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1 
 
ADI 595/ES 
 
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO 
 
EMENTA: FISCALIZAÇÃO NORMATIVA ABSTRATA. REVOGAÇÃO TÁCITA 
DE UMA DAS NORMAS LEGAIS IMPUGNADAS E MODIFICAÇÃO 
SUBSTANCIAL DO PARÂMETRO DE CONTROLE INVOCADO EM RELAÇÃO 
AOS DEMAIS DIPLOMAS LEGISLATIVOS QUESTIONADOS. HIPÓTESES DE 
PREJUDICIALIDADE DA AÇÃO DIRETA, QUANDO SUPERVENIENTES AO 
SEU AJUIZAMENTO. A NOÇÃO DE 
CONSTITUCIONALIDADE/INCONSTITUCIONALIDADE COMO CONCEITO DE 
RELAÇÃO. A QUESTÃO PERTINENTE AO BLOCO DE 
CONSTITUCIONALIDADE. POSIÇÕES DOUTRINÁRIAS DIVERGENTES EM 
TORNO DO SEU CONTEÚDO. O SIGNIFICADO DO BLOCO DE 
CONSTITUCIONALIDADE COMO FATOR DETERMINANTE DO CARÁTER 
CONSTITUCIONAL, OU NÃO, DOS ATOS ESTATAIS. IMPUGNAÇÃO 
GENÉRICA DEDUZIDA EM SEDE DE CONTROLE ABSTRATO. 
INADMISSIBILIDADE. DEVER PROCESSUAL, QUE INCUMBE AO AUTOR DA 
AÇÃO DIRETA, DE FUNDAMENTAR, ADEQUADAMENTE, A PRETENSÃO DE 
INCONSTITUCIONALIDADE. SITUAÇÃO QUE LEGITIMA O NÃO-
CONHECIMENTO DA AÇÃO DIRETA. PRECEDENTES. 
 
- A revogação superveniente do ato estatal impugnado, ainda que tácita, faz instaurar 
situação de prejudicialidade, que provoca a extinção anômala do processo de 
fiscalização abstrata de constitucionalidade. Precedentes. 
 
- Não se conhece da ação direta, sempre que a impugnação nela veiculada revelar-se 
destituída de fundamentação jurídica ou desprovida de motivação idônea e adequada. 
Em sede de fiscalização normativa abstrata, não se admite impugnação meramente 
genérica de inconstitucionalidade, tanto quanto não se permite que a alegação de 
contrariedade ao texto constitucional se apóie em argumentos superficiais ou em 
fundamentação insuficiente. Lei nº 9.868/99, art. 4º, "caput". Precedentes. 
 
- A definição do significado de bloco de constitucionalidade - independentemente da 
abrangência material que se lhe reconheça (a Constituição escrita ou a ordem 
constitucional global) - reveste-se de fundamental importância no processo de 
fiscalização normativa abstrata, pois a exata qualificação conceitual dessa categoria 
jurídica projeta-se como fator determinante do caráter constitucional, ou não, dos atos 
estatais contestados em face da Carta Política. 
 
- A superveniente alteração/supressão das normas, valores e princípios que se 
subsumem à noção conceitual de bloco de constitucionalidade, por importar em 
descaracterização do parâmetro constitucional de confronto, faz instaurar, em sede de 
controle abstrato, situação configuradora de prejudicialidade da ação direta, 
legitimando, desse modo - ainda que mediante decisão monocrática do Relator da causa 
(RTJ 139/67) -, a extinção anômala do processo de fiscalização concentrada de 
constitucionalidade. Doutrina. Precedentes. 
 
DECISÃO: Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, ajuizada pelo Governador 
do Estado do Piauí, com o objetivo de impugnar a validade jurídico-constitucional dos 
2 
 
arts. 2º, "caput" e inciso V, 5º, 62 e 158 da Lei Complementar nº 2/1990; dos arts. 4º, § 
2º, e 58 da Lei Complementar nº 3/1990; dos arts. 12, 17, e 28 da Lei Complementar nº 
4/1990, todas editadas por essa unidade da Federação. 
 
