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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Respostas Celulares ao Estresse ........................ 3 3. Adaptações Celulares ao Estresse ..................... 6 4. Lesão Celular .............................................................12 5. Necrose ........................................................................14 6. Apoptose .....................................................................18 Referências Bibliográficas ........................................22 3INTRODUÇÃO À PATOLOGIA 01. INTRODUÇÃO Antes de iniciarmos o estudo a pa- tologia, devemos ter em mente sua definição. A etimologia da palavra patologia vem do grego, significando o “estudo do sofrimento”. Esse ramo da ciência busca as causas de uma doença, envolvendo as alterações as- sociados a esse acometimento, tanto a nível celular, de tecido e de órgãos, juntos com seus sinais e sintomas as- sociados. Durante o estudo da patologia na me- dicina, encontraremos repetidamente alguns termos: - Etiologia: Consiste na origem da enfermidade, incluindo suas causas fundamentais (agente etiológico) e fatores modificadores intrínsecos/ge- néticos ou adquiridos); - Patogenia: Refere-se as fases do desenvolvimento dessa enfermidade, descrevendo fatores etiológicos que iniciam alterações moleculares e ce- lulares que originam a anormalidade; - Alterações morfofuncionais: Con- sistem nas alterações do arcabouço estrutural de uma célula ou de um te- cido, sendo característico da enfermi- dade; - Fisiopatologia: É o estudo dos fe- nômenos que causam alterações patológicas ou anormais da funções num órgão, sistema e/ou organismo. Ou seja, ela que determina o modo que nosso organismo reage a uma patologia; - Manifestações clínicas da doença: São os famosos “sinais e sintomas”. Portanto, consiste nas alterações morfológicas e sua distribuição nos tecidos, órgãos ou sistemas. Deter- mina as características clínicas, curso e prognóstico da doença. Essas definições são essenciais para entendermos como funciona uma do- ença, além da investigação e desen- volvimento de possíveis tratamentos. Portanto, a explicação das causas e do desenvolvimento de uma enfermi- dade consistem em ferramentas da patologia que estruturam, cientifica- mente, a prática médica. 02. RESPOSTAS CELULARES AO ESTRESSE As células, em geral, possuem uma alta resiliência em relação ao seu am- biente, ajustando constantemente sua estrutura e sua função. Isso tudo para que ocorra a sua adaptação de- corrente de alterações no meio que causem estresse extracelular. Dito isso, entendemos que a célu- la, afim de manter sua homeostasia – consiste na capacidade da mesma manter seu meio intracelular numa faixa estreita dos parâmetros fisioló- gicos – sofrem alterações que leva a uma possível adaptação em momen- tos de estresse. Sendo assim, há a 4INTRODUÇÃO À PATOLOGIA manutenção da viabilidade e de sua função. As principais respostas adap- tativas são hipertrofia, hiperplasia, atrofia e metaplasia. No entanto, caso essa capacidade adaptativa seja excedida ou se o es- tresse se torna um estimulo nocivo, ocorre uma lesão celular. Dentre os A morte celular consiste num dos momentos mais cruciais para pro- gressão da doença em qualquer teci- do ou órgão. Pode ocorrer por causas isquêmicas (diminuição do fluxo san- guíneo), infecciosas, por toxinas ou autoimune. Essa morte pode ocorrer, principalmente, por necrose ou apop- tose. A privação de nutrientes induz, limites fisiológicos, caso essa lesão seja leve ou transitória, ela se torna reversível e, assim, as células podem retornar a um estado basal estável. No entanto, caso ela seja intensa ou de modo progressivo, a lesão se torna irreversível e, assim, há morte celular. Relações entre células miocárdicas normais, adaptadas, lesadas de modo