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Curso de 
Sexualidade Humana 
 
 
 
 
MÓDULO IV 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para 
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do 
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores 
descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
109 
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
 
 
MÓDULO IV 
 
 
VII – O desenvolvimento da sexualidade 
 
As características da sexualidade infantil, que Freud bem as descreveu em 
Três Ensaios sobre a Sexualidade, como polimorfa e perversa. A sexualidade infantil 
difere da do adulto em diversos aspectos. A diferença mais importante situa-se no 
fato de que a maior excitação não se localiza, necessariamente, nos genitais. 
Também diferem os objetivos: não levam, necessariamente, ao contato 
sexual, mas alongam-se em atividades que vêm desempenhar um papel, no futuro, 
no pré-prazer. A sexualidade infantil pode ser autoerótica, ou seja, tomar como 
objeto o próprio corpo ou parte deste. 
A criança pequena é criatura instintiva, cheia de impulsos sexuais perversos 
polimorfos, ou, para falar mais claramente, cheia de uma sexualidade total ainda 
indiferenciada, a qual já contém todos os futuros “instintos parciais”. 
Vamos enfatizar que o conceito de fases do desenvolvimento é relativo, 
apenas servindo para melhor orientação. Na prática, as fases se fundem pouco a 
pouco e se sobrepõem. 
Assim, pode-se dividir a sexualidade pré-adulta, de modo geral, em três 
períodos principais: o período infantil, o período de latência e a puberdade. 
 
- A Fase Oral 
 
A fase oral é a primeira fase da evolução da libido. O começo da realidade 
se forma em conexão com as experiências da fome e da saciedade. O prazer sexual 
está ligado fundamentalmente à excitação da cavidade bucal e dos lábios que 
acompanha a alimentação. 
 
 
 
 
 
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A partir da atividade de chupar, Freud pode mostrar como a pulsão sexual, 
que a princípio se satisfaz por apoio a uma função vital (o ato de mamar), adquire 
autonomia e se satisfaz de forma autoerótica. 
Podemos exemplificar, discutindo o fenômeno autoerótico de chupar o 
polegar, que já é evidente no recém-nascido e pode considerar-se como um reflexo 
inato. Este reflexo, embora esteja ligado à função da nutrição, dela é independente. 
O chupar do polegar mostra que o prazer que se obtém do seio ou da mamadeira 
não se baseia só na gratificação da fome, mas também na estimulação da mucosa 
oral erógena; se não fosse assim, a criança retiraria, desapontada, o polegar, visto 
que este não produz leite. Assim, a excitação sexual apoiou-se, originalmente, na 
necessidade de alimento. 
Os muitos fenômenos, nos quais se encontra no adulto o erotismo oral são: 
o beijo, práticas perversas, os hábitos de beber e fumar e muitos outros costumes 
alimentares. Não podemos, contudo, salientar, que na bebida e no fumo, não há, 
apenas, erotismo oral, porque o álcool e a nicotina são também toxinas que, por via 
química, produzem alterações desejadas no balanço dos conflitos psíquicos: 
alterações que diminuem as inibições, aumentam a autoestima e eliminam a 
ansiedade. 
O objetivo do erotismo oral é, primeiramente, a estimulação autoerótica 
prazerosa da zona erógena; a seguir a incorporação de objetos. O aparecimento de 
uma gula particularmente intensa, quer seja manifesta, quer se mostre uma vez 
reprimida, sob a forma de derivados, é de relacionar-se sempre com o erotismo oral. 
 
- A Fase Sádico-anal 
 
A análise das neuroses obsessivas permitiu a Freud inserir, entre o período 
oral e fálico, outra fase de organização da libido, a fase sádico-anal. Embora o 
prazer anal se ache presente desde o início da vida, é por volta dos dois anos que a 
zona anal parece tornar-se o foco principal de excitação. 
 
 
 
 
 
 
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O objetivo primário do erotismo anal são as sensações prazerosas 
produzidas pela defecação. Mais adiante, a experiência vem ensinar que a 
estimulação da mucosa do reto pode aumentar com a retenção da massa fecal; as 
tendências à retenção anal exemplificam bem as combinações de prazer erógeno e 
segurança contra a ansiedade. O medo da excreção originalmente prazerosa leva à 
retenção e à descoberta do prazer que esta última produz. A possibilidade de 
realizar estimulação intensa pela mucosa (além da sensação mais intensa pelo 
aumento da tensão pela retenção) é responsável pelo prazer tensional, que é maior 
no erotismo anal do que em qualquer outro. Aqueles que, nas suas satisfações, 
procuram prolongar o pré-prazer e estender o prazer final são sempre, latentemente, 
eróticos-anais. 
A origem e o caráter da conexão que existe entre impulsos anais e sádicos, 
em parte, devem-se às influências frustradoras e, em parte, ao caráter dos objetivos 
de incorporação. Somam-se a isso, dois fatores: em primeiro lugar, o fato de a 
eliminação ser, objetivamente, tão destrutiva quanto a incorporação; o objeto do 
primeiro ato sádico-anal são as próprias fezes, cuja expulsão se percebe como uma 
espécie de ato sádico; posteriormente, as pessoas são tratadas como já o foram as 
fezes; em segundo lugar, o fator de “poder social” que está ligado ao controle dos 
esfíncteres; exercitado no asseio, a criança encontra oportunidade efetiva para 
exprimir oposição contra os adultos. 
Razões fisiológicas existem para a conexão de erotismo anal, de um lado, e, 
do outro lado, ambivalência e bissexualidade. O erotismo anal faz com que a criança 
trate um objeto, as fezes, de maneira contraditória; expele a matéria para fora do 
corpo e a retém como se fosse um objeto amado; aí está a raiz fisiológica da 
“ambivalência anal”. Por outro lado ainda, o reto como um órgão oco excretório que 
é, pode expelir alguma coisa; assim também, o órgão oco pode ser estimulado por 
um corpo estranho que o penetre. As tendências masculinas derivam da primeira 
afirmação, enquanto as tendências femininas da segunda. Temos aí a raiz fisiológica 
da conexão existente entre erotismo anal e bissexualidade. 
 
 
 
 
 
 
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Os primeiros desejos anais são, na certa, autoeróticos. Tanto a eliminação 
prazerosa quanto a retenção prazerosa podem ser obtidas sem objeto algum. O fato 
de este prazer ser experimentado em um momento que a criança vive sentimentos 
de onipotência traz um sentimento de poder, sobre sua evacuação. Vemos isto 
posteriormente, expresso em muitos resíduos neuróticos e supersticiosos. 
O prazer é obtido pela estimulação da mucosa retal, mas as fezes, 
instrumento pelo qual se obtém este prazer, também se tornam objeto libidinal, 
representando uma coisa que, primeiramente, é do corpo do sujeito, mas que se 
transforma em objeto externo, o modelo de algo que se pode perder. 
Há certos prazeres anais que, pela primeira vez, se percebem nas 
sensações que acompanham os cuidados maternos, quando se mudam as fraldas; 
este cuidado e, posteriormente, conflitos suscitados pela aprendizagem higiênica da 
criança, pouco a pouco transformam os desejos anais autoeróticos em desejos de 
objetos, os quais, depois, serão tratados tal quais as fezes. Podem ser tanto retidas 
ou introjetadas (existem diversos tipos de incorporação anal) quanto eliminadas e 
expulsas. 
Outras zonas erógenas e impulsos parciais que não são tão valorizados na 
teoriaanalítica, muitas vezes, desempenham papel tão decisivo na gênese das 
neuroses e na formação do caráter quanto o erotismo oral e anal. 
 
- Erotismo Uretral 
 
O objetivo primário do erotismo uretral é o prazer da micção. Há também um 
prazer secundário da retenção uretral, análogo ao prazer de retenção anal, como há 
conflitos desenvolvendo-se a este respeito. É o que se vê frequentemente nas 
meninas, provavelmente por motivos anatômicos. 
Os objetivos originais do erotismo uretral são autoeróticos, tal qual o são o 
erotismo anal; posteriormente, também o erotismo uretral pode voltar-se para os 
objetos, transformando-se em fantasias sexualmente excitantes relacionadas com o 
ato de urinar em objetos, de ser urinado por objetos. 
 
 
 
 
 
 
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É comum as crianças molharem ativamente as calças ou a cama por prazer 
autoerótico. Mais adiante, pode desenvolver-se a enurese como sintoma neurótico 
involuntário, cuja natureza é o equivalente inconsciente da masturbação. 
 
- Outras Zonas Erógenas 
 
Toda a superfície da pele funciona como zona erógena. Toda estimulação 
cutânea, tanto o toque quanto às sensações térmicas e dolorosas são fontes 
potenciais de estimulação erógena, podendo levar a conflitos, se encontrar 
contradição interna. 
O erotismo da temperatura, particularmente, associa-se, muitas vezes, ao 
erotismo oral precoce e constitui parte essencial da sexualidade primitiva. 
Ter contato cutâneo com o parceiro e sentir-lhe o calor do corpo, vem a ser 
componente essencial de toda relação amorosa. Nas formas arcaicas de amor, nas 
quais os objetos servem, sobretudo, como simples instrumento da obtenção de 
prazer, é o que se vê de modo particularmente acentuado. O prazer intenso que se 
sente com o calor, manifestado nos hábitos neuróticos, de banho, é encontrado, 
geralmente, em pessoas que, do mesmo modo, apresentam outros sinais de 
orientação receptiva e passiva, sobretudo no que diz respeito à autoestima. São 
pessoas para as quais “ganhar afeto” significa “ganhar calor”; são personalidades 
“geladas”, que “derretem” em atmosfera “quente”; que são capazes de ficar horas 
em um banho quente. 
O erotismo táctil compara-se à escoptofilia (sexualização das sensações 
visuais), ambas representando a excitação que é produzida por estímulos sensoriais 
específicos. Uma vez alcançada a primazia genital, estas estimulações sensoriais 
funcionam como instigadores da excitação, desempenhando um papel 
correspondente no pré-prazer. Se tiverem sido rejeitadas na infância, as pessoas 
assim permanecem isoladas, pedindo gratificação de si mesmas e, daí, dificultando 
a integração sexual. O erotismo táctil não se associa necessariamente à escoptofilia. 
 