O eminente Procurador-Geral da República, em seu douto parecer (fls. 264/269), 
pronunciou-se pela extinção deste processo de controle normativo abstrato, fazendo-o 
em parecer que tem, no ponto, a seguinte fundamentação (fls. 267/269): 
 
"6. Preliminarmente, verifica-se a prejudicialidade da ação quanto à impugnação a) dos 
artigos 2º, 'caput'; e 62, da Lei Complementar nº 02/1990; b) dos artigos 4º, § 2º e 58, da 
Lei Complementar nº 03/1990; e, finalmente, c) do artigo 17, da Lei Complementar nº 
04/1990 - que foram substancialmente alterados pelas Leis Complementares Estaduais 
nº 09/1992, nº 11/1993 e nº 12/1993. 
7. No tocante ao art. 5º, da Lei Complementar nº 02/1990, também impugnado na 
presente ação, cumpre esclarecer que a norma nele inserta - que submetia à apreciação 
do Poder Legislativo a proposta orçamentária do Ministério Público - restou tacitamente 
revogada, porquanto não foi reproduzida na Lei Complementar nº 12/1993, que passou 
a estabelecer as normas de organização e funcionamento do Ministério Público do 
Estado do Piauí. 
8. A presente ação direta também se encontra prejudicada quanto à impugnação do 
inciso V, do art 2º, da Lei Complementar nº 02/1990, uma vez que o parâmetro de 
constitucionalidade supostamente violado, o § 2º do art. 127 da Constituição Federal, 
sofreu alteração substancial em seu conteúdo com o advento da Emenda Constitucional 
nº 19, de 5 de junho de 1998, passando a vigorar com a seguinte redação: 
 
'Art. 127 (...) 
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, 
podendo, observado o disposto no art. 129, propor ao Poder Legislativo a criação e 
extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de 
provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei 
disporá sobre sua organização e funcionamento.' 
 
9. O mesmo se verifica quanto à impugnação do art. 28, da Lei Complementar nº 
04/1990, pois a norma inserta no artigo 93, VI, da Constituição Federal, supostamente 
violada, também foi substancialmente alterada com a edição da Emenda Constitucional 
nº 20, de 16 de dezembro de 1998, tornando inviável o controle concentrado da norma 
em face desse dispositivo constitucional. 
10. Quanto à impugnação da expressão 'e remuneração' contida no art. 12, da LC nº 
04/1990, cumpre, inicialmente, esclarecer que, embora este artigo tenha sido alterado 
pela LC nº 09/1992, a expressão impugnada foi mantida, razão pela qual não se verifica 
prejudicado o pedido quanto a esse dispositivo. Eis o teor do dispositivo ora em vigor: 
 
'Art. 12 - O Advogado Geral do Estado é o Chefe da Advocacia Geral do Estado e da 
Procuradoria Geral do Estado, com prerrogativas e remuneração de Secretário de 
Estado, nomeado em comissão pelo Governador, dentre maiores de trinta anos, de 
notório saber jurídico e reputação ilibada.' (...). 
 
11. Verifica-se, entretanto, que não merece ser conhecida a ação quanto à impugnação 
do artigo 12 da Lei Complementar nº 04/1990, porquanto não expôs o requerente os 
fundamentos jurídicos do pedido com relação ao mencionado dispositivo 
3 
 
infraconstitucional, limitando-se a transcrevê-lo sem sequer apontar a norma 
constitucional supostamente violada. 
12. Ante o exposto, manifesta-se o Ministério Público Federal pelo não-conhecimento 
da ação quanto à impugnação do artigo 12, da Lei Complementar nº 04/1990; e, em 
relação aos demais dispositivos hostilizados, pela prejudicialidade da presente ação 
direta de inconstitucionalidade." (grifei) 
 
Sendo esse o contexto, entendo aplicável, à espécie, o magistério jurisprudencial desta 
Suprema Corte, cujas reiteradas decisões, no tema, têm reconhecido a ocorrência de 
prejudicialidade da ação direta, quando, após o seu ajuizamento, sobrevém a cessação 
de eficácia das normas questionadas em referido processo objetivo, como sucedeu, no 
caso, com o art. 5º da Lei Complementar estadual nº 02/90. 
 
