Buscar

ANÁLISE DOS TEXTOS DE ALMEIDA GARRETT , CAMILO CASTELO BRANCO E EÇA DE QUEIROZ

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ANÁLISE DOS TEXTOS DE ALMEIDA GARRETT , CAMILO CASTELO BRANCO E EÇA DE QUEIROZ
Por
Carla Cavalcante Pinto 
(aluna regularmente matriculada no curso de Letras/Literaturas)
Trabalho entregue à Profª. Aline Erthal, na disciplina de Narrativa Portuguesa I.
UFRJ/FL
2018.2
De acordo com os estudos feitos em aula, o texto metaficcional apresenta como temática, de maneira proposital, os mecanismos de produção literária e reflexões sobre o processo de escrita. É a escrita falando sobre a escrita, podendo também fazer com que o leitor participe dessa produção. 
Em Viagens na minha terra[footnoteRef:1], a metalinguagem aparece constantemente no texto. No primeiro capítulo, de forma irônica, o autor-narrador apresenta o propósito da narrativa: [1: Interessante observar que esse título remete a outra obra, As viagens de Gulliver de Jonathan Swift.] 
"De como o autor deste erudito livro se resolveu a viajar na sua terra depois de ter viajado no seu quarto; e como resolveu imortalizar-se escrevendo estas suas viagens." (GARRETT, cap. I)
Mais à frente, a narrativa é interrompida para dar espaço a uma ação do escritor, como se o autor do texto o escrevesse no mesmo momento em que os fatos acontecem:
"Santo Deus! Que bruxa que está à porta! Que antro lá dentro!... Cai-me a pena da mão." (GARRETT, cap. II)
Há momentos também de interlocução, quando o narrador dirige-se ao leitor e expõe suas opiniões e inferências acerca do texto escrito, como por exemplo no seguinte trecho:
"Sim, Leitor benévolo, e por esta ocasião te vou explicar como nós hoje em dia fazemos a nossa Literatura. Já não importa guardar segredo; depois desta desgraça não me importa já nada. Saberás, pois, ó leitor, como nós outros fazemos o que te fazemos ler. Trata-se de um romance, de um drama - cuidas que vamos estudar a história, a natureza, os monumentos, as pinturas da época? Não seja pateta, senhor leitor, nem cuide que nós somos. Desenhar caracteres e situações do vivo na natureza, colori-los das cores verdadeiras na história... isso é trabalho difícil, e sobretudo um tanto!... Não senhor: a coisa faz-se muito mais facilmente. Eu lhe explico. Todo drama e todo romance precisa de: uma ou duas damas, um pai, dois ou três filhos, de dezenove a trinta anos, um criado velho, um monstro, encarregado de fazer as maldades, vários tratantes e algumas pessoas capazes para intermediários." (GARRETT, cap. V)
A obra também apresenta a micro história da "Meninas dos Rouxinóis". Garrett conta a história de uma família, com segredos sendo revelados aos poucos. Há uma relação direta entre macro e micro histórias. No livro A literatura portuguesa em perspectiva, encontram-se possíveis interpretações para a composição das personagens. Frei Denis representa os valores tradicionais destruídos, Joaninha seria a representação da ingenuidade de Portugal e, Francisca, a avó cega, poderia indiciar a imprudência com que Portugal assumia o liberalismo.
Logo assim que o autor começa a falar sobre a tal história, percebe-se que os portugueses valorizam mais o que é produzido na França do que é produzido na sua terra: “É o primeiro episódio da minha Odisseia: estou com medo de entrar nele porque dizem as damas e os elegantes da nossa terra que o português não é bom para isto, que em francês que há outro não sei quê...” (GARRETT, A.)
Observa-se ainda a relação que o autor faz com o materialismo e o que ele denomina como espiritualismo, que seria a parte “nobre e honrada” dos ideais portugueses.
“[...]o espiritualismo, que marcha sem atender à parte material e terrena desta vida, com os olhos fitos nas suas grandes e abstratas teorias, hirto, seco, duro, inflexível, e que pode bem personalizar-se, simbolizar-se pelo famoso mito do Cavaleiro da Mancha, D. Quixote; — o materialismo, que, sem fazer caso nem cabedal dessas teorias, em que não crê, e cujas impossíveis aplicações declara todas utopias, pode bem representar-se pela rotunda e anafada presença do nosso amigo velho, Sancho Pança.” (GARRETT, A.)
Já a novela Amor de Perdição, escrita por Camilo Castelo Branco, narra o amor de Teresa de Albuquerque e Simão Botelho, porém não podem ficar juntos, pois pertencem a famílias que se odeiam.
O Romantismo português se destaca na obra em aspectos como a intensidade do amor entre Simão e Teresa, a impossibilidade da concretização desse amor e, principalmente, o fim trágico de Simão, Teresa e Mariana.
