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PAZ 1995 O corpo feminino na publicidade

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O corpo feminino na publicidade: aspectos históricos e atuais1 
 Angela Schaun2 
Rosana Schwartz3 
 
 
O artigo problematiza como os corpos femininos são construídos na publicidade, a 
partir de processos identitários históricos, face à aparência e comportamental 
padronizada no cotidiano histórico. A mulher representada na publicidade cumpre a 
função de ‘superfície visual e corporal’, na qual se inscrevem modelos: a bela, a erótica, a 
mãe e as negras tratadas de forma ainda mais preconceituosa. Apresenta a relevância da 
aparência, do corpo e do “eu visual” – a ideia da mulher-visão, as mensagens visuais 
(representações visuais), em anúncios publicitários, na construção do imaginário social na 
atualidade no Brasil. 
As mulheres realizaram uma revolução social e política no século XX, conquistaram 
direitos e reconhecimentos no espaço público e privado. Apresentam índices cada vez 
mais altos de escolaridade, participação no mercado de trabalho e um grande poder de 
decisão de consumo. Tal conquista integra os esforços de justiça social, mas falta muito a 
conquistar, principalmente no tocante a publicidade, a forma como o corpo feminino se 
torna imagem visual, se materializa nos anúncios publicitários. As imagens são 
construídas a partir de ‘discursos visuais’ que são incorporados como modelos na 
sociedade. 
 A propaganda e a publicidade utilizam técnicas de persuasão com diferentes 
propósitos e funções. A palavra “publicidade” tem origem no latim “publicus”, que 
designava o ato de tornar público. O termo tinha uso e caráter jurídico, mas aos poucos 
foi adquirindo significado comercial: instrumento de comunicação de massas que divulga 
 
1 Texto inicialmente apresentado no IV ComCult – Cultura da Imagem, GT Imagem e Gêneros, sob o titulo Corpos em Jogo: o 
feminino na Publicidade. Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. 12 a 15 de novembro. 2008. 
2 Profa. Dra. Angela Schaun é professora Adjunta do Centro de Comunicação e Letras da Univesidade Presbiteriana Mackenzie. Líder 
Grupo de Pesquisa CNPq Comunicação, Culturas e Mìdias Contemporâneas. Vice-Presidente da ALCAR. 
3 Profa. Dra. Rosana Schwartz é professora do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie.Líder do 
Núcleo de Pesquisa CNPq Líder do Núcleo de Estudos de Gênero, Raça/Etnia da UPM, participa do Núcleo de Estudos da Mulher da 
PUC/SP e do Núcleo de Estudos da e/imigração da UPM. É integrante do Comitê Ad Hoc do Programa Pró equidade de Gênero da 
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República desde 2008. 
 