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a propósito de tal situação, tem 
enfatizado que a superveniente cessação de eficácia dos atos estatais impugnados em 
ação direta de inconstitucionalidade provoca a extinção anômala do processo de 
controle normativo abstrato, independentemente da existência de efeitos residuais 
concretos que possam ter derivado da aplicação dos diplomas questionados (RTJ 153/13 
- RTJ 154/396-397 - RTJ 154/401 - RTJ 156/29 - RTJ 160/145 - RTJ 174/80-81, v.g.): 
 
"- A cessação superveniente da eficácia da lei argüída de inconstitucional inibe o 
prosseguimento da ação direta de inconstitucionalidade (...). 
- A extinção anômala do processo de controle normativo abstrato, motivada pela perda 
superveniente de seu objeto, tanto pode decorrer da revogação pura e simples do ato 
estatal impugnado, como do exaurimentode sua eficácia, tal como sucede nas hipóteses 
de normas legais destinadas à vigência temporária." 
(RTJ 152/731-732, Rel. Min. CELSO DE MELLO) 
 
"A revogação superveniente do ato estatal impugnado faz instaurar situação de 
prejudicialidade que provoca a extinção anômala do processo de fiscalização abstrata de 
constitucionalidade, eis que a ab-rogação do diploma normativo questionado opera, 
quanto a ele, a sua exclusão do sistema de direito positivo, causando, desse modo, a 
perda ulterior de objeto da própria ação direta, independentemente da ocorrência, ou 
não, de efeitos residuais concretos." 
(RTJ 195/752-754, 754, Rel. Min. CELSO DE MELLO) 
 
Também tem razão o eminente Procurador-Geral da República, quando acentua a 
prejudicialidade desta ação direta em decorrência de substancial alteração introduzida 
pela superveniente promulgação das Emendas Constitucionais nºs 19/98 e 20/98, cujo 
teor modificou o próprio parâmetro de controle alegadamente transgredido - segundo 
sustenta o autor - pelos diplomas legislativos em questão. 
 
Tratando-se de fiscalização normativa abstrata, a questão pertinente à noção conceitual 
de parametricidade - vale dizer, do atributo que permite outorgar, à cláusula 
constitucional, a qualidade de paradigma de controle - desempenha papel de 
fundamental importância na admissibilidade, ou não, da própria ação direta (ou da ação 
declaratória de constitucionalidade), consoante já enfatizado pelo Plenário do Supremo 
Tribunal Federal (RTJ 176/1019-1020, Rel. Min. CELSO DE MELLO). 
 
Isso significa, portanto, que a idéia de inconstitucionalidade (ou de constitucionalidade), 
4 
 
por encerrar um conceito de relação (JORGE MIRANDA, "Manual de Direito 
Constitucional", tomo II, p. 273/274, item n. 69, 2ª ed., Coimbra Editora Limitada) - que 
supõe, por isso mesmo, o exame da compatibilidade vertical de um ato, dotado de 
menor hierarquia, com aquele que se qualifica como fundamento de sua existência, 
validade e eficácia - torna essencial, para esse específico efeito, a identificação do 
parâmetro de confronto, que se destina a possibilitar a verificação, "in abstracto", da 
legitimidade constitucional de certa regra de direito positivo, a ser necessariamente 
cotejada em face da cláusula invocada como referência paradigmática. 
 
