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1 2 3 JESSÉ VITORINO DA SILVA JÚNIOR Texto Sagrado III Livros Poéticos SOBRAL 2018 4 5 Sumário Palavra do Professor autor Sobre o autor Ambientação à disciplina Trocando ideias com os autores Problematizando Unidade 1 - Escrita Poética Sabedoria Escrita Poética Sapiencial Sabedoria Judaica Unidade 2 - SALMOS - PROVÉRBIOS – JÓ Salmos Anexo A Provérbios O livro de Jó Unidade 3 - CÂNTICO DOS CÂNTICOS – ECLESIASTES Cânticos dos Cânticos O livro de Eclesiastes Unidade 4 - SABEDORIA DE SALOMÃO – ECLESIÁSTICO A aliança veterotestamentária diante dos apócrifos dos pseudoepígrafos Sabedoria Eclesiástico Explicando melhor a pesquisa Leitura Obrigatória Pesquisando na internet 6 Saiba Mais Vendo com os olhos de ver Revisando Autoavaliação Bibliografia Bibliografia da Web 7 Palavra do Professor Adentrarmos em um rico acervo de expressões poético-filosóficas inspiradas pelo Santo Espírito do Criador é incomparável, a oportunidade de observar a composição de um conhecimento que transcende a racionalidade e se faz de maneira conjunta da vivência existencial do ser e seu desfrute da constante diária presença influente de Deus, que gera harmoniosa relação de produção relacional em aprendizagem e devoção. Discorrer sobre tal temática na Sagrada Escritura sempre se faz por momento substancial que se apresenta como deleite ante o esplendor da via de vivência entre o Deus que ama e sua criatura profundamente amada. Criatura esta dotada de produção intelectual que dentro dos escritos sagrados assume expoente distintivo enlevo, pois diante das mais diferentes culturas se apresentam como uma sabedoria distinta: Produção intelectual humana movida por uma realidade de partilha – Deus e o Homem, lado a lado, gerando um conhecimento de vida e existência, firmados em lutas e batalhas ante as adversidades da existência. O aluno, caso opte pela reverência do sorver da preciosa oferta de conhecimento que tais livros (como dádivas) se propõem a graciosamente ofertar, certamente encontrará substancial tesouro que o proverá de humilde sabedoria e o dotará de vislumbre salvífico, pelo Deus de amor. Cântico 5 8. Filhas de Jerusalém, eu vos conjuro: Se encontrardes o meu amado, Que lhe direis? ... Dizei Que estou doente de amor! 8 Sobre o Autor JESSÉ VITORINO DA SILVA JÚNIOR - É graduado em Teologia e Especialista em Ciências da Religião pelas Faculdades INTA. Realiza trabalhos evangelísticos disseminando a filosofia do Cristo Ressurrecto, o kerigma do evangelho vivo. 9 Ambientação Nesta obra, apreciaremos de forma panorâmica, alguns livros que se encontram na terceira seção do cânon judaico reconhecido pelo título de Escritos (heb. Ketûbîm). Livros também designados pelo termo grego de hagiographa ou “escritos sagrados”, segundo os pais da Igreja. Inicialmente abordaremos os livros do cânon oficial e encerraremos com os apócrifos ou deuterocanônicos, obras que não se encontra deste agrupamento. Cânon - “Canon. (I) C. da Sagrada Escritura. C. vem do gr.m o w ó v : régua de caniço (Ez 40,3.5), medida (óu:campo determinado: 2Cor 10,13.15; n o r m a de vida: Gál 6,16) ou lista de livros;” (...) Born, A. Van Den. Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Rio de Janeiro:Vozes, 1977. p. 232-233 A Bíblia Hebraica compõe-se de 24 livros repousando em três grandes seções: Lei (Torah), Profetas (Nebiim) e Escritos (Ketubim). Interessante observar em Lucas 24.44 tal referência, onde cita-se Lei, Profetas e Salmos. Salientamos que tais 24 livros correspondem aos 39 da Bíblia Protestante. Uma observação se torna pertinente: devido a enumeração em distinto de cada um dos Profetas Menores e se utilizar separação entre 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias, aporta-se inevitavelmente em uma realidade numérica maior. Contudo são os mesmos livros. E todos perfazem o enredo dos canônicos. Na Bíblia Protestante teremos em acordo com o cânon: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cânticos dos Cânticos ou Cantares de Salomão. E serão estes os que contemplaremos neste trabalho. No conjunto desta produção intitulada Escritos é importante compreendermos que a Revelação estava sendo apresentada como redação, numa grafia de forma de gradativa percepção compreensiva, ou seja, Deus, 10 poética, sábia e diligentemente de maneira eficaz, norteava Israel para uma aliança nova que inevitavelmente se aproximava. Estas Obras inspiradas por Deus constituíam vestígios exegéticos que a hermenêutica da cruz promoveria em salvação a todo o que crer, em espírito e verdade, na boa nova do amor, trafegando brilhante enredo neotestamentário. Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; Jo 5 11 Trocando ideias com o autor Neste trabalho contempla-se com uma sintética e panorâmica incursão, obras do Velho Testamento que abordam estilos de poesia e sabedoria bíblicas. Livros comuns ao cânon judaico e protestante são colocados numa breve coletânea ao lado de escritos intitulados em determinados círculos teológicos por apócrifos ou em outras instâncias interpretativas de deuterocanônicos. Seriam eles: Sabedoria de Salomão e Eclesiástico. Numa linguagem acessível, sempre buscando a relevância em cada tema abordado, o texto flui de maneira leve e constante. Existe a preocupação em evitar vias de vastos aprofundamentos teóricos, buscando sempre a didática de estilo direto e conciso, sem perder a valia acadêmica do material apresentado. Ideal para quem busca noções acadêmicas e não dispensa as isenções da produção científica, esta apostila detém vasta bibliografia em que autores católicos apostólicos tanto romanos quanto protestantes são considerados para recorrentes fins de embasamento adequado. Sugerimos para um aprofundamento na temática, a leitura das obras: A literatura de Sabedoria do Antigo Testamento é contemplada com esmero na obra apresentada. Livros dos Provérbios, Jó, Eclesiastes, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, são abordados com maestria. Também o texto é enriquecido com um capítulo dedicado a Sabedoria Veterotestamentária e o Novo Testamento. Assim, Israel e o mundo antigo recebem do autor um eficiente olhar crítico perante suas produções sapienciais confeccionadas. 12 CERESKO, R. Anthony. A Sabedoria no Antigo Testamento – Espíritualidade Libertadora. 1ª. Ed. São Paulo: Paulus. 2004 O autor nos agracia com este excelente livro que aborda inicialmente os livros da Bíblia Hebraica chamados Escritos. E em um segundo momento encerra a obra com três capítulos dedicados aos livros Deuterocanônicos. Abrangente e integral, esta obra torna-se completa, ideal a quem busque compreensão a literatura do Velho Testamento. MOMLOUBOU, L. et al. Os salmos e os outros escritos. São Paulo: Paulus, 1996. GUIA DE ESTUDO No decorrer das leituras esboce fichamentos e ao término tente promover uma releitura geral para avaliar seu entendimento das duas obras. Disponibilize no ambiente virtual. 13 Problematizando Os livros classificados como Livros Poéticos também são conhecidos como Sapienciais. Isso porque trata da sabedoria e da espiritualidade do povo de Israel. A sabedoria muitas vezes é confundida como acúmulo de conhecimento, constituindo de um conhecimento puramente teórico ou especulativo.Porém, essa não é a sabedoria apresentada nos livros poéticos. A sabedoria apresentada é algo como o bom senso no discernimento das situações, adquirido através da meditação e reflexão sobre a experiência concreta da vida, algo aprendido na prática e que levaria à arte de viver bem. Assim, nos livros sapienciais encontram-se reflexões que brotam de problemas que povoam o dia-a-dia da vida de qualquer pessoa que busca o caminho da realização e felicidade. A experiência comum é mostrada como lugar da manifestação de Deus e da revelação do seu projeto, ou seja, Deus falaria através da experiência do povo. GUIA DE ESTUDO No mundo atual marcado pelo conhecimento cientifico tecnológico, como a sabedoria pode auxiliar as pessoas a viver um modo de vida mais autêntico e feliz? 14 15 Escrita Poética Sabedoria 1 Conhecimento Conhecer sobre Escrita Poética e Sabedoria no universo Hebraico do Velho Testamento. Habilidade Reconhecer os assuntos tratados no contexto estado. Atitude Desenvolver textos com argumentos critico-reflexivos diante do contexto apresentado. 16 17 Escrita Poética Sapiencial Dotada de estilos literários próprios, esta modalidade de escrita impõe singularidade e influência na Sagrada Escritura veterotestamentária. Estas marcas de produção textual, estas modalidades de escrita demonstram a riqueza deste gênero literário. Vejamos em tópicos tais estilos de formas literárias dos escritos sapienciais. Poesia Na Poesia Hebraica a característica mais reconhecida entre os versos seria a repetição de ideias, relatada como paralelismo. Uma afirmativa é exposta e na sequência, com outras palavras, a ideia da assertiva anterior é reiterada. Temos R. Lowth, pela primeira vez fez notar tal peculiar característica poética hebraica. Richard Lowth foi o primeiro a chamar a atenção sobre um elemento fundamental da p. hebr.: a dúplice, às vezes tríplice repetição da mesma ideia em termos diferentes, chamada por ele parallelismus em brorum , figura estilística que brotou do modo tipicamente semítico de pensar e, ainda mais, de sentir; i.” Born, A. Van Den, Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Rio de Janeiro: Vozes, 1977. P. 1194-1195. Assim, explorando a repetitividades, consideramos dentro do estilo as seguintes formas como tipos: LASOR, William S. et al. (2003 p.249-252) 1. Sinonímico: Duas vezes a mesma ideia é apresentada, apenas mudando palavras, mas permanecendo o mesmo sentido. SL 103.10. Eclo 13,1 18 2. Antitético – Através do contraste (ou oposição) o segundo segmento afirma o sentido do primeiro. Pv 10.1 Pv 10.2 3. De especificação – As afirmativas expressas nas duas linhas do verso, não expressam de imediato à mesma significação se tomadas de forma independente. Mas no contexto sequencial, percebe-se de imediato que a primeira afirmação é a estrutura que abrigará a fundamentação redigida na segunda linha. Am 1.7 Is 1.16c-17 Também se faz por adequado citarmos os gêneros sapienciais, expondo a riqueza de tal estilo semítico de literatura, realidades que também residem na expressão da sabedoria literária hebraica: CERESKO, Anthony R. (2004, P. 39) e MOMLOUBOU, L. et al. (1996, P. 30 e P. 132-133). Provérbio (mashal) curto: Um versículo de dois ou três versos, sintetizando o que se compreende por provérbio, sentença, máxima, adágio, apotegma, aforismo, ditado. Jr 23,28, 1Sm 24,14; Is 22,13; Jr 23,28). Provérbios apresentam-se como: Afirmações (Pr 10,1ss), exortações (Pr 3,9), interrogações (Pr 6,27). 19 Parábolas: Encontramos em (Is 5,1-7; 10,15; 28,23-29); (Jr 18,10-11), e também (2Sm 12,1-7) no diálogo entre Davi e Natã onde se faz referência a ovelha. Alegorias: Conjunto de comparações, cabendo sua interpretação individual. (Ecl 11,9 – 12,9); (Ez 15 – 17; 19, 1-9; 31, 1-18). Enigmas: Componente que se insere nas tradições do povo (Jz 14, 10- 20) e adotado no contexto da sabedoria (1Rs 10,1; Pr 1,5s; Dn5,12). A Fábula ou o apólogo: Temos um poema ou narração instrutiva. Em (Jn 2, 1.11; 4,6-10) envolvendo animais e plantas; em (Jz 9,8-15), disfarçando uma crítica e em (2Rs 14,9s) escarnecendo de pessoas, profissões ou orientações impopulares. Listas enciclopédicas. O onomástico: Ato de nomear, gerar uma relação, confeccionar uma coleção: (Sl 104; 148); (Jó 28; 36,27 – 37,13; 38, 4 – 39,30); (Eclo 42,15 – 43,33). Cadeias de Provérbios, onde se reúnem vários mashals: 1) Iniciados pela mesma letra hebraica (Pr 11,9-12; 20,7-9; 22,2-4) 2) Iniciam pelo mesmo termo. “Coração” em 15,3-4; “bom” em 15,16-17 3) Retornam ao mesmo conceito, como uma espécie de código. Temos: a) Responder, em Pr 26,4-5; b) Rei, em 16, 10.12-15; c) O insensato, em 26,1-12; d) O preguiçoso, em 26,13-16. 20 4) Reunidos sob a mesma temática: a) Pr. 6, a fiança (vv.1-5), a preguiça (vv.6-11), a falsidade (vv. 12-15); b) Pr 26,17-22, as brigas c) Pr 27,5-10, a amizade. Acrósticos (Pv 31.10-31) e (Sl 9-10, 25, 34, 37, 111,112, 119 e 145): Iniciando com letras em disposição alfabética. Aliteração (Pv 8,27), (Pv 13, 3.14): Numa repetição de fonemas idênticos. Proverbio Numérico: Por gradação ou acréscimo, como (x/x+1): Am 1,3- 13; Pv 30.15-31; 6,16-19; 30,15-30; Ecl 11,2; Eclo 23,16; 25,7-11; 26,5s; 26,28. Poema didático: Em Pv 8 e 9; Jó 18,5-21, retrata o destino do mau; Jó 28 relata sobre a inacessibilidade da Sabedoria pelo homem; o Sl 37 e seus indicativos sobre retribuição aos justos e ímpios; ou o SL 78, e sua ponderação, sábia meditação inspirada no Deuteronômio. A adivinhação (Jz 14,10-18): Temos esta forma literária que apenas aparece uma ou duas vezes no Antigo Testamento. O Hino (Pr 8,12-18; Jó 28; Pr 1,20-33): Oriundo do culto no templo contudo utilizado como via de tráfego para artefatos literários de sabedoria. 21 A “confissão” ou narrativa autobiográfica: (Pr 24,30-34; Pr 4,6-9; Ecl 1,12-2,26): através de um locutor há exposição de conselhos ou a partir de experiência própria, emite considerações. Esta breve introdução ao universo sapiencial poético judeu nos leva a refletir sobre as dimensões imensuráveis que a Sagrada Escritura possui em termos de graciosa beleza, numa estética não tão somente espiritual quanto física. Autografada através de primorosa inspirada escrita. E um destaque deve ser referido com exatidão: como todo este acervo de vida está disponível ao que busque sabedoria. Livremente colocado pelo Criador como dádiva ao que requeira em espírito e verdade, receber o único conhecimento que conduz à salvação eterna! Sabedoria Judaica Questões se fazem necessárias ao iniciarmos investida nesta temática sapiencial. Colocações como: - O que é sabedoria? e O que é conhecimento? - Ao nos debruçarmos sobre o dicionário fica bem nítida a diferença e mais ainda quando empregamos tais conceitos em nível de Escritura presente em Livros como Eclesiastes, Provérbios e Jó. Também o Cântico dos Cânticos ou alguns salmos, tudo muito se aprende e também se apreende. Aprender pode ser colocado como um movimento de fora para dentro. Num acúmulo e reserva de itens, provisão dados e estoque infinito de símbolos e sinais. Em solitária unidade o ser age. Apreender – de maneira contrária - estaria mais objetivado a ser interpretado como um mover de dentro para fora em que a inspiração divina consegue formular inteligibilidade reagindo interpretativamente ante a realidade externa. Em comunidade o ser e Deus, interagem. E de tal via dupla, a fluidez ideal se faz! 22 A sabedoria judaica está inserida nesta relação interativa onde Deus torna-segrande motivador de decisões corretas ao ser que pode progredir existencialmente através de escolhas ideais. Oriunda de uma posição em que o Criador permeia todo o conteúdo da escolha do ser, esta modalidade se torna a marca indelével da Sabedoria Judaica diante de todo quadro sapiencial da Antiguidade. A vida existencial pode ser percebida como refém ou então coexistir submissa à natureza das escolhas que são tomadas. Então garantias de êxito são mais do que aceitas. Tornam-se essenciais. Quando estão em Deus, as escolhas tornam-se livres, caminho de exercício salvífico (Salvador) porque além de serem as mais adequadas de consideração, tais decisões atestariam que um salvo as tomou, já que tal indivíduo (por assim agir) constitui-se por prova nítida de fiel temerosa gratuidade ao senhor. De imediato, no universo hebraico, pode- se enxergar sabedoria como um mover onde Deus se mostra no coração do fiel. Em um estado de parceria em que Ele é o promotor da sabedoria e o ser humano o meio da promoção. Inspirados por Deus os homens chamados “sábios” (hebraico hãkãm) produzem a verdadeira sabedoria (hokmãh). Homens que possuem primícias básica o temor ao Senhor (Pv. 9.10, Sl 111.10). Temos o Espírito de Deus que promove uma interação criador-criatura e assim, a instrução, o saber gerado pelo indivíduo converte-se em piedosa expressão divina. Diferentemente das abstrações teóricas gregas, o saber judaico é prático. Não se retém a teorizações infinitas. Referimo-nos a um saber cuja produção não gera frutos sem sementes, não se limita aos âmbitos materiais apenas e somente, no entanto assume-se também como revelação imaterial contemplando a holística do ser. Seu alvo é claro, pois está voltada a um viés antropológico, pois o ser social e suas interações relacionais estão sob ótica de inferência. Deus capacita o Homem, a saber, e assim poder agir desconstruindo a realidade criada pela transgressão adâmica. Também ressaltamos que se denomina por sabedoria proverbial a que encontramos no Livro de Provérbios, sabedoria especulativa encontra-se disposta em Jó e Eclesiastes e sabedoria lírica configura o estilo exposto no Cântico dos Cânticos. 23 Consideremos A linha tênue que separa Sabedoria (ação de Deus) do Conhecimento (mover humano) é realidade inerente a um contexto perigoso e confuso. O insalubre reside nos frutos que se colhe no caso da ausência de Yahweh. A tempestade de entendimentos difusos se obtém da excessiva proximidade que há entre o que provém do trono do Altíssimo e do que a limitação do homem produz em tentativa de equiparação. Realidades com a estampa aparentando similaridade, mas não, nunca iguais. Numa analogia apropriada coloquemos lado a lado o Evangelho e a religião como artefato legalista. Assim respectivamente, das palavras de Deus a geração de vida se apresenta e se faz. Agora, da construção humana, sérias anomalias de hermenêuticas teológicas se fazem existir. Situações onde é preciso que o ser cresça e que Deus diminua. Um humanismo exacerbado que fecunda uma patologia diagramadora de um cinematográfico humor nefasto: o homem-criatura (médico) cria o seu deus de si projetado (monstro): Porque os costumes dos povos são vaidade; pois corta-se do bosque um madeiro, obra das mãos do artífice, feita com machado; Com prata e com ouro o enfeitam, com pregos e com martelos o firmam, para que não se mova. São como a palmeira, obra torneada, porém não podem falar; certamente são levados, porquanto não podem andar. Não tenhais receio deles, pois não podem fazer mal, nem tampouco têm poder de fazer bem. Jeremias 10.3-5 Um conhecimento que é construído a partir do ouvir de Deus revela a Sabedoria como ensino de dádiva imortal que nos reconduz de volta ao Pai. 24 Jesus como menestrel do amor em sua encarnada forma didática supranatural, personifica este querigma (gr. kérygma). 25 SALMOS, PROVÉRBIOS, JÓ 2 Conhecimento Noções necessárias para compreensão de cada livro. Habilidade Estar capacitado para explanar sobre os assuntos tratados nesta unidade Atitude Procurar empenho critico-reflexivo diante do contexto apresentado 26 27 Salmos Panorama Sálmico Uma grande conversa com Deus. Um imenso diálogo que oferta meditações, modelos oracionais, confissões. Tudo o que de sublime é capaz de ser gerado pelo espírito do homem diante de seu Deus. Este é o livro de Salmos. Um poderoso veículo de edificação humana onde podemos compor um agradável modelo de analogia com um Pai conduzindo seu filho com segurança em suas primeiras tentativas de andar de bicicleta. Uma obra em que proteção (Sl 59), confiança (Sl 11), destemor (Sl 27) são presenças legíveis em linhas que transcendem o papel e nos possuem. Os Salmos foram em sua origem elaborados para uso em culto público. Uso devocional ou utilização didática, a mobilidade plural do emprego se faz por nítida. São amalgamadas camadas de história israelita, compostas por toda sorte de indivíduos que de uma forma ou de outra deixaram legado e este aparato cultural permanece inscrito neste livro. Fatos, tradições, situações, ditados, a holística desta gama de apanhados existenciais, estão aqui disseminados em forma de poesia religiosa. Este é um livro que se torna imenso agregado de múltiplas experiências vividas ao longo de aproximadamente 800 anos (MOMLOUBOU, L. et al. 1996, p. 68) pelo povo judeu, em si é, panorama da eterna presença de Deus, atestando sua presença que compõe a estrutura existencial de Israel. Como deposição de camadas de experiências e aprendizados, este receptáculo literário se faz por emblemática coleção cultural judia numa abrangência que comodamente se desloca da época anterior ao exílio a uma realidade de pós- exílio. Uma reunião de louvores numa expressão de amor escrita em 150 versos, um compêndio de expressões de vida declamadas por poemas religiosos, composições que revelam uma relação de Deus e seus amados, destes amados e o Deus que tanto amam. Hinos, cânticos e poemas que encantam pela realidade que conseguem expor, retratando a empiria existencial de israelitas 28 numa alusão a situações cotidianas concretas que confluem a uma certeza: O amor de um Criador por sua criatura. Ao meditarmos neste livro, lidamos com uma inquietante (e correta) ideia: no conteúdo dos salmos ecoa um registro de síntese apurada por gerações (condensada como uma enciclopédia espiritual em forma poética) da essência das várias experiências com Deus na primeira Aliança. Acervo valioso onde nele é possível encontrar nuance literário veterotestamentário de inúmeros momentos sapienciais do povo hebreu, em um só livro. Segundo LASOR, William S. et al. (2003. P. 477) “Uma série de salmos empregam a linguagem e o estilo da literatura de sabedoria do Antigo Testamento: Provérbios, Jó e Eclesiastes”. Esta é uma impressão que demonstra perfeita integração de composição presentes na Escritura. Realização divina que realçam aos olhos, que marca e permanece, quando lemos estes poemas sálmicos. Como melodias, os salmos são prazerosos de guardar na memória, isto nos revela que todos foram confeccionados para serem entoados como cânticos. Recitando ou orando com um salmo, partilhamos de uma experiência em Deus, numa sinfonia de amor por seu povo, relatado na Escritura. O Acervo nomeado e situado Acomodando o livro Integrando parte do ketubim (terceira parte do Cânon hebraico), denominados Escritos Sagrados (hagiographos) pelos pais da igreja primitiva, o Saltério (gr. Psaltérion) está posicionado no início dos livros poéticos, pela Septuaginta e pela ordem latina na Vulgata, precedendo Jó. 29 Designandoa obra Em hebraico é conhecido por tehilim ou tillim (cantos de louvor, louvores). Utilizam esta palavra apesar de mizmor (cântico entoado com acompanhamento musical) ser a palavra hebraica mais próxima de salmo. Orígenes, Hipólito e Jerônimo utilizam sefer tehillim. Pela tradição grega é referido por biblos psalmôn e na Septuaginta psalmoi. No Codex Alexandrinus encontramos o título de psalterion (instrumento de cordas ou uma coleção de cantos). Por metonímia, usa-se a terminologia de palavra cantada para salmos e coleção para saltério. Uma obra em cinco livretes Temos uma coleção onde 150 salmos estão dispostos compondo cinco partes, em direta referência e menção ao Pentateuco: (1-41), (42-72), (73-89), (90-106) ;(107-150). Todas encerradas por uma doxologia. Temos também, pela tradição: Segundo LASOR,et al ( 2003, p. 467). TABELA DE ATRIBUIÇÃO (Sl 3-41) (Sl 51-71) Davi (Sl 42-49) (Sl 84-85) (Sl 87-88) Filhos de Corá (Sl 50; 73-83) Asafe 30 A autoria, um autógrafo a várias mãos A maior parte dos salmos reporta-se ao momento pré-exílio. Referências como Sl 74; 79; 137 nos colocariam em situação na realidade de exílio e pós- exílio. É um longo corredor histórico percorrido na redação da obra, cujo peso temporal se faz sentido quando se busca exatidão milimétrica em termos de precisão histórica referindo-se a documentação. As ciências auxiliares da história são substanciais, valiosas ferramentas que tentam com seu trabalho minimizar intempéries nesta cena de procura de evidências que decifrem o passado de feitoria da Escritura, ainda assim, a dificuldade se faz épica. A realidade da extradição para Babilônia, a miscigenação cultural imposta pelo desterro pátrio, o retorno sob domínio estrangeiro e poderoso cenário nacional de helenização, constituem-se ponderações a serem veladas. Tudo soma em contrário neste universo de singularidades judaicas. Dentro desta mínima prospecção histórico-literária judia acima relevada, rígidos consensos absolutos de conceitos exatos quanto a precisão por dados exatos, se fazem absorvidos e se tornam absolvidos de tão espartana rigidez pela piedosa tradição, segundo SCHOKEL, Luis Alonso. (1996 pag. 76.): Autor e autores - Uma velha tradição diz ou clama: Davi! Como Moisés escreve os cinco livros da torá, assim Davi compõe os cinco livros dos salmos. Tão legendária é uma notícia como a outra. (...) A maioria dos comentadores atuais tomaram a prudente decisão de não discutir o problema do autor do saltério ou de salmos individuais. Contudo, por respeito à velha tradição, será decoroso apresentar alguns supostos autores. (...) Através do título do salmo, somos levados a identificar vários prováveis autores de dois terços dos 150 salmos. O que resta, é anônimo. Estamos diante de uma possível realidade de que nenhum dos nomes que as epígrafes mencionam referem-se de fato ao autor real. Os salmos seriam anônimos e assim ainda permanecem. WEISER, Artur. ( 1994, P. 61-64) . 