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AULA 1 ESTRUTURAÇÃO, ELABORAÇÃO DE PROJETOS E FARMÁCIA SATÉLITE Prof.ª Fabrine Cecon 2 INTRODUÇÃO Conceitos em farmácias hospitalar e satélite A principal função e responsabilidade da farmácia hospitalar é realizar vários processos que visam ao uso racional e consciente de medicamentos e correlatos. Neste local são armazenados, controlados e dispensados os materiais e medicamentos, sempre primando pela segurança do paciente. (Ministério da Saúde, 1994). Farmácia satélite é uma farmácia localizada no próprio setor da dispensação, geralmente em setores críticos, tendo como finalidade estocar adequadamente os medicamentos e materiais e proporcionar uma assistência farmacêutica efetiva e direta, de forma que o paciente seja prontamente atendido, ou seja, que seu atendimento aconteça com maior agilidade. (Cavallini; Bisson, 2002). Farmácias Satélites podem ser definidas como núcleos farmacêuticos distribuídos em locais específicos, a fim de garantir uma maior rapidez na entrega dos medicamentos para os pacientes, com controles rigorosos dos estoques. Uma das características relacionadas à farmácia satélite é a descentralização dos serviços prestados, proporcionando maior agilidade ao sistema de distribuição de medicamentos e permitindo maior interação entre as farmácias e os diversos setores do hospital. (Carbonera, 2011) Após analisarmos os conceitos de farmácia hospitalar geral e de farmácia satélite, podemos concluir que o controle de estoque de materiais médico-hospitalares e medicamentos é o ponto focal em qualquer instituição hospitalar, e que as atividades de assistência farmacêutica corroboram com a integridade dos controles. Não podemos nos esquecer de conceituar as atividades de gestão e controle realizadas pelo farmacêutico, como a farmácia clínica e a atenção farmacêutica – atividades inseridas na cadeia assistencial farmacêutica. O objetivo principal do estudo da farmácia satélite é expandir a gestão farmacêutica, o abastecimento de materiais médico-hospitalares e medicamentos de qualidade em locais estratégicos dentro da instituição hospitalar. É muito importante que qualquer ambiente destinado à dispensação de medicamentos, em âmbito hospitalar, seja assistido pelo profissional farmacêutico. A preocupação com a gestão de estoques farmacêuticos é constante dentro dos hospitais, e várias ferramentas de gestão e controle são implementadas para 3 assegurar a dispensação segura, o que, além de reduzir as divergências de estoques, garante a segurança para os pacientes. Além dos controles da assistência farmacêutica, a gestão de estoques impacta na redução de custos e garante que o fluxo de distribuição e armazenamento seja feito corretamente, garantindo a integridade dos materiais médico-hospitalares e medicamentos. TEMA 1 - BREVE HISTÓRICO DA ATIVIDADE FARMACÊUTICA Não podemos deixar de abordar o histórico da profissão farmacêutica. Antigamente, as farmácias eram conhecidas como “boticas” coloniais, nas quais o boticário pesquisava, manipulava e avaliava novos produtos – a maioria de origem animal ou vegetal. Uma de suas principais funções era garantir que os medicamentos fossem puros, sem alterações, e preparados de acordo com as técnicas adequadas à sua época. Era responsável, acima de tudo, pelo aconselhamento sobre o uso correto dos medicamentos magistrais e por sua indicação. A origem da profissão farmacêutica é milenar e data de 200 d.C, quando Galeno – seguidor de Hipócrates, que, por sua vez foi considerado o Pai da Medicina – organizou o primeiro compêndio de técnicas de manipulação de ervas e drogas com a finalidade de curar as mais diversas doenças conhecidas na época. Desde então, o farmacêutico é o responsável pela arte de dispor de medicamentos, seja nas farmácias de manipulação (magistral ou homeopática), farmácias hospitalares e em grandes indústrias de medicamentos (CRF-PA, 2014). A profissão farmacêutica pode ser considerada uma das mais antigas e fascinantes, tendo como princípio fundamental a melhoria da qualidade de vida da população. O farmacêutico deve nortear-se pela ética, apresentando-se como essencial para a sociedade, pois é a garantia do fornecimento de toda a informação voltada ao uso dos medicamentos. (CRF-SP, 2010) Esta preocupação se deve ao fato de que nas farmácias hospitalares ainda é praticada a dispensação fracionada e manipulada em doses específicas e seguras. Muitas das apresentações farmacêuticas não são destinadas à dispensação hospitalar, ou seja, unitarizada. É preciso que seja feita a prática de fracionamento para que o medicamento seja dispensado de forma individual. 