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PCI Sistema Urinário João Pedro Cortez M3 – 2018.1 Faculdade de Medicina da UFRJ Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 2 Sumário Anatomia .............................................................................................................. 3 Anatomia do Sistema Urinário ................................................................... 3 Histologia ........................................................................................................... 16 Histologia dos Rins ................................................................................... 16 Histologia das Vias Urinárias ..................................................................... 41 Embriologia ........................................................................................................ 49 Morfogênese dos Rins e das Vias Urinárias .............................................. 49 Fisiologia ............................................................................................................ 54 Homeostase, Fluidos do Organismo e Visão Morfofuncional do Rim ....... 54 Hemodinâmica e Filtração Glomerular .................................................... 67 Função Tubular: Reabsorção e Secreção .................................................. 79 Papel do Rim na Regulação do Volume e da Tonicidade .......................... 95 Diuréticos .............................................................................................. 106 Papel do Rim na Regulação do pH .......................................................... 111 Outros Sistemas Hormonais dos Rins ..................................................... 117 Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 3 Anatomia do Sistema Urinário Anatomia – Paulo Castro – 23 de Março de 2018 1. Anatomia dos Rins Caso Clínico 1: Mulher, 56 anos, procurou clínico geral para exames de rotina. Ao exame físico, não apresentou alteração digna de nota. Apesar de estar assintomática, ao realizar ultrassonografia abdominal total, identificou-se: - “rins tópicos com imagem nodular hipoecóica (reflete pouco as ondas do ultrassom) em terço inferior de rim direito, medindo cerca de 52mm x 46mm, apresentando área de degeneração interna”. Encaminhada ao urologista, realizou tomografia computadorizada a qual evidenciou: - “formação expansiva medindo cerca de 55mm x 50mm nos seus maiores diâmetros axiais, apresentando densidade heterogênea e impregnação irregular por meio de contraste venoso, localizada em polo inferior de rim direito”. A Ressonância Magnética (em corte coronal), solicitada para melhor planejamento cirúrgico, apresentou laudo com características semelhantes. Foi indicada nefrectomia radical direita (retirada do rim direito) com diagnóstico histopatológico pós-operatório de carcinoma de células renais. 1.1 Localização Anatômica, Disposição e Dimensão dos Rins Partindo da localização anatômica, os rins estão em uma região do abdômen que chamamos de retroperitônio. O nome por si só já indica: os rins estão localizados atrás do peritônio. Para relembrar, imaginemos o abdômen como uma caixa, e o peritônio como um saco plástico que envolve o interior da caixa. Entre o saco plástico e a caixa, temos o retroperitônio, localização anatômica dos rins direito e esquerdo. Normalmente, eles se localizam adjacentes à parede posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral (podem haver algumas variações anatômicas que ainda serão abordadas). De forma geral, os dois rins se encontram entre a 12ª vértebra torácica e a 3ª vértebra lombar (de T12 a L3). O hilo renal esquerdo se localiza perto do plano transpilórico (plano obtido ao nível do piloro do estômago) e a cerca de 5cm do plano mediano corporal. O plano transpilórico atravessa o polo superior do rim direito, que está por volta de 2,5 cm mais baixo do que o polo esquerdo, provavelmente por causa do fígado (o fígado como que “empurra” inferiormente o rim direito). Posteriormente, os rins fazem relação com a décima primeira ou décima segunda costelas. Quanto à disposição dos rins, eles não ficam totalmente retos no abdômen, estão ligeiramente girados tanto no eixo longitudinal quanto no transversal. Eles ficam meio que repousados na coluna vertebral e na musculatura da parede posterior do abdômen em uma posição oblíqua. O Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 4 eixo longitudinal de cada rim é direcionado inferolateralmente, e o eixo transversal é direcionado posteromedialmente. Podemos notar a relação dos rins com a musculatura em corte transversal, e fica mais nítido a disposição oblíqua desses órgãos em corte coronal, repousados na coluna vertebral e na musculatura da parede posterior do abdômen. É interessante notar que os rins não ficam parados o tempo todo. Tanto a respiração quanto alguns movimentos posturais podem modificar o nível dos rins. De forma geral, cada rim move-se de 2 a 3 cm em direção vertical durante o movimento do diafragma na respiração profunda. O polo inferior do rim direito está aproximadamente a um dedo superior da crista ilíaca (essa noção será importante para algumas manobras de apalpamento e para procedimentos de acesso –biópsia, drenagem de urina- que serão abordadas mais afrente). Quanto a dimensão dos rins, cada um mede cerca de 10cm de comprimento, 5cm de largura e 2,5cm de espessura. São órgãos relativamente pequenos se considerarmos seus grandes papéis filtradores e endócrinos. O rim esquerdo pode ser ligeiramente maior que o rim direito, mas é raro que o oposto aconteça. Um rim pode crescer na tentativa de compensar o desempenho fisiológico perdido do outro rim que encontra-se eventualmente disfuncional (devido a uma infecção renal, por exemplo). Esse rim contralateral que cresce é chamado na medicina de rim vicariante. 1.2 O Seio e o Hilo Renais Na região medial côncava do rim há uma fenda vertical que recebe o nome de hilo renal. O hilo é a entrada de um espaço no rim, o chamado seio renal. O hilo seria, então, a entrada para um espaço, e o espaço em si seria o seio renal. Na região do hilo vão entrar as estruturas vasculares do rim, isto é, as artérias que irrigam o órgão e as veias que drenam o sangue filtrado. Na região do seio renal, existe a pelve renal, estrutura que vai originar o ureter, tubo que veiculará a urina para fora do órgão, passando também através do hilo renal. Além disso, nervos também acessam o órgão através do hilo renal. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 5 1.3 Relações Anatômicas dos Rins O rim direito faz relação anterior com o fígado, com o duodeno, com o cólon ascendente e com o intestino delgado (principalmente com o íleo). Já o rim esquerdo faz relação anterior com o estômago, com o baço, com o pâncreas (sobretudo com o corpo e com a cauda), com o jejuno e com o cólon descendente. Posteriormente, os rins fazem relação com a musculatura da parede posterior do abdômen. São três os músculos: o psoas maior (em uma região medial), o quadrado lombar (em uma região intermediária) e o transverso do abdômen (em uma região mais lateral). 1.4 O Córtex e a Medula Renais Basicamente, temos duas diferentes regiões anatômicas nos rins: o córtex e a medula. A região da medula é relativamente mais clara, e contém estruturas com o formato parecido com uma pirâmide, com a base voltada para a periferia e o ápice convergindo para o seio renal. As pirâmides renais se projetam por meio das papilas renais no sentido de drenar a urina produzida para os cálices (inicialmente cálices menores e depois cálices maiores), para, então, drenarem para a pelve renal. A pelve renal origina o ureter, que veicula a urina para fora do rim. Já a parte mais periférica do rim recebe o nome de córtex. Ele está abaixo da cápsula (portantoem posição subcapsular), mas também se arqueia entre as pirâmides, dando origem às chamadas colunas renais. Mais referente à histologia, sabe-se que as áreas de córtex da periferia do rim são atravessadas radialmente por um tecido mais claro que compõe os raios medulares. O tecido escuro adjacente contém principalmente a porção contorcida dos néfrons. Esses raios se afunilam na direção da cápsula renal, e são como prolongamentos das bases das pirâmides renais. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 6 1.5 Sistema Coletor de Urina ou Sistema Pielocalicial Das papilas renais (projeções das pirâmides renais), há drenagem para os cálices menores (geralmente de dois a três), que se fundirão e formarão os cálices maiores. Os cálices maiores, por sua vez, originarão a pelve renal, que se afunila e forma o ureter. A urina é assim gradualmente drenada para ser consequentemente eliminada. Pirâmides Renais → Papilas Renais → Cálices Menores → Cálices Maiores → Pelve Renal → Ureter 1.6 Vascularização Arterial, Venosa e Linfática dos Rins Quanto à vascularização arterial, as artérias renais esquerda e direita são ramos diretos da aorta, na altura de L1 ou L2. A artéria renal direita é mais longa devido ao posicionamento mais à esquerda da artéria aorta, o que faz com que ela tenha que contornar posteriormente a veia cava inferior para acessar o rim direito. Cada artéria tipicamente se divide ao nível do hilo renal em cinco artérias segmentares, que são artérias terminais que vão vascularizar o rim. Essas artérias não fazem anastomoses entre si, e, por isso, podemos clampeá-las e realizar uma ressecção de regiões do rim em procedimentos de nefrectomia parcial. A vascularização arterial mais comum do rim é realizada por uma artéria do segmento superior (ou artéria apical), uma artéria do segmento anterior superior, uma artéria do segmento anterior inferior, uma artéria do segmento inferior e uma artéria do segmento posterior. No entanto, existem variações