 
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produtos por meio de anúncios. Ao tempo em que desperta no público alvo o desejo pelo 
que está sendo anunciado sugere ideias, fatos e comportamentos cotidianos. O anúncio 
publicitário provoca emoções, impulsionando desejos latentes, de tal forma que os 
consumidores se sentem impulsionados a adquirir o produto; é uma “arma persuasiva” 
que atua no “eu” de cada consumidor. Possibilita a construção de sonhos, de fantasias 
por meio da aquisição de uma imagem concretizada em um produto ou serviço. Essa 
fantasia, proporcionada pela imagem, de algo desejado faz com que o receptor se vincule 
a mesma, numa perspectiva de alcançar o que não é possível. 
A utilização da mulher como “objeto erótico” no Brasil data da colonização com a 
chegada dos lusos e contatos com os ameríndios. As mulheres indígenas, por não 
utilizarem vestes, foram rotuladas de culpadas pelas violências sexuais que sofreram. 
Com a chegada dos africanos, as mulheres negras foram obrigadas a se constituírem 
como “amas de cama” dos seus senhores, em troca de uma vida menos penosa ou da 
liberação do trabalho na lavoura. Uma das principais funções das mulheres negras era a 
de gerar filhos para aumentar a mão de obra nos campos e fazer a iniciação sexual dos 
filhos do patrão, construindo o imaginário social preconceituoso de mulheres negras 
sexualmente mais liberais ou vulgares. As “senhoras de engenho”, obrigadas a se casar, 
muitas vezes, por interesse de suas famílias, tinham que aceitar as relações estabelecidas 
pelos maridos com as mulheres escravas, consideradas “objetos ou ferramentas de 
trabalho” e não seres humanos. Muitas “senhoras” cometiam violências contra suas 
escravas por ciúmes, arrancando-lhes os seios, os dentes e mutilando partes do corpo ou 
acabavam se envolvendo sexualmente com os negros ou peões da fazenda para se 
satisfazer. 
A sociedade patriarcal brasileira se fundamentou no machismo e sexismo, 
construindo paralelamente duas imagens de mulher associadas ou como “objetos 
sexuais” – erotizadas e sensuais ou como “esposas submissas - dedicadas aos seus 
maridos (Cobra, 2002, p. 16)”. Se a cultura brasileira tem arraigado o culto ao corpo 
advinda dos africanos e dos ameríndios, também é verdade que aspectos religiosos 
combatem a sensualidade. O cristianismo pregou a sublimação da alma e a mortificação 
do corpo, sufocando o corpo entre roupas na colonização, contudo a liberação do corpo 
foi sendo construída na cotidianidade. No século XIX, a praia, entra na vida dos indivíduos, 
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principalmente dos burgueses, como forma de tratamento de doenças e de distração, foi 
desnudando o corpo, modificando os costumes e os conceitos morais. 
Historicamente as imagens femininas foram associadas ao desejo, nas artes 
visuais, mesmo quando apenas mostrava partes do seu corpo. Os nus das pinturas 
europeias expunham a mulher ao desejo do espectador, assim como a propaganda na 
atualidade. As vanguardas artísticas trouxeram um desvelamento do corpo de forma 
diferente da Renascença, Barroco, Neoclassicismo ou Romantismo, incluindo o nu 
artístico e erotizado. O cinema criou mitos cinematográficos durante as décadas de 20 e 
30 por meio de imagens de mulheres ousadas, o teatro e a dança popularizam os 
“movimentos corporais” e as roupas mais ousadas, na indústria da moda surgem os 
desfiles e as modelos. O homem moderno passa a despir-se ou mostrar o corpo com mais 
frequência. 
Na propaganda o corpo que é apresentado é o corpo-persona, mascarado, intuído 
a partir de certos elementos. Persona era uma máscara utilizada pelos atores teatrais, 
provavelmente de origem etrusca ou grega e a palavra deu origem ao vocábulo pessoa e 
personagem. A categoria do corpo-persona é a manifestação de um corpo idealizado, que 
desperta desejo e paixão, um corpo esteticamente perfeito dentro dos padrões de 
perfeição de cada época, que emerge por meio de uma imagem erotizada. A categoria 
não-corpo é a metonímia - corpo esboçado na sombra, numa “sugestão do corpo” de 
alguma forma. A sua ausência é presente por meio de sinais que ficam à mostra. O corpo 
é imaginado, e os objetos que compõem o anúncio são erotizados, insinuam a presença 
desse corpo. 
 O erotismo barroco escondia o corpo, por meio dos rebuscamentos na obra a fim 
de desenredar o erotismo, de esconder o que estava presente, principalmente num ato 
de prazer. O anúncio do uísque Logan 12, utiliza o não-corpo, anunciando a existência de 
um ato sexual por meio de dois copos unidos compartilhando os corpos unidos 
conjuntamente com outros elementos da sinestesia do ambiente a música, o quadro, o 
efeito do álcool. 
Clarissa Pínkola Estés (1994:251) afirma que: 
O corpo é um ser multilíngüe, fala através da cor e da temperatura, do 
rubor, do reconhecimento, do brilho do amor, das cinzas da dor, do 
calor da excitação (...) através de seu bailado ínfimo e constante, às 
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vezes trêmulo. Ele fala com o salto do coração, a queda do ânimo, o 
vazio no centro e com a esperança que cresce. 
 
