar facilmente a regra que veda que taxa tenha fato gerador próprio do dos impostos. Imaginemos um exemplo. Um Município cria taxa de fiscalização de estabelecimentos comerciais dizendo que seu fato gerador é o serviço público de fiscalização dos estabelecimentoscomerciais, efetuado pelo Município, mas que sua base de cálculo será o valor venal do imóvel. Ora, valor venal do imóvel é base de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, IPTU. Ficaria uma taxa que no nome é taxa, mas que na realidade seria um imposto, IPTU, pela base de cálculo escolhida. Não pode! Há Súmula do STF nesse sentido: Súmula 595 – É inconstitucional a taxa municipal de conservação de estradas de rodagem cuja base de cálculo seja idêntica à do imposto territorial rural. Não pode ser calculada em função do CAPITAL DAS EMPRESAS: O capital das empresas é o seu patrimônio, toda a sua riqueza capaz de produzir renda. A vedação de a taxa não poder ser calculada em função do capital das empresas, na verdade, é uma decorrência da vedação anterior (não poder ter base de cálculo própria da dos impostos). Isso porque o capital de uma empresa é “uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte”, enquadrando-se justamente no fato gerador de imposto (art.16, CTN). Tanto assim o é que um dos fatos geradores do imposto de renda (art.43, CTN) é justamente a “aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda, 6 assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos”. Ou seja, a renda, que é calculada em função do capital das empresas (produto do capital), é tributada pelo imposto de renda, não podendo ser tributada pelas taxas. TAXA DECORRENTE DO EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA: O exercício regular do poder de polícia é um dos dois fatos geradores da taxa. O CTN traz definição do que vem a ser poder de polícia: Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. O STF entende que o exercício do poder de polícia tem que ser efetivo, mas isso não quer dizer a efetiva necessidade de comprovação de fiscalização e diligências locais. Basta que exista o órgão competente para tal fiscalização na estrutura do ente tributante que exercite o pertinente poder de polícia e esteja em funcionamento permanente, não sendo necessário que os estabelecimentos tenham sido efetivamente visitados pela fiscalização. TAXA DECORRENTE DE SERVIÇO PÚBLICO: Reza o art.79, CTN: Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-se: I - utilizados pelo contribuinte: a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título; 7 b) potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento; Um bom exemplo de utilização potencial é a de um condomínio fechado de casas que contratou empresa particular de coleta de lixo, a qual recolhe todo o lixo e o leva até o aterro sanitário da Prefeitura, apesar de a Prefeitura disponibilizar, em efetivo funcionamento, o serviço público de coleta de lixo domiciliar. Não podem os moradores desse condomínio se recusar a pagar a taxa de coleta de lixo alegando que não se utilizam efetivamente desse serviço. Como ele é de utilização compulsória, por se tratar de questão de saúde pública, basta ele estar em efetivo funcionamento para ser considerado de utilização potencial por aqueles moradores, sendo cobrável a respectiva taxa. Ou seja, podem até não o utilizar efetivamente, mas vão ter de pagar a respectiva taxa. Ainda o art.79, CTN: Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-se: [...] II - específicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de unidade, ou de necessidades públicas; III - divisíveis, quando suscetíveis de utilização,separadamente, por parte de cada um dos seus usuários. O serviço é divisível quando o usuário pode utilizá-lo separadamente, podendo essa utilização individualizada ser mensurada. O STF entendeu inconstitucional a taxa de iluminação pública, porque não havia como mensurar a utilização individualizada da iluminação pública pelo contribuinte. Fica impossível a quantificação da utilização por cada contribuinte. O reiterado entendimento do STF a respeito (por exemplo, nos RE’s 233.332RJ e 231.764 RJ) fez com que fosse aprovada a Súmula nº 670, que prevê: 8 Súmula nº 670: “O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.” CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA: O CTN, desde 1966, prevê que a contribuição de melhoria é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária (art.81); enquanto a Constituição, de 1988 prevê que a contribuição de melhoria é decorrente de obras públicas (art.145, III). Tributo de extrema complexidade para instituição devido às exigências previstas em lei. OUTROS TRIBUTOS: Pedágio – art. 150, V, CF; Empréstimos Compulsórios – art. 148, CF; Contribuições: a) sociais (art. 195); b) CIDE (art. 149); c) sindicais (de interesse de categorias profissionais) - (art. 149); COSIP – art. 149-A – nova receita aos Municípios. MEMOREX: 1- IMPOSTOS A. Ordinários I. Federais- art. 153 CF II. Estaduais e DF- art. 155 CF III. Municipais e DF- art. 156 CF B. Extraordinários I. Residuais- art. 154, I, CF 9 II. Extraordinário de guerra (IEG) art. 154, II, CF 2- TAXAS A. Do Poder de Polícia B. De Serviço 3- CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA 4- EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO A. Emergencial B. Investimento 5- CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS A. Contr. Intervenção no domínio econômico (CIDE) B. Contr. Corporativa I. Conselhos profissionais II. Sistema “S” C. Contr. Da seguridade social D. Contr. De custeio do serviço de iluminação pública (COSIP) AULA 02 – LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR A CF/88 possui um capítulo denominado de Sistema Tributário Nacional (art. 145 a 162) que estabelece uma seção específica sob o título “Limitações ao Poder de Tributar” (arts. 150 a 152). 10 Nessa seção, a CF estabelece diretrizes e limitações para o poder impositivo do Estado, determinando ao legislador preceitos a serem observados no momento da instituição e arrecadação dos tributos. Estudaremos algumas dessas limitações nessa aula, observando a forma como são abordadas nas questões de concursos públicos. As limitações são garantias fundamentais do contribuinte, logo, são clausulas pétreas (Art. 60,§4º IV, CF). As limitações podem ser: [a] Implícita ou [b] Explicita Implícitas: é fruto de interpretação constitucional. Explicitas: são tratadas a partir do art. 150 CF. As limitações explícitas subdividem-se em: A)Princípios e B) Imunidades tributárias. PRINCÍPIOS: Princípio da Legalidade Tributária – art. 150, I, CF. O art. 5º, II, da CF, já materializa o preceito de que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.” No entanto, dentro do Sistema Tributário Nacional esse princípio é desdobrado com a especificidade necessária ao tema e trazido pelo art. 150, I: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; Esse