anatômicas relativamente comuns (cerca de 30% das pessoas podem apresentar alguma dessas alterações). É bastante frequente que pacientes apresentem artérias polares, artérias que partem de uma região mais proximal da artéria renal (cerca de 13% das pessoas) ou até mesmo da própria aorta (cerca de 7%) e irrigam diretamente um polo renal, podendo ser polo superior ou inferior (cerca de 5%). Podemos Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 7 encontrar também duas artérias renais irrigando o rim (cerca de 10%). Geralmente essas variações anatômicas não causam qualquer prejuízo, mas precisam ser bem descritas no caso da realização de procedimentos cirúrgicos. No entanto, em algumas situações essas variações podem acarretar problemas, como por exemplo uma situação em que a artéria polar inferior cruza o ureter e o obstrui. Novamente referente à histologia, as artérias renais dão origem, então, às artérias segmentares. Essas últimas dão origem a artérias interlobares, cuja ramificação origina as artérias arqueadas. As artérias arqueadas dão origem a artérias interlobulares, para, depois, originarem as arteríolas aferentes. As veias, da mesma forma, partem de veias interlobulares, que são tributárias de veias arqueadas, que, por sua vez, originam veias interlobares. As veias interlobares confluem para a formação da veia renal, que veicula o sangue para fora do rim, em direção à veia cava inferior. Quanto à vascularização venosa, as veias renais direita e esquerda, em semelhança às artérias renais, também têm diferentes tamanhos. A veia renal esquerda é cerca de três vezes maior que a direita devido ao posicionamento da veia cava inferior mais para o lado direito do corpo. Esse é o motivo para o rim esquerdo ser o lado preferencial de nefrectomia de doador vivo. Paralelamente, a veia renal esquerda pode ser ligada por mais tempo durante a cirurgia para aneurisma aórtico, por exemplo, justamente porque ela detém drenagem colateral através das veias gonadal, suprarrenal e frênica inferior. Já a veia renal direita não apresenta drenagem colateral significante. A veia renal esquerda atravessa um ângulo agudo entre a artéria mesentérica superior e a porção abdominal da aorta. Em algumas situações, a AMS pode comprimir a veia renal esquerda, originando a Síndrome de Compressão da Veia Renal ou Síndrome de Quebra Nozes. Existem manifestações clínicas típicas dessa síndrome, como a hematúria (presença de sangue na urina) e a proteinúria (presença de proteínas na urina), quadros presentes devido sobretudo a um dano renal. Como o rim não consegue drenar seu sangue adequadamente, a pressão interna no órgão aumenta, e isso pode gerar um dano ao parênquima renal. A distensão da cápsula renal pode também levar a dor no flanco esquerdo. A compressão do duodeno ocasionado pela distensão renal pode também gerar náusea e vômito. A dor testicular esquerda em homens também está presente devido principalmente à distensão da veia gonadal. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 8 Já quanto à vascularização linfática dos rins, os vasos linfáticos acompanham as veias renais e drenam para linfonodos lombares direitos e esquerdos (cavais e aórticos). 2. Algumas Correlações Clínicas Caso Clínico 2: Mulher, 31 anos, deu entrada em serviço de emergência apresentando dor lombar alta esquerda, astenia (fraqueza, cansaço), queda do estado geral e febre alta (40ºC). Alegava que o quadro teve início há 7 dias, sem melhora mesmo com o uso de antibióticos para “infecção urinária”. Refere passado recente de cistite infecciosa não tratada. O hemograma de emergência revelou leucocitose significativa (aumento do número de leucócitos). Indicada tomografia abdominal, foi identificada imagem sugestiva de volumoso abscesso renal e perirrenal à esquerda, com lesão de praticamente todo parênquima do órgão. Foi indicada nefrectomia de urgência. 2.1 Palpação Renal Muitas vezes os rins são impalpáveis; na semiologia, geralmente palpamos apenas o fígado e o baço. No entanto, em adultos mais magros, o polo inferior do rim direito é palpável por exame bimanual como uma massa firme, lisa, arredondada, que desce durante a inspiração. A palpação do rim direito é possível porque ele está 1 a 2 cm inferior ao esquerdo. O rim esquerdo geralmente não é palpável, exceto se estiver aumentado ou se houver uma massa retroperitoneal que esteja causando seu deslocamento inferior. Para palpar os rins, pressione o flanco (a lateral do tronco entre as costelas XI e XII e a crista ilíaca) anteriormente com uma mão e ao mesmo tempo palpe profundamente na margem costal com a outra mão. Durante esse procedimento, peça para o paciente realizar uma inspiração profunda. A manobra de Giordano é uma manobra realizada no paciente sentado, em que se faz uma leve percussão na altura da loja renal. Caso essa manobra desencadeie dor intensa, isso significa que está havendo distensão da cápsula renal, que pode ser causada, por exemplo, por uma pielonefrite ou uma hidronefrose. A manobra de Giordano, então, é um dispositivo que pode ser utilizado no sentido de auxiliar o diagnóstico diferencial. Além disso, a extensão da articulação do quadril também pode aumentar a dor causada pela inflamação nas áreas pararrenais, justamente porque esse movimento mobiliza a musculatura da parede posterior abdominal, como o ílio-psoas, por exemplo. 2.2 Ptose Renal Como as lâminas da fáscia renal não apresentam fusão firme inferiormente para oferecer resistência, rins anormalmente móveis podem descer mais do que os 3 cm normais quando o corpo está ereto. Quando os rins descem, as glândulas suprarrenais permanecem no lugar porque estão situadas em um compartimento fascial separado e firmemente fixadas ao diafragma. A ptose renal é distinguida do rim ectópico (localização incorreta congênita do rim) por umureter de comprimento normal que tem espirais frouxas ou dobras porque houve redução da distância até a bexiga urinária. A dor intermitente na região renal, aliviada pela posição de decúbito, parece resultar da tração dos vasos renais. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 9 2.3 Transplante Renal O transplante renal é agora a opção preferida para o tratamento de casos selecionados de insuficiência renal crônica (a sobrevida e a qualidade de vida são maiores do que realizar hemodiálise constante). O rim pode ser removido do doador sem lesar a glândula suprarrenal devido ao fraco septo de fáscia renal que separa o rim dessa glândula. O local para transplante de um rim é a fossa ilíaca da pelve maior. Esse local sustenta o rim transplantado, de modo que não haja tração dos vasos anastomosados cirurgicamente. A artéria e a veia renais são unidas à artéria e veia ilíacas externas, respectivamente, e o ureter é suturado à bexiga urinária. A ausência de sustentação inferior para os rins na região lombar é uma das razões para o posicionamento de rins transplantados na fossa ilíaca da pelve maior. Outras razões para esse posicionamento são a disponibilidade de grandes vasos sanguíneos e o acesso conveniente à bexiga urinária próxima. 2.4 Cistos Renais Os cistos renais, múltiplos ou solitários, são achados comuns durante ultrassonografia, se tornando mais comuns com o passar dos anos. A doença renal policística do adulto é uma causa importante de insuficiência renal (podendo levar a indicação de transplante). É herdada como um traço autossômico dominante. Os rins estão muito aumentados e distorcidos por cistos de até 5 cm. 2.5 Anomalias Congênita dos Rins e dos Ureteres Pelve renal e ureter bífidos são condições bastante comuns. Essas anomalias resultam da divisão do broto uretérico (divertículo metanéfrico), o primórdio da pelve renal e ureter. A extensão da duplicação ureteral depende da integridade da divisão embrionária do broto uretérico. Pelve renal e/ou ureter bífidos podem ser unilaterais ou bilaterais. Entretanto, aberturas separadas na bexiga urinária são raras. A divisão incompleta do broto uretérico resulta em ureter bífido. A divisão completa resulta em rim supranumerário (mais de dois rins). Uma anomalia rara é um ureter retrocaval, que deixa o rim e segue posteriormente à VCI (contorna posteriormente a VCI). Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 10 Os rins estão próximos na pelve embrionária e se deslocam superiormente ao longo do desenvolvimento do embrião. Em aproximadamente 1 em 600 fetos, os polos inferiores (raramente, os polos superiores) dos rins fundem-se para formar um rim em ferradura. Esse rim em formato de U geralmente está no nível das vértebras L3 a L5, porque a raiz da artéria mesentérica inferior impediu a migração normal do rim. O rim em ferradura geralmente não causa sintomas, entretanto, podem haver anormalidades associadas do rim e da pelve renal, obstruindo o ureter. Às vezes, o rim embrionário de um ou ambos os lados não se deslocam normalmente, entrando no abdome e situando-se anteriormente ao sacro. Embora seja raro, o conhecimento da possibilidade de um rim pélvico ectópico deve evitar que seja confundido com um tumor pélvico e removido. O rim pélvico em uma mulher também pode ser lesado ou causar obstrução durante o parto. Os rins pélvicos geralmente recebem sua vascularização da bifurcação aórtica ou de uma artéria ilíaca comum. Há a possibilidade também de encontrarmos um rim ectópico intratorácico. O rim único é visto de 1 a cada 1200 indivíduos, que geralmente apresenta uma hipertrofia compensatória (é um rim vicariante). No entanto, apesar da hipertrofia, a expectativa de vida de indivíduos com rim único é a mesma daquele com dois rins. 3. Anatomia do Ureter Caso Clínico 3: Homem, 22 anos, deu entrada no serviço de emergência queixando-se de intensa dor em cólica, à direita, irradiada para testículo ipsilateral, associada a vômitos e náuseas. O paciente não apresentava posição antálgica (qualquer posição adotada por um paciente na qual a dor é minorada ou desaparece por completo). Na ausência de tomografia computadorizada foi solicitada urografia excretora, que identificou imagem sugestiva de cálculo uretral na altura de L4, causando obstrução no trato urinário a montante (acima do cálculo), medindo aproximadamente 9mm. O paciente não respondeu à medicação analgésica endovenosa, motivando litotripsia transureteroscópica de urgência (quebra do cálculo através de ondas sonoras). Urografia excretora, em fase inicial, evidenciando cálculo ureteral em topografia de L4 (seta) (A) causando dilatação ureteral a montante (setas) (B). Observam-se o ureter e o sistema pielocalicial contralaterais de dimensões normais. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 11 O ureter é um ducto essencialmente muscular, com um lúmen relativamente estreito, onde a urina vai ser drenada (advinda dos cálices menores, maiores e da pelve renal). O ureter tem contrações peristálticas que carregam a urina dos rins em direção à bexiga urinária, tendo de 25 a 30cm de comprimento e 3mm de diâmetro. Essas contrações peristálticas são o motivo pelo qual a dor renal é uma dor em cólica (uma dor que tem cerca alternância, aumentando ou reduzindo devido ao grau de contração muscular do segmento). Fisiologicamente, o ureter tem regiões mais estreitas, que são sítios preferenciais para o aprisionamento de cálculos renais. São três: (1) na junção dos ureteres e pelves renais, na chamada junção pieloureteral, (2) onde os ureteres cruzam a margem da abertura superior da pelve, (3) na passagem através da parede da bexiga urinária. 3.1 Cálculos Renais e Ureterais Os cálculos podem ser de diferentes composições, sendo formados por sais de ácidos inorgânicos, sais de ácidos orgânicos ou por outros materiais. É importante investigar a composição do cálculo para se diagnosticar distúrbios metabólicos que podem estar relacionados com a formação específica dessas massas. A depender do tipo de cálculo, podemos ter condutas médicas diferentes: se for um cálculo pequeno, ele pode ser drenado de maneira natural; se for grande, ele precisa ser cirurgicamente retirado. Os cálculos podem se formar e se localizar nos cálices renais, nos ureteres ou na bexiga urinária. Da mesma forma, um cálculo renal formado no rim pode passar para a pelve renal e, depois, para o ureter. O cálculo que ocupa toda a extensão da pelve é dito um cálculo corariforme (semelhante a um coral). Se o cálculo for cortante ou maior do que o lúmen normal do ureter (de cerca de 3mm), ele causa distensão excessiva desse tubo muscular fino. Isso causará forte cólica ureteral quando ele for empurrado gradualmente no ureter por ondas de contração. O cálculo pode causar obstrução completa ou intermitente do fluxo urinário. Dependendo do nível de obstrução, a dor pode ser referida para a região lombar ou inguinal, ou para os órgãos genitais externos e/ou testículo. A nefroscopia é um método em que os cálculos ureterais podem ser observados ou removidos com um nefroscópio, introduzido na pele. Outro método de semelhante função é a ureteroscopia, em que há introdução do aparelho via uretra. Já a litotripsia é uma técnica que concentra uma onda de choque através do corpo que quebra o cálculo em pequenos fragmentos que serão eliminados com a urina. 3.2 A Inervação Renal e Ureteral Os nervos para os rins originam-se do plexo nervoso renal, que é formado tanto por fibras simpáticas quanto por parassimpáticas. O plexo é suprido por fibras dos nervos esplâncicos abdominopélvicos. Já os nervos da parte abdominal dos ureteres provêm dos plexos renal, aórtico abdominal e hipogástrico superior. Pode-se apresentar dor referida (em que diferentes neurônios de diferentes localizações anatômicas convergempara um mesmo trato da medula espinal e consequentemente para um mesmo lugar no córtex, o que pode fazer-nos confundir a dor naquele local visceral com dores na pele, em dermátomos Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 12 correspondentes). As fibras aferentes viscerais que conduzem a sensação de dor (por exemplo, causada por obstrução e consequente distensão) acompanham as fibras simpáticas retrógradas até os gânglios sensitivos espinais e segmentos medulares T11-L2. A dor segue em sentido inferoanterior “da região lombar para a região inguinal” quando o cálculo atravessa o ureter, podendo se estender até a face anterior proximal da coxa por projeção através do nervo genitofemoral (L1, L2), o escroto em homens e os grandes lábios em mulheres. 4. Anatomia da Bexiga Caso Clínico 4: Homem, 65 anos, afro-descendente, pintor, tabagista de 2 maços de cigarro/dia há 30 anos, procurou urologista queixando-se de segundo episódio de hematúria (urina com sangue) no período de um mês. O primeiro há 30 dias e o segundo anteontem. Nas duas situações foi medicado com antibióticos para infecção do trato urinário – apesar de não apresentar disúria (dor ao urinar) em nenhuma das situações – com melhora do quadro. Foi solicitado EAS (pesquisa de Elementos Anormais e Sedimentos urinários), que revelou hematúria microscópica (90 a 100 hemácias por campo – VC: até 2 hem/campo) e urografia excretora, que não revelou alterações. Os exames, ultrassonografia das vias urinárias e a uretrocistocopia, demonstraram lesão vegetante única em assoalho de bexiga, próxima à parede posterior, sugestiva de tumor vesical. Após exames pré-operatórios e estadiamento do tumor, foi submetido a ressecção transuretral de bexiga (RTU de bexiga) com diagnóstico de carcinoma de células transicionais, sem invasão de músculo detrusor. 4.1 Função e Localização Anatômica da Bexiga A bexiga é uma víscera oca com fortes paredes basicamente musculares (músculo detrusor), caracterizada por grande distensibilidade. Ela é um reservatório temporário de urina e varia em tamanho, formato, posição e relações anatômicas de acordo com seu conteúdo e com o estado das vísceras adjacentes. Quando vazia, a bexiga urinária no adulto está localizada na pelve menor, situada parcialmente superior e parcialmente posterior aos ossos púbicos. A bexiga é separada dos ossos púbicos pelo espaço retropúbico (espaço de Retzius). Ela situa-se principalmente inferior ao peritônio. Está apoiada sobre o púbis e a sínfise púbica anteriormente. Em homens, está apoiada sobre a próstata, e, em mulheres, na parede anterior da vagina, posteriormente. 4.2 As Regiões da Bexiga e Relações Anatômicas Quando vazia, a bexiga urinária tem um formato quase tetraédrico, e, externamente, é subdividida em ápice (mais anterior e superior), corpo (região mais inferior onde se encontra o óstio que recebe o ureter), fundo Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 13 (mais posterior) e colo (mais inferior). As quatro superfícies da bexiga urinária (superior, duas inferolaterais e posterior) são aparentes na bexiga urinária vazia e contraída, semelhante a um barco. O leito da bexiga é formado pelas estruturas que têm contato direto com ela. De cada lado, estão em contato com as faces inferolaterais: os ossos do púbis, a fáscia que reveste o músculo levantador do ânus e a parte superior do músculo obturador interno. Nos homens, o fundo da bexiga é separado do reto centralmente pelo septo retovesical fascial e lateralmente pelas glândulas seminais e ampolas dos ductos deferentes. Nas mulheres, o fundo da bexiga tem relação direta com a parede anterossuperior da vagina. A bexiga urinária está relativamente livre no tecido adiposo subcutâneo extraperitoneal, exceto por seu colo. Ele é fixado firmemente pelos ligamentos laterais vesicais e o arco tendíneo da fáscia da pelve, pelo ligamento puboprostático em homens e pelo ligamento pubovesical em mulheres. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 14 Nas mulheres, a face posterior a bexiga urinária está diretamente apoiada na parede anterior da vagina. A fixação lateral da vagina ao arco tendíneo da fáscia da pelve, o paracolpo, é um fator indireto. O ápice da bexiga é unido ao umbigo pelo remanescente do úraco, que forma o ligamento umbilical mediano. A parede vesical é formada por três camadas principais: a mucosa, a submucosa e a muscular (com uma camada longitudinal interna, uma camada circular intermediária e uma camada longitudinal externa). Esse entrelaçamento de camadas ajuda na distensibilidade e na contração da bexiga. 4.3 Anatomia Interna da Bexiga Os dois óstios do ureter e o óstio interno da uretra formam os ângulos do trígono da bexiga. Eles são circundados por alças do músculo detrusor que se contraem para evitar o refluxo de urina para o ureter. A úvula da bexiga é uma pequena elevação no centro do trígono, e geralmente é mais proeminente em homens idosos em razão do aumento do lobo posterior da próstata. 