4 Muitas das medicações em apresentação a granel requerem a necessidade de manipulação, remetendo aos primórdios da profissão farmacêutica. No segmento hospitalar, no começo do século XX, a farmácia já se mostrava imprescindível ao funcionamento normal do hospital (CRF-SP, 2010). A partir de 1930, e de forma mais importante em meados de 1940, de modo crescente, acentuou-se a influência da indústria farmacêutica. A partir de 1950, os serviços de farmácia hospitalar, representados na época pelas Santas Casas de Misericórdia e pelos hospitais-escola, passaram a se desenvolver e a se modernizar. O professor Dr. José Sylvio Cimino, diretor do Serviço de Farmácia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, foi o farmacêutico que mais se destacou nesta fase, sendo, inclusive, autor da primeira publicação a respeito da farmácia hospitalar no país. De acordo com esta publicação e com a visão da época, o principal objetivo da farmácia hospitalar era produzir e distribuir medicamentos e produtos destinados à saúde às unidades requisitantes e servir ao hospital como órgão controlador da qualidade dos produtos (CRF-SP, 2010). “Unidade tecnicamente aparelhada para prover as clínicas e demais serviços dos medicamentos e produtos afins de que necessitam para normal funcionamento”. (Cimino, 1973) O farmacêutico é o profissional que mais detém as informações sobre os medicamentos, uma vez que este é o profissional que mais estuda e se dedica às informações referentes aos medicamentos. Este profissional insere a assistência no ambiente hospitalar, por meio de suas atividades clínicas e administrativas, contemplando inúmeras ferramentas de controle relacionadas à dispensação de medicamentos e materiais médico-hospitalares. A importância do gerenciamento dos estoques implicará em lucros para o hospital, pois um bom controle evitará perdas e desperdícios de medicamentos. Estes serviços de controle e distribuição serão de inteira responsabilidade da farmácia (Barbosa, 2014). TEMA 2 - FARMÁCIA HOSPITALAR A farmácia hospitalar é “uma unidade clínica, administrativa e econômica, dirigida por farmacêutico, ligada hierarquicamente à direção do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades de assistência ao paciente”. (CFF, 2008) 5 A Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH) conceitua a possibilidade de identificar o redirecionamento da farmácia hospitalar para ações clínico-assistenciais. O farmacêutico responsabiliza-se com os resultados da assistência prestada ao paciente e não apenas com a provisão de medicamentos e outros produtos farmacêuticos. Como unidade assistencial, o foco da atenção da farmácia deve estar no paciente e em suas necessidades e no medicamento como instrumento (SBRAFH 1997). Em relação aos custos da assistência, e conforme a realidade sanitária, é necessário implementar ações na assistência farmacêutica hospitalar, cujos resultados, nos aspectos clínicos, humanitários e financeiros, causem impactos positivos na gestão hospitalar, promovendo a melhoria da qualidade e a segurança na assistência prestada aos pacientes. A principal razão de ser da farmácia é servirao paciente, objetivando dispensar medicações seguras e oportunas. Sua missão compreende tudo o que se refere ao medicamento, desde sua seleção até sua dispensação, velando, a todo momento, por sua adequada utilização no plano assistencial, econômico, investigativo e docente. O farmacêutico tem, portanto, uma importante função clínica, administrativa e de consulta (Celestino et al, 2012). A importância do gerenciamento dos estoques implica em lucros para o hospital, pois um bom controle evitará perdas e desperdícios de medicamentos. Este serviço de controle e distribuição é de inteira responsabilidade da farmácia (Barbosa, 2014). O Serviço Farmacêutico Hospitalar é um departamento com autonomia técnica e científica, sendo a direção obrigatoriamente assegurada por um farmacêutico hospitalar, e constitui uma estrutura importante aos cuidados de saúde dispensados no meio hospitalar. É igualmente responsável pela orientação de pacientes internados e ambulatoriais, visando sempre à eficácia terapêutica, à racionalização dos custos, ao ensino e à pesquisa, propiciando, assim, um vasto campo de aprimoramento profissional (CRF-SP, 2010). A instituição hospitalar é um órgão de abrangência assistencial, técnico-científica e administrativa, onde se desenvolvem atividades ligadas à