31 Os títulos Foram inicialmente tomados por canônicos, no entanto migraram da categoria de permeados por divina inspiração para produção humana frutos de labor erudito ou colocações de compiladores últimos e não de quem escreveu o salmo. (SCHOKEL, 1996, p. 77) Agindo como pretensas legendas que nos facilitam identificação do contexto de propósito relativo aos versos tratados (Seja por compilador, autor, finalidade, etc.,) os títulos tornam-se acolhidos por serem possíveis indicativos de elucidações quanto ao texto tratado. Não desconsideramos todo o contexto de sua tardia posterior confecção perante a antiguidade do texto. Encontramos neste inciso, profundas alterações que a versão dos setenta (LXX) promoveu na estrutura do corpo bíblico. Em sua introdução aos Salmos, a Bíblia TEB da Bíblia (TEB), (1994, P. 1008), nos revela sobre esta versão: Salmos que, na Bíblia hebraica, eram “órfãos”, desprovidos de título, na Bíblia grega aparecem enriquecidos de dados novos: 84 poemas são atribuídos a Davi, outros a diferentes autores, a Jeremias, Ezequiel, Zacarias, Ageu, aos filhos de Ionadab, por vezes com informações inéditas sobre as circunstâncias de composição. A Septuaginta interpretou a seu modo as indicações obscuras dos títulos hebraicos. Dotados de certeza única de que não se possui condições de defini-los em integralidade de sentido ou atribuí-los cronologia, numa datação com precisão historiográfica adequada, prosseguimos com as categorias de títulos. Caráter e natureza das composições dos títulos Assim, as diversas tipologias oferecidas pelas epígrafes dos salmos são divididas em cinco principais instâncias, categorias. 32 Grupos, Escritores Coleção, compiladores ou autores A referência mais recorrente seria “de Davi”, (le dawîd, 73 vezes) cujo variante de significado pode ir de: “autoria de Davi” a “em favor de Davi” ou “pertencente a Davi”. Não se precisa em exatidão (LASOR, 1996, P. 481). Segundo o autor, pelas inscrições designativas (notas de informação), encontramos Davi relacionado a autoria de 73 salmos pelos títulos hebraicos. Títulos gregos acrescentam-lhe 14. Em Latim a Davi são imputados 85 salmos. Assim, pela indicação de título, também teríamos 01 ou 02 com Salomão (Sl 72 e 127), o Sl 90 relegado a Moisés, 12 salmos a Asaf, 11 aos filhos de Coré; um a Hemã (88) e um a Etã (89) que são ezraítas chefes de famílias do coro (SCHOKEL, 1996, p. 75) Tipos de Salmos Há títulos de Salmos, que nos sugestionam reconhecimento e identificação sobre o tema tratado. Termos técnicos nos colocando mais próximos do propósito funcional daquele salmo. Sugestivas titulações encontradas repetidas vezes no transcorrer do livro, nos auxiliam a compreensão. Palavras como: Mizmor (salmo), termo encontrado 57 vezes no Saltério e apenas nele em todo o quadro veterotestamentio – podendo ser visto como um cântico para instrumento de cordas ou cântico cultual acompanhado por instrumento musical. Tefillá (Sl 17; 86; 90; 102; 142) – “Oração” – Salmo de queixa. 33 Shîr, encontrado 30 vezes. Significando “cântico”. Canto de amor ou epitalâmio (Sl 45). Maskîl, empregado 13 vezes no Livro de Salmos, como Sl 32; 42; 44; dentre outros. Podendo significar “Instrução ou contemplação” Cântico de Romagem (Sl 120-136) Marcha religiosa, procissão para subida ao templo. Fins de Liturgia Uso e propósito litúrgico Aqui termos indicam a ocasião tôdâ (Sl 100) – Hino utilizado no culto de ação de graças; hazkîr (Sl 38; 70) – Salmo “para a oferta memorial”, (ARA, Bíblia Almeida Revista Atualizada) ou como “petição” pela finalidade de invocação a Javé (NIV, Bíblia New International Version) A epígrafe do salmo o designa: “Cântico de dedicação da casa” (Sl 30); “Cântico para o dia de sábado” (Sl 92). Seriam dois exemplos de Rúbricas. lelamméd (Sl 60) podendo significar “para instrução” Le’annôt (Sl 88) provavelmente “para cantar” Execução musical 34 Expressões próprias do gênero e Expressões técnicas musicais lamenatstséah - Encontrado cinquenta e cinco vezes neste Livro, pode significar tanto mestre de coro (cf. Hc 3.19) como também pode também indicar uma coletânea de salmos. Selá (selâ), encontrada mais de setenta vezes pode ser referência a um interlúdio musical. binegînôt - instrumentos de cordas (Sl 4; 6; 54-55; 61; 67; 76) ´el-hannehîlôt (Sl 5) “para flautas” Notas históricas Seu valor está em salmos (3; 7; 18; 34; 51-52; 54; 56-57; 59-60; 63; 142) que possuem notas que o remetem a um acontecimento histórico de Israel. E neste contexto Davi recebia um valor de modelo espiritual concluído pela exegese contextual então empregada. Então, como já vimos,títulos são atribuições que se colocam como facilitadoras de compreensão e entendimento, em uma pretensa didática de interpretação! Particularidades da antologia I – Mudanças e alterações 35 Com a tradução do texto hebraico dos Salmos para o grego aproximadamente por volta do século II a.C. com a finalidade de atender essencialmente as necessidades religiosas dos judeus da Diáspora, na chamada versão dos setenta ou Septuaginta, encontramos algumas peculiaridades dentre as quais: II - Mudança na estrutura do corpo documental com inclusão de um salmo (Sl 151) Encontrado na versão Siríaca e em alguns manuscritos da Septuaginta, segundo WEISER Artur. (1994 P. 10), ele não seria integrante da coleção. A presença deste acréscimo é considerado pela Bíblia TEB (1994, P. 1163): “A antiga versão grega propõe em apêndice um salmo extra. Seu texto, não canônico, parece resultar do abreviamento e da combinação de dois salmos não- canônicos, cujo texto hebraico foi parcialmente reencontrado em Qumran”. 1.Salmo escrito especialmente para David e fora do cômputo. Quando travou o singular combate com Goliat. Eu era o menor dentre os meus irmãos, O mais jovem na casa de meu pai. Eu levava a pastar o rebanho de meu pai 2.Minhas mãos fabricavam uma flauta, Meus dedos confeccionaram uma harpa. 3.Quem o anunciará a meu Senhor? O Senhor em pessoa ouve. 0 4.Ele enviou sem mensageiro, ele me tomou do meio do rebanho de meu pai E meu deu a unção do seu óleo. 5.Meus irmãos eram belos e altos, E no entanto o Senhor não os preferiu. 36 6.Eu fui enfrentar o filisteu. Ele me amaldiçoou pelos seus ídolos. 7. Mas eu, arrebatei sua espada, decapitei-o E lavei a afronta dos filhos de Israel. III - Mais alterações perante o texto original Percebe-se a numeração dos poemas diferir quando confrontado com o original encontrado no texto hebraico. Aqui a versão grega, por duas vezes, divide um salmo que na versão hebraica é único (Sl 116 e 147) e também por duas vezes, unifica um salmo que na versão hebraica são dois. (9 e 10; 114 e 115). O quadro, segundo MOMLOUBOU, L. et al (1996. P. 15) nos facilita a compreensão: HEBRAICO GREGO (LXX), VULGATA LATINA, LITURGIA 1-8 1-8 9-10 9 (UNIFICA) 11-113 10-112 114-115 113 (UNIFICA) 116 114-115 (DIVIDE) 117-146 116-145 147 146-147 (DIVIDE) 148-150 148-150 Versões de bíblias modernas apresentam a numeração hebraica e ao lado entre parênteses, a numeração grega das versões latinas (Vulgata e da liturgia). Segundo SCHOKEL, Luis Alonso (1996, P.74): “A numeração não 37 coincide em hebraico e nas versões antigas, do que se seguem confusões ou a necessidade de pôr número duplo, entre parêntesis” IV – Um redator final? Como vimos no início (tópico Uma obra em cinco livretes) a estrutura do Saltério como um todo, dentro de uma evolução histórica, obedece a uma divisão em cinco partes, livros ou blocos, numa aproximação ao Pentateuco, alusão onde observamos que os 150 salmos é índice numérico próximo de 153 (número composições em que a Torá é fracionada para leitura na sinagoga). Esta divisão cria um conjunto de blocos, cada qual terminando com uma doxologia: Livro I (2 a 41), Livro 2 (42 a 72), Livro III (73 a 89), Livro IV (90 a 106) e Livro V (107 a 150). Realidade esta que se faz por fruto de um processual enredo de coleção de documentos históricos, contemplando a produção de inúmeros atores sociais imersos em suas realidades contemporâneas e a mercê de cronologias diversas, o livro de Salmos e suas divisões é obra de enfeixe gradativo. Dentro deste enredo em que a obra (diversas coleções) recebe um possível arranjo de composição (aglutinando numa só), surge um redator final (em quem presenciamos a doxologia final inerente a cada livrete e também a divisão por cinco partes do Livro de Salmos, como alguns prováveis resquícios de sua ação). Vejamos abaixo, alguns momentos que nos sugerem a presença de um compilador inferindo ao contexto da obra, sua interferência. WEISER, (1994, p. 66-67). a) No Saltério eloístico (Sl 42-83) retira-se o nome divino Iahweh (YHWH) sendo substituído pelo termo genérico elohim (´lhym). Obra de uma correção. 38 b) Duplicidade de Salmos, esta casuística dificilmente teria se apresentado, se de uma só vez e pelo mesmo compilador todos os salmos tivessem sido reunidos. 1. Salmo 14 = Salmo 53 SALMOS 14 A.C.F. SALMOS 53 A.C.F. 1 - DISSE o néscio no seu coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras, não há ninguém que faça o bem. 1 - DISSE o néscio no seu coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, e cometido abominável iniquidade; não há ninguém que faça o bem. 2 - O SENHOR olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. 2 - Deus olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. 3 - Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um. 3 - Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não, nem sequer um. 4 - Não terão conhecimento os que praticam a iniquidade, os quais comem o meu povo, como se comessem pão, e não invocam ao SENHOR? 4 - Acaso não têm conhecimento os que praticam a iniquidade, os quais comem o meu povo como se comessem pão? Eles não invocaram a Deus. 39 5 - Ali se acharam em grande pavor, porque Deus está na geração dos justos. 5 - Ali se acharam em grande temor, onde não havia temor, pois Deus espalhou os ossos daquele que te cercava; tu os confundiste, porque Deus os rejeitou. 6 - Vós envergonhais o conselho dos pobres, porquanto o SENHOR é o seu refúgio. 7 - Oh, se de Sião tivera já vindo a redenção de Israel! Quando o SENHOR fizer voltar os cativos do seu povo, se regozijará Jacó e se alegrará Israel. 7 - Oh! Se já de Sião viesse a salvação de Israel! Quando Deus fizer voltar os cativos do seu povo, então se regozijará Jacó e se alegrará Israel. 2. Salmo 40:14-18 = Salmo 70 SALMO 40:14-18 T.E.B. SALMO 70 T.E.B. SALMO 70 A.C.F. 1 Do mestre de coro: de David, para o memorial. 14 Senhor digna-te livrar- me! Senhor vem rápido em meu socorro! 2 Ó Deus, vem libertar-me Senhor vem depressa em meu socorro! 1 - APRESSA-TE, ó Deus, em me livrar; SENHOR apressa-te em ajudar-me. 40 15 Juntos correm de vergonha Os que procuram tirar-me a vida! Batam em retirada, desonrados, Os que desejam minha desgraça! 3 Que enrubesçam de vergonha, Os que buscam a minha morte; Que recuem desonrados, Os que desejam minha infelicidade! 2 - Fiquem envergonhados e confundidos os que procuram a minha alma; voltem para trás e confundam-se os que me desejam mal. 16 Sejam desbaratados, acossados pela vergonha. Os que zombam “A! Ah!” 4 Que se vão embora, cheios de vergonha, os que exclamam: “Ah! Ah!” 3 - Virem as costas como recompensa da sua vergonha os que dizem: Ah! Ah! 17 Exultem de alegria, por causa de ti, Todos aqueles que te procuram! Não cessem de dizer: “O Senhor é grande”, Os que amam a tua salvação! 5 Que exultem de alegria por causa de ti, Todos aqueles que te buscam! Que digam sem cessar: “Deus é grande” Os que amam a tua salvação! 4 - Folguem e alegrem- se em ti todos os que te buscam; e aqueles que amam a tua salvação digam continuamente: Engrandecido seja Deus. 18 Sou pobre e humilhado, O Senhor pensa em mim. Tú és meu socorro e meu libertador; Meu Deus, não tardes!6 Sou pobre e humilhado; Ó Deus, vem a mim depressa! Tú és meu auxílio e meu libertador: Senhor, não tardes mais! 5 - Eu, porém, estou aflito e necessitado; apressa-te por mim, ó Deus. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; SENHOR não te detenha. 41 3. Salmo 57, 8-12 e salmos 60, 7-14 = Salmo108 SALMOS 57, 8-12 T.E.B. SALMOS 60, 7- 14 T.E.B. SALMO 108 T.E.B. SALMO 108 A.C.F. 1 Canto, salmo de David. 8 Com o coração firme, ó Deus, Com o coração firme, Vou cantar um hino: 2 Com o coração firme, meu Deus, Vou cantar um hino: Eis a minha glória! 1 - PREPARADO está o meu coração, ó Deus; cantarei e darei louvores até com a minha glória. 9 Acorda, tu, minha glória; Acordai harpa e cítara, Vou acordar a aurora. 3 Acordai, harpa e cítara, Vou acordar a aurora. 2 - Despertai saltério e harpa; eu mesmo despertarei ao romper da alva. 10 Dar-te-ei graças entre os povos, Senhor: Cantar-te-ei entre as nações. 4 Dar-te-ei graças entre os povos, Senhor, Eu te cantarei entre as nações; 3 - Louvar-te-ei entre os povos, SENHOR, e a ti cantarei louvores entre as nações. 11 Pois tua fidelidade se eleva até os céus E tua verdade até as nuvens. 5pois tua fidelidade é maior que os céus E tua verdade vai até as nuvens 4 - Porque a tua benignidade se estende até aos céus, e a tua verdade chega até às mais altas nuvens. 42 12 Ó Deus, ergue-te sobre os céus; Que tua glória domine toda a terra! 6 Ó Deus, eleva-te sobre os céus E que tua glória domine toda a terra. 5 - Exalta-te sobre os céus, ó Deus, e a tua glória sobre toda a terra. 7 Para que os teus bem-amados sejam libertados salva com a tua destra e responde-nos. 7 Para que os teus bem-amados sejam libertados, Salva pela tua destra, e responde- me. 6 - Para que sejam livres os teus amados, salva-nos com a tua destra, e ouve-nos. 8 Deus falou no santuário: Eu exulto; reparto Siquém E loteio o vale de Sukot. 8 Deus falou em seu santuário: Eu exulto! Partilho Siquém E loteio o vale de Sukot. 7 - Deus falou na sua santidade; eu me regozijarei; repartirei a Siquém, e medirei o vale de Sucote. 9 Guilead me pertence; Manassés me pertence; Efgraim é o capacete da minha cabeça; Judá é o meu cetro; 9 Guilead me pertence; Manassés me pertence; Efraim é o capacete da minha cabeça; Judá é meu cetro; 8 - Meu é Gileade, meu é Manassés; e Efraim a força da minha cabeça, Judá o meu legislador. 10 Moab, a bacia em que me lavo. Sobre Edom, atiro minha sandália; 10 Moab, a bacia na qual me lavo. Sobre Edom atiro a minha sandália. Grito contra a Filistéia. 9 - Moabe a minha bacia de lavar; sobre Edom lançarei o meu sapato, sobre a Filístia jubilarei. 43 Filistéia quebra-te contra mim, gritando! 11 Quem me conduzirá à cidade fortificada? Quem me cionduzirá até Edom, 11 Quem me conduzirá à cidade fortificada? Quem me conduzirá até Edom, 10 - Quem me levará à cidade forte? Quem me guiará até Edom? 12senão tú, o Deus que nos rejeitou, o Deus que não saía mais com os nossos exércitos? 12senão tu, o Deus que nos rejeitou, O Deus que não saía mais com os nossos exércitos? 11 - Porventura não serás tu, ó Deus, que nos rejeitaste? E não sairás, ó Deus, com os nossos exércitos? 13 Vêm em nossa ajuda contra o adversário, Pois a ajuda do homem é ilusão. 13 Vem em nosso auxílio contra o adversário, Vã é a salvação que vem do homem. 12 - Dá-nos auxílio para sair da angústia, porque vão é o socorro da parte do homem. 14 Com Deus realizaremos grandes feitos: Ele pisará aos pés nossos adversários. 14 Com Deus realizaremos façanhas: É Ele quem pisará aos pés os nossos adversários. 13 - Em Deus faremos proezas, pois ele calcará aos pés os nossos inimigos. Um colecionador último compilou o atual livro de Salmos se valendo de diversas coleções anteriores. 44 Ainda sobre mais particularidades, destacamos ainda: nos Salmos, os livros I e II estão com o maior número das lamentações individuais e os livros III e V possuem hegemonia em termos de números de hinos de louvor. Fora do saltério, encontramos salmos isolados, de diferentes épocas, em diferentes livros: (1Sm 2,1-10; Is 38,10-20; Jn 2,3-10; Na 1,2-11:Hab 3,1-19; Lm 5; Dn 2,20-23; Tb 13. Gênero Literário Buscando compreender o compor de um salmo, seu uso e significados contextuais ao Saltério, estudar o gênero literário é fundamental. Numa tentativa de se aproximar de um “decifrar” da realidade existencial que gerou a produção da peça literária, situações reais que geraram o salmo, tudo o que puder agregar sentido ao que foi escrito é buscado através de uma investigação criteriosa. Sistematizar esta incursão de sucesso (em exegese) é algo profundamente necessário. Nesta contextualização, a carência de uma metodologia analítico- investigativa eficiente diante do livro de Salmos gera um efeito migratório que conduz o estilo da leitura documental de modalidade crítica histórica - habitualmente utilizada nas décadas iniciais do século passado- para o conceito de abordagem intitulado crítica da forma proposto por Hermann Gunkel (1862- 1931). Assim, dentro desta nova perspectiva de compreensão adotada na produção interpretativa acadêmica, contemplamos características funcionais dos salmos (LASOR, William S. et al (2003. P. 467-477). 45 I – HINOS Retratam a felicidade do fiel na presença do Altíssimo. a) CATEGORIA GERAL Elementos de composição: a. Chamado ao culto b. Descrição dos atos ou atributos de Deus, em geral compõe o corpo do hino. c. Conclusão Os salmos 8; 19; 29; 33;104-105; 111; 113-114; 117; 135-136; 145- 150, possuem em sua feitura, grande parte desse elementos. b) SUBCATEGORIAS SECUNDÁRIAS Relacionadas a temas, momentos específicos. a. Cântico de vitória - (confeccionado dialogando com a realidade de Ex. 15.21) Sl 68 b. Cânticos de Sião (Jerusalém, a eleita de Deus) Louvam a Yahweh, louvando Jerusalém, seguindo ao lugar santo com invocações de benção para ele. Sl 46; 48; 76; 46 c. Hinos de romagem, peregrinação. Que relatam os sentimentos dos peregrinos e adoradores ao se dirigirem ao templo. 1. Alguns descrevem o duro caminho e a satisfação da benção: Sl 84; 122 2. Outros preservam uma “liturgia de entrada”. (15; 24). 3. Outros retratam a marcha religiosa dos fiéis (132; 68.24-27) e. Cânticos de entronização do Senhor, comemoram o reinado de Deus como o Senhor das nações. Sl 47; 93; 96-99 II – SALMOS DE LAMENTAÇÕES, QUEIXAS, SÚPLICAS: 01) Coletivas: (Comunidade) Calamidades nacionais (Sl 12; 44; 60; 74; 79-80; 83; 85; 90 e 126) Derrotas (Sl 44; 60; 74; 79-80; cf. Lm 5) Elementos gerais da estrutura de composição: a. Interpelação a Deus e pedido inicial por auxílio (74,1) b. Recordação de feitos de Deus (74,2) c. Descrição da adversidade. A queixa em si. a. Inimigos (eles) v.4 b. Comunidade (nós) v.9 47 (Com clara percepção de três componentes ativos pertinentes ao enredo) c. Deus (tu) v.11 d. Afirmação de confiança (v. 12) e. Conjunto de pedidos de resgate (v. 19; 23) f. Desejo duplo em relação ao povo e seus inimigos: (79, 11-12) g. Voto de louvor (79,13; cf. 74.21) 02) Individuais: (O Fiel) Adversidade na vivência social: (Sl 3; 5; 7; 17; 25; 27,7-14; 56; 69) Enfermidade (Sl 38; 39; 62; 88) Ou mesmo a combinação de ambos: (Sl 6; 31; 88) Elementos gerais da estrutura de composição:A. Interpelação a Deus e pedido inicial por auxílio 22.1 B. Descrição da adversidade. (Com clara percepção de três componentes ativos pertinentes ao enredo) B1. Inimigos v. 12 B2. Individuo v. 14 B3. Deus v. 15c C. Afirmação de confiança v.4 D. Relação de pedidos, com predomínio da forma verbal imperativa. v. 19s. E. Complemento argumentativo Oração confessional 51.3-5 Afirmativa de inocência 26.3-8 48 F. Louvor 22.22 G. A fé faz antecipar a gratidão 142.7 Lembramos que dentro desta categoria literária reconhecida pela temática de queixas, de súplicas individuais, existe um contexto de lamento onde o salmista apela a Deus para derramar sua ira contra o desafeto. Salmos imprecatórios intitula este grupo. P. ex.: (Sl 109). III - CÂNTICOS DE AÇÃO DE GRAÇAS Ao final da adversidade estes cânticos (relevando a confiança) poderiam ser utilizados. 