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Apostila Direito Internacional Tributário
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Direito Internacional Tributário 1. Introdução Nas primeiras organizações do fenômeno tributário, os estudiosos, as nações e os contribuintes acreditavam que as previsões se limitavam a aspectos internos de cada uma das nações, resultantes de sua soberania e poder de império apenas, com pouca ou quase nenhuma repercussão internacional. Esse aspecto estava limitado à tributação do comércio aduaneiro e que, mesmo assim, remontava aos eventos de entrada ou saída de cada um dos países. Com o passar dos tempos constatou-se que tal verificação era no mínimo incompleta, eis que os fenômenos tributários também repercutiam na esfera das relações internacionais, seja para delimitar as fronteiras do campo de incidência de cada nação, seja em razão da interseção tributária com os eventos decorrente do tratamento dada aos países no comércio internacional. A relativização das fronteiras, o crescimento das consequências da globalização e demais eventos do mundo moderno trouxeram a necessidade de um repensar da tributação nessa seara. Na verdade, esse fenômeno não é restrito ao campo fiscal e pode ser atestado em diversas ramificações do conhecimento jurídico. Dessa constatação houve uma mudança de perspectiva não apenas no estudo e reconhecimento do Direito tributário em si, mas também do próprio Direito internacional, verificando-se a interseção entre os dois campos do conhecimento jurídico, com a absorção recíproca de institutos cada vez mais frequente e necessária. Direito Tributário Internacional e Direito Internacional Tributário Questão preliminar que remonta a tal campo do conhecimento reside na identificação do conteúdo e até mesmo na nomenclatura adotada. No campo doutrinário, embora sem muita unanimidade, tem sido encontrado o emprego das expressões “Direito tributário internacional” e também “Direito internacional tributário”, com alguns procurando estabelecer as distinções. Nesse sentido, existe posição apresentada por alguns que reconhecem que o conceito de “Direito internacional tributário” estaria nas normas referentes às relações entre Estados em matéria tributária, especialmente no tocante ao tratamento coordenado das atividades impositivas, divisão harmônica do poder de tributar entre si e resolução dos problemas oriundos da dupla incidência tributária e dos problemas de fraudes fiscais internacionais. Para essa visão do “Direito internacional tributário” – que reconhece esse campo jurídico como uma decorrência do Direito internacional público – apenas as normas, presentes nas convenções de Direito internacional tributário possuem o condão de resolver esses problemas, pois ofertam critérios de decisão que não pertencem ao Direito interno de certos Estados. Assim, para parte da doutrina, os tratados internacionais a respeito de dupla tributação e evasão fiscal internacional são objeto de estudo do Direito internacional tributário. Podemos ilustrar tal pensar pela referência de Heleno Torres,1 que reconhece que as convenções de Direito internacional tributário, em razão da relação com o direito interno, têm a natureza de leis especiais e se limitam a colocar em vigor um mecanismo para evitar o concurso de pretensões impositivas entre os Estados que celebram o tratado. De outro lado, o “Direito tributário internacional” abrangeria as normas de Direito tributário interno que contivessem elementos de “estraneidade". De forma a ilustrar, seriam reconhecidos estes elementos de estraneidade como aqueles decorrentes ou caracterizadores de fatos relativos à produção de renda ou capital, decorrentes da atuação de residentes de determinado país, mas ocorridos no estrangeiro, ou decorrentes de atuação de estrangeiros, mas ocorrentes no país. 1 TORRES, Heleno. Pluritributação internacional sobre as rendas de empresas. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1997, p.63 e 393. Dessa forma, seriam identificadas pelo “Direito tributário internacional” eventos reveladores de riqueza, comuns aos tipos de incidência normalmente utilizados nas nações, mas que atingiriam a duas ordens jurídicas distintas, sendo isso cada vez mais constante nos tempos de globalização acentuada. Ainda utilizando as remissões de Heleno Torres,2 ao se referir às medidas unilaterais de solução para a dupla tributação internacional que cada país pode adotar, afirma o autor que essas normas são procedimentais de atuação interna, cujas hipóteses de incidência contêm a descrição de fatos com “elementos de estraneidade”. Justo por isso seriam decorrências do Direito interno de cada nação, sendo, portanto, identificados pelas regras de qualificação e de localização como normas de Direito tributário internacional. Como se vê, parte da doutrina estabelece que a distinção entre normas de Direito internacional tributário e normas de Direito tributário internacional reside na origem: as primeiras são oriundas de convenções internacionais, ao passo que as segundas são normas de Direito interno. Essa divisão não é aceita por toda a doutrina. Posicionando-se sobre o tema, Antônio de Moura Borges3 afirma que toda essa divisão tem origem na doutrina dualista, razão pela qual não é plenamente satisfatória. Ao considerar a identidade de natureza das normas internacionais e internas (teoria monista), e que, em caso de conflito, prevalecem as primeiras, parece ser mais adequado, desde logo, a denominação Direito internacional tributário para a disciplina em estudo. Contudo, como a tributação é atividade precipuamente interna, a disciplina que se cogita, pois, abrangendo apenas a atividade tributária que é dominada por considerações internacionais, é mais bem identificada pela denominação Direito tributário internacional, uma vez que dá ênfase ao aspecto tributário do problema com características internacionais. 2 Idem, p. 285. 3 BORGES, Antônio de Moura. Convenções sobre dupla tributação internacional. Teresina: EDUFPI; São Paulo: IBDT, 1992, pp. 19 e 20. Evidentemente essa procura por uma distinção linguística remonta às necessidades da Ciência do Direito como um produto positivado de normas – seja de princípios e mesmo de regras – de forma a identificar o objeto de estudo, ainda que os objetos e objetivos se confundam. Para muitos, isso seria fundamental sobretudo para reconhecimento de eventual autonomia dessa ramificação. Eventual exagero de linguagem, contudo, pode até mesmo ser revertido em outro sentido, como sugere Heleno Torres:4 Levando às últimas consequências (...) tanto não seria cabível falarmos em “Direito Tributário Internacional”, como tampouco em “Direito Internacional Tributário”, na medida em que ambos setores descritivos prestam-se ao estudo de regras que correspondam, direta ou indiretamente, à arrecadação e fiscalização de tributos. Ou seja, tanto as cláusulas das convenções internacionais destinam-se a isso quanto as normas internas dotadas de elementos de estraneidade, dispostas para alcançar as rendas de residentes produzidas ultraterritorialmente ou as rendas de não- residentes obtidas no território. Diante disso, tem-se que no âmbito da Ciência do Direito, o Direito internacional tributário e o Direito tributário internacional não são autônomos, tendo em vista não possuírem um objeto de estudo, constituído por um subsistema de normas organizado estruturalmente, cuja função e princípios lhes sejam próprios.