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1 O corpo feminino na publicidade: aspectos históricos e atuais1 Angela Schaun2 Rosana Schwartz3 O artigo problematiza como os corpos femininos são construídos na publicidade, a partir de processos identitários históricos, face à aparência e comportamental padronizada no cotidiano histórico. A mulher representada na publicidade cumpre a função de ‘superfície visual e corporal’, na qual se inscrevem modelos: a bela, a erótica, a mãe e as negras tratadas de forma ainda mais preconceituosa. Apresenta a relevância da aparência, do corpo e do “eu visual” – a ideia da mulher-visão, as mensagens visuais (representações visuais), em anúncios publicitários, na construção do imaginário social na atualidade no Brasil. As mulheres realizaram uma revolução social e política no século XX, conquistaram direitos e reconhecimentos no espaço público e privado. Apresentam índices cada vez mais altos de escolaridade, participação no mercado de trabalho e um grande poder de decisão de consumo. Tal conquista integra os esforços de justiça social, mas falta muito a conquistar, principalmente no tocante a publicidade, a forma como o corpo feminino se torna imagem visual, se materializa nos anúncios publicitários. As imagens são construídas a partir de ‘discursos visuais’ que são incorporados como modelos na sociedade. A propaganda e a publicidade utilizam técnicas de persuasão com diferentes propósitos e funções. A palavra “publicidade” tem origem no latim “publicus”, que designava o ato de tornar público. O termo tinha uso e caráter jurídico, mas aos poucos foi adquirindo significado comercial: instrumento de comunicação de massas que divulga 1 Texto inicialmente apresentado no IV ComCult – Cultura da Imagem, GT Imagem e Gêneros, sob o titulo Corpos em Jogo: o feminino na Publicidade. Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. 12 a 15 de novembro. 2008. 2 Profa. Dra. Angela Schaun é professora Adjunta do Centro de Comunicação e Letras da Univesidade Presbiteriana Mackenzie. Líder Grupo de Pesquisa CNPq Comunicação, Culturas e Mìdias Contemporâneas. Vice-Presidente da ALCAR. 3 Profa. Dra. Rosana Schwartz é professora do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie.Líder do Núcleo de Pesquisa CNPq Líder do Núcleo de Estudos de Gênero, Raça/Etnia da UPM, participa do Núcleo de Estudos da Mulher da PUC/SP e do Núcleo de Estudos da e/imigração da UPM. É integrante do Comitê Ad Hoc do Programa Pró equidade de Gênero da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República desde 2008. 2 produtos por meio de anúncios. Ao tempo em que desperta no público alvo o desejo pelo que está sendo anunciado sugere ideias, fatos e comportamentos cotidianos. O anúncio publicitário provoca emoções, impulsionando desejos latentes, de tal forma que os consumidores se sentem impulsionados a adquirir o produto; é uma “arma persuasiva” que atua no “eu” de cada consumidor. Possibilita a construção de sonhos, de fantasias por meio da aquisição de uma imagem concretizada em um produto ou serviço. Essa fantasia, proporcionada pela imagem, de algo desejado faz com que o receptor se vincule a mesma, numa perspectiva de alcançar o que não é possível. A utilização da mulher como “objeto erótico” no Brasil data da colonização com a chegada dos lusos e contatos com os ameríndios. As mulheres indígenas, por não utilizarem vestes, foram rotuladas de culpadas pelas violências sexuais que sofreram. Com a chegada dos africanos, as mulheres negras foram obrigadas a se constituírem como “amas de cama” dos seus senhores, em troca de uma vida menos penosa ou da liberação do trabalho na lavoura. Uma das principais funções das mulheres negras era a de gerar filhos para aumentar a mão de obra nos campos e fazer a iniciação sexual dos filhos do patrão, construindo o imaginário social preconceituoso de mulheres negras sexualmente mais liberais ou vulgares. As “senhoras de engenho”, obrigadas a se casar, muitas vezes, por interesse de suas famílias, tinham que aceitar as relações estabelecidas pelos maridos com as mulheres escravas, consideradas “objetos ou ferramentas de trabalho” e não seres humanos. Muitas “senhoras” cometiam violências contra suas escravas por ciúmes, arrancando-lhes os seios, os dentes e mutilando partes do corpo ou acabavam se envolvendo sexualmente com os negros ou peões da fazenda para se satisfazer. A sociedade patriarcal brasileira se fundamentou no machismo e sexismo, construindo paralelamente duas imagens de mulher associadas ou como “objetos sexuais” – erotizadas e sensuais ou como “esposas submissas - dedicadas aos seus maridos (Cobra, 2002, p. 16)”. Se a cultura brasileira tem arraigado o culto ao corpo advinda dos africanos e dos ameríndios, também é verdade que aspectos religiosos combatem a sensualidade. O cristianismo pregou a sublimação da alma e a mortificação do corpo, sufocando o corpo entre roupas na colonização, contudo a liberação do corpo foi sendo construída na cotidianidade. No século XIX, a praia, entra na vida dos indivíduos, 3 principalmente dos burgueses, como forma de tratamento de doenças e de distração, foi desnudando o corpo, modificando os costumes e os conceitos morais. Historicamente as imagens femininas foram associadas ao desejo, nas artes visuais, mesmo quando apenas mostrava partes do seu corpo. Os nus das pinturas europeias expunham a mulher ao desejo do espectador, assim como a propaganda na atualidade. As vanguardas artísticas trouxeram um desvelamento do corpo de forma diferente da Renascença, Barroco, Neoclassicismo ou Romantismo, incluindo o nu artístico e erotizado. O cinema criou mitos cinematográficos durante as décadas de 20 e 30 por meio de imagens de mulheres ousadas, o teatro e a dança popularizam os “movimentos corporais” e as roupas mais ousadas, na indústria da moda surgem os desfiles e as modelos. O homem moderno passa a despir-se ou mostrar o corpo com mais frequência. Na propaganda o corpo que é apresentado é o corpo-persona, mascarado, intuído a partir de certos elementos. Persona era uma máscara utilizada pelos atores teatrais, provavelmente de origem etrusca ou grega e a palavra deu origem ao vocábulo pessoa e personagem. A categoria do corpo-persona é a manifestação de um corpo idealizado, que desperta desejo e paixão, um corpo esteticamente perfeito dentro dos padrões de perfeição de cada época, que emerge por meio de uma imagem erotizada. A categoria não-corpo é a metonímia - corpo esboçado na sombra, numa “sugestão do corpo” de alguma forma. A sua ausência é presente por meio de sinais que ficam à mostra. O corpo é imaginado, e os objetos que compõem o anúncio são erotizados, insinuam a presença desse corpo. O erotismo barroco escondia o corpo, por meio dos rebuscamentos na obra a fim de desenredar o erotismo, de esconder o que estava presente, principalmente num ato de prazer. O anúncio do uísque Logan 12, utiliza o não-corpo, anunciando a existência de um ato sexual por meio de dois copos unidos compartilhando os corpos unidos conjuntamente com outros elementos da sinestesia do ambiente a música, o quadro, o efeito do álcool. Clarissa Pínkola Estés (1994:251) afirma que: O corpo é um ser multilíngüe, fala através da cor e da temperatura, do rubor, do reconhecimento, do brilho do amor, das cinzas da dor, do calor da excitação (...) através de seu bailado ínfimo e constante, às 4 vezes trêmulo. Ele fala com o salto do coração, a queda do ânimo, o vazio no centro e com a esperança que cresce. O erotismo relaciona-se com o explicito, desenvolvido e preciso, e tem intenção meramente exibicionista. Já a sensualidade não possui a ligação de mostrar claramente, dando ao expectador somente o vislumbre. O erotismo apela sempre para o sentidoconsciente, não permitindo possíveis dúvidas; a sensualidade encobre a vulgaridade disseminada no erotismo, convida à fantasia. Para Morin (1997): Na China o erotismo ainda é inimaginável, isto é, recalcado fora das ”imagens”, no segredo das condutas privadas. O velado é mais interessante e sedutor do que a nudez total. Um presente carrega seu mistério enquanto sua embalagem não for violada. Ao abri-lo imediatamente a aura que nos atraía se desfaz e a magia que antes parecia