produção, armazenamento, controle, dispensação e distribuição de medicamentos e correlatos às unidades hospitalares. É igualmente responsável pela orientação de pacientes internos e ambulatoriais, visando sempre à eficácia da terapêutica, além da redução dos custos, voltando-se também para o ensino e 6 a pesquisa, propiciando, assim, um vasto campo de aprimoramento profissional. (Celestino et al, 2012) 2.1 Farmácia satélite A farmácia hospitalar pode ser dividida entre farmácia central e satélite. A farmácia central tem como objetivo receber, armazenar (estocar), controlar o estoque e distribuir os medicamentos e materiais para as farmácias do hospital. Em alguns hospitais, cada andar tem uma farmácia satélite. (Santana et al, S.d.) É preciso que haja supervisão diária de um farmacêutico do hospital nas farmácias satélites, proporcionando uma assistência farmacêutica adequada, levando à racionalização e ao controle do estoque de medicamentos, considerando sempre a eficiência do sistema de distribuição. Quando isto acontece, os medicamentos são distribuídos conforme as quantidades que realmente serão utilizadas pelos pacientes, evitando a formação de estoques desnecessários nos setores e eliminando os desperdícios. A importância da Farmácia Satélite entra em foco, pois em um hospital existem setores de áreas críticas (diferenciadas), que possuem características específicas e necessidades próprias de um sistema de dispensação de medicamentos e materiais. Podemos usar como exemplos os setores que necessitam do serviço mais próximo da farmácia satélite, como o centro cirúrgico (CC), o ambulatório, o pronto-socorro e a unidade de terapia intensiva (UTI) (Carbonera, 2011). Nesses setores críticos, há necessidade de uma atenção diferenciada, pois são caracterizados por aspectos de estoques elevados de materiais e medicamentos sem controle efetivo; o consumo de medicamentos e materiais nesses setores geralmente é excessivo e o custo dos materiais e medicamentos são mais altos, sendo assim, o uso inadequado de alguns itens pode levar ao desperdício, além disso, vários itens necessitam de cuidados no armazenamento e no controle especial (Cavallini; Bisson, 2002). A existência de farmácias satélites em setores críticos de um hospital promove a racionalização no seu sistema de distribuição de medicamentos; a redução dos custos na aquisição desses produtos, devido a um controle maior; e uma maior proximidade do profissional farmacêutico com as necessidades dos pacientes (Carbonera, 2011). 7 As farmácias satélites favorecem a racionalização da distribuição dos medicamentos, bem como do controle de estoque destes, o que proporciona um sistema correto de distribuição, reduzindo o desperdício e os custos com aquisição dos medicamentos na instituição. Há também a redução de contaminação cruzada em decorrência da menor circulação para retirada de medicamentos na farmácia. Setores como: Pronto-Socorro, Centro Cirúrgico/Centro Obstétrico, Oncologia e Cardiologia são locais em pontos estratégicos onde as farmácias satélites podem ser instaladas, contribuindo para a agilidade do trabalho da equipe médica e da enfermagem, com maior presteza na dispensação dos medicamentos e materiais médico-hospitalares, proporcionando, assim, um atendimento imediato aos pacientes (Celestino et al., 2012). A infraestrutura das farmácias satélites muitas vezes não são as mais adequadas, o que impossibilita a manipulação de produtos, seja qual for sua categoria. As dispensações nas farmácias satélites são de produtos acabados, oriundos da manipulação, produtos industrializados e correlatos, de acordo com a necessidade do setor (Sousa, 2012). As farmácias satélites devem observar atentamente o alcance de seus deveres, de forma consciente e apropriada. Simplesmente atendê-los não significa muito, o que importa é o modo como são alcançados e a seriedade com que são cumpridos. É necessário implementar, nas farmácias satélites, atividades não somente pertinentes à farmácia geral, mas outras, como as descritas a seguir: 1. Planejar, adquirir, analisar, armazenar, distribuir e controlar medicamentos e correlatos; 2. Promover o desenvolvimento de pesquisas e trabalhos próprios ou em colaboração com profissionais do setor; 3. Desenvolver atividades didáticas; 4. Mapear a necessidade de implantação e o desenvolvimento da Farmácia Clínica. (Sousa, 2012) As farmácias satélites geralmente não têm uma estrutura física ampla, capaz de armazenar um estoque para atendimento por período. Sendo assim, e vindo de encontro com o conceito de agilidade e proximidade das unidades críticas, os estoques são enxutos e de abastecimento constante, e isto requer controles igualmente constantes e fidedignos. 