A busca do paradigma de confronto, portanto, significa, em última análise, a procura de 
um padrão de cotejo que permita, ao intérprete, o exame da fidelidade hierárquico-
normativa de determinado ato estatal, contestado em face da Constituição. 
 
Sendo assim, e quaisquer que possam ser os parâmetros de controle que se adotem - a 
Constituição escrita, de um lado, ou a ordem constitucional global, de outro (LOUIS 
FAVOREU/FRANCISCO RUBIO LLORENTE, "El bloque de la constitucionalidad", 
p. 95/109, itens ns. I e II, 1991, Civitas; J. J. GOMES CANOTILHO, "Direito 
Constitucional", p. 712, 4ª ed., 1987, Almedina, Coimbra, v.g.) -, torna-se essencial, 
para fins de viabilização do processo de controle normativo abstrato, que tais 
referências paradigmáticas encontrem-se, ainda, em regime de plena vigência, pois, 
como precedentemente assinalado, o controle de constitucionalidade, em sede 
concentrada, não se instaura, em nosso sistema jurídico, em função de paradigmas 
históricos, consubstanciados em normas que já não mais se acham em vigor, ou, embora 
vigendo, tenham sofrido alteração substancial em seu texto. 
 
É por tal razão que, em havendo a revogação superveniente (ou a modificação 
substancial) da norma de confronto, não mais se justificará a tramitação do processo 
objetivo de fiscalização concentrada de constitucionalidade. 
 
Bem por isso, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, desde o regime 
constitucional anterior, tem proclamado que tanto a superveniente revogação global da 
Constituição da República (RTJ 128/515 - RTJ 130/68 - RTJ 130/1002 - RTJ 135/515 - 
RTJ 141/786), quanto a posterior derrogação (ou alteração substancial) da norma 
constitucional (RTJ 168/436 - RTJ 169/834 - RTJ 169/920 - RTJ 171/114 - RTJ 172/54-
55 - RTJ 179/419 - ADI 296/DF - ADI 595/ES - ADI 905/DF - ADI 906/PR - ADI 
1.120/PA - ADI 1.137/RS - ADI 1.143/AP - ADI 1.300/AP - ADI 1.510/SC - ADI 
1.885-QO/DF), por afetarem o paradigma de confronto invocado no processo de 
controle concentrado de constitucionalidade, configuram hipóteses caracterizadoras de 
prejudicialidade da ação direta ou da ação declaratória, em virtude da evidente perda de 
seu objeto: 
 
"II - Controle direto de constitucionalidade: prejuízo. 
Julga-se prejudicada, total ou parcialmente, a ação direta de inconstitucionalidade no 
ponto em que, depois de seu ajuizamento, emenda à Constituição haja abrogado ou 
derrogado norma de Lei Fundamental que constituísse paradigma necessário à 
verificação da procedência ou improcedência dela ou de algum de seus fundamentos, 
respectivamente: orientação de aplicar-se no caso, no tocante à alegação de 
inconstitucionalidade material, dada a revogação primitiva do art. 39, § 1º, CF 88, pela 
EC 19/98." 
(RTJ 172/789-790, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - grifei) 
5 
 
 
"AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL 3310/99. 
COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE INATIVOS E 
PENSIONISTAS. EC 41/2003. ALTERAÇÃO SUBSTANCIAL DO SISTEMA 
PÚBLICO DE PREVIDÊNCIA. PREJUDICIALIDADE. 
...................................................... 
2. Superveniência da Emenda Constitucional 41/2003, que alterou o sistema 
previdenciário. Prejudicialidade da ação direta quando se verifica inovação substancial 
no parâmetro constitucional de aferição da regra legal impugnada. Precedentes. 
Ação direta de inconstitucionalidade julgada prejudicada." 
(ADI 2.197/RJ, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA - grifei) 
 
"AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INSTRUMENTO DE 
AFIRMAÇÃO DA SUPREMACIA DA ORDEM CONSTITUCIONAL. O PAPEL DO 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO LEGISLADOR NEGATIVO. A NOÇÃO 
DE CONSTITUCIONALIDADE/INCONSTITUCIONALIDADE COMO CONCEITO 
DE RELAÇÃO. A QUESTÃO PERTINENTE AO BLOCO DE 
CONSTITUCIONALIDADE. POSIÇÕES DOUTRINÁRIAS DIVERGENTES EM 
TORNO DO SEU CONTEÚDO. O SIGNIFICADO DO BLOCO DE 
CONSTITUCIONALIDADE COMO FATOR DETERMINANTE DO CARÁTER 
CONSTITUCIONAL, OU NÃO, DOS ATOS ESTATAIS. NECESSIDADE DA 
VIGÊNCIA ATUAL, EM SEDE DE CONTROLE ABSTRATO, DO PARADIGMA 
CONSTITUCIONAL ALEGADAMENTE VIOLADO. SUPERVENIENTE 
MODIFICAÇÃO/SUPRESSÃO DO PARÂMETRO DE CONFRONTO. 
PREJUDICIALIDADE DA AÇÃO DIRETA. 
- A definição do significado de bloco de constitucionalidade - independentemente da 
abrangência material que se lhe reconheça - reveste-se de fundamental importância no 
processo de fiscalização normativa abstrata, pois a exata qualificação conceitual dessa 
categoria jurídica projeta-se como fator determinante do caráter constitucional, ou não, 
dos atos estatais contestados em face da Carta Política. 
- A superveniente alteração/supressão das normas, valores e princípios que se 
subsumem à noção conceitual de bloco de constitucionalidade, por importar em 
descaracterização do parâmetro constitucional de confronto, faz instaurar, em sede de 
controle abstrato, situação configuradora de prejudicialidade da ação direta, 
legitimando, desse modo - ainda que mediante decisão monocrática do Relator da causa 
(RTJ 139/67) - a extinção anômala do processo de fiscalização concentrada de 
constitucionalidade. Doutrina. Precedentes." 
(ADI 595/ES, Rel. Min. CELSO DE MELLO, "Informativo/STF" nº 258/2002) 
 
Cumpre ressaltar, por necessário, que essa orientação jurisprudencial reflete-se no 
próprio magistério da doutrina (CLÈMERSON MERLIN CLÈVE, "A Fiscalização 
Abstrata da Constitucionalidade no Direito Brasileiro", p. 225, item n. 3.2.6, 2ª ed., 
2000, RT; OSWALDO LUIZ PALU, "Controle de Constitucionalidade - Conceitos, 
Sistemas e Efeitos", p. 219, item n. 9.9.17, 2ª ed., 2001, RT; GILMAR FERREIRA 
MENDES, "Jurisdição Constitucional", p. 176/177,2ª ed., 1998, Saraiva), cuja 
percepção do tema ora em exame põe em destaque, em casos como o destes autos, que a 
superveniente alteração da norma constitucional revestida de parametricidade importa 
na configuração de prejudicialidade do processo de controle abstrato de 
constitucionalidade, eis que, como enfatizado, o objeto do processo de fiscalização 
abstrata resume-se, em essência, ao controle da integridade da ordem constitucional 
6 
 
vigente. 
 
Vê-se, desse modo, que a promulgação das Emendas Constitucionais nºs 19/98 e 20/98, 
ocorrida em momento posterior ao do ajuizamento da presente ação direta, importou em 
alteração substancial das cláusulas de parâmetro invocadas para justificar a instauração 
deste processo de controle normativo abstrato, ensejando, assim, o reconhecimento - tal 
como preconizado pelo eminente Procurador-Geral da República - de uma típica 
situação caracterizadora de prejudicialidade apta a gerar a extinção anômala desta causa. 
 