4.4 Vascularização Arterial, Venosa e Linfática da Bexiga Caso Clínico 5: Homem, 34 anos, deu entrada no serviço de emergência por acidente automobiístico apresentando sinais de hemorragia aguda e anúria. Após cateterismo vesical, não foi verificada a presença de urina na bexiga. Submetico a Tomografia Computadorizada de pelve com meio de contraste venoso, evidenciou- se imagem sugestiva de fratura de ramo púbico superior esquerdo, asa ilíaca esquerda e lesão de cúpula vesical, com extravasamento do meio de contraste para o espaço extraperitoneal e cavidade peritoneal. Submetido a laparotomia exploradora, foi identificada extensa lesão de parede superior da bexiga, realizou- se a rafia da lesão e estabilização ortopédica das fraturas com sucesso. Quanto à vascularização arterial, as principais artérias que irrigam a bexiga urinária são ramos das artérias ilíacas internas. As artérias vesicais superiores irrigam as partes anterossuperiores. Nos homens, as artérias vesicais inferiores irrigam o fundo e o colo da bexiga. Nas mulheres, as artérias vaginais substituem as artérias vesicais inferiores, enviando pequenos ramos para as partes posteroinferiores da bexiga. A artéria obturatória e glútea inferior também enviam pequenos ramos para a bexiga urinária. Quanto à vascularização venosa, as veias que drenam a bexiga urinária correspondem às artérias e são tributárias das veias ilíacas internas. Nos homens, o plexo venoso vesical é contínuo com o plexo venoso prostático, e o conjunto de plexos associados envolve o fundo da bexiga e a próstata, as glândulas seminais, os ductos deferentes e as extremidades inferiores dos ureteres. Também recebe sangue da veia dorsal profunda do pênis, que drena para o plexo venoso prostático. O plexo venoso vesical é a rede venosa que tem associação mais direta à própria bexiga urinária. Drena principalmente através das veias vesicais inferiores para as veias ilíacas internas; entretanto, pode drenar através das veias sacrais para os plexos venosos vertebrais internos. Nas mulheres, o plexo venoso vesical envolve a parte pélvica da uretra e o colo da bexiga, recebe sangue da veia dorsal do clitóris e comunica-se com o plexo venoso vaginal ou uterovaginal. Quando à vascularização linfática, os vasos linfáticos que drenam a bexiga começam nos plexos mucosos, intermuscular e extramuscular. Existem três grupos de vasos coletores, a maioria terminando nos linfonodos ilíacos externos. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 15 4.5 Mecanismos Anatômicos que Impedem o Refluxo Vesicoureteral Os ureteres passam obliquamente através da parede muscular da bexiga urinária em direção inferomedial, formando uma “válvula” unidirecional. A pressão interna ocasionada pelo enchimento da bexiga urinária causa o fechamento da passagem intramural. Além disso, as contrações da musculaturavesical atuam como esfíncter, impedindo o refluxo de urina para os ureteres quando a bexiga urinária se contrai, o que aumenta a pressão interna durante a micção. 5. Anatomia da Uretra Caso Clínico 6: Mulher, 53 anos, foi encaminhada à urologia em função de perda involuntária de urina ao realizar esforços (incontinência urinária de esforço – IUE). A paciente referiu que ao tossir, espirrar, levantar objetos pesados e gargalhar ocorrem pequenas perdas urinárias em sua roupa íntima. Após a realização de um diário miccional e teste de esforço ambulatorial, a paciente foi encaminhada para avaliação urodinâmica invasica evidenciando IUE grave. O médico urologista optou pela correção cirúrgica da IUE por implante de sling sintético suburetral por via transobturatória. A uretra masculina é dividida em quatro partes: a (1) intramural (ou pré-prostática) detém de 0,5 a 1,5cm e é circundada pelo esfíncter interno da uretra. A (2) prostática detém de 3 a 4 cm e é onde os tratos urinários e reprodutivo se fundem, correspondendo a parte mais larga e mais dilatável da uretra. Já a (3) membranácea detém de 1 a 1,5cm e é circundada pelo esfíncter externo da uretra, correspondendo à parte mais estreita e menos distensível da uretra. Por fim, a (4) esponjosa detém cerca de 15cm e possui duas dilatações (a fossa intrabulbar, mais proximal, e a fossa navicular, mais distal), correspondendo à parte mais longa e mais móvel da uretra. Já a uretra feminina possui cerca de 4cm de comprimento e 6mm de diâmetro, apresentando somente as porções intramural e membranácea. Ela segue anteroinferiormente do óstio interno da uretra na bexiga urinária, posterior e inferior à sínfise púbica, até o óstio externo da uretra. A musculatura que circunda o óstio interno da uretra da bexiga urinária feminina, ao nível da uretra (1) intramural, não está organizada em um esfíncter interno. Já o esfíncter externo se dispõe na porção (2) membranácea. O óstio externo da uretra feminina está localizado no vestíbulo da vagina, a fenda entre os lábios menores dos órgãos genitais externos, diretamente anterior ao óstio da vagina. Alguns fatores anatômicos estão associados à maior incidência de infecções do trato urinário inferior no sexo feminino: a uretra menor, a proximidade com o ânus e a proximidade com a vagina. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 16 Histologia dos Rins Histologia – Marcelo Narciso – 19 de Março de 2018 1. Introdução ao Sistema Urinário e suas Funções Durante o estudo de histologia do Sistema Urinário, precisamos dar a prioridade ao estudo dos dois órgãos fundamentais para a fisiologia do sistema. Os Rins têm uma série de particularidades histológicas, anatômicas e fisiológicas. A eles estão ligadas vias de condutos que drenam a urina e a levam para ser eliminada no meio externo. Esses condutos recebem genericamente o nome de Vias Urinárias e serão revisitadas no próximo estudo, dizendo respeito à porção inicial da pelve renal, aos ureteres (ductos que interligam os rins à bexiga), à bexiga (um reservatório urinário) e à uretra (via excretora de urina, tendo características diferenciais nos dois sexos). Mas, antes de abordarmos a histologia das Vias Urinárias, precisamos dar uma atenção especial à complexa histologia dos Rins. Os Rins são órgãos com diferentes funções, norteadas sobretudo pela (1) formação da urina. A urina é um composto decorrente da filtração de inúmeros elementos da corrente sanguínea. O sangue, em alta pressão nos capilares renais, força algumas substâncias que fisiologicamente não devem mais permanecer na circulação para ductos que as excretarão no sentido dessas substâncias serem devidamente eliminadas na urina. A formação da urina envolve a formação de um filtrado glomerular que vai sendo transformado gradativamente ao nível de túbulos que constituem as unidades morfofuncionais dos rins, os chamados túbulos uriníferos. A passagem do filtrado pelos segmentos desses túbulos faz com que ele receba e dele seja retirado uma série de substâncias lançadas ou reabsorvidas em seu lúmen. O resultado final é a formação da urina nos segmentos finais dos túbulos, que será então drenada por um sistema de ductos que constituem as Vias Urinárias e que levarão o líquido ao meio externo. Consequentemente, os Rins são fundamentais na (2) regulação do volume da água corporal. Durante os mecanismos fisiológicos do organismo, há uma troca bastante significativa entre os compartimentos intravascular e extravascular, sendo que o excedente de líquido precisa ser eliminado, e, caso não haja excesso, esse líquido precisa ser preservado. Esse controle de excreção e de preservação (e, portanto, esse controle de (3) manutenção do líquido extracelular) é feito em grande parte pelos rins, e será melhor visto durante as aulas do curso de Fisiologia. Adicionalmente, o corpo humano é altamente susceptível a balanços na concentração de ácidos e de bases sobretudo com o balanço de íons próton e de íons bicarbonato produzidos pela célula. Isso alteraria o pH do interstício e do sangue caso não houvesse um (4) equilíbrio ácido-base sistêmico, que, em grande parte, é proporcionado pelo sistema renal. Já com relação às Vias Urinárias, elas detêm a função de (1) conduzir e também de (2) armazenar (sobretudo ao nível da bexiga urinária) a urina. Além disso, o segmento da uretra tem a função de (3) eliminá-la para o meio externo através do processo da micção. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 17 2. Estrutura Geral dos Rins 2.1 Aspectos Gerais Nesse esquema, percebemos o rim como um órgão muito característico que chama atenção pelo seu formato. Cada rim tem um clássico formato em grão de feijão, com uma superfície côncava onde se encontra uma reentrância, o hilo renal, e uma superfície convexa em oposição. É um órgão situado em posição retroperitonial, atrás do peritônio, e, portanto, aderido a uma superfície interna da parede dorsal do abdômen. Ele é fixado a essa superfície através de uma área de Tecido Adiposo Unilocular que compõe a cápsula perirrenal. Essa cápsula adiposa reveste a cápsula do rim, que, enquanto um órgão parenquimatoso, também tem uma estrutura glandular (o rim é de estruturação basicamente epitelial). Veremos a seguir que o rim tem uma organização tubular (o que daria a ele a configuração de Glândula Tubulosa Mucosa). Essa classificação, no entanto, não está muito presente em livros porque o rim tem propriedades muito específicas que o levam para além de sua configuração glandular. É um órgão que, apesar de suas funções glandulares secundárias, tem sua função primordial estruturada ao redor dos eventos da filtração e da excreção. O rim, então, é recoberto por uma cápsula de Tecido Conjuntivo Denso Modelado a ser percebida em alguns cortes histológicos (eventualmente ela não se faz presente porque precisamos removê-la para melhorar a fixação dos corantes). A olho nu, o rim tem duas regiões bem delimitadas em seu parênquima, duas regiões básicas: uma região periférica, o córtex, mais intensamente corada, e uma região mais interna, a medula, mais palidamente corada. Na região da medula observamos subdivisões em formato triangular, as chamadas pirâmides renais ou pirâmides de Malpighi. A base dessas pirâmides é voltada para o córtex e seu ápice é voltado para as primeiras regiões coletoras dos rins, os cálices menores. Os cálices menores são subdivisões dos cálices maiores, estruturas que se unem e que formam a pelve renal, estrutura que origina o ureter. A pelve renal ocupa um espaço interno conhecido como seio renal, cuja entrada se dá através do hilo renal. O hilo renal é a abertura propriamente dita através da qual há saída do ureter, além da passagem dos vasos renais, a artéria renal e a veia renal. Cada cálice menor está acoplado ao ápice de uma pirâmide renal em uma estrutura denominada papila renal. A base contralateral está voltadapara o córtex, e veremos mais adiante que dela partem faixas perpendiculares à superfície do rim, projeções do parênquima medular em direção ao parênquima cortical, os chamados raios medulares. Os túbulos uriníferos constituem as unidades morfofuncionais dos rins, e se distribuem ao longo da estrutura das regiões do córtex e da medula renais. Esses túbulos têm natureza epitelial, e é justamente isso que faz com que o rim tenha configuração epitelial glandular. Essa configuração suscitaria a se pensar que o rim fosse subdividido em lobos e lóbulos renais. Essa subdivisão, de fato, existe, mas não há uma nitidez característica como em outras glândulas. A subdivisão em lobos e lóbulos se faz somente com base na passagem dos túbulos e de vasos sanguíneos através do parênquima renal. Um lobo renal é uma área de uma pirâmide renal acompanhada de seu córtex adjacente. Já a classificação em lóbulos renais será comentada mais adiante (tópico 2.2). Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 18 Por entre as pirâmides renais ou pirâmides de Malpighi passam ramos vasculares que serão responsáveis diretos pela divisão do parênquima em lobos e lóbulos, como será mais adiante falado. No entanto, por entre as pirâmides também percebemos que, embora tenhamos áreas de córtex externo, temos também a presença de parênquima cortical entre elas, regiões que recebem o nome de colunas renais ou colunas de Bertin. Há de se ressaltar que o ápice de cada pirâmide está voltado para um cálice menor, e lá há desembocadura dos últimos segmentos tubulares dos túbulos uriníferos, através da chamada papila renal. Segmentos terminais dos túbulos uriníferos, então, estão voltados para os cálices menores. 2.2 Lobação e Lobulação Podemos observar também que a subdivisão em lobos renais se faz devido a passagem de vasos sanguíneos na estrutura renal. A artéria renal é ramo direto da artéria aorta abdominal, e a veia renal é tributária direta da veia cava inferior. Essas duas estruturas, em entrando ou saindo pelo hilo renal, tem suas ramificações passando por entre as pirâmides renais ou pirâmides de Malpighi. Cada área correspondente à vascularização de uma pirâmide e de seu córtex adjacente corresponde, então, a uma área de um lobo renal. Observamos, então, que a lobação do rim não é proporcionada pela presença de septos conjuntivos, e sim pela passagem de vasos sanguíneos. Essa subdivisão também vai acontecer ao nível da caracterização dos lóbulos renais. Um lóbulo renal corresponde a uma área que tem como eixo um raio medular (aquelas áreas de parênquima medular que se projetam para áreas corticais). Esses raios estão presentes no córtex, formando delicadas faixas medulares em meio ao parênquima cortical. Cada um deles serve de eixo para um lóbulo renal, presente apenas no córtex. Um lóbulo renal, então, é constituído pelo eixo de um raio medular e pelo parênquima cortical adjacente. Não há delimitação nítida entre os lóbulos, justamente porque essa subdivisão com base na vascularização é muito sutil de ser percebida macroscopicamente. 2.3 Aspectos Histológicos dos Rins Vemos então um corte histológico de um rim, em pequeno aumento e corte transversal (à esquerda). Temos uma ampla área convexa e uma pequena área côncava que corresponde ao hilo renal. Vemos na região periférica uma ampla área de córtex espesso, geralmente mais acidófilo, e internamente áreas de medula renal. A área mais interna dos segmentos de medula corresponde ao ápice de uma pirâmide renal ou pirâmide de Malpighi, uma papila renal, desembocando em um cálice menor. Já a base está voltada para o córtex. Observamos também tipicamente a presença de Tecido Adiposo Unilocular e de vasos sanguíneos ao redor do hilo. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 19 Em maior aumento, observamos mais nitidamente a maior acidofilia cortical, justamente porque os túbulos presentes do córtex são relativamente mais acidófilos do que os presentes na medula. O retângulo tracejado destaca um raio medular, isto é, uma faixa de parênquima medular presente no córtex. O raio medular, a rigor, é formado por segmentos tubulares que normalmente são encontrados na medula presentes em áreas do córtex. Um raio medular e o córtex adjacente a ele forma, como vimos, um lóbulo renal. Observamos que o parênquima cortical apresenta segmentos tubulares extremamente enovelados, o que faz ele também ser denominado labirinto cortical, um termo específico para a designação de áreas do parênquima do córtex renal. Esse grau de enovelamento é importante para a caracterização e para a localização dos túbulos uriníferos no parênquima renal (tópico 3). A esse ponto, é preciso fazer uma relação com os rins fetais. Os rins fetais, ao contrário dos rins maduros, são nitidamente lobulados. Notamos que a superfície do rim, em adultos, é absolutamente lisa, sem quaisquer projeções ou irregularidades. No entanto, em fetos, observamos a presença de uma série de sulcos adjacentes a áreas mais abaladas de lobos renais. Em cortes histológicos, vemos que essas áreas de sulco contêm um mesênquima que, progressivamente, vai dando origem a novos componentes urinários dos túbulos. Ainda mesmo após o nascimento, o rim é ligeiramente lobulado, mas vai adquirindo um contorno liso nas primeiras semanas de vida. Em alguns animais, como nos bovinos e nos suínos, essa segmentação ainda é visível em adultos. 3. O Túbulo Urinífero O túbulo urinífero é a unidade morfofuncional dos rins. O termo “néfron” já foi renegado na histologia como uma subdivisão do túbulo urinífero (como será visto neste tópico e no tópico 4). O túbulo é composto por duas porções, uma grande porção tubular inicial, o chamado néfron, e uma grande porção final, o chamado túbulo coletor. Essa subdivisão tem caráter baseado no ponto de vista embriológico: os néfrons se originam do blastema metanefrogênico, e os túbulos coletores se originam do broto uretérico (broto uretérico- pélvico-coletor), ambos advindos do mesoderma intermediário. O néfron vai ser subdividido em vários segmentos tubulares. O primeiro componente, no entanto, não é um túbulo, mas uma área arredondada dilatada, o corpúsculo renal. Nesse primeiro componente ocorre a filtração do sangue propriamente dita, para formação do filtrado glomerular. Ao corpúsculo renal se seguem Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 20 vários segmentos de configuração epitelial e tubular. Essa configuração remonta à especialização do rim em uma glândula tubulosa mucosa. Em falando dos segmentos tubulares, após o corpúsculo renal, temos o chamado (1) túbulo proximal. Esse túbulo tem uma parte contorcida (túbulo contorcido proximal) e uma parte reta (parte reta do túbulo proximal). Depois do túbulo proximal, há outro túbulo, agora mais delgado, o chamado (2) túbulo intermediário. Esse túbulo é bem fino e detém uma porção descendente e uma porção ascendente. A porção ascendente termina no início do (3) túbulo distal. Da mesma forma, o túbulo distal também tem duas porções, uma parte reta (parte reta do túbulo distal) seguida de uma parte contorcida (túbulo contorcido distal). O túbulo distal faz comunicação com o corpúsculo renal e forma uma área de importância captal na regulação da pressão sanguínea, a mácula densa (tópico 7.2). Na figura, podemos ver essa sucessão dos três segmentos. O termo alça de Henle sugere uma estrutura em formato de alça, similar a um grampo de cabelo. Essa estrutura é formada por três segmentos do néfron: a parte reta do túbulo proximal, todo o túbulo intermediário e a parte reta do túbulo distal. Veremos mais adiante que a porção reta do túbulo proximal entra na medula e origina o túbulo intermediário, segmento que mergulha profundamente na medula interna e que depois sobe para originar a porção reta do túbulo distal. É interessante notarque esses três segmentos que formam a alça de Henle se dispõem então paralelamente entre si. Além disso, precisamos ressaltar que a alça de Henle não é um segmento propriamente dito do néfron, e sim um conjunto de três segmentos em disposição paralela na medula que vai ter um papel imprescindível do ponto de vista fisiológico. A disposição dos túbulos, na verdade, faz com que todos os diferentes segmentos do néfron tenham diferentes posições no parênquima renal (tópico 3.1). Terminando o túbulo distal, o néfron se acaba, havendo uma conexão entre o túbulo com outra parte tubular, o túbulo coletor, através dos túbulos de conexão. Como dito, os túbulos coletores são assim definidos como uma outra parte do túbulo urinífero pelo fato de terem uma origem embriológica distinta em relação ao néfron. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 21 3.1 Posicionamento dos Segmentos do Túbulo Urinífero nas Regiões do Parênquima Renal Para falarmos sobre o posicionamento dos segmentos do túbulo urinífero, precisamos inicialmente subdividir a região da medula para que possamos fazer a correspondência de cada trajeto do túbulo ao longo do parênquima. Em um corte de rim temos o córtex mais periférico seguido da medula mais interna. Primeiramente, temos uma metade externa da medula (medula externa), mais próxima do córtex, e, logo depois, uma metade mais interna que se estende até a papila renal (medula interna). Em função da passagem específica de segmentos dos túbulos em diferentes porções da medula, ainda subdividimos a medula externa em faixa externa e faixa interna. Essa divisão é feita de acordo com a passagem e com a localização de componentes do túbulo ao longo do parênquima renal. Inicialmente, temos no (1) córtex as porções contorcidas dos túbulos proximais e distais, além de túbulos coletores dentro dos raios medulares (faixas de parênquima medular dispostos no córtex). No córtex também encontramos os túbulos de conexão, bem curtos, que conectam o fim dos túbulos contorcidos distais a extremidade inicial dos túbulos coletores. Seguindo-se ao córtex, temos a (2) faixa externa da medula externa. Nela encontramos as partes retas dos túbulos proximais e distais, além de túbulos coletores advindos dos raios medulares. Já na (3) faixa interna não temos mais segmentos retos dos túbulos proximais, justamente porque no limite das faixas há início do túbulo intermediário. Na faixa interna, então, temos a parte reta do túbulo distal, o túbulo intermediário e o túbulo coletor. Já na (4) medula interna, temos apenas os túbulos intermediários e os túbulos coletores finais (ductos de Bellini), que são bem maiores e que desembocam na papila renal. Esses túbulos aumentam em função da fusão de outros túbulos coletores presentes em todo parênquima. 