Buscar

PROCESSO-PENAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 72 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ESPIRITO SANTO 
PROCESSO PENAL 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 
 
 
1 
 
SUMÁRIO 
1 TRIBUNAL DO JÚRI – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS .......................... 4 
1.1 A Classificação dos Princípios do Direito Penal ........................................... 6 
1.2 Princípios Constitucionais Explícitos ............................................................ 7 
1.3 Princípios Constitucionais Implícitos ............................................................ 7 
1.4 Princípio da Legalidade: Gênese Histórica ................................................... 7 
1.5 Princípio da Legalidade: Fito Primário .......................................................... 8 
1.6 Desdobramentos do Princípio da Legalidade ............................................... 9 
1.7 Princípio da Anterioridade da Lei ................................................................ 10 
1.8 Princípio da Exigibilidade da Lei Escrita ..................................................... 11 
1.9 Princípio da Proibição da Analogia In Mallam Partem ................................ 12 
1.10 Princípio da Proibição da Taxatividade ...................................................... 12 
1.11 Princípio da Legalidade e o Princípio da Reserva Legal ............................ 13 
1.12 Considerações Finais ................................................................................. 13 
2 PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL .................................................. 14 
2.1 SISTEMA INQUISITIVO ............................................................................. 15 
2.2 Sistema Acusatório ..................................................................................... 16 
2.3 Sistema Misto ............................................................................................. 17 
2.4 Sistema Processual Penal Brasileiro .......................................................... 18 
2.5 O Pacto De São José Da Costa Rica No Direito Processual Penal Brasileiro 
20 
2.6 Princípios Processuais Penais ................................................................... 21 
2.6.1 Princípio do devido processo legal (art. 50, lv). ........................... 21 
2.6.2 Princípio da igualdade .................................................................. 21 
2.6.3 Princípio Da Reserva De Jurisdição. ............................................ 21 
2.6.4 Princípio do contraditório ou da bilateralidade da audiência (art. 
5.0,inc. Lv). 22 
2.6.5 Princípio da Ampla Defesa (Art. 5.°, INC. LV). ............................. 23 
2.6.6 Princípio do estado de inocência (art. 5.°i inc. Lvii). ..................... 23 
2.7 Identidade física do Juiz ............................................................................. 24 
2.7.1 Persuasão racional ....................................................................... 25 
2.7.2 Verdade real ................................................................................. 26 
 
2 
 
2.7.3 Justa causa .................................................................................. 27 
2.7.4 Do artigo 155 do CPP................................................................... 28 
3 O PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO NO DIREITO PROCESSUAL PENAL.. 30 
3.1 A Emendatio Libelli ..................................................................................... 31 
3.2 Mutatio libelli ............................................................................................... 33 
3.2.1 Circunstância ou elementar .......................................................... 34 
3.2.2 Supressão da expressão “explícita ou implicitamente” ................ 34 
3.2.3 Mutatio libelli e ação privada ........................................................ 34 
3.2.4 Procedimento ............................................................................... 35 
3.2.5 Vinculação aos termos do aditamento ......................................... 36 
4 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ....................................................................... 36 
5 TEORIA DA PROVA ................................................................................... 41 
5.1 A Finalidade Da Prova ................................................................................ 41 
5.2 O Objeto Da Prova ..................................................................................... 42 
5.3 Alegações Excluídas Da Atividade Probatória............................................ 42 
5.4 Presunções ................................................................................................. 44 
5.5 Meios De Prova .......................................................................................... 44 
6 PROCEDIMENTO PROBATÓRIO ............................................................. 46 
6.1 Classificação Da Prova .............................................................................. 46 
6.1.1 Prova emprestada ........................................................................ 47 
6.1.2 Provas Ilícitas e Provas Ilegítimas ................................................ 48 
6.1.3 Prova ilícita “pro reo” .................................................................... 48 
6.2 Sistemas de Apreciação das Provas .......................................................... 48 
7 RECURSOS NO PROCESSO PENAL ....................................................... 51 
7.1 Das Nulidades e dos Recursos em GeraL ................................................. 52 
7.1.1 Das nulidades ............................................................................... 52 
7.2 Dos Recursos em Geral ............................................................................. 55 
7.2.1 Disposições Gerais....................................................................... 55 
7.3 Do Recurso em Sentido Estrito .................................................................. 56 
7.4 O Processo e do Julgamento dos Recursos em Sentido Estrito e das 
Apelações, nos Tribunais de Apelação ................................................................. 61 
7.5 Recurso Extraordinário e Recurso Especial ............................................... 65 
7.6 Recurso Ordinário em Habeas Corpus ....................................................... 68 
 
3 
 
7.7 Recurso Ordinário em Mandado de Segurança ......................................... 68 
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 69 
 
 
 
4 
 
1 TRIBUNAL DO JÚRI – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
 
Fonte: www.cafenapadaria.com.br 
O Júri tem quatro princípios fundamentais previstos na Constituição Cidadã 
brasileira, no seu artigo 5º, XXXVIII: plenitude de defesa, sigilo nas votações, 
competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida e soberania dos 
veredictos. O princípio da plenitude de defesa ou da defesa plena abrange o da ampla 
defesa, contido no artigo 5º, LV, da Constituição Federal, porque inclui a autodefesa 
do próprio acusado em seu interrogatório e a defesa técnica, realizada por advogado 
devidamente habilitado. 
A defesa técnica do acusado no Júri é realizada por um procurador, constituído 
ou dativo (nomeado pelo Estado, quando o acusado não indicar ou não puder arcar 
com um), para defender o réu, sendo-lhe possível alegar qualquer matéria, mesmo 
sem base legal, seja fática, doutrinária ou jurisprudencial. No Júri, deve o juiz togado 
(presidente) quesitar os jurados sobre as teses apresentadas pela autodefesa e pela 
defesa técnica, mesmo que haja contradições entre as duas, para assim garantir a 
plenitude de defesa. Caso se verifique que a defesa técnica é falha a ponto de ser 
 
5 
 
inepta, o juiz poderá dissolver o Conselho de Sentença para declarar o réu indefeso, 
com base no artigo 497, inciso V, do Código de Processo Penal. 
Outro princípio importante para o Tribunaldo Júri é o sigilo das votações, que 
é específico para este instituto jurídico, sendo uma exceção ao artigo 93, inciso IX, da 
Lei Maior, que diz respeito ao princípio da publicidade: Lei complementar, de iniciativa 
do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o estatuto da Magistratura, observados 
os seguintes princípios: (...) IX-todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário 
serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo 
a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença em determinados atos, às 
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes. 
O Sigilo nas Votações do Júri é garantido por meio de três formas: pela 
incomunicabilidade dos jurados, pelo julgamento em sala secreta e pelo julgamento 
dos jurados com base na sua íntima convicção. 
A incomunicabilidade dos jurados significa que não eles não podem emitir 
qualquer opinião sobre a ação penal em julgamento. Os jurados conversam assuntos 
diferentes do julgamento, mas são impedidos de praticar qualquer comunicação com 
terceiros que não estejam no processo, salvo por meio de Oficial de Justiça (vulgo 
Meirinho). 
Outra garantia do sigilo nas votações é a sala secreta, para a qual os jurados 
se dirigem para votar os quesitos, sem que se saiba qual foi o voto de cada um e sem 
haver qualquer tipo de constrangimento. A terceira e última garantia do sigilo nas 
votações é a de que o julgamento dos jurados tem por base sua íntima convicção, o 
que significa dizer que não há nenhuma fundamentação jurídica nem fática nas suas 
decisões, sendo uma exceção ao princípio do Livre Convencimento Motivado. Mais 
um princípio constitucional fundamental do Júri é o da competência mínima para julgar 
os crimes dolosos contra a vida, sejam tentados ou consumados. 
Os delitos abrangidos estão no Código Penal em sua parte especial, no título I 
dos crimes contra a pessoa, no capítulo I dos crimes contra a vida, que são: homicídio 
previsto no artigo 121, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio no 122, infanticídio 
no 123, aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento no 124 e aborto 
provocado por terceiro nos 125 e 126. Há, ainda, a competência do Júri da Justiça 
Federal que julga os crimes dolosos contra a vida de funcionários públicos federais, 
 
6 
 
em razão de suas funções, bem como dos delitos contra a vida cometidos a bordo de 
navio ou de aeronave em território brasileiro. 
Os crimes conexos cometidos com os delitos dolosos contra a vida, são 
julgados pelo Tribunal do Júri, além de outros que, por ventura, sejam previstos em 
Lei ordinária que amplie sua competência. No que tange ao crime de roubo seguido 
de morte, conhecido vulgarmente como latrocínio, uma importante observação deve 
ser feita. Não se trata de crime contra a vida, mas sim, contra o patrimônio, e, por este 
motivo, regra geral, não é julgado pelo Tribunal do Júri, salvo por conexão. 
Outro delito que não é de competência do Júri é o genocídio, denominado de 
crime contra a humanidade, que é da alçada da Justiça Federal, salvo nos casos de 
conexão. Por fim, o último princípio garantidor do Tribunal do Júri é o da soberania 
dos veredictos dos jurados, cuja finalidade precípua é confirmar a efetiva participação 
popular nos seus julgamentos. Os jurados, integrantes da sociedade, irão decidir 
conforme sua íntima convicção, com respostas monossilábicas positivas ou negativa 
(sim ou não) sobre os fatos julgados. A soberania dos veredictos deve ser considerada 
relativa, não sendo regra absoluta, porque não traduz em onipotente a decisão 
proferida. Desta forma, a afamada soberania constitucional do Júri não pode ser 
levada em seu sentido estritamente ortográfico, pois é tão somente a impossibilidade 
de outro órgão jurisdicional alterar ou rescindir sua decisão. 
Todavia, existe a possibilidade de ser determinado, por instância superior, que 
o Júri realize um novo julgamento, quantas vezes forem necessárias, caso ocorra o 
error in procedendo, que é o veredicto manifestamente contrário às provas dos autos; 
ou o error in judicando, que significa o desrespeito das regras de procedimento de 
ordem pública, conforme jurisprudência (TJSP– AP – JTJ. Lex 188/304): Júri– 
Soberania– Versão inverossimilhante. A soberania dos veredictos do Júri, não 
obstante a sua extração constitucional, ostenta valor meramente relativo, pois as 
decisões emanadas do Conselho de Sentença não se revestem de intangibilidade 
jurídico – processual. 
1.1 A Classificação dos Princípios do Direito Penal 
A Classificação dos Princípios do Direito Penal Quando se discorre a respeito 
de toda a gama de postulados e mandamentos que atuam como alicerces do Direito 
 