 
 
 
 
 
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Assim como existe um impulso sexual para tocar e olhar, assim também há 
impulsos da mesma ordem no sentido de ouvir, saborear e cheirar. Os fenômenos 
de sexualidade gustativa coincidem quase sempre com o erotismo oral, enquanto os 
fenômenos de sexualidade olfativa coincidem com o erotismo anal. 
 
- Fase Fálica: a Angústia de Castração nos Meninos 
 
O interesse pelos genitais e pela masturbação torna-se significante. Chega a 
aparecer uma espécie de orgasmo genital. Foi esta fase que Freud chamou de fase 
fálica. 
O fato de que uma descarga genital de todos os tipos de excitação sexual se 
produz em redor do quarto ou quinto ano de vida, não quer dizer, que os genitais já 
não funcionavam como zona erógena. Os genitais produzem sensibilidade erógena 
desde o nascimento; é possível ver masturbação genital nos bebês. 
Os deslocamentos dos impulsos pré-genitais para impulsos genitais, 
contudo, ocorrem e aumentam a erogeneidade dos órgãos genitais. É a este 
deslocamento que se alude a fórmula: a excitação sexual, onde quer que se origine, 
concentra-se cada vez mais nos genitais e, afinal, descarrega de forma genital. 
Seja qual for a fisiologia da erogeneidade, diga-se, de um ponto de vista 
psicológico: não existem libido oral, libido anal e libido genital específicas; existe 
apenas uma libido, a qual se desloca de uma zona erógena para outra. 
Existem também, diferenças entre a genitalidade infantil da fase fálica e a 
genitalidade plena do adulto. Caracteriza o menino desta idade por um orgulho viril, 
limitado pelas ideias de que não é inteiramente crescido, de que tem o pênis menor 
que o do pai ou de outros adultos. Este fato constitui um golpe ao narcisismo do 
menino. As crianças ressentem por serem crianças e a ideia de ter pênis pequeno 
demais pode vir a exprimir futuramente, sentimentos de inferioridade que, na 
verdade, se devem à impressão de ser inferior ao pai na rivalidade edipiana. 
 
 
 
 
 
 
 
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Nesta fase, o menino identifica-se com seu pênis, valoriza o órgão em 
demasia o que se explica pelo fato de que é mesmo neste período que ele se 
enriquece tanto em sensações, e aparecem em primeiro plano, tendências a 
penetrar ativamente com ele. 
O medo de alguma coisa acontecer a este órgão é chamado de angústia de 
castração. Medo que tem um papel significativo no desenvolvimento total do menino, 
justificado pela grande valorização narcísica do pênis neste período. 
Vê-se, que o ambiente das crianças lhes reforçam as ideias fantásticas de 
punição. Muitos adultos ameaçam o menino de “cortar-lhe isto” quando o 
surpreendem masturbando-se. Em geral, a ameaça é menos direta, mas há outros 
castigos que sugerem, a sério ou brincando, e a criança interpreta-os como ameaças 
de castração. 
Todavia, mesmo as experiências que, objetivamente, não contêm qualquer 
ameaça podem ser falsamente interpretadas neste sentido pelo menino que tenha a 
consciência culpada; por exemplo, a experiência de que existam realmente criaturas 
sem pênis: a observação dos genitais femininos. Há vezes em que uma observação 
como esta traz um caráter sério a uma ameaça anterior a que não se dera maior 
atenção. Em outros casos, a realização da fase fálica basta, só ela, para ativar 
ameaças passadas que não haviam causado impressão intensa durante os períodos 
pré-genitais. 
O fato de os adultos ameaçarem ou brincarem de castração com tanta 
facilidade e animação, constitui, certamente, a expressão dos seus próprios 
complexos de castração. Amedrontar os outros é um meio ótimo para acalmar os 
próprios temores, do que resulta que os complexos de castração vão passando de 
geração em geração. Não sabemos de que forma eles se formaram originalmente, 
mas é certo que o respectivo desenvolvimento tem história muito remota. 
Corresponde a intensidade da angústia de castração à valorização intensa 
do órgão genital na fase fálica. Valorização esta, que faz o menino decidir (quando 
enfrenta a questão: ou renuncio às minhas funções genitais, ou arrisco o meu pênis) 
em benefício da desistência da função. Um adulto perguntará: “para que serve um 
órgão, quando me proíbem de usá-lo?” 
 
 
 
 
 
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No período fálico, contudo, os fatores narcísicos contrabalançam com os 
sexuais, de modo que a posse do pênis vem a ser o objetivo principal. 
 
- Fase Fálica nas Meninas: a Inveja do Pênis 
 
É comum referir-se a um período fálico também nas meninas. O que é que 
se quer dizer com isto? 
Em primeiro lugar, o clitóris, neste estágio, é a parte do aparelho genital que 
se apresenta como a mais rica em sensações e que atrai edescarrega toda a 
excitação sexual: é o ponto central das práticas masturbatórias tanto quanto de 
interesse psíquico. 
Em segundo lugar, significa que também a menina classifica as pessoas em 
“fálicas” e “castradas”; ou seja, a menina tipicamente reage à ideia de que existem 
criaturas com pênis tanto com a atividade “Gostaria de ter isto”, quanto com a ideia 
“Já tive isto, mas perdi”. 
Certo que a menininha, tal qual o menino, enquanto não lhe ensinam outra 
coisa, sente ser todo o mundo construído como ela. Quando percebe que não é 
assim, sente-se em desvantagem. Tem-se indagado, muitas vezes, o que é que 
determina esta reação surpreendente; é, de fato, apenas consequência psicológica 
da distinção anatômica entre os sexos ou, antes, reação a experiências sociais 
anteriores que dão a impressão de inferioridade das meninas? 
Sem dúvida, toda menina tem o sentimento de que a posse do pênis traz 
vantagens erógenas diretas no que diz respeito à masturbação e a micção. A posse 
de um pênis, aos olhos da menina, faz o possuidor mais independente e menos 
sujeito a frustrações; sentimento resultante da somatória de todos os sentimentos 
sexuais no clitóris, durante esta fase, o clitóris sendo “inferior” em comparação ao 
pênis. 
Em geral a inveja concentra-se com a ideia de que a falta de um pênis é 
uma espécie de castigo, merecido ou injusto que seja; neste particular, a ideia da 
menina haver perdido um pênis e a do menino de que pode perder o seu são 
absolutamente análogas. 
 
 
 
 
 
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O fato de a menina pensar: “Fui punida”; enquanto o menino tem medo: 
“posso ser punido”, é responsável pela diferença considerável que se vê no 
desenvolvimento posterior do sujeito. 
Complicam-se, porém, as coisas nas meninas mais crescidas e nas 
mulheres adultas. O que se considera como masculino e como feminino varia muito 
de uma cultura para outra e estes padrões culturais, com os conflitos que se 
desenvolvem em torno deles, complicam as “consequências psicológicas da 
diferença anatômica”. Neste particular, lembra-nos Fromm (ANO), quando nos diz 
que certas diferenças biológicas resultam em diferenças caracterológicas; fundem-se 
com as que são produzidas por fatores sociais; e estes são muito mais fortes no 
efeito respectivo, podendo tanto aumentar ou eliminar, quanto inverter 
biologicamente, diferenças arraigadas. 
A significação do período fálico para o sexo feminino associa-se ao fato dos 
genitais femininos terem duas zonas erógenas principais: o clitóris e a vagina. 
Durante o período genital infantil, o clitóris ocupa o primeiro plano; no período adulto 
é a vagina. A transferência do clitóris como zona principal para a vagina é uma etapa 
que ocorre de modo definido na puberdade ou só depois desta, quando sua fixação 
materna preponderante se volta para o pai. 
Surgem riscos para a ocorrência de transtornos do desenvolvimento. Isto 
quando, ou uma fixação forte na sexualidade clitoriana, ou uma repulsa temerosa da 
sexualidade vaginal, impedem o estabelecimento da primazia genital. 
 
- O complexo de Édipo 
 
Nos dois sexos, pode-se dizer que o complexo de Édipo é o ápice da 
sexualidade infantil; o desenvolvimento erógeno que parte do erotismo oral, por meio 
do erotismo anal, para a genitalidade, culminam nos desejos edipianos, 
habitualmente expressos na masturbação com sentimentos de culpa. É vivido no seu 
período máximo entre os três e os cinco anos, durante a fase fálica. A superação 
destes desejos, a substituir-se pela sexualidade adulta, representa o pré-requisito da 
normalidade. 
 