preceito tem dupla função: uma barreira constitucional ao legislador, que deverá criar lei para exigir ou aumentar tributo; e uma garantia ao contribuinte, de que sua esfera patrimonial somente será afetada quando houver lei em sentido estrito que preveja tal comportamento. Essa 11determinação é trazida pelo princípio da Legalidade Tributária (ou Estrita Legalidade). Há necessidade de criação de lei em sentido estrito – ato legislativo – sob pena de nulidade. LEI COMPLEMENTAR Funções: Art. 146 CF - Dispor sobre conflito de competência tributária - Regular as limitações ao Poder de tributar - Tratar sobre normas gerais em matéria de legislação tributária Art. 24, §1º CF – Normas Gerais são veiculadas pela União→ Portanto, matéria Tributária deve ser tratada por Lei complementar Federal. O CTN- Lei 5.172/66 Foi criado como Lei ordinária (em sentido formal), mas foi recepcionado como lei complementar em sentido material (conteúdo de lei complementar). Tributos Instituídos por Lei Complementar: Pode ser instituído por LC, havendo expressa previsão constitucional (é exceção); Espécies: [a] IGF- art. 153, VII, CF [b] Empréstimos Compulsórios- Art. 148 CF [c] Impostos Residuais- Art. 154, I, CF [d] Contribuições sociais residuais – Art. 195, §4º, CF MEDIDA PROVISÓRIA Art. 62 CF, EC. 32/01 A Medida provisória pode ser utilizada para INSTITUIR ou AUMENTAR impostos (art. 62, §2º) 12 Por questão de competência, as MP’s vão instituir ou aumentar impostos Federais. Art. 62 §1º, III, CF – é vedada a edição de MP sobre matéria reservada a Lei Complementar. Exceções ao Princípio da Legalidade Apesar de não haver exceção ao princípio da legalidade no que tange à instituição de tributo por lei, há exceção a esse princípio quanto à alteração de alíquotas. São aumentados ou diminuídos por decreto executivo. Tributos com natureza extrafiscal – intervenção governamental na liberdade de ação do contribuinte. IPI, II, IE e IOF – alteração por ato do Poder Executivo – art. 153, § 1º CIDE Combustíveis – redução e restabelecimento por ato do Poder Executivo – art. 177, § 4º, I, b. ICMS Monofásico – definição, redução e restabelecimento por Convênios do CONFAZ entre Estados e DF – art. 155, § 4º, IV, c, e LC 24/75. Princípio da Isonomia Tributária O Princípio da Isonomia consiste em: TRATAR IGUALMENTE AQUELES QUE SE ENCONTREM NA MESMA SITUAÇÃO e TRATAR DESIGUALMENTE AQUELES QUE SE ENCONTREM EM SITUAÇÕES DESIGUAIS, NA MEDIDA DE SUAS DESIGUALDADES. Prevê o art.150, II: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por 13 eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; [...] A CF veda o tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, a contrário senso, determina um tratamento tributário desigual entre aqueles que se encontrem em situações notoriamente distintas. A própria CF88 traz exceções fundadas em justificativas relevantes, notadamente de relevante interesse público, tanto que a parte final do art.151, I, prescreve: Art. 151. É vedado à União: I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio- econômico entre as diferentes regiões do país; Como podemos observar, promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio- econômico entre as diferentes regiões do País é uma justificativa relevante para se conceder um benefício fiscal sobre atividade econômica para determinada região do País. Princípio da Isonomia e Princípio da Capacidade Contributiva A capacidade contributiva é o parâmetro de desigualdade a ser conferido na tributação para que esta seja isonômica, tratando os contribuintes desigualmente na medida em que se desigualem. O Princípio da Capacidade Contributiva está expresso no art.145, §1º: § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos 14 da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Sempre que possível, os impostos (válido também para outros tributos) levarão em conta o critério pessoal do sujeito passivo (imposto pessoal) – Ex.: IRPF. Diferente dos impostos reais, que tributam o patrimônio, sem se atentar às características de cada contribuinte (IPVA, IPTU). Progressividade de alíquotas é uma característica do respeito ao princípio da capacidade contributiva. Princípio da Irretroatividade Estabelece o art.150, III, ‘a’, CF: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; [...] O CTN, por sua vez, prevê nos art.s 105 e 106: Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos do artigo 116. Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; 15 c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. Analisando somente a CF, não há qualquer exceção ao princípio da irretroatividade. Se considerarmos também o CTN, podemos afirmar que: (i) o princípio da irretroatividade não é incompatível com a existência de leis tributárias que produzam efeitos jurídicos sobre atos pretéritos; (ii) a retroatividade do CTN só é permitida se: a. Quando a lei for meramente interpretativa (art.106, I); b. Retroatividade benigna por infração (art.106, II); (iii) a lei que reduz ou extingue o tributo também não retroage. Mas o STF já entendeu que só lei complementar pode restringir essa retroatividade, porque é norma geral (art.146, III, ‘b’, CF88), que foi regulada pelo CTN (RE 407.190). Princípio da Anterioridade Art.150, III. [...] é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos: b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; - Exercício financeiro – só pode ser cobrado no próximo exercício. - Anterioridade nonagesimal – art. 150, III, c. Exceções à regra: Art.150, §1º A vedação do inciso III, b, [anterioridade exercício financeiro] não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I [empréstimo compulsório – calamidade ou guerra], 153, I, II, IV e V [II, IE, IPI, IOF]; e 154, I [imposto 16 extraordinário]; e a vedação do inciso III, c [anterioridade nonagesimal], não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I [empréstimo compulsório– calamidade ou guerra], 153, I, II, III e V [II, IE, IR e IOF]; e 154, I [imposto extraordinário], nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III [IPVA], e 156, I [IPTU]. Princípio da Anterioridadee Lei que Revoga Isenção Pelo entendimento tradicional do STF, se a lei revogada não concedeu a isenção por prazo certo nem em função de determinadas condições (isenção onerosa), não se equipara essa revogação a uma majoração de tributo, podendo ele ser exigido imediatamente, não se aplicando o princípio da anterioridade (RE 204.062 e Súmula 615). No entanto, pelo julgamento da ADIMC 2.325 DF, ficou decidido que “a modificação no sistema de creditamento pela norma em questão [LC nº 102/2000, que modificou a sistemática de creditamento do ICMS], quer consubstancie a redução de um benefício de natureza fiscal, quer configure a majoração de tributo, cria uma carga tributária para o contribuinte e, portanto, sujeita-se ao princípio da anterioridade”. Princípio do Não-Confisco Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] IV - utilizar tributo com efeito de confisco; - Critérios não definidos na legislação. - Confisco ≠ Pena de Perdimento de Bens: a pena de perdimento de bens tem fundamento constitucional no art.5º, XLVI. Princípio da Não-Limitação ao Tráfego de Pessoas ou Bens: 17 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público; [...] Não podem U, E, DF, M instituir tributos interestaduais ou intermunicipais para limitar o tráfego de bens ou pessoas, salvo nas exceções constitucionalmente previstas. Exceções: Pedágio e ICMS interestadual e intermunicipal. AULA 03 – IMUNIDADES IMUNIDADES: A imunidade tributária é uma hipótese constitucional de intributabilidade ou de não-incidência constitucionalmente qualificada. Nesse rumo, destaca-se o aspecto formal e material da imunidade tributária. A respeito do aspecto formal, entende-se que a imunidade é a impossibilidade jurídica da tributação, em razão da ausência de competência tributária dos entes federativos. Sob o aspecto material ou substancial, compreende-se que a imunidade é o direito público subjetivo de não ser tributado, segundo o especificado expressamente ou implicitamente nas normas constitucionais. Destacamos que a imunidade tributária não exclui a atribuição, por lei, às entidades nele referidas, da condição de responsáveis pelos tributos que lhes caiba reter na fonte, e não as dispensa da prática de atos, previstos em lei, assecuratórios do cumprimento de obrigações tributárias por terceiros, de acordo com o §1°, do art. 9°, do CTN, que ainda tem validade jurídica. Isto é, a imunidade tributária não dispensa a pessoa alcançada por ela de ser responsável tributário (arts. 128 a 138 do CTN), bem como do cumprimento das obrigações tributárias acessórias. 18 Distinções Entre Imunidade, Isenção, Incidência, Não-Incidência E Alíquota Zero Consideramos relevantes as distinções entre imunidade, isenção, incidência, não-incidência e alíquota zero. A imunidade é uma delimitação negativa de competência tributária, ou seja, não há competência tributária. Como a competência tributária é a aptidão para determinado ente criar o tributo, a imunidade traduz um elemento de incompetência tributária, sendo considerada uma “zona” na qual não poderá haver tributação e consequentemente incidência tributária. A imunidade tem sede na CF/88, materializando uma dispensa constitucional de pagamento de tributo. Sendo assim, há dispositivos constitucionais que transmitem o teor de “falsas” isenções, representando nítidas “imunidades”, existindo equívoco por parte do legislador constitucional. Por exemplo, o art. 195, §7°, da CF/88, que dispõe: “São isentas de contribuições para a seguridade social às entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei”. Esta é uma imunidade subjetiva, segundo entendimento do STF. A isenção é a dispensa legal de pagamento de um tributo devido, isto é, a autoridade não pode cobrar o tributo, eis que, mesmo acontecendo à incidência tributária (ocorre o fato gerador), está impedido de realizar o lançamento tributário. Portanto, a isenção está dentro do campo da incidência e decorre do exercício da competência tributária, sendo veiculada em norma infraconstitucional e acontece o fato gerador (obrigação tributária), porém não há constituição do crédito tributário. A incidência é a situação ocorrida no mundo dos fatos que é prevista como hipótese de incidência do tributo. É o momento da concretização do fato gerador tributário, com o nascimento da obrigação tributária. A não-incidência é o acontecimento no mundo dos fatos que não corresponde à descrição legal tributária. Assim, na não-incidência faltam elementos para enquadrar determinado fato na hipótese de incidência (fato gerador in abstrato), ou seja, é a não previsão do fato na hipótese de incidência. Com efeito, não há obrigação tributária e, por conseguinte, não há crédito tributário. 19 Logo, a não-incidência pode decorrer da falta de competência ou do não exercício da competência em toda a sua amplitude (característica da facultatividade do exercício da competência tributária). Por fim, a alíquota zero, da mesma forma que a isenção, encontra-se no campo da incidência tributária. Por conseguinte, há obrigação tributária, mas o valor do tributo é inexistente (aspecto quantitativo), por simples razão matemática. Isto é, a multiplicação da base de cálculo por zero é igual a zero (BC x AL = 0). Então, o valor do tributo a ser pago é nulo. Imunidade Recíproca – art. 150, VI, a Cláusula Pétrea A Imunidade Recíproca decorre da Igualdade Político-Jurídica entre os Entes Federados, e como a FORMA FEDERATIVA DE ESTADO É CLÁUSULA PÉTREA, também a Imunidade Recíproca não pode ser excepcionada nem por Emenda à Constituição (Decisão na ADI 939, que declarou inconstitucional dispositivo da EC 3/1993, que pretendia excluir o antigo Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira - IPMF da Imunidade Recíproca). Se os Entes Federados pudessem cobrar impostos uns dos outros, isso poria em risco a Federação. As imunidades relativas ao art.150, VI, CF88, são RESTRITAS AOS IMPOSTOS. Por exemplo, o Estado de MS pode cobrar taxa pela emissão de certidão de cartório solicitada pelo Município de Aquidauana. Não se aplica a Imunidade Recíproca às Contribuições (AgRg no RE 378.144) Não se aplica a Imunidade Recíproca às Taxas (RE 364.202). A CF fixa que a empresa pública, a sociedade de economia mista e suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços devem se submeter ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações tributárias, bem como preceitua que as empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado (art. 173, §1°, II c/c §2°). Destarte, em princípio, a imunidade tributária recíproca não alcançaria as empresas públicas e sociedades de economia mista, exceto quanto às atividades tipicamente estatais. 20 O STF decidiu que Empresa pública e sociedade de economia mista prestadoras de serviços públicos considerados essenciais ao funcionamento do Estado terão imunidades recíprocas. (Ex. Correios, Infraero, Casa da Moeda do Brasil) Aplica-se a imunidade recíproca à propriedade de veículos automotores destinados à prestação de serviços postais (STF AgR-ACO 765); às operações de importação de bens realizadas por municípios, quando o ente público for o importador do bem — identidade entre o "contribuintede direito" e o "contribuinte de fato" —, competindo ao ente tributante provar que as operações de importação desoneradas estão influindo negativamente no mercado, a ponto de violar o artigo 170 da Constituição (STF AgR-AI 518405); aos impostos incidentes sobre serviços, patrimônio ou renda do próprio ente beneficiado, na qualidade de contribuinte de direito (STF AgR-ARE 663552). ATENÇÃO! Empresa Pública e Sociedade de economia mista exploradoras de atividade econômica (concorrência com o particular/ fim lucrativo) não gozam de imunidades recíprocas - Art. 173, §2º e art. 150 §3º CF- (Ex. Caixa econômica federal, Banco do Brasil, Petrobras). IMUNIDADE DOS TEMPLOS: Igualmente denominada de imunidade religiosa, está prevista no art. 150, VI, “b” e §4°, da CF/88, alcançando os impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades religiosas. A imunidade deve abranger qualquer culto religioso, atingindo, portanto, todas as religiões. A imunidade tributária religiosa proíbe o IPTU sobre imóveis de propriedade dos templos que se encontram alugados, eis que deve abranger não somente os prédios destinados ao culto, mas, também, o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades religiosas (RE 325.822). O STF também entende que os cemitérios que consubstanciam extensões de entidades de cunho religioso estão abrangidos pela imunidade religiosa, com a impossibilidade da incidência de IPTU em relação a eles (RE 578.562). A imunidade não se entende às pessoas (bispos, padres, anciãos, pastores, ministros ou reverendos). 