8 As farmácias satélites englobam todas as atividades de controle, assim como a farmácia geral. Esta última apresenta uma estrutura física maior, pois necessita de espaço de armazenamento, atividades administrativas, área de fracionamento, entre outras. TEMA 3 – ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Assistência Farmacêutica compreende atitudes, valores, éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico como usuário, visando a uma farmacoterapia racional e à obtenção de resultados definidos e mensuráveis voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades biopsicossociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde” (Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica, 2002). A normativa regente RDC 357/10 define a atenção farmacêutica como papel exclusivo do profissional farmacêutico com formação acadêmica, devido ao seu conhecimento no fármaco e toda abrangência social e biológica, com ênfase clínica e patológica, consolidando a relação existente entre a prática e o conhecimento teórico, de modo a promover a saúde, a segurança e o bem-estar do paciente (Oliveira et al, 2001). Linda Strand conceituou a expressão atenção farmacêutica como inacabada, passando a defender a seguinte definição: “prática por meio da qual o profissional assume a responsabilidade pela definição das necessidades farmacoterápicas do paciente e o compromisso de resolvê-las”. É bom enfatizar que a atenção farmacêutica deve ser considerada uma prática que auxilia a população, assim como as demais áreas de saúde, e esta segueum processo de cuidado com paciente, uma filosofia e um sistema de manejo, diferentemente do conceito de 1990, que foca obter resultados. Mas, para a autora, os resultados não têm significado fora do contexto de uma prática assistencial (Pharmaceutical, 1997). A atenção farmacêutica tem a finalidade de reduzir os custos com assistência médica e garantir maior segurança aos usuários de medicamentos. Na maioria dos países desenvolvidos, a Atenção Farmacêutica já é realidade e 9 tem demonstrado ser eficaz na redução de agravamentos dos portadores de patologias crônicas e de custos para o sistema de saúde. No Brasil, esta atividade ainda é incipiente e alguns fatores dificultam sua implantação; entre eles, a dificuldade de acesso aos medicamentos por parte dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), Unidades Básicas de Saúde sem farmacêutico e a ausência de documentação científica que possibilite demonstrar aos gestores do sistema público e privado que a implementação da Atenção Farmacêutica representa investimento, e não custo. Por outro lado, sendo uma nova atividade do profissional farmacêutico, torna-se primordial que as instituições de ensino farmacêutico promovam adaptações curriculares, de modo a fornecer o conhecimento formal necessário ao desempenho desta atividade (Atenção, 2019). Pode-se definir a atenção farmacêutica como parte importante da profissão responsável pelo tratamento farmacológico, com o propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente. A Atenção Farmacêutica é uma área dentro da Assistência Farmacêutica que foca suas atividades no paciente (Faus et al, 1999). A Assistência Farmacêutica engloba todas as atividades inerentes à profissão farmacêutica; assim, qualquer unidade envolvida na dispensação de medicamentos e materiais médico-hospitalares desenvolve uma atividade inerente à função do farmacêutico. Isto garante ao paciente um plano terapêutico eficaz e seguro. TEMA 4 – FARMÁCIA CLÍNICA A farmácia clínica teve início no século XX, pois os farmacêuticos que atuavam na área assistencial começaram a converter-se em meros dispensadores de produtos fabricados, distanciando-se da equipe de saúde e do paciente. As inquietudes geradas por tal situação levaram ao nascimento, na década de 1960, de um movimento profissional que, questionando sua formação e atitudes, determinou como poderiam ser corrigidos os problemas que estavam sendo detectados. Assim, líderes profissionais e educadores norte-americanos passaram a discutir o conceito de “orientação ao paciente”, que levou à criação do termo farmácia clínica, compreendida como uma atividade que permitiria aos farmacêuticos novamente participar da equipe de saúde, contribuindo com seus conhecimentos para melhorar o cuidado. 