3.2 Classificação dos Néfrons de Acordo com a Posição de seus Corpúsculos Renais Antes de vermos o trajeto dos túbulos, precisamos sinalizar um detalhe importante. Já foi observado que existem néfrons de túbulos uriníferos cujas alças de Henle têm diferentes tamanhos, ou mais longas ou mais curtas. Esse comprimento diferenciado está relacionado a aspectos fisiológicos da formação da urina que serão abordados nas aulas de fisiologia. De qualquer maneira, o comprimento mais ou menos extenso também está relacionado com o posicionamento relativo dos corpúsculos renais dos túbulos uriníferos. Verificamos que existem néfrons de Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 22 túbulos uriníferos cujos corpúsculos renais estão situados mais próximos à cápsula renal, em um trecho mais próximo da superfície. Esses são os chamados néfrons corticais. Por outro lado, existem néfrons cujos corpúsculos renais estão mais próximos ao limite entre o córtex e a medula. Esses néfrons tem alças de Henle muito longas, que se aprofundam muito na medula interna, e são chamados de néfrons justamedulares. Existe, ainda, o meio termo, em que os corpúsculos não estão nem tão próximos à cápsula renal nem tão próximos ao limite córtico- medular. Nesse caso, são chamados de néfrons mediocorticais, e, tal qual os justamedulares, também apresentam alças de Henle bastante longas. 3.3 Trajeto dos Segmentos do Túbulo Urinífero no Parênquima Renal Para descrevermos o trajeto dos segmentos do túbulo urinífero, partiremos de um néfron justamedular. Seu (1) corpúsculo renal se localiza no córtex, de onde sai o túbulo proximal formando inicialmente sua parte contorcida ([2] túbulo contorcido proximal) em meio ao labirinto cortical. Depois de um longo trajeto no córtex, ele entra em um raio medular, representado na figura pelo triângulo. No raio medular, ele descreve um pequeno trajeto, onde passa rapidamente para a medula (mais a rigor para a faixa externa da medula externa). O mesmo ocorre com o néfron cortical: o túbulo contorcido proximal descreve voltas e depois entra no raio medular, seguindo inferiormente até penetrar na medula No limite entre a faixa externa e interna da medula externa, a (3) parte reta do túbulo proximal que vem do raio medular origina o (4) túbulo intermediário (em ambos tipos de néfron). O túbulo intermediário, então, atravessa toda a faixa interna (nos néfrons justamedulares eles penetram muito profundamente na medula interna) fazendo sua curvatura e retornando paralelamente, descrevendo o formato típico da alça de Henle. No limite da medula interna e da faixa interna da medula externa, se inicia a (5) parte reta do túbulo distal, que segue superiormente em direção, novamente, ao córtex, atravessando toda a medula externa. No caso dos néfrons corticais, a alça de Henle é relativamente mais curta, atingindo apenas o limite entre faixa interna da medula externa e a medula interna, onde há sua curvatura. O segmento ascendente desses néfrons, tem, então, um túbulo intermediário bem pequeno. Tanto em néfrons justamedulares como em néfrons corticais, quando a parte reta do túbulo distal chega ao limite córtico- medular, ela entra novamente em um raio medular. No raio Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 23 medular, após todo esse longo percurso na medula, a parte reta do túbulo distal entra novamente no labirinto cortical. Imediatamente após essa saída e entrada no córtex, o túbulo se encosta no polo vascular do corpúsculo renal que lhe deu origem. Esse trecho de toque é bem curto e é chamado de (6) mácula densa. Logo após, o túbulo, agora (7) contorcido distal tem um trajeto relativamente mais curto do que o proximal, e é o último segmento tubular do néfron. Logo depois, há conexão do túbulo contorcido distal com os (9) túbulos coletores através dos (8) túbulos de conexão. Os túbulos coletores se iniciam aqui, e percorrem também o caminho de raios medulares. Com um trajeto paralelo às porções retas dos túbulos proximais e distais e aos segmentos descendentes e ascendentes do túbulo intermediário, os túbulos coletores se aprofundam novamente na medula. Passam imediatamente na medula externa, onde começam a receber a contribuição de túbulos coletores adjacentes. Quando passam o limite entre a medula externa e a medula interna, formam os (10) grandes ductos coletores ou ductos de Bellini, que atravessam a medula interna e vão desembocar na papila renal. Em néfrons justamedulares e corticais, então, temos: Corpúsculo Renal (no Córtex) → Túbulo Contorcido Proximal → Raio Medular → Faixa Externa da Medula Externa → Parte Reta do Túbulo Proximal → Limite entre a Faixa Externa e Faixa Interna da Medula Externa → Túbulo Intermediário → Se Aprofunda na Faixa Interna da Medula Externa e na Medula Interna → Curvatura → Ascende na Medula Interna → Limite Entre Medula Interna e a Faixa Interna da Medula Externa → Parte Reta do Túbulo Distal → Trajeto na Medula Externa → Raio Medular → Labirinto Cortical → Mácula Densa → Túbulo Contorcido Distal → Túbulos de Conexão → Raio Medular → TúbuloColetor → Aprofunda no Raio Medular → Limite entre Medula Externa e Medula Interna → Grandes Túbulos Coletores ou Ductos de Bellini → Atravessam toda a Medula Interna → Papila Renal Corpúsculo Renal (no Córtex) → Túbulo Contorcido Proximal → Raio Medular → Limite entre a Faixa Externa e a Faixa Interna da Medula Externa → Túbulo Intermediário → Curvatura no Limite entre Medula Externa e Medula Interna → Ascende na Faixa Interna da Medula Externa → Parte Reta do Túbulo Distal → Raio Medular → Labirinto Cortical → Mácula Densa → Túbulo Contorcido Distal → Túbulos de Conexão → Raio Medular → Túbulo Coletor → Aprofunda no Raio Medular → Limite entre Medula Externa e Medula Interna → Grandes Túbulos Coletores ou Ductos de Bellini → Atravessam toda a Medula → Papila Renal 4. Néfron: Corpúsculos Renais A partir de agora, vamos ver as estruturas histológicas de cada uma dessas porções, a começar pelos corpúsculos renais. Os corpúsculos renais também são denominados corpúsculos de Malpighi. Esses corpúsculos vão ser identificados apenas no labirinto cortical, e são vistos como estruturas arredondadas em meio ao córtex. O restante do observado nessa região são diferentes segmentos de túbulos contorcidos distais e proximais. Em alguns cortes histológicos, conseguimos observar também a cápsula conjuntiva do rim, relativamente delgada de Tecido Conjuntivo Denso Modelado. Cada corpúsculo renal tem uma massa interna formada por um agregado de alças capilares que se dispõem no interior de cada corpúsculo. Essas alças capilares são conhecidas também como alças capilares glomerulares que, em conjunto, formam o glomérulo renal. A porção central de um corpúsculo renal é, então, formado por várias alças capilares que tem uma estrutura histológica de capilares fenestrados altamente especializados. O nome glomérulo vem do latim glomus, que quer dizer “bola pequena”. Em volta do corpúsculo renal temos um envoltório, a cápsula de Bowman, estrutura subdividida em dois folhetos que mantêm relações diferentes com o corpúsculo renal. O folheto parietal da cápsula de Bowman é um Epitélio Simples Pavimentoso com células muito achadas em camada única sob uma lâmina basal. Esse Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 24 epitélio delimita o espaço interno do corpúsculo renal, espaço pelo qual o filtrado glomerular é lançado após a filtração do sangue pelas alças capilares fenestradas. Esse espaço é chamado espaço de Bowman ou espaço capsular. O folheto parietal vai se refletir para dentro do corpúsculo, onde há entrada e saída dos vasos que são responsáveis pela formação do glomérulo. Esse ponto de entrada do vaso sanguíneo é o polo vascular do corpúsculo renal, de onde surgirão as alças capilares. A arteríola glomerular aferente, então, entra no polo e se ramifica nas alças capilares glomerulares, que tornam-se a reunir e formar um novo vaso que vai sair do corpúsculo também através do polo vascular, a arteríola glomerular eferente. Estamos diante, então, de um sistema capilar porta do tipo arterial. Nesse polo vascular, então, temos a reflexão do folheto parietal de modo a formar um segundo folheto imediatamente adjacente à superfície externa, o folheto visceral, formado por células epiteliais bem diferenciadas e especificadas, os podócitos. Os podócitos estão associados diretamente à superfície dos capilares (serão vistos no tópico 4.1). Diametralmente oposto ao polo vascular, temos o polo urinário, o local de onde se inicia o túbulo proximal. O túbulo proximal tem Epitélio Simples Cúbico contínuo com o Epitélio Simples Pavimentoso do corpúsculo renal e com o lúmen do espaço de Bowman. Essa continuidade permite que o filtrado glomerular seja vertido para o lúmen do túbulo contorcido proximal. Observe essas imagens de corpúsculos renais em maior e menor aumentos. O folheto parietal é uma camada bem delicada de epitélio simples pavimentoso, e o glomérulo é uma massa arredondada contendo núcleos de diferentes células (ou de células endoteliais, ou de podócitos ou de outras células ainda não faladas... [tópico 4.4]) dispostos aleatoriamente. Observamos ainda um delicado espaço de Bowman e o polo vascular, onde é observado o ponto em que o glomérulo está “preso” na parede do corpúsculo renal. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 25 4.1 Composição Estrutural e Ultraestrutural do Glomérulo Renal Nesse tópico vamos analisar a estrutura específica do glomérulo renal e relacioná-la com a ultraestrutura dos capilares glomerulares e do folheto visceral intimamente relacionado. Inicialmente, é preciso destacar que o glomérulo é composto por capilares fenestrados dotados de orifícios entre as células endoteliais, dispostos ao longo de todo o revestimento endotelial. Tipicamente em capilares fenestrados, esses “orifícios” são áreas de atenuação das células, áreas muito finas que são obstruídas por um delicado diafragma. Essas áreas atenuadas ao longo de células endoteliais estão presentes em capilares da mucosa intestinal e de glândulas endócrinas, por exemplo. Mas, no caso do glomérulo renal, essas fenestras são absolutamente desprovidas de diafragmas: as células são nitidamente perfuradas. Isso permite uma passagem ainda mais facilitada de substâncias advindas do sangue, que serão filtradas para a formação da urina. O endotélio capilar se apoia sobre uma lâmina basal espessa e especializada, que recebe o nome especial de lâmina basal glomerular. Essa estrutura tem importância captal por ser o grande agente da filtração glomerular. Além disso, o glomérulo renal está em associação com os podócitos, células epiteliais que formam uma camada por sobre a superfície externa da lâmina basal. Essas células têm um corpo alongado, com núcleo igualmente alongado e eucromático, com corpo celular repleto em organelas. Dele partem prolongamentos espessos que se subdividem até um terceiro nível (existem prolongamentos primários, secundários e terciários). Nenhum desses prolongamentos, até o terceiro nível, está em contato com a lâmina basal. Isso porque, dos últimos prolongamentos partem prolongamentos mais delicados, finos, denominados pedicelos. Os pedicelos partem de prolongamentos secundários ou terciários e se apoiam sobre a superfície externa da lâmina basal glomerular. O resultado é a interposição e a sucessão de finíssimos espaços entre os pedicelos pode onde há passagem de substâncias filtradas do sangue para o espaço glomerular. Esses espaços são denominados fendas de filtração glomerular. Nas eletromicrografias vemos os corpos celulares dos podócitos com núcleos frequentemente eucromáticos próximos aos capilares glomerulares e do espaço de Bowman ou espaço capsular. No endotélio capilar observamos as fenestras, completamente desobstruídas de um diafragma, seguidas de um endotélio capilar. Há presença de lâmina basal e dos pedicelos dos podócitos, delimitando as fendas de filtração glomerular. A participação dos podócitos é de suma importância para a filtração porque, através dessas camadas de fendas, há filtração do sangue para a formação do primeiro tipo de urina, o filtrado glomerular (que ainda vai sofrer uma série de transformações). Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 26 Na eletromicroscopia de varredura observamos também alças capilares glomerulares adjacentes a podócitos com seus prolongamentos. Em um aumento maior vemos segmentos de alças cobertas por prolongamentos primários, secundários e terciários, dos quais parem pedicelos que se apoiam sobre a superfície externa da lâmina basal glomerular. Esse apoio de diferentes pedicelos que se interdigitam forma as fendas de filtração glomerular. Nessas fendas encontramos finíssimas membranas de natureza proteica (setas) que une os pedicelos uns aos outros. Observamos essas membranas como esses traços bem finos, formando uma ligação entreeles. São chamadas membranas ou diafragmas de fendas de filtração. 4.2 Aspectos Histofisiológicos da Lâmina Basal Glomerular e da Barreira de Filtração Glomerular A lâmina basal glomerular é bastante espessa (bem mais grossa que a de outros epitélios) resultado da fusão de duas lâminas basais, uma do endotélio glomerular e outra dos podócitos. Essa lâmina basal apresenta três subcamadas, uma (1) lâmina rara externa ao lado dos podócitos, seguida de uma (2) lâmina densa propriamente dita, que se apoia, por sua vez, em uma (3) lâmina rara interna. Os componentes da lâmina basal glomerular formam, em conjunto, uma barreira que permite ou não a passagem de substâncias presentes no sangue. Em conjunto com o endotélio capilar fenestrado e com as membranas de fendas de filtração, esses três componentes formam a barreira de filtração glomerular. É interessante notar que os pedicelos propriamente ditos não fazem parte da barreira visto que, por eles, não se passa componente algum (não há filtração). É interessante também notar que o único componente contínuo na barreira de filtração glomerular é a lâmina basal, que é o verdadeiro filtro do sangue. Os outros componentes são obstáculos relativos, de modo que a filtração propriamente dita é feita pela estrutura da lâmina basal glomerular. A lâmina basal glomerular NÃO é uma membrana basal, justamente porque não há fibras reticulares associadas ao glomérulo renal (tópico 4.3)! A lâmina basal glomerular, então, é somente uma lâmina, e tem todos os componentes clássicos que uma lâmina basal tem, como o colágeno do tipo IV (colágeno específico da lâmina basal), além de laminina, fibronectina, entactina, agrina e proteoglicanos de heparan sulfato específicos, o perlecan. Os GAG’s são grandes responsáveis pela filtração glomerular porque apresentam grandes quantidades de cargas negativas que atraem cargas positivas por conta da afinidade de cargas, e que repelem cargas negativas de natureza igual. Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 27 Os podócitos tem seus pedicelos aderidos à lâmina basal através de integrinas α3β1. Além disso, no colágeno do tipo IV associado existem seis cadeias diferentes, de α1 a α6. Existem doenças importantes, ainda que raras do ponto de vista clínico, que remetem a alterações na lâmina basal glomerular. A alteração da cadeia α3 do colágeno do tipo IV, por exemplo, é desencadeada de uma doença autoimune denominada síndrome de Goodpasture. Adicionalmente, existe outra síndrome em que há alteração estrutural propriamente dita na cadeia α5 do colágeno do tipo IV, fazendo com que a lâmina basal seja dotada de áreas ora espessadas ora adelgaçadas, o que a torna completamente irregular. É a condição da síndrome de Alport, relativamente mais frequente que a síndrome de Goodpasture. Essas eletromicrografias mostram imagens da síndrome de Alport, com uma lâmina basal dividida, repartida e fragmentada, caracterizada sobretudo por alterações de caráter genético na cadeia α3 de colágeno do tipo IV. Os pedicelos dos podócitos são dotados de um glicocálice bastante significativo, o que faz a ultraestrutura deles deter uma linha irregular mais externa que contém, dentre vários tipos de polissacarídeos, uma glicoproteína transmembranar bastante abundante denominada podocalixina. Essa glicoproteína tem uma grande quantidade de radicais glicídicos negativos, o que auxilia a repelir cargas negativas, colaborando (da mesma forma que o perlecan) para a filtração. O glicocálice abundante também é responsável pela manutenção do espaçamento entre os podócitos, o que favorece também a manutenção das fendas de filtração. Nesse esquema, temos dois pedicelos unidos à lâmina basal. Entre eles há a fenda de filtração glomerular, pela qual há união através da membrana de fenda de filtração, formada por uma associação homodimérica. Uma associação homodimérica envolve a ligação entre duas proteínas idênticas através de seus domínios extracelulares igualmente idênticos. Dentre várias proteínas, temos principalmente a nefrina, uma grande proteína que se associa a outra igual do pedicelo da célula adjacente, configurando essencialmente uma ligação homodimérica. Existem outras proteínas acessórias como a Neph 1, a Neph 2, a P-caderina e Fat 1. Internamente no podócito, elas vão se associar, através de seus domínios intracelulares, a uma grande quantidade de proteínas que formam um complexo multiproteico (podocina, α-, β-, e γ-cateninas, ZO-1, e Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 28 CD2AP). A esse complexo multiproteico se ligam filamentos de actina, indicando que os pedicelos têm uma certa mobilidade por sobre a superfície dos capilares glomerulares. A síndrome nefrótica congênita é uma condição relacionada a uma mutação no gene da nefrina, que acaba não sendo expressa ou então sendo expressa de forma pequena. Nessa situação, há falhas na barreira de filtração glomerular, situação relacionada a grande quantidade de proteínas na urina (uma proteinúria bastante marcante). 4.3 Comparação de Duas Colorações Empregadas em Corpúsculos Renais Esses dois cortes histológicos são caracterizados por diferentes técnicas de coloração. À esquerda, temos uma impregnação argêntica, que cora em preto fibras reticulares, e, à direita, temos a técnica do PAS, que cora em vermelho radicais glicídicos. No PAS, temos um traçado sinuoso que evidencia glicídios dentro do glomérulo renal, que corresponde ao trajeto da lâmina basal glomerular. Da mesma maneira, temos o mesmo traçado externamente nos túbulos renais. Paralelamente, temos um traçado negro que evidencia as fibras reticulares que envolvem dos túbulos renais. Esse contorno indica que o epitélio tubular repousa sobre uma membrana basal. No entanto, observamos que não há presença de fibras reticulares associadas ao glomérulo, nós observamos apenas pontos negros (já que os núcleos das células têm afinidade pelos sais de prata). A conclusão que obtemos com base na comparação das duas colorações envolve o fato dos glomérulos estarem envolvidos apenas por uma lâmina basal, enquanto os túbulos renais são envolvidos por uma lâmina basal associada a fibras reticulares (e, portanto, envolvidos por uma membrana basal). 