358 pág.

Pré-visualização | Página 7 de 50
aviso reservado, censura pública Ética em Ginecologia e Obstetrícia36 em publicação oficial, suspensão do exercício profissional por até 30 dias e cassação do exercício profissional, que necessita ser referendado pelo Conse- lho Federal de Medicina.9 Além da denúncia ao CRM, o paciente ou familiar insatisfeito tem o di- reito de acionar o profissional na Justiça, nas esferas Criminal e Cível. A Ginecologia e Obstetrícia constituem a segunda especialidade mais exercida no Brasil. A área trata das fases mais significativas da vida (nasci- mento, crescimento, reprodução e envelhecimento) e, desta forma, enfren- ta dilemas éticos imprevistos em cada avanço do conhecimento médico. A existência de muitas denúncias é esperada, já que a especialidade lida com procedimentos de maior risco, ou seja, tem uma probabilidade maior de re- sultados adversos, mesmo na inexistência de falhas por parte dos médicos assistentes. Quando a formação médica é insuficiente, certamente os riscos aumentam, uma vez que a obtenção do diploma não caracteriza o final do estágio de aprendizagem, sendo necessário três anos de residência médica e, em seguida, o concurso para obtenção do Título de Especialista.2 A Obstetrícia é a especialidade que mais recebe denúncias, pois a socieda- de considera o parto um evento puramente fisiológico, sem maiores complica- ções. Assim, a perda da mãe ou de um filho representa, para a população leiga, uma atuação médica desastrosa, situação em que o conhecimento técnico do médico assistente é imediatamente colocado em dúvida e, subsequentemente, ele é denunciado perante seus órgãos normatizadores e fiscalizadores.2 A responsabilidade do médico que exerce Obstetrícia e Ginecologia é grande e, por isso, deve estar atento ao preenchimento correto do prontuário médico, ao respeito ao sigilo médico, ao cuidado com o pudor das pacientes, ao conhecimento da legislação sobre esterilização feminina e ao respeito aos direitos sexuais e reprodutivos.12,13,14 Para exercer com dignidade a especialidade, é obrigatório conhecer a fundo o Código de Ética Médica, conforme ressaltou o então presidente do CFM, Roberto Luiz D’Avila. Para ele, o código se reveste “de enorme respon- sabilidade social, na qual a conduta médica é observada e avaliada diuturna- mente”. Por isso, a profissão exige do praticante um comportamento “exem- plar, benevolente, cordial, compassivo, solidário, e, acima de tudo, com o uso da técnica adequada para cada caso. Cada médico deve seguir o Código de Conduta Moral que, ao ser infringido, resulta em punição. Tudo isso em be- nefício da sociedade”. Ética em Ginecologia e Obstetrícia 37 Referências 1. Responsabilidade [on line]. [Acessado em: 13 jul 2018]. Disponível em: http:// michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portu- guês-portugues&palavra=responsabilidade 2. Boyacian K, Jorge Filho I. Questões Ético-legais em Obstetrícia e Ginecologia no Brasil. In: Impey L. Obstetrícia e Ginecologia. São Paulo: Tecmedd editora; 2007. cap.36:247-250 3. Brasil. Conselho Federal de Medicina. Parecer nº 14, de 2017. É permitido o uso do Whatsapp e plataformas similares para comunicação entre médicos e seus pacien- tes, bem como entre médicos e médicos, em caráter privativo, para enviar dados ou tirar dúvidas, bem como em grupos fechados de especialistas ou do corpo clínico de uma instituição ou cátedra, com a ressalva de que todas as informações passa- das tem absoluto caráter confidencial e não podem extrapolar os limites do próprio grupo, nem tampouco podem circular em grupos recreativos, mesmo que compos- to apenas por médicos[on-line]. [Acessado em: 13 jul.2018] Disponível em: https:// sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/pareceres/BR/2017/14 4. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988[on-line]. [Acessado em: 13 jul.2018]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm 5. Brasil. Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957 . Dispõe sobre os Conselhos de Medi- cina, e dá outras providências[on-line]. [Acessado em: 13 jul. 2018]. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/versao_impressao.php?id= 11204 6. Brasil. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.931, de 17 de setembro de 2009. Aprova o Código de Ética Médica[on-line]. [Acessado em: 13 jul 2018]. Dis- ponível em: http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/versao_impres- sao.php?id=8822 7. Rosas CF. Ética Médica. In: Mariani Neto C, Tadini V. Obstetrícia e Ginecologia Manual para o Residente. São Paulo: Roca; 2002. cap. 1:1-10. 8. Considerações sobre a responsabilidade médica: imperícia, imprudência e negli- gência. In: Ética em ginecologia e obstetrícia (Cadernos Cremesp). 2. ed. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; 2002. Cap. 1:11. 9. Ética em Ginecologia e Obstetrícia (Cadernos Cremesp). 3. ed. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; 2004. p. 11-16. 10. Boyaciyan K, Camano L. O perfil dos médicos denunciados que exercem ginecolo- gia e obstetrícia no estado de São Paulo. Rev. Assoc. Med. Bras. 2006; 52(3):144-147. 11. Brasil. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 2.145, de 17 de maio de 2016. Aprova o Código de Processo Ético-Profissional (CPEP) no âmbito do Conselho Federal de Medicina (CFM) e Conselhos Regionais de Medicina (CRMs). Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 27 out. 2016. Seção 1:329-332.[on li- ne]. [Acessado em: 13 jul. 2018]. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/library/ modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=14076 Ética em Ginecologia e Obstetrícia38 12. Cunha SP, Meziara FC, Barbosa HF, Duarte LB, Cavalli RC, Duarte G. Ética e Leis em Ginecologia e Obstetrícia: Manual de defesa profissional. Ribeirão Preto, SP: Funpec Editora; 2005. p.113-120. 13. Kfouri Neto, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 4. ed. São Paulo: Ed. Revis- ta dos Tribunais; 2001. p. 67-98 14. Stoco, Rui. Tratado de responsabilidade civil: responsabilidade civil e sua inter- pretação doutrinária e jurisprudência. 5. ed. São Paulo: Ed Revista dos Tribunais, 2001. Ética em Ginecologia e Obstetrícia 39 2.2 A responsabilidade do médico residente introdução A Residência Médica é um período de fundamental importância na vi- da do médico. Após adquirir a teoria nos bancos acadêmicos, nesta fase de sua formação o médico residente realiza a lapidação dos seus conhecimen- tos e seu aprimoramento profissional por meio da prática. Para usufruir da profissão da melhor forma possível, é importante estabelecer preceitos éticos, para que nenhum dano macule esta época. O médico residente de Obstetrícia e Ginecologia está exposto a particu- laridades da área. Diversas são as situações que expõem os residentes a riscos que devem ser evitados por medidas de orientação e de senso comum A assistência ao parto é exemplo claro da complexidade da especialida- de, pois pode resultar no comprometimento do indivíduo e de sua inserção na sociedade. Além de dilemas neste quesito, há questões como a interrup- ção de uma gestação em casos de violência sexual, que pode expor o resi- dente a conflitos religiosos; e as falhas na relação preceptor-residente, capa- zes de resultar em atendimentos sem supervisão e seus riscos inerentes, por exemplo, durante plantões noturnos e com excesso de pacientes – o que pode comprometer o futuro de um brilhante especialista. Com o objetivo de estabelecer a função e o papel do residente numa ins- tituição de ensino, é relevante citar o artigo 1º da Lei n.º 6.932 de 07/07/81: “A Residência Médica constitui modalidade de ensino de pós-gra- duação, destinada a médicos, sob a forma de cursos de especiali- zação, caracterizada por treinamento em serviço, funcionando sob Ética em Ginecologia e Obstetrícia40 a responsabilidade de instituições de saúde, universitárias ou não, sob a orientação de profissionais médicos de elevada qualificação ética