21 Não há vedação para o envio de dinheiro para o exterior, desde que declarado à SRF. São imunes ainda, todos os artigos religiosos. ATENÇÃO! Desde que revertida às finalidades essenciais permanece imune de IPTU o imóvel/terreno alugado a terceiros. (STF inteligência da Súmula 724). Ainda: - Para o STF a Maçonaria não goza de imunidade, pois não é instituição religiosa. - Religiões que professam o Satanismo não têm imunidade (Interpretação do Preâmbulo da CF/88) IMUNIDADE DOS PARTIDOS POLÍTICOS, ENTIDADES SINDICAIS DOS TRABALHADORES, INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO E DE ASSISTÊNCIA SOCIAL O texto constitucional estabelece a proibição de se criar impostos sobre patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei, bem como dispõe que tal vedação compreende somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais destas entidades, segundo o art. 150, VI, “c” e §4°. Neste contexto, salientamos que o enunciado “sem fins lucrativos” diz respeito às instituições de educação e de assistência social, estabelecendo o STF que a CF/88 remete à lei ordinária a fixação de normas sobre a constituição e o funcionamento da entidade educacional ou assistencial imune, mas não os limites da imunidade, que, quando susceptíveis de disciplina infraconstitucional, ficou reservado à lei complementar, de acordo com o art. 146, II (ADI 1.802). Deste modo, para ser considerada entidade “sem fins lucrativos” se deve atender o art. 14 do CTN, estabelecendo os requisitos de: (i) não distribuir 22 qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título; (ii) aplicar integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; (iii) manter escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar a sua exatidão. Portanto, na falta de cumprimento destes requisitos, a autoridade competente pode suspender a aplicação do benefício da imunidade tributária. Os requisitos são cumulativos e, quando não observados, retira das pessoas contempladas, o benefício fiscal da imunidade. IMUNIDADE DOS LIVROS, JORNAIS, PERIÓDICOS E O PAPEL DESTINADO A SUA IMPRESSÃO Também chamada de imunidade cultural, está prevista no art. 150, VI, “d”, visando concretizar diversas normas jurídicas constitucionais, tais como a livre manifestação de pensamento (art.5°, IV), da atividade artística, intelectual, científica e da comunicação (art. 5°, IX) e o acesso à informação (art. 5°, XIV). Segundo o Enunciado 657 do STF, a imunidade cultural abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos. O STF entendia pela impossibilidade de a imunidade cultural ser estendida a outros insumos não compreendidos no significado do enunciado papel destinado à sua impressão (RE 324.600-AgR). Contudo, com o julgamento do RE 330.817, de relatoria do Min. Dias Toffoli, foi equiparado ao papel o suporte eletrônico utilizado para a publicação dos livros digitais. Assim, são alcançados pela imunidade cultural tanto os livros eletrônicos como os aparelhos leitores de livros eletrônicos, “confeccionados exclusivamente para esse fim, ainda que, eventualmente, estejam equipados com funcionalidades acessórias ou rudimentares que auxiliam a leitura digital, tais como dicionário de sinônimos, marcadores, escolha do tipo e do tamanho da fonte etc.” (RE 330.817) Tema n.º 593 Repercussão Geral: A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se ao livro eletrônico (e-book), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo. 23 Vale dizer que não se leva em conta o VALOR ARTÍSTICO ou DIDÁTICO, a RELEVÂNCIA DAS INFORMAÇÕES DIVULGADAS, a QUALIDADE CULTURAL ou o VALOR PEDAGÓGICO da publicação. Assim, são IMUNES: - ÁLBUNS DE FIGURINHAS – Visam estimular o público infantil a se familiarizar com os meios de comunicação impressos. Facilitam o acesso à cultura, à informação e à educação (RE 221.239 SP; 179.893 SP). - APOSTILAS ou MANUAIS TÉCNICOS PARA CURSOS DE TREINAMENTO – Veículo de transmissão de cultura simplificado (RE 183.403). - LISTAS TELEFÔNICAS – Permitem divulgação de informações necessárias ao serviço público a custo zero para os assinantes (RE 199.183). Mas NÃO SÃO IMUNES: - CALENDÁRIOS COMERCIAIS, FOLHINAS, AGENDAS (RE 87.633) - MANUAIS DE OPERAÇÕES DE MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS - CADERNOS E BLOCOS DE PAPEL PARA ANOTAÇÃO - LIVROS CONTÁBEIS - IMPRESSOS DE PROPAGANDA MERCANTIL, INDUSTRIAL OU PROFISSIONAL. Objetivo: Proteger livros, jornais, revistas e periódicos + álbum de figurinhas, apostilas, revistas em meio eletrônico, fascículos semanais (entendimento jurisprudencial). Esta imunidade não alcança os autores, editoras, empresas de publicidade e propaganda. A jurisprudência do STF estendeu a imunidade ao Papel Especial/fotográfico e à Tinta. Revistas e livros de conteúdo pornográfico ou estrangeiro são imunes de impostos. 24 ATENÇÃO! A imunidade é apenas para IMPOSTO, não alcançando taxas, contribuições e outros tributos. Imunidade de CD’s e DVD’s Objetivo: Protege a intenção do legislador é a proteção da produção nacional de CD’s e DVD’s, quando realizada por artistas brasileiros. A intenção do legislador foi também intimidar a pirataria, já que no processo de produção estão imunes os impostos. Alcance: Somente a produção realizada por artistas nacionais dentro do território nacional: I- Na produção de músicas autorias e; II- Na interpretação de músicas não autorias de qualquer forma. AULA 04 – COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA E REPARTIÇÕES DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS 4.I - COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA 1. CONCEITO A competência tributária é o poder conferido à União, aos Estados-membros, ao Distrito Federal e aos Municípios de instituir tributos por meio do processo legislativo discriminado nas normas constitucionais. Sendo assim, decorre do princípio federativoque somente as pessoas que detêm poder de legislar possuem competência tributária ou, em outros termos, “poder de tributar”. Portanto, as pessoas dotadas de poder de legislar a respeito da criação ou instituição dos tributos são os entes federativos ou as pessoas políticas, isto é, a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios. Neste sentido, devemos entender que a CF/88 não institui os tributos, mas sim outorga a competência tributária para os entes federativos criarem os tributos e descreve de que forma esta competência pode ser exigida. 