7 
 
Penal, permeando e guiando sua aplicação, é imperioso analisar, em um primeiro 
momento, a classificação atribuída pelos doutrinadores aos princípios. Ainda nessa 
ótica, é impostergável enfocar de maneira substancial a dicotomia existente, visando 
atingir uma maior compreensão sobre o tema trazido à baila, bem como facilitar o 
entendimento. Em face disso, os postulados podem ser avaliados e enquadrados em 
duas vertentes distintas, a saber: Princípios Constitucionais Explícitos e Princípios 
Constitucionais Implícitos. 
1.2 Princípios Constitucionais Explícitos 
Utiliza-se a denominação “Princípios Constitucionais Explícitos”, para fazer alusão a 
uma das vertentes que afirma que esses postulados devem ser analisados como 
reflexos da necessidade de limitar a ação punitiva do ente estatal. Para tanto, foi 
fundamental incluí-los na Carta de Outubro, como parte integrante de sua redação. 
Segundo Bitencourt (2000, pág. 09) expõe, “As ideias de igualdade e liberdade, 
apanágios do iluminismo, deram ao Direito Penal um caráter menor cruel do que 
aquele que predominou durante o Estado Absolutista, impondo limites a intervenção 
estatal nas liberdades individuais”. 
1.3 Princípios Constitucionais Implícitos 
A segunda categoria compreende os postulados que estão subentendidos da 
redação dos princípios que foram normatizados e positivados na Carta Magna. Deve-
se salientar que, por tal fato, não tem sua aplicação reduzida ou condicionada, ao 
revés, possuem a mesma eficiência dos mandamentos que foram integrados como 
pilares a Lei Maior. 
1.4 Princípio da Legalidade: Gênese Histórica 
 Trazendo à baila o tema em epígrafe, é crucial discorrer de maneira maciça a respeito 
de todos os pilares históricos que, de certa forma, contribuíram para a formação e o 
desenvolvimento de premissas que culminaram na construção de todos os 
arcabouços e aportes que sustentam o Princípio da Legalidade. Em termos primários, 
 
8 
 
é possível afirmar que se denota a pedra fundante do referido mandamento na 
redação que inaugurou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, fruto dos 
ideais advindos do Iluminismo. Assim, o artigo 8°. do documento retro citado 
preconizou que: “Ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida 
e promulgada anteriormente ao delito e legalmente publicada”. 
Tais preceitos passaram a irradiar pelos Estados, passando a integrar de 
maneira clara e fundamental as Cartas Políticas, no Brasil, a primeira manifestação 
de tais ditames foi vislumbrada na Carta Magna de 1824. Isto é, na primeira 
Constituição do Brasil, ainda quando Império, permeado por uma explícita aura de 
absolutismo e ideias diametralmente opostas às ostentadas pela democracia, aprouve 
ao constituinte positivar tal mandamento. Ou seja, em um cenário em que as ideias 
arcaicas e anacrônicas do modelo de concentração de poder tão-só na mão do 
Imperador, pilar que sustenta o chamado “Poder Moderador”, tinham pleno e irrestrito 
assento, as concepções emanadas pelo Iluminismo permitiram o favorecimento do 
princípio da legalidade, mesmo que de forma tão tímida e limitada. 
Na década de 1960, denota-se uma atmosfera marcada pela maciça repressão, 
decorrentede um regime ditatorial, cujas características mais substanciais estão 
atreladas ao total desrespeito as instituições basilares de um Estado Democrático, 
ultraje ao cidadão como ser humano dotado de potencialidades a serem 
desenvolvidas e suplantação dos aspectos primários da Tripartição dos Poderes. Isto 
é, ante a tais aspectos, fez-se premente e latente a necessidade da promulgação de 
uma Carta Magna que amparasse em seu seio valores a muito ultrajados e 
mandamentos que protegessem e resguardassem a população do poder arbitrário do 
ente estatal. Assim, o constituinte inaugurou uma nova ordem, pautada no garantismo 
constitucional. Desta feita, ao avaliar a Constituição Cidadã, vislumbra-se que o 
princípio da legalidade foi abarcado no artigo 5°. inciso XXXIX como cláusula pétrea, 
5 elencando tal preceito como Direitos e Garantias Fundamentais. 
1.5 Princípio da Legalidade: Fito Primário 
Tendo por axioma tudo o que foi apresentado, é possível dispor que o preceito 
que resguarda a concepção de legalidade desenvolveu-se como objetivo primário, 
servir como ponto efetivo a limitar a intervenção arbitrária e desmedida do ente estatal, 
 
9 
 
bem como seu poder punitivo. Ipso facto, em consequência de tais considerações, é 
válido afirmar que o arcabouço teórico que constitui tal mandamento, busca frear os 
desmandos dos governantes, a exemplo do foi observado em tempos passados. 
Assim, fica explícito que, desde tempos imemoriais até poucos séculos atrás, o 
poder do Estado/Monarquia/Império era um mero prolongamento da vontade do 
governante que condicionava a população aos seus desmandos. Frente a isso, 
evidencia-se que o princípio da legalidade desenvolveu-se como resultante de 
cenários históricos que foram marcados pela exacerbação dos poderosos ante os 
mais humildes e aqueles que possuíam opinião ou pensamento diverso do adotado. 
Em suma, fundou-se como um contraponto as tendências de exagero 
personalistas daquele que detêm o poder. Ainda nesse sentido, incumbe ressaltar 
que, segundo apregoa Mirabete (2008, pág. 38), por si só esse mandamento não se 
basta, ao contrário, é fundamental a existência de um manancial de corolários que 
sejam utilizados como alicerces e substrato. Ao trazer para a esfera penal, fica ainda 
mais nítido sua necessidade, vez que tão-somente por suas disposições, torna-se 
plausível evitar a punição, fundada no mero desejo dos governantes, daqueles que 
atentem contra a sociedade por meio da perpetração de condutas criminosas. Isto é, 
para punir, é primordial que exista uma norma anterior que preveja, de maneira 
abstrata, a conduta e apresente em seu âmago a punição cominada. É a chamada 
função de garantia penal. 
1.6 Desdobramentos do Princípio da Legalidade 
 
Fonte: marciofioravante.jusbrasil.com.br 
 
10 
 
O princípio da legalidade traz em si mais que a simples concepção de não haver 
crime sem lei anterior que o defina ou ainda pena sem prévia cominação legal, 
estende-se e gera de sua essência outros princípios de maciça relevância. Tais 
preceitos visam, em um primeiro momento, a obtenção de maior eficiência e que 
formam, segundo palavras do professor Mirabete (2008, pág. 39), “um todo 
indivisível”, de modo tal que a concretização de cada um se revela imprescindível para 
que todos os demais possam se consubstanciar. 
1.7 Princípio da Anterioridade da Lei 
Também chamado de princípio da exigência da lei anterior ou laex preavia, é 
externando por meio de uma expressão latina nullum crimem, nulla poena sine lege 
praevia. Portanto, com fulcro nesse corolário, proíbe-se a edição de leis retroativas 
que fundamentem ou agravem a punibilidade. Isto é, a lei que institui o crime e a pena 
deve ser anterior ao fato ao qual é destinada a punir. 
Assim, em linhas iniciais, torna-se latente que, fundando-se em tais premissas, 
o poder punitivo do Ente Estatal fica adstrito/condicionado as definições legais. 
Destarte, um indivíduo só poderá ser processado e condenado pelo Estado, desde 
que ao cometer uma conduta, esta esteja exaurida em um tipo legal. De igual monta, 
somente poderá ser sancionado nos limites fixados pela legislação que trouxe à baila 
o ilícito penal. 
Posto isto, Roxin (2003, pág. 34) ainda ostenta que de tal mandamento decorre 
o nomeado princípio da vedação das leis penais materiais ex post facto, ou o princípio 
que proíbe a criação de leis ad hoc. Tal preceito se alicerça em um único motivo, qual 
seja apenas aplacar o estado de ânimos e as excitações que são politicamente 
indesejáveis. Isto é, são normas construídas devido à emoção emanada pelo 
momento, e, por esse aspecto, são indesejadas por um Estado Democrático de 
Direito, dado o seu conteúdo. 
Em uma análise primária, denota-se que para empregar uma lei a um 
determinado fato, é primordial que a norma esteja em plena vigência antes do 
cometimento do crime. No mais, cabe destacar que somente a lei em sentido estrito 
pode criar crimes e penas criminais. Conseguintemente, desconsiderasse, desse 
modo, a mera possibilidade de se criar fatos delituosos e sanções penais por meio de 
 