01. Individual: (O fiel) Sl 30; 32; 34; 40:1-10; 66; 116; 138. Elementos gerais da estrutura de composição: A. Decisão de dar graças Sl 116. 1-2 B. Resumo introdutório v. 1 C. Recapitulação poética do período de necessidade v. 3 D. Relato da petição e do livramento v. 4 E. Ensino generalizado v. 5-6 F. Ação de graças renovada v. 14 02. Coletivas: (Comunidade) Sl 66.8-12; 67; 124; 129. 49 Conforme Hermann Gunkel tais salmos de ação de graça coletiva estão paralelos em forma aos de ações de graça individuais. IV – OS SALMOS REAIS Esta terminologia é adotada ao nos referirmos a este grupo de salmos voltados ao rei de Israel: (Sl.2; 18; 20; 21; 45; 72; 101; 110; 132; 144. 1-11). Contém louvores, orações, ao rei. Ressaltam seu caráter. Contém afirmações do favor de Yahweh pelo rei. Salmos que retratam a função do soberano do período pré-exílico no culto Israelita e as esperanças e os deveres que recaem sobre a descendência de Davi. São salmos do rei ou pelo rei. (SCHOKEL, Luis Alonso (1996, P. 92) O conteúdo e a forma literária tornam possíveis a reconstrução de momentos em que tais salmos foram utilizados em culto público: Casamento: (Sl 45), Coroação: (Sl 2; 21; 72 e 110), e orações antes ou depois de batalhas (SL 20). LASOR, William S. et al (2003. P. 476). Particularidades Observadas Torna-se adequado neste momento, dentro do contexto explanado de salmos onde a realeza humana é proclamada através da figura do Rei de Israel, lançar comparativos, confrontar esta realidade material e para o que ela aponta, segundo uma perspectiva neotestamentária. Ainda que os cristãos após o advento de Jesus possuíssem compreensão mais aguda sobre o que certos Salmos de maneira mais profunda significassem em verdade e espírito, alguns momentos encontrados entre versos (Sl 2; 8; 16; 22; 45; 72; 110; 118; ACF) neste livro nos remetem a observar a ação do espírito de Deus inspirando homens no velho testamento, através de escritos de profecia messiânica. São momentos específicos que ao serem observados através do prisma da encarnação, assumem conotação de amplitude (posterior ao messias) ilimitada. 50 Depois de Jesus os Salmos são interpretados por uma fé renovada. É todo um contexto cuja reestruturação da simbologia de significado vislumbra o Cristo. Jesus nos salmos A igreja cristã emergente encontrava neste livro em determinados salmos momentos em que o Salvador era pintado como nítido retrato literário, cujas tonalidades vívidas eram versos de poesia semeados pelo Saltério. Nesta realeza de agrupamento encontram-se os chamados pela fé e piedade cristãs de Salmos Messiânicos. Um agrupamento de salmos (V.T.) cujo sentido se entrelaça com Jesus Cristo (N.T.). Observemos a leitura espiritual, tipológica dos versos interpretado pela igreja primitiva, consultando a versão Almeida Corrigida Fiel, da Bíblia Sagrada, para referência de tradução. MOMLOUBOU, L. et al. (1996, p. 90-93). INTERPRETAÇÃO PELA IGREJA APÓSTÓLICA VELHO TESTAMENTO NOVO TESTAMENTO Jesus como o Messias! Salmos 2:7 Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu At 13.33 33 Como também está escrito no salmo segundo: Meu filho és tu, hoje te gerei. Mc 1,11 E ouviu-se uma voz dos céus, que dizia: Tu és o meu Filho amado em quem me comprazo. 51 Filho, eu hoje te gerei. Mc 9,7 E desceu uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu filho amado; a ele ouvi. Mt 3.17 E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. A escritura justificando a afirmativa encontrada em Lc 24,26. “Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?” Salmos 8:5- 7 Que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: Hebreus 2:6-8 Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, De glória e de honra o coroaste, E o constituíste sobre as obras de tuas mãos; Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que lhe não esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas. 1Cor 15,27 Porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. Ef. 1,22 E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, 52 Fl 3,21; Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas. 1Pe 3,22 O qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendo-se lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências. Neste momento correlaciona-se o Sl 69 ao sofrer do Cristo. Sl 69,10 Pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim. Rm 15,3 Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam. . Temos também a interpretação de um caminho de cruz do Cristo: Servo justo que sofre Salmo 31.5 Lucas 23.46. Salmo 31.13 Mateus 27.1 O advento da encarnação supriu o Saltério de oportunas e incursões de leituras (abordagens alegóricas) onde uma nova roupagem teológica prepondera. O cerne hermenêutico sendo o prenúncio de uma libertação em Cristo Jesus torna o livro de Salmos, em certos momentos uma incontrolável 53 declaração de renovo, uma obra nova. Eis que um velho testamento ressuscita pela cruz em uma nova aliança em verdade e espírito! MAIS PARALELOS MESSIÂNICOS ENTRE AS DUAS ALIANÇAS: Salmos 2-1 Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs? Atos 4.25 Que disseste pela boca de Davi, teu servo: Por que bramaram os gentios, e os povos pensaram coisas vãs? Salmos 2-2 Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo. Atos 4.26 Levantaram-se os reis da terra. E os príncipes se ajuntaram à uma. Contra o Senhor e contra o seu Ungido. Salmos 8:2 Tu ordenaste força da boca das crianças e dos que mamam, por causa dos teus inimigos, para fazer calar ao inimigo e ao vingador. Mateus 21:16 E disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?Salmo 22.1 Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido? Mateus 27.46 Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos nele. Salmos 22:2 Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves; de noite, e não tenho sossego. Marcos 15.34 E, à hora nona Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Salmo 22.7-8 Todos os que me veem zombam de mim, estendem os lábios e Lucas 23.35 E o povo estava olhando. E também os príncipes 54 meneiam a cabeça, dizendo: Confiou no Senhor, que o livre; livre-o, pois nele tem prazer. zombavam dele, dizendo: Aos outros salvou, salve-se a si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus. Salmo 22.16 Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés. João 20.25,27 Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. Salmo 22.18 Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa. Mateus 27.35-36 E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sortes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançaram sortes. E, assentados, o guardavam ali. Salmo 45.6 O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade. Hebreus 1.8 Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu reino. 55 Salmo 72.1-5, 17 Ó Deus, dá ao rei os teus juízos, e a tua justiça ao filho do rei. Ele julgará ao teu povo com justiça, e aos teus pobres com juízo. Os montes trarão paz ao povo, e os outeiros, justiça. Julgará os aflitos do povo, salvará os filhos do necessitado, e quebrantará o opressor. Temer-te-ão enquanto durarem o sol e a lua, de geração em geração (...) O seu nome permanecerá eternamente; o seu nome se irá propagando de pais a filhos enquanto o sol durar, e os homens serão abençoados nele; todas as nações lhe chamarão bem- aventurado. Lucas 1.32-33 Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. Salmo 72. 2-4 Ele julgará ao teu povo com justiça, e aos teus pobres com juízo. Os montes trarão paz ao povo, e os outeiros, justiça. Julgará os aflitos do povo, salvará os filhos do necessitado, e quebrantará o opressor. Lucas 4.17-19 E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: 18 O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor. Salmo 72.8-11,19 Dominará de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da terra. Aqueles que habitam no deserto se inclinarão ante ele, e os seus inimigos lamberão o pó. Os reis de Társis e das ilhas trarão Atos 13.47-48 Porque o Senhor assim no-lo mandou: eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra. E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a 56 presentes; os reis de Sabá e de Seba oferecerão dons. E todos os reis se prostrarão perante ele; todas as nações o servirão (...) E bendito seja para sempre o seu nome glorioso; e encha-se toda a terra da sua glória. Amém e Amém. palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna. Salmo 89.3-4 Fiz uma aliança com o meu escolhido, e jurei ao meu servo Davi, dizendo: A tua semente estabelecerei para sempre, e edificarei o teu trono de geração em geração. (Selá.) Mateus 1.1 Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. Salmo 89.26 Ele me chamará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus, e a rocha da minha salvação. Mateus 11.27 Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Salmo 89.27 Também o farei meu primogênito mais elevado do que os reis da terra. Cl 1. 15-18 O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. 57 Salmo 89.29 E conservarei para sempre a sua semente, e o seu trono como os dias do céu. Mateus 1.1 Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. Salmo 89.35-36 Uma vez jurei pela minha santidade que não mentirei a Davi. A sua semente durará para sempre, e o seu trono, como o sol diante de mim. Sl 110.1 Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés. Mateus 22:44 44 - Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, Até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés? Marcos 14:62 E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu. Hebreus 1.13 13 - E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-te à minha destra, Até que ponha a teus inimigos por escabelo de teus pés? I Pedro 3.22 22 - O qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendo-se lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências. Salmos 118.16 A destra do Senhor se exalta; a destra do Senhor faz proezas. Atos 5,31 Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. 58 Salmos 118.22 22 - A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a cabeça da esquina. Mateus 21.42 Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, Essa foi posta por cabeça do ângulo; Pelo Senhor foi feito isto, E é maravilhoso aos nossos olhos? Atos 4.11 Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. A igreja cristã primitiva, já encontrava entre o Livro de Salmos e o advento do Cristo Jesus, uma relação de diálogo teológico direto e profundo. V - SALMOS DE SABEDORIA Nesta categoria encontramos salmos em que o salmista refere-se a suas palavras como p. ex.: sabedoria, instrução. Descreve o “temor a Yahweh”, se dirige ao espectador como “filhos”. Notamos advertências, ensinos. Presenciamos um contexto que reflete as técnicas literárias da sabedoria, como uso de provérbios, acrósticos, séries numéricas. Temos para Hermann Gunkel os Salmos 1; 37; 49; 73; 91; 112; 127; 128; 133. Schokel, Luís Alonso (1996. P. 93) Subtiposde salmos sapienciais Salmos de máximas de sabedoria. 59 Descrição da conduta ideal, e suas decorrências. Utilizam na elaboração textual, provérbios expandidos e símiles: Sl 127; 128; 133. Salmos acrósticos de sabedoria. Linhas ou versos se iniciam por letras hebraicas colocadas em sucessão. Salmos alfabéticos: Sl; 34; 37; 112. Salmos sapienciais integrativos. Aborda contextos valiosos a sabedoria. a) Interação relacional entre a sabedoria e a Torá: Sl 1 b) A questão da justa retribuição ainda que tardia: Sl 49 c) Perdão divino e seu legado de aprendizado: Sl 32 Também encontramos versos ou estrofes que indicam relação de influência com o estilo sapiencial, interferência da literatura de sabedoria: Sl 25.8-10, 12-14; 31.23s.; 39.4; 40.4s., 62.8,10; 92.8-15. É necessário observarmos uma distinção existente entre: Salmos que agregam características de sabedoria com uma estrutura de base cúltica. (Sl 32; 34 e 73) Uso reflexivo. Salmos utilizados em escolas de sabedoria. Sl 37; 49; 112 e 127 Uso didático. Saltério e o novo testamento Momloubou, L. et al. (1996, p. 91- 92) 60 Dentro de um valioso acervo literário transcendente encontrado nesta obra, uma pérola inestimável nos rouba a atenção: o diálogo teológico do Saltério veterotestamentário, embasando a realidade experimentada pelo Novo Testamento. Diversos autores neotestamentário utilizam-se no cotidiano dos ensinamentos da nova aliança, de versos contidos no livro das preces poéticas, um retrato de Israel espiritual, que são os Salmos. A interação integrativa é vista abaixo. DEUS QUE LIBERTA SL 34 1 Pe2,3 8.Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele confia. Se é que já provastes que o Senhor é benigno; 14.Aparta-te do mal, e faze o bem; procura a paz, e segue-a. 3, 11-12a 11. Aparte-se do mal, e faça o bem; Busque a paz, e siga-a. 15.Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos ao seu clamor. 12. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, E os seus ouvidos atentos às suas orações; (...) No livro de Atos dos Apóstolos o saltério é mencionado de maneira direta: At 1,20 Porque no livro dos Salmos está escrito: fique deserta a sua habitação, E não haja quem nela habite, e: tome outro o seu bispado. At 13,33-35 Como também está escrito no salmo segundo: Meu filho és tu, hoje te gerei. E que o ressuscitaria dentre os mortos, para nunca mais tornar à corrupção, disse-o assim: as santas e fiéis 61 bênçãos de Davi vos darão. Por isso também em outro salmo diz: não permitirás que o teu santo veja corrupção. ACF São referências veterotestamentárias que revelam o diálogo teológico dos autores do novo testamento com o Saltério. At 2. 25-28 Porque dele disse Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, Porque está à minha direita, para que eu não seja comovido; Por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; E ainda a minha carne há de repousar em esperança; Pois não deixarás a minha alma no inferno, Nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção; Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida; Com a tua face me encherás de júbilo. Salmo 16. 8-11 Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei. Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória; também a minha carne repousará segura. Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente At 2.34 Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, Sl 110.1 Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés. Neste propósito de integração e inspiração divina na Escritura Sagrada, verifiquemos as relações tão coesas entre passagens do Saltério e Livros do Novo Testamento, que de uma forma contundente ou não em termos de significado da simbologia na mensagem, travam leituras dentro de suas distantes realidades históricas, realçando sobrenatural ausência de contradições. Comparemos mais relações de integração intertestamentária: 62 Lucas 23:46 46 - E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou. Salmos 31:5 5 - Nas tuas mãos encomendo o meu espírito; tu me redimiste SENHOR Deus da verdade. Mateus 5:5 5 - Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Salmos 37.11 11 - Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz. Marcos 14:18 18 - E, quando estavam assentados a comer, disse Jesus: Em verdade vos digo que um de vós, que comigo come, há de trair-me. Salmos 41:9 9 - Até o meu próprio amigo íntimo, em quem eu tanto confiava que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar. Marcos 14:34 34 - E disse-lhes: A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui, e vigiai. Salmos 42:6 6 - Ó meu Deus, dentro de mim a minha alma está abatida; por isso lembro-me de ti desde a terra do Jordão, e desde os hermonitas, desde o pequeno monte. At 13,22. E, quando este foi retirado, levantou- lhes como rei Davi, ao qual também deu testemunho, e disse: Achei a Davi, filho de Jessé, homem conforme o meu coração, que executará toda a minha vontade. Salmo 89.20-21 Achei a Davi, meu servo; com santo óleo o ungi, Com o qual a minha mão ficará firme, e o meu braço o fortalecerá. TEMÁTICA: OBRA DA JUSTIFICAÇÃO Romanos 4. 5-8 Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é Salmo 32 Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o 63 imputada como justiça. Assim também Davi declara bem- aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, E cujos pecados são cobertos. Bem- aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado. homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano. Quando eu guardei silêncio, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. (Selá.) Confessei- te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado. (Selá.) Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar; até no transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão. Tu és o lugar em que me escondo; tu me preservas da angústia; tu me cinges de alegres cantos de livramento. (Selá.) Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti.10 O ímpio tem muitas dores, mas àquele que confia no Senhor a misericórdia o cercará. Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós os justos; e cantai alegremente, todos vós que sois retos de coração 64 Rm 3.20 Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado. Salmo 143.1-2 Ó Senhor, ouve a minha oração, inclina os ouvidos às minhas súplicas; escuta-me segundo a tua verdade, e segundo a tua justiça. E não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente. TEMÁTICA: O VERDADEIRO CULTO: “EM ESPÍRITOE VERDADE” Hebreus 10, 6-10 Holocaustos e oblações pelo pecado não te agradaram. Então disse: Eis aqui venho (No princípio do livro está escrito de mim), Para fazer, ó Deus, a tua vontade. Como acima diz: Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei). Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo. Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez. Salmo 40, 7-9 Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro de mim está escrito. Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração. Preguei a justiça na grande congregação; eis que não retive os meus lábios, Senhor, tu o sabes. Como não reconhecer a proximidade palpável que entrelaça a proclamação da poesia religiosa de Salmos para com seus degustadores neotestamentários? Como nos afirma MOMLOUBOU, L. et al. (1996. pag. 99). “Uma compreensão melhor do Evangelho faz descobrir uma significação mais rica nas fórmulas sálmicas. A frequentação dos salmos conduz uma assimilação melhor do Evangelho.” Uma profunda interação documental das duas alianças. O Velho Testamento sendo fidedignamente cumprido no Novo Testamento. 65 Valias de contribuição teológica O Saltério se faz por atestado escrito do que a essência espiritual de Israel é capaz de transmitir em seus louvores, suas súplicas suas ações de graças. Por centenas de anos, experiências com Deus são coletadas e fixas em um testamento à eternidade através de poesias religiosas declamadas, cantadas, vividas, impressas na existência com profundidade e em veracidade. Momentos que o homem pode abrir de si e do seu íntimo colher a sinceridade que transcreve em salmos, como retratos que comprovam um testamento à Humanidade, graça que nasce desta relação criatura e seu criador. Sem manchar o salmo como expressão nítida de sinceridade pura, se constitui numa religação do homem para com Deus. Uma dinâmica do fiel para com sua divindade. E nesta construção humana inspirada, a Palavra se apresenta como fundamento em autógrafo da essência que produz e conduz Deus. E como seria sem manchar? Traçando então um paralelo etimológico com o vocábulo religião e indo mais além numa exegese que contempla sua transformação de conceito filosófico de crença em um movimento humano de postura filosófica, coloco lado a lado o joio e o trigo. A religião que pode em determinados momentos perder essa produção e condução divinas, (quando o legalismo humano corrompe como fermento da alma), e os salmos, em não há dolo, mácula. Neste escritos de sabedoria e poesia, nestas instâncias de palavras sálmicas onde templos de carne se derramam, a Igreja verdadeira se levanta, cultuando o amor, a vida. Gerações após gerações, diante de Deus, através dos Salmos, almas piedosas colhem benesses em termos de homilias, estudos, comentários. Inspirações genuínas são obtidas quando os olhos vagueiam estas linhas divinamente inspiradas e que repousam no Saltério. 66 Quanto te invoquei, ó meu Deus, ao ler os salmos de Davi, cânticos de fé, hinos de piedade, contrastantes com qualquer sentimento de orgulho, eu, novato ainda no caminho do teu verdadeiro amor, catecúmeno em férias, (...) Quantas exclamações me inspirava a leitura desses salmos, e como eles me inflamavam no teu amor! Desejava ardentemente recitá-los, se possível, para o mundo todo, a fim de rebater o orgulho do gênero humano. E, no entanto, são cantados no mundo inteiro, e nada pode furtar-se ao teu calor. (AGOSTINHO, 1984, Confissões, IX 4,8. Pág. 224 e 225) Anexo A Salmos 74:1-23 A.C.F. 1 - Ó DEUS, por que nos rejeitaste para sempre? Por que se acende a tua ira contra as ovelhas do teu pasto? 2 - Lembra-te da tua congregação, que compraste desde a antiguidade; da vara da tua herança, que remiste; deste monte Sião, em que habitaste. 3 - Levanta os teus pés para as perpétuas assolações, para tudo o que o inimigo tem feito de mal no santuário. 4 - Os teus inimigos bramam no meio dos teus lugares santos; põem neles as suas insígnias por sinais. 5 - Um homem se tornava famoso, conforme houvesse levantado machados, contra a espessura do arvoredo. 6 - Mas agora toda obra entalhada de uma vez quebram com machados e martelos. 7 - Lançaram fogo no teu santuário; profanaram, derrubando-a até ao chão, a morada do teu nome. 8 - Disseram nos seus corações: Despojemo-los duma vez. Queimaram todos os lugares santos de Deus na terra. 67 9 - Já não vemos os nossos sinais, já não há profeta, nem há entre nós alguém que saiba até quando isto durará. 10 - Até quando, ó Deus, nos afrontará o adversário? Blasfemará o inimigo o teu nome para sempre? 11 - Porque retiras a tua mão, a saber, a tua destra? Tira-a de dentro do teu seio. 12 - Todavia Deus é o meu Rei desde a antiguidade, operando a salvação no meio da terra. 13 - Tu dividiste o mar pela tua força; quebrantaste as cabeças das baleias nas águas. 14 - Fizeste em pedaços as cabeças do leviatã, e o deste por mantimento aos habitantes do deserto. 15 - Fendeste a fonte e o ribeiro; secaste os rios impetuosos. 16 - Teu é o dia e tua é a noite; preparaste a luz e o sol. 17 - Estabeleceste todos os limites da terra; verão e inverno tu os formaste. 