25 Capacidade ativa ≠ competência tributária Capacidade tributária ativa: capacidade de arrecadação e a fiscalização de tributos. A capacidade tributária ativa é o exercício da administração tributária! Para o STF toda pessoa jurídica de direito público pode exercer capacidade tributária ativa (entes federativos, autarquias e fundações públicas) LEMBRETE: Todo aquele que tem competência tem capacidade tributária, mas nem todo aquele que tem capacidade tributária tem competência. Características e atributos da capacidade tributária: a) Delegabilidade- os entes federativos podem delegar capacidade para Autarquias e fundações públicas; b) Transferibilidade- os entes federativos podem transferir capacidade tributária entre si mediante autorização constitucional. Ex. Art. 153, §4º inc. III CF- Os municípios que desejarem (opcional) poderão arrecadar e fiscalizar o valor pago a título de ITR; e ficarão com 100% do valor arrecadado; c) Precariedade- a delegação da capacidade tributária ativa pode ser revogada a qualquer tempo por ato unilateral. 2. CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA A competência tributária classifica-se como exclusiva, residual, extraordinária, comum e cumulativa. A competência tributária exclusiva se refere à competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para instituir os tributos que a Constituição prevê especificamente apenas para cada ente federativo, a saber: Competência exclusiva ou privativa da União (i) Impostos: a) imposto sobre importação de produtos estrangeiros (II) – art. 153, I; b) imposto sobre exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados (IE) – art. 153, II; c) imposto sobre renda e proventos de 26 qualquer natureza (IR) – art. 153, III; d) imposto sobre produtos industrializados (IPI) – art. 153, IV; e) imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários (IOF) – art. 153, V; f) imposto sobre propriedade territorial rural (ITR) – art. 153, VI; g) imposto sobre grandes fortunas (IGF) – art. 153, VII. (ii) Empréstimos Compulsórios (art. 148): a) empréstimo por calamidade ou guerra externa (art. 148, I); b) empréstimo por investimento público urgente e de relevância nacional (art. 148, II); (iii) Contribuições especiais ou parafiscais: a) contribuições de seguridade social (art. 195, art. 239; ADCT, art. 74, 75, 84 e 90); b) contribuições sociais (art. 212, § 5º e art. 240); c) contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas, também denominadas de corporativas (art. 149); d) contribuições de intervenção no domínio econômico (CIDE) – art. 149 e art. 177, § 4º. Competência exclusiva ou privativa dos Estados e do Distrito Federal (i) Impostos (CF, art. 155): a) impostos sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos (ITCMD) – art. 155, I; b) impostos sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (ICMS) – art. 155, II; c) imposto sobre propriedade de veículos automotores (IPVA) – art. 155, III. Competência exclusiva ou privativa dos Municípios e do Distrito Federal (i) Impostos (CF, art. 156): a) imposto sobre propriedade predial e territorial urbana (IPTU) art. 156, I; b) impostos sobre transmissão inter vivos, por ato oneroso, de bens imóveis e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição (ITBI) – art. 156, II; c) imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS), não compreendidos no ICMS, definidos em lei complementar – art. 156, III; (ii) Contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública (COSIP ou CIP) - art. 149-A. 27 A competência tributária residual se refere à competência da União para instituir, mediante lei complementar (legislador ordinário), impostos não previstos na sua competência, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição (art. 154, I). Assim sendo, realça-se que, no caso da instituição de novo imposto pela União, no exercício de sua competência residual, o denominado imposto residual deve ter o seu fato gerador, bases de cálculo, contribuintes e alíquotas previstas em lei complementar. A competência tributária extraordinária é a competência da União para instituir na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação (art. 154, II). A competência tributária comum ou concorrente é a competência de todos os entes políticos para instituição de taxas, contribuições de melhoria e contribuição previdenciária dos seus servidores, dentro da esfera de competência político-administrativa de cada um. Competência comum da União, Estados-membros, DF e Municípios Taxas: a) taxas de polícia; b) taxas de serviço. Contribuições de Melhoria. Contribuição previdenciária. Por fim, a competência tributária cumulativa é a competência da União para instituir, em Território Federal, os impostos estaduais e, se o Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os impostos municipais (art. 147, da CF/88). 28 3. CARACTERÍSTICAS DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA A doutrina atribui algumas características à competência tributária, a saber: (i) Indelegabilidade; (ii) Incaducabilidade ou imprescritibilidade; (iii) Inalterabilidade; (iv) Irrenunciabilidade; (v) Facultatividade; (vi) Privatividade. 4. II - REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS Buscando equalizar o déficit de arrecadação entre os entes federados em razão da disparidade da competência tributária prevista na CF, o Título VI (Da Tributação e do Orçamento), Capítulo I (Do Sistema Tributário Nacional), abre a Seção VI (Da Repartição das Receitas Tributárias), que muito nos importa estudar para as provas da OAB. Perceba que a própria Constituição atribui ora aos Estados e ora aos Municípios parte das receitas arrecadas pela União, já que a eles foram destinadas porções menores da competência tributária. A banca da FGV costuma trazer esse tema em suas questões, seja de primeira ou de segunda fase, como será visto nos exercícios sobre o tema. Assim, a Seção VI se inicia com o art. 157 com o rateio entre a União e os Estados do “produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem” (art. 157, I, CF). Isso quer dizer que o imposto de renda retido na fonte sobre salário, proventos ou remuneração paga pelo Estado, suas autarquias e fundações que instituir ou mantiver, ficará integralmente com o Estado e não será destinado aos cofres da União Federal. 