reversível e mortas. como resposta adaptativa, a autofa- gia que, também resulta em morte celular Vale lembrar que esse processo de morte é algo essencial e normal na manutenção da homeostasia, no de- senvolvimento de órgãos e na em- briogênese 5INTRODUÇÃO À PATOLOGIA SE LIGA! O timo é um órgão linfoide pri- mário especializado do sistema imuno- lógico. É nele que os linfócitos T amadu- recem. Quando suas funções passam a ser desenvolvidas por outras estruturas no corpo, esse órgão começa a involuir na puberdade. Essa involução é caracte- rizada pela diminuição do tecido linfoide por morte celular programada e pela li- possubstituição. Esse órgão atinge o seu maior peso relativo no fim da vida fetal, porém seu peso absoluto continua a au- mentar, alcançando 30 a 40 g na época da puberdade. Ele então começa a so- frer uma involução que progride rapida- mente, até que, no adulto, o órgão seja, em grande parte, substituído por células adiposas. No idoso pesa 5 a 15 g. Relações entre o tamanho do timo numa criança e num adulto. FONTE: https://www.medgadget.com/ wp-content/uploads/2018/05/thymus-cancver.jpg Lâminas de hepatócitos saudáveis e edemaciados (de- generação hidrópica) na coloração H&E. FONTE: https:// www.ufrgs.br/patologiageral/degeneracao-hidropica/ As desordens metabólicas celulares e lesão crônica podem estar asso- ciadas com acúmulo intracelular de substâncias como água, proteína, lipí- dio, cálcio e pigmentos. Temos como exemplo as degenerações: hidrópica, hialina, lipídica (esteatose), mucoide, de glicogênio e de pigmentos (antrac- nose e lipofuscina). 6INTRODUÇÃO À PATOLOGIA FLUXOGRAMA DE ESTAGIOS DA RESPOSTA CELULAR ESTIMULO NOCIVO LEVE, TRANSITÓRIA INCAPACIDADE DE SE ADAPTAR INTENSA, PROGRESSIVA MORTE CELULAR LESÃO REVERSÍVEL LESÃO CELULAR CÉLULA NORMAL (HOMEOSTASIA) LESÃO IRREVERSÍVEL ADAPTAÇÃO NECROSE APOPTOSE ESTRESSE 03. ADAPTAÇÕES CELULA- RES AO ESTRESSE As adaptações podem ser tanto fisio- lógicas como patológicas: - Adaptações fisiológicas: Respos- tas celulares a estímulos normais por hormônios ou mediadores químicos endógenos. Temos como exemplo o aumento da mama e do útero, induzi- do pelos hormônios da gravidez; - Adaptações patológicas: Respos- 7INTRODUÇÃO À PATOLOGIA tas ao estresse extracelular que mo- dula a arquitetura e funcionalidade da célula, originando as lesões celulares. Hipertrofia A hipertrofia consiste no aumento do tamanho das células, resultando no aumento do tamanho do órgão. Isso ocorre devido ao aumento de produção de proteínas celulares em resposta a fatores de crescimento, IGF-1, TGFbeta. Como já abordamos, essas adapta- ções podem ser fisiológicas ou pato- lógicas. Assim, como hipertrofia fi- siológica, temos a espessamento do útero desencadeada pelo estrógeno, resultando no aumento do útero. Além desse exemplo, também temos a hipertrofia das células musculares estriadas esqueléticas por conta de musculação. Já como hipertrofia patológica, temos o aumento cardíaco secundária a hi- Cortes transversais de fibras musculares esqueléticas normais e hipertrofiadas pós-treino, respectivamente, em microscopia eletrônica. FONTE: https://dicasde- musculacao.org/wp-content/uploads/diferenca-entra- -tamanho-das-celulas-hipertrofiadas.jpg Corte longitudinal em H&E do tecido cardíaco nor- mal e hipertrofiado por conta de uma hipertensão. FONTE: http://anatpat.unicamp.br/lamneo1.html pertensão ou alguma doença valvar (exemplo: estenose aórtica). Essa hi- pertrofia é característica nas insufici- ências cardíacas, sendo formada pela tentativa do corpo compensar a in- capacidade do coração em bombear sangue. SE LIGA! Os mecanismos responsá- veis por estimular a hipertrofia cardíaca podem apresentar tanto uma natureza desencadeante mecânica, como o esti- ramento, e uma desencadeante trófica, que consiste na ação de mediadores solúveis que estimulam o crescimento celular (ex.: fatores de crescimentos e hormônios adrenérgicos), por meio de transdução de elementos para compo- sição de proteínas e miofilamentos. Vale lembrar que, ao excederos limites de cada mecanismo, há uma descompen- sação da hipertrofia, gerando alterações “degenerativas” no tecido muscular car- díaco. E, são essas anomalias que re- percutirão no quadro sintomatológico de pacientes que apresentam uma insufici- ência cardíaca concêntrica. 