18 - Lembra-te disto: que o inimigo afrontou ao SENHOR e que um povo louco blasfemou o teu nome. 19 - Não entregues às feras a alma da tua rola; não te esqueças para sempre da vida dos teus aflitos. 20 - Atende a tua aliança; pois os lugares tenebrosos da terra estão cheios de moradas de crueldade. 21 - Oh, não volte envergonhado o oprimido; louvem o teu nome o aflito e o necessitado. 22 - Levanta-te, ó Deus, pleiteia a tua própria causa; lembra-te da afronta que o louco te faz cada dia. 23 - Não te esqueças dos gritos dos teus inimigos; o tumulto daqueles que se levantam contra ti aumenta continuamente. 68 Salmos 79:1-13 A.C.F. 1 - Ó DEUS, os gentios vieram à tua herança; contaminaram o teu santo templo; reduziram Jerusalém a montões de pedras. 2 - Deram os corpos mortos dos teus servos por comida às aves dos céus, e a carne dos teus santos às feras da terra. 3 - Derramaram o sangue deles como a água ao redor de Jerusalém, e não houve quem os enterrasse. 4 - Somos feitos opróbrio para nossos vizinhos, escárnio e zombaria para os que estão à roda de nós. 5 - Até quando, SENHOR? Acaso te indignarás para sempre? Arderá o teu zelo como fogo? 6 - Derrama o teu furor sobre os gentios que não te conhecem, e sobre os reinos que não invocam o teu nome. 7 - Porque devoraram a Jacó, e assolaram as suas moradas. 8 - Não te lembres das nossas iniquidades passadas; venham ao nosso encontro depressa as tuas misericórdias, pois já estamos muito abatidos. 9 - Ajuda-nos, ó Deus da nossa salvação, pela glória do teu nome; e livra-nos, e perdoa os nossos pecados por amor do teu nome. 10 - Porque diriam os gentios: Onde está o seu Deus? Seja ele conhecido entre os gentios, à nossa vista, pela vingança do sangue dos teus servos, que foi derramado. 11 - Venha perante a tua face o gemido dos presos; segundo a grandeza do teu braço preserva aqueles que estão sentenciados à morte. 12 - E torna aos nossos vizinhos, no seu regaço, sete vezes tanto da sua injúria com a qual te injuriaram Senhor. 13 - Assim nós, teu povo e ovelhas de teu pasto, te louvaremos eternamente; de geração em geração cantaremos os teus louvores. 69 Salmos 137:1-9 A.C.F. 1 - JUNTO dos rios de Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião. 2 - Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas. 3 - Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção;e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião. 4 - Como cantaremos a canção do SENHOR em terra estranha? 5 - Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, esqueça-se a minha direita da sua destreza. 6 - Se me não lembrar de ti, apegue-se-me a língua ao meu paladar; se não preferir Jerusalém à minha maior alegria. 7 - Lembra-te, SENHOR, dos filhos de Edom no dia de Jerusalém, que diziam: Descobri-a, descobri-a até aos seus alicerces. 8 - Ah! Filha de Babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós. 9 - Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras. Provérbios O autor De maneira tradicional, associa-se comumente a Salomão - visto como padroeiro, verdadeiro patrono da Sabedoria - a autoria dos escritos sapienciais. Este tipo de percepção imputa a Moisés a autoria do Pentateuco e faz de Davi 70 escritor dos Salmos. O que o texto transparece é a presença não de um autor, mas vários. Não uma data, todavia observa-se um ajuntamento de materiais que transpassa séculos (de 950 a 400 a.C aproximadamente). STORNIOLO, Ivo. (1992. p. 21) A obra O livro de Provérbios encontra-se na terceira parte do cânon judaico chamados Escritos. A tais livros os pais da igreja atribuíram codinome de terminologia grega de hagiógrafa ou escrita sacra. Pela atual disposição observada pela Bíblia judaica, ele é o terceiro livro, subsequente aos Salmos e Jó, respectivamente. Em mãos, apreciamos uma coletânea de coleções, uma superestrutura de blocos diferentes, levando também diferentes origens e datas de feitio, contudo dispostos como único conglomerado sapiencial e referidos em único título. Em hebraico chamado por mishlê. Na Septuaginta é traduzido por paroimiai Salomônto, ou apenas paroimiai e em latim Liber Proverbiorum ou Proverbia. Uma compilação valiosa onde os preceitos da fé estão relatados e dispostos a serem incorporados pelo povo de Deus. Nesta antologia, ditados populares são preceitos escritos que exalam a empiria diária da experiência de vida e que nutrem o aprendizado do sábio com vivências concretas Longe de elucubrações teóricas abstratas, o sentido da praticidade de trato se faz por alvo destes ensinos que levam o indivíduo a lidar com sabedoria diante de acontecimentos cotidianos. Numa sabedoria tipicamente prática, o texto de Provérbios é o conhecimento este que é adquirido pela fé numa busca incessante ao Criador, doador da Sabedoria. Em hebraico a palavra “provérbio” (mashal) é interpretada exatamente por semelhança, comparação. No entanto, assumindo sentido mais diversificado, pode também possuir outro entendimento revelando rica diversidade poética entre outros: metáfora (11,22), alegoria (27.23-27), etc. 71 Elementos de artifícios literários utilizados, que podemos reconhecer percebendo-os como participantes na composição de escrita do livro de Provérbios. Características da obra Cronologia: segundo STORNIOLO, Ivo. (1992. p. 21) Um fundir de valiosas referências sapienciais, geradas através de praticamente seis séculos e que estão alocadas em nove camadas de temas compondo partições estruturais da obra. TABELA Passagem Titulo Marco Temporal Pr 1-9: Prólogo Pr 10,1-26, 16: Grande coleção Salomônica Pr 22,17-24,22: Coleção dos Sábios Pr. 24,23-34: Sequência da coleção dos sábios Pr 25-29: Segunda coleção salomônica Pr. 30,11-14: Palavras de Agur Pr 30,15-33: Provérbios numéricos Pr 31,1-9: Palavras de Lemuel Pr 31,10-31: Uma mulher de valor 72 Finalidade O propósito didático do livro é diretamente exposto logo no primeiro capítulo da obra (1.2-6) e neste mesmo capítulo encontramos no verso sete resumo em maestria como deve ser adquirido o conhecimento que produz vida. Uma formação integral de êxitos materiais embasados numa espiritualidade alimentada pelo Senhor, torna-se fundamento ofertado em Provérbios. Conduzir o homem a felicidade é torna-lo sábio (8.32-35). E esta felicidade é transcrita em vida com vitórias conseguidas sob o temor ao Senhor (22,4), reputação (10,7; 22,1). Uma existência onde o fortalecimento do núcleo familiar é substancial (19,26). Uma obra onde uma coleção de aforismos revela o conhecimento que conduz à sabedoria divina. Relação com o Novo Testamento Existe uma extrema proximidade de relação entre o livro Provérbios e o Novo Testamento. Escritores neotestamentários comumente embasam suas colocações teológicas com citações apoiadas neste livro. O próprio Jesus utilizou-se de provérbios, parábolas que são figuras literárias oferecidas pela literatura sapiencial. É notável a interação que reconstrói e amplia o sentido original, enriquecendo-o. Quando confrontamos passagens como Mt 23.6-7 com Pv 25, 6,; reconhecemos o sentido da mensagem de Jo 3.13 tão afim com Pv. 30.4, presenciamos revelação de perfeita unidade hermenêutica na multiplicidade de composição exegética da Escritura. Consideremos as influências: Segundo LASOR, William S. et al (2003, P. 511) 73 TABELA Novo testamento C O M P A R E Velho Testamento Rm 12,16 Pr. Pv. 3.7 Rm 12.20 Pv. 25. 21-22 1Co 1.24 Pv 8 Cl 2.3 Pr. 2. 4-5 Hb 12.5s Pr. 3.11-12 LXX Hb 12.13ª Pr. 4.26 LXX Tg 4.6 Pr. 3.34 LXX Tg 5.20 Pv. 10-12 1Pe 2.17 Pr. 24.21 1Pe 4.8 Pr 10.12 1Pe 5.5b Pr. 3.34 2Pe 2.22 Pv 26.11 Sentenças encontradas em Provérbios recebem fluência no ensino produzido no novo testamento. A Escritura Sagrada, em sua perfeição, veicula supranatural confecção. Em diálogo com as duas alianças, percorrendo os diversos momentos literários, encontramos coesa inerrância bíblica habitual. Estrutura O texto como vasta compilação produzida através de aproximadamente seiscentos anos, possui muitos blocos temáticos, que em si, são porções completas. Independentes. Porém estes diferentes arranjos devem ser observados como um todo numa aglutinação, ajuntamento. Assim, montado tal composição única, as várias partes se interligam como capítulos de um mesmo livro, cuja função orbitará uma sabedoria que nos transforma adaptando-nos a lidar em questões da vida diária com o prudente conhecimento adquirido. Sabedoria (capacidade) é dom que provém de Deus conduzindo o conhecimento 74 (instrumento), da ação humana. Ao unirmos dos diferentes conjuntos temáticos, é possível particionar o livro de Provérbios em estruturas: 08 Estruturas Segundo LASOR, William S. et al (2003, pag. 501). 01 A importância da Sabedoria (1.7-9.18) 02 Os Provérbios de Salomão (10.1-22.16) 03 As Palavras dos Sábios (22.17-24.22) 04 Ditados Complementares (24.23-24) 05 Os Provérbios de Salomão Copiados pelos Homens a Serviço de Ezequias (25.1-29.27) 06 As Palavras de Agur (30.1-33) 07 As Palavras de Lemuel (31.1-9) (31.1-9) 08 A descrição de uma mulher excelente (31.10-31) 09 Estruturas Segundo MOMLOUBOU, L. et al. (1996. pag. 134). Livrete I (Pr 1-9), Provérbios de Salomão, filho de Davi, reis de Israel Livrete II (Pr 10,1-22,16) Primeira Coleção de Salomão Livrete III (Pr 22,17-24.23) Livrete IV (Pr 24,23-34) Livrete V (Pr 25-29) Livrete VI Pr. 30,1-14) Palavras de Agur Livrete VII (Pr. 30,15-33) Livrete VIII (Pr 31,1-9) Palavras de Lamuel Livrete IX Pr 31, 10-31. 75 10 Estruturas Segundo CERESKO, Anthony R.(2004., pg 61). I Título e introdução (1,2;1-7) II O Prólogo (1,8-9,18) III A Primeira Coletânea de “Provérbios de Salomão” (10,1-22,16) IV “As Palavras dos Sábios” (22,17-24,22) V “(Mais) Ditos dos Sábios” (24,23-34) VI Uma Segunda Coletânea de “Provérbios de Salomão” (25,1-29,37) VII As “Palavras de Agur”, Filho de Jaces (30,1-9) (30,1-9) VIII Uma Coletânea de Ditos(Preponderantemente) Numéricos (30,15-33) IX “As Palavras do Rei Lamuel...Que lhe foram ensinadas por sua Mãe (31,1-9) X Um Poema que Descreve “A Mulher; Esposa Ideal (31,10-31) Tais unidades de composição, independente das frações a que são submetidas, suas divisões sempre respondem com referência ao conteúdo, ao estilo literário, e ao título. E cada autor, uma linha de metodologia interpretativa própria. São estruturas que didaticamente atestam a produção intelectual de sábios diante do conhecimento trivial da população. A vida diária e seu exercício do senso comum, a informalidade existencial e suas oportunidades de aprendizagem receberam uma sistematização educativo-sapiencial ao longo de aproximadamente uma meia dúzia de séculos fecundando o livro de Provérbios com seu propósito. 76 Recursos da escrita A riqueza literária de Provérbio é nítida. Presenciamos a presença de longos discursos, contrastando com o conteúdo intermediário que se faz por versos emparelhados, curtos e possuindo em si sentido próprio. Encontramos paralelismos (característica da poesia semita utilizada com fins de memorização) por toda a obra. A interação entre a primeira e a segunda frase do provérbio assume possibilidades múltiplas. STORNIOLO, Ivo. (1992, p. 55-61). a) Sinônimo: O sentido nasce da comparação entre os pensamentos expressos nas linhas do Provérbio. A segunda linha deve ratificar o sentido da sentença anterior. A segunda linha é semelhante à primeira. Pr 16.18 A arrogância precede a ruína, E o espírito altivo, a queda. b) Antitético: Apesar de contrastar com a primeira frase, a segunda está lhe reforçando o sentido. Pr 12.18 Há quem tenha a língua como espada, Mas a língua dos sábios, cura. c) Sintético, progressivo ou também ascendente: Neste paralelismo A segunda linha completa a primeira. Pv 15.33 O temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e precedendo a honra vai à humildade. d) De comparação: A segunda frase é como ou equivale a primeira. Individualmente, cada frase apresenta realidade própria. São diferentes 77 entre si. Entretanto é criada nova realidade ao aproximá-las. Nova ideia é realçada quando dispostas em interação. Pr 25,11 Como cão que volta ao seu vômito, Assim é o insensato que repete a sua estupidez e) Paralelismo comparativo: Provérbios apresentados no estilo comparativo de superioridade, em que o primeiro verso deprecia o segundo. Utilizando-se expressões como “melhor do que ou mais vale” a primeira frase desvaloriza a subsequente (isto é melhor do que ou isto é bom e aquilo não). Pr 16,19. Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos. Mais exemplos de gêneros sapienciais encontrados no livro de Provérbios são destacados: Provérbios numéricos - Por gradação ou acréscimo numérico (Pv 6.16- 19) Poema didático (Pv 8 e 9); Cadeias de provérbios: Reunião de diversos marshals: - Iniciados pela mesma letra hebraica: Pr 11,9-12; 20,7-9; 22,2-4 - Iniciados com o mesmo termo: “Coração” – 15, 3-4, “bom” – 15, 16-17 - Retornam ao mesmo núcleo de sentido. Uma palavra como uma senha para entendimento contextual: - Pr 26,4-5 (Responder); 16,10.12-15 (rei); 26,1-12 (insensato); 26,13-16 (preguiçoso); Instrução: Presente no primeiro livrete dos Provérbios (1-9) 78 Valia teológica Nesta obra de sabedoria, repousa a síntese temática existencial para qualquer que almeje a sapiência: Temor ao Senhor! Não uma irracionalidade oriunda do medo ancestral do desconhecido, mas uma vida de reconhecimento ao amor que nos é dispensado dia após dia através da benevolência de um Criador. Conforme a BIBLIA DE JERUSALÉM, 2011, P. 1024 Se aceitares, meu filho, minhas palavras e conservares os meus preceitos, dando ouvidos à sabedoria, e inclinando o teu coração ao entendimento; se invocares a inteligência e chamares o entendimento; se o procurares como o dinheiro e o buscares como um tesouro; então entenderás o temor de Iahweh e encontrarás o conhecimento de Deus. Pois é Iahweh quem dá a sabedoria; de sua boca procedem ao conhecimento e o entendimento. Pr 2, 1-6. O que o livro verso após verso nos faz vislumbrar, é uma dádiva chamada Sabedoria, que nos é destinada, e que nos será ofertada se nos permitirmos ao amor de Deus. Nós, como indústria delicada, nas mãos cuidadosas de um perito sábio artesão. Nós, como a razão mais improvável – contudo real - de seu mover intercessor, que se faz diário e constante em pleno exercício de misericórdia. Ação esta que nos permite a existência. 79 O Livro de Jó Introdutivo do livro de Jó O Texto De maneira geral tem-se prosa-poesia e prosa. Inicia-se com uma narrativa em forma de prosa que se vê seguida um considerável diálogo em forma poética. Personagens aqui destacados Deve-se ressaltar então que Eliza,Sofar e Baldad distribuem uma teologia das retribuições terrestres, onde teorizam segundo tal conceito, que o sofrer de Jó é oriundo de seus pecados, que constitui-se por teologia equivocada. Jó, mais que um exemplo de paciência também se apresenta como impetuoso combatente diante das adversidades que se apresentam e constitui- se não mais um sujeito a determinismos exteriores numa passividade reclusa e improdutiva. Os amigos de Jó juntamente com Eliú intensamente defendem a ideia de que o justo de Deus não sofre, não estão sujeitos a intempéries na existência ou isentam-se de provas. (4,6-8). Compreensão É importante lembrar que jamais se deve entender como pecaminoso o sofrer (posição dos amigos de Jó) e nem atribuir a Deus inimizade com o sofredor. Autoria, data e composição 80 Não se possui informação sobre o autor. Segundo LASOR, William S. et al (2003, p. 515): “O nome do autor de Jó está perdido para sempre.” Existe probabilidade deste israelita (observe-se o texto e a ideia autoral da soberania divina), utilizou-se do ambiente não israelita de Uz (quer em Edom, no sul, quer ao leste, em Gileade), espaços da história antiga e pelo enredo literário de apelo de realidade humana universal. Sobre a datação da produção deste documento histórico, a certeza de uma ausência de unidade consensual quanto a exatidão temporal é sua marca indelével. Ainda recorrendo a LASOR, William S. et al (2003, P. 515): “Em suma, uma data entre 700 e 600 parece razoável para a conclusão da obra.” Canonicidade TERRIEN, Samuel. Jó, São Paulo: Paulus, 1994. P.8 Quanto sua colocação no cânon escriturístico é induvidável, entretanto sua localização dentro dele é que levanta questões. Vejamos: a) No contexto tradicional hebraico: Salmos, Jó e Provérbios estão preferencialmente unidos, com o livro de Salmos sendo sequenciado por uma alternância de ordem entre Jó e Provérbios. Ora um ora o outro vem primeiro. b) Versões gregas: Um texto reposiciona após Eclesiastes, ao término do Antigo Testamento. c) Traduções Latinas: Convencionou-se a sequência de livros: Jó, Salmos, Provérbios. d) Bíblia siríaca: Entre o Pentateuco e Josué, motivados do suposto contexto patriarcal do enredo e da ideia de ser Moisés seu autor. 81 O Gênero: O conceito sobre gênero nos leva a compreender que o livro de Jó não é capaz de ser reduzido a uma unidade literária de gênero único. Conforme CERESKO, Anthony R (2004 p.81) “O livro como um todo não se enquadra em nenhuma forma literária específica. A obra é demasiada original e o autor, na verdade, criou uma forma literária peculiar ao compô-la” Assim, não se detém em nenhum conceito pré-determinado. Entre outras, é possível observar temáticas de: queixa e reconciliação, lamentos semelhantes aos salmos (queixas), debate filosófico, tragédia, parábola. A forma: Este livroé uma mescla magistral de inúmeros tipos de literatura que podemos nos deparar no Antigo Testamento. 1. Prosa (1.1-2.13; 32.1-5; 42.7-17) 2. Lamentos pelo nascimento (cap. 3) 3. Queixas (6-7; 9.25-10.22; 13.23-14.22; 16.6-17.9; caps. 23; 29-1- 31.37) 4. Provérbios: Jo (6.14,25ª; 12.5s., 12; 13.28; 17.5), Elifaz (5.2, 6s.; 22,2, 21s.); Zofar, (20.5); Eliú, (32.7) 5. Perguntas retóricas: Jó (6.5s., 11s., 22s.; 7.12; 9.12; 12.9; 13.7-9; Eliú (34.13, 17-19, 31-33; 36.19, 22s); Elifaz, (4.7; 15.2s., 7-9, 11-14); Bildade, (8.3, 11, 18.4); Zofar (11.2s., 7s., 10s). 6. Onomásticas, catálogos e enciclopédias Jó: 38 A estrutura: 82 Neste esboço, quanto a sua estrutura observa-se: Para LASOR, (2003 pág. 516) TABELA I. Prólogo (prosa) Caps. 1-2 II. Conjunto de Discursos (poesia) Caps. 3-42.6 a. Diálogo Caps. 3-28 1. Lamento de abertura de Jó Cap. 3 2. Diálogo entre Jó e os amigos em três ciclos Caps. 4-27 Elizaf (Jó responde a cada um) Caps. 4-5; 15; 22 Bildade Cap 8; 18; 25 Zofar Caps. 11; 20 3. Poema de Sabedoria Cap. 28 b. Série de Discursos de uma Pessoa Caps. 29-41 1. Jó alega inocência Caps. 29-31 2. Discursos de Eliú Caps. 32-37 3. Discursos de Javé com resposta de Jó Caps. 38-42.6 III Epílogo (prosa) 42. 7-17 Características literárias: Inegável se faz o primor artístico com o livro de Jó. Variedades de paralelismos poéticos, a utilização de tercetos completos e unidades ainda maiores, compõe a obra literária. Contemplando metáforas e símiles, para uma breve apreciação do estilo autoral, destacaremos alguns momentos em que a formosura da Criação é exposta: 7.6; 9.25; 19.10; 29.23. Temos também, metáforas extensas, numa quase alegoria: 6.15-21. 83 Valia Teológica Alguns pontos são ressaltados e devem ser utilizados para nosso empenho de produzir uma teologia empenhada na transformação social e legitimada no amor de um Deus justo e misericordioso. Presente e soberano. Uma ponderação universal sobre o posicionamento empático do Homem diante da cena relacional na qual se insere, sempre procurando a presença do Deus de Jó nos laços relacionais de seu meio social é o que obteremos se pacificamente convivermos com a realidade de que a dor é divina oportunidade, pois em nós, nos habilita a trabalhar superação. Que a adversidade é momento de plantio de passos, caminhar consciente, na ciência divina materializada no amor de Deus. Deus conosco e não um “Emmanuel” contra nós. Esta obra de maneira especial aponta para a cruz. Revela o Cristo. Jó, e sua via de crucificação nos lança pesado olhar para a cruz. Na cruz o Cristo se fez resoluto por exprimir sua lealdade ao plano de seu Pai. Leal até a morte. Morte e ressureição. Ainda que não a desejasse, quis. Pede para afastá-la, todavia assume a vontade do Pai. Lealdade pela fé. Como Jó ressurgindo, ao final do livro ressuscitando em benesses, em prova para toda a eternidade de que o que crer no deserto é levantado tal serpente de bronze em sinal de salvação. Que, impassível diante do malefício, não retrocede. Este livro nos remete a um compromisso interior quando as inevitáveis atrocidades do mundo se aproximarem. Diante do Calvário, estaremos eloquentes como cordeiros silenciosos convictos de que sabem a quem servem. Nosso silêncio se tornará então insuportável gritando contra o pecado, a quem não possui a Salvação no peito e não compreende o que é sobrenatural. Jó não amaldiçoa a Deus ainda que o corpo tomado pela enfermidade seja viva dor. Isto nos remetendo aos jovens na fornalha, que não adorariam um ídolo, assim abdicando da fé. Ainda que dentro de um momento repleto de adversidades Jó tenha lutado com suas forças, através de inúmeras justificações, foi no instante da 84 intervenção e correção sobrenatural de Deus que Jó pôde, enfim, finalizar com êxito, a epopeia pelo qual trafegou. Assim concluímos que nas lutas quando percebemos que estamos com Deus e não Ele contra nós obteremos a vitória. Jó luta e não se dá por passivo. Não entrega a única coisa que possui sua fé. Ainda que tudo tenha perdido. Assim recordamos um Abraão que guarda tudo de mais precioso que lhe é seu: A fé. Pois o seu único filho seu não mais era já que ao Senhor tinha ofertado. A fé é um pacto de fidelidade. Fidelidade a Deus é compreender que diante da dor, a passividade dos maus significa revolta atribuindo todo maleficio sofrido a um Deus punitivo. Fidelidade é conhecer que Deus é amor e justiça. No âmbito eclesial dentro desta pós-modernidade na qual estamos em convivência, um exemplo de maleficio teológico de tal passividade revoltosa seria a Teologia da Prosperidade, que atribui ao pecado à ausência de prosperidade. Se alguém sofre é porque é mau, pois pecado nele há. Acorre-nos a cuidadosa observação de que, se um justo pode sofrer e um homem mau obter seu êxito nesta nossa existência, será demasiadamente imprudente designar de pecador o sofredor e agraciar os prósperos. Perigosa se faz uma ponderação superficial. Quando a princípio não compreendamos, as situações que a existência nos apresenta como desafios insuperáveis, que um “faça-se” seja nosso discurso movidos pelo Espirito Santo. Um matrimônio é nossa relação com Deus. Em bons ou maus momentos nossa fidelidade deve permanecer. Quando mais nada nos resta, sobra-nos a lealdade pela fé! Ao fim, sempre cada um de nós e Deus! 85 CÂNTICO DOS CÂNTICOS – ECLESIASTES 3 Conhecimento Compreender as noções necessárias para compreensão de cada livro. Habilidade Reconhecer os assuntos tratados nesta unidade. Atitude Aplicar textos critico-reflexivo diante do contexto apresentado. 