11 
 
atos normativos lato sensu, como é o caso do decreto-lei ou medida provisória, antes 
da aprovação desta pelo Congresso Nacional, bem como por meio de decreto 
legislativo e resolução. 
Ademais, o postulado da irretroatividade da lei penal, tem pleno assento na 
Carta Política, inciso XL do artigo 5°. ao determinar: “a lei penal não retroagirá, salvo 
para beneficiar o réu”. De igual sorte, no Código Penal, no artigo 2º ao prescrever: 
“ninguém poderá ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, 
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. 
Esse princípio confere ao cidadão a segurança de não ser punido, ou não ser 
apenado mais severamente, pelo cometimento de fatos que passaram a ser 
considerados crimes ou passaram a ter pena menos branda por uma lei posterior. Isto 
é, a lei penal mais severa não pode retroagir para alcançar fatos praticados 
anteriormente a sua vigência. Esse postulado corresponde à interferência direta do 
princípio da anterioridade da lei. Entretanto, tal preceito pode ser mitigado, permitindo 
sua retroatividade quando a lei posterior for mais benéfica, essa premissa é o 
substrato sobre o qual se estrutura o princípio da retroatividade benéfica, admitido e 
privilegiado no Ordenamento pátrio. 
1.8 Princípio da Exigibilidade da Lei Escrita 
Um segundo desdobramento do princípio da legalidade é o nullum crimen, nulla 
poena sine lege scripta ou ainda chamando de princípio da exigibilidade da lei escrita. 
Isto é, conforme estabelece o princípio em apreço, para criar normas penais 
incriminadoras e as respectivas sanções mister se faz a edição de uma lei escrita, 
“submetida aos rígidos processos de formulação legislativa constitucionalmente 
estabelecidos, com obediência de todos os ritos e fórmulas para a validade formal da 
lei” (LOPES, 1994, pág. 107). 
Portanto, arrimando-se no corolário supra, fica explícita a proibição do emprego 
do direito consuetudinário (costumes e tradições) para fundamentar ou agravar a 
pena. Em face disso, os costumes não podem ser utilizados como fonte criadora de 
crimes e penas. Entretanto, cumpre destacar que a utilização dos costumes como 
fonte do Direito Penal só é vedada se maléfico ao 8 acusado, isto é, se estiver criando 
direito repressivo, instituindo ou majorando crimes e penas. Do contrário, para o 
 
12 
 
benefício do réu, a invocação do costume é devida e amplamente aceita pelo Estatuto 
Repressor Penal. 
Com espectro no apresentado, faz premente evidenciar que, devido a tradição 
da lei escrita adotada no Brasil, o denominado Civil Law, somente esta tem a 
qualificação carecida para criar a tipificação das condutas passíveis de sofrerem 
qualquer sanção. Igualmente, estabelecer as medidas a serem tomadas para punir o 
indivíduo.1.9 Princípio da Proibição da Analogia In Mallam Partem 
Nomeado, por vezes, como o princípio da lei em sentido estrito (lex stricta) ou 
ainda nullum crimen, nulla poena sine lege scricta, é outro postulado que deriva do 
princípio da legalidade. Traz como flâmula primordial a proibição de criar crimes, 
fundamentar e agravar a pena por meio de analogia, isto é, fica vedada dentro do 
Direito Penal a analogia in mallam partem. Contudo, faz-se mister arrazoar que é 
totalmente permitido a analogia in bonam partem, ou seja, será utilizada a analogia 
sempre que for benéfica ao cidadão, visto que gera a diminuição ou até mesmo a não 
aplicação da pena ao acusado. Tal fato se fixa no pressuposto que a analogia é 
baseada na concepção de semelhança, assim, em situações que há lacunas na 
legislação, é inadmissível empregar normas semelhantes para sanar tal mazela. 
Deste modo, nas palavras de Maurício Lopes (1994, pág. 123) e o mestre 
Damásio de Jesus (2003, pág. 09), o Direito Penal admite o emprego da analogia, 
desde que se atenda ao critério do favorabilia amplianda, permitindo a aplicação 
analógica dos preceitos referentes à exclusão do crime ou de culpabilidade, isenção 
ou atenuação de pena e extinção de punibilidade. Cumpre ressaltar, porém, que ficam 
ressalvados os casos em que a lei quiser excluir de certa regulamentação 
determinados casos semelhantes. 
1.10 Princípio da Proibição da Taxatividade 
O postulado em tela também é denominado de princípio da lei específica (lex 
certa) ou ainda o nullum crimen, nulla poena sine lege certa. A partir disso, fica 
determinado que são proibidas as leis penais indeterminadas, ou seja, 9 veda-se os 
 
13 
 
conceitos genéricos ou vagos que permitem abusos e interpretações equivocadas Isto 
é, o Ordenamento Criminal Brasileiro estabelece que os tipos penais devem ser claros 
e precisos, ou seja, o legislador, ao elaborar a figura típica, não deve deixar margens 
a dúvidas, nem utilizar termos genéricos, muito abrangentes, visto que a lei só irá 
realizar a sua função preventiva, motivando o comportamento humano, se for 
acessível a todas as pessoas, em todos os níveis sociais. 
1.11 Princípio da Legalidade e o Princípio da Reserva Legal 
Segundo alguns posicionamentos, o princípio da reserva legal é um sinônimo 
do princípio da legalidade, contudo, a fim de trazer à baila um aspecto interessante 
intrínseco no corolário tema do presente artigo. Assim, admitindo que o princípio da 
reserva legal Isto é, a reserva legal está intimamente atrelada ao fato da lei possuir 
aspecto formal e, por isso, assemelha-se ou mesmo pode ser considerado como um 
simples sinônimo do corolário do nullum crimen, nulla poena sine lege stricta. 
1.12 Considerações Finais 
Diante de tudo o que foi apresentado, é possível constatar de maneira clara e 
transparente a real importância dos muitos princípios que permeiam a Ciência 
Jurídica, sobretudo, em especial, o da legalidade. Este corolário veda a utilização das 
normas como simples e caprichosa manifestação da vontade do governante, 
asseverando um cunho de imparcialidade, tal como deve ser, ao Ordenamento 
Jurídico, de modo geral, e o Estatuto Repressor Penal e normas alienígenas, em 
especial. Assim, adotando como premissa final o fato da norma ser abstrata, sendo 
empregada a todos, sem qualquer distinção, conforme o princípio da 10 isonomia 
apregoa. É latente salientar que as leis criminais por tutelarem de maneira singular 
um dos bens jurídicos mais valorados, a liberdade, deve ter sua atuação limitada aos 
casos que realmente necessitem e de acordo com os ditames que fixa, sem prejudicar 
nenhum indivíduo e visando garantir a harmonia da coletividade. 
 
14 
 
2 PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL 
 
Fonte: blog.projetoexamedeordem.com.br 
Processo e Constituição são inseparáveis e o regramento do direito processual 
penal deve ser interpretado à luz dos valores políticos que fundamentam a 
Constituição, pois “a efetividade daquele, dentro de um Estado Democrático de 
Direito, somente será possível se realmente for interpretado a partir desta, diretriz 
maior para a construção de um processo devido”. Nessa perspectiva, a relação 
processual penal haverá necessariamente que desenvolver-se sobre a estrutura 
democrática escolhida pela Constituição, devendo adaptar-se e conforma-se ao 
paradigma adotado, compatibilizando o sistema normativo vigente, implicando em 
conceber o Direito Processual Penal não apenas como realização do direito penal 
material, mas também como Direito Constitucional Aplicado. 
Consequentemente, a República Federativa do Brasil, ao insculpir em seu texto 
constitucional o Estado Democrático de Direito como padrão a ser seguido, 
comprometesse com a implementação e sustentação de uma política de respeito à 
dignidade da pessoa humana como valor fundamental do Estado, implicando, 
inexoravelmente, na adoção de um rol de garantias em matéria criminal inerentes ao 
 
15 
 
paradigma adotado. Assim, ao avocar o modelo de Estado Democrático de Direito na 
Constituição, em termos de processo penal, o Estado passa a adotar o procedimento 
acusatório como superação do procedimento inquisitivo, consistindo em um processo 
público (com a supressão do secreto), isonômico, contraditório, e com a efetiva 
participação do acusado e seu defensor no processo, tendo como escopo principal a 
proteção jurídica (garantia) do acusado. 
Segundo o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, Código de Processo 
Penal: 
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este 
Código, ressalvados: 
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; 
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros 
de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros 
do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 
86, 89, § 2º, e 100); 
III - os processos da competência da Justiça Militar; 
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, 
no 17); 
V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130) 
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos 
nos nºs. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo 
diverso. 
Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade 
dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. 
Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação 
analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. 
2.1 SISTEMA INQUISITIVO 
O sistema inquisitivo é um modelo histórico14 e inicia, paulatinamente, a partir 
do século XII, momento que até então vigia o sistema acusatório Greco-romano, sob 
a justificativa de que esse modelo da democracia antiga era totalmente ineficiente. A 
proteção excessiva do acusado, com punição a denúncias caluniosas, a 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%203.689-1941?OpenDocument
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art86
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art86
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art89
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art89§2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art100
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art122.17
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm#art122.17
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=12837
 