O erotismo relaciona-se com o explicito, desenvolvido e preciso, e tem intenção 
meramente exibicionista. Já a sensualidade não possui a ligação de mostrar claramente, 
dando ao expectador somente o vislumbre. O erotismo apela sempre para o sentidoconsciente, não permitindo possíveis dúvidas; a sensualidade encobre a vulgaridade 
disseminada no erotismo, convida à fantasia. Para Morin (1997): 
Na China o erotismo ainda é inimaginável, isto é, recalcado fora das 
”imagens”, no segredo das condutas privadas. O velado é mais 
interessante e sedutor do que a nudez total. Um presente carrega seu 
mistério enquanto sua embalagem não for violada. Ao abri-lo 
imediatamente a aura que nos atraía se desfaz e a magia que antes 
parecia palpável, desaparece (1997, p. 119). 
 
No capitalismo moderno a conjunção entre erotismo e comércio se intensifica 
visando estimular o consumo. Utiliza a premissa freudiana, a renúncia da obtenção de 
objetos e prazeres, necessária para processo civilizatório, só foi suportável por que a 
“civilização capitalista” ofereceu satisfações substitutivas, transformando objetos em 
satisfações. Um dos pontos discutidos é a oferta de imagens femininas erotizadas, como 
objeto de consumo. O erotismo não pode ser confundido ou transformando em 
pornografia: a pornografia é o erotismo esvaziado de afeto, o que os anúncios não 
objetivam. O consumo esta relacionado a uma promessa de bem-estar, por uma garantia 
da negação do destino trágico do ser humano, que é a finitude. Contra essa dor 
subjetiva, o consumismo convida para o entorpecimento da impulsividade e o erotismo 
se presta a esse papel de objeto-fetiche da sociedade de consumo. As mercadorias vêm 
carregadas de um erotismo imaginário, de um suplemento erótico dotado de imagens e 
de imaginação, que se adapta ao erotismo vivido no cotidiano dos indivíduos. Nos 
anúncios o erotismo entra no circuito econômico, pois as mercadorias para serem 
vendidas e atingir o público alvo, devem fazer uso desse mecanismo de persuasão sempre 
que necessário. 
O dinheiro sempre insaciável se dirige ao Eros, sempre subnutrido, para 
estimular o desejo, o prazer, e o gozo, chamados e entregues pelos 
produtos lançados no mercado. O erotismo entra triunfalmente no 
circuito econômico dotado de poderes e envolve fortemente a 
civilização ocidental (MORIN, 1997, p.120). 
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Imagens femininas foram exploradas, desde o primeiro anúncio da “Cerveja 
Cascatinha”, de 1900, que utilizava dez mulheres e cada uma delas indicava uma letra da 
palavra Cascatinha com o slogan, “A cerveja Nacional – a melhor cerveja” O anúncio da 
Fidalga, cujo slogan “A Cerveja da Moda”, mostrava uma mulher vestida, roupas longas e 
recatada, apontava para o produto, associava a cerveja a um público mais de seleto. As 
embalagens de cigarros “Yolanda” de 1915, com uma imagem feminina em pose erótica, 
o seio à mostra e coberta apenas com um véu transparente. Essas imagens faziam o 
público masculino delirar. (DEL PRIORI, 1998, p 230). 
Com as transformações do Movimento Modernista na década de 20, seguido da 
industrialização, o consumidor foi estimulado à aquisição de produtos e, a propaganda se 
profissionaliza utilizando, ainda mais, as imagens femininas como símbolo de erotismo e 
liberdade. As imagens mais famosas eram as das dançarinas francesas do Cancan francês, 
símbolo de erotização e sensualidade. Os anúncios de cerveja ainda hoje caracterizaram-
se pelo uso das imagens femininas, como os da Schincariol, que revelava uma mulher 
sensual e moderna, com cabelos loiros esvoaçantes segurando em uma mão um copo de 
cerveja e na outra a garrafa com o rótulo virado para o receptor entreabrindo os lábios 
molhados com gotas da cerveja. Essa imagem traduzia um convite ao consumidor onde 
de lia o slogan “Para bom bebedor, meia palavra basta”, a palavra “meia” se refere à 
roupa que a mulher usava insinuando os seios e a metade da marca. 
Após a Revolução de 1930, com a demanda de se construir uma identidade 
nacional, os ideais da ordem e disciplina para se atingir o progresso, as imagens femininas 
necessitavam ser discretas e sensuais, associadas às figuras das “mães”, formadoras e 
educadoras dos “filhos da nova nação”. Essa mulher trabalhadora e “rainha do lar” foi 
destacada nas propagandas governamentais visando contribuir na educação das crianças 
de uma nova nação. 
Os anos 40 e 50, continuam a valorizar a “dona de casa”, alegre em servir e cuidar 
da sua família. Durante a II Guerra Mundial, a ocupação de cargos e postos 
historicamente masculinos, re-significaram suas identidades, ameaçando as posições 
tradicionais femininas e masculinas no cotidiano. Com o apogeu do rádio, a propaganda 
institucionaliza-se e com a criação da Associação Brasileira das Agências de Propaganda 
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(Abap), a publicidade busca convencer as mulheres “donas – de – casa” a prepararem 
sucos no liquidificador e utilizarem a enceradeira e o aspirador de pó para a limpeza e 
higiene da casa. Os aparelhos elétricos transformaram a mulher em supervisora ou 
coordenadora das atividades domésticas realizadas por outras mulheres, as empregadas. 
A propaganda mostrava a utilidade dos eletrodomésticos e destacava a mulher sensual, 
bem discreta, mas atrativa. Os signos da sensualidade estavam no corte do vestido 
contornando o corpo, nos sapatos altos, nas pernas esguias e na longa silhueta. A imagem 
feminina aparecia olhando para o leitor, salientando as curvas da parte de trás do corpo, 
assemelhando às curvas do cano do aspirador de pó, formando um “S”, ou o corpo com 
pouca roupa, ao apresentar eletrodomésticos, bebidas como cerveja ou remédios. 
O culto a essa imagem que ‘tem que ser erótica’ pelas exigências sociais 
leva as mulheres a buscarem nas roupas e nos cuidados com a casa a 
confirmação de sua feminilidade. (...) essa condição aproveitada e 
acentuada pela sociedade de consumo acaba produzindo um novo 
deslocamento. As roupas, os enfeites passam a se erotizar, em si 
mesmos(...). (WOLF, 1996, p.145). 
 