86 87 Cântico dos Cânticos Beleza poética em um livro explicitada com o esmero e delicadeza que somente uma ação divina poderia realizar, nele encontraram essa pérola escrita em hebraico, na ação de um poema lírico com liberdade formal, que impressiona pela riqueza e unicidade incontestáveis. Estruturado em blocos literários constituindo cânticos que interagindo entre si formulam um enredo onde o amor monogâmico e heterossexual exalam uma via que se utilizando de quadros bucólicos e urbanos, abrigam personagens cujo sentimento impregnam todo o enredo levando o leitor a maravilhar-se na grandeza e eloquência bíblica que abriga em sua escritura múltiplas temáticas para a criatura refletir sobre o amor de quem a criou. Dados de composição O autor, um judeu autóctone de Judá, o período temporal aproximado em torno de 500 a.C. (STADELMANN, Luis I. 1998. P. 26), Ainda que Salomão provavelmente não tenha sido o autor, são encontradas referências a sua pessoa no decorrer da obra (1.5; 3.7, 9. 11), principalmente no título (1.1) que pode ser traduzido por “A Salomão” no hebraico lishlõmõh (1.1). Entretanto devemos considerar ainda mais dois possíveis significados para este termo no hebraico: Seria “para” ou “ao estilo de Salomão”. Pela tradição é atribuída a este rei a autoria da Obra. LASOR (2003, P. 558). 88 Múltiplas leituras interpretativas STADELMANN, Luis I. (1998 P. 16-25) Sobre a chave de interpretação que foi dedicada a este livro, não há uma concordância quanto a abordagem hermenêutica ideal a ser utilizada na elucidação motivacional que levou sua escrita. Sua origem, sua finalidade, seu fundamento de escrita ao povo de Israel na época da estruturação da obra pelo autor geraram linhas de compreensão diversas. a) Alegoria, alegórica: No intento da sacralização desta obra, evitando seu uso inadequado e profano, a esfera soteriológica foi enaltecida. Gerando uma concepção de entendimento, fecundando assim a estrutura poética do Cântico dos Cânticos ao amor de Deus por Israel. A Mishná,o Talmud e Targun, antigas linhas de reflexão judaica relacionavam-no a Páscoa, sendo lido em seu oitavo dia e observado como alegoria histórica onde marcos da história de Israel desde o Êxodo até a vinda do Messias eram contemplados. Representando Javé tal noivo e Israel sua noiva, textos proféticos (Ez 16,8-14; Os 2,16-20; Is 54,5s; 62,2; Jr 2,2ss) constituíam chave hermenêutica. Já os Pais da Igreja faziam tal leitura considerando Cristo sendo o noivo e a Igreja sua noiva. Passagens do novo testamento como (Mt 9,15; 25,1-13; Jo 3,29; 2 Cor 11,2; Ef 5,22-23; Ap 19,6-8; 21,9- 11; 22,17) serviram de embasamento para esta finalidade de percepção alegórica. b) Drama, dramática: Considerando que o texto possui diálogos, monólogos e coros levaram eruditos tal Orígenes e também modernos assim o considerarem. Uma dramatização em vários atos apresentando o amor conjugal. Duas formas de interpretação dramática são consideradas: 89 Dois personagens principais: Salomão e Sulamita. Aqui Sulamita incorretamente identificada com a filha do faraó de 1 Rs 3.1; Três personagens: Salomão, Sulamita e o pastor. Nesta versão, Sulamita apaixonada pelo pastor, resiste ao cortejo de Salomão. É importante que se considere que a ausência de indicativos de dramas formais entre o povo semita de maneira especial os hebreus, invalida as proposições acima relatadas. (LASOR, 2003, P. 563). c) Ritos Litúrgicos: Houve uma tentativa de interpretação do Cântico dos cânticos construindo paralelo a costumes religiosos da Mesopotâmia, Egito ou Canaã. O contexto vital de compreensão seria a mitologia e a religião politeísta da Babilônia e seus ritos de fertilidade. No início do século XX esta linha de estudo considerava Salomão e Sulamita como Tammuz e Ishar, retirando Javé/Cristo e Israel/Igreja da alegoria judaico- cristã. Segundo LASOR et al (2003, P. 564): “Cântico dos Cânticos não carrega marcas de uma revisão deste tipo. d) Poema Lírico: A Obra é vista como um conjunto de poemas de amor. Uma visão naturalista, resgatando o Cântico dos Cânticos do âmbito simbólico e metafísico, relegando-o a uma realidade antropológica, onde a literalidade é componente ativo. e) Texto Cifrado: Utilizando-se de exegese investigativa multidisciplinar, esta modalidade interpretativa empregou a metodologia da crítica literária e histórica. Desvendando a real temática do Cântico dos Cânticos valeu- se da crítica literária e a crítica da forma o que auxiliou significantemente perante a análise poética. Numa sistematização de análise exegética, para explorar a chave hermenêutica embutida no texto valeram-se do método histórico-crítico (a obra é fruto das relações concretas do autor que interage com sua realidade existencial), o método sociológico 90 (contextos externos incidem diretamente sobre a comunidade de fé. Fatores socioculturais, político-econômicos invadem este grupo social que se encontra em vias de reconstrução) e o de análise semântica (a palavra amor e sua vasta concepção de significados, colocando-a no quadro de análise semântica de textos diplomáticos ao antigo Oriente Médio, da qual emanaria sentido de interação de aliança sócio-política). Nesta visão, o Cântico dos Cânticos se converte a um manual interpretativo, pois diante do texto original se decifrariam os símbolos que então revelam o sentido real da mensagem. O que antes seria apenas um poema literário descrevendo a relação entre dois amantes converte-se em um manifesto nacionalista de reestruturação sócio-política em prol do reestabelecimento de uma monarquia. Documento de convocação dos repatriados oriundos da Babilônia, para que numa reintegração, constituíssem harmoniosa interação e se integrassem aos judeus locais, em um projeto de reconstrução nacional. Numa ação solidária e fraterna integrados pela fé javista, o povo receberia instruções e este plano de ação velada, encontraria confortável dissimulação em um poema lírico. Tendo a restauração do Estado judaico e a unidade nacional como finalidade essencial, o sentido primário da palavra amor no Cântico dos Cânticos recebe nova conotação. De simples explanação literária relatando amantes em profusão, do sentido poético a palavra amor assume caracteres de conotação jurídica dos documentos oficiais da Antiguidade. Assim relatará conchave, união, pacto, sócio-político. Aqui descreverá a relação rei e povo. Salomão e Sulamita. Juntos numa coalizão de propósitos, instigados e redarguidos pelo manifesto de sublevação contido no Cântico dos Cânticos. 91 Observemos Conforme STADELMANN, (1998. Pg. 23): TABELA Personagem Literário Correspondente Real A Sulamita Judeus autóctones Filhas de Jerusalém Chefes dos sacerdotes Filhas de Sião Líderes dos judeus repatriador Salomão Representante do Estado monárquico Dinastia Davínica Rainhas Reinos vassalos da Pérsia Esposas Províncias persas Jovens Comunidades judaicas da diáspora Mãe de Salomão Casa davídica Mãe da Sulamita Nação Israelita do período anterior ao exílio Personagens masculinos diversos Representantes de diversas funções sociais Considerações Literárias LASOR, William S. et al. (2003. P. 560-561) Encontramos um profundo acervo de riquezas literárias depositadas neste texto que mais está relacionado a poesia sobre amor do que propriamente 92 escrito de sabedoria. Reconhecemos além dos tradicionais poemas de amor, material complementar. a) Jogo de Amor: (5.2-7), (6.1-2s) Um jogo interativo entre a mulher e suas companheiras. b) Fórmula de imposição de juramento (2.7; 3.5; 5.8; 8.4) O amor e seu caráter incontrolável gera na esposa anseio de disponibilizar-se ao esposo e tal ensejo de compromisso é ratificado pelas amigas. c) Cântico espirituoso (1.7s) Entre os dois, o momento de descontração que revela seus desejos de um para com o outro, é revelado. d) Cântico de ostentação (6.8-10; 8.11s.) Junto aos companheiros o esposo se deleita em constatar como sua amada se faz por única e especial. e) Convite ao amor (2.5; 17; 4.16; 7.11-13; 8.14) Por parte da esposa o anseio por intimidade. Assim atestando a amplitude de recursos literários, no texto nos deparamos com autodescrições utilizadas somente pela mulher (1.5s.; 2.1; 8.10), cânticos de admiração onde o vestuário e ornamentos são ressaltados (e.g. as joias em 1.9-11; 4.9-11), cânticos descritivos onde ao mesmo tempo os cônjuges se saúdam e se convidam ao amor. Também encontramos Cânticos de anseio (e.g. 1.2-4; 2.5s.; 8.1-4,6s.) que revelam o ardor dos cônjuges um para com o outro. Narrativas de busca em que a esposa aparenta se colocar dispondo-se a iniciativas amorosas movida pelos anseios e sentimentos. Busca, uma com satisfação (3.1-4) e outra não (5.2-7). 93 Estrutura TEXTUAL: Segundo LASOR, William S. et al. (2003 P. 566-567). TABELA SEÇÃO TEMA TIPO DE CÂNTICO CANTOR TEXTO Título Relacionamento real Prosa Editor 1.1 Poema I Anseio e descoberta 1.2- 2.7 Cântico de anseio pelo esposo ausente Mulher 1.2-4 Autodescrição de modéstia Mulher 1.5-6 Diálogo espirituoso procurando de modo imaginativo um encontro Mulher, homem 1.7-8 Cântico de admiração pelo valor e pela beleza da mulher Homem 1.9-11 Cântico de admiração em resposta Mulher 1.12-14 Cântico de admiração em diálogo Mulher, homem, mulher, homem 1.15-2.4 Cântico de anseio por intimidade Mulher 2.5-6 Apelo por paciência com o curso do amor Mulher 2.7 Poema II Convite, suspense, resposta 2.8-3.5 Descrição da aproximação e do convite do esposo Mulher 2.8-14 94 Resposta espirituosa tornada séria pela afirmação de posse mútua Mulher 2.15-16 Convite à intimidadeMulher 2.17 Descrição da frustação e da satisfação Mulher 3.1-4 Apelo por paciência com o curso do amor Mulher 3.5 Poema III Cerimônia e Satisfação 3.6-5.1 Descrição dramática e admirada da chegada do noivo Mulher 3.6-11 Descrição da beleza da noiva Homem 4.1-7 Cântico de convite para a noiva Homem 4.8 Cântico de admiração para a noiva Homem 4.9-15 Cântico de convite para o noivo Mulher 4.16 Cântico de resposta ansiosa Homem 5.1ª Cântico de encorajamento (filhas de Jerusalém) Filhas de Jerusalém 5.1b Poema IV Frustação e prazer 5.2-6.3 Relato de um sonho aflitivo Mulher 5.2-7 Apelo por ajuda urgente Mulher 5.8 Perguntas espirituosas Filhas de Jerusalém 5.9 95 Descrição da beleza do esposo Mulher 5.10-16 Pergunta espirituosa Filhas de Jerusalém 6.1 Resposta de prazer e compromisso Mulher 6.2-3 Poema V Pompa e celebração 6.4- 8.4 Cântico descritivo com toques de orgulho Homem 6.4-10 Fantasia de separação Mulher 6.11-12 Pedido de retorno Filhas de Jerusalém 6.13 a Resposta espirituosa em forma de pergunta Mulher 6.13 b Descrição da mulher dançando Filhas de Jerusalém 7.1-5 Cântico de anseio por intimidade Homem 7.6-9 Convite à satisfação Mulher 7.10-8.3 Apelo por paciência com o curso do amor Mulher 8.4 Poema VI Paixão e compromisso 8.5-14 Pergunta que marca o retorno do casal Filhas de Jerusalém 8.5 a Lembrete sedutor da continuidade do amor Mulher 8.5 b Cântico de anseio por castidade Mulher 8.6-7 Tese de castidade Mulher 8.8-10 Falando em lugar dos irmãos (8-9) Orgulho da castidade Mulher 8.11-12 96 Cântico de anseio por ouvir a voz dela Homem 8.13 Cântico de convite a aceitar o amor dele Mulher 8.14 Considerações Teológicas Um poema cuja sabedoria revela explicitamente o desejo do criador por sua criação: Uma relação prazerosa e repleta de conectivos com a essência da existência, ou seja, inteiramente ligada ao amor. Puro e verdadeiro sentimento cuja origem se revela na transparência, fidelidade, completude da relação. Javé e Israel, Jesus e a Igreja, Salomão e Sulamita, não importa qual seja a denominação de nomenclatura exegética que utilizemos, não importa qual seja o prisma ou parâmetro que guie nosso conceito interpretativo ou preceito conceptivo, porque tudo se resume em uma unidade indivisível: o amor. E em sua firme perenidade, dentro de sua consistente essência, o amor emoldura todo o enredo desta declaração de vida efusiva entre duas realidades (nós e Deus) que em comum interação se confundem e se fundem numa só. Amamos e somos amados por um Deus que ao longo da existência humana tem se dedicado a cuidar pacientemente de sua criação e por ela zelar de maneira incompreensível àquele que jamais provou o amor. Aquele que encantar-se com a beleza da Criação e ouvir a música que um coração apaixonado exala encontrará facilidade de divagar espiritualmente lendo o Cântico dos Cânticos e reconhecer a presença de um Deus que abre mares, e desfaz estigmas sociais. Um Deus que destrói altares pagãos de uma religião humana legalista e levanta templos que ressuscitam e onde o espirito santo habita. Templos feitos a imagem e semelhança suas. O Cântico dos Cânticos expressa amor vivo e nítido como sangue que da cruz escorre, lavando-nos carinhosamente de todas nossas culpas e faltas. 97 Faz-se por um convite à melhor de todas as oportunidades: Conhecer ao Deus verdadeiro, tão humano e tão divino. O Livro do Eclesiastes Esboço do Livro - Introdutivo ao Eclesiastes. Designação. Coélet ou Eclesiastes faz-se por tradução grega do termo hebraico qôhelet, cujo sentido aproximado seria uma comunidade ou aquele que ajunta o grupo social com a finalidade de fala. Uma espécie de orador, pregador. Tem-se vezes transliterado o Coélet por Qohelet ou Koheleth. Seria o copilador do saber popular estruturando-o de forma normatizada, gerando um sistema. Autor, Data De acordo com a tradição hebraica, é situado entre os cinco rolos (Megilloth) utilizados em situações de festividade oficial, destinando-o aos Tabernáculos. Noutros instantes se vê agrupado a Provérbios e a Cântico dos Cânticos de Salomão. E ao mesmo Salomão é imputada tradicionalmente a autoria, segundo BALANCIN, Euclides Martins (1991 P 7): “Na antiguidade era mais honroso atribuir o próprio escrito a uma personagem famosa. Assim o autor julgou por bem atribuir o seu livro ao rei Salomão (1,1)”. Quanto à cronologia, evidências sugerem data compreendida entre 400 e 200 a.C. LASOR, William S. et al. (2003. P. 544) 98 Contexto Histórico Para compreendermos mais precisamente a produção literária é necessário contemplarmos a realidade histórica em que ela se insere. BALANCIN, (1991, p. 8-10) O Coélet agrupou sistemicamente a produção reflexiva popular de uma Palestina sob governo estrangeiro dos Ptolomeus. Fazendo parte da província da Celessíria, tendo assim que se submeter a opressão político-econômico que naturalmente debilitava o povo material e em extensão, espiritualmente. E para se completar, uma elite judaica desfrutava de uma posição privilegiada perante e acima do povo. Tudo se fazia constituinte para que diante de tal espoliação um sentido reflexivo popular de fraternidade e união produzisse uma obra de reação social de conscientização e mudança, tão importante mensagem no Eclesiastes. Muita coisa se faz por importante, contudo poucas realmente são essenciais. O povo percebe que conhecimento, prazer, prosperidade, trabalho, não trazem felicidade, pois estão sujeitas a fugacidade da vida. Sob a realidade econômico-político-social da Palestina deste período, o povo não possuía acesso a desfrute destas realidades. O texto volta-se a realidade do povo que produz e não tem acesso às porções de benesse sob sua produção. Não especula sobre propostas abstratas, entretanto debruça-se sobre a simples realidade: Felicidade ao homem comum é viver sob justiça que o possibilitará usufruir o que produz. Aparelhos econômicos, políticos, ideológicos, religiosos levavam o povo a mendigar por felicidade. O autor leva a reflexão de que a mudança se principia quando a solidariedade, empatia, cria uma reação. Todo o povo refletindo sob um ideal comum, constitui um início de mudança. E relata que Deus quer a felicidade do povo. Deste Deus recebe riquezas e bens para sustento próprio, e desfrute da obra de suas mãos. 99 Composição O Tema O autor reconhece que o conhecimento tradicional não se fazia eficiente para interpretar a soberania divina. Vejamos este profundo versículo, segundo a Bíblia de Jerusalém (2011, P.1078): “Quem sabe o que convém ao homem durante a sua vida, ao longo dos dias contados de sua vida de vaidade, que passam como sombra? Quem anunciará ao homem o que vai acontecer depois dele debaixo do sol?” Ecle 6.12. Há uma lacuna insuperável entre a abstração, o conhecimento do Criador e a pretensa sabedoria da criatura. Cometer a imprudência de não considerar tal realidade gera confecção de um perigoso ídolo pessoal chamado pretensão do ego. O texto já trata desta realidade quando evoca a vaidade das vaidades (1,2). A temática relacionada a vaidade que compõe a estrutura da realidade material se faz por recorrente e se torna a essência do livro. O contexto histórico – já relatado - define tal recorrência que retrata um homem desiludido e insatisfeito. Contudo, reconhecem que Deus não deve satisfações ao homem e que receber de sua parte tanto momentos bons quanto instantes adversos é componente de uma ampla ação da divindade. A Estrutura Observando a síntese estrutural, há de ser visto em destaque como metodologiaadotada pelo autor: o Natureza repetitiva dos argumentos numa nítida exposição temática. 100 o Utilização de provérbios de maneira conjunta no intento de tonificar ou dotar de fácil interpretação a mensagem, numa didática de fácil apreensão. o Assim temos numa cadeia de tema e conteúdo: Segundo LASOR, William S. et al. (2003, P. 547-548) Tabela Introdução (1.1-13) Título (v.1) Tema (v. 2s.) Tema demonstrado – I (1.4-2.26) Pela constância da criação (1.4-11) Pelo conhecimento (v.12-18) Pelo prazer (2.1-11) Pelo destino de todas as pessoas (v.12-17) Pelo labor humano (v. 18-23) Conclusão: Goze a vida agora conforme Deus a dá (v. 24-26) Tema demonstrado – II (3.1-4.16) Pelo controle de Deus sobre todos eventos (3.1-11) Conclusão: Goze a vida agora conforme Deus a dá (12-15) Pela falta de imortalidade (v.16-21) Conclusão: Goze a vida agora conforme Deus a dá (v. 22) Pela opressão maldosa (4.1-3) Pelo trabalho (v. 4-6) Pelo acúmulo mesquinho de riquezas (v. 7-12) Pela natureza transitória da popularidade (v. 13-16) Palavras de Conselho – A (5.1-12[TM4.17-5.21]) Honre a Deus em seu culto (5.1-3[TM4.17-5.2)] Cumpra seus votos (v.4-7[TM 3-6]) Espere injustiças do governo (5.5s.[TM 7s.]) Não sobrestime a riqueza (5.10-12[TM9-11]) 101 Tema demonstrado – III (5.13-6.12[TM5.12- 6.12]) Pela riqueza perdida em negócios 5.13-17[TM 12-16]) Conclusão: Goze a vida agora conforme Deus a dá (v.18-20[TM 17-19]) Pela riqueza de que não é aproveitável (6.1-9) Pela inexorabilidade do destino (6.10-12) Palavras de Conselho – B (7.1-8.9) A honra é melhor que o luxo (7.1) A sobriedade é melhor que a leviandade (v. 2-7) A cautela é melhor que a ousadia (v. 8-10) Sabedoria com riqueza é melhor que só sabedoria (v. 11s) A resignação é melhor que a indignação (v. 13s) A integridade é melhor que a pretensão (v. 15-22) Enfrentar limitações é melhor que cantar vitórias (v.23-29) Ceder á às vezes melhor que ser correto (8.1-9) Tema demonstrado – IV (8.10 – 9.12) Pelas incoerências na justiça (8.10-9.12) Conclusão: Goze a vida agora conforme Deus a dá (v.15) Pelo mistério dos caminhos de Deus (v. 16s.) Pela morte, destino comum tanto do sábio como do insensato (9.1-6) Conclusão: Goze vida agora conforme Deus a dá (v.7-10) Pela incerteza da vida (v. 11s.) Palavras de Conselho – C (9.13-12.8) Introdução: uma história sobre o valor da sabedoria (9.13-16) A sabedoria e a insensatez (9.17-10.15) O governo dos reis (v. 16-20) Práticas sadias nos negócios (11.1-8) Gozar a vida antes que chegue a velhice (11.9-12.8) 102 Epílogo Alvo do Pregador (12.9s.) Recomendação de seus ensinos (v.11s.) Conclusão do assunto (v.13s.) A Unidade Em um pressuposto de uma unidade na composição da Obra do Eclesiastes, temos como destaque argumentativo a questão da motivação. Tal obra em si constitui forte crítica ante sábios e piedosos dentre os judeus e seus conceitos humanos perante a divindade e sua metodologia de ação, assim, seria mais conveniente extirpá-lo do cânon a tentar adotá-lo adicionando inúmeras glosas textuais. Muitas aparentes contradições no texto, por exemplo, nascem do trabalho do autor diante das múltiplas variáveis que a existência apresenta e não do labor desenvolvidos por um editor que tenciona juntar realidades díspares entre si, produzidas por inúmeras fontes. (LASOR, et al 2003, P. 549). Características Literárias Reflexões O cerne desta Obra se compõe de um conjunto de narrativas em forma de prosa, na primeira pessoa, e que redigem um quadro atestador da superficialidade fugaz da existência. Tal caractere de produção onde a reflexão torna-se padrão de distinção vai de encontro com seu modo de aperceber-se da vida e sua complexidade muito além da compreensão humana. O Coélet e sua apreensão do existir: A experiência ponderada e vivida. (LASOR, et al 2003, P. 550). 103 Provérbios Observa-se a utilização em duas categorias: 1. Declarações – Descrevem a existência. (5.10[TM9]) 2. Admoestações – Instruções deliberadas sob sugestão. a) Positivos: (11.1) b) Negativos: (7.9) Também se destaca a linha de raciocínio em que busca-se dentro do real, o ideal. Porque nada seria realmente em integral totalidade ou bom ou mau, no entanto, distingue-se o que seria menos deficiente. Sempre existe a opção pelo melhor. Tais provérbios podem ser observados ou inseridos nas reflexões, assumindo o papel de síntese de conclusão (1.15, 18, 4.5s.) ou reunidos na secção de “palavras de advertência” (5.1-12[TM 4.17-5.11]; 7. 