16 
 
responsabilidade de a acusação ser manejada por uma pessoa privada e a 
dificuldade, por consequência, de coletar as provas necessárias à acusação, levaram, 
aos poucos, a substituição da pessoa que iria ter o encargo da persecução criminal. 
No sistema inquisitivoo poder de acusação dos particulares e deslocam-se como uma 
função do Estado. 
A peculiaridade principal do processo penal inquisitivo, denuncia Coutinho, é “a 
gestão da prova”, ganhando especial destaque a confissão, por ser um “ato sujeito 
criminoso e que falta, é a peça complementar de uma informação escrita e secreta”. 
Entretanto, existe uma ambiguidade em relação à confissão, uma espécie de cálculo 
geral das provas, pois de um lado há uma preocupação com a confissão, devido ao 
fato de alguns acusados confessarem crimes que sequer cometeram, exigindo, assim, 
indícios complementares; de outro modo, mesmo diante dessa preocupação, havendo 
divergência da confissão com qualquer outra prova, prevalece à primeira. 
Outra característica do sistema inquisitivo é a existência de duas fases, 
denominadas, respectivamente, de: inquisição geral e inquisição especial. A primeira 
fase tinha a função de apurar a materialidade delitiva e a autoria do crime, como uma 
fase antecedente para a fase especial, que era destinada a condenação e aplicação 
do castigo. Nesse sistema processual a prisão é regra35, que significa dizer que o 
acusado fica recluso de maneira provisória durante todo o curso processual, como 
forma de evitar burlas para se chegar à verdade real ou prevenir que o acusado, em 
comunicação com o mundo exterior, possa desvirtuar os caminhos regulares do 
processo. Além disso, a tortura é outro instrumento utilizado como forma de obter a 
confissão do acusado, sendo-lhe submetido a uma atenta verificação, com 
interrogatórios incansáveis. 
2.2 Sistema Acusatório 
O sistema acusatório possui dois estágios na história da humanidade. Em um 
primeiro momento, quando vigorava a democracia antiga, o sistema acusatório 
desenvolve suas estruturas na Roma e Grécia antiga, como forma de condução do 
procedimento de condenação (ou absolvição). Por outro lado, após a idade medieval, 
nos idos do final do século XVIII, o sistema acusatório (re)assume a regulação 
 
17 
 
procedimental do processo penal, com outras feições, novas adaptações e conceitos 
inovadores. 
O princípio do acusatório caracteriza-se pela distinção das funções dos três 
sujeitos processuais: acusação, defesa e julgador (ponto de vista estático), sendo 
necessário para caracterizá-lo, satisfatoriamente, realizar “observação do modo como 
se relacionam juridicamente autor, réu, e seu defensor, e juiz, no exercício das 
mencionadas funções” (ponto de vista dinâmico). 
Se no sistema inquisitivo a defesa era vista com óbice ao desenvolvimento 
regular do processo, no sistema acusatório o oposto se estabelece e a defesa é 
imprescindível para curso regular do procedimento de condenação. A paridade de 
armas entre acusação e defesa é que irá proporcionar uma decisão imparcial do caso. 
A consciência de que o acusado é a relação mais frágil do processo impõe a criação 
de uma rede de garantias. 
Entretanto, importante alertar que o sistema acusatório (moderno) apresentado 
sofre mitigações ou é mal compreendido (e mal utilizado) em diversos países, 
especialmente na realidade jurídica brasileira, detentor de um Código de Processo 
Penal formulado em 1941, eivado de diversos mecanismos nitidamente inquisitorial. 
2.3 Sistema Misto 
O sistema misto é fruto do fracasso da inquisição, uma substituição moderada 
dos modelos inquisitivos através da implantação de mecanismos do modelo 
acusatório antigo, mas sem permitir a persecução criminal através dos particulares. 
 A história nos revela que o Código de Napoleão de 1808 foi o primeiro 
ordenamento jurídico que adotou o sistema bifásico (misto), caracterizado, como o 
próprio nome sugere, pela mescla dos dois sistemas anteriores: o acusatório e o 
inquisitivo. Seu modelo bifásico permite a criação de dois momentos distintos, tem-se 
uma primeira fase pré-processual, investigatória, sigilosa, secreta, escrita, sem 
contraditório, nos moldes do sistema inquisitivo e uma segunda processual, 
contraditória, com publicidade dos seus atos, como se fosse um sistema acusatório 
propriamente dito. 
O que precisa ficar claro, desde logo, é que o ponto crucial para identificação 
de um sistema é a gestão da prova. No sistema acusatório o que predomina, no 
 
18 
 
tocante à gestão probatória, é o princípio dispositivo, que impõe a necessidade de as 
partes produzirem o material probatório. No sistema inquisitivo o que prevalece é o 
princípio inquisitivo, onde a gestão da prova fica a cargo do inquisidor. Dito em outras 
palavras, “não há – e nem pode haver – um princípio misto, o que, por evidente, 
desconfigura o dito sistema”, porque não há um elemento unificador nele. 
O sistema nunca será misto, isso porque ou ele é inquisitório (como mitigações 
acusatória) ou ele é acusatório com elementos (secundários) inquisitórios. 
Pouco importa o que diz o CPP, o CP e as leis ordinárias esparsas, o que deve 
prevalecer, independentemente de qualquer dispositivo, é a Constituição. A 
desobediência aos preceitos constitucionais é um dos atos mais autoritários e 
violentos, um dos desrespeitos mais graves na democracia moderna, pois ela é (a 
Constituição) uma das principais formas de garantir plena efetividade dos direitos 
fundamentais e da própria essência do Estado. 
Sem perder de vista a inconfundível e imperiosa interpenetração entre aos 
aspectos referidos, a identificação qual sistema adotado no ordenamento jurídico 
pátrio deve se pautar nos preceitos insculpidos na Carta Política do Estado, avaliando 
que as disposições das normas infraconstitucionais em sentido contrário, nada mais 
são do que violações a norma fundamental. 
2.4 Sistema Processual Penal Brasileiro 
 
Fonte: www.uv.mx 
Certamente, a tarefa de demonstrar qual o sistema processual penal brasileiro 
não é fácil81, ainda mais diante da realidade jurídica brasileira, onde o complexo de 
 
19 
 
normas que incidem sobre o processo penal aponta para direções diametralmente 
opostas. Isso significa dizer que há uma dificuldade em conciliar o Código de Processo 
de 1941, a Constituição de 1988 e outras tantas normas esparsas que compõe o 
sistema punitivo. 
Apesar dessa dificuldade, o ponto decisivo neste processo, conforme toda 
estrutura ideológica adotada até então, deve ser a Constituição. Em termos didáticos, 
alguns pontos serão analisados nessa perspectiva, a saber: a iniciativa da ação penal, 
a gestão da prova, a divisão das funções das partes, a imparcialidade do juiz, a ampla 
defesa, o contraditório, a publicidade e a oralidade. Vale dizer, definido a hermenêutica 
constitucional sobre os seguintes temas, ficará mais evidente o sistema processual 
penal adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro, embora se reconheça que o 
Código de Processo Penal tenha relevância no assunto, a compatibilização de suas 
normas com a Magna Carta é indispensável para validar qualquer dispositivo do 
Código de Ritos Penais. 
Nessa organização nota-se que a iniciativa da ação penal, na sistemática 
brasileira, fica a cargo do MP, conforme dispõe o art. 129, inc. I da CF-88, embora em 
alguns casos a iniciativa da ação penal seja do ofendido ou esteja condicionada a 
representação, nos termos do art. 5, inc. LIX83 da CF-88. Com isso, as bases do 
sistema acusatório começam a se desenhar, uma vez que o juiz deverá se comportar 
com espectador, deixando a cargo do órgão do parquet a iniciativa da ação penal, não 
tendo a função de acusar. 
Entretanto, sobre iniciativa da ação penal, imperioso destacar o inquérito 
policial, precedente e necessário para propositura da ação penal, com intuito de dar 
justa causa para ação penal, método de investigação preliminar para evitar ações 
penais desarrazoadas, sem o menor sentido. O inquérito tem a finalidade de reunir 
indícios suficientes da autoria e atestar a materialidade delitiva, a fim de possibilitar ou 
não, após o relatório da autoridade policial, o início da ação penal a cargodo órgão 
de acusação (em regra, o Ministério Público). 
Se a Constituição prevê o devido processo legal, a ampla defesa, a vedação 
das provas ilícitas, a publicidade, a duração razoável do processo, o princípio do juiz 
natural, a presunção de inocência, não há como sustentar que o sistema adotado é 
inquisitivo, misto ou outro nome que se queira dar. Com tantas garantias 
constitucionais, fica claro que a gestão da prova não poderá ser regida pelo princípio 
 