Muitos anúncios não justificavam o uso de imagens erotizadas, neles percebem-se 
as subjetividades de obtenção ou de posse, da modelo e não do objeto, como a do 
remédio Ventre – San cujo “Infalível na Prisão de Ventre na má digestão inflamação do 
fígado e dos intestinos”, mostrava uma mulher de short e camiseta cavada no centro do 
anúncio. 
Os desejos se alimentam de imagens, caminham em direção ao 
imaginário como se trafegassem por entre a representação que os seduz 
e a tendência da qual eles emanam. (...) a relação desejo-imagem 
produz a ilusão de que nossos desejos não são naturais, sendo, 
portanto, estranhos ao nosso corpo e à nossa alma. (NOVAES, 1990, 
p.12). 
 
Na televisão, os primeiros comerciais brasileiros foram ao vivo feitos por 
mulheres, jovens e bonitas, como Márcia Real, Elisabeth Darci, entre outras que, ao 
anunciarem os produtos, demonstravam as suas qualidades físicas. 
Nos anos 60, surge a Revista Claudia e sua leitora era a “dona de casa”, aos 
poucos, passa a tratar de aborto, divórcio, sexo, profissão, objetivando alcançar a mulher 
realizadora e ativa que surgia buscando prazer, felicidade, conforto e liberdade. O 
movimento hippie pregando o amor livre, os contraceptivos a liberação da sexualidade 
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feminina, ampliou o erotismo nas mídias. No Brasil o processo foi mais lento que na 
Europa e nos Estados Unidos, mas nos anos 70, esse quadro já era bem definido. 
Octávio Paz (1995:143-144) afirma que: 
“A modernidade dessacralizou o corpo e a publicidade o usou como um 
instrumento de propaganda. Todos os dias a televisão nos apresenta 
belos corpos seminus para anunciar uma marca de cerveja, um móvel, 
um novo modelo de carro ou meias femininas. (...) O erotismo 
transformou-se num departamento da indústria da publicidade e num 
ramo do comércio. No passado, a pornografia e a prostituição eram 
atividades artesanais, por assim dizer; hoje é parte essencial da 
economia do consumo. Não me alarma a sua existência, mas sim as 
proporções que assumiram e a natureza que têm hoje, ao mesmo tempo 
mecânicas e institucionais. Deixaram de serem transgressões.” 
 