1-8.9; 9.13-12.8). (LASOR, et al. 2003, P. 551) Perguntas Retóricas Na finalidade de convencimento argumentativo quanto ao veredicto sobre vaidade o autor se utiliza de tal artificio literário. (LASOR, et al. 2003, P. 551). Linguagem Descritiva Esta modalidade de escrita utiliza-se de retratações físicas que remetem a nítidas visualizações das imagens apresentadas no contexto. Por exemplo: Assim, no enredo (12.2-7) o que se obtém durante a leitura da passagem é uma vívida exposição mental de imagens em rico estilo de escrita, o que acresce e 104 emoldura a ideia tornando-a mais forte na mensagem e fixação de aprendizado para o leitor. (LASOR, et al 2003, P. 552). Contribuições Teológicas Este livro constitui crítica direta a pretensão humana na tentativa religiosa de adequar o Criador aos limites de racionalidade da criatura. Dotar Deus de possibilidade de compreensão e previsibilidade humanas, relegar Deus a estruturação e controle do aparelho religioso. Ainda assim, diante deste cenário caótico, o Eclesiastes torna-se distante de amargura e vazio existencial por ausência de perspectivas tão comum ao contexto hebraico neste período histórico. Ao contrário, diante do Homem e esta realidade física limitada, o Eclesiastes enxerga a Deus, pois seu horizonte (doutrinário) está para além, e não se encontra minimizado na materialidade de uma Palestina debilitada pela ação dos Ptolomeus nem da elite social de judeus corrompidos. Reconhece que dentro da liberdade divina habita a inacessibilidade humana de compreensão e entendimento plenos. Diante de Deus apenas a fé movida por um amor gratuito obtém funcionalidade e conduz a um entendimento espiritual. Compreende que toda a adversidade nasce no coração humano reconhecendo assim que no Homem e não em Deus reside o problema. Perceba-se: “Tudo Deus fez formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fim”. (3.11). Toda prudência se faz assim necessária no trato com o Criador, porque o vaso diante do oleiro tende a ser passiva manufatura! Assim: “... porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto sejam poucas as tuas palavras” (5.2). Ainda destacamos algumas perspectivas do Eclesiastes quanto a alguns temas do cotidiano, como: 105 1. Graça – reconhecida nas dádivas recebidas de Deus. No Coélet este sentido é representado pela palavra “porção”. 2. Morte – Referencial de limitação humana e conscientização de insuficiência de poder do ser diante da indomável existência. 3. Gozo – Ou prazer deveria ser obtido da conscientização do que seria realmente essencial: Buscar em Deus à saciedade de necessidades que por Ele seria providas através da Criação. Tudo o que esta vida oferta seria uma multidão de vaidades que apenas aumentaria o vazio de um coração que em Deus não repousa. (2.11). Sinalizando para o Evangelho, colocando diante da sabedoria da época a realidade de que os desígnios do Criador estariam sempre além da total compreensão humana, já é tênue (contudo perene) sinalização para questões que seriam colocadas à humanidadeatravés, por exemplo, do mistério da Encarnação. Ainda é oportuno citarmos que muito do material tratado nesta obra será amplamente reiterado por Jesus Cristo, nos Evangelhos. Trabalho exaustivo, busca de controle sobre a própria existência, e mesmo o alerta sobre vaidade, são temáticas que aportarão no Novo Testamento. (LASOR, et al 2003, P. 552-555). 106 107 SABEDORIA DE SALOMÃO – ECLESIÁSTICO 4 Conhecimento Noções necessárias para compreensão de cada livro. Habilidade Estar capacitado para explanar sobre os assuntos tratados nesta unidade Atitude Procurar empenho critico-reflexivo diante do contexto apresentado 108 109 A Aliança Veterotestamentária diante dos apócrifoss e dos pseudoepígrafos: O que seria um livro apócrifo? Basicamente compreende-se por apócrifo aqueles escritos que não eram utilizados em culto público e nem na Teologia. Não eram considerados inspirados. Pela terminologia, chamam-se por apócrifos, aqueles livros do antigo testamento que não pertencem ao cânon judaico e que os católicos a eles se reportam por deuterocanônicos. Lembrando que o termo cânon era referido à coleção de textos reconhecidos por santos sagrados, inspirados por Deus. Tal agrupamento apócrifo, contendo livros surgidos no espaço temporal aproximadamente compreendido do segundo século a.C. ao século primeiro (inclusive), da era cristã, o chamado período intertestamentário, tem sido a motivação de consistente quebra de unidade dentro da igreja cristã quanto a conceituação de que seriam ou não inspirados pelo Criador. Dever-se-iam ou não estar no rol das Sagradas Escrituras, na posição de reconhecidos sacros e santos. Pelo grego clássico “apocryphos” está compreendido como “oculto” ou “difícil de entender”. Deste adjetivo grego se faz oriunda a palavra Apócrifos. Também se pode estender a simbologia vocabular para algo secreto, reservado a iniciados. Uma realidade de significado bem distante da mensagem contida na Escritura, que prima pela objetividade em clareza e liberdade expressivas em seus contextos discursivos. Material este que foi inserido à Septuaginta “Versão dos Setenta” (LXX) - tradução para o grego do Velho Testamento e que assim acabou por influenciar de certa forma a Vulgata Latina que absorveu seus apócrifos. Depositados foram 110 estes livros no velho testamento desta versão sem que jamais integrassem a Bíblia Hebraica. Um material produzido que recebe ponderações. Segundo WYCLIFFE, Dicionário Bíblico: “Alguns dos livros têm erros históricos e representam ética e Teologia questionáveis” (2013, p.16). Livros que não encontram espaço de reconhecimento no cânon hebraico e nem das igrejas reformadas. São exemplos de livros apócrifos: Judite A Sabedoria de Salomão (Liber Sapientiae) Tobias Eclesiástico (Ecclesiasticus) Baruc A carta de Jeremias O 1º livro dos Macabeus O 2º livro dos Macabeus Os trechos acrescentados a Ester Acréscimos a Daniel: - Susana - A oração de Asarias e a oração dos três jovens na fornalha ardente; - Bel em Babilônia, e sobre o dragão de Babilônia. A oração de Manassés O 3º livro de Esdras 111 Desenrolar Histórico IGREJA OCIDENTAL No ano de 1546, através do Concílio de Trento, a Igreja Ocidental definitivamente promulga que os livros apócrifos de Tobias, Judith (mencionados após Neemias = 2 Esdras), Liber Sapientiae, Ecclesiasticus (mencionados após Cantica canticorum), Baruch (mencionado após Jeremias), Macchabaeorum primus et secundus (assinalados depois de Malaquias) deveriam obrigatoriamente receber a categoria de canonicidade e assim serem observados por todos que professassem a fé cristã. ROST, L (1980, P. 21) Tais livros são fonte de fortes disputas teológicas, colocações onde o antagonismo interpretativo entre católicos e protestantes floresce avidamente. Segundo WYCLIFFE, Dicionário Bíblico. (2013, p. 156) “O concilio de Trento (1546) afirmava a canonicidade destes livros como encontrado na edição da vulgata e excomungava aquele que negasse sua posição. Essa declaração foi posteriormente confirmada pelo Concílio Vaticano de 1870”. IGREJA ORIENTAL Pertinente salientar que pela Igreja Oriental, o Concílio de Trulo (692) comungando da decisão do Concílio de Cartago (397 e 419), já considerava os apócrifos como canônicos. Mas em 1672, o Concílio de Jerusalém reduz a coleção de ex-apócrifos para três: Somente Jurite, Eclesiástico (Sirac) e Sabedoria de Salomão estariam sob reconhecimento humano da divina inspiração no ato de confecção destes escritos. Seriam apenas estas três, canônicos. 112 REAÇÃO DE LUTERO Reformadores como Lutero (repetindo Jerônimo) não os aceitaram. Instigado pelo anseio de retorno aos originais - característica própria do período histórico Renascentista de então - cujo discurso humanista de retorno às fontes (ad fontes) é primícias, e assim considerando tão somente a “veritas hebraica”, adota apenas os livros que o Cânon Hebraico contempla como revelação do Criador. Os “libri ecclesiastici” de Jerônimo foram apenas relocados no corpo do material bíblico, tirando-os da sequência normal de sua Bíblia em alemão, relegando-os a um apêndice no fim do Antigo Testamento, salientando através de uma introdução informando que aqueles livros apócrifos não estão em pé de igualdade com a Escritura Sagrada, apesar de ser uma útil e boa leitura. Inclui nesta adjacência: Judite, Sabedoria de Salomão, 1 Macabeus, 2 Macabeus, Tobias, acréscimos de Ester, as histórias de Suzana e Daniel, de Bel, em Babilônia, do dragão em Babilônia, a Oração de Asarias (Dn 3) e a Oração de Manassés, rei de Judá. Exclui o terceiro livro de Esdras, 3 Macabeus, Baruc, e a carta de Jeremias que apresentam-se no cânon latino. (ROST, L 1980, P. 21-22). Se toda a Escritura é inspirada e proveitosa para o ensino (como sabemos), definir o que seria a composição de tal Escritura se faz por valia necessariamente humana e providencialmente divina. MAIS REAÇÕES Uma grande parte das Bíblias inglesas (Wycliffe, Coverdale e Geneva) possuía tais livros apócrifos como um apêndice, entretanto no início de 1629 eles foram omitidos de edições da King James Version. E desde 1827, estes livros 113 são omitidos pelas Bíblias que as Sociedades Bíblicas britânicas e americanas publicaram. (ROST, L. 1980, P. 21-22). PARTICULARIDADES DE ALGUNS LIVROS Prudência meticulosa se faz por essencial, ao nos determos no corpo doutrinário de: Tobias, 1 Macabeus e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc. Estas obras demonstram momentos de peculiaridade singular que exprimem necessidade de adequado momento de imposição reflexiva. Assim, analisemos abaixo as inferências dispostas seguindo a disposição do texto escriturístico encontrado e para tanto nos servimos em alguns momentos também da Bíblia de Jerusalém. Vejamos: TOBIAS Obras nos justificando em processo de religiosa barganha: (4.7-11, 12.8) Superstições: (6.5,19) Crendices onde sugestão de paganismo constitui metodologia de exorcismo: (6.7-9) Mediação angelical: (12.12) 1 MACABEUS O próprio autor declara que no seu contexto histórico não havia mais profetas: (4. 45-46; 9.27, 14.41). Vejamos a primeira passagem, encontrada na Bíblia de Jerusalém (2011, P. 730): “E ocorreu-lhes a boa inspiração de o demolirem, a fim de não se tornasse para eles motivo de desonra o fato de pagãos o terem contaminado. 114 Demoliram-no pois e puseram as pedras no monte da Morada, em lugar conveniente, à espera de que viesse algum profeta e se pronunciasse a esse respeito”. Observemos que no termo “profeta” acimadestacado existe uma inferência de nota de rodapé explicativa. Vejamos a que ela se refere, segundo a Bíblia de Jerusalém (2011, p. 730): “c) O livro alude mais vezes a essa interrupção da profecia (9,27; 14,41. Cf. Sl 74,9; Lm 2,9; Ez 7,26)”, confirma. 2 MACABEUS Oferta de sacrifício por pecados cometidos por falecidos. Oração por mortos no propósito de provável intermediação: (12.43-46) O autor se justifica diante de possível debilidade do texto. (15.37,38) SABEDORIA DE SALOMÃO Oposição corpo-alma: (Sb 9.15) Numa alusão a filosofia grega, o corpo opõe-se a alma. Colocar o conceito de separação corpo-alma como realidades distintas e independentes entre si não comunga sentido com o que é exposto no livro do Gênesis. O processo da criação do homem descrito em Gn 2.7 nos impele uma realidade onde observamos o homem tornando-se alma vivente (ser) e não ganhando uma alma vivente (entidade etérea independente). No entanto, muito distante desta realidade do Gênesis, segundo a passagem de Sb 9.15 conforme a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1120): “Um corpo corruptível pesa sobre a alma e esta tenda de argila faz o espírito pesar com muitas preocupações”. Aqui encontramos um corpo como uma verdadeira prisão da alma. 115 Notemos que no termo “preocupações” acima destacado existe uma inferência de nota de rodapé explicativa. Vejamos a que ela se refere conforme a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1120): “Os termos empregados neste volume recordam a oposição estabelecida pela filosofia grega entre corpo e a alma ou o espírito (...)”, confirma. O que se percebe é uma nítida e clara incorporação de um conceito doutrinário estranho ao judaísmo numa harmônica helenização aos conceitos religiosos hebraicos. Salvação pela sabedoria – (Sb 9.18), contradizendo Efésios 2.8. Segundo a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1120): “Somente assim foram retos os caminhos dos terrestres, e os homens aprenderam o que te agrada, e a Sabedoria os salvou”. Sb. 9.18 e “Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é o dom de Deus;” Ef 2.8 Ibid, P. 2041. ECLESIÁSTICO De início presencia-se prólogo não canônico reconhecido pela Bíblia de Jerusalém (2011, p. 1144), onde lemos:”Este prólogo do tradutor grego não faz parte do livro do Eclesiástico propriamente dito e não costuma ser considerado como canônico”. Justificação por Obras em (3.33-34) Desumanidade com o semelhante reduzindo-o a objeto de ganho ou escravizada propriedade em (33.26 e 30; 42.1 e 5c) Xenofobia numa intolerância racial profunda em (50.27-28) 116 BARUC Intercessão por mortos em 3.4 Diante de tais considerações, ao menos um mínimo de cuidadosa ponderação se faz por substancial ao tratarmos com tais escritos, na finalidade de substancial produção teológica. ESTRUTURA COMPLEMENTAR: Listamos a seguir apêndice que sistematizado, facilita compreensão estrutural do Cânon Veterotestamentário sob a ótica de três distintas considerações. Segundo LASOR, William S. et al (2003, P. 658) TABELA Cânon do Antigo Testamento Bíblia Hebraica (24) Bíblia Protestante (39) Bíblia Católica (46) I - TORÁ (05) LEI (05) LEI (05) Gênesis Gênesis Gênesis Êxodo Êxodo Êxodo Levítico Levítico Levítico Números Números Números Deuteronômio Deuteronômio Deuteronômio II - PROFETAS (08) HISTÓRIA (12) HISTÓRIA (14) 117 Profetas Anteriores (04) Josué Josué Juízes Juízes Josué Rute Rute Juízes 1 Samuel 1 Reis (ou 1 Samuel) 1-2 Samuel2 Samuel 2 Samuel 2 Reis (ou 2 Samuel) 1-2 Reis 1 Reis 3 Reis (ou 1 Reis) 2 Reis 4 Reis (ou 2 Reis) Profetas Posteriores 1 Crônicas 1 Paralipômeno (ou 1 Crônicas) 2 Crônicas 2 Paralipômeno (ou 2 Crônicas) Isaias Esdras Esdras—Neemias (ou Ed, Ne) Jeremias Neemias Tobias (Tobit) Ezequiel Ester Judit Os Doze: Ester Oséias Joel POESIA (05) POESIA E SABEDORIA (07) Amós Obadias Jó Jó Jonas Salmos Salmos Miquéias Provérbios Provérbios Naum Eclesiastes Eclesiastes Habacuque Cântico dos Cânticos Cântico dos Cânticos Sofonias Sabedoria de Salomão Ageu Eclesiástico (Siraque) Zacarias Malaquias ROFETAS MAIORES (05) LITERATURA PROFÉTICA (20) 118 Isaias III - ESCRITOS (11) Jeremias Isaias Lamentações Jeremias Emeth (Verdade) (03) Ezequiel Lamentações Salmos Daniel Baruc Provérbios PROFETAS MENORES (12) Ezequiel Jó Daniel Oséias Ozeias Megilloth (Rolos) (05) Joel Joel Amós Amós Cântico dos Cânticos Obadias Abdias (Obadias) Rute Jonas Jonas Lamentações Miquéias Miquéias Eclesiastes Naum Naum Ester Habacuque Habacuc (Habacuque) Daniel Sofonias Sofonias Esdras—Neemias Ageu Ageu 1-2 Crônicas Zacarias Zacarias Malaquias Malaquias 1 Macabeus 2 Macabeus Pseudoepígrafos Grupo de obras que pelos católicos romanos são chamados apócrifos. Partindo da premissa do termo “pseudoepígrafo”, temos escritos que transitavam com nome de um autor fictício, apreciados apenas dentro de certos grupos. Surgiram quase no mesmo contexto cronológico dos apócrifos, não receberam o favor que os Canônicos recepcionaram pela Igreja Ocidental nem pela Oriental. 119 Classificação Classificados pelo seu conteúdo estão imersos em três categorias: Apócrifos Narrativos, Apócrifos didáticos e Apocaliptícos. Também há quem os classifique levando em conta a questão geográfica: palestinenses ou helenistas. Vejamos alguns, segundo questão de conteúdo: PSEUDOEPÍGRAFOS NARRATIVOS: Em sua composição apresentam geralmente informações lendárias; por vezes refletindo a realidade dos autores. Ex.: Livro dos Jubileus, 3 Macabeus, Vida de Adão e Eva, Prólogo de Eclesiástico. PSEUDOEPÍGRAFOS DIDÁTICOS: Geralmente tem finalidade de exortação moral. Ex.: Salmo 151, Salmos de Salomão, Oração de Manassés, 4 Macabeus, Apêndice de Jó. 120 PSEUDOEPÍGRAFOS APOCALIPTICOS Neles encontramos referências para o conhecimento das realidades religiosas, nacionais e politicas judaicas neste período (entre século II a.C. e o século I d.C.) Henoc, Assunção de Moisés, 4 Esdras, Apocalipse de Abraão, Elias, Livros Sibilinos, Prólogo das Lamentações. Vejamos alguns segundo a questão geográfica: Do judaísmo helenístico do Egito: A carta de Aristéias, O 3º livro dos Macabeus, o 4º Livro dos Macabeus, O Livro Eslavo de Henoc, Os Oráculos Sibilinos. Da Síria: A Apocalipse grego de Baruc Dos círculos dos fariseus da Palestina: Os Salmos de Salomão, o 4º livro de Esdras, O Apocalipse siríaco de Baruc. 121 Sabedoria Longe da tradição: Judeu anônimo e helenizado. O autor encontra-se ambientado numa realidade grega, sugerindo ser judeu da diáspora. Segundo MOMLOUBOU, L. et al., 1996. p. 406. “O Livro da Sabedoria é anônimo. A atribuição a Salomão, proposta pelo título grego do livro, é fictícia, é claro.” E pelo estilo de escrita supõe-se ser um sábio religioso cuja produção assemelha-se ao Eclesiastes e ao Eclesiástico, contudo estaria imerso em uma realidade judaica embebida pelo helenismo (tal o Eclesiástico), como nos garante ROST, Leonard. (1980. P. 54): “Embora isto nos mostre que o autor se enraíza na sabedoria bíblica, contudo ele desenvolve as ideias desta última completando-as com ideias helenísticas, como p. ex., (...) a opinião segundo a qual uma alma boa é recebida num corpo imaculado.” O que de imediato revela- nos uma miscigenação cultural profunda com a adoção de valores estranhos ao contexto hebraico. Lutando pela preservação da identidade nacional Escreve a compatriotas que diariamente convivem com a força da perda de identidade nacional onde a religião é fundamento primordial. Recebem discriminação e encontram-seàs margens sociais. Estão no exterior, sob constantes confrontos socioculturais ante seu sólido monoteísmo cuja constituição religiosa se faz por demais distante de toda idolatria que se apresenta. Segundo LÍNDEZ, José Vilchez. (1995, P. 38) “Pelas influências judaicas, Sb, como obra de conjunto, nos recorda continuamente passagens do Antigo Testamento; mas também reflete o ambiente helenista em que foi educado o seu autor e o lugar de sua escrita”. Pelo contexto de uma escrita com 122 incisivos ataques ao Egito, é válido supor que este se encontraria provavelmente na efervescência citadina de uma exuberante metrópole. Onde ele estaria? Cogitada, Alexandria, símbolo de vigor filosófico, nicho da confluência erudita do mundo antigo, cidade da renomada Biblioteca fruto do legado da dinastia ptolomaica, referência direta do abrigo do poder do conhecimento, torna- se atraente candidata. Neste enredo historiográfico, tal judeu possuidor de erudição na literatura bíblica e na tradição de seu povo, mostra-se hábil, fluente e adaptado a cultura grega, um novo mundo helenizado. Visto suas fortes contraposições aos costumes dos pagãos e seu posicionamento tão bem versado na religião do Deus Único é lícito vê-lo como um devotado e fervoroso intelectual que anseia de proclamar a validade de uma Sabedoria tão única diante de tantas que pôde encontrar nesta cidade portuária na costa mediterrânea do Egito. Testemunha ocular de sincréticas relações filosófico- religiosas, neste mundo antigo, ele traz uma novidade: O saber provém de Deus. (STORNIOLO, 1993, 7-11). Pela tradição, encontramos um autor. Nomes como Clemente de Alexandria, Tertuliano, Hipólito de Roma, Cipriano, Lactâncio, Basílio atribuíram a Salomão a autoria do livro. Se compararmos as passagens: (Sb 9,7) Escolheste-me como rei de teu povo, como juiz de teus filhos e de tuas filhas. Mandaste-me construir um templo em teu santo monte e um altar na cidade onde fixaste a tua tenda, cópia da tenda santa que preparaste desde a origem. Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1119). Com (1Cr 28, 5) De todos os meus filhos-pois Iahweh me deu muitos - é meu filho Salomão que ele escolheu para ocupar o trono da realeza de Iahweh sobre Israel. ‘É teu filho Salomão’, disse-me ele, ‘que construirá minha Casa e meus átrios, pois foi a ele que escolhi como filho e serei para ele um pai. Bíblia de Jerusalém (2011, P. 582-583). 123 E (1Rs 3,7) Agora, pois, Iahweh meu Deus, constituíste rei a teu servo em lugar de meu pai Davi, mas eu não passo de um jovem, que não sabe comandar. Bíblia de Jerusalém (2011, P. 473) Assim, de imediato Salomão será tradicionalmente o indicado mais óbvio para a autoria. Questiona-se a tradição No entanto se faz necessário uma apreciação mais acurada. Podemos seguramente encontrar nomes como o de São Jerônimo e Agostinho de Hipona citando-os como destacadas referências (dentre outros menos expoentes), que negaram a autoria da obra ao rei judeu. Consequentemente relevemos as considerações abaixo elencadas constituindo-as como antítese contestatória ao posicionamento da tradição que favorece a Salomão como autor: 1) O Livro da Sabedoria possui como síntese temática o reconforto do povo judeu diante de perseguições. Não havia perseguições no período dinástico de Salomão. 2) O estilo, ensinos, cultura e ambiente histórico contido no livro constituem produção sob direto reflexo helenista. 3) Jamais figurou no Cânon Judaico. A ideia de um mestre hebreu de língua e cultura gregas, versado no conhecimento da antiguidade judaica e fluente da modernidade cosmopolita helenista ser o autor do Livro da Sabedoria, se faz por aproximação razoável e de melhor compreensão. LÍNDEZ, José Vilchez (1995, P. 40). 124 Título Escrito em grego, o que o exclui do cânon judaico, esta obra foi utilizada pelos cristãos primitivos, em suas bíblias, juntamente com outros escritos na versão da Septuaginta. CERESKO, Anthony R. (2004, P. 159). Seguem-se seus títulos Sabedoria de Salomão (Manuscritos Gregos) Sapientia Salomonis ou Liber Sapientiae Salomonis ou Liber Sapientiae (Versões Latinas) Data de composição Como marco-temporal sugerido encontramos um ponto histórico que demanda aproximadamente pelo ano (50 a.C.) segundo STORNIOLO, Ivo. (1993, P. 8) ou (30 a.C. a 14 d.C) segundo LÍNDEZ, José Vilchez. ( 1995, P. 48.) Aqui presenciamos um Egito imerso no período helenista dos Ptolomeus e sob tutela romana. Neste compêndio de instruções de sabedoria, sob o pseudônimo de Salomão, nos deparamos com uma aglutinação judaico-grega de experiências (ambas as culturas receberam aditivos exteriores a suas essências). Como também ressaltamos a consolidação das consequências desta interação cultural em uma nova face na produção do conhecimento que versos nesta obra nos farão perceber. A helenização significou aproximação, unidade e consequente reativa mudança dentro do universo existencial do autor que repercutiu na obra. Estas são realidades criadas neste período cronológico. 