“Meu pai diz que vai me encerrar num convento por tua causa. Sofrerei tudo por amor de ti. Não me esqueças tu, e achar-me-ás no convento, ou no céu, sempre tua de coração, e sempre leal.” (CASTELO BRANCO, C.)
“É necessário arrancar-te daí, dizia Simão. Esse convento há de ter uma evasiva. Procura-a, dize-me a noite a hora em devo esperar-te. Se não puderes fugir, essas portas hão de abrir-se diante da minha cólera. Se daí te mandarem para outro convento mais longe, avisa-me, que eu irei, sozinho ou acompanhado, roubar-te ao caminho. É indispensável que te refaças de ânimo para te não assustarem os arrojos da minha paixão. És minha! Não sei de que me serve a vida, se a não sacrificar a salvar-te. Creio em ti, Tereza, creio. Ser-me-ás fiel na vida e na morte. Não sofras com paciência; luta com heroísmo. A sua submissão é ignomínia, quando o poder paternal é uma afronta. Escreve-me a toda a hora que possas. Eu estou quase bom. Dize-me uma palavra, chama-me e eu sentirei que a perda do sangue não diminui minhas forças.” (CASTELO BRANCO, C.)
Os trechos acima apresentam o caráter romântico das correspondências entre Simão e Tereza e, também, evidenciam a presença metalinguística quando referem-se às cartas escritas pelos personagens dentro do texto.
Amor de Perdição, assim como em Viagens na minha terra, apresenta uma micro história. Motta e Sousa, no texto "Paralelo ao Amor de Perdição", destacam a segunda história apresentada na obra, em que Manuel Botelho envolve-se com uma açoriana. Os autores apontam o desfecho desse episódio como anti-patético e anti-moral, impróprio a um romance romântico, já que os personagens seguem suas vidas sem qualquer sofrimento sentimental.
Em outra obra, Maria! Não me mates, que sou tua mãe!, Castelo Branco também usa recursos metalinguísticos apresentando um narrador, assim como em Amor de Perdição, em 1º pessoa, porém nesse caso sua fala dirige-se diretamente àquele que lê o texto. 
“Pais de Família!
Atendei e vereis o maior de quantos crimes se tem visto no mundo! Vereis uma filha matar a sua mãe, porque esta lhe não deixava fazer o quanto desejava.
[...]
Pais de famílias! Eu vou contar-vos o mais triste e espantoso acontecimento que viu o mundo, e que talvez não torne a ver. Chamai vossos filhos para junto de vós. Lede-lhe esta história, e fazei que eles a decorem, que a tragam consigo, e que a repitam uns aos outros.”(CASTELO BRANCO. C.)
Em O Primo Basílio, de Eça de Queiroz, da mesma maneira que nas duas primeiras obras citadas, também apresenta uma micro história. Em uma conversa de amigos, discute-se adultério através da peça de Ernestinho. Esse é um dos momentos que percebe-se um apontamento a respeito da sociedade machista da época:
"D. Felicidade acudiu, toda bondosa:
— Deixe falar, Sr. Ledesma. Está a brincar. E ele então que é um coração de anjo! 
— Está enganada, D. Felicidade — disse Jorge, de pé diante dela. — Falo sério e sou uma fera! Se enganou o marido, sou pela morte. No abismo, na sala, na rua, mas que a mate. Posso lá consentir que, num caso desses, um primo meu, uma pessoa da minha família, do meu sangue, se ponha a perdoar como um lamecha! Não! Mata-a! É um princípio de família. Mata-a quanto antes!" (DE QUEIROZ, E.)
Aliás, a crítica social perpassa a obra que apresenta características do realismo. Luísa é uma menina lisboeta "vítima" da literatura romântica fantasiosa. Eça de Queiroz tem o romantismo como uma espécie de alvo que sua crítica acerta em cheio. Como, por exemplo, no comentário que o narrador faz quando Luisa vai pela primeira vez ao quarto denominado como "Paraíso", quando usa o iate como metáfora:"Assim um iate que aparelhou nobremente para uma viagem romanesca vai encalhar, ao partir, nos lodaçais do rio baixo; e o mestre aventureiro, que sonhava com os incensos e os almíscares das florestas aromáticas, imóvel sobre o seu tombadilho, tapa o nariz aos cheiros dos esgotos." (DE QUEIROZ, E)
Como consequência dessa alienação, Luísa se perde nos valores morais e se deixa iludir pelo seu primo. 
Outros personagens também são representações de características da sociedade portuguesa da época. Basílio, é o "bom vivant", galanteador e irresponsável; Jorge representa o machismo e a hipocrisia masculina e acaba sendo traído; Conselheiro Acácio é soberbo e apegado às aparências; Juliana é chantagista e uma personagem rica em sentimentos mesquinhos, sempre em busca de uma possível ascensão social; Leopoldina é a adultera, mal vista pela sociedade.
Ao final dessa pequena análise dos textos de Garrett, Castelo Branco e Eça de Queiroz identifica-se uma similaridade entre os textos, o uso de recursos metaficcionais, e principalmente, as críticas à sociedade da época.

Continue navegando