 
 
 
 
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O complexo de Édipo traduz-se pela combinação de amor genital pelo pai do 
sexo oposto e desejos ciumentos de morte contra o pai do mesmo sexo. Estes 
sentimentos significam várias coisas, cuja forma especial depende, por sua vez, da 
constituição e da experiência de cada sujeito. 
A experiência é que configura a forma especial do complexo de Édipo. Mas 
que dizer do próprio complexo de Édipo? É fato biológico, inerente à espécie 
humana, ou é produto da instituição social da família, sujeito às mesmas alterações 
que esta? 
Digamos, para começar, que a diferença entre biologicamente determinado 
e socialmente determinado, é relativa. Não foi um complexo de Édipo místico, inato, 
que criou a família como lugar onde pudesse ser satisfeito: foi a família que criou o 
complexo de Édipo. Em segundo lugar, depende da resposta que se dê à definição 
do complexo de Édipo. O bebê humano, necessitado de cuidados e amor, é 
biologicamente mais fraco do que outros filhos de mamíferos; daí por que sempre há 
de exigir amor dos adultos que o criam e o protegem, que vivem à sua volta; e 
sempre há de desenvolver ódio e inveja das pessoas que lhe tiram este amor. Se é 
isto que se chama complexo de Édipo tem fundamento biológico. 
Por outro lado, no sentido empregado por Freud, de combinação de amor 
genital pelo pai do sexo oposto e desejos ciumentos de morte contra o pai do 
mesmo sexo, o complexo de Édipo sugere uma combinação altamente integrada de 
atitudes emocionais que constitui o clímax do longo desenvolvimento da sexualidade 
infantil. Neste sentido, é, fora de dúvida, produto da influência familiar. Se a 
instituição familiar tivesse de alterar-se, necessariamente se alteraria também o 
padrão do complexo de Édipo. Tem-se mostrado que as sociedades em que as 
configurações familiares são diferentes da nossa têm, realmente, complexos de 
Édipo diferentes. 
O problema do complexo de Édipo reduz-se assim, ao problema da origem 
da família, capítulo interessante e ainda sem solução. Toda criança no auge do 
complexo de Édipo deve experimentar decepções e ofensas narcísicas: o 
competidor é um adulto, o que lhe dá vantagens e privilégios. Reage-se a essas 
ofensas narcísicas de maneiras muito diversas, conforme a criança, dependendo da 
 
 
 
 
 
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constituição, das formas concretas em que as ofensas são experimentadas e de 
todas as experiências anteriores. 
Toda criança deseja intensamente ser adulta e “brincar de adulto”. Mas ser 
criança também tem vantagens. Sempre que teme as suas próprias emoções e a 
implacabilidade dos seus impulsos eróticos e agressivos, a criança é capaz de 
refugiar-se na atitude: “Nada disso é sério demais porque ainda sou uma criança” e 
também no desejo de receber ajuda externa. 
Tanto o desejo de ser adulto, quanto o sentimento de que se é protegido 
enquanto ainda é criança geram fixações e, mais tarde, vem a fazer com que muitos 
sujeitos se portem e se sintam como se ainda fossem crianças na fase fálica. 
 
- Tipos de Escolha do Objeto 
 
Seria errado imaginar não haver na infância outros objetos de amor que não 
fosse o pai do sexo oposto. Também irmãos, tios, tias, avós, amigos e conhecidos 
dos pais, têm, às vezes, influência decisiva. Há muitas crianças que experimentam 
love affairs (casos de amor) de algum tipo com outras crianças do mesmo sexo, ou 
do sexo oposto, ou com adultos; e talvez ocorresse maior número destes casos 
entre crianças, se a educação não visasse à respectiva proibição. 
No que diz respeito ao mecanismo da escolha de objeto, Freud distinguiu o 
tipo anaclítico e o tipo narcisista. No tipo anaclítico de escolha, escolhe-se um objeto 
passado, em geral o pai do sexo oposto, às vezes, o pai do mesmo sexo, irmãos, ou 
outras pessoas do ambiente em que a criança vive. No tipo narcisista de escolha, 
escolhe-se um objeto porque representa certas características da própriapersonalidade do sujeito. 
Tanto um tipo quanto o outro, são capazes de operar: 
a) De maneira positiva: o objeto escolhido assemelha-se ao objeto passado 
ou ao próprio ego do sujeito. 
b) De maneira negativa: o objeto escolhido é o oposto do objeto passado 
ou do ego do próprio sujeito. 
 
 
 
 
 
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c) A maneira ideal: o objeto escolhido representa aquilo que, noutro tempo, 
o sujeito desejou que o objeto passado ou seu próprio ego fossem. 
 
- O Problema do Medo de Castração Feminino 
 
Nos meninos, a angústia de castração faz necessária, afinal, a supressão do 
complexo de Édipo. Nas meninas não parece haver angústia de castração que se 
possa considerar como força dinâmica. 
A ideia de que se perdeu um órgão, não leva as mesmas restrições que a 
possibilidade de perdê-lo. É certo haver muitas mulheres que, após uma decepção 
constroem, inconscientemente, a fantasia de que possuem pênis: mas a angústia 
que diz respeito a um órgão simplesmente fantasiado não pode ter o mesmo efeito 
dinâmico que a ameaça contra um órgão real (como no caso dos meninos). 
Não é fácil responder a questão da angústia de castração nas mulheres. Em 
primeiro lugar, pode-se afirmar que o complexo de Édipo nas mulheres não é 
combatido no mesmo grau, nem com a mesma prioridade que o é nos homens. 
As mulheres que permanecem a vida inteira ligadas ao pai ou a figuras 
paternas, ou que, de um modo ou outro, traem a relação do seu objeto amoroso com 
o pai, são em muito maior número do que os homens que não superaram a sua 
fixação materna. 
Autores como Fromm, enfatizaram que as diferenças notadas nas angústias 
dominantes dos sexos se devem, em parte, às diferenças fisiológicas que ocorrem 
na execução do contato sexual. O homem precisa de ereção para realizar o ato; a 
mulher não precisa de alteração correspondente em seu próprio corpo; e é capaz de 
praticar o ato até sem gozo; mas depende da ereção masculina, de modo que o 
medo masculino é um medo da impotência, ao passo que o medo da mulher é o 
medo de ser abandonada ou perder o amor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Não há dúvida de que esta diferença fisiológica contribui para os papéis 
prevalentes do medo de castração ou do medo da perda do amor no homem e na 
mulher, respectivamente. Esta contribuição é, quando muito, uma contribuição 
secundária tardia. A preponderância relativa dos temores respectivos estabelece-se 
na infância, muito antes das primeiras experiências do contato sexual. 
A mudança do objeto é um dos fatores que complicam o desenvolvimento 
das mulheres em comparação com os homens. 
O segundo fator é a dupla índole da sexualidade genital feminina. É certo 
que a sexualidade prostática dos homens desempenha papel menos significativo do 
que a sexualidade clitoriana. Não esquecer, no entanto, que não só estas diferenças 
fisiológicas são preponderantes: existem também (o que é mais importante) 
diferenças culturais e sociais na educação dos sexos. 
 
 
VIII- A Sexualidade Hoje 
 
1- A sexualidade do adolescente 
 
Os psicanalistas são unânimes em reconhecer que uma parte importante do 
que ocorre durante o desenvolvimento psicossexual do adolescente depende do que 
se passou na infância, mas que a experiência da sexualidade na adolescência está 
ligada às experiências atuais e novas. 
Se a sexualidade e as principais fantasias sexuais são comuns a todos os 
adolescentes, em quaisquer épocas ou culturas, não é menos verdade que as 
relações sexuais, sua preparação, sua frequência, sua maior ou menor facilidade, 
sua aceitação pelo grupo ou pelos pais varia segundo a cultura e as épocas; os 
relatos e os trabalhos de etnólogos ilustram bem isso. 
Mencionemos, a título de exemplo, o estudo da sexualidade entre os 
adolescentes de uma tribo indiana, os muria no Estado de Bastar. Nessa tribo, a vida 
sexual dos adolescentes é centrada em uma instituição chamada Ghotul, ou casa 
dos jovens. Essa casa é uma instituição altamente hierarquizada, em que o chefe 
 
 
 
 
 