palpável, desaparece (1997, p. 119). No capitalismo moderno a conjunção entre erotismo e comércio se intensifica visando estimular o consumo. Utiliza a premissa freudiana, a renúncia da obtenção de objetos e prazeres, necessária para processo civilizatório, só foi suportável por que a “civilização capitalista” ofereceu satisfações substitutivas, transformando objetos em satisfações. Um dos pontos discutidos é a oferta de imagens femininas erotizadas, como objeto de consumo. O erotismo não pode ser confundido ou transformando em pornografia: a pornografia é o erotismo esvaziado de afeto, o que os anúncios não objetivam. O consumo esta relacionado a uma promessa de bem-estar, por uma garantia da negação do destino trágico do ser humano, que é a finitude. Contra essa dor subjetiva, o consumismo convida para o entorpecimento da impulsividade e o erotismo se presta a esse papel de objeto-fetiche da sociedade de consumo. As mercadorias vêm carregadas de um erotismo imaginário, de um suplemento erótico dotado de imagens e de imaginação, que se adapta ao erotismo vivido no cotidiano dos indivíduos. Nos anúncios o erotismo entra no circuito econômico, pois as mercadorias para serem vendidas e atingir o público alvo, devem fazer uso desse mecanismo de persuasão sempre que necessário. O dinheiro sempre insaciável se dirige ao Eros, sempre subnutrido, para estimular o desejo, o prazer, e o gozo, chamados e entregues pelos produtos lançados no mercado. O erotismo entra triunfalmente no circuito econômico dotado de poderes e envolve fortemente a civilização ocidental (MORIN, 1997, p.120). 5 Imagens femininas foram exploradas, desde o primeiro anúncio da “Cerveja Cascatinha”, de 1900, que utilizava dez mulheres e cada uma delas indicava uma letra da palavra Cascatinha com o slogan, “A cerveja Nacional – a melhor cerveja” O anúncio da Fidalga, cujo slogan “A Cerveja da Moda”, mostrava uma mulher vestida, roupas longas e recatada, apontava para o produto, associava a cerveja a um público mais de seleto. As embalagens de cigarros “Yolanda” de 1915, com uma imagem feminina em pose erótica, o seio à mostra e coberta apenas com um véu transparente. Essas imagens faziam o público masculino delirar. (DEL PRIORI, 1998, p 230). Com as transformações do Movimento Modernista na década de 20, seguido da industrialização, o consumidor foi estimulado à aquisição de produtos e, a propaganda se profissionaliza utilizando, ainda mais, as imagens femininas como símbolo de erotismo e liberdade. As imagens mais famosas eram as das dançarinas francesas do Cancan francês, símbolo de erotização e sensualidade. Os anúncios de cerveja ainda hoje caracterizaram- se pelo uso das imagens femininas, como os da Schincariol, que revelava uma mulher sensual e moderna, com cabelos loiros esvoaçantes segurando em uma mão um copo de cerveja e na outra a garrafa com o rótulo virado para o receptor entreabrindo os lábios molhados com gotas da cerveja. Essa imagem traduzia um convite ao consumidor onde de lia o slogan “Para bom bebedor, meia palavra basta”, a palavra “meia” se refere à roupa que a mulher usava insinuando os seios e a metade da marca. Após a Revolução de 1930, com a demanda de se construir uma identidade nacional, os ideais da ordem e disciplina para se atingir o progresso, as imagens femininas necessitavam ser discretas e sensuais, associadas às figuras das “mães”, formadoras e educadoras dos “filhos da nova nação”. Essa mulher trabalhadora e “rainha do lar” foi destacada nas propagandas governamentais visando contribuir na educação das crianças de uma nova nação. Os anos 40 e 50, continuam a valorizar a “dona de casa”, alegre em servir e cuidar da sua família. Durante a II Guerra Mundial, a ocupação de cargos e postos historicamente masculinos, re-significaram suas identidades, ameaçando as posições tradicionais femininas e masculinas no cotidiano. Com o apogeu do rádio, a propaganda institucionaliza-se e com a criação da Associação Brasileira das Agências de Propaganda 6 (Abap), a publicidade busca convencer as mulheres “donas – de – casa” a prepararem sucos no liquidificador e utilizarem a