20 
 
inquisitivo, decididamente não. O princípio que irá coordenar o procedimento de 
acusação é o princípio dispositivo, pois qualquer possibilidade de o magistrado 
interferir no sistema de colheita de provas representa uma ferida em sua 
imparcialidade, que é definida pela norma hierárquica do Estado. Por isso qualquer 
dispositivo, seja do ano que for, escrito pela forma que preferir o legislador, tem que 
estar em conformidade com a imparcialidade constitucional do juiz. 
2.5 O Pacto De São José Da Costa Rica No Direito Processual Penal Brasileiro 
O direito processual penal governa a atividade jurisdicional do Estado e 
relaciona-se intimamente com o Direito Constitucional, que, além de entrelaçar suas 
normas com as de todos os demais campos do direito, lhe determina as bases 
diretoras. 
A nossa Carta Magna também faz referência a um direito processual unitário. 
Tanto é assim, que contamos com vários princípios que servem indistintamente a 
ambos os ramos. Em seu artigo 22, inciso I, atribui à União a competência privativa 
para legislar sobre o direito processual. O artigo 24, inciso XI, distribui a competência 
concorrentemente à União, aos Estados e ao Distrito Federal para legislar sobre 
procedimentos em matéria processual. No artigo 5º, inciso LIV, anota que “ninguém 
será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. 
Em complemento à legislação nacional, há também a legislação alienígena, 
que incorpora o ordenamento doméstico e adquire validade normativa, como é o caso 
de um dos mais importantes documentos internacionais consagradores de direitos e 
garantias é o Pacto de São José da Costa Rica, também conhecido como Convenção 
Americana de Direitos Humanos, de 22 de novembro de 1969. 
Pelo Decreto nº 678, de 6/11/1992, a Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, integrou o nosso 
ordenamento jurídico. Ratificado pelo Brasil, desde então, os direitos e garantias 
processuais constantes de seu artigo 8º, que fala das garantias judiciais, passaram a 
complementar a Lei Maior, especificando ainda mais as regras do devido processo 
legal, pois, o artigo 5º, § 2º, prescreve que “os direitos e garantias expressos nesta 
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela 
 
21 
 
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja 
parte”. 
2.6 Princípios Processuais Penais 
O processo penal, assim como os demais ramos do direito, também possui 
regras e princípios próprios (NUCCI, 2014). 
2.6.1 Princípio do devido processo legal (art. 50, lv). 
É a matriz onde todos os demais princípios processuais vão buscar 
fundamento. Possui duas acepções, o devido processo formal e o devido processo 
substancial. 
A primeira acepção, ou seja, o devido processo procedimental tem por objetivo 
apenas assegurar o regular e justo andamento do processo judicial, através da 
instrução contraditória, do direito de defesa, do direito de ser citado, do duplo grau de 
jurisdição e da publicidade dos julgamentos, entre outras garantias. 
Desdobra-se em três aspectos fundamentais: a) adequação (o intérprete deve 
identificar o meio adequado para a consecução dos objetivos pretendidos); b) 
necessidade ou exigibilidade (o meio escolhido não deve exceder os limites 
indispensáveis à conservação dos fins desejados); c) proporcionalidade em sentido 
estrito (o meio escolhido, no caso específico, deve se mostrar como o mais vantajoso 
para a promoção do conjunto de valores em jogo). 
2.6.2 Princípio da igualdade 
Trata-se da isonomia processual. Em juízo, as partes devem ter as mesmas 
oportunidades de fazer valer suas razões, e ser tratadas igualitariamente na medida 
de suas igualdades, e desigualmente na medida de suas desigualdades. 
2.6.3 Princípio Da Reserva De Jurisdição. 
O postulado da reserva constitucional de jurisdição - consoante assinala a 
doutrina de Canotilho (1998, p.580 e 586) - importa em submeter, à esfera única de 
decisão dos magistrados, a prática de determinados atos cuja realização, por efeito 
de verdadeira discriminação material de competência jurisdicional fixada no texto da 
Carta Política, somente pode emanar do juiz, e não de terceiros, inclusive daqueles a 
 
22 
 
quem se hajam eventualmente atribuído "poderes de investigação próprios das 
autoridades judiciais". 
É por esse princípio que se veda à Comissões Parlamentares de Inquérito, por 
exemplo, praticar atos que a Constituição reservou com exclusividade aos 
magistrados. Entre essa "reserva de jurisdição" constitucional incluem-se: a prisão, 
salvo flagrante (CF, art. 5°, inc. LXI); a busca domiciliar (CF, art. 5°, inc. X) e a 
interceptação ou escuta telefônica (art. 5°, inc. XII); exercer o poder geral de cautela 
judicial: isso significa que a CPI não pode adotar nenhuma medida assecuratória real 
ou restritiva do 'jus liberta tis: incluindo-se a apreensão, sequestro ou indisponibilidade 
de bens ou mesmo a proibição de se afastar do país. 
2.6.4 Princípio do contraditório ou da bilateralidade da audiência (art. 5.0, inc. Lv). 
Não há devido processo legal sem o contraditório, que vem a ser, em linhas 
gerais, a garantia de que para toda ação haja uma correspondente reação, garantindo-
se, assim, a plena igualdade de oportunidades processuais. 
O contraditório, por exemplo, obriga que a defesa fale sempre depois da 
acusação. Assim, no Processo Penal as testemunhas arroladas na peça acusatória 
são inquiridas em primeiro lugar (art. 396, CPP) e as alegações finais do réu são 
oferecidas também anteriormente as do acusador (art. 500). 
Com fundamento em tal princípio o Superior Tribunal de Justiça anulou um 
"processo a partir do julgamento, por entender que, na hipótese, o Ministério Público, 
além de atuar como fiscal da lei, era também parte, e como tal, à luz da Constituição 
vigente, não pode proferir sustentação oral depois da defesa:' (BRASIL,20070) 
 
Fonte: blog.luizcarlos.com.br 
 
23 
 
A essência do contraditório pode ser sintetizada na fórmula informação 
(necessária) e participação (eventual), ou seja, a necessária ciência, por ambas as 
partes, do que se faz ou que se pretende que seja feito no processo e possibilidade 
de cooperar e contrariar. 
2.6.5 Princípio da Ampla Defesa (Art. 5. °, INC. LV). 
 
O princípio da ampla defesa assegura aos litigantes, em processo judicial ou 
administrativo, a utilização dos meios de prova, dos recursos e dos instrumentos 
necessários para defesa de seus interesses perante o Judiciário e a Administração. 
O processo não é um procedimento inquisitório, mas dispositivo. Deve-se, 
portanto, possibilitar aos litigantes a oportunidade de apresentarem defesa em sentido 
amplo. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral 
são assegurados o contraditório e a ampla defesa com os meios e recursos a ela 
inerentes. 
A ampla defesa compõe-se da defesa técnica e da autodefesa. O defensor 
exerce a defesa técnica profissional), que exige a capacidade postulatória. O acusado, 
por sua vez, exercita ao longo do processo (v.g., quando é interrogado) a autodefesa 
(defesa material). Ambas, juntas, compõem a ampla defesa. Como defensor do réu, o 
advogado age como representante técnico da parte. Neste mister parece-nos que 
cabe a este profissional exercitar a sua defesa mesmo contra a vontade do réu, até 
porque o direito de defesa é indisponível.Admite-se, por exemplo, a interposição de recurso mesmo contra a vontade do 
réu, pois deve, como regra geral, prevalecer a vontade de recorrer, só se admitindo 
solução diversa quando, por ausência do interesse utilidade, não seja possível 
vislumbrar, em face de circunstâncias do caso, vantagem prática para o acusado. Isto 
ocorre por que a regra da disponibilidade dos recursos sofre exceções no processo 
penal, em que a relação jurídica de direito material controvertida é de natureza 
indisponível. 
2.6.6 Princípio do estado de inocência (art. 5. °i inc. Lvii). 
"Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença 
penal condenatória". O STJ sumulou o entendimento de que a exigência de prisão 
 
24 
 
provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de 
inocência. 
Por seis votos contra cinco, o Pleno do STF entendeu que a regra do art. 594 
do CPP - "o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, (...)" - continua em vigor, 
não tendo sido revogada pela presunção de inocência do art. 5°, LVII, da CF - que, 
segundo a maioria, concerne à disciplina do ônus da prova -, nem pela aprovação, em 
28.05.92, por decreto-legislativo do Congresso Nacional, do Pacto de S. José, da 
Costa Rica. 
O STF já decidiu que não desqualifica, como índice de maus antecedentes do 
acusado (CP'art. 59), o fato de o mesmo haver sido processado e absolvido, noutra 
ação penal, pelo reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva. 
2.7 Identidade física do Juiz 
Trata-se de princípio que vincula o magistrado que presidiu a instrução, ou seja, 
colhendo provas, ao julgamento do processo, com esteio no artigo 399, § 2º, do 
Código de Processo Penal (NUCCI, 2014). 
A doutrina salienta que o princípio da identidade física do juiz decorre do 
princípio da oralidade, uma vez que historicamente se davam através do Tribunal do 
Júri (NUCCI, 2014). 
Com o advento das Leis 11.689/2008 e 11.719/2008, consagrou-se os 
princípios da oralidade e seus consectários, a saber, da, concentração e, o ora 
analisado, princípio da identidade física do juiz, nos termos dos artigos 399, §2º, 440, 
§1º, 411, § 2º, todos do Código de Processo Penal (NUCCI, 2014). 
Cuidam-se de princípios que interferem na percepção pessoal do juiz sobre a 
prova colhida (LOPES JR. 2012). 
Daí, a doutrina suscita o debate de pontos positivos e negativos do presente 
princípio. 
De um lado, a doutrina sustenta que o magistrado poderá criar laços 
psicológicos com as partes e as testemunhas (LOPES JR., 2012), lado outro, o juiz, 
quando determinar diligências ao final da audiência de instrução, abrirá vista às partes 
para apresentação de memoriais e, se neste ínterim, o julgador tiver que ser removido 
 