Resta verificar, agora, se se revela viável, processualmente, a impugnação genérica 
deduzida contra o art. 12 da Lei Complementar nº 04/90, editada pelo Estado do Piauí. 
 
O eminente Procurador-Geral da República, ao opinar pelo não-conhecimento desta 
ação direta quanto a referido preceito normativo, enfatizou, com razão, que o autor, ao 
deduzir a sua pretensão de inconstitucionalidade, "não expôs (...) os fundamentos 
jurídicos do pedido com relação ao mencionado dispositivo infraconstitucional, 
limitando-se a transcrevê-lo, sem sequer apontar a norma constitucional supostamente 
violada" (grifei). 
 
Cumpre ter presente, neste ponto, considerado o que dispõe o art. 3o, I, da Lei nº 
9.868/99, que não se conhece da ação direta, sempre que a impugnação nela deduzida 
revelar-se destituída de fundamentação jurídica, tal como ocorre, no caso, em relação ao 
art. 12, "caput", da Lei Complementar nº 04/90. 
 
Cabe ressaltar, na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que nada pode 
justificar uma alegação meramente genérica de ofensa à Constituição, pois incumbe, a 
quem faz tal afirmação, o dever de indicar, fundamentadamente, as razões justificadoras 
do suposto vício de inconstitucionalidade. 
 
O Senhor Governador do Estado do Piauí, ao pretender a decretação de 
inconstitucionalidade do "caput" do art. 12 da Lei Complementar nº 04/90, deixou de 
fundamentar tal argüição. 
 
Ao compulsar-se a petição inicial (fls. 02/21), constata-se que o autor simplesmente não 
expôs qualquer fundamento jurídico que desse suporte à tese da inconstitucionalidade 
material do "caput" do art. 12 da Lei Complementar nº 04/90. 
 
É certo que o Supremo Tribunal Federal não está condicionado, no desempenho de sua 
atividade jurisdicional, pelas razões de ordem jurídica invocadas como suporte da 
pretensão de inconstitucionalidade deduzida pelo autor da ação direta. Tal circunstância, 
no entanto, não suprime, à parte, o dever processual de motivar o pedido e de 
identificar, na Constituição, em obséquio ao princípio da especificação das normas, os 
dispositivos alegadamente violados pelo ato normativo que pretende impugnar. Impõe-
se, ao autor, no processo de controle concentrado de constitucionalidade, indicar as 
normas de referência - que são aquelas inerentes ao ordenamento constitucional e que se 
revestem, por isso mesmo, de parametricidade - em ordem a viabilizar, com apoio em 
argumentação consistente, a aferição da conformidade vertical dos atos normativos de 
menor hierarquia. 
 
Quaisquer que possam ser os parâmetros de controle que se adotem - a Constituição 
7 
 
escrita ou a ordem constitucional global (J. J. GOMES CANOTILHO, "Direito 
Constitucional", p. 712, 4a ed., 1987, Almedina, Coimbra) -, não pode o autor deixar de 
referir, para os efeitos mencionados, quais as normas, quais os princípios e quais os 
valores efetiva ou potencialmente lesados por atos estatais revestidos de menor grau de 
positividade jurídica, sempre indicando, ainda, os fundamentos, a serem 
desenvolvidamente expostos, subjacentes à argüição de inconstitucionalidade. 
 
Esse dever de fundamentar a argüição de inconstitucionalidade onera e incide sobre 
aquele que faz tal afirmação, assumindo, por isso mesmo, um caráter de indeclinável 
observância (ADI 561/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO). 
 
Não cabe, desse modo, ao Supremo Tribunal Federal, substituindo-se ao autor, suprir 
qualquer omissão que se verifique na petição inicial. Isso porque a natureza do processo 
de ação direta de inconstitucionalidade, que se revela instrumento de grave repercussão 
na ordem jurídica interna, impõe maior rigidez no controle dos seus pressupostos 
formais (RTJ 135/19, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - RTJ 135/905, Rel. Min. 
CELSO DE MELLO). 
 