10 Foram formulados vários conceitos para farmácia clínica, como farmácia orientada, de forma equivalente ao medicamento e ao indivíduo que o recebe; farmácia realizada ao lado do paciente, entre outros. Os conceitos de farmácia clínica foram sendo paulatinamente difundidos e incorporados pela profissão farmacêutica no mundo todo. No Brasil, o grande interesse pelo tema se deu na década de 80, em especial na área hospitalar, onde esta prática se desenvolveu com mais força. Por esta razão, ainda hoje existe a ideia de que farmácia clínica é uma atividade somente exercida no ambiente hospitalar, onde está presente toda a equipe de cuidado ao paciente. Esta é uma ideia que pode e deve ser repensada, pois o exercício da atividade clínica não pode ser uma questão de ambiente e oportunidade, mas uma questão de filosofia profissional, ou seja, o profissional que está voltado para o exercício da clínica, age como clínico em qualquer ambiente onde se requeira uma postura de avaliação de situação para identificação e resolução de problemas de saúde. Um exemplo disso pode ser verificado diariamente na postura de profissionais clínicos diante de situações que demandem sua atuação, como em vias públicas, cinemas, aviões. Portanto, seja em qualquer local onde esteja presente, caso surja um problema que gere necessidade de prestação de cuidado especializado, o profissional clínico percebe sua responsabilidade de atuar e age no sentido de identificar e ajudar a solucionar o problema (Instituto Racine, 1990). O principal objetivo da farmácia clínica está em aprimorar e auxiliar o corpo clínico a ter habilidade e destreza na hora de decidir sobre o melhor medicamento para o paciente. O médico se responsabiliza pelos resultados da farmacoterapia, e ao farmacêutico cabe fornecer serviços de suporte adequados, com base em conhecimentos especializados sobre a utilização dos medicamentos (Holland et al, 1999). Zubioli (2001) e Ferracini e Filho (2005), descrevem a farmácia clínica como uma prática profissional farmacêutica com foco no paciente, que dá prioridade ao uso racional e à segurança no uso dos medicamentos, voltada a atividades para minimizar os efeitos colaterais da terapêutica medicamentosa e os custos do tratamento para o paciente. Zubioli (2001) afirma que o farmacêutico é o profissional fundamental na prevenção, detecção, avaliação do risco/benefício e, principalmente, na eficácia do uso de medicamentos. Assim, a atividade clínica do profissional tem um papel 11 fundamental na prevenção das reações adversas a medicamentos, promovendo o uso racional destes. Isso envolve monitorização do paciente, de sua história clínica e de seu tratamento medicamentoso. Porta e Storpirtis (2007), relatam que a farmácia clínica vem se desenvolvendo com a finalidade de minimizar ocorrências de problemas relacionados a medicamentos. Acompanhar os resultados nos pacientes também é definido como objetivo da farmácia clínica. Na visão atual, conforme descrito pela American College of Clinical Farmacy (ACCP), a farmácia clínica traz de volta a atenção farmacêutica voltada exclusivamente ao paciente. Com base nisso, o principal objetivo do farmacêutico é garantir o uso seguro e racional de medicamentos, implantar a farmácia clínica em busca de ter o máximo rendimento terapêutico, e atender a demanda de medicamentos utilizados pelos pacientes hospitalizados. A farmácia clínica atua em conjunto com a farmácia hospitalar, por meio da inserção do farmacêutico na equipe multiprofissional de saúde (Dantas, 2011). A farmácia clínica deve ser aplicada nas unidades críticas, onde as farmácias satélites estão instaladas. Além de integrar e aproximar os profissionais das equipes multidisciplinares, o farmacêutico vem a contribuir para a segurança e racionalização do uso de medicamentos. TEMA 5 – ATENÇÃO FARMACÊUTICA O prescritor tem a responsabilidade de elaborar uma prescrição de medicamentos que transmita de forma completa as informações para todos os profissionais que utilizam esse documento (Cassiani et al, 2003). As prescrições são responsáveis pela análise de prevenção de erros de medicação, e sabe-se que tais erros podem decorrer de prescrições ambíguas, ilegíveis ou incompletas, ocasionando sérios danos ao paciente. Cassiani et al (2003) descrevem que o risco de erros de medicação aumenta na medida em que profissionais responsáveis pela dispensação não conseguem ler a letra dos médicos ou pela falta de informações básicas necessárias para uma correta dispensação do medicamento (Cassiani et al., 2003). Segundo o Instituto Americano de Medicina (Kohn et al, 2003), de 44.000 a 98.000 pacientes morrem a cada ano por lesão iatrogênica, sendo o erro na prescrição a causa principal ou que contribui para tal evento. 