25 
 
daquele órgão jurisdicional, quer por promoção ou aposentadoria, trará atraso ao 
processo (RANGEL, 2010). 
Destarte, conforme salienta LOPES JR. (2012) o princípio ora analisado 
confere maior benesse que prejuízos aos processos e, neste diapasão, o magistrado 
poderá confrontar a prova oral colhida em audiência com aquela produzida na fase 
inquisitiva, podendo, assim, rechaçar a possibilidade de mácula em seu juízo. 
Assim, confere-se ao processo penal maior lisura na decisão do magistrado, o 
que se coaduna ao princípio do juiz natural. 
2.7.1 Persuasão racional 
O princípio em análise, segundo a doutrina, “regula a apreciação e a avaliação 
das provas existentes nos autos, indicando que o juiz deve formar livremente sua 
convicção” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, p. 73, 2007). 
Salienta a doutrina que o princípio em tela consiste em o magistrado apreciar a 
prova livremente, desde que colacionada aos autos (GRECO FILHO, 2012). Deverá 
ainda a referida prova ser submetida ao crivo do contraditório (RANGEL, 2010). 
Nesse influxo, o princípio em análise, também conhecido como livre convicção 
motivada, assim o é conhecido em razão da obrigatoriedade do juiz fundamentar sua 
decisão, com esteio no artigo 93, IX, da Constituição Federal (RANGEL, 2010). 
Sobre o tema, FERRAJOLI (2014) faz críticas uma vez que poderá haver 
critérios discricionários de avaliação da prova e, com um abastado de dizeres, sem 
nenhum apego à hermenêutica, fundamentar a decisão. Assim, a despeito da 
convicção do juiz livre, deve evitar que “em mentes já distorcidas e debilitadas [sem 
apego à hermenêutica], por força de sorites e sofismas, aquilo que seja 
manifestamente verdadeiro, passando de proposição em proposição, por levíssimas 
e quase imperceptíveis mutações, produza o falso” (NICOLINI, apud FERRAJOLI, 
2014, p. 181). 
Oportunamente relatou-se sobre o objetivo do garantismo penal constitucional 
tratar-se do reforço dos princípios eleitos pela Constituição. Assim, o modelo de 
apreciação da prova trazido pelo novel Código de Processo Civil, em seu artigo 371, 
que também influenciará as Tábuas Processuais Penais, coaduna-se com o 
garantismo, uma vez que “o juiz apreciará a prova constante dos autos, 
independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões 
da formação de seu convencimento” (CURIA; CÉSPEDES; ROCHA, 2015, p. 128). 
 
26 
 
Para arrematar, verificou-se a íntima relação do princípio da persuasão racional 
com o sistema de produção de provas. 
2.7.2 Verdade real 
O processo penal possui caráter instrumental e salienta a teoria base do 
presente trabalho que “se uma justiça penal integralmente ‘com verdade’ constitui uma 
utopia, uma justiça penal completamente ‘sem verdade’, equivale a um sistema de 
arbitrariedade” (FERRAJOLI, 2014, p. 48). 
O processo penal tem como escopo alcançar elementos probatórios e lícitos 
para lançar certeza, dentro dos autos, contudo, não correspondendo a verdade do 
mundo dos homens (RANGEL, 2010). 
Deste raciocínio se depreende o conceito de verdade formal, ou verdade 
processual, onde vigora o princípio do dispositivo, do processo civil (CINTRA; 
GRINOVER; DINAMARCO, 2007). Neste viés, o magistrado pode “satisfazer-se com 
a verdade formal (ou seja, aquilo que resulta ser verdadeiro em face das provas 
carreadas aos autos)” enquanto “no processo penal o juiz deve atender à averiguação 
e ao descobrimento da verdade real (ou verdade material), como fundamento da 
sentença” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2007, p; 71). 
Relativamente à verdade formal no processo penal, a mesma, 
excepcionalmente, é aceita no processo penal quando “não disponha de meios para 
assegurar a verdade real (CPP [Código de Processo Penal], art. 386, inc. VI)”, 
ilustrando-se com o exemplo de absolvição do réu, “não poderá ser instaurado novo 
processo criminal pelo mesmo fato [bis in idem], após a coisa julgada, ainda que 
venham a ser descobertas provas concludentes contra ele” (CINTRA; GRINOVER; 
DINAMARCO, 2007, p; 71). 
Nesse influxo, Rangel (2010) faz críticas no caso em que o magistrado, quando 
verificada ausência total de provas, digna-se a produção de provas ao argumento da 
busca da verdade real. Salienta o processualista pátrio que o magistrado ao agir desse 
modo, busca a condenação e não absolvição, uma vez que esta já era patente pela 
ausência de provas. 
Como acima já exposto sobre uma verdade absoluta, “a impossibilidade de 
formula um critério seguro de verdade das teses judiciais depende do fato de que a 
 
27 
 
verdade ‘certa’, ‘objetiva’ ou ‘absoluta’ representa sempre a expressão de um ideal 
inalcançável” (FERRAJOLI, 2014, p. 52). 
Assim, Ferrajoli (2014) traduz a verdade material como sendo uma verdade 
aproximativa. 
Daí abre-se a possibilidade para refutação da prova, o que se dá através da 
ampla defesa, contraditório e devido processo legal, princípios oportunamente já 
estudados. 
Com isso, verifica-se que a linha tênue entre a formação da justa causa e o 
sistema probatório, especialmente o inquérito, e o princípio ora analisado. 
2.7.3 Justa causa 
Em regra, o processo penal só poderá se desencadear quando houveremindícios mínimos de autoria e materialidade da conduta delitiva imputada a algum 
indivíduo. Não é necessário ser o inquérito policial o principal instrumento para 
formação da justa causa, contudo, sobre o tema, o mesmo será abordado em 
momento oportuno, quando da análise do inquérito policial. 
Alerta a doutrina tratar-se de uma condição da ação penal (RANGEL, 2010) e 
esta é conceituado como suporte probatório mínimo. 
Não é crível, em um Estado Democrático de Direitos, aceitar uma condenação 
fundada em acusações sem fundamento. Necessário, então, repisar a doutrina de 
Ferrajoli (2014) que leciona no sentido de não ser o processo penal máquina de 
condenações, tampouco tirano e arbitrário, todavia ser a tutela dos inocentes. 
Quando verificada a ausência da justa causa, o juiz ao invés de receber a 
denúncia poderá rejeitá-la de plano, nos termos do artigo 395, III, do CPP. Em sendo 
o caso de recepção da denúncia, não há previsão no ordenamento jurídico para 
recurso apto a atacar tal decisão, contudo, a doutrina salienta sobre a possiblidade de 
combater o recebimento da denúncia, quando houver ausência de justa causa, pelo 
remédio do habeas corpus, nos termos do artigo 648, I, do CPP (RANGEL, 2010). 
Em que pese ser regra, no ordenamento jurídico pátrio, o princípio da 
presunção da inocência e do favor rei, é possível o magistrado receber a denúncia 
para, na asserção, verificar a veracidade da conduta imputada ao acusado. 
Dessa premissa se extraí a importância do inquérito policial para deslinde da 
ação penal. 
 
28 
 
 
Fonte: www.iped.com.br 
São daqueles elementos contidos na peça de informação que vão dar base ao 
Ministério Público para sustentar a denúncia. 
Se a justa causa nasce a partir dos elementos probatórios mínimos, começa-
se a indagar a possibilidade do magistrado participar da formação destes elementos 
de uma forma proativa. 
Faz-se necessário fazer a seguinte linha do tempo: a doutrina (RANGEL, 2010; 
LOPES JR., 2012 e NUCCI, 2014) aponta que a justa causa é condição da ação penal, 
que nasce na peça de informação. Salienta-se que o próprio Código de Processo 
Penal autoriza a intervenção do magistrado na produção da justa causa nos termos 
do artigo 156 do CPP (RANGEL, 2010). 
Assim, deve ser feita acurada análise da legislação processual penal, 
notadamente seus artigos 155 ao 157, todos do Código de Processo Penal. Em que 
pesem estarem os dispositivos legais insertos onde o Código trata das provas, a 
análise é pertinente, nos termos do que se explanará oportunidade. 
2.7.4 Do artigo 155 do CPP 
Está disposto, in verbis, o artigo 155 do Código de Processo Penal: 
 
 
29 
 
O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em 
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente 
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas 
cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, 
de 2008). (CURIA; CÉSPEDES; NICOLETTI, p. 651 2015) 
As provas são avaliadas por intermédio de três sistemas, a saber: a) livre 
convicção, onde a valoração da prova vem do íntimo e das experiências pessoais do 
julgador, dispensando-se a motivação dos votos, conforme se vê na votação dos 
jurados; b) prova legal, onde a prova teria um valor predeterminado pela lei, 
restringindo a atividade do julgador; por fim, c) a persuasão racional ou livre 
convencimento motivado, que trata-se de método misto adotado pelo Código de 
Processo Penal e, na ótica da doutrina, do art. 93, IX, da Constituição Federal (NUCCI, 
2008). 
Contudo, a prova não pode ser apreciada de forma tão livre como a doutrina 
costuma salientar, pois tal não se alia ao ensinamento supracitado do direito de ver 
os argumentos considerados, tampouco aos princípios garantistas da Constituição 
Federal. 
Se o Ministério Público lança o argumento “A”, enquanto a defesa lança 
argumento “B”, todos baseados na mesma prova, quiçá única do processo, não 
poderá o magistrado apresentar argumento “C” sem antes analisar os pedidos 
formulados. 
Importante buscar melhor fundamento na doutrina processual civil, senão 
vejamos: 
 A motivação da decisão é essencial para que se possa verificar se o juiz 
prolator da decisão era ou não imparcial. Isto se dá por uma razão. Ao 
contrário do administrador e do legislador, que recebem sua legitimação 
antes de exercerem suas atividades (já que tal legitimação provém do voto 
popular), o juiz não é previamente legítimo. A legitimação do juiz só pode ser 
verificada a posteriori, através da análise do correto exercício de suas 
funções. Assim, a fundamentação das decisões é essencial para que se 
possa realizar o controle difuso da legitimidade da atuação dos magistrados. 
Trata-se, pois, de mais uma garantia ligada à ideia de processo justo, de 
devido processo legal. (CÂMARA, 2008, p. 55) 
É através da fundamentação que se poderá verificar se o magistrado está 
contaminado com a produção de provas anterior ao processo com todos os princípios 
citados no primeiro capítulo. É através dessa indagação que começa a se construir a 
problemática do presente trabalho, qual seja a sistemática do processo penal vigente 
frente aos princípios garantistas da Constituição Federal. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm#art1
 