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representa o pai e a chefe representa a mãe. Nessa casa, verdadeiro 
estabelecimento noturno, os encontros geralmente ocorrem à noite, sendo que os 
meninos chegam um a um, trazendo suas esteiras de deitar, e em seguida chegam 
as meninas, todas juntas. Após as atividades preliminares (penteado, massagem), 
todo mundo se prepara para ir para a cama. De manhã as meninas devem sair do 
Ghotul antes do alvorecer. De fato, uma menina não pode permitir que seus pais a 
vejam nem quando ela sai de casa para ir para o Ghothul, nem quando volta. O 
sistema do Ghotul obriga as jovens a mudar de parceiro a cada dois ou três dias. Em 
troca, se futuros esposos vivem na mesma Ghotul, eles não devem se aproximar um 
do outro. Há também todo um círculo de parentesco proibido. Sem dúvida, 
poderíamos citar outros exemplos, em outras culturas, descritos de forma notável 
por Mead ou Malinoviski. A ligação existente entre a organização social e a 
sexualidade dos adolescentes está mais do que provada. 
Para ficar apenas na civilização ocidental, as mudanças constatadas no 
nível dos comportamentos sexuais dos adolescentes não podem ser isoladas das 
modificações sociais globais relacionadas a essa faixa etária ao longo dos últimos 30 
anos. 
Contudo, encontra-se uma constante quaisquer que sejam as épocas ou as 
sociedades. Alguns estudiosos sugerem que de fato a moralidade convencional, isto 
é, as regras sociais, podem proteger o casal e sua intimidade contra a agressão do 
grupo ampliado do qual ela faz parte, mas ao preço de uma sexualidade 
“autorizada”. Esta hipótese repousa na ideia de que a reação do grupo em face do 
casal é fundamentalmente ambivalente: a idealização e a esperança que o casal 
evoca no grupo do qual faz parte são contrabalançadas pela inveja, o ressentimento 
e o desejo do grupo de destruir essa união. Isto explica porque os sujeitos ou os 
casais reagem sempre por um distanciamento em face da “ideologia oficial”. 
Essa observação é importante para os adolescentes, que têm como uma de 
suas tarefas a capacidade de estabelecer pouco a pouco uma sexualidade pessoal 
satisfatória e realizá-la na intimidade de um casal. Assim, convém examinar nos 
adolescentes sua capacidade de se realizar em uma vida de casal com uma certa 
independência em face do grupo social a sua volta. Este último pode ser o grupo 
 
 
 
 
 
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social dos adultos e dos pais, mas também o grupo social dos iguais, isto é, de 
outros adolescentes. Não é raro, por exemplo, ver adolescentes cujos 
comportamentos fazem crer em uma grande liberação sexual, mas que na verdade 
mascaram uma séria inibição e que refletem um fracasso na diferenciação do casal 
ou do sujeito em face dos valores ideológicos convencionais do grupo de iguais. 
 
- Psicopatologia das Principais Condutas Sexuais 
 
O exame de condutas sexuais em psicopatologia coloca um problema 
complexo, centrado na noção de normalidade. Mais uma vez, é preciso distinguir o 
ponto de vista sociológico da anormalidade e o ponto de vista clínico e 
psicopatológico sobre a anormalidade em relação ao desenvolvimento psíquico. M. 
Laufer expõe o problema da seguinte maneira: 
 
- De um ponto de vista semiológico, certas formas de atividades ou de 
comportamentos sexuais durante a adolescência representariam uma ruptura no 
desenvolvimentopsicológico; 
- De um ponto de vista estrutural, certas rupturas, quando ocorrem, 
manifestam-se por uma atividade ou um comportamento que aparece como anormal 
na evolução ou no tratamento; 
- De um ponto de vista epistemológico, finalmente, o psicanalista deve 
estabelecer um julgamento sobre tal atividade ou tal comportamento na evolução de 
um tratamento? 
 
Para esse autor, é preciso deixar claro: “As formas de atividades sexuais 
que necessitam ser consideradas como anormais em termos de desenvolvimento 
psicológico [...] são aquelas que excluem a heterossexualidade como a atividade 
sexual primária entre dois sujeitos” (autor, ano, pág.). 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Assim, a homossexualidade, o fetichismo, o travestismo e as parafilias 
pertencem a essa categoria. Entretanto, essas condutas só podem ser consideradas 
como patológicas à medida que são um indício de que o adolescente não integrou 
uma imagem do corpo fisicamente madura ou não estabeleceu uma identidade 
sexual pessoal. 
Antes disso, estas condutas podem parecer como o indício de um esforço do 
Ego para estabelecer uma identidade sexual. De acordo com este autor, é desejável 
informar o adolescente antes de qualquer tratamento da própria concepção do 
terapeuta acerca da normalidade de tal conduta sexual. 
Podemos distinguir três categorias de dificuldades no âmbito da sexualidade 
do adolescente: 
 
- A realização sexual e suas dificuldades: ausência de relações sexuais, 
frigidez, ejaculação precoce, impotência; 
- A escolha de objeto sexual e suas dificuldades: masturbação, 
homossexualidade, conduta incestuosa; 
- A identidade sexual e suas dificuldades: transexualismo, ambiguidade 
social. 
 
Recordemos que essa distinção em três categorias é esquemática. É 
incontestável, por exemplo, que, se a homossexualidade remete a uma dificuldade 
da escolha do objeto sexual, ela coloca ao mesmo tempo o problema da constituição 
da identidade sexual do sujeito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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As dificuldades da realização sexual 
 
As dificuldades da realização sexual podem assumir diferentes formas, mais 
ou menos intricadas: 
A ausência total de relações sexuais durante a adolescência representa 
hoje, sem dúvida, uma anormalidade, no sentido estatístico do termo. 
Qualitativamente, essa ausência pode ser indício de uma inibição, ou de uma 
angústia mais arcaica. 
Inversamente, relações sexuais múltiplas com mudanças de parceiros quase 
sistemáticas, em uma sexualidade aparentemente livre de qualquer culpabilidade ou 
conflito, podem ser o sinal de uma depressão intensa, centrada não tanto no prazer 
ou no não-prazer do funcionamento do corpo, mas em uma inibição intelectual. 
O primeiro orgasmo, a primeira ejaculação, a primeira masturbação, as 
primeiras regras, as primeiras relações sexuais podem estar na origem de um 
traumatismo psíquico, traumatismo encobridor em face dos traumatismos sexuais 
infantis. Em um nível inconsciente, essa primeira experiência marca a participação 
na cena primitiva e reaviva a angústia inerente ao conflito edipiano: angústia de 
castração. 
Clinicamente, podemos assistir a atitudes de recolhimento que revelam uma 
inibição neurótica subjacente, em particular no âmbito intelectual, ou a invasões 
psicóticas em adolescentes mais frágeis. 
A frigidez primária ou secundária, a ejaculação precoce e a impotência. 
Depois de eliminar uma causa orgânica, esses transtornos se reportam ao mesmo 
tipo de mecanismo psicopatológico, e se relacionam à angústia ligada ao conflito 
edipiano. Essas dificuldades na realização sexual são frequentes na adolescência, 
mas geralmente transitórias. Contudo, elas podem perdurar, tornando-se 
manifestações particularmente paralisantes, mas esses pacientes só se queixarão 
disso bem mais tarde, já adultos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Finalmente, abordaremos os diferentes transtornos menstruais da 
adolescência: amenorreia primária ou secundária, dismenorreia, metrorragia ou 
menorragia. Eles requerem um balanço orgânico, mas em geral traduzem uma 
aceitação difícil pela adolescente de sua feminilidade. Nesses problemas cotidianos 
da medicina, costuma-se desprezar um apoio psicológico. 
 
As dificuldades da escolha sexual 
 
A escolha de objeto sexual passa por vicissitudes mais ou menos 
significativas ao longo de toda a adolescência. Poderíamos diferenciá-las conforme 
as etapas sucessivas da adolescência. Três condutas particulares ilustram bem o 
problema da escolha de objeto: a masturbação, a homossexualidade e as condutas 
incestuosas. Em troca, não trataremos as diferentes condutas sexuais perversas 
(fetichismo, zoofilia, exibicionismo, sadismo sexual, entre outras), pois elas são raras 
na adolescência. 
 
A masturbação 
 
Já está longe o tempo em que a masturbação era vista como um vício ou 
uma doença. Hoje, a masturbação é considerada como uma atividade natural, se 
não necessária. 
A questão que se deve colocar agora é a seguinte: como essa conduta 
banal, a que pertence ao âmbito da psicologia normal, pode se inserir no campo da 
psicopatologia da adolescência? 
Joyce MacDougall (ANO) fala de “processo masturbatório” e descreve duas 
vertentes dele: um ato e uma fantasia. Essas duas vertentes podem ter destinos 
diferentes na vida psíquica. 
Se o ato masturbatório, como todos sabem, aparece bem antes da 
adolescência, nessa idade ele culmina na possibilidade de uma ejaculação e, 
portanto, de um orgasmo. 
 
 
 
 
 
 
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A ligação entre o ato masturbatório e a fantasia interessa particularmente ao 
clínico: para os psicanalistas, o adolescente que se masturba introjeta uma imagem 
da cena primitiva na qual, por seu ato, ele pode ser pai e mãe ao mesmo tempo. O 
“processo masturbatório” realiza então, por excelência, a ilusão bissexual da vida 
erótica, o ideal hermafrodita. Assim, ao se masturbar, o adolescente controla 
magicamente seus pais e nega o perigo da castração. 
O ato e a fantasia associada a ele são, portanto, o lugar de um desejo 
profundamente proibido, e criam sentimentos de culpabilidade, de vergonha e de 
ansiedade. 
Se o ato masturbatório é facilmente admissível e confessável, o mesmo não 
ocorre com a fantasia que o acompanha. O conteúdo das fantasias masturbatórias, 
para alguns, atravessa duas etapas. 
No início da adolescência, as fantasias masturbatórias são mais de natureza 
regressiva; encontram-se aí as fases eróticas do início da vida, orais, anais, sádicas, 
narcísicas, homossexuais e heterossexuais; posteriormente, elas se tornam mais 
heterossexuais e centram-se em um parceiro preciso. 
A masturbação é vivida pelo Ego, então, como uma preparação para 
assumir o papel de parceiro sexual, o que lhe dá um valor positivo. No momento da 
resolução do complexo de Édipo e da interiorização do Superego, podemos 
descrevê-la como uma fantasia masturbatória central. Ela não depende da existência 
ou não de uma conduta masturbatória atuada na infância. É universal. Durante o 
período de latência, o conteúdo dessa fantasia permanece inconsciente. Na 
adolescência, ele adquire um novo sentido em razão da masturbação fisiológica dos 
órgãos genitais e impõe novas exigências ao Ego. 
Na adolescência, o processo masturbatório, que associa masturbação e 
fantasia, torna possível a integração e depois a evoluçãode fantasias perversas da 
infância: ela ajuda o Ego a se organizar em torno da supremacia da genitalidade e 
do prazer terminal. 
Para alguns, isso é particularmente verdade no menino. Na adolescente, 
parece que o ato masturbatório é menos frequente, e que o processo masturbatório, 
tal como acabamos de descrever, afetaria mais a totalidade do seu corpo. 
 