29 Não confunda com o imposto retido na fonte sobre os salários pagos pela iniciativa privada. Estes serão sempre destinados à União, na forma da competência prevista na Constituição (art. 153, III). Essa mesma repartição é repetida no art. 158, I da CF. Contudo, nesse dispositivo, o rateio é feito entre União Federal e Municípios:“o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem”. Também cabe ao Estado 20% (vinte por cento) do produto da arrecadação do imposto que a União instituir no exercício da competência que lhe é atribuída pelo art. 154, I. Ou seja, SE for instituído pela União o imposto residual – até o momento não houve sua instituição – os Estados ficarão com 20% da arrecadação. Aos Municípios, além do imposto de renda retido na fonte pelos valores pagos aos seus servidores e demais funcionários como vimos no art. 158, I da CF, cabe metade da arrecadação do ITR cobrado dos imóveis neles situados. Caso esses Municípios tenham optado por exercer a capacidade tributária ativa (fiscalizar e cobrar o ITR) – opção prevista no art. 153, § 4º, III, CF – eles ficarão com a totalidade da arrecadação. Esse tema é muito cobrado nas provas da FGV, portanto, vale a pena memorizar esse dispositivo! Ainda, os Municípios também ficam com cinqüenta por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre a propriedade de veículos automotores licenciados em seus territórios (art. 158, III, CF). Sim! O Estado reparte metade do IPVA com o Município que licenciou o veículo. Assim, se seu carro tem a placa de Campo Grande, pode ter certeza que o Município de Campo Grande ficou com metade do imposto que você pagou ao Estado pela propriedade do veículo automotor. Por fim, cabe ao Município vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do ICMS (art 158, IV). As demais disposições nesta Seção nunca foram abordadas nas provas da OAB na primeira fase, motivo pelo qual não serão tratadas aqui nesta apostila. 30 AULA 05 – OBRIGAÇÃO, SOLIDARIEDADE, CAPACIDADE E RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA 5.I - OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorrente da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. § 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária. A obrigação tributária nasce com o acontecimento no mundo fático da hipótese prevista na norma tributária. Pode ser: principal ou acessória. OBRIGAÇÃO PRINCIPAL – É o dever de pagar tributo e decorre do Fato Gerador. Sempre criado por lei em sentido estrito. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA – É o cumprimento dos deveres instrumentais determinados na legislação tributária. Será sempre um fazer ou não fazer em prol da fiscalização e arrecadação dos tributos. Pode ser criada por lei ou ato infralegal. Ex.: emitir nota fiscal; manter escrituração fiscal, guardar e conservar livros fiscais. IMPORTANTE: A obrigação acessória independe da principal!! Com a ocorrência do fato gerador e o surgimento da obrigação tributária, o vínculo obrigacional se fecha ligando o sujeito ativo ao sujeito passivo, fazendo surgir imediatamente o direito subjetivo de exigir a prestação e o correspondente dever objetivo de prestá-la. SUJEITO ATIVO – Art. 119 e 120 do CTN. 31 SUJEITO PASSIVO – Art. 121 – Pessoa obrigada ao pagamento do tributo ou penalidade pecuniária. O sujeito passivo da obrigação principal pode ser: a) Contribuinte - quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; b) Responsável - quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei. IMPORTANTE: Convenções particulares que tratem sobre a responsabilidade pelo pagamento de tributos não são oponíveis à Fazenda Pública. Ex. Contrato de locação de imóvel que se fixa a responsabilidade do locatário pelo pagamento do IPTU. 5.II – SOLIDARIEDADE TRIBUTÁRIA No direito tributário a solidariedade é sempre passiva e está ligada ao interesse comum dos devedores solidários na situação ou à disposição expressa em lei. Art. 124. São solidariamente obrigadas: I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal; II - as pessoas expressamente designadas por lei. Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem. Art. 125. Salvo disposição de lei em contrário, são os seguintes os efeitos da solidariedade: I - o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais; II - a isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se outorgada pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo saldo; III - a interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados, favorece ou prejudica aos demais Vale ressaltar a inexistência do chamado benefício de ordem na solidariedade tributária. TODOS PODEM SER CHAMADOS A SALDAR INTEGRALMENTE O TRIBUTO DEVIDO. 32 5.III - CAPACIDADE TRIBUTÁRIA PASSIVA Já estudamos a capacidade tributária ativa, que é aquela aptidão para figurar no polo ativo da obrigação tributária. Passemos agora à figura da capacidade tributária PASSIVA. Art. 126. A capacidade tributária passiva independe: I - da capacidade civil das pessoas naturais; II - de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios; III - de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional. Tem capacidade tributária passiva aquele que deve recolher tributo, ou seja, quem realiza o fato gerador. Segundo o CTN, a capacidade tributária passiva independe da capacidade civil das pessoas naturais. Podem ser sujeitos passivos: - Os menores de idade, nestes incluídos os recém-nascidos; - Os silvícolas (índios); - Os loucos de todo gênero, os pródigos, os deficientes físicos, as pessoas de capacidade mental/intelectual reduzida, os analfabetos, os presidiários; - Os enfermos, os desaparecidos; - Os estrangeiros; - As sociedades irregulares, as sociedades com existência apenas de fato, os ambulantes, os camelôs, os vendedores de porta em porta; - Os interditados, os tutelados, os curatelados; - O espólio, a herança jacente; - Quem mais a lei determinar. 33 5.IV – DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO O domicílio tributário pode ser definido como o local em que o sujeito passivo, seja o contribuinte ou o responsável, exerce todos os atos, direitos ou deveres perante a administração tributária. A regra do CTN é que o contribuinte pode escolher seu domicílio tributário, onde melhor lhe convier. Não pode, entretanto, utilizar-se desse poder de escolha para evitar ou dificultar a fiscalização e/ou arrecadação de tributos. Art. 127. Na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável, de domicílio tributário, na forma da legislação aplicável, considera-se como tal: I - quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua atividade; II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento; III - quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no território da entidade tributante. § 1º Quando não couber a aplicação das regras fixadas em qualquer dos incisos desteartigo, considerar-se-á como domicílio tributário do contribuinteou responsável o lugar dasituação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação. § 2º A autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito, quando impossibilite ou dificulte a arrecadação ou a fiscalização do tributo, aplicando-se então a regra do parágrafo anterior. 