enceradeira e o aspirador de pó para a limpeza e higiene da casa. Os aparelhos elétricos transformaram a mulher em supervisora ou coordenadora das atividades domésticas realizadas por outras mulheres, as empregadas. A propaganda mostrava a utilidade dos eletrodomésticos e destacava a mulher sensual, bem discreta, mas atrativa. Os signos da sensualidade estavam no corte do vestido contornando o corpo, nos sapatos altos, nas pernas esguias e na longa silhueta. A imagem feminina aparecia olhando para o leitor, salientando as curvas da parte de trás do corpo, assemelhando às curvas do cano do aspirador de pó, formando um “S”, ou o corpo com pouca roupa, ao apresentar eletrodomésticos, bebidas como cerveja ou remédios. O culto a essa imagem que ‘tem que ser erótica’ pelas exigências sociais leva as mulheres a buscarem nas roupas e nos cuidados com a casa a confirmação de sua feminilidade. (...) essa condição aproveitada e acentuada pela sociedade de consumo acaba produzindo um novo deslocamento. As roupas, os enfeites passam a se erotizar, em si mesmos(...). (WOLF, 1996, p.145). Muitos anúncios não justificavam o uso de imagens erotizadas, neles percebem-se as subjetividades de obtenção ou de posse, da modelo e não do objeto, como a do remédio Ventre – San cujo “Infalível na Prisão de Ventre na má digestão inflamação do fígado e dos intestinos”, mostrava uma mulher de short e camiseta cavada no centro do anúncio. Os desejos se alimentam de imagens, caminham em direção ao imaginário como se trafegassem por entre a representação que os seduz e a tendência da qual eles emanam. (...) a relação desejo-imagem produz a ilusão de que nossos desejos não são naturais, sendo, portanto, estranhos ao nosso corpo e à nossa alma. (NOVAES, 1990, p.12). Na televisão, os primeiros comerciais brasileiros foram ao vivo feitos por mulheres, jovens e bonitas, como Márcia Real, Elisabeth Darci, entre outras que, ao anunciarem os produtos, demonstravam as suas qualidades físicas. Nos anos 60, surge a Revista Claudia e sua leitora era a “dona de casa”, aos poucos, passa a tratar de aborto, divórcio, sexo, profissão, objetivando alcançar a mulher realizadora e ativa que surgia buscando prazer, felicidade, conforto e liberdade. O movimento hippie pregando o amor livre, os contraceptivos a liberação da sexualidade 7 feminina, ampliou o erotismo nas mídias. No Brasil o processo foi mais lento que na Europa e nos Estados Unidos, mas nos anos 70, esse quadro já era bem definido. Octávio Paz (1995:143-144) afirma que: “A modernidade dessacralizou o corpo e a publicidade o usou como um instrumento de propaganda. Todos os dias a televisão nos apresenta belos corpos seminus para anunciar uma marca de cerveja, um móvel, um novo modelo de carro ou meias femininas. (...) O erotismo transformou-se num departamento da indústria da publicidade e num ramo do comércio. No passado, a pornografia e a prostituição eram atividades artesanais, por assim dizer; hoje é parte essencial da economia do consumo. Não me alarma a sua existência, mas sim as proporções que assumiram e a natureza que têm hoje, ao mesmo tempo mecânicas e institucionais. Deixaram de serem transgressões.” Acompanhando as transformaçõeshistóricas, a publicidade substitui a imagem da mulher “Dona-de-casa” ou “Amélia” e veicula a imagem feminina às figuras lutadoras e desafiadoras no espaço público. A mudança não deixou de explorar o erotismo feminino, mas, ao contrário, intensificou essa imagem, deixando de lado, a profissional competente, a empreendedora, a provedora do lar, a profissional liberal, a executiva, atuando conjuntamente com a função de mãe. As décadas de 70 e 80 foram marcadas por profundas contradições: o milagre brasileiro (crescimento do PIB), a crise do petróleo e a intensificação da Ditadura Militar. A televisão brindou os telespectadores em várias regiões do país com suas cores e telenovelas fantásticas. O apresentador “Chacrinha” introduziu, em seu programa de auditório, mulheres dançando sensualmente, obtendo como resultado uma audiência espetacular. O governo militar transforma-se no maior anunciante do país e utilizando