 
 
 
 
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No caso em que o ato masturbatório é ausente ou reprimido, a fantasia não 
tem mais saída corporal, e, nessas condições, a libido e a energia que seriam 
descarregadas no ato podem se infiltrar em atividades do Ego e alterar seu 
desenvolvimento. 
Vale lembrar, a esse respeito, o artigo de M. Klein, de 1927, intitulado 
“Contribuição a psicogênese dos tiques”: o autor mostra como uma supressão 
radical da masturbação engendrou em um pré-adolescente, além de uma grande 
inibição relacionada aos interesses intelectuais e às relações sociais, o surgimento 
de um tique importante e preocupante. 
Em consonância com Ferenczi, ela afirma que “o tique é o equivalente da 
masturbação” e, mais do que isso, das fantasias masturbatórias ligadas a ela. Assim, 
a análise dessas fantasias masturbatórias foi a chave da compreensão do tique, e, 
depois, de seu desaparecimento. Tal análise permitiu a esse pré-adolescente 
superar seu medo, tocar seus órgãos genitais e assim vencer seu temor diante da 
masturbação. 
No momento da adolescência, pode-se considerar que a ausência total de 
masturbação ou seu aparecimento muito tardio traduz, mais do que as condutas 
masturbatórias muito frequentes, um estado patológico. Contudo, as ligações entre 
certos aspectos psicopatológicos e o retardo ou a ausência de masturbação são 
complexas. 
No tratamento de adolescentes que apresentam um “desmoronamento 
psíquico” ou uma perturbação mental grave, a masturbação é sentida como algo 
profundamente angustiante ou mesmo em discordância com eles. Toda sensação 
pelo corpo e no corpo é experimentada como uma verdadeira ruptura e como uma 
ameaça para seu próprio Ego: a ejaculação noturna, as relações sexuais e a 
masturbação representam para esses adolescentes uma perpétua demanda pelo 
corpo de sentir algo que eles justamente tentam negar. 
No nível da fantasia masturbatória, surge uma confusão a propósito do papel 
respectivo do homem e da mulher no ato sexual, não há mais ilusão bissexual, mas 
uma confusão de identidade. 
 
 
 
 
 
 
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A homossexualidade 
 
Os dados epidemiológicos mostraram-nos que a prática regular da 
homossexualidade em geral só se instala após os 21 anos. Porém, quando se 
consultam as obras que tratam da homossexualidade na adolescência, a maioria dos 
autores está de acordo em afirmar que ela é frequente. De fato, tudo depende do 
que se entende por homossexualidade. 
Portanto, quando se fala de “homossexualidade”, é preciso distinguir entre a 
construção de identificações, as fantasias ou devaneios homossexuais, os temores 
conscientes da homossexualidade, os jogos e as carícias entre colegas do mesmo 
sexo, as relações homossexuais intermitentes e a prática homossexual exclusiva. 
Para todas essas situações, o uso indiferenciado da palavra “homossexualidade” 
produz mais confusões e erros do que clareza e coerência semiológica. 
Devemos esclarecer, finalmente, que a homossexualidade não é um 
diagnóstico em si, mas que se trata de avaliar por meio de uma fantasia, de um 
desejo, de um temor ou de uma prática a relação que os adolescentes estabelecem 
com seu corpo e com o outro, aceitando (ou não) levar em conta a realidade da 
diferença anatômica dos sexos. 
 
A questão da homossexualidade em clínica 
 
Lebovici e Kreisler (ANO) distinguiram diferentes situações clínicas durante 
as quais a questão da homossexualidade poderia ser levantada pelo adolescente 
e/ou seus pais. Contudo, os autores consideram que se deveria reservar o termo 
“homossexual” para os adolescentes que “se dedicam” a práticas homoeróticas com 
um gosto exclusivo e de maneira repetida. 
Segundo esses autores, não se pode qualificar de homossexuais os 
adolescentes que tenham contatos homossexuais isolados ou nos quais se alternam 
experiências homossexuais e heterossexuais, nem aqueles em que não há repetição 
dessas experiências. 
 
 
 
 
 
 
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• Temor e/ou pensamento homossexual: às vezes, o clínico é interpelado 
pelo adolescente que julga ser homossexual porque se sente “atraído” pelos de seu 
sexo. Essas fantasias tão frequentes geralmente se integram a uma relação de 
amizade intensa, ou uma atração no grupo de colegas do mesmo sexo. Elas 
testemunham a intensidade da ligação edipiana invertida e da necessidade de se 
desligar dela apoiando-se no amigo ou no grupo. 
Às vezes, são os pais que levam seus adolescentes à consulta, com o temor 
de que este seja homossexual, por atitudes e interesses que consideram ambíguos. 
Essa situação costuma ser preocupante, pois, diante dessas recriminações dos pais, 
o adolescente corre o risco de entrar em um processo de identificação negativa 
(identificar-se com os aspectos temidos pelos pais para tentar se livrar de uma 
ligação edipiana invasiva), cortina de fumaça de uma patologia subjacente em geral 
importante. 
 
• As fantasias ou devaneios homossexuais com frequência aparecem 
durante uma psicoterapia do adolescente. Elas traduzem o trabalho psíquico de 
elaboração da identidade, de reconhecimento e de integração da imagem sexuada 
de seu próprio corpo, mas também de reconhecimento e aceitação do outro sexo 
como complementar do seu. Essas fantasias homossexuais costumam estar ligadas 
ao necessário trabalho de luto da onipotência infantil. 
Essas fantasias são tão intensas que o adolescente desenvolve as condutas 
de luta que estão na origem da consulta ou do tratamento: tentativa de suicídio, 
anorexia nervosa, toxicomania, comportamento sexual caótico, automutilação, entre 
outros. Desse ponto de vista, a indagação sobre a “homossexualidade” é um tema 
habitual, se não patente pelo menos latente, em muitas psicoterapias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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• As relações homossexuais propriamente ditas representam uma situação 
clínica muito menos frequente. 
Frente a uma conduta homossexual na adolescência, é preciso esclarecer 
algumas coisas: 
a) Se a atividade homossexual existiu antes da adolescência, o que em 
geral testemunha que as distorções na imagem corporal preexistiam 
antes da puberdade. 
b) Se as passagens ao ato sexual homossexuais ocorreram pouco depois 
da transformação da puberdade e se duraram toda a adolescência, 
situação em que a elaboração psicodinâmica da adolescência corre o 
sério risco de ter sido seriamente entravada. 
c) Se a atividade homossexual implica uma penetração (anal, oral) ou 
apenas uma masturbação recíproca, o que em geral testemunha apego 
à fantasia da completude da primeira infância. 
d) Se o parceiro sexual é único e carregado de uma significação sexual 
afetiva particular (o que ainda pode se integrar a uma relação de apoio 
identitário ou de submissão a uma ligação edipiana particularmente 
intensa) ou, ao contrário, se há vários parceiros sexuais sem 
envolvimento afetivo, o que pode representar necessidade de ataque ao 
próprio corpo ou do objeto. 
 
Obviamente, não se trata de propor uma tipologia artificial e de estabelecer 
umacorrelação entre um ato e um conflito psíquico particular, mas, ao contrário, de 
mostrar a diversidade de arranjos pulsionais e defensivos, de níveis de construção 
da identidade por trás de uma conduta que se costuma resumir com muita 
frequência em um único termo: homossexualidade. 
As relações homossexuais na adolescência geralmente são marcadas por 
uma grande culpa ou, às vezes, por uma verdadeira vergonha. De fato, o 
reconhecimento social que os adultos conseguem obter não é tão fácil para os 
adolescentes, que quase sempre escondem sua homossexualidade. 
 
 
 
 
 
 
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Significações psicológicas e psicopatológicas 
 
Citaremos aqui apenas modelos de compreensão referentes à teoria 
psicanalítica; essa abordagem é que predomina nos trabalhos consagrados à 
adolescência. 
De fato, a maioria dos estudos distingue a homossexualidade da primeira 
parte da adolescência, que corresponde a uma fase normal de desenvolvimento, e a 
homossexualidade da segunda parte da adolescência, que se pode ter uma 
significação diferente, mais inquietante, abrindo caminho à homossexualidade do 
adulto. 
Para Freud, a homossexualidade é uma inversão quanto ao objeto sexual. A 
inversão na adolescência é frequente e normal; três dados explicam porque a 
inversão não se prolonga na vida adulta: 
a) A atração que as características do sexo oposto exercem sobre um e 
outro; 
b) A influência inibidora exercida pela sociedade; 
c) As lembranças da infância: 
- no homem, são lembranças da ternura que recebeu da sua mão e que o 
induzem a dirigir sua escolha de objeto para a mulher, e as lembranças de 
intimidação sexual por parte do pai, que o induzem a se desviar dos objetos 
masculinos. 
- na mulher, são lembranças da tutela da mãe, que favorecerá a atitude 
hostil em face de seu próprio sexo e que a induz para uma escolha de objeto 
heterossexual. 
 