5.V – RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA A lei delega a pessoa relacionada com a ocorrência do fato gerador a responsabilidade pelo cumprimento da obrigação tributária. A relação passa a ser entre o Fisco e o responsável. 34 A atribuição de responsabilidade deve ser de modo expresso, e por meio de lei em sentido estrito, sem a qual ninguém poderá ser considerado responsável pelo pagamento de tributo algum. SOMENTE A LEI PODE ATRIBUIR RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. A terceira pessoa escolhida na lei de modo expresso DEVE SER VINCULADA AO FATO GERADOR, sem o qual é indevida a atribuição. Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação. RESPONSABILIDADE POR SUBSTITUIÇÃO - Também conhecida como substituição tributária, nesse tipo de responsabilidade, a atribuição desta ocorre desde o momento da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, quando o responsável (substituto) ocupa o lugar do contribuinte (substituído) de forma imediata, sendo aquele o sujeito passivo da relação. RESPONSABILIDADE POR TRANSFERÊNCIA - transferência da responsabilidade pelo pagamento do tributo devido do contribuinte para o responsável previsto na lei, mas em momento posterior à ocorrência do fato gerador da obrigação, tendo em vista a ocorrência de algum fato previsto na lei. Aqui, existe inicialmente a figura do contribuinte no momento da ocorrência do fato gerador, sendo posteriormente a responsabilidade transferida para o responsável tributário. Subdividida em três grupos: a) Responsabilidade solidária – arts. 124 e 125 CTN; b) Responsabilidade dos Sucessores – arts. 129 a 133 CTN; e c) Responsabilidade de Terceiros – arts. 134 e 135 CTN. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÕES - Essa é a responsabilidade estabelecida em razão da prática de infrações à legislação tributária, conforme definido nos artigos 136 a 138 do CTN. 5.VI – DENÚNCIA ESPONTÂNEA 35 A denúncia espontânea é um benefício concedido pelo Fisco, antes de notificado o sujeito passivo, para que seja corrigido eventual equívoco, recolhendo-se, quando houver, o montante do tributo devido, acrescido dos juros de mora. Sua previsão é expressa no art. 138 do CTN: Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração. Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração. AULA 06 – CRÉDITO, LANÇAMENTO, SUSPENSÃO, EXTINÇÃO, PAGAMENTO INDEVIDO E EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO 6.I – CRÉDITO TRIBUTÁRIO O CTN diferencia a obrigação tributária, já estudada nas aulas anteriores, do crédito tributário. A primeira surge – automática e infalivelmente – com a realização da hipótese de incidência prevista na norma tributária abstrata, criando o vínculo obrigacional entre sujeito ativo e sujeito passivo. Contudo, a mera obrigação tributária não é suficiente para que o Fisco possa efetivamente cobrar o valor previsto em lei. É necessária a formalização, em linguagem competente, da constituição do crédito tributário. Essa constituição é realizada por intermédio de um procedimento administrativo chamado lançamento tributário. O lançamento tem previsão a partir do art. 142 do CTN e possui importância fundamental para nosso estudo. Isso porque é o lançamento que proporcionará ao fim e ao cabo a possibilidade do Fisco cobrar do contribuinte o montante devido pela realização no mundo físico da hipótese de incidência prevista na norma tributária. Vejamos o que nos traz o CTN: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo 36 devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. Assim, lançamento é o procedimento “privativo” da autoridade administrativa que registra a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária e o formaliza em linguagem prevista em lei para que o Fisco possa, então, cobrar o montante devido do contribuinte. Muito embora o CTN estabeleça que o procedimento compete privativamente à autoridade administrativa, veremos que em muitos casos o crédito é constituído sem qualquer intervenção do Fisco. Isso acontece rotineiramente nos tributos sujeitos ao lançamento por homologação: “(...) nos tributos sujeitos a lançamento por homologação, a apresentação de Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais - DCTF, de Guia de Informação e Apuração do ICMS- GIA, ou de outra declaração dessa natureza, prevista em lei, é suficiente para a cobrança dos valores nela declarados, dispensando-se qualquer outra providência por parte do Fisco. (STJ, AgRg no REsp 1259563/PE, de 06/10/2011)” “Súmula STJ nº 436: A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.” Nesses casos, o envio das declarações pelo sujeito passivo importa em confissão de dívida por este e na constituição formal do crédito tributário, sendo dispensável a homologação formal do lançamento por parte da autoridade competente. Não há nem mesmo a necessidade de prévia notificação ao sujeito passivo nem a instauração de regular processo administrativo. Sendo declarado e não pago, poderá o débito ser inscrito automaticamente em dívida ativa. Esse é o atual entendimento do STJ. De todo modo, a sistemática adotada pelo CTN dispõe que o lançamento é ato privativo da autoridade fiscal. Portanto, na hora da prova, não se hesite em seguir esse conceito! Após notificação do sujeito passivo do lançamento realizado, só é possível sua alteração por meio de: 1) impugnação do sujeito passivo; 2) recurso de ofício do próprio Fisco; 3) iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no art. 149; (art. 145, CTN). 37 Assim, temos: Lançamento é um procedimento administrativo vinculado (a forma de lançar está descrita na lei). O lançamento torna o crédito tributário exigível. Vício no lançamento: gera anulação. A falta do lançamento pela autoridade fiscal gera responsabilização funcional do agente. Passemos, então, às MODALIDADES DE LANÇAMENTO: a)De ofício (direto) ou por Revisão:Art. 149 CTN. O Fisco lança sem a necessidade de qualquer informação do contribuinte. A autoridade administrativa já possui todos os elementos para constituir o crédito tributário. Ex. IPVA e IPTU. b) Declaração (Misto): Art. 147 CTN. O Fisco lança com base nas informações prestadas em parte pelo contribuinte. Ex.Imposto de Importação; ITCMD e ITBI. c) Homologação (autolançamento): Art. 150 CTN. O contribuinte realiza todo procedimento administrativo, antecipa o pagamento do tributo e informaquanto pagou. Modalidade atualmente mais utilizada, tendo em conta a pluralidade de operações nas sociedades de massa. Facilita a fiscalização e arrecadação pelo Fisco. Ex. ICMS, IRPF. O Fisco irá concordar ou não com o pagamento realizado. O ato de concordância denomina-se homologação. A homologação pode ser de duas formas: A) EXPRESSA- quando a autoridade fiscal expressamente homologa o crédito e concorda com o montante recolhido a título de tributo, extinguindo a obrigação tributária; 38 B) TÁCITA- quando o Fisco deixa de se manifestar pelo prazo previsto em lei (5 anos – art. 150, § 4º), ocorre a homologação tácita do lançamento e do pagamento. 