8INTRODUÇÃO À PATOLOGIA Caso a hipertrofia seja fisiológica, ela ocorre por meio da via da fosfatidili- nositol 3-quinases/AKT. Se ela for pa- tológica, por meio da sinalização da proteína G ligada a seu receptor. RELEMBRANDO: Esas vias de sinalização consistem num conjunto de processos moleculares que ocorrem dentro do citoplasma celular, resultando numa resposta celular, que consiste numa mudança do estado ba- sal celular de tal celular. Queira ela seja excitatória ou inibitória – isso depende da natureza do receptor em que a mo- lécula-sinal se acoplar!!! Temos como exemplos de respostas celulares: cres- cimento – gerando hipertrofia, se feita a nível histológico –, diferenciação, prolife- ração, divisão e morte celular. NA PRÁTICA! Pacientes do sexo mas- culino, entre 50-70 anos, com sintomas de incontinência urinária, disúria, polia- ciúria e noctúria, podem apresentar um caso de hiperplasia benigna prostática (HPB). Mesmo tendo a nomenclatura Hiperplasia A hiperplasia consiste no aumento do número de células de um órgão ou tecido, resultando geralmente no aumento da massa e tamanho de um órgão ou tecido. Por conta disso, é frequentemente associada a hiper- trofia, sendo induzida, muitas vezes, por um mesmo estímulo, desencade- ando respostas celulares respectivas para crescimento e proliferação celu- lar. Ela é exclusiva de tecido que tem alta capacidade regenerativa, seja ele pouco diferenciado (células-tron- co ou alguns tumores agressivos) ou muito diferenciado (hepatócitos). Da mesma forma que a hipertrofia, ela também pode ser fisiológica ou patológica. A hiperplasia fisiológica pode ocor- rer a partir de dois processos: (1) um hormonal, caracterizado pelo aumen- to da capacidade funcional do tecido em questão, como, por exemplo, a proliferação do epitélio glandular ma- mário nas mulheres na puberdade e gravidez; (2) e outro compensatório, caracterizado pelo aumento da ce- lularidade de certo tecido por conta de uma lesão ou ressecção parcial, como a capacidade regenerativa dos hepatócitos do fígado. Já como exemplo da patológica, te- mos sua proliferação por aumento de hormônio (ex.: aumento da massa óssea em crianças com gigantismo por conta do aumento de GH) ou por fatores de crescimentos (ex.: forma- ção verrugosas por conta da produ- ção de interleucinas/IL em caso de infecções de papilomaviroses) nas células-alvo. 9INTRODUÇÃO À PATOLOGIA “benigna”, tal hiperplasia é de caráter patológico. Para o diagnóstico, pode se lançar mão da dosagem de PSA (antígeno específi- co prostático) e o toque retal. O segun- do exame é mais recomendado por ser mais específico e consegue diferenciar uma HPB de um câncer na próstata (a consistência no câncer mais dura que na HPB, onde ela tem a mesma consistên- cia, só que maior). O nível de PSA pode se elevar nos dois casos, sendo assim, mais sensível para identificar se há ou não alteração no paciente, embora não seja específico. Representações de uma próstata normal e uma hiper- plásica e como essa última afeta no funcionamento da via urinária. FONTE: https://medicoresponde.com.br/ qual-a-diferenca-entre-hpb-e-cancer/ Embora essas formas hiperplásicas sejam anormais, seu processo conti- nua sendo controlado. Sendo assim, caso seja cessado o início da via de sinalização de tal hiperplasia, ela de- saparece. Esse fenômeno diferencia a hiperplasia patológica benigna