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Apostila Direito Internacional Tributário
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para regulamentar questões específicas de seus interesses. O art. 98 do CTN permite, dessa forma, a distinção entre os chamados tratados-contratos e os tratados-leis. Toda a construção a respeito da prevalência da norma interna com o poder de revogar os tratados, equiparando-os à legislação ordinária, foi feita tendo em vista os designados tratados, contratos, e não os tratados-leis. Salienta-se que esse dispositivo gera debates com muita frequência, e que o mesmo consolida a ideia de que, em Direito tributário, o tratado modifica a lei, e esta, superveniente, não modifica o tratado. O que se conclui é que a disciplina do específico (no tratado internacional) prevalece sobre o genérico (leis internas do país). Assim afirmam os tribunais: A antinomia supostamente existente entre a norma da convenção e o direito tributário interno resolve-se pela regra da especialidade, ainda que a normatização interna seja posterior à internacional. (STJ – 2ª turma, Resp nº 1161147, rel. Min. Castro Meira, j. em 17.5.2012, DJe 1º.6.2012.) Tecnicamente, não há a revogação das normas internas, pois elas continuarão vigentes e aplicáveis às demais relações jurídicas não afetadas pelas disposições específicas da convenção internacional. A decisão transcrita acima ainda complementa essa particularidade: O art. 98 do CTN deve ser interpretado à luz do princípio Lex specialis derrogat generalis, não havendo, propriamente, revogação ou derrogação da norma interna pelo regramento internacional, mas apenas suspensão de eficácia que atinge, tão só, as situações envolvendo os sujeitos e os elementos de estraneidade descritos na norma da convenção. A norma interna perde a sua aplicabilidade naquele caso específico, mas não perde a sua existência ou validade em relação ao sistema normativo interno. Com essa determinação, é possível reconhecer que o nosso sistema, em matéria tributária, adotou a posição supralegal para os atos internacionais. Diante disso, depreende-se do art. 98 do CTN, tem de ser interpretado de maneira que os tratados internacionais devam conviver com a lei interna. Depois de devidamente incorporado ao direito interno segundo aquele procedimento retratado, o tratado internacional deve ser respeitado pela legislação interna como tal.11 Nesse aspecto do posicionamento dos tratados diante das demais normas, dificilmente será aplicada no Direito tributário a disposição constitucional (art. 5º, § 3º) que lhes confere equiparação às emendas constitucionais. Vale sempre lembrar que tal capacidade está adstrita aos pactos internacionais que versem sobre Direitos Humanos, não sendo fácil a aproximação desse tema com a tributação. Por outro lado, diversas manifestações dos próprios Ministros do Supremo Tribunal Federal têm destacado a importância dos tratados em matéria tributária. Para reforçar a autoridade desses atos internacionais, vejamos as transcrições do STF, em processo ainda pendente de julgamento definitivo pelos demais integrantes da Corte: O relator frisou, no entanto, que, pelas peculiaridades, os tratados internacionais em matéria tributária tocariam em pontos sensíveis da soberania dos Estados. Demandariam extenso e cuidadoso processo de negociação, com a participação de diplomatas e de funcionários das respectivas administrações tributárias, de modo a conciliar interesses e a permitir que esse instrumento atinja os objetivos de cada nação, com o menor custo possível para a receita tributária de cada qual. Pontuou que essa complexa cooperação internacional seria garantida essencialmente pelo pacta sunt servanda. Nesse contexto, registrou que, tanto quanto possível, o Estado Constitucional 11 Em se tratando de matéria tributária, a superveniência de legislação nacional não revoga disposição contida em tratado internacional contratual, consoante dispõe o art. 98 do CTN (STJ – 2ª Turma, REsp 228.324, rel. Min. João Otávio de Noronha, j. em 12.5.2005, DJ 1º.7.2005). Cooperativo reinvindicaria a manutenção da boa-fé e da segurança dos compromissos internacionais, ainda que diante da legislação infraconstitucional, notadamente no que se refere ao direito tributário, que envolve garantias fundamentais dos contribuintes e cujo descumprimento colocaria em risco os benefícios de cooperação cuidadosamente articulada no cenário internacional. Reputou que a tese da legalidade ordinária, na medida em que permite às entidades federativas internas do Estado brasileiro o descumprimento unilateral de acordo internacional, conflitaria com princípios internacionais fixados pela Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados (art. 27). Dessa forma, reiterou que a possibilidade de afastamento da incidência de normas internacionais tributárias por meio de legislação ordinária (treaty override), inclusive em sede estadual e municipal, estaria defasada com relação às exigências de cooperação, boa-fé e estabilidade do atual panorama internacional. Concluiu, então, que o entendimento de predomínio dos tratados internacionais não vulneraria os dispositivos tidos por violados. Enfatizou que a República Federativa do Brasil, como sujeito de direito público externo, não poderia assumir obrigações nem criar normas jurídicas internacionais à revelia da Constituição. Observou, ainda, que a recepção do art. 98 do CTN pela ordem constitucional independeria da desatualizada classificação em tratados- contratos e tratados-leis. (RE 460320/PR, manifestação do rel. Min. Gilmar Mendes, 31.8.2011., Informativo 638 STF) Tratados e isenções internas Como de sabença clara, o sistema constitucional federativo repartiu o exercício das competências tributárias entre os entes políticos. Decorrente disso, cada unidade federativa perceberá parcela de competência tributária, com autorização constitucional para o exercício do poder tributário determinado. Até em razão das compreensões do campo da legalidade, essa autorização constitucional de competência será para que sejam criados e modificados posteriormente os tributos. Igualmente, terão os entes poder para que sua alíquota seja reduzida ou se criem isenções. Por isso é natural que se afirme que o poder de conceder isenções nada mais é que o exercício da competência constitucional tributária. A norma constitucional ainda deixou clara a vedação de tratamento distinto, proibindo que isenções fossem concedidas por pessoas distintas daquelas que têm a competência definida constitucionalmente. É a vedação às isenções heterônomas. Art. 151. É vedado à União: [...] III – instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. A questão é como compatibilizar esse comando com a possibilidade de celebração de tratados internacionais pelo Presidente da República, especialmente se esses atos internacionais repercutirem na esfera dos tributos estaduais e municipais. A doutrina diverge sobre a matéria, entretanto, vozes importantes se posicionam favoravelmente à prevalência do tratado internacional, sobre a lei interna. Assim coloca o problema Ricardo Lobo Torres: É particularidade do Direito tributário brasileiro reconhecer a prevalência do tratado internacional sobre a legislação nacional. [...] Observe-se que não se trata, a rigor, de revogação da legislação interna, mas de suspensão da eficácia da norma tributária nacional,