Acompanhando as transformaçõeshistóricas, a publicidade substitui a imagem da 
mulher “Dona-de-casa” ou “Amélia” e veicula a imagem feminina às figuras lutadoras e 
desafiadoras no espaço público. A mudança não deixou de explorar o erotismo feminino, 
mas, ao contrário, intensificou essa imagem, deixando de lado, a profissional competente, 
a empreendedora, a provedora do lar, a profissional liberal, a executiva, atuando 
conjuntamente com a função de mãe. 
As décadas de 70 e 80 foram marcadas por profundas contradições: o milagre 
brasileiro (crescimento do PIB), a crise do petróleo e a intensificação da Ditadura Militar. 
A televisão brindou os telespectadores em várias regiões do país com suas cores e 
telenovelas fantásticas. O apresentador “Chacrinha” introduziu, em seu programa de 
auditório, mulheres dançando sensualmente, obtendo como resultado uma audiência 
espetacular. 
O governo militar transforma-se no maior anunciante do país e utilizando o 
verdeamarelismo, o samba, e as belezas naturais para enaltecer a pátria. As imagens 
femininas se configuraram entre duas representações: a solteira, jovem e bela, focada de 
maneira erotizada, utilizada como modelo de beleza para outras mulheres nas 
propagandas de produtos ou serviços dirigidos ao sexo masculino e, de outro lado, a 
mulher recatada, adulta, sugerindo ainda como antes, o papel de mulher casada, mãe e 
dona de casa. Poucos foram os anunciantes que ousavam utilizar outros apelos sobre a 
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figura feminina, fora desse imaginário4. Os anúncios estimulam a imagem da conquista, 
sucesso, desejo e a necessidade dos consumidores, assim as mulheres retratadas “fora do 
lar” ao “ar livre”, deveriam ser valorizadas pela sua beleza e juventude, para a conquista 
dos homens. 
Os anúncios fixam contornos identitários e dizem “como devemos ser”, “quem 
somos”, “como somos” na vida cotidiana, propondo, trocas de comportamentos. A 
publicidade, para Sant`Anna, é : “uma técnica de comunicação de massa, com a finalidade 
de fornecer informações, desenvolver atitudes e provocar ações benéficas para os 
anunciantes, geralmente para vender produtos ou serviços” (1998, p. 76). Trabalha com 
sonhos, na esfera do onírico indo ao encontro dos desejos do receptor. As imagens dos 
anúncios sugerem a possibilidade de satisfação dos desejos de sua vida cotidiana, com a 
determinação de disseminar informações, ideias e conhecer os produtos e serviços à sua 
disposição. Os mecanismos utilizados são os da “persuasão emotiva” e do “racional 
(ideológico)”, colocado no imaginário do consumidor por meio do conceito de “marca”. A 
sedução do consumidor ocorre pelo despertar da “necessidade” de descobrir o que não 
foi satisfeito, nas frustrações cotidianas; buscando realizar sedutoramente os desejos 
ocultos dos consumidores. 
 As imagens nos anúncio ocupam o maior espaço, e os textos verbais em sua 
maioria são partes da propaganda, nesse sentido, a figura feminina torna-se destaque do 
produto anunciado. O culto ao corpo tornou-se instrumento por meio do qual o indivíduo 
transmite seu estilo de vida, numa forma de consumo cultural que atende às 
necessidades mercadológicas da cultura de consumo. Para vender produtos ou serviço, 
ainda é forte o apelo sexual, o objeto de desejo, tanto para homens quanto para 
mulheres. Na publicidade atual, a imagem feminina aparece como dona de casa com a 
família; como objeto sexual; executivas bem sucedidas, celebridades dos meios artísticos, 
político e social. O corpo é o instrumento através do qual o indivíduo transmite um estilo 
por ele construído, aplicando-o às mídias. 
Ao se pensar a mulher na mídia, visualiza-se uma imagem sensual e desnuda, 
esquecendo de outras imagens. Em 2008, os anúncios da Cerveja Skol, usavam o erotismo 
 