do aumento de células neoplásicas no câncer, que é ativada por uma muta- ção/ativação genética. Embora sejam distintas, é importante termos em mente que essas formas hiperplási- cas patológicas constituem um solo fértil no qual a proliferação cancerosa pode surgir posteriormente. Atrofia A atrofia consiste na redução do tamanho de um órgão ou tecido que resulta da diminuição do tamanho e número de células devido a diminui- ção da síntese proteica e aumento da degradação das proteínas nas célu- las. Suas causas incluem redução da car- ga de trabalho (ex.: imobilização de um membro por conta de uma fratu- ra), perda da inervação, diminuição do suprimento sanguíneo (ex.: atrofia cerebral progressiva por conta da arteriosclerose), nutrição inadequada (ex.: desnutrição proteica-calórica), pressão (ex.: compressão tecidual por conta de uma isquemia de pres- são), perda de estimulação endócrina (ex.: redução do testículo em pacien- tes com baixa ação gonodotrópifica) e envelhecimento (ex.: atrofia senil). Da mesma forma que as outras adaptações, a atrofia também pode ocorrer por mecanismos patológicos (ex.: desnervação) ou fisiológicos (ex.: perda da estimulação hormonal na 10INTRODUÇÃO À PATOLOGIA menopausa). No entanto, em ambos os casos as alterações celulares se mantem a mesma. Ou seja, há uma retração das células, mantendo ain- da seu funcionamento, mas com um menor requerimento do necessário para sua sobrevivência. A, Cérebro normal de adulto jovem. B, Atrofia do cére- bro em homem de 82 anos com doença cerebrovas- cular, resultante da redução do suprimento sanguíneo. Notar que a perda de substância do cérebro adelgaça o giro e alarga os sulcos. As meninges foram retiradas da metade direita de cada espécime para mostrar a superfície do cérebro. Metaplasia do epitélio colunar -> escamoso. Metaplasia A metaplasia representa alteração reversível na qual um tipo celular diferenciado (epitelial ou mesen- quimal) é substituído por outro tipo celular adulto. Portanto, ela consiste na substituição adaptativa de uma célula sensível que foi exposta a um - Esôfago de Barret: Consiste na metaplasia do epitélio escamoso do esôfago para o epitélio colunar do estômago no 1/3 distal esofágico, por conta do refluxo gástrico-esofá- gico (DRGE). determinado estresse por uma célula capaz de suportar o ambiente hostil. Geralmente, está associada a perda de função. A diferenciação de células-tronco para uma linhagem em particular é causada por sinais gerados por cito- cinas, fatores de crescimento e com- ponentes da matriz extracelular no ambiente das células. Esses estímu- los externos promovem a expressão de genes que direcionam as células para uma via específica de diferen- ciação. Temos como exemplos de metapla- sias: - Por conta do uso de cigarro, temos a metaplasia do epitélio colunar e ciliado respiratório para um epitélio escamoso estratificado 11INTRODUÇÃO À PATOLOGIA NA PRÁTICA! Quando há suspeita de DRGE, recomenda-se que o paciente realiza uma endoscopia digestiva alta (EDA) para avaliar o epitélio esofágico, para avaliar o possível prognóstico das complicações dessa doença. Uma das hipóteses mais preocupantes é encon- trar o esôfago de Barret, onde o epitélio metaplásico possui coloração mais aver- melhada que o normal. Com isso, torna- -se altamente necessário intervenção médica para impedir que a metaplasia se torne uma neoplasia E regredir essa adaptação histológica local. (Esófago de Barret) A repetição do refluxo pode fazer com que as células do esôfago sofram alterações e se tornem pré-cancerosas. Nesta fotografia, as áreas vermelhas em forma de língua (setas) são exemplos dessas alterações. FONTE: https://medicoresponde. com.br/qual-a-diferenca-entre-hpb-e-cancer/ FLUXOGRAMA DE ADAPTAÇÕES CELULARES HIPERTROFIA HIPERPLASIA ATROFIA METAPLASIA ADAPTAÇÕES CELULARES FISIOLÓGICA: EM CÉLULAS MUSCULARES ESQUELÉTICAS POR ESTIRAMENTO NOS EXERCÍCIOS FÍSICOS FISIOLÓGICA: NA GLÂNDULA MAMÁRIA FEMININAS NA PUBERDADE E NA GRAVIDEZ FISIOLÓGICA: DIMINUIÇÃO DÓ ÚTERO E DAS MAMAS EM MULHERES APÓS A MENOPAUSA PATOLÓGICA: EM CARDIOMIÓCITOS POR ESTIRAMENTO CAUSANDO EM ETIOLOGIAS DA IC CONCÊNTRICA PATOLÓGICA: HIPERPLASIA PROSTÁTICA BENIGNA NOS HOMENS PATOLÓGICA:DESNERVAÇÃO 12INTRODUÇÃO À PATOLOGIA 04. LESÃO CELULAR Como mencionado anteriormente, as lesões celulares ocorrem quando as células são estressadas de forma tão excessiva que ultrapassam seus limites fisiológicos e descompensam ou quando são expostas a agentes agressivos ou por anomalias intrínse- cas. Dessa forma, não são mais capa- zes de se adaptar. Essa lesão celular pode ser reversível e a célula conseguir voltar para o es- tado de homeostasia, ou irreversível, causando morte celular por necrose ou apoptose. A resposta celular a estímulos no- civos depende do tipo da lesão, sua duração e sua gravidade. As conse- quências da lesão celular dependem do tipo, estado e grau de adaptação da célula danificada. As lesões resul- tam em anormalidades funcionais e bioquímicas (hemograma: transami- nases aumentadas – lesão do fígado). A lesão celular pode ser causada por hipóxia, isquemia, trauma, agentes químicos, reações anafiláticas, agen- tes infecciosos, temperatura (queima- duras e frio profundo), mudança brus- ca da pressão atmosférica, defeitos genéticos, lesão mitocondrial (dimi- nuição de ATP e produção de radicais livres), entrada de cálcio, defeitos na permeabilidade da membrana, prote- ínas mal dobradas, acúmulos intrace- lulares. RELEMBRANDO: Entre as causas de uma lesão celular, podemos relembrar, a partir do que co- nhecemos acerca da biologia molecular da célula: - Acúmulo de cálcio: Leva a abertu- ra dos poros de transição de permea- bilidade mitocondrial e à deficiência na geração de ATP, aumentando o número de enzimas com efeitos celulares poten- cialmente prejudiciais. Sendo assim, há a ativação indireta de caspases, que in- duz a lesão celular; - Defeitos na permeabilidade da membrana: A membrana pode ter sua permeabilidade danificada por espécies reativas de oxigênio, diminuição da sín- tese de fosfolipídios. A lesão de mem- brana provoca danos à membrana mi- tocondrial, perda do equilíbrio osmótico, perda de conteúdo celulares, influxo de líquido e íons, extravasamento de hidro- lases; - Acúmulos intracelulares: Como já foi mencionado, as degenerações são le- sões reversíveis secundária a alteração bioquímica que resultam em acúmulo de substâncias no interior das células. Sumariamente, temos dois tipos de lesões: a reversível e a irreversível. Nos estágios iniciais ou nas formas leves de lesão, as alterações morfo- lógicas e funcionais são reversíveis, se o estímulo for removido. Dessa forma, temos que as lesões reversí- veis são caracterizadas por: - Tumefação generalizada da cé- lula: É uma das primeiras manifes- 13INTRODUÇÃO À PATOLOGIA tações, onde há perda da função da bomba de íons dependentes de energia e, consequentemente, perda da manutenção da homeostase iôni- ca e líquida, causando, por exemplo, uma degeneração hidrópica; - Degeneração gordurosa: Ocorre em várias formas de lesões meta- bólicas e tóxicas, como por exemplo a hipóxia, sendo caracterizada pelo surgimento de vacúolos lipídicos, grande ou pequenos, no citoplasma. Também chamado de esteatose e é muito observado nos hepatócitos e células do miocárdio. Já em relação as lesões irreversíveis, identifica-se disfunção mitocondrial e alterações profundas na função das membranas, presentes tanto na necrose e na apoptose. Cortes histológicos em H&E de dois parênquimas hepáti- cos com degeneração gordurosa, sendo que o da esquer- da apresenta vacúolos grandes (macrovesicular) e o da esquerda, vacúolos pequenos (microvesicular). FONTE: https://www.ufrgs.br/patologiageral/esteatose-hepatica/ Relações entre função celular, morte celular e altera- ções morfológicas da lesão celular. Note que as células rapidamente se tornam não funcionais após o início da lesão, embora estejam ainda viáveis com lesão poten- cialmente reversível; uma lesão de duração mais longa leva finalmente a lesão irreversível e à morte celular. Note também que, tipicamente, a morte celular precede as alterações morfológicas visíveis macroscopicamente, à microscopia óptica e ultraestruturais. SE LIGA! As alterações ultraestruturais nas células, ligadas a lesão reversível in- cluem: - Alterações na membrana plasmá- tica: Temos o aparecimento de bolhas, apagamento ou desestruturação das microvilosidades e adesões intercelula- res (ex.: desmossomos); - Alterações mitocondriais: Por exem- plo, tumefação e presença de corpos amórficos de fosfolipídios: - Dilatação do retículo endoplasmáti- co: Com isso há destacamento de ribos- somos e dissociação dos polissomos; - Alterações nucleares: Junto com con- densação da cromatina. 14INTRODUÇÃO À PATOLOGIA FLUXOGRAMA DE LESÕES CELULARES REVERSÍVEIS IRREVERSÍVEIS LESÕES CELULARES NECROSE APOPTOSE 05. NECROSE A necrose é o tipo de morte celular associada a perda da arquitetura e integridade da membrana, resultando no extravasamento do conteúdo cito- plasmático. Sendo assim, esse pro- cesso resulta numa ação degradativa de enzimas nessas células lesiona- das. Além disso, o material extravasado, ao escaparem para o meio extracelu- lar, corroboram para o início de uma inflamação, visando eliminar os res- tos da célula já morta. Na microscopia, as células necrótica apresentam como padrões estrutu- rais: - Eosinofilia aumentada; - Citoplasma vacuolado (edema): Pode gerar uma rupture e extravasar o conteúdo citoplasmático Características da célula ao sofrer necrose 15INTRODUÇÃO À PATOLOGIA - Necrose liquefativa: Resulta da ação digestiva de enzimas, sendo caracte- rística de infecções fúngicas e bac- terianas locais, sendo o foco infec- cionado transformado numa massa viscosa de aspecto purulento, rico em leucócitos mortos. Portanto, está presente na inflamação aguda. Além disso, o infarto em tecido nervoso re- sulta numa necrose liquefativa e não coagulativa. SE LIGA! Por conta da ausência de te- cido conjuntivo (ex.: fibroblasto) na ar- quitetura cortical, nosso cérebro é uma das únicas estruturas no corpo que, ao infartarem NÃO forma esse tecido de estrutura firme! - Figuras de mielina: São massas fos- folipídicas grandes e espiraladas de- rivadas das membranas celulares le- sadas. - Alterações nucleares: • Picnose: Retração nuclear e au- mento da basofilía; • Cariólise: Digestão da cromatina; • Cariorrexe: Fragmentação do nú- cleo A depender do local em que essa morte celular ocorra OU do mecanis- mo responsável por esse catabolis- mo, a necrose pode ter o seu padrão variado. Sendo assim, temos como as principais formas de necrose: - Necrose de coagulação: Nela, ocor- re a desnaturação proteica, havendo preservação da arquitetura tecidual por alguns dias. Sendo assim, o teci- do lesionado apresenta textura firme, formando uma área de infarto, carac- terizado pela morte celular diante de uma hipóxia. Necrose coagulativa. A, Infarto renal em forma de cunha (amarelo), com preservação dos contornos. B, Aspecto microscópico da borda do infarto, com rim nor- mal e células necróticas no infarto. FONTE: webpath. med.utah.edu Na primeira imagem, temos um corte coronal do cé- rebro, onde temos em um dos hemisférios um foco de necrose liquefativa por conta de um infarto cerebral. Já na segunda, temos um corte histológico H&E do mio- cárdio após um infecção bacteriana, com microabsces- so resultante da necrose liqeufativa. FONTE: anatpat. unicamp.br RELEMBRANDO: A gangrena úmida ocorre quando há 