A magnitude desse excepcional meio de ativação da jurisdição constitucional 
concentrada do Supremo Tribunal Federal impõe e reclama, até mesmo para que não se 
degrade em sua importância, uma atenta fiscalização desta Corte, que deve impedir que 
o exercício de tal prerrogativa institucional, em alguns casos, venha a configurar 
instrumento de instauração de lides constitucionais temerárias. 
 
A omissão do autor - que deixou de indicar as razões consubstanciadoras da alegada 
ilegitimidade constitucional do "caput" do art. 12 da Lei Complementar nº 04/90 - faz 
com que essa conduta processual incida na restrição fixada pela jurisprudência do 
Supremo Tribunal Federal que não admite argüições de inconstitucionalidade, quando 
destituídas de fundamentação ou desprovidas de motivação específica e suficientemente 
desenvolvida. 
 
Considerada a jurisprudência desta Suprema Corte - que deu causa à formulação da 
regra inscrita no art. 3o, I, da Lei nº 9.868/99 -, não se pode conhecer de ação direta, 
sempre que a impugnação nela veiculada, como ocorre na espécie, revelar-se destituída 
de fundamentação ou quando a argüição de inconstitucionalidade apresentar-se precária 
ou insuficientemente motivada. 
 
A gravidade de que se reveste o instrumento de controle normativo abstrato impõe, 
àquele que possui legitimidade para utilizá-lo, o dever processual de sempre expor, de 
modo suficientemente desenvolvido, as razões jurídicas justificadoras da alegação de 
inconstitucionalidade. 
 
É que, em sede de fiscalização concentrada, não se admite afirmação meramente 
genérica de inconstitucionalidade, tanto quanto não se permite que a alegação de 
contrariedade ao texto constitucional se apóie em argumentos superficiais ou em 
fundamentação insuficiente. 
 
Essa orientação tem prevalecido, em tema de fiscalização normativa abstrata, na 
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que, por mais de uma vez, deixou de 
conhecer de ações diretas, seja por falta de motivação específica, seja por insuficiência 
8 
 
ou deficiência da própria fundamentação (RTJ 177/669, Rel. Min. MAURÍCIO 
CORRÊA - ADI 561/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 2.111/DF, Rel. Min. 
SYDNEY SANCHES): 
 
"É necessário, em ação direta de inconstitucionalidade, que venham expostos os 
fundamentos jurídicos do pedido com relação às normas impugnadas, não sendo de 
admitir-se alegação genérica de inconstitucionalidade sem qualquer demonstração 
razoável, nem ataque a quase duas dezenas de medidas provisórias em sua totalidade 
com alegações por amostragem." 
(RTJ 144/690, Rel. Min. MOREIRA ALVES - grifei) 
 
"AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CAUSA DE PEDIR E 
PEDIDO - Cumpre ao autor da ação proceder à abordagem, sob o ângulo da causa de 
pedir, dos diversos preceitos atacados, sendo impróprio fazê-lo de forma genérica. A 
flexibilidade jurisprudencial de autora não mais se justifica, isso diante do elastecimento 
constitucional do rol dos legitimados para a referida ação." 
(ADI 1.708/MT, Rel. Min. MARCO AURÉLIO - grifei) 
 
"Insuficiência de fundamentação da inicial dado o número de dispositivos legais 
alterados pela Medida Provisória,sem que se particularize, pontualmente, como 
convém, a motivação a justificar a declaração de sua invalidade. Ação direta de 
inconstitucionalidade não conhecida, por falta de motivação específica quanto à 
pretendida declaração de inconstitucionalidade." 
(RTJ 173/466, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA - grifei) 
 
Nem se diga que, em ocorrendo situação como a ora exposta, impor-se-ia ao Tribunal o 
dever de ensejar, ao autor, a possibilidade de complementar a petição inicial. 
 