30 
 
Mais a mais, o artigo 155 do CPP proíbe a fundamentação com base exclusiva 
no inquérito, ressalvadas aquelas provas produzidas antes da ação penal. Alerta a 
doutrina a especialidade na decisão que condena com base exclusiva em inquérito 
quando não for possível se repetir a prova ou a mesma se der de forma cautelar 
(NUCCI, 2008). 
3 O PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO NO DIREITO PROCESSUAL PENAL 
O oferecimento da denúncia é um marco fundamental no processo penal, pois 
deflagra a ação penal e permite que seja iniciada a formação da relação processual, 
que se completará através da citação do denunciado, conforme preleciona a própria 
redação do art. 363, alterado pela Lei n° 11.719/08. Sendo um ato processual de suma 
relevância, o Código de Processo Penal, em seu art. 41, elenca os requisitos 
necessários da denúncia, haja vista que através da ação penal, o Ministério Público 
deduz em juízo uma verdadeira pretensão, tendo em vista o pedido formulado na 
inicial acusatória que visa a condenação do réu por infração a um dos tipos penais 
previstos em nosso Código Penal. (SILVA, 2016) 
Ao realizar o juízo de admissibilidade da acusação, cabe ao juiz examinar se 
estão presentes os indícios de materialidade e autoria lastreados em um mínimo 
suporte probatório, permitindo-se que com o desenvolvimento do processo, o juiz 
possa prolatar uma sentença de mérito 
A denúncia tem como fim precípuo a delimitação da res in judicium deducta, ou 
seja, a delimitação da matéria a ser conhecida pelo juízo, bem como a individualização 
do pedido, permitindo ao magistrado prolatar sua sentença em observância ao 
princípio da correlação, ou adstrição, pois já delimitado o ―conteúdo e a amplitude da 
prestação jurisdicional. 
Para tanto, a imputação no processo penal deve demonstrar a tipicidade do 
fato, sua ilicitude, bem como a culpabilidade, os três elementos necessários para a 
configuração analítica do crime. (ALVES E BURRI, 2009) 
 
31 
 
3.1 A EMENDATIO LIBELLI 
A emendatio libelli consiste em uma simples operação de emenda ou 
corrigenda da acusação no aspecto da qualificação jurídica do fato. O Código de 
Processo Penal, na redação primitiva, previa-a, no art. 383, ao dispor: O juiz poderá 
dar ao fato definição jurídica diversa da que constar da queixa ou da denúncia, ainda 
que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. 
A emendatio libelli é prevista no artigo 383 do Código de Processo Penal, que 
foi modificado recentemente pela Lei 11.719/08. A redação anteriorassim estabelecia: 
“O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da que constar da queixa ou da 
denúncia, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave”. 
O novo texto do artigo 383 dispõe que “o juiz, sem modificar a descrição do fato 
contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda 
que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave”. (ALVES E BURRI, 2009) 
A emendatio é aplicável nas hipóteses em que os fatos se mantém inalterados 
durante a instrução, modificando-se apenas sua capitulação jurídica. É o que ocorre, 
por exemplo, quando o promotor, na denúncia, narra um furto simples, mas o tipifica 
como qualificado. Em tal caso, o juiz poderá, valendo-se da emendatio libelli, 
sentenciar pelo crime de furto simples. Conforme acentua a Ministra Jane Silva, em 
recente acórdão, “o princípio da correlação entre a peça vestibular e a sentença é um 
dos pilares do nosso processo penal, entretanto, tal princípio deve coexistir com o da 
livre dicção do direito, jura novit curia, isto é, o juiz conhece o direito, é ele quem cuida 
do direito, expresso na regra narra mihi factum dabo tibi jus (narra-me o fato e te darei 
o direito). Se o fato criminoso está descrito na denúncia, ainda que não tenha ali sido 
capitulado, pode o Juiz por ele condenar o acusado, posto que a defesa é contra os 
fatos e não contra a capitulação do delito. A emendatio libelli é procedida de ofício, 
tanto em primeiro como em segundo grau de jurisdição, sem qualquer formalidade 
prévia”1. 
Existe certa controvérsia sobre o momento processual em que a emendatio 
pode ser aplicada. Alguns entendem que não é lícito ao juiz, no ato de recebimento 
da denúncia, quando faz apenas juízo de admissibilidade da acusação, conferir 
definição jurídica aos fatos narrados na peça acusatória, somente podendo fazê-lo no 
 
1 STJ - HC 47838/GO – 6ª. T. - Rel. Min. Jane Silva – j. 27.03.2008 – DJ 14.04.2008 
 
32 
 
momento da prolação da sentença 2 . Em sentido contrário, entendemos que a 
emendatio pode ser aplicada a qualquer tempo, até mesmo no recebimento da 
denúncia. Apesar do entendimento uníssono de que o acusado se defende dos fatos 
e não da capitulação legal que lhe é atribuída na peça acusatória, não se pode olvidar 
que a defesa, ao formular sua tese, se debruçará também sobre a capitulação 
formulada pela acusação3. (ALVES E BURRI, 2009) 
Dessa forma, quanto mais cedo processualmente se aplicar a emendatio, maior 
segurança a defesa terá acerca do seu âmbito de atuação. Neste sentido é a opinião 
de Geraldo Prado: “[...] o sistema acusatório, que demanda plenitude de defesa e 
contraditório, em face da pretensão do processo justo, assegura a ‘emendatio libelli’, 
prevista no art. 383 do Código de Processo Penal, na fase de sentença, mas aplicável 
a todo o tempo (quanto antes, melhor), principalmente se resultar em significativa 
alteração do procedimento. [...] Justamente este tipo de controle, deduzido, a princípio 
ou no decorrer do processo, até a sentença, permitirá que o acusado não fique ‘refém’ 
da classificação jurídica emanada da acusação, em virtude da qual poderá, ou não, 
incidir um modelo de processo consensual, poderá ou não ser cabível a prisão 
preventiva ou a liberdade provisória, com ou sem fiança”4. 
A Lei 11.719/08 incluiu dois parágrafos no artigo 383. De acordo com o 
parágrafo 1º, “se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade 
de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com 
o disposto na lei”. (ALVES E BURRI, 2009) 
O parágrafo 2º, também incluído pela Lei nº 11.719/08, assim dispõe: 
“Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados 
os autos”. Mais uma vez, não há grande novidade, uma vez que esta previsão já 
estava assentada pelo artigo 74, parágrafo 2º do Código de Processo Penal, segundo 
 
2 STF - HC 87324 / SP – 1ª. T. - Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – j. 10.04.2007 – DJ 18.05.2007 
3 Neste sentido é a lição de Ivan Luís Marques da Silva que, inclusive, discorda da máxima de que o 
acusado se defende somente dos fatos e não do direito. O autor exemplifica a crítica com a seguinte 
situação: “Imagine um agente delitivo ser denunciado por porte de drogas para uso próprio (art. 28 da 
Lei 11.343/06). Não aceita os benefícios da Lei 9.099/1995 e, no momento do magistrado lavrar sua 
decisão, valendo-se do que diz o art. 383 do CPP, atribui definição jurídica diversa daquela presente 
na denúncia, alterando a capitulação para o art. 33 da Lei de Drogas, que cuida do tipo penal do tráfico 
de drogas. Para quem milita na área das ciências criminais, fica evidente o prejuízo criado por força 
desta modificação, já que uma das teses de defesa para o tráfico de drogas é discutir a quantidade 
apreendida, o que restou prejudicado no caso da condução da defesa pelo porte para uso próprio.” 
Reforma Processual Penal de 2008, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p.26. 
 
 
33 
 
o qual “se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração 
da competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se mais graduada 
for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada”. 
3.2 Mutatio libelli 
A mutatio libelli, diferentemente da emendatio, pressupõe mudança fática: nela, 
o acusador descreve determinado fato e, no decorrer da instrução, surge um fato novo. 
É o que acontece, por exemplo, quando o promotor narra ter o agente subtraído bem 
da vítima e classifica o crime como furto simples. Durante a instrução, no entanto, 
descobre-se que a subtração se deu mediante grave ameaça e, diante desta mudança 
fática, é preciso uma alteração na tipificação do delito, de furto (art. 155 do CP) para 
roubo (art. 157 do CP). (ALVES E BURRI, 2009) 
A Lei 11.719/08 trouxe sensíveis modificações na disciplina da mutatio libelli. A 
redação anterior do artigo 384 assim previa: “Se o juiz reconhecer a possibilidade de 
nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de 
circunstância elementar, não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou na 
queixa, baixará o processo, a fim de que a defesa, no prazo de oito dias, fale e, se 
quiser, produza prova, podendo ser ouvidas até três testemunhas. Parágrafo único. 
Se houver possibilidade de nova definição jurídica que importe aplicação de 
pena mais grave, o juiz baixará o processo, a fim de que o Ministério Público possa 
aditar a denúncia ou a queixa, se em virtude desta houver sido instaurado o processo 
em crime de ação pública, abrindo-se, em seguida, o prazo de três dias à defesa, que 
poderá oferecer prova, arrolando até três testemunhas”. 
 