16INTRODUÇÃO À PATOLOGIA infecção bacteriana num sítio necrótico por coagulação (necrose gangrenosa), adquirindo um padrão liquefativo visto na imagem. Na foto, podemos perceber as áreas de necrose gan- grenosa em preto e as de gangrena úmida amarelada. FONTE: http://picasaweb.google.com/lh/photo/rHyUQc- vbbS2ZCM6mVkg4GA Na primeira imagem, temos um pulmão E com foco de necrose caseosa com aspecto de queijo cottage. Já na segunda, temos um corte histológico H&E do mesmo parênquima pulmonar, sendo caracterizada por uma área homogênea ou finamente granulosa e de corrósea forte, geralmente circundada por gra- nulomas. FONTE: webpath.med.utah.edu e anatpat. unicamp.br respectivamente - Necrose caseosa: Consiste na ação de degradação progressiva e irrever- sível feita por enzimas em tecidos lesionados, sendo característica de focos de tuberculose, dando esse as- pecto macroscópico branco amarela- do, semelhante a queijo. - Necrose gordurosa: O padrão dessa necrose é conhecido como “pingo de vela”, em que há, macroscopicamen- te, vesículas esbranquiçada, associa- das a deposição de cálcio nas áreas lesionadas, por conta de uma reação de saponificação (gordura mais um substância básica, resultando em produção de sais e ácido). Características da célula ao sofrer apoptose 17INTRODUÇÃO À PATOLOGIA Na primeira imagem, o parênquima apresentando padrões de uma necrose gordurosa macroscopica- mente, ou seja, apresentando em branco os depósitos de cálcio “pingo em vela”. Já na segunda, temos um corte histológico H&E do parênquima pancreático onde temos a transição de seus adipócitos preserva- dos e necróticos, e entre eles, infiltrados da inflamação aguda. FONTE: webpath.med.utah.edu e anatpat. unicamp.br respectivamente FLUXOGRAMA DE NECROSE COAGULATIVA LIQUEFATIVA CASEOSA GORDUROSA NECROSE EXEMPLO: INFARTO NO MIOCÁRDIO, NO PARÊNQUIMA RENAL, HEPÁTICO, ETC. EXEMPLO: INFECÇÃO PELA BACTÉRIA DA TUBERCULOSE EXEMPLO: INFECÇÕES BACTERIANAS E FÚNGICAS, INFARTO CEREBRAL EXEMPLO: PANCREATITE AGUDA POR ALCOOLISMO OU OBSTRUÇÃO E RUPTURA DAS VIAS BILIARES GANGRENA ÚMIDA NA PRÁTICA: Pacientes com dor abdo- minal, se irradiando para a região lombar, com náuseas e vómitos são suspeitos a terem uma pancreatite aguda. Sendo a sua patologia relacionada com a necro- se gordura na maioria dos casos, onde o rompimento das vias biliares libera a bile, de caráter básico, que podem reagir com o parênquima gorduroso do pân- creas, reagindo nessa inflamação aguda. 18INTRODUÇÃO À PATOLOGIA 06. APOPTOSE A apoptose é uma de morte celular induzida por um programa de suicí- dio estritamente regulado no qual as células destinadas a morrer ativam enzimas que degradam seu próprio DNA e as proteínas nucleares e ci- toplasmáticas. Ela tem como função eliminar as células que não são mais necessárias em nosso organismo. Na microscopia, as células apoptóti- cas apresentam como padrões estru- turais: - Retração celular; - Condensação da cromatina; - Formação de bolhas citoplasmáti- cas e corpos apoptóticos; - Fagocitose das células e corpos apoptóticos pelos macrófagos. Vale ressaltar que a apoptose, em- bora tenha seu valor benéfico, pode eliminar células que são lesadas de modo irreparável, sem produzir rea- ção do hospedeiro, provocando assim lesão tecidual paralela. Dessa forma, a morte por apoptose é responsável por perda de células em várias situ- ações patológicas: lesão de DNA; acúmulo de proteínas anormalmente dobradas; atrofia; tumores; lesão por viroses (como o vírus do papiloma hu- mano). Ao sofrem apoptose, essas células se rompem em fragmentos conheci- dos como corpos apoptóticos, con- tendo porções do citoplasma e do núcleo. Aparentemente, a membra- na plasmática se mantém integrada, mesmo que fragmentada. No entan- to, há mudança na estrutura dela: há a movimentação de um fosfolipídio, conhecido como