4.4 As Células Mesangiais Intraglomerulares Dentro do corpúsculo renal temos outro tipo celular, as células mesangiais intraglomerulares. O prefixo “meso” diz respeito a sustentação. Os mesos, na embriologia, sustentam os segmentos do tubo digestório (como o mesogástrio ou o mesentério). Da mesma forma, as células mesangiais sustentam, suspendem ou auxiliam a sustentação das alças capilares glomerulares. Essas células advêm do mesângio, um conjunto de células de natureza conjuntiva, pericitos especializados que se interpõem entre as lâminas basais. A rigor, entre as alças capilares, existem pequenas áreas próximas entre si nas quais a lâmina basal não envolve completamente Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 29 o capilar. Nesses locais, existem células que promovem a sustentação dos capilares, com um nítido comportamento e uma nítida aparência estrutural de pericitos. Elas, no caso, são pericitos especializados, fibroblastos que formam uma matriz extracelular associada à lâmina basal, com componentes da lâmina basal que ela mesmo produz, a matriz mesangial. Pelo fato de estarem entre os capilares, elas formam a região do mesângio intraglomerular. Tem um formato bem irregular, com núcleo eucromático e situadas em meio a alças glomerulares. A matriz mesangial tem basicamente os mesmos componentes da lâmina basal. Esses pericitos especializados tem inúmeras funções. Eles podem (1) promover a regeneração do endotélio em caso de lesões. Além disso, elas (2) sintetizam a matriz mesangial e removem eventuais resíduos retidos na lâmina basal glomerular, (3) fagocitando componentes residuais e componentesda própria lâmina basal em função de uma necessidade constante de renovação. Essas células também tem uma ligeira atividade contrátil, e seu posicionamento pode (4) regular o diâmetro das alças capilares, colaborando para a pressão sanguínea necessária para a filtração. Em quadros patológicos, o mesângio intraglomerular pode (5) produzir endotelina, um elemento vasoconstritor, além de citocinas diversas. O mesângio intraglomerular é diferente do mesângio extraglomerular, cujas funções não são muito bem estabelecidas, e serão vistos mais afrente (tópico 7.2). 5. Néfron: Túbulo Proximal A partir do polo urinário no corpúsculo renal temos início do túbulo proximal, o maior dos segmentos do néfron. Ele é configurado por duas porções, uma porção contorcida e uma porção reta. A parte reta é eventualmente chamada de túbulo retoproximal, e a parte contorcida de túbulo contorcido proximal. Os túbulos proximais são mais bem estudados no córtex porque os túbulos contorcidos proximais são bem visualizados, sendo a parte reta de difícil visualização. Nessas imagens do labirinto cortical vemos inevitavelmente cortes de túbulos contorcidos proximais mas também de distais. Os túbulos proximais e distais são constantemente comparados porque se situam na mesma região. Embora os túbulos distais só serão abordados no tópico 7, é necessário ressaltar que eles resguardam semelhanças e diferenças que devem ser, já aqui, ressaltadas. Ambos são formados por um Epitélio Simples Cúbico, por células cuboides com núcleos arredondados e centrais (seja na parte contorcida ou na parte reta). As células dos túbulos proximais têm um citoplasma altamente acidófilo, são as células mais acidófilas de todo o parênquima renal. O epitélio é caracterizado por apresentar em sua superfície apical estruturas denominadas microvilos, que formam em conjunto o que chamamos de borda em escova. Mesmo que também seja um conjunto de Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 30 microvilos, o termo “planura estriada” não se aplica aqui, estando apenas restrito ao epitélio intestinal. A borda em escova vai ser responsável por causar irregularidades no lúmen dos túbulos proximais. Os túbulos distais também são revestidos por um epitélio simples cúbico, mas suas células constituintes são geralmente menos acidófilas. Essa acidofilia é dada pela presença de mitocôndrias (a semelhança das células parietais no estômago). Tanto as células dos tubos proximais quanto as células dos túbulos distais têm a acidofilia decorrente da presença de mitocôndrias, embora a quantidade dessas organelas seja menor em túbulos distais. Outra diferença típica entre os dois túbulos é a maior frequência dos túbulos proximais em cortes histológicos, justamente porque eles são mais longos, eles descrevem um maior número de voltas no labirinto cortical. Adicionalmente, os túbulos distais não apresentam borda em escova, e, portanto, não são dotados de irregularidades que se projetam para o lúmen. Aqui, novamente temos uma coloração PAS, coloração histoquímica que evidencia radicais glicídicos em vermelho. No caso da borda em escova, há uma prevalência muito grande de glicídios em sua constituição, justamente porque, tal qual a planura estriada do epitélio intestinal, ela apresenta um glicocálice bastante evidente. A técnica do PAS também evidencia os radicais glicídicos da membrana basal do túbulo. 5.1 Ultraestrutura do Túbulo Proximal Vemos duas eletromicrografias de túbulos proximais. Notamos quatro cortes de túbulos contorcidos proximais, e, o que chama atenção, em menor aumento, é a abundante quantidade de microvilos em seu citoplasma apical (formando a borda em escova). A célula epitelial tem núcleo eucromático e central, com organelas abundantes, principalmente mitocôndrias, que notamos em grandes quantidades ocupando muito frequentemente uma disposição perpendicular à superfície apical e basal da célula. Essa presença de mitocôndrias referenda a natureza acidófila dessas células na microscopia de luz. Observamos nessa eletromicrografia também a presença de túbulos distais, que tem comparativamente uma menor quantidade de mitocôndrias (o que leva essa célula a ser menos acidófila em relação ao epitélio do túbulo proximal). Observamos também que o lúmen desses túbulos tem uma configuração mais ampla, justamente em função dessas células não apresentarem a borda em escova das células do túbulo proximal. As células cuboides dos túbulos proximais exibem um extenso sistema de interdigitações laterais que se insinuam por entre as interdigitações de células adjacentes, formando um labirinto intercelular que favorece a transferência de íons por entre o citoplasma das células dos túbulos Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 31 proximais. Além disso, existem profundas invaginações da membrana plasmática do domínio basal, que criam colunas que se intercalam com colunas de células adjacentes e que dividem o citoplasma basal em compartimentos que alojam uma abundante quantidade de mitocôndrias, frequentemente orientadas perpendicularmente às células. Podemos observar que essas células têm ultraestrutura muito semelhante a das células dos ductos estriados. As células dos túbulos contorcidos proximais estão encarregadas, dentre outras funções, de reabsorverem a maior parte do volume do filtrado glomerular, reduzindo em mais ou menos 90% do volume. A medida que o líquido segue ao longo do túbulo, então, há absorção de água para reduzir seu volume. Há, também, absorção de moléculas que eventualmente passaram pela filtração, e que serão também reabsorvidas ao longo do trajeto do líquido pelo túbulo proximal. Glicose e proteínas, por exemplo, são reabsorvidas ao nível do túbulo proximal através de transportes via canais específicos. Para essa finalidade, então, essas células são dotadas de um aparelho endocítico bem desenvolvido, com um conjunto de vesículas e de lisossomos particularmente abundantes. Esse aparelho é visualizado como uma série de invaginações tubulares que se dispõem por entre os microvilos da borda em escova. Molecularmente, são depressões revestidas por clatrina, e que vão liberar o conteúdo endocitado para lisossomas, onde serão destruídos e fragmentados. Dessa maneira, várias proteínas e substâncias particuladas maiores são reabsorvidas e destruídas pelos túbulos através desse sistema de endocitose, vesículas e lisossomas. Na eletromicrografia também conseguimos observar a imensa quantidade de invaginações da membrana basal, que fazem parte das invaginações e das interdigitações que formam um espaço labiríntico intercelular. 5.2 Histofisiologia do Túbulo Proximal Esse esquema mostra o que estudaremos melhor nas aulas de fisiologia. O túbulo proximal, sem dúvida, é um dos principais responsáveis por uma série de funções que iniciam a formação da urina. Depois que o filtrado glomerular é formado no corpúsculo renal, ele segue pelo túbulo proximal, onde começam a haver modificações como a já comentada reabsorção de substâncias pelo epitélio, mas também há transferência de substâncias através da superfície basolateral dessas células (via paracelular). As células dos túbulos contorcidos proximais realizam a absorção de quase todo o sódio do filtrado glomerular. Essa função de absorção é determinada por um altíssimo gradiente de sódio criado pela enorme quantidade de bombas de sódio e potássio presentes na membrana basolateral dessas células. A transferência abundante de sódio para a o interstício, então, garante o grande gradiente de sódio na superfície apical. Esse gradiente é Faculdade de Medicina da UFRJ João Pedro Cortez 2018.1 32 utilizado como transporte acoplado para uma série de outros solutos como glicose, aminoácidos, íons, proteínas e vitaminas que entram na célula por transporte ativo secundário. A água do filtrado glomerular é grandemente absorvida em
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