4 Existiam, as propagandas do desodorante Rexona, com o slogan “Sempre cabe mais um quando se usa Rexona” e a do desodorante 
Impulse, na qual aparecia uma mulher caminhando por uma rua, e subitamente recebendo flores de um homem desconhecido no sentido 
de “Use impulse”, e se alguém lhe oferecer flores isso é “impulse”, diferentes das tradicionais. 
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da figura feminina com metade dos seios à mostra, destacando o volume arredondado 
dos seios assemelha-se à logomarca do produto. Os signos revelam a mensagem 
subliminar de que a Skol é uma cerveja que desce redondo, assim como é redondo o 
corpo da mulher. 
As revistas trabalham anúncios com direcionamento preciso para cada segmento 
de consumidor, no uso imagens, cores e detalhes. No Brasil, existem propagandas de sexo 
em jornais como O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde e Folha de S. Paulo em seu 
caderno de “Negócios e Oportunidades”. Os anúncios de sexo constituem-se em uma 
alternativa de faturamento em relação aos de restaurantes e entretenimento. Há jornais 
que recusam anúncios eróticos e de sexo por moral ou religiosidade, mas perdem no seu 
faturamento. Nos Estados Unidos, a quantidade de classificados sobre sexo é 
considerável. Segundo Russ Martiney, do Jornal Willanetti Week “o caixa gerado por 
anúncios de sexo é uma saída econômica relevante, são como uma licença para imprimir 
dinheiro”. (apud, COBRA, 2002, p.127). 
O erotismo por meio da imagem feminina, está nos anúncios, na televisão, e 
atualmente na mídia “on line”. Está presente na Internet, onde homens e mulheres 
buscam satisfazer seus desejos não apenas “olhando anúncios”, mas interagindo por 
meio das salas de bate – papo, onde se trocam carícias, transformando-se num local 
onde muitas pessoas se encontram à procura de sonhos e desejos (COBRA, 2002, p. 127). 
A mercantilização do erotismo veio com a indústria cultural, que é fruto do 
desenvolvimento capitalista, que utiliza o desejo e o sonho como seu principal 
ingrediente. À medida que a comunicação utiliza homens e mulheres em situações 
sedutoras e eróticas, está se “sexualizando, ou seja, estimulando o sujeito a ter ideias de 
consumir determinado produto ou serviço como num ato de reforço para a conquista do 
parceiro ou da parceira”. É por isso que as imagens eróticas aparecem em todas as 
situações nos meios de comunicação. 
Morin afirma que: “o novo ídolo da cultura de massa: não é a deusa nua das 
religiões antigas, não é a Madonna de corpo dissimulado do cristianismo, mas sim, a 
mulher seminua, em pudor impudico, a provocadora permanente” (1997, p. 122.). Com a 
efetivação da mídia eletrônica alternativa, por meio do sistema de TV a cabo, e com o 
crescimento do poder econômico feminino nos anos 90, propiciado pela entrada mais 
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efetiva das mulheres em instâncias de maior poder de decisão no mercado de trabalho, 
as empresas publicitárias consideram relevante apresentar a imagem feminina nos 
anúncios com uma função mais adequada a essa “nova mulher”, ou seja, passaram a 
tratá-las na propaganda mais próximas ao seu cotidiano. 
Atualmente, a representação dos comportamentos em família aumentou e a vida 
cotidiana esta sendo mais retratada, onde são ressignificadas as identidades femininas e 
masculinas na sociedade, respeitando as diferenças. O “novo homem” demonstra 
sensibilidade, auxilia a mulher na educação dos filhos e a “nova mulher” pode ser a 
provedora do lar e ter sucesso profissional, assumindo novas funções, dividindo as 
responsabilidades, com os homens, tanto profissional quanto familiares. Empresas e 
marcas como Omo, Eletrolux, Marisa, entre outras, trabalharam com uma visão inversa 
sobre a figura feminina e masculina, colocando em suas peças publicitárias mais recentes 
figuras masculinas como objeto de desejo da mulher. Não é esse o objetivo das mulheres, 
mas sim o respeito às diferenças. A problematização sobre a imagem da mulher na mídia 
não se esgota, pois sexualidade e erotismo são excelentes estratégias de venda, 
merecendo ganhar mais destaque nas pesquisas acadêmicas. 
 
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