125 Considerações Pensar a confecção desta obra é adentrar um panorama de aprendizado onde o sincretismo (em maior ou menor grau de interação) se faz por inevitável! A relação transcultural influenciou sobremaneira sua construção. Discorrer sobre a presença de influências exteriores ao Judaísmo e tão pertinentes às escolas filosóficas gregas é necessário porque tais ensinos que orbitam o Livro da Sabedoria estão por constituintes de partes de seu contexto. Conforme nos afirma ROST, Leonard (1980 P. 54) “Conquanto a sabedoria possa ser desenvolvia de acordo com o esquema da filosofia estóica, o autor permanece quase sempre dentro dos limites da sabedoria dos provérbios bíblicos.” Senão, vejamos: 1. Presenças de elementos da Filosofia estoica estão no verso que segue, conforme Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1105): O espírito do Senhor enche o universo, e ele, que mantém unidask todas as coisas, não ignora nenhum som. Sb 1.7 É de se ver que no termo “unidas” acima destacado existe uma inferência de nota de rodapé explicativa. Vejamos a que ela se refere segundo a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1105): “k) O termo traduzido por esta expressão é tomado do vocabulário estoico. Com força, ele marca o papel do espírito do Senhor na coesão do universo. (...)” 2. Mais outro momento, onde o versículo sugere que Deus cria a partir “de”. Pela Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1123) temos: Bem que não teria sido difícil à tua mão onipotente, que criara o mundo de matéria informe h. Sb 11,17 126 Atentemos para o termo “informe” acima observado que nele há uma referência de nota de rodapé de auxilio compreensivo. Recorramos a tal nota conforme a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1123): h) Expressão filosófica, parcialmente inspirada em Platão (Timeu 51 A) e corrente na época para designar o estado indiferenciado da matéria, suposta eterna. O autor não tem nenhuma razão para subtrair a matéria à atividade criadora e pensa, sem dúvida, na organização do mundo a partir da massa caótica (Gn 1,1). Adequado diante desta afirmação de influência grega será ponderarmos sobre o que o autor de Hebreus, em coerente afirmativa que Deus produz a Criação a partir do nada (lt. ex nihilo), conclui: “Pela fé entendemos que os mundos foram organizados por uma palavra de Deus. Por isso é que o mundo visível não tem sua origem em coisas manifestas”. Hb 11:3. Bíblia de Jerusalém (2011, P. 2097). Um apócrifo contradiz outro apócrifo E assim, exatamente neste tema então tratado, presenciamos um livro apócrifo (2 Macabeus, 7.28) contradizer diretamente outro livro apócrifo (Sabedoria, 11.17). O Livro da Sabedoria afirmando a criação a partir “de”. Partindo de algo preexistentee 2 Macabeus negando. Então analisemos, segundo a Bíblia de Jerusalém, (2011, P. 778) 2 Mac 7.28: Eu te suplico, meu filho, contempla o céu e a terra e observa tudo o que neles existe. Reconhece que não foi de coisas existentes que Deus os fez a. Existe a presença do termo “fez” no parágrafo acima observado revelando que há uma referência de nota de rodapé para ajuda interpretativa. Consideremos tal nota conforme a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 778): https://www.bibliaonline.com.br/acf/hb/11/3 127 a) Quer dizer, Deus os criou do nada, primeira afirmação explícita da criação ex nihilo, já entrevista em Is 44,24 (ver também Jo 1,3; Cl 1,15s). – Alguns mss e o sir. Têm: “das coisas que não existem”, expressão que, segundo o filósofo judeu Fílon, designa a matéria não organizada (cf. Sb 11,17+). A assertiva acima implica necessariamente em um pensamento completamente adverso ao apresentado na Sabedoria de Salomão. A confirmação prossegue! Encontramos mais evidências da contraposição. Mostrando-nos a contradição existente entre os dois livros apócrifos, destacamos segundo a literatura encontrada da nota explicativa da Bíblia TEB (1988, P. 1662), onde presenciamos: x. Lit. nãos os fez de coisas que existem. Modo novo e mais preciso de exprimir a criação. (...) Uma parte do latim traduz: ex nihilo (donde a expressão corrente). Realmente as duas obras apócrifas possuem conceitos que se antagonizam. E aqui, 2 Mac 7.28 está correto. O caráter da miscigenação cultural encontra-se presente. Contemplem- se passagens elencadas segundo MONLOUBOU (1996, p. 399) reforçando este atestado de pleno sincretismo: Sb 2,1-3 Na primeira parte do discurso dos ímpios, notam-se traços da doutrina dos epicuristas, mas eles não são únicos visados, e, em todo caso, não deviam tornar-se perseguidores Sb 7, 17-20 O autor transpõe para o gosto de seu tempo os dados tradicionais sobre o saber enciclopédico de Salomão (especialmente 1 Rs 5,13) Sb 7,22-23 A descrição do espírito da Sabedoria mediante vinte e um atributos lembra a definição do bem dada pelo estoico Cleanto 128 Sb 7,24 e 8,1 Insistindo na ideia de que a Sabedoria penetra totalidade do universo, o autor lhe atribui uma qualidade essencial do pneuma cósmico dos estoicos (cf. também Sb 1,7) Sb 8,7 As quatro virtudes chamadas mais tarde “cardeais” são enumeradas na forma tipicamente estoica Sb 9,15 Reconhece-se uma tese de Platão: o corpo entrava as aspirações da alma (cf. Fédon, 79Css.) Sb 11,20 A tríade “úmero, peso, medida” é um bem comum da cultura grega; mas Fílon o usou, como o nosso autor, a propósito de Deus criador Sb 12,4-6 Em sua descrição dos cananeus, o autor recorre, além do testemunho a Escritura, também à lenda grega dos Atridas; com isso ele visa anto os gregos como os cananeus Sb 12,19 O tema da “filantropia”, no sentido de humanitas, teve um desenvolvimento na literatura grega e foi universalizado pelos estoicos. Mas a Carta de Aristeas já tinha feito dela uma virtude real do judaísmo Sb 13,1-9 A análise do culto dos elementos da natureza se explica principalmente pela teodiceia do jovem Aristóteles, retomada pelos estoicos Sb 14,15 O desenvolvimento da idolatria a partir do culto de um defunto retoma provavelmente uma das formas do mito de Dionísio, segundo uma fonte de inspiração evemerista. Também o culto dos soberanos, estigmatizado em 14,16-20, teve tendências dionisíacas, enquanto em 14,23-26, o autor parece fazer alusão às bacanais. Por outro lado, 14,22 fala talvez do logro da paz romana Sb 15.12 As concepções pagãs da vida que são lembradas pertencem ao mundo greco-romano Sb 17 Na análise psicológica da praga das trevas, pode-se reconhecer o gosto dos gregos. Em todo caso, a descrição da natureza em movimento, em 17,17-18, é mais grega que bíblica 129 Sb 19,18 A comparação musical é também muito grega Sb 19,21 Considerar o maná como a ambrósia é aplicar-lhe ideia homérica de incorruptibilidade (Ilíada 19,38; Odisseia, 5,93) O texto de Sabedoria é uma constante de ativa relação com a cultura grega. Buscando interação, remetendo a sabedoria judaica para a esfera helenizada, em claro proselitismo de um idealista religioso, o autor se utiliza largamente de ferramentas literárias gregas. A constante realidade de enculturação sofrida pelo autor gerou este exercício de relação intelectual onde Sabedoria verte-se a instrumento que este judeu helenizado claramente anseia disseminar entre os pagãos, revelando assim uma estrutura monolítica de fé judaica, excepcional tesouro literário da antiguidade. Neste desejo, em uma abordagem ideal, dentro da dimensão de causa-efeito, a ideologia religiosa hebraica utilizando-se de características literárias gregas, encontra abrigo no meio helênico. O presente é recebido devido atraente embalagem. Formas literárias a) Protréptico: Convite exortativo a mudança de comportamento. Forma literária grega popular. b) Flashback: Uma frase ou contexto encontrados da segunda parte da obra remetem-se diretamente a frase ou contexto da primeira ou os repetem. Ex.: O termo grego theõreõ “buscar”, em 6,12 e 13,6. Também 13,3 e 13,5-6 130 c) Inclusão: Repetição do mesmo termo definidor da temática no contexto ou palavra-chave, no início e ao fim da seção para sinalizar as partes, os conteúdos diferentes do corpo da obra. Ex.: A palavra “justiça” nos vv 1 e 15 do capítulo 1. d) Diatribe: Debate argumentativo antagônico lidando com imaginários opositores. Ex.; Cap. 6,9-11. Estas modalidades literárias identificam a forma de expressão buscada pelo livro de Sabedoria, ainda que esteja em consonância com “formas literárias e técnicas gregas.” CERESKO, (2004, P. 159-161). O Gênero Literário Este é um livro que apesar de recordar passagens veterotestamentária, através de suas influências judaicas, também se vê contido em um âmbito de sincretias. O Helenismo é latente presença que influencia o autor e sua escrita. Assim, dentro desta realidade grega tão próxima, ele está afim de gêneros literários como o protréptico ou o elogio. LÍNDEZ, José Vílchez (1995, P. 38). Segundo MOMLOUBOU, L. et al (1996, P. 386 e P. 390): “Qual o gênero literário desse livro em sua totalidade?” E responde: “Como se vê, a totalidade do Livro da Sabedoria corresponde ao gênero literários epidíctico dos oradores antigos; ele é até um bom exemplo de encomium ou elogio”. Estrutura de composição TABELA I Parte: Vida Humana e juízo escatológico (1,1-6,21) 131 a. 1. Exortação para amar a justiça 1, 1-15 b. 2. Ímpios e Justos frente a frente 1, 16-2,24: 2.1. Introdução ao discurso: 1, 16-2, 1a 2.2 Discurso aos ímpios: 2, 1b-20 2.3 Remate ao discurso: 2, 21-24 c. 3. Revelação dos paradoxos desta vida: 3,-4 3.1 Prova dos Justos – castigo dos ímpios 3,1-12 3.2 Esterilidade diante da fecundidade 3,13-4,6. 3.3. Morte prematura do justo – final trágico dos ímpios 4,7-20 d. 4. Ímpios e justos face a face no juízo escatológico 5, 1-23 4.1 Intr.: confiança dos justos – terror dos ímpios: 5, 1-3. 4.2 Discurso dos ímpios: 5,4-13 4.3. Reflexões do autor: 5, 14-23 e. 5. Exortação aos governantes: 6, 1-21 5.1. Aos governantes: 6, 1-11 5.2 A Sabedoria conduz o reino: 6, 12-21 II Parte: Encômio da Sabedoria: 6,22-9,18 1. Discurso de Salomão sobre a Sabedoria: 6,22-8,21: 1. 1. Introdução ao discurso de Salomão 6, 22-25 a. 1.2. Salomão é como todos os homens: 7,1-6 b. 1.3 A Sabedoria é superior a todos os bens: 7,7-12 c. 1.4. A Sabedoria é superior aos bens morais e culturais: 7,13-22ª d. 1.5. Qualidade e natureza da Sabedoria: 7,22b-8,1. c’. 1.6.A Sabedoria tem todos os bens desejáveis: 8,2-9 132 b’. 1.7. A Sabedoria é a melhor companheirado justo sábio: 8,10-16 a’. 1.8 A Sabedoria é puro dom de Deus: 8,17-21 2. Oração de Salomão pedindo a Sabedoria: 9,1-18: 2.1 Sem a Sabedoria o homem é nada: 9,1-6 2.2 Envia a Sabedoria do céu: 9,7-12 2.3 A Sabedoria e os desígnios de Deus: 9, 13-18. III Parte: A justiça de Deus se revela na história: 10,1-19,21 1. De Adão a Moisés a salvação pela Sabedoria: 10,1-11,1. 2. Juízo de Deus sobre a história: 11,2-19,21: 2.1. Narração introdutória: 11,2-4 2.2.Tema da homilia: 11,5 2.3. Ilustração do tema em sete dípticos: 11,6-19,9: As duas digressões : 11, 15-15,19: I. Digressão Moderação do Deus onipotente com o Egito e Canaã: 11,15-12,27: 1) Moderação do Senhor com os Egípcios: 11,15-12,2 2) Moderação do Senhor com os Cananeus: 12,3-18 3) Dupla conclusão da moderação do Senhor: 12,19-27. II. Digressão Crítica da religião dos pagãos: 13-15: 1) Culto à natureza 13, 1-9 2) Culto aos ídolos, sua origem e consequências: 13,10-15,13. Origem e consequências da idolatria (14,11-31) 133 3) Idolatria universal e zoolatria dos egípcios: 15, 14-19. b. Praga dos animais – Cordonizes 16, 1-4 c. Mordidas de serpentes e pragas dos insetos 16, 5-14 d. Praga dos elementos atmosféricos – dom do céu: 16, 15-29 e. Praga das Trevas – coluna luminosa: 17,1-18,4 f. Morte dos Primogênitos do Egito – Libertação de Israel: 18,5-19 g. Juízo do mar contra os egípcios – Em favor dos israelitas 19,1-9 2.4. Reflexões Finais 19,10-21. Reminiscências do Egito e do deserto 19,10-12 Egípcios e sodomitas 19,13-17 Conclusão: Hino de Louvor a Deus 19,22 Unidade do livro Baseado nas premissas de que o texto grego que chegou até nós representa o texto original do livro da Sabedoria e de que corresponde este texto a um só gênero literário (encomium), é admissível observar o livro como uma verdadeira unidade, nos informa MONLOUBOU et al (1996 P. 391). Valia teológica Uma releitura desta obra, gera uma marca muito perene quanto a busca de justiça através da Sabedoria. Situação que nascerá de um conhecimento 134 diferenciado, oriundo da súplica a Deus por Sabedoria (7,7). Assim o homem diante de uma realidade adversa e opressora exerce o amor (6,17), dividindo a Sabedoria (7,13-14) que possibilita a vitória (5,15). O problema torna-se oportunidade para ser trabalhada sob o saber que Deus oportunamente disponibiliza a quem com sinceridade nele busca (7,8). Todo enredo literário é disposto como grande alusão metafórica em um paralelo direto ao êxodo bíblico onde Deus provê liberdade ao seu povo quando numa relação cordial de mútua fidelidade, o amor impera. O Egito faraônico e a Alexandria helenizada constituem realidades paralelas. (STORNIOLO, 1993, P.10). Nesta perspectiva conscientizações (6,11) alimentam a cautela e prudência(1,11) de um povo escolhido, santo e irrepreensível (10,15). Nação esta que no Senhor buscará desejável formoso matrimônio (8,2). Não um arranjo de erudição, mas vívida emanação do Criador, tal mover (7,22) que absoluto gera, produzindo justiça eterna (1,15) em Deus (3,1-4). Aqui justos alcançam a sabedoria (2,23) e ímpios uma ignorância fadada à derrota (3.10-12). A atualidade dos contextos relatados no Livro da Sabedoria se faz por detectável. Como também óbvia é a verdade que a solução dessas situações pesarosas - em Deus - nunca se torna principal metodologia humana diante destes problemas. Insensatez imersa em hedonismo (O ímpio e sua filosofia: 2,1-20) compõe a química da idolatria (14,27) de uma humanidade sem Sabedoria que desprovida de esperanças (5,14) encontra a destruição (5,17-23) como galardão. Eclesiástico (Sirácida) Preâmbulo A noção de judiar expressa pelo Aurélio nos remete a conceitos de fazer sofrer, maltratar. E consequentemente ansiando maior clareza de simbologia adequada e melhor sinônimo de acordo com o cenário histórico que 135 encontraremos no Eclesiástico, aporta-se no encontro de uma via-crúcis amplamente degustada pela nação judaica: Sofrida, maltratada, judiada. A etimologia de “judiar” faz-se por adequada nitidez conceitual cuja ação histórica envolve e marca o povo hebreu no percorrer de sua existência como nação. Crucificados, ressurgem contrariando toda expectativa contrária. Dotados de uma insurgente incontrolável ânsia de manutenção de prisma identificativo que os distingue em qualquer comparação racial, (assim os preservando como ícones cujo referencial designativo repousa na fé ao Deus único), este povo caminha a passos decididos na infindável luta contra a desfragmentação do ideário de coesão pela unidade nacional que intempéries históricas recorrentemente os submetem. Beligerantes epopeias travadas contra o extravio da unidade do povo judeu são fatos palpáveis percebidos nas entrelinhas de leitura da Sagrada Escritura que atestam real ímpeto nacionalista de tenacidade pela preservação étnica dos filhos de Israel. Situação desafiadora como esta é que se fará por objeto de análise teológica e será profundamente contemplada em Obras como a Sabedoria de Salomão e o Sirácida; este, agora trabalhada. Realidade Histórica do Livro A dinâmica histórica e sua volátil ação agem e em 333-334 a.C., Alexandre III, da Macedônia, exímio general grego, finda o regime Persa sobre Judá e Jerusalém. Entretanto o caráter depredador da política econômica imposto pelos sucessores de Alexandre permanece como agente promotor de opressão financeira que permanece a continuar o que os persas iniciaram: Espoliação através das taxas e arrecadações impostas. Da morte de Alexandre, seus generais entre si, dividiram o império: os Ptolomeus Lágidas receberam o Egito e a Palestina e os Selêucidas a Síria, (ambos em conflito pela hegemonia). Na batalha de Panion, em 199 a.C. o rei 136 selêucida Antíoco III, obterá do Egito a Palestina, que desde 321 a.C. era domínio do general Ptolomeu Lágida. De mão em mão Israel recebe judiarias. E completando o martírio israelita, com o advento de Alexandre, a dominação estrangeira trouxe um presente de grego dissimulado e agregado como pacote completo: a helenização. Neste espaço histórico, O Sirácida (como também Sabedoria de Salomão) é construção literária que compõe uma teologia que está diante e dentro desta empírica realidade plural de inevitável pesarosa miscigenação cultural. Dentro desta realidade socioeconômica em que presenciamos o controle da Palestina migrar dos ptolomeus egípcios para os reis selêucidas de Antioquia, esta obra foi composta. Neste contexto histórico relevamos a política governamental exercida por Antíoco IV Epifânio que de tão incidente metodologia helenizante acabou colaborando na fomentação da revolta dos Macabeus. Assim, diante de tamanha inquietação cultural (onde o novo se apresenta como ideal), ebulição social (judeus simpatizantes das ideias gregas naturalmente conseguem melhor adaptação), figura-se momento para o povo onde é importantíssimo reservar-se e encontrar neste povo, em sua cultura ancestral, a identidade verdadeira. E é disto que discorre o Eclesiástico. Quem somos e porque somos, são perguntas cuja urgência de resposta é essencial, e o autor através da tradição as responde. STORNIOLO (1994, P. 9-12). Autor Livro de uso bastante recorrente nos séculos iniciais da Igreja (ecclesia) cristã, foi obra de um judeu, escriba chamado Jesu’ bem El’azar ben Sira. ROST, Leonard (1980. P. 63). Este se constitui livro veterotestamentário em que se identifica seguramente o autor. Vejamos segundo a Bíblia de |Jerusalém (2011, P. 1226) (Eclo 50,27): “Uma instrução de sabedoria e ciência, eis o que gravou neste livro Jesus, filho de Sirac, de Eleazar, de Jerusalém, que derramou como chuva a sabedoria de seu coração.” O prólogo produzido em grego pelo neto do escritornos informa das dificuldades presentes na tradução do hebraico para 137 outra língua de certas particularidades idiomáticas judaicas. Esta obra não encontra reconhecimento canônico entre os judeus e nem pelas Igrejas da Reforma. O autor, em hebraico é referido por Ben Sirá e em grego por Sirácida, segundo a forma grega Sirac. Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1141) Data Há indícios de composição do Eclesiástico provavelmente no período de 190-180 a.C. STORNIOLO, Ivo (1994, P.7). Título da obra O Eclesiástico (livro da igreja ou da assembleia) pode ser referido por: TEB (1994, P. 1711). Em grego, temos Sophia Iêsou uiou Sirach Sirach (Sabedoria de Jesus filho de Siraque), (Eclo 51.30); ROST (1980, P. 61 e 62) e Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1141). Na Vulgata, antiga tradução latina, é intitulado como Liber Hiesu Filii Sirach. Mais conhecido é o título latino Liber Ecclesiastici ou Ecclesiasticus (livro eclesiástico). BORN, A. Van Den (1977, P. 415). Atualmente também é referido por “Sirácida” ou “Siracides”, Expressão oriunda do nome hebraico do autor: Ben Sirac. TEB (1994, P. 1711). 138 Gênero literário Seu gênero literário adequa-se ao conjunto dos escritos de literatura sapiencial. O provérbio é a principal forma literária adotada dentro de seus 51 capítulos. E nos esclarece CERESKO, Anthony R. (2004, P.138) “E contrastando com o livro de Provérbios e seus conjuntos de ditados de linha única, aqui se notam conjuntos de ‘discursos” ou “instruções”, de dez a vinte e uma linhas”. Além da figura literária de provérbio, encontra-se no Sirácida: 1. Hino de Louvor: (1,1-10; 18,1-7; 39,12-35 etc.) 2. Súplicas: (22,27-23,6; 36,1-22) 3. Narrativa autobiográfica: (51,13-30) 4. Listas ou coleções de nomes próprios: (Como partes de um hino de louvor em 39,16-35 e 42,15-43,33) 5. Narrativa Didática: (o “Elogio dos Pais” em 44,1-50,24) O Sirácida contém 1.600 dísticos, ajuntados em pequenos conjuntos que orbitam uma temática principal. ROST (1980, P. 64) 139 Particularidades da Obra Homem de vasta experiência adquirida (34,9-12; 51,13), culto (51,23), o Sirácida é figura singular que a nós desperta interrogações, remetendo a questionamentos profundos aquele que se debruce sobre sua obra com fins de estudo teológico. Apreciemos três momentos seus que são ímpares: 01. A promessa de um messias estava implícita em versos veterotestamentários, mas ainda que a obra Eclesiástico atestasse sua profunda erudição na escritura judaica, o Sirácida nada declara a este respeito. Observemos a transcrição de uma afirmativa na Introdução de apresentação deste livro, segundo a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1142): (...) “A respeito de um ponto, todavia, a tradição antiga não encontra nele nenhum eco: ele conhece a promessa feita a Davi (45,25; 47,11) mas a espera do messias não o anima (cf. 24,24+;36,20-22)”. (...) 02. Filosoficamente não lida com conceito grego sobre o antagonismo entre corpo e alma como o fez o autor de Sabedoria de Salomão entretanto ainda assim se coloca nesse mesmo nível de mescla helenizante. Em uma divagação literária exterior ao judaísmo, adota referências literárias estrangeiras. Constate-se a adoção cultural perceptível em Eclo 14,18 numa consistente utilização direta de uma passagem da literatura grega extraída da Ilíada de Homero, adaptando-a para seus escritos judaicos. Seja qual fosse a 140 intenção do autor, resultou em pura helenização que era realidade tão habitual ao contexto histórico ao qual o texto se insere. Compare-se a passagem pela Bíblia de Jerusalém (2011, p. 1165) Eclo 14.18: Como folhagem verdejante em árvore frondosa Tanto cai como brota, Assim a geração de carne e sangue: Esta morre, aquela nasce. Com esta passagem encontrada em The Iliad, 6.146-49; cf. Skehan e Di Lella, Wisdom of Ben Sira, p. 260. apud CERESKO, 2004, p. 137: As pessoas vão e vêm, como as folhas, que surgem e caem das árvores todos os anos”. As folhas do outono são lançadas ao solo pelo vento; mas quando volta a primavera, a floresta faz que surjam novas folhas. Assim também são as gerações do homem, o novo brota enquanto o velho passa. 03. Ainda que se considere o ambiente de cultura patriarcal da produção literária de sua obra do Sirácida, estes versos chamam a atenção a qualquer estudioso da Escritura. Seriam dísticos que orbitam o tema mulher. Esta menção está relatada segundo a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1183-1184) Eclo 25: 13. Qualquer ferida, menos a do coração; qualquer malícia, menos a da mulher; 141 14.Qualquer miséria, menos a causada pelo adversário; qualquer injustiça, menos a que vem do inimigo. 