fosfatidilserina, de seu folheto interno para o externo. Tal mudança foi a responsável por sinali- zar que tal célula iria sofrer morte ce- lular programada. Sendo assim, as células mortas e seus fragmentos são rapidamente fa- gocitados, e dessa forma esta via não desencadeia resposta inflamatória no hospedeiro (processo silencioso). Os corpos apoptóticos também podem ser revestidos por proteínas do siste- ma complemento C1q, os quais são reconhecidos pelos fagócitos. RELEMBRANDO: O sistema complemento consiste num conjunto de proteínas enzimáticas res- ponsáveis por participar da imunidade inata e adquirida, funcionando como uma ponte entre elas no sistema imune. Sendo assim, ao opsoniar os patógenos, elas induzem uma série de respostas in- flamatórias que auxiliam seu combate a infecção. A apoptose é regulada por caspases, que pode ser funcionalmente dividia em dois grupos: desencadeador e executor. As capazes são zimogênios 19INTRODUÇÃO À PATOLOGIA que necessitam sofrer clivagem para se tornarem ativas, através das se- guintes vias: - Via intrínseca (ou mitocondrial): Por meio da liberação do citocromo C. - Via extrínseca (ou morte iniciada por receptor): Por meio da junção entre de receptor e molécula sinal (ligante), co- nhecidos como Fas + FasL (célula T). Mas o que precisamos saber dessas vias é que, independente de qual foi ativada, as caspases resultantes dela, que atuam como desencadeadoras, ativam caspases executoras, que por ação proteolítica, ativa as endonucle- ases, enzimas que atuam na degra- dação do citoesqueleto, formando, assim, os corpos apoptóticos. Vias de ativação das caspases 20INTRODUÇÃO À PATOLOGIA Na imagem a esquerda, os círculos tracejados verme- lhos mostram células de citoplasma claro (macrófa- gos) contendo pontos pretos, que são os fragmentos de núcleos dos corpos apoptóticos fagocitados. Já na da direita, os círculos tracejados azuis mostram queratinócitos apoptóticos. Compare com os querati- nócitos vizinhos e veja que são bem diferentes. Além disso, a ausência de infl amação, outra importante diferença da necrose. FONTE: anatpat.unicamp.br respectivamente Como já vimos, a apoptose, da mes- ma forma que as adaptações, podem ser fi siológicas ou patológicas. Temo como exemplos: - Fisiológica: Apoptose nos centros germinativos dos linfonodos, na zona de proliferação dos linfócitos B, visan- do eliminar as células com erros no DNA para não ocorrer a chance dela se tornar autorreativas ao corpo; - Patológica: Ocorre nos queratinóci- tos da pele de uma pessoa que rece- beu alta incidência de luminosidade solar e, consequentemente, de radia- ção ultravioleta, sem a adequada pro- teção. FLUXOGRAMA DE APOPTOSE FISIOLÓGICA PATOLÓGICO APOPTOSE EXEMPLO: ELIMINAÇÃO DOS LINFÓCITOS REAGENTES COM ERROS NO DNA NOS CENTROS GERMINATIVOS DE LINFONODOS EXEMPLO: MORTE DE QUERATINÓCITOS DA PELE POR EXCESSO DE RADIAÇÃO UV 21INTRODUÇÃO À PATOLOGIA LESÃO CELULAR ADAPTAÇÃO MAPA FINAL ACÚMULOS DE CÁLCIO DE COAGULAÇÃO CASEOSA ALTERAÇÕES NUCLEARES APOPTOSENECROSE ALTERAÇÕES NA MEMBRANA PLASMÁTICA ALTERAÇÕES MITOCONDRIAIS DILATAÇÃO DO RE ACÚMULOS INTRACELULARES LIQUEFATIVA GORDUROSA DEFEITOS NA PERMEABILIDADE DA MEMBRANA DEGENERAÇÃO HIALINA, HIDRÓPICA, GORDUROSA E DE PIGMENTOS CAUSAS TIPOS REVERSÍVEIS IRREVERSÍVEIS HIPERTROFIA Aumento de tamanho celular HIPERPLASTIA Aumento da celularidade ATROFIA Diminuição do tamanho e número de células METAPLASTIA Alteração no tipo celular diferenciado ESTRESSE OU ESTÍMULO NOCIVO 22INTRODUÇÃO À PATOLOGIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.Robbins, Patologia Básica. Rio de Janeiro. Ed Elsevier, 9 ed. 2013. MONTENEGRO M.R. & FRANCO M. Patologia: processos gerais. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 1999. 23INTRODUÇÃO À PATOLOGIA 23INTRODUÇÃO À PATOLOGIA
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