6.II – SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO O CTN prevê algumas hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário em seu art. 151. Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II - o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança. V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o parcelamento. Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela conseqüentes. Nesses casos, o Fisco fica impedido de cobrar o crédito, podendo, entretanto, promover o lançamento das obrigações tributárias ocorridas durante a suspensão da exigibilidade para evitar a decadência do direito de lançar. Enquanto subsistir a suspensão da exigibilidade, o contribuinte terá direito à CPD-EN – Certidão Positiva de Débitos com Efeitos de Negativa. Esse documento é muito útil para os contribuintes que contratam com a Administração Pública e precisam demonstrar estarem em dia com as obrigações fiscais (Lei nº 8.666). MEMOREX: MO-DE-RE-CO-PA 6.III – EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO 39 O CTN traz em seu art. 156 as hipóteses de extinção do crédito tributário. Perceba que na maioria delas o pagamento é a principal forma de extinção do crédito. Além dele, há a remissão (perdão do crédito), a prescrição e a decadência e as decisões administrativas e judiciais, que não possam ser reformadas. Art. 156. Extinguem o crédito tributário: I - o pagamento; II - a compensação; III - a transação; IV - remissão; V - a prescrição e a decadência; VI - a conversão de depósito em renda; VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X - a decisão judicial passada em julgado. XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. Parágrafo único. A lei disporá quanto aos efeitos da extinção total ou parcial do crédito sobre a ulterior verificação da irregularidade da sua constituição, observado o disposto nos artigos 144 e 149. Lembre-se: a) decadência – fulmina o direito de lançar (constituir o crédito) – art. 173; b) prescrição – fulmina o direito de cobrar (lançamento já realizado) – art. 174 e art 150, § 4. IMPUTAÇÃO DE PAGAMENTO – O art. 163 prevê casos em que haja dois ou mais débitos vencidos com o mesmo sujeito ativo. Há uma prioridade na imputação do pagamento, como se observa: 40 Art. 163. Existindo simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do mesmo sujeito passivopara com a mesma pessoa jurídica de direito público, relativos ao mesmo ou a diferentestributos ou provenientes de penalidade pecuniária ou juros de mora, a autoridade administrativacompetente para receber o pagamento determinará a respectiva imputação, obedecidas asseguintes regras, na ordem em que enumeradas: I - em primeiro lugar, aos débitos por obrigação própria, e em segundo lugar aosdecorrentes de responsabilidade tributária; II - primeiramente, às contribuições de melhoria, depois às taxas e por fim aosimpostos; III - na ordem crescente dos prazos de prescrição; IV - na ordem decrescente dos montantes. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO – instituto utilizado pelo contribuinte quando esteja diante de exigência indevida para o pagamento do tributo; seja exigido por mais de uma pessoa e haja dúvida a quem pagar; e demais casos previstos no art. 164: Art. 164. A importância de crédito tributário pode ser consignada judicialmente pelo sujeito passivo, nos casos: I - de recusa de recebimento, ou subordinação deste ao pagamento de outro tributo ou de penalidade, ou ao cumprimento de obrigação acessória; II - de subordinação do recebimento ao cumprimento de exigências administrativas sem fundamento legal; III - de exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito público, de tributo idêntico sobre um mesmo fato gerador. § 1º A consignação só pode versar sobre o crédito que o consignante se propõe pagar. § 2º Julgada procedente a consignação, o pagamento se reputa efetuado e a importância consignada é convertida em renda; julgada improcedente a consignação no todo ou em parte, cobra-se o crédito acrescido de juros de mora, sem prejuízo das penalidades cabíveis. 6. IV – PAGAMENTO INDEVIDO E REPETIÇÃO DE INDÉBITO O CTN estabelece a possibilidade de restituição do indébito por meio de requerimento administrativo ou ação judicial. Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes casos: 41 I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido; II - erro na edificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota aplicável, nocálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência de qualquer documento relativo ao pagamento; III - reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória. PRAZO PARA REPETIÇÃO (art. 168) – 5 anos contados: a) da extinção do crédito (hipóteses dos incisos I e II do art. 165); b) da data em que a decisão transitar em julgado (hipóteses do inciso III do art. 165). Art. 169 – Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão administrativa que denegar a restituição. O prazo de prescrição é interrompido pelo início da ação judicial,recomeçando o seu curso, por metade, a partir da data da intimação validamente feita aorepresentante judicial da Fazenda Pública interessada. 6.V – EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO São duas as modalidades de exclusão do crédito tributário: a isenção e a anistia. MEMOREX: AN – IS DICA – Se você decorar as hipóteses de suspensão da exigibilidade (MO-DE- RE-CO-PA) e as de exclusão do crédito tributário (AN-IS), as demais hipóteses serão de extinção do crédito. Sobre a Isenção, vimos rapidamente seus contornos quando estudamos o instituto da imunidade tributária. Sua previsão está inserida nos art.s 176 a 17 CTN. É a dispensa legal do pagamento de tributo. Lembre-se:Somente lei em sentido estrito concede ou extingue isenção! A isenção só atinge a obrigação tributária principal, não se estendendo à obrigação acessória. Prazos: 42 a) Isenção por prazo indeterminado → pode ser revogada a qualquer tempo e não gera direito adquirido. (Art. 175, par. único CTN) STF: Havendo revogação da isenção por prazo indeterminado, a cobrança do tributo observa o princípio da anterioridade. b) Isenção por prazo determinado→ é irrevogável, tal isenção gera direitoadquirido (art. 178 CTN) Anistia é o perdão da penalidade e está prevista nos arts. 180 a 182 CTN. Não são abrangidas pela anistia as seguintes multas: A) Multas aplicadas após a vigência da lei; B) Multas decorrentes de conluio entre duas ou mais pessoas; C) Multas decorrentes de dolo, fraude ou simulação; D) Multas decorrentes de crime tributário.
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