Tal providência não se revela processualmente viável, porque a Lei nº 9.868/99 - que 
dispõe sobre o processo e o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da 
ação declaratória de constitucionalidade - estabelece que a ausência de fundamentação 
autoriza o indeferimento liminar da petição inicial, por ocorrência do vício grave da 
inépcia. 
 
Na realidade, a Lei nº 9.868/99, ao dispor sobre essa conseqüência de ordem processual, 
assim prescreve em seu art. 4º, "caput": "A petição inicial inepta, não fundamentada e a 
manifestamente improcedente serão liminarmente indeferidas pelo relator" (grifei). 
 
Cabe ter presente, no ponto, no sentido desta decisão, o julgamento plenário da ADI 
1.775/RJ, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA (RTJ 177/669), na parte em que esta Corte 
afastou a proposta de que se deveria ensejar, ao autor, a oportunidade de aditar a petição 
inicial, quando deficientemente fundamentada. 
 
Sendo assim, e presentes tais razões, não conheço desta ação direta, no ponto em que, 
sem qualquer fundamentação, o autor questionou a constitucionalidade do "caput" do 
art. 12 da Lei Complementar nº 04/90, julgando-a prejudicada, de outro lado, no que 
concerne aos demais preceitos normativos que foram impugnados nesta sede de controle 
abstrato. 
 
A inviabilidade da presente ação direta, em decorrência das razões mencionadas, impõe 
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uma observação final: no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste, 
ao Ministro-Relator, competência plena para exercer, monocraticamente, o controle das 
ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, legitimando-se, em 
conseqüência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar. 
 
Cabe acentuar, neste ponto, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a 
inteira validade constitucional da norma legal que inclui, na esfera de atribuições do 
Relator, a competência para negar trânsito, em decisão monocrática, a recursos, pedidos 
ou ações, quando incabíveis, inviáveis, intempestivos, sem objeto ou que veiculem 
pretensão incompatível com a jurisprudência predominante do Tribunal (RTJ 139/53 - 
RTJ 168/174-175). 
 
Impõe-se enfatizar, por necessário, que esse entendimento jurisprudencial é também 
aplicável aos processos de ação direta de inconstitucionalidade (ADI 563/DF, Rel. Min. 
PAULO BROSSARD - ADI 593/GO, Rel. Min. MARCO AURÉLIO - ADI 2.060/RJ, 
Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 2.207/AL, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 
2.215/PE, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), eis que, tal como já assentou o Plenário 
do Supremo Tribunal Federal, o ordenamento positivo brasileiro "não subtrai, ao 
Relator da causa, o poder de efetuar - enquanto responsável pela ordenação e direção do 
processo (RISTF, art. 21, I) - o controle prévio dos requisitos formais da fiscalização 
normativa abstrata, o que inclui, dentre outras atribuições, o exame dos pressupostos 
processuais e das condições da própria ação direta" (RTJ 139/67, Rel. Min. CELSO DE 
MELLO). 
 
Sendo assim, em face das razões expostas, e acolhendo, ainda, o parecer do eminente 
Procurador-Geral da República, não conheço da presente ação direta quanto ao art. 12 
da Lei Complementar nº 04/90 do Estado do Piauí, julgando-a prejudicada no que se 
refere aos demais preceitos normativos ora questionados. Em conseqüência, declaro 
extinto este processo de controle normativo abstrato, restando insubsistente a medida 
cautelar anteriormente deferida (fls. 61/110). 
 
Comunique-se, após o trânsito em julgado da presente decisão. 
 
Arquivem-se os presentes autos. 
 
Publique-se. 
 
Brasília, 24 de março de 2008. 
 
Ministro CELSO DE MELLO 
Relator 
 
* decisão publicada no DJE de 31.3.2008 
 
Substância Entorpecente - Porte - Crime Militar - Aplicabilidade da Norma Penal mais 
Benéfica (Transcrições) 
 
HC 94085 MC/SP*

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