o verdeamarelismo, o samba, e as belezas naturais para enaltecer a pátria. As imagens femininas se configuraram entre duas representações: a solteira, jovem e bela, focada de maneira erotizada, utilizada como modelo de beleza para outras mulheres nas propagandas de produtos ou serviços dirigidos ao sexo masculino e, de outro lado, a mulher recatada, adulta, sugerindo ainda como antes, o papel de mulher casada, mãe e dona de casa. Poucos foram os anunciantes que ousavam utilizar outros apelos sobre a 8 figura feminina, fora desse imaginário4. Os anúncios estimulam a imagem da conquista, sucesso, desejo e a necessidade dos consumidores, assim as mulheres retratadas “fora do lar” ao “ar livre”, deveriam ser valorizadas pela sua beleza e juventude, para a conquista dos homens. Os anúncios fixam contornos identitários e dizem “como devemos ser”, “quem somos”, “como somos” na vida cotidiana, propondo, trocas de comportamentos. A publicidade, para Sant`Anna, é : “uma técnica de comunicação de massa, com a finalidade de fornecer informações, desenvolver atitudes e provocar ações benéficas para os anunciantes, geralmente para vender produtos ou serviços” (1998, p. 76). Trabalha com sonhos, na esfera do onírico indo ao encontro dos desejos do receptor. As imagens dos anúncios sugerem a possibilidade de satisfação dos desejos de sua vida cotidiana, com a determinação de disseminar informações, ideias e conhecer os produtos e serviços à sua disposição. Os mecanismos utilizados são os da “persuasão emotiva” e do “racional (ideológico)”, colocado no imaginário do consumidor por meio do conceito de “marca”. A sedução do consumidor ocorre pelo despertar da “necessidade” de descobrir o que não foi satisfeito, nas frustrações cotidianas; buscando realizar sedutoramente os desejos ocultos dos consumidores. As imagens nos anúncio ocupam o maior espaço, e os textos verbais em sua maioria são partes da propaganda, nesse sentido, a figura feminina torna-se destaque do produto anunciado. O culto ao corpo tornou-se instrumento por meio do qual o indivíduo transmite seu estilo de vida, numa forma de consumo cultural que atende às necessidades mercadológicas da cultura de consumo. Para vender produtos ou serviço, ainda é forte o apelo sexual, o objeto de desejo, tanto para homens quanto para mulheres. Na publicidade atual, a imagem feminina aparece como dona de casa com a família; como objeto sexual; executivas bem sucedidas, celebridades dos meios artísticos, político e social. O corpo é o instrumento através do qual o indivíduo transmite um estilo por ele construído, aplicando-o às mídias. Ao se pensar a mulher na mídia, visualiza-se uma imagem sensual e desnuda, esquecendo de outras imagens. Em 2008, os anúncios da Cerveja Skol, usavam o erotismo 4 Existiam, as propagandas do desodorante Rexona, com o slogan “Sempre cabe mais um quando se usa Rexona” e a do desodorante Impulse, na qual aparecia uma mulher caminhando por uma rua, e subitamente recebendo flores de um homem desconhecido no sentido de “Use impulse”, e se alguém lhe oferecer flores isso é “impulse”, diferentes das tradicionais. 9 da figura feminina com metade dos seios à mostra, destacando o volume arredondado dos seios assemelha-se à logomarca do produto. Os signos revelam a mensagem subliminar de que a Skol é uma cerveja que desce redondo, assim como é redondo o corpo da mulher. As revistas trabalham anúncios com direcionamento preciso para cada segmento de consumidor, no uso imagens, cores e detalhes. No Brasil, existem propagandas de sexo em jornais como O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde e Folha de S. Paulo em seu caderno de “Negócios e Oportunidades”. Os anúncios de sexo constituem-se em uma alternativa de faturamento em relação aos de restaurantes e entretenimento. Há jornais que recusam anúncios eróticos e de sexo por moral ou religiosidade, mas perdem no seu faturamento. Nos Estados Unidos, a quantidade de classificados sobre sexo é considerável. Segundo Russ Martiney, do Jornal Willanetti Week “o caixa gerado por anúncios de sexo é uma saída econômica relevante, são como uma licença