Fonte: www.folhavitoria.com.br 
 
34 
 
3.2.1 Circunstância ou elementar 
Primeiramente, importa observar que o legislador fez uma modificação salutar, 
substituindo a expressão “circunstância elementar” por “elemento ou circunstância”. A 
doutrina apontava que aquele era um termo inadequado, que não tem significado 
técnico no âmbito do direito penal, sendo fruto de equívoco do legislador da época. 
O correto, como agora diz a lei, é elementar (figura fundamental do delito, como 
matar, no homicídio, sem a qual ocorrerá a atipicidade do fato ou a desclassificação 
para outro delito) e circunstância (figura acessória, como qualificadoras ou causas de 
aumento do crime). (ALVES E BURRI, 2009) 
3.2.2 Supressão da expressão “explícita ou implicitamente” 
Antes da reforma, o artigo 384 dizia ser cabível a mutatio quando o juiz 
reconhecesse a possibilidade de nova definição jurídica em consequência de prova 
existente nos autos de circunstância elementar, não contida, explícita ou 
implicitamente, na denúncia ou na queixa. 
A atual redação eliminou as expressões explícita ou implicitamente, o que nosparece benéfico. Isto porque, num modelo de direito penal mínimo e garantista, como 
o que supostamente existe no país, a acusação tem de ser clara e expressa, jamais 
implícita. Outra não é a opinião de Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró: “A descrição 
do fato é elemento absolutamente necessário de qualquer imputação. Como explica 
Sansò, o que não é descrito não é imputado, uma vez que o objeto da imputação se 
especifica mediante uma descrição que o determina e o indica. Se não há imputação 
sem descrição não se pode falar em imputação implícita. Ou o fato imputado foi 
descrito, e portanto consta da denúncia ou queixa de forma explícita, ou não há 
descrição, não se podendo falar em imputação, nem mesmo implícita”5. (ALVES E 
BURRI, 2009) 
3.2.3 Mutatio libelli e ação privada 
Outra alteração é a impossibilidade, agora expressa, de se realizar a mutatio 
em crimes de ação privada. O caput do artigo 384 diz claramente que o instituto é 
cabível “em se tratando de processo em crime de ação pública”. Colocou-se fim, 
 
5 Correlação entre acusação e sentença. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. p. 172. 
 
35 
 
portanto, à controvérsia ora existente sobre a possibilidade de mutatio em crimes de 
ação privada. 
Questão interessante surge quando o promotor, diante de crime de ação 
pública, oferece denúncia e, durante a instrução, é trazido fato novo que o transmuda 
em crime de ação privada. Cremos que, em tais hipóteses, como acentua Eugênio de 
Oliveira Pacelli, não é o caso de mutatio libelli, mas sim de reabertura integral da 
instrução, iniciando-se, então, o prazo decadencial. Nas palavras do autor, “seria a 
hipótese de aditamento da denúncia – com sua modificação, então, para queixa -, e 
não de mutatio libelli”. O mesmo ocorreria na situação inversa, ou seja, se no curso 
de ação penal privada, se apurasse que o delito praticado, na verdade, e de ação 
penal pública. O caminho seria a intimação do Ministério Público para o aditamento 
da queixa, com sua modificação para denúncia6. 
3.2.4 Procedimento 
De acordo com parágrafo 2º, realizado o aditamento, o defensor do acusado 
será ouvido no prazo de cinco dias. O juiz, então, admitirá ou não o aditamento. Se 
admiti-lo, cada parte poderá arrolar até três testemunhas, no prazo de cinco dias 
(parágrafo 4º). Em seguida, reza o dispositivo que o juiz a requerimento das partes, 
designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, 
novo interrogatório do acusado e realização de debates e julgamento. Como bem 
sustenta Guilherme de Souza Nucci, houve uma contradição neste ponto: “o juiz deve 
designar audiência, no mínimo, para interrogar novamente o réu, dando-lhe a 
oportunidade de exercer a autodefesa. Portanto, não depende de requerimento da 
parte interessada. Cuida-se de medida cogente. Se a acusação e a defesa não 
ofertarem rol de testemunhas, ouve-se somente o réu. Este, no entanto, precisa ser 
interrogado” 7 . Se, por outro lado, não for recebido o aditamento, o processo 
prosseguirá (parágrafo 5º). Contra esta decisão, é cabível recurso em sentido estrito 
(art. 581, I, do CPP). (ALVES E BURRI, 2009) 
São aplicáveis as disposições dos parágrafos 1º e 2º do art. 383 (art. 384, 
parágrafo 3º). Aqui não houve grandes novidades, tendo sido o tema tratado 
anteriormente. 
 
6 op. cit. p. 515. 
7 Código de processo penal comentado. 8. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 685. 
 
36 
 
Vale apontar que não é possível a aplicação de mutatio em segundo grau, por 
representar supressão de instancia. (ALVES E BURRI, 2009) 
3.2.5 Vinculação aos termos do aditamento 
Conforme estabelece o parágrafo 4º, o juiz, na sentença, ficará adstrito aos 
termos do aditamento. Diante desta regra, tem-se questionado se o magistrado, após 
o aditamento, deverá necessariamente sentenciar com base na nova imputação ou se 
pode, entendendo correto, valer-se da imputação originária. Haveria, neste último 
caso, a denominada imputação alternativa sucessiva ou superveniente. Numa 
primeira leitura, o dispositivo parece indicar a primeira resposta. Todavia, entendemos 
ser possível que o juiz condene o réu nos termos da imputação originária. O que o 
parágrafo 4º quer impedir, na verdade, é tão somente que o juiz condene o acusado 
por uma imputação nova, não trazida originariamente e nem resultante do aditamento. 
4 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL 
A investigação criminal é o instrumento por meio do qual se perfaz a apuração 
de fatos supostamente delituosos e correspondente autoria a partir da sua ocorrência 
ou notícia, com vistas a elucidar se os mesmos se enquadram ou não alguma infração 
penal. Um conceito mais analítico desta atividade nos é trazido por Manoel Monteiro 
Guedes Valente, conforme excerto a seguir reproduzido: (ALVES E BURRI, 2009) 
 
Imagem: Investimentos em tecnologia aceleram investigações criminais 
Fonte: www.ma.gov.br 
 
37 
 
“A investigação criminal, levada a cabo pela polícia, procura descobrir, recolher, 
conservar, examinar, e interpretar provas reais e também procura localizar, contatar e 
apresentar as provas pessoais que conduzam ao esclarecimento da verdade 
material judicialmente admissível dos factos que consubstanciam a prática de um 
crime, ou seja, a investigação criminal pode ser um motor de arranque e o alicerce do 
processo crime que irá decidir pela condenação ou pela absolvição (grifei)”. 
Como se pode observar, a investigação criminal tem por objeto a isenta 
apuração da materialidade e autoria de um suposto crime ou contravenção penal 
mediante busca da sua verdade fática e jurídica com base em um juízo de 
probabilidade indiciária. (ALVES E BURRI, 2009) 
Neste particular, cumpre salientar que a concepção de verdade colimada pela 
investigação criminal diz respeito à verdade processual (adequada à persecução 
penal como um todo), definida por Luigi Frerrajoli, que a dicotomiza entre verdade 
processual de fato e de direito, as quais não podem ser afirmadas por observações 
diretas. A verdade processual fática, para o referido jurista, consiste em um tipo 
particular de verdade histórica, relativa a proposições que falam de retratos passados, 
não diretamente acessíveis como tais a experiência; enquanto a verdade processual 
jurídica é uma verdade que pode se chamar de classificatória, ao referir-se à 
classificação ou qualificação dos fatos históricos comprovados conforme as categorias 
pelo léxico jurídico e elaboradas mediante a interpretação da linguagem legal. 
Desta forma, a investigação criminal, assim como a investigação científica, 
colima a busca de uma verdade formal aproximada e corrigível (aperfeiçoável), com a 
peculiaridade de na primeira esta verdade ser ordinariamente retrospectiva, uma vez 
que está em regra diz respeito a fatos passados não mais acessíveis à experiência. 
Portanto, como veículo da busca pela verdade processual (formal), decorrem 
da investigação criminal três funções básicas: resguardar a imparcialidade, 
economicidade e eficiência da Justiça Criminal, exsurgindo, da soma destes três 
fatores, o principal bem jurídico tutelado pela mesma, qual seja, a defesa da ordem 
jurídica. 
A imparcialidade da Justiça Criminal permanece resguardada pela investigação 
criminal na medida em que a esta municia o Juiz com uma instrução provisória 
procedida por um órgão não comprometido ou vinculado com a acusação ou a defesa, 
preservando-o de juízos açodados e/ ou parciais. 
 
38 
 
Tal observação restou bem ilustrada no item IV da Exposição de Motivos do 
Código de Processo Penal vigente, ao discorrer sobre o inquérito policial: 
“É ele uma garantia contra apressados e errôneos juízos, formados quando 
ainda persiste a trepidação moral causada pelo crime, nas suas circunstâncias 
objetivas e subjetivas. Por mais perspicaz e circunspeta, a autoridade

Continue navegando