Anna Freud (ANO) considera as manifestações sexuais da adolescência 
como normais. Elas são recorrências de ligações objetais pré-genitais, sexualmente 
indiferenciadas, que se reativam durante a pré-adolescência, ao mesmo tempo em 
que muitas outras atitudes pré-genitais e edipianas. A escolha de objeto sexual na 
adolescência se deve também à regressão do investimento de objeto para o amor 
por sua própria pessoa a para a identificação com o objeto. 
 
 
 
 
 
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Portanto, o objeto passa representar o Eu real e o ideal do Eu. As 
manifestações homossexuais são então fenômenos de ordem narcísica. Elas [as 
manifestações homossexuais] são mais significativas da profundidade da regressão 
do que do papel sexual posterior do sujeito. Assim, para Anna Freud, a distinção 
entre a homossexualidade latente e a homossexualidade manifesta aplica-se à 
sexualidade adulta, e não pode servir para explicar a masturbação mútua e outros 
jogos sexuais entre adolescentes. 
Finalmente, ao se inscrever a significação da conduta homossexual no 
processo integral da adolescência, não se pode deixar de assinalar a importância do 
grupo de identificação de iguais, que tem como função a integração da libido 
homossexual e a resolução de problemas colocados pela identificação com o genitor 
do sexo oposto. 
 
Travestismo e fetichismo – o travestismo é observado em um homem 
heterossexual que utiliza uma ou várias peças de vestiário feminino para provocar 
uma excitação sexual, seja ela seguida de masturbação solitária, seja integrada a 
uma troca com um parceiro sexual mais ou menos cúmplice. O travestismo é mais 
encontrado na idade adulta. 
Contudo, certos autores insistiram sobre os antecedentes na infância e na 
adolescência observados nos travestis. Esses sujeitos sempre gostaram de se 
disfarçar de mulher ou de menina, preferiam as brincadeiras de meninas (bonecas, 
elásticos). No início da adolescência, na idade em que o sujeito prefere estar com os 
de seu sexo (necessidade de inserção nas identificações de grupo), esses garotos 
preferem a companhia de meninas. Em geral, são rejeitados pelos outros meninos e 
alvos de zombaria. 
Esses adolescentes eventualmente sofreram uma humilhação ligada à 
obrigação imposta pela mãe de usar roupas femininas. Embora em um grau menor 
do que no caso do transexualismo, essas crianças e adolescentes também podem 
ter vivido uma relação particularmente próxima e intensa com sua mãe, enquanto 
que a relação com o pai é inexistente ou precária (pai fraco, derrotado, 
desvalorizado). 
 
 
 
 
 
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Se o travestismo pode se manter por muito tempo como uma prática 
limitada, em certos casos, o adolescente ou o jovem adulto entra em uma relação de 
tipo homossexual. 
 
As dificuldades específicas do estabelecimento da identidade sexual 
 
Tratamos aqui de dois problemas: o transexualismo e o intersexualismo 
ambíguo. 
O transexualismo é um transtorno específico da identidade sexual. O 
transexual, assim como o sujeito normal que recalca a alteridade sexual, a 
participação do outro sexo nele, tem o sentimento de pertencer exclusivamente a um 
sexo. Mas, ao contrário do sujeito normal ou do homossexual, não há no transexual 
uma escolha sexual, todos os problemas se colocam no nível da identidade sexual. 
A intersexualidade ambígua representa igualmente um transtorno da 
identidade, pois a escolha não se coloca mais em relação ao objeto sexual suporte 
do objeto interno, mas em relação às representações do eu enquanto objeto sexual 
e, portanto, enquanto eu em sua identidade sexual. 
 
O transexualismo – O transexualismo geralmente começa na infância. Trata-
se do sentimento experimentado por um sujeito de determinado sexo de pertencer 
ao sexo oposto e do desejo intenso, muitas vezes obsessivo, de mudar de 
conformação sexual, para viver sob uma aparência condizente com a imagem que 
construiu de si mesmo. 
Na adolescência, o sujeito transexual (mais o menino do que a menina) 
passa por uma crise de identidade, ele próprio vive um conflito: 
- Interno: por causa do impacto do desenvolvimento de sua puberdade que 
ele não deseja e cujo processo ele não aceita. 
- Externo: por causa da pressão crescente de sua família e da sociedade em 
relação às suas aspirações. 
 
 
 
 
 
 
 
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A puberdade, com o aparecimento de seios e de menstruação nas meninas 
e das ereções nos meninos, pode ser vista como catastrófica. São muito comuns 
nessa época as crises de depressão e os gestos suicidas. Aspectos perversos, 
neuróticos ou psicóticos podem prevalecer, segundo os sujeitos, mas, de todo modo, 
trata-se de um transtorno profundo da autoimagem que o adolescente vem reavivar. 
Entretanto, nem todos os adolescentes transexuais consideram a puberdade 
intolerável; alguns se resignam às mudanças corporais, tentam por muito tempo 
tornar compatível a personalidade com o corpo, e se comportam de acordo com o 
que o entorno espera deles, mas nunca conseguem suprimir seus sentimentos. 
A compreensão psicanalítica do transexualismo está mais estabelecida para 
o transexualismo masculino do que para o transexualismo feminino. Para o primeiro, 
a inibição ou aniquilação de toda angústia de castração até a castração real 
encontraria sua origem na simbiose original e excessiva com a mãe e a carência 
paterna. 
Em certos casos, a demanda ou, pelo menos, o tema transexual (declaração 
do sujeito que diz ter um corpo do sexo atribuído no nascimento,mas uma “alma do 
outro sexo”) aparece relativamente cedo na infância. Numerosos autores se 
indagaram sobre a infância dos transexuais. A criança teria sido vítima de uma 
intensa angústia de abandono materno que tenta superar com uma fantasia de fusão 
com ela. 
Para alguns autores, haveria no passado desses pacientes uma infância 
feita de excesso de mãe e escassez de pai; o menino teria vivido com sua mãe uma 
simbiose extremamente perfeita e extremamente feliz. O pai, seja por sua ausência 
ou por sua insignificância, não procurou interromper em nenhum momento. Essa 
simbiose estreita estaria na origem de uma “identidade de gênero” perturbada, 
marcada por uma feminilidade precoce e acentuada no menino. 
Nem todos os autores encontram esses dados. Para outros clínicos, a 
criança se conforma àquilo que ela imagina que é preciso ser para que a amem. É 
em torno de uma necessidade-desejo que se constitui uma identidade primária. 
Porém, todos os autores enfatizam uma qualidade particular da relação mãe-filho, 
mas isso parece mais evidente nos meninos. 
 
 
 
 
 
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Embora a maioria das demandas cirúrgicas e/ou endocrinológicas dos 
transexuais ocorram na idade adulta, a adolescência parece ser um período 
privilegiado para uma abordagem psicopatológica desse problema, antes que ele se 
cristalize em sua personalidade adulta. 
 
A intersexualidade ambígua – A intersexualidade ambígua caracteriza-se, 
antes de tudo, pela anomalia dos órgãos genitais externos. Trata-se evidentemente, 
de uma anomalia de origem orgânica, mas com grande repercussão no equilíbrio 
psicoafetivo. Vamos descrevê-lo brevemente. Distinguem-se duas categorias 
principais: 
 
- O pseudo-hermafroditismo feminino, o mais frequente. Trata-se de meninas 
que possuem ovários, trompas, um útero e cujos órgãos sexuais externos são de 
aparência viril. A origem dessa aparência virilizante é diversa. Deixados à sua sorte, 
eles evoluem para uma morfologia corporal claramente masculina. 
 
- O pseudo-hermafroditismo masculino é mais raro. Trata-se de meninos que 
possuem testículos, geralmente em posição ectópica, um epidídimo, canais 
deferentes, um broto genital reduzido, de aspecto clitoridiano, uma fenda vulviforme 
e eventualmente uma cavidade vaginal. Não existem transtornos endócrinos, de tal 
modo que na puberdade assiste-se à eclosão de características secundárias 
masculinas: a voz, o sistema piloso, a morfologia. 
 
Na adolescência, dois tipos de problemas se apresentam: 
- Em certos casos não foi feito nenhum diagnóstico e nenhum tratamento. A 
evolução psicossocial se deu segundo o sexo atribuído ao sujeito, e ele se confronta 
agora com questões sobre seu corpo ou por arrebatamentos amorosos pelo outro 
sexo. 
- Às vezes, o diagnóstico foi feito precocemente e chegou o momento de 
uma intervenção cirúrgica conforme “a identidade do gênero”. 
 
 
 
 
 
 
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Os problemas psicopatológicos são então variáveis: ora o sujeito aceita bem 
essa situação e o tratamento que é necessário, ora se instala um estado depressivo, 
surgem gestos suicidas, ora a condição de ambiguidade se estabelece na própria 
personalidade: nesse caso, o sujeito se organiza segundo uma “identidade 
hermafrodita” com a capacidade de intercambiar o parceiro sexual. 
Ao contrário do que ocorre na homossexualidade, os transtornos não se 
referem ao objeto sexual, mas à identidade sexual. 
 