12 De acordo com a Resolução n. 357/2001, o farmacêutico é responsável pela avaliação farmacêutica do receituário, e este somente será aviado/dispensado se apresentar as informações exigidas na resolução, tais como: nome e endereço residencialdo paciente, forma farmacêutica, posologia, apresentação, método de administração e duração do tratamento, data, assinatura e carimbo do profissional, endereço do consultório e o número de inscrição no respectivo Conselho Profissional, ausência de rasuras e emendas, prescrição a tinta, em português, em letra de forma clara e legível ou impressão por computador, dentre outras (Brasil, 2001). Portanto, devem ser observados o receituário específico e a notificação de receita para a dispensação de medicamentos sujeitos a controle especial (Brasil, 1998). É de suma importância a participação do farmacêutico diante de prescrições médicas, pois é o elemento de interface entre a distribuição de fármacos e o uso seguro destes, podendo ser considerado como peça-chave na garantia da qualidade do cuidado médico (Rupp et al., 1992). O farmacêutico é o profissional capacitado a identificar, corrigir e reduzir possíveis erros associados à terapêutica. As responsabilidades do farmacêutico, no momento da dispensação, são múltiplas, e envolvem questões de cunho legal, técnico e clínico (Amaral, 2014). Antes do aviamento da receita/prescrição, o farmacêutico pode avaliá-la atentamente e relacionar suas informações com dados da história clínica do paciente (Abjaude, 2012). O termo atenção farmacêutica foi adotado e oficializado no Brasil após as discussões lideradas pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), OMS, Ministério da Saúde (MS), entre outros. Nesse encontro, foi definido o conceito de atenção farmacêutica: um modelo de prática farmacêutica desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando a uma farmacoterapia racional e à obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades biopsicossociais, 13 sob a ótica da integralidade das ações de saúde. (Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica, 2002) No Brasil, os modelos tecnológicos em saúde que precederam o SUS, permitiram que o profissional farmacêutico se afastasse dos pacientes, pois não era prevista a sua participação na equipe de saúde, nem o medicamento considerado insumo estratégico. Segundo Gonçalves (1994), no estado de São Paulo foram implantados diversos modelos tecnológicos na saúde pública, em meados da década de 1920, dos quais predominou o modelo conhecido como campanhismo, com ênfase na utilização da polícia sanitária e nas campanhas de vacinação e higienização. Geraldo H. Paula Souza teve papel importante na reorganização do serviço, e introduziu o modelo médico-sanitário, privilegiando a educação sanitária como principal instrumento de trabalho, tendo o centro de saúde como aparelho do processo. Na década de 1960 foi implantado o modelo de assistência médica individual, com participação crescente da medicina curativa como meio para alcançar a melhoria das condições de saúde. Os autores dessa revisão concluíram que este modelo foi o que mais contribuiu para afastar o farmacêutico do paciente, visto que se baseava em consulta médica e atendimento da demanda por ela gerada. Além disso, pode-se evidenciar que, infelizmente, o modelo de assistência ainda se faz presente com grande impacto no sistema de saúde, mesmo após a implantação do SUS. No final da década de 1980 iniciou-se a implantação do SUS, baseada nos critérios de integralidade, igualdade de acesso e gestão democrática. Neste modelo foram definidas a Assistência Farmacêutica e a Política Nacional de Medicamentos como parte integrante das políticas de saúde, possibilitando ao farmacêutico não só participar de maneira efetiva da saúde pública, mas também desenvolver formas específicas de tecnologia, envolvendo os medicamentos e a assistência na prestação de serviços de saúde (Marin et al, 2003). Atenção farmacêutica é uma prática da assistência que facilita a interação do farmacêutico com o usuário do sistema de saúde. Isto possibilita um melhor acompanhamento dos pacientes, o controle do plano medicamentoso, a prevenção, a identificação e a solução de problemas que possam surgir durante o tratamento do paciente (Rocha, 2014). Enquanto a farmácia clínica é definida pela Sociedade Europeia de Farmácia Clínica como “uma especialidade da área da