15.Não há pior veneno que o veneno da serpente, não há pior cólera que a cólera da mulher. 16.Prefiro morar com o leão ou o dragão a morar com a mulher perversa. 17. A perversidade da mulher muda a sua fisionomia, obscurece lhe o rosto como o de urso. 18. O seu marido senta-se entre amigos e contra a vontade geme amargamente. 19. Pouca maldade é comparada com a da mulher, caia sobre ela a sorte dos pecadores. 20. Como ladeira arenosa para os pés de um velho, assim é mulher faladeira para marido tranquilo. 21. Não te deixes prender pela beleza da mulher, não te apaixones por mulher. 22. É motivo de iram descaramento e grande vergonha mulher que sustenta o seu marido. 23. Coração abatido, semblante triste, coração ferido: eis a obra de mulher má. Mãos inertes, joelhos vacilantes, assim é a mulher que não proporciona felicidade ao marido. 24. Foi pela mulher que começou o pecado, por sua culpa todos morremos. E também contemplemos segundo a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1183- 1184) Eclo 42: 12. Diante de quem quer que seja, não te detenhas na beleza e não te sentes com mulheres. 13. Porquê das vestes sai a traça e da mulher, a malícia feminina. 14. É melhor a malícia do homem do que a bondade da mulher: a mulher causa vergonha e censuras. STORNIOLO (1994, P. 49) 142 Poderíamos ainda citar mais três situações peculiares ao livro. Justificação por obras em (3.30). Segundo a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1149): 33 30 “A água apaga a chama, a esmola expia os pecados”. Ou trato cruel aos escravos. Em (33.26 e 30); (42.1b e 5). Mediante a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1196), temos: “26 Faze teu escravo trabalhar e encontrarás descanso; (...)” e “Emprega-o em trabalhos, como lhe convém, e, se não obedecer, prende-o ao grilhão”. E continuando a recorrer a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1210): “(...) Porém, do que se segue não te envergonhes b (...) de ensanguentar os flancos do escravo viciado”. E neste momento observamos que a palavra “envergonhes” está dotada de indicativo de nota de rodapé, que conforme a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1210) nos esclarece: “b) Ben Sirá proclama a liceidade e até a conveniência de certos atos, aos quais se opunham o respeito humano ou os preconceitos”. Como também ódio racial em 50.27 e 28. Vejamos conforme a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1226): “27 25 Há duas nações que minha alma detesta e terceira que nem sequer é nação: 28 26 os habitantes da montanha de Seir, e os filisteus e o povo estúpido que habita em Siquém. f” Mais uma vez, notas de rodapé explicativas se fazem visíveis nas palavras “Seir” e como também em “Siquem”. Vejamos o que expõe sobre Seir e Siquem, a Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1226):” e) “de Seir”, hebr., lat.; “de Samaria”, grego”. E quanto a “Siquem”, pela Bíblia de Jerusalém (2011, P. 1226) 143 teremos: “f) Os Samaritanos. Portanto no v. precedente deve-se ler “Seir”, quer dizer, os edomitas, e não “Samaria”, o que seria repetição. Tais passagens contempladas revestem-sede singularidades observáveis em sua modalidade de escrita literária e que merecidamente sobre os tais deve repousar prudente exercício teológico profundo. Apesar de sua considerável utilidade para análise de cunho histórico- social, o Eclesiástico em sua totalidade não se torna propício para utilização doutrinária, posição esta observada pelas Igrejas Reformadas cujo cânon escriturístico veterotestamentário também é partilhado com os judeus. Concluindo que tal realidade excludente, reloca a totalidade desta obra acomodando-a em ostracismo por tais teologais vertentes. Estrutura Contextual São 51 capítulos que se acomodam em cinco grandes unidades de blocos A-01-16; B-17-23; C-24-32; D-33-42; E-43-50, um prefácio e uma conclusão com apêndices (51). O livro pode ser delineado em grandes estruturas, contendo prefácio e conclusão. Observemos a disposição assentada segundo a Bíblia TEB: (1994, P.1717-1813). Prólogo do tradutor (1-34) SEÇÃO A TEMA VERSO Capítulo 1 O mistério da Sabedoria - origem 1-10 O Temor do Senhor 11-20 Paciência e domínio de sí 22-24 144 Sabedoria e retidão 25-30 Capítulo 2 O temor de Deus na provação 1-18 Capítulo 3 Deveres para com os pais 1-16 A humildade 17-24 O orgulho 26-29 Capítulo 4 A esmola – Caridade 30-31 e 1-10 A sabedoria educadora 11-19 Pudor e respeito humano 20-31 Capítulo 5 Presunção do rico e do pecador 1-8 A conversão do sábio 9-15 Capítulo 6 A conversão do sábio (cont.) 1-4 A amizade 5-17 Aquisição da sabedoria 18-37 Capítulo 7 Conselhos diversos 1-17 Os amigos e a família 18-28 Os sacerdotes 29-31 Os pobres e os aflitos 32-36 Capítulo 8 Prudência e circunspecção 1-19 Capítulo 9 As mulheres 1-9 Relações Humanas 10-18 Capítulo 10 O governo 1-5 Contra o orgulho 6-25 Humildade e verdade 26-31 Capítulo 11 145 Não confiar nas aparências 1-9 Só o auxílio divino é eficaz 10-19 Importância da morte 20-28 Desconfiar do malvado 29-34 Capítulo 12 O discernimento nos benefícios 1-7 Capítulo 13 As ciladas do rico orgulhoso 1-8 Desconfiar dos grandes 9-13 Contraste entre o rico e o pobre 15-26 Capítulo 14 Felicidade do justo 1-2 Inveja e avareza 3-10 O bom uso das riquezas 11-19 Na intimidade da sabedoria 20-27 Capítulo 15 A recompensa do justo 1-10 Liberdade do homem 11-20 Capítulo 16 Maldição dos ímpios 1-14 Certeza de retribuição 17-23 SEÇÃO B - A Sabedoria divina na criação 24-30 Capítulo 17 A sabedoria divina na criação (cont.) 1-10 A aliança e a lei 11-14 Nada escapa ao Senhor 15-24 Convite à penitência 25-32 Capítulo 18 146 Grandeza de Deus 1-7 O nada do homem 8-14 A maneira de dar 15-18 Virtudes da previdência 19-29 Domínio de si 30-33 Capítulo 19 Domínio de si (cont.) 1-3 Perigos da tagarelice 4-12 Corrigir os amigos 13-17 Verdadeira e falsa sabedoria 20-30 Capítulo 20 A arte de repreender 1-4 Calar-se ou falar cientemente 5-8 Paradoxo 9-17 O uso ajuizado da língua 18-23 A mentira 24-26 Vantagens e obrigações da sabedoria 27-31 Capítulo 21 Fuga do pecado 1-10 Retratos do sábio e do tolo 11-28 Capítulo 22 O preguiçoso 1-2 Filhos mal-educados 3-6 O tolo é incorrigível 9-18 Fidelidade aos amigos 19-26 Súplica 27 Capítulo 23 Súplica (cont.) 1-6 Os juramentos 7-11 Palavras inconvenientes 12-15 Sobre a impureza 16-21 A mulher adúltera 22-27 147 Seção C Capítulo 24 Elogio da sabedoria 1-22 A Sabedoria e a Lei 23-34 Capítulo 25 O bom e o mau marido 1-11 A mulher má 13-26 Capítulo 26 Felicidade do homem bem casado 1-4 A mulher má 5-12 Louvor da esposa perfeita 13-18 Situações escandalosas 28 Perigos do comércio 29 Capítulo 27 Perigos do comércio 1-3 A palavra revela o homem 4-7 A justiça 8-15 Os segredos 17-21 Hipocrisia e duplicidade 22-29 O perdão 30 Capítulo 28 O perdão (cont.) 1-7 As contendas 8-12 A língua maligna 13-26 Capítulo 29 O empréstimo 1-7 A esmola 8-13 Fiança 14-20 Autonomia do sábio 21-28 Capítulo 30 Educação 1-13 148 A saúde 14-20 A alegria 21-25 Capítulo 31 As riquezas 1-11 Os banquetes 12-24 O vinho 25-31 Capítulo 32 Como comportar-se durante um banquete 1-13 Seção D O temor de Deus 14-24 Capítulo 33 O temor de Deus (cont.) 1-6 Desigualdade das condições 7-18 Como governar os bens e a casa 19-24 Os escravos 25-32 Capítulo 34 Ilusão dos sonhos 1-8 Utilidade das viagens 9-13 O temor de Deus 14-20 A verdadeira religião 21-31 Capítulo 35 A verdadeira religião (cont.) 1-26 Capítulo 36 Prece pela libertação e restauração de Israel 1-22 O discernimento 23-25 Escolha da esposa 26-31 Capítulo 37 Amigos verdadeiros e falsos 1-6 Bom e mau conselheiro 7-15 149 Verdadeira e falsa sabedoria 16-26 A temperança 27-31 Capítulo 38 O médico e as doenças 1-15 O luto 16-23 O escriba, superior ao operário 24-34 Capítulo 39 Elogio do escriba 1-11 Louvor de Deus e de sua obra 12-35 Capítulo 40 Miséria do homem 1-11 Falsos bens e bens verdadeiios 12-17 O temor de Deus, bem supremo 18-27 A mendicância 28-30 Capítulo 41 A morte 1-4 O castigo dos ímpios 5-10 A boa fama 11-13 Verdadeira e falsa vergonha 14-22 Capítulo 42 Verdadeira e falsa vergonha (cont.) 1-8 Solicitude de um pai pela filha 9-11 Cuidado com as mulheres 12-14 Seção E: Grandeza e Sabedoria de Deus na natureza 15-25 Capítulo 43 O Sol 1-5 A lua 6-8 As estrelas 9-10 O arco-íris 11-12 150 Fenômenos naturais 13-22 O mar 23-26 A glória de Deus 27-33 Capítulo 44 Elogio dos antepassados 1-15 Henoc 16 Noé 17-18 Abraão 19-21 Isaac 22 Jacó 23 Capaítulo 45 Moisé 1-5 Aarão 6-22 Finéias 23-26 Capítulo 46 Josué e Caleb 1-10 Os juízes 11-12 Samuel 13-20 Capítulo 47 Natan 1 David 2-11 Salomão 12-22 Roboão 23 Jeroboão 24-25 Capítulo 48 Elias 1-11 Eliseu 12-16 Ezequias e Isaías 17-25 Capítulo 49 Josias 1-3 Últimos reis de Judá: Jeremias 4-7 Ezequiel 8-9 Os pequenos profetas 10 151 Zorobabel e Josué 11-12 Neemias 13 Henoc 14 José 15 Os primeiros ancestrais 16 Capítulo 50 O sumo sacerdote Simão 1-21 Exortação 22-24 Nações detestadas 25-26 Conclusão 27-29 Apêndice Capítulo 51 Oração de Jesus, Filho de Sirac 1-12 Busca apaixonada da Sabedoria 13-30 Considerações Teológicas Este escriba (39, 1-3) desde cedo buscando a sabedoria (51,13-22), dentro de seu ambiente histórico permeado pelo helenismo reage estruturando um livro cuja máxima elementar é buscar Sabedoria no Deus de Israel, o Senhor da História, doador do conhecimento. Desta forma, fortalecendo a sociedade judaica, promove cruzada de retorno às origens raciais, desenvolvendo efetivo combate ao compor ensinamentos através de Provérbios, evitando assim, a desfragmentação nacional ocasionada pela helenização da Palestina, movimento de miscigenação que tanto se fazia atraente aos judeus, principalmente os jovens. Sua obra se faz por tentativa de expressar de resistência diante deste universo grego. 152 O Sirácida promove interação social no intuito de reforço das relações de laços familiares (3, 1-16) e de integração comunitária (6, 5-17) no seio do povo. Reconhece a necessidade de empatia com os mais necessitados desvalidos financeiramente (3,30-31; 4,1-6,8-10). CERESKO (2004, P. 133 a 135). Desperta o povo para reflexão diante do conflito social promovido pela realidade de um sistema econômico grego que está embasado no lucro (13, 2- 24), esclarece sobre a religião verdadeira que é aquela baseada na justiça (34,18-35,24). STORNIOLO (1994, p.28 e p. 40). Coleção de máximas de sabedoria ajuntadas no intuito de dotar a nação judia com material sapiencial poderoso suficiente para suplantar qualquer contraposição filosófica estrangeira, o Eclesiástico é um tributo de idealismo e fé. Não se pode omitir que este autor receba justo destaque no seu inteligente empenho piedoso de conservação do patrimônio cultural judeu profundamente ameaçado por corrente filosófica de então: Linhas de pensamento aglutinadas sob a nomenclatura de helenismo que externos ao conceito judaico de ser, devem ter amenizadas suas influências. O Helenismo em seu modus operante possui como característica o embate, a imposição, de maneira sedutora, se apresentando como necessário benefício de melhoria existencial aos povos subjugados, encarnando uma nova perspectiva conceitual de civilização. Sutilmente se coloca ao judeu através de uma gradativa ação em que tenta gerar convencimento e aceite, se colocando como reflexo natural da imagem de modernidade e avanço. Mas, o que se percebe é que este conceito que consigo traz o reflexo transcultural de identidade mundial, é ameaça a ser minimizada pelo Sirácida. Ser não mais somente judeu, entretanto homem cidadão do mundo é proposta que a alguns judeus (principalmente os jovens) sentem-se tentados a aceitar. As implicações é que serão drásticas: Aspecto que em si, necessariamente, converge suscetibilidade à miscigenações de todas as espécies em um ecumenismo caótico que inevitavelmente desfaria a nação judia 153 de seu emblemático referencial: O povo do Deus altíssimo. Imersão profunda numa fusão onde seriam tão somente mais uma parcela da realidade global massificada onde o humanismo prepondera sobre a experiência teocrática tão habitual aos judeus. (Muito atual este enredo, pois em nossa pós-modernidade tal discurso de comum unidade numa espiritualidade pagã, já se encontra por literal). Mas como já observado, o Sirácida não se dará por convencido e vencido. Este presente de grego receberá recusa, mesmo que para tal embate o autor se valha de artifícios (passagem literária) do seu antagonista, o mundo helênico. 154 Explicando melhor com a pesquisa Leia o artigo: Sabedoria: textos periféricos? Escrito por Milton Schwantes onde o mesmo aborda a importância dos Livros Poéticos e como os mesmos são subestimados em importância. “A terceira parte do cânon hebraico, chamada de Escritos/Ketubim, tende a ser pouco estudada e valorizada. Isso vale em especial para os livros das tradições da sabedoria. Um dos motivos reside na teologia sapiencial que se concentra da teologia da criação. O presente ensaio propõe dar especial atenção justamente aos livros sapienciais, justamente porque correlaciona sua religião com a de outros povos e religiões.”. GUIA DE ESTUDO Após a leitura faça uma resenha argumentativa sobre o artigo estudado, procure comparar com a obra estudada e exponha suas ideias. https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/ER/article/view/219 155 Leitura Obrigatória Propomos para enriquecer seus conhecimentos à leitura da obra Introdução ao antigo Testamento. O melhor livro de referência para o estudo do ambiente, conteúdo, perfil literário e mensagem do Antigo Testamento. Introdução detalhada de cada livro do AT com enfoque técnico, histórico e teológico. Dados arqueológicos recentes, gráficos, ilustrações, dezenas de fotos e mapas. BUSH, Frederic W. et al. Introdução ao Antigo Testamento. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2003. GUIA DE ESTUDO Após a leitura do livro, faça uma resenha crítica sobre o material e em seguida poste no ambiente virtual. 156 Pesquisando com a Internet Faça uma pesquisa na internet sobre o tema do “sofrimento, morte e a teologia da retribuição no livro de Jó”. Em seguida faça uma resenha sobre o que você pesquisou e disponibilize no ambiente virtual. 157 Saiba mais Maurício Zágari, em entrevista à Mundo Cristão, fala sobre "O fim do sofrimento". Confira a conversa com o autor e saiba mais sobre o livro que aborda um dos temas mais delicados da experiência humana. GUIA DE ESTUDO Após a leitura da entrevista sugiro que faça uma resenha crítica e em seguida disponibilize no ambiente virtual. http://mundocristao.com.br/conteudo/501 http://mundocristao.com.br/conteudo/501 158 Vendo com os olhos de ver Assista ao vídeo que fala sobre “o porquê do sofrimento humano”, tema marcante no livro de Jó, que suscita questionamentos e os ateus usa como argumento contra a existência de um Deus amoroso. Como lidar com o sofrimento? Com o Pe. Paulo Ricardo O mundo em que vivemos é como um Titanic a afundar-se. Os que não têm fé, agarrados aos destroços da embarcação, sofrem não só por causa do naufrágio, mas também de desespero. Quem crê, no entanto, mantém-se firme na esperança, sem perder de vista que o nosso único porto seguro está para além da terra e do mar: está no Céu. Mas como sofrer com esperança, sem cair no desespero? De que modo o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo pode iluminar as batalhas e os desafios que enfrentamos nesta vida? GUIA DE ESTUDO Analise o documentário assistindo-o e em seguida faça uma síntese do que lhe chamou atenção abordando os pontos que aconteceram nas reflexões de como lidar com o sofrimento. https://www.youtube.com/watch?v=nYGdMS7Pz2g https://www.youtube.com/watch?v=nYGdMS7Pz2g 159 Revisando Iniciamos os estudos com dois textos cobrindo uma panorâmica de assuntos que dizem respeito a estilos poéticos e sapienciais. No texto inicial, abordamos questões sobre singularidade da escrita poética sapiencial, sua influência em outros livros da Escritura, estilos literários como: provérbio curto e suas características (citamos a modalidades de repetição como expoente caracterizador da poesia hebraica); também exemplificando as tipologias da riqueza hebraica de literatura, citamos, a parábola, a alegoria, o enigma, a fábula, a lista enciclopédica, o acróstico, a aliteração, a sequência numérica e o poema didático como alguns exemplos da diversidade em riqueza que repousa sobre o estilo hebraico de produção literária. Seguimos, apresentando um texto que agracia questões sobre Sabedoria. Indagamos sobre a real percepção da linha que separa conhecimento de sabedoria. As implicações nas esferas espirituais que isto acarreta. Definimos sobre o mover humano que há no conhecimento e sobre o mover de Deus repousando na Sabedoria. Associamos esta realidade ao contexto judaico em livros como Eclesiastes, Provérbios, Jó, Cânticos onde são citados como instâncias do saber bíblico. Também relevamos questões sobre a sabedoria nas escolhas diárias que decidimos e assim colhemos bons ou maus frutos como decorrência, sempre procurando demonstrar que em Deus tudo se faz propício a salvação. Abordamos o conceito de sábio e sua interação com o Espírito da divindade. Salientamos sucintamente o estilo de sabedoria judaica, e os estilos de sabedoria proverbial, especulativa e lírica e os livros por este tipo de estilo são agraciados. Confrontamos através de proposições que busca nos fazer abandonar o estado de inércia intelectual que talvez possa se avizinhar em nossas carreiras cristãs. Colocou-se lado a lado a ideia de Evangelho e a noção de Religião, não uma modalidade instrumental humana de propagação do amor que une, mas 160 uma ferramenta carnal que separa. E em um momento de construção conceitual presencia-se as consequências do conhecimento humano ao se abster da presença do Criador. Faz-se uma reflexão do papel do Cristo dentro do verdadeiroconhecer que é capaz de nos levar de volta ao coração do Criador. No Livro de Salmos, com uma breve panorâmica, e seguimos situando o livro, designando a obra, o autor. Abordamos a questão dos títulos, seu caráter e natureza, notas históricas. Observamos em um primeiro tópico, algumas singularidades da coletânea de Salmos (alterações, inclusões), e seguimos para um segundo tópico onde mais alterações são delimitadas, também vimos duplicidade de salmos, (fruto de um redator final). Exploramos seu gênero literário (com um destaque para a lembrança de que no tópico IV- Salmos Reais em que fizemos alusão aos chamados Salmos Messiânicos. Seguimos para o tópico em que foi ressaltada a proximidade do Saltério com o Novo Testamento. Encerramos com uma reflexão sobre o valor do Saltério e tendo um apêndice com três salmos. O segundo livro foi Provérbios. Abordamos o autor, a obra, (ressaltando características como: cronologia, finalidade, relação com o Novo Testamento, suas estruturas de composição, os recursos da escrita) e como item final, sua valia teológica. O terceiro livro desta Unidade foi Jó. Iniciamos com uma nota introdutiva, seguimos para o tópico abordando o autor e a data de composição da obra. A canonicidade de Jó. Continuamos com observações literárias onde contemplamos o gênero, a forma, a estrutura e as características literárias. Então seguimos para a reflexão sobre a valia teológica do livro. No Livro Cântico dos Cânticos. Após breve introdução à obra, abordamos dados de composição referentes ao autor e data de composição. Passamos ao estudo das diversas leituras de interpretação do texto (Alegoria, Drama, Rito Litúrgico, Poema Lírico e texto cifrado). Passamos as considerações literárias onde recursos de escrita são exemplificados. Adentramos na estrutura textual e encerra-se com o tópico sobre considerações teológicas. 161 O segundo livro foi o Eclesiastes que após um comentário introdutivos onde autor, cronologia, posição na Escritura, o contexto vital da época, são vistos. Segue-se para o item Composição que envolve subcategorias como: Tema, estrutura, unidade. Adentramos nas características literárias composta por reflexões, provérbios, perguntas retóricas, linguagem descritiva, e encerramos com o item contribuições teológicas. Abordadas a temática de definição sobre apócrifos, deuterocanônicos. São citadas passagens em diversos livros e questões são apresentadas quanto ao conteúdo de determinados versículos. Obras como Tobias, Judite, 1 Macabeus, 2 Macabeus, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico e Baruc são colocadas em considerações. Explanações sobre enredos de desenvoltura histórica também são observadas. Ainda presenciamos uma tabela como estrutura complementar onde o cânon do velho testamento é apreciado a partir de três óticas teologais. Abordamos os pseudoepígrafos. Chegamos ao primeiro livro, Sabedoria. Iniciamos com dados sobre o autor, seguimos para o título, dados sobre cronologia, chegando ao item sobre considerações sobre a obra em que dois itens são ressaltados indicando adoção de pensamento estrangeiro a obra. Seguimos para as formas literárias, gênero literário, estrutura de composição e a unidade do livro. Temos a valia teológica, seguida por um anexo que explicita passagens com nítida influência helenista no corpo da Obra Sabedoria de Salomão. No segundo livro, iniciamos com um preâmbulo nos ambientando ao contexto vital que será visto na sequência. Passamos para dados que abordam o autor e obra (Identificação segura que quem escreveu e data de composição). Também é ressaltado o título e suas explicações. Continuamos com o gênero literário e chegamos no tópico Contratempos teológicos onde concepções teológicas do autor são ponderadas. Depois, adentramos na estrutura contextual do Sirácida, e encerramos com o item em que valias teológicas são consideradas. 162 Autoavaliação 1. Apresente as principais características da poesia hebraica. 2. Defina sabedoria e conhecimento fazendo a devida distinção entre os conceitos. 3. Qual a importância teológica do Livro de provérbios? 4. Apresente um estudo sobre os tipos de paralelismo no livro de provérbios. 5. Qual a teologia da retribuição apresentada no livro de Jó? 163 Bibliografia AGOSTINHO,Santo. Confissões. São Paulo: Paulus, 1984. BALANCIN, Euclides Martins. Como ler o livro do Eclesiastes: Trabalho e felicidade. 3. Ed. São Paulo: Paulus, 1991. BENTZEN, Aage. Introdução ao Antigo Testamento – Vol II Os Livros do Antigo Testamento. 5ª. Ed. São Paulo: Associação de Seminários Teológicos Evangélicos. 1968. BORN, A. 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