Relacionamentos afetivos e relações sexuais na adolescência 
 
Em uma pesquisa (Vidal, Ribeiro, 2008) concluiu-se que quanto aos 
“relacionamentos e relações sexuais” ficou clara a grande dificuldade que 
principalmente as meninas têm de dissociar o sexo do amor. O que elas chamam de 
“amor” é uma condição necessária para que ocorra o ato sexual. 
Já para os meninos isto não parece ocorrer. Segundo as autoras, é como se 
as meninas esperassem o “príncipe encantado”. Por outro lado, esses príncipes 
podem enquanto não encontram suas princesas, buscar outras experiências 
sexuais. Eles buscam outras experiências para testar e provar sua virilidade perante 
os outros e para tal eles não precisam amar. Para as meninas é “consentido” que se 
relacionem sexualmente, mesmo antes do casamento, só se for por amor, “com a 
pessoa certa, na hora certa”. 
A maioria das meninas critica o sexo por prazer, o sexo sem compromisso, o 
sexo por diversão. Observa-se também a importância que dão à virgindade, mesmo 
não defendendo a ideia de mantê-la até o casamento. Diferentemente dos meninos 
que querem ou se sentem obrigados a “perdê-la”. 
Percebe-se por meio dos relatos destes adolescentes que, de maneira geral, 
reproduzem valores tradicionais, alguns preconceitos e a ideologia machista ainda 
parece muito presente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Atitude dos pais 
 
A sexualidade dos adolescentes acaba repercutindo inevitavelmente sobre 
os pais. Podemos distinguir duas etapas: a das atitudes concretas dos pais em face 
da mudança recente da sexualidade dos adolescentes (relações sexuais mais 
precoces, vida de casal sem casamento, contracepção); e a das modificações 
intrapsíquicas dos pais em face das questões sempre suscitadas pelo aparecimento 
de novas potencialidades de seu adolescente. 
 
Os pais e a sexualidade de seus adolescentes: mudanças recentes de atitudes 
 
A mudança de atitude dos pais quanto aos problemas da sexualidade em 
relação a seus filhos manifesta-se em diversos âmbitos: 
 
- A informação sexual: a atitude dos pais realmente mudou, o que parecia 
necessário, considerando-se a evolução cultural. Hoje, de fato, os pais são muito 
favoráveis à educação sexual de suas crianças e de seus adolescentes. 
Obviamente, fatores socioculturais ou ligados à idade dos pais ainda 
interferem na aceitação e na aplicação dessa informação, mas o movimento geral 
parece irreversível. Contudo, essa mudança de atitude não é tão facilmente 
assumida pelos pais. Por exemplo, os pais são cada vez mais favoráveis a uma 
informação sexual desde que seja passada por outros (56% dos pais em uma 
pesquisa recente consideravam que isso era papel dos educadores, dos 
professores); os pais também manifestam um mal-estar evidente com certos temas 
que dizem respeito à informação sexual. De fato, os temas mais facilmente 
abordados são a gravidez, o parto, a puberdade, a anatomia; no fim da lista, bem 
atrás, são mencionados o ato sexual, o aspecto afetivo e moral e, por último, as 
doenças venéreas, as perversões e os desejos. 
 
 
 
 
 
 
 
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- A contracepção: aparentemente, os pais aceitam com muito mais facilidade 
a contracepção para sua filha e, inclusive, se antecipam à solicitação desta. 
 
- Os marcos institucionais e morais ligados à sexualidade: os pais parecem 
manifestar uma resistência bastante firme às mudanças que seus filhos começam a 
reivindicar ou a viver. A questão do casamento, por exemplo, continua sendo um 
fator frequente de conflitos encontrados entre os pais e seus adolescentes a 
propósito do problema de uma prática sexual regular, e isso principalmente para as 
meninas. Nesse campo, os pais ainda se surpreendem com as mudanças 
socioculturais. 
 
Os pais e a sexualidade de seus adolescentes: alterações intrapsíquicas 
 
Em face de adolescentes perturbados e transformados em seus corpos e em 
sua sexualidade, os pais também são levadosa profundos remanejos, ligados ao 
seu próprio corpo e sexualidade. A sexualidade de seu adolescente pode ser vivida 
pelos pais como uma ameaça para eles próprios por várias razões: 
 
- As ligações incestuosas que existiam entre seu filho e ele são reavivadas 
e, sobretudo, surgem brutalmente à consciência. Enquanto perdura a imaturidade 
fisiológica do filho, os desejos incestuosos, inconscientes, podem ser facilmente 
ocultados: jogos de carícias e afagos diversos são possíveis e não angustiantes, na 
medida em que um dos parceiros, por sua fisiologia, ainda é imaturo. Na 
adolescência é bem diferente. 
- A sexualidade dos adolescentes faz reviver em um ou nos dois genitores 
seus próprios traumatismos. Uma mãe particularmente submissa à própria mãe 
durante sua adolescência pode, por exemplo, reviver cruelmente o conflito com sua 
filha e não suportar a sexualidade desta. De resto, isso pode resultar tanto em um 
liberalismo excessivo quanto em uma rigidez abusiva por parte dos pais. 
 
 
 
 
 
 
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- A sexualidade nascente dos adolescentes é inconscientemente percebida 
pelos pais como o fim da sua. Se os adolescentes devem realizar um trabalho de 
luto pela infância perdida, os pais devem igualmente produzir um luto, em relação a 
sua vida sexual. 
 
A sexualidade na adolescência é um tema vasto, cuja abordagem apresenta 
dois riscos: um risco extensivo considerando-se que a sexualidade está presente em 
tudo o que diz respeito à adolescência e aos seus problemas; um risco redutor, 
limitando ao mero aspecto comportamental este tema fundamental para o sujeito 
nessa idade. 
 
2- Sexualidade na velhice 
 
A pirâmide das idades mostra um envelhecimento progressivo da população 
nos países ocidentais. Esta camada da população é atualmente um fenômeno 
presente em todos os países que conseguiram aumentar a esperança de vida por 
meio dos progressos combinados da medicina e do meio ambiente. 
Na França e em Portugal, cerca de 30% da população tem mais de 50 anos. 
Se no Brasil, em média, apenas 16% dos indivíduos atinge atualmente esta idade, 
nas aglomerações urbanas esta população está muito mais concentrada. 
Não somente os seres humanos vivem mais tempo, mas também as 
condições de saúde e o potencial de integração social são prolongados. Entretanto, 
os estereótipos ligados à degradação biológica, a qual serviu durante séculos para 
caracterizar o processo do envelhecimento, continuam a impregnar a ideia das 
pessoas. As repercussões do processo de envelhecimento sobre a sexualidade 
constituem um assunto particularmente contaminado por preconceitos. 
Até recentemente, ainda se acreditava que por volta dos cinquenta anos o 
declínio da função sexual era inevitável face à menopausa feminina e à instalação 
progressiva das disfunções da ereção masculina. Além disso, a atividade sexual 
perdia fatalmente seu objetivo de procriação e, portanto, sua justificativa social. 
 
 
 
 
 
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A concepção pioneira de Freud (1905/1969) afirmando o prazer como 
objetivo da sexualidade humana desvinculou-a da reprodução. A tese de Freud veio 
a ser confirmada com a recente emergência do conceito de saúde sexual e com a 
sua dissociação progressiva do conceito de reprodução, o que coloca em evidência 
a autonomia da vida sexual e sua importância para a realização e o bem-estar dos 
indivíduos durante toda a vida. 
Mas esta liberdade ideológica só pôde tornar-se realidade com a conquista 
tecnológica dos hormônios sintéticos. Tornou-se possível tanto a contracepção, 
quanto a terapia de reposição hormonal, que facilita manter a função sexual 
prazerosa após a menopausa. Mais recentemente, o sildenafil e o tadalafil vieram 
proteger os homens das perturbações da ereção cujo potencial patológico se revela 
provavelmente muito mais no nível psicológico que fisiológico. Assim, os progressos 
da medicina minimizam as barreiras biológicas que dificultavam a manutenção da 
atividade sexual na segunda metade da vida. 
Espera-se que junto com a dilatação da esperança de vida e do progresso 
científico e técnico que o homem tem sido capaz de pôr em marcha, haja uma 
evolução social e cultural e uma mudança das mentalidades capaz de integrar a 
sexualidade das pessoas idosas harmoniosamente em tais avanços. 
Para compreender a problemática da sexualidade nos adultos maduros e 
idosos (após os 50 anos de idade), é preciso levar em conta os fatores básicos que 
afetam o comportamento e a resposta sexual em qualquer idade: 
 
a) Saúde física. A doença pode reduzir ou impedir o interesse pela 
sexualidade em qualquer idade. Pesquisadores provaram que raramente o 
equipamento sexual se deteriora no envelhecimento normal, impedindo os adultos 
maduros de permanecerem sexualmente ativos enquanto tiverem saúde. A 
sexualidade está entre os últimos "processos biológicos provedores de prazer" a 
deteriorar-se. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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b) Preconceitos sociais. Do ponto de vista do ciclo vital, o envelhecimento 
é um processo bio-psico-social, ou seja: caracterizado por mudanças fisiológicas, 
psicológicas e nos papéis sociais. Independentemente da especificidade e da 
heterogeneidade do envelhecimento individual, a psicogerontologia tem assinalado 
que a experiência subjetiva do envelhecimento é amplamente influenciada pela 
ideologia cultural. 
A vivência subjetiva é marcada pela inevitabilidade das modificações 
corporais e das competências físicas, pelas modificações em nível dos recursos 
cognitivos e adaptativos, pelas alterações de papéis e da posição nas hierarquias 
sociais, assim como pelo impacto negativo de atitudes e estereótipos relativos ao 
envelhecimento. A crença na progressiva e generalizada incompetência, assim como 
na impotência sexual dos idosos faz parte intrínseca destes estereótipos. Acuados 
entre as múltiplas exigências adaptativas que as alterações do envelhecimento 
comportam, os indivíduos enfrentam dificuldades para preservar a identidade 
pessoal e a integridade de alguns papéis e funções, sobretudo àqueles relativos à 
sexualidade que a sociedade atentamente vigia. 
 