saúde que descreve a 14 atividade e o serviço do farmacêutico clínico para desenvolver e promover o uso racional e apropriado dos medicamentos e seus derivados” (OMS, 1994), a Associação Americana dos Farmacêuticos Hospitalares a define como: “Ciência da Saúde, cuja responsabilidade é assegurar, mediante a aplicação de conhecimentos e funções relacionados com o cuidado aos pacientes, que o uso de medicamentos seja seguro e apropriado e que necessita de uma educação especializada e/ou um treinamento estruturado” (OMS, 1994). Seguindo a tendência mundial, o Brasil vive um movimento de intensa reestruturação na área de medicamentos, o qual permeia o sistema de saúde, envolvendo a formação e a prática dos profissionais de saúde, bem-estar e qualidade de vida. A implantação e implementação de ações preconizadas pelo SUS; a reestruturação das diretrizes curriculares dos cursos da área de saúde, em especial a farmacêutica (Brasil, 2001); a atuação conjunta da Anvisa, do Ministério da Saúde e da Opas vem fortalecendo as ações voltadas à racionalidade no emprego dos medicamentos, principalmente após a implantação dos genéricos. Portanto, concluímos que o farmacêutico tem papel fundamental na cadeia terapêutica dos pacientes. Suas atividades assistenciais garantem a segurança e o uso racional dos medicamentos, e suas atividades administrativas são alinhadas com o planejamento estratégico financeiro da instituição hospitalar, evitando custos excessivos e perdas desnecessárias. 15 REFERÊNCIAS ABJAUDE, S. A. R.; ZANETTI, A. C. B.; MARQUES, L. A. M.; RASCADO, B. R. Análise das prescrições de medicamentos dispensados na Farmácia Escola da UNIFAL-MG. Revista da Universidade Vale do Rio Verde. Três Corações, v. 10, n. 2, p. 211-219, ago./dez. 2012. AMARAL, A. F. Impacto da educação permanente dos profissionais de saúde no rastreamento do câncer do colo do útero em unidades básicas de saúde. Dissertação de Mestrado, 64 f. Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2014. ATENÇÃO farmacêutica - o que significa este termo e por que ele é tão importante? Decontofarma, 2019. Disponível em: <http://www.decontofarma.com.br/site/conteudo.php?id=61>. Acesso em: 20 fev. 2019. BARBOSA, H. Farmácia hospitalar/evolução. Presidente Prudente: 200?. Disponível em: <http://www.farmaciahospitalar.com.br/index.php >. Acesso em: 26 ago. 2014. BISSON, M. P. Farmácia clínica e atenção farmacêutica. 2. ed. São Paulo: Manole, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde, Portaria n. 1884, de 11 de novembro de 1994. Diário Oficial da União, Brasília, seção 1, p. 19523-550, 15 dez. 1994 (a). CARBONERA, R. P. Propostas para a implantação de uma farmácia satélite no bloco cirúrgico de um hospital universitário, com enfoque na gestão por processos. Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional da Faculdade de Medicina de São Paulo/ USP. Ribeirão Preto, 2011. CAVALLINI, M. E.; BISSON, M. P. Farmácia hospitalar: um enfoque em sistemas de saúde. 1. ed. São Paulo: Manole, 2002. CELESTINO, A.; et al. Projeto de implantação de farmácia hospitalar no Hospital Geral da Zona Sul. Centro Universitário do Norte – Uninorte, Manaus, 2012. CIMINO, J. S. Iniciação à farmácia hospitalar.São Paulo: Artpress, 1973. 16 CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Resolução n. 492, de 26 de novembro de 2008. Disponível em: <http://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/492.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2019. DANTAS, S. C. C. Farmácia e controle das infecções hospitalares. Revista Pharmacia Brasileira, São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/130/encarte_farmacia_hospitalar .pdf>. Acesso em: 23 ago. 2014. INSTITUTO RACINE. Educação Profissional. Disponível em: <http://www.racine.com.br/>. Acesso em: 7 jun. 2019. ROCHA, B. S. da. A contribuição da Farmácia na adesão ao tratamento antirretroviral: revisão sistemática e meta-análise. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. SANTANA, G. S.; OLIVEIRA, G. S.; RIBEIRO NETO, L. M. O farmacêutico no âmbito hospitalar: assistência farmacêutica e clínica. III SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS. São Paulo, 2014. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FARMÁCIA HOSPITALAR (SBRAFH). Padrões mínimos para farmácia hospitalar. 2. ed. Goiânia, 2007 SOCIEDADE BRASILEIRA DE FARMÁCIA HOSPITALAR (SBRAFH). Padrões mínimos para farmácia hospitalar. 3. ed. São Paulo, 2017. SOUSA, M. H. S. Farmácia hospitalar. Universidade José do Rosário Vellano – Unifenas. Divinópolis, 2012.