para imprimir dinheiro”. (apud, COBRA, 2002, p.127). O erotismo por meio da imagem feminina, está nos anúncios, na televisão, e atualmente na mídia “on line”. Está presente na Internet, onde homens e mulheres buscam satisfazer seus desejos não apenas “olhando anúncios”, mas interagindo por meio das salas de bate – papo, onde se trocam carícias, transformando-se num local onde muitas pessoas se encontram à procura de sonhos e desejos (COBRA, 2002, p. 127). A mercantilização do erotismo veio com a indústria cultural, que é fruto do desenvolvimento capitalista, que utiliza o desejo e o sonho como seu principal ingrediente. À medida que a comunicação utiliza homens e mulheres em situações sedutoras e eróticas, está se “sexualizando, ou seja, estimulando o sujeito a ter ideias de consumir determinado produto ou serviço como num ato de reforço para a conquista do parceiro ou da parceira”. É por isso que as imagens eróticas aparecem em todas as situações nos meios de comunicação. Morin afirma que: “o novo ídolo da cultura de massa: não é a deusa nua das religiões antigas, não é a Madonna de corpo dissimulado do cristianismo, mas sim, a mulher seminua, em pudor impudico, a provocadora permanente” (1997, p. 122.). Com a efetivação da mídia eletrônica alternativa, por meio do sistema de TV a cabo, e com o crescimento do poder econômico feminino nos anos 90, propiciado pela entrada mais 10 efetiva das mulheres em instâncias de maior poder de decisão no mercado de trabalho, as empresas publicitárias consideram relevante apresentar a imagem feminina nos anúncios com uma função mais adequada a essa “nova mulher”, ou seja, passaram a tratá-las na propaganda mais próximas ao seu cotidiano. Atualmente, a representação dos comportamentos em família aumentou e a vida cotidiana esta sendo mais retratada, onde são ressignificadas as identidades femininas e masculinas na sociedade, respeitando as diferenças. O “novo homem” demonstra sensibilidade, auxilia a mulher na educação dos filhos e a “nova mulher” pode ser a provedora do lar e ter sucesso profissional, assumindo novas funções, dividindo as responsabilidades, com os homens, tanto profissional quanto familiares. Empresas e marcas como Omo, Eletrolux, Marisa, entre outras, trabalharam com uma visão inversa sobre a figura feminina e masculina, colocando em suas peças publicitárias mais recentes figuras masculinas como objeto de desejo da mulher. Não é esse o objetivo das mulheres, mas sim o respeito às diferenças. A problematização sobre a imagem da mulher na mídia não se esgota, pois sexualidade e erotismo são excelentes estratégias de venda, merecendo ganhar mais destaque nas pesquisas acadêmicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: ARAÚJO,Denise Castilhos de – Corpo Feminino: Presença Obrigatória em Anúncios Publicitários? IN CADENA, Nelson Varón – Brasil – 100 Anos de Propaganda. São Paulo: Referência, 2001. CASTRO, Ana Lucia de – Corpo, Consumo e Mídia. Comunicação, Mídia e Consumo. ESPM, vol. I n 1, p. 17- 31. 2004. CARVALHO, Nelly. Publicidade: a linguagem da sedução. São Paulo: Ática, 1996. COBRA, Marcos. Sexo & Marketing. São Paulo: Ed. Cobra, 2001. DEL PRIORI, Mary. História das mulheres: as vozes do silêncio. In: FREITAS, M. C. (Org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998. ESTÉS, Clarissa P. – Mulheres que correm como lobos. Ed. Rocco, 5ª ed., Rio de Janeiro. 1994 MANGUEL, Alberto – Lendo Imagens. São Paulo: Cia das Letras, 2000. 11 MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX. Rio de Janeiro: Forense Vol.1- Neurose 1997. NOVAES, Adauto (Org.) O Desejo. São Paulo. Companhia das Letras-Funarte. 1990. PAZ, Octávio – A dupla chama: amor e erotismo, Ed. Siciliano, 2ª ed., 1993 PINHO, J. B. O Poder das Marcas. São Paulo: Summus, 1996. PINTO, Alexandra Guedes – Publicidade: Um discurso de Sedução. Porto: Porto Codex, 1997. SANT`ANNA, Armando. Propaganda: técnica, teoria e pratica. 7. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. WOLF, Sônia Maria Ribeiro. Um olhar no meio do caminho. Editora Escuta: São Paulo, 1996.
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