c) Autoestima. Na sociedade contemporânea, os valores culturais 
orientados para a juventude tendem a depreciar os indivíduos idosos em termos de 
sua aptidão e atração sexual, particularmente as mulheres. Pessoas desta faixa 
etária são levadas a aposentar-se também do terreno sexual, no qual as iniciativas 
representam um risco importante de desapontamento e frustração. 
Além disso, toda manifestação de sensualidade é rapidamente suspeita de 
deslizar para a dissolução da demência senil. Todos temem o estereótipo do velho 
gagá que perdeu o controle de suas pulsões. Tendo interiorizado estes valores 
culturais, o indivíduo envelhecido pode não ter consciência de recalcar a 
sexualidade, ou simplesmente sentir-se impelido a reprimi-la deliberadamente. O 
conflito entre suas pulsões e a norma social, ataca a sua autoestima. 
 
 
 
 
 
 
 
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d) Conhecimentos sobre a sexualidade. Muitos homens deixam de ter 
relações e se tornam impotentes porque não compreendem as mudanças 
fisiológicas ligadas ao processo do envelhecimento, interpretam-nas como sendo 
sintomas de impotência. Com sua autoestima baixa, ficam receosos de não 
conseguirem uma ereção e acabam evitando ter relações para não serem 
confrontados com a frustração.Em um estudo verificaram que a causa mais frequente de cessação das 
relações sexuais é atribuída aos homens, tanto no depoimento dos próprios homens, 
quanto no das mulheres, apesar de os homens declararem continuar interessados 
em sexo com mais frequência do que as mulheres. 
e) Status conjugal. A regularidade das relações sexuais está muito ligada à 
oportunidade representada pela situação conjugal. De um ponto de vista 
demográfico, a proporção de mulheres é predominante nesta população em razão 
de uma esperança de vida nitidamente superior a dos homens. Esta diferença tende 
a acentuar-se à medida que a idade avança. A primeira consequência deste dado 
objetivo é a limitação das oportunidades de relações sexualizadas, particularmente 
para as mulheres. Entretanto, a falta de um parceiro disponível pode explicar o 
abandono de relações sexuais, mas não explica a renúncia a interesses a 
comportamentos sexuais, fato que ocorre frequentemente mesmo entre pessoas 
casadas e satisfeitas com a sua relação conjugal. 
Se a condição de saúde pode ser uma das explicações possíveis para o 
abandono da sexualidade ativa e explicar, indiretamente, um menor interesse pela 
sexualidade em geral, outras explicações poderão ser encontradas no âmbito das 
experiências de vida prévias e relativas, especificamente, à qualidade da relação 
conjugal e sexual desenvolvida ao longo da vida. Por um lado, se inibições existiam, 
elas tendem a cristalizar-se e, por outro lado, a degradação das relações afetivas, 
em virtude dos conflitos e rancores não elaborados, pode afastar emocionalmente o 
casal. Raiva e ressentimento acumulados ao longo dos anos destroem a atração 
erótica. 
 
 
 
 
 
 
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Como vemos, com o passar do tempo, estes cinco fatores básicos que 
contextualizam a sexualidade humana passam a pesar ainda mais sobre o indivíduo 
envelhecido, restringindo a amplitude das escolhas pessoais. O caminho da 
renúncia é facilitado face à sua fragilidade psicofisiológica, contexto que representa 
um sexto fator, específico a esta população. 
Duas teorias complementares permitem compreender o processo subjetivo 
que favorece esta renúncia à sexualidade. Por um lado, a teoria psicossociológica 
dos scripts que explica a ligação direta entre os papéis culturais atribuídos aos 
indivíduos segundo seu status social (inclusive faixa etária), e os scripts 
intrapsíquicos que permitem aos indivíduos reconhecer e reagir a circunstâncias 
sexualmente excitantes dentro de um contexto socialmente significativo 
positivamente valorizado. A cultura ocidental atribui um script sexual negativo ao 
indivíduo envelhecido, script que ele se recusa a assumir. 
Por outro lado, a teoria psicanalítica explica como a clivagem entre a ternura 
e a sensualidade proposta por Freud (1912/1969) é reativada neste período tardio 
da vida de maneira ainda mais insidiosa. Vovô e vovó são anjos da guarda com um 
corpo diáfano, liberado de todo traço de sensualidade. Esta fábula deve ser 
preservada a todo custo; se preciso for, sob o controle dos filhos que se tornam, por 
sua vez, guardiões do recalcamento (ou da supressão). Ocorre, assim, uma inversão 
dos papéis que ocupavam na adolescência. Os adultos maduros são compelidos a 
ocultarem cuidadosamente todo e qualquer interesse sexual sob pena de serem 
socialmente desconsiderados e afetivamente rejeitados pela própria família. 
A complementaridade entre a teoria sociológica e a teoria psicanalítica 
permite esclarecer a dupla natureza deste fenômeno no qual o processo 
intrapsíquico de exclusão da sexualidade é fruto, ao mesmo tempo, da interiorização 
dos ideais culturais e da situação de fragilidade psicofisiológica que leva a assumir a 
clivagem imposta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A geração que ultrapassou os cinquenta anos, idade que marca o início das 
alterações bio-psico-sociais, caracterizando o envelhecimento, confronta-se 
atualmente com um conflito entre os estereótipos e os valores ligados à sexualidade 
internalizados ao longo da vida e a oferta recente de recursos que permitem assumir 
as inclinações pessoais realmente percebidas. 
 
3- Desconstrução do feminino e do masculino 
 
Um acontecimento bastante significativo, e que pode ser considerado o 
berço do feminismo contemporâneo, foi o lançamento do célebre livro de Simone de 
Beauvoir. Esse movimento possibilitou, sobretudo, uma mudança em suas vidas, em 
suas escolhas profissionais, em seus desejos e em suas relações amorosas que 
podem, hoje, seguir diferentes caminhos, não necessariamente traçados pelo que no 
século passado se anunciou como sendo a sua “natureza”. 
Assim, apesar da inegável situação de injustiça que podemos ainda hoje 
vislumbrar na nossa sociedade, as consequências positivas do movimento feminista 
se esboçam, na materialidade dos conflitos e desejos que constituem o cotidiano 
das relações humanas. 
Nesse sentido, o enunciado proposto por Simone de Beauvoir na frase mais 
falada, lida e comentada desse livro - "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher" - 
provocou um deslocamento da condição “natural” feminina construída nos séculos 
XVIII e XIX e abriu um leque de possibilidades para pensar "o que o sujeito pode se 
tornar, sendo (também) mulher". 
O efeito social provocado pelas mulheres na luta por seus direitos introduziu 
a necessidade de pensar sua história. À medida que foi sendo tecida uma história 
coletiva, puderam-se reconstruir histórias individuais e reinventar projetos para o 
futuro. 
Diante disso, podemos observar uma passagem: se antes a questão era 
formulada a partir do que se constituía como um enigma (para os homens) - "o que 
quer a mulher?" -, hoje a questão que se apresenta no horizonte da nossa reflexão é 
"como pensar a diferença de sexos?". 
 
 
 
 
 
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Nesse contexto, o desenho de novas formas de sociabilidade se apresentam 
constituindo uma mudança significativa no "modo de vida", em que o esboço de uma 
nova experiência cotidiana se configura como pano de fundo para pensarmos a 
questão da diferença entre os sexos. 
Os principais fenômenos constitutivos dessa mudança são: a crise da forma 
burguesa da família nuclear (monogâmica e heterossexual), a entrada da mulher no 
mercado de trabalho, a separação da sexualidade da reprodução. Todos esses 
fenômenos provocaram uma crise nas referências organizadoras da sociedade 
moderna, principalmente a partir do abandono das fronteiras homem-público e 
mulher-privado, configurando um novo território para pensar as sexualidades. 
 
A crise da família nuclear – A família, tal como a concebemos, é um 
fenômeno recente na história da humanidade, diferente das relações de parentesco 
que sempre estiveram presentes nas formações sociais. Herdeira da necessidade 
política da constituição do privado, no início da era moderna, a família surge como 
aquela que vai garantir a ordem social e possibilitar, por meio da função de 
afetividade e educação, a formação do indivíduo adulto. Desde então, a organização 
pai-mãe-filho passa a ser concebida como o lugar originário da constituição do 
sujeito. 
Porém, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, esse núcleo começa a ser 
abalado justamente no que tinha de mais sólido, que eram as bases materiais para 
as relações de filiação. O primeiro sinal de mudança foi a baixa das taxas de 
fecundidade apresentadas em alguns países ocidentais desenvolvidos, sendo hoje 
fonte de preocupação de políticas demográficas, inclusive no que se refere

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