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História da África Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Avelar Cezar Imamura Revisão Textual: Profa. Ms. Rosemary Toffoli A África Colonizada (Séculos XIX-XX) 5 • Introdução • O Colonialismo europeu na África • Períodos do Colonialismo na África • Os antecedentes da ocupação • A resistência dos africanos • Algumas considerações · O processo de transformação de reinos e estados independentes em colônias de nações europeias é o tema desta unidade. · Seu principal objetivo é conhecer um pouco deste processo e apontar as consequências para as nações africanas que tiveram suas estruturas de governo e administração, também políticas e econômicas, hábitos alimentares, crenças e visão de mundo, transformados pelo violento contato e domínio estrangeiros. · Em materiais didáticos você encontrará o conteúdo e as atividades propostas para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema proposto. Leia atentamente o conteúdo desta Unidade, nela você encontrará alguns dos elementos principais que, entre 1880 e 1930, transformaram o continente africano em território europeu, administrado e dominado, economicamente e politicamente, pelas nações que buscavam expandir seus domínios por meio da exploração dos recursos naturais de outras regiões do mundo. Você também encontrará nesta Unidade uma atividade composta por questões de múltipla escolha, relacionada ao conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de trocar conhecimentos e debater questões no fórum de discussão. É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos em informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre este assunto. A África Colonizada (Séculos XIX-XX) 6 Unidade: A África Colonizada (Séculos XIX-XX) Contextualização Por que algumas regiões africanas, como o Congo, em um momento da história passaram a ser conhecidas como Congo Belga, por exemplo? Como a África teve regiões que passaram a ser conhecidas com nomes compostos por países europeus? Serão estas, entre outras questões, que abordaremos ao longo desta Unidade; bem como apontar as consequências dessa interferência das potências europeias para os povos africanos. Leia com atenção os textos, pesquise, e reflita sobre os conflitos atuais que você conhece e que se desenrolam no continente africano por motivos étnicos, tribais, religiosos ou culturais. A resistência africana, expressa de muitas e variadas formas, marcará as lutas por independência e soberania em vários países. 7 Introdução Poucos autores se debruçam sobre os fatores que levaram o continente africano a tornar- se colônia europeia na virada do século XIX para o XX. O resultado dessa interferência na soberania de povos e nações que existiam há séculos dará ao continente não apenas um novo mapa, mas, sobretudo, transformará drasticamente suas relações internas e com os outros continentes, como também sua própria forma de organização interna. O Colonialismo Europeu na África A África passou por muitas fases e processos de transformação, assim como outras regiões do planeta. O período entre 1880 e 1935, entretanto, mudou drasticamente a geografia e as relações político-econômicas dos vários reinos e nações africanas. Até o final do século XIX, cerca de 80% do território da África conhecia sociedades organizadas em comunidades, clãs, Estados ou Reinos*, de extensões e densidades diferentes, independentes e autônomos, administrados por diferentes tipos de soberanos. As comunidades mantinham suas diversidades físicas, culturais, étnicas e religiosas. Os clãs estabeleciam seus próprios regimes de sucessão e eleição, bem como sua produção agrícola, mineral e comercial. Você sabia? O Continente Africano era formado por vários Estados ou Reinos, sendo que entre os mais conhecidos estão o poderoso Reino do Congo, o de Axum, de Kush, o do Benin, dos Axantis e dos Haussás que se consideravam descendentes dos gigantes do São e no Brasil ficaram conhecidos pela força física e por professaram a fé islâmica, e eram os chamados de malês. A historiografia tradicional sempre demonstrou pouca, ou nenhuma importância, a respeito desse período da história africana. O continente negro estava destinado a ser dominado, em um ou outro momento, por nações mais avançadas e civilizadas. Daí muitos autores considerarem que os africanos se submeteram, sem resistência, ao domínio estrangeiro. Estudos recentes mostram outra versão para a ação e reação dos povos e reinos dominados. As suas formas de luta para manter sua soberania e independência, sua segurança em continuar resistindo ao avanço estrangeiro como vinham fazendo há séculos faz parte de uma nova historiografia africana. E é isto que veremos a seguir. 8 Unidade: A África Colonizada (Séculos XIX-XX) Períodos do Colonialismo na África Ao analisar o domínio estrangeiro na África, os autores levantam várias hipóteses sobre quais poderiam ter sido os motivos que terminaram por ter todo um continente subjugado a um grupo de nações estrangeiras. As questões são muitas: quais foram as origens para o colonialismo* na África? O que sustentou esse domínio? As táticas de resistência eram suficientes para enfrentar o invasor? A tecnologia disponível era adequada para a luta com as inovações estrangeiras? Quais as áreas do estilo de vida africano, em termos econômicos, agrícolas, políticos, religiosos e culturais, foram afetados por este avanço europeu? Glossário Colonialismo, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, pode ser definido como: 1.prática, processo histórico de estabelecimento de colônias; 4.orientação política ou sistema ideológico de que uma nação lança mão para manter sob seu domínio, total ou parcial, os destinos de uma outra, procurando submetê-la nos setores econômico, político e cultural. Para trilhar os caminhos que apontam para possíveis respostas, alguns autores sugerem dividir esse período de colonialismo europeu na África, que vai de 1880 até 1935, aproximadamente, em 3 fases: de 1880 a 1919, de 1919 a 1935 e a partir de 1935. O primeiro período (1880 a 1919), no qual estão incluídas as fases de conquista e ocupação do território africano, foi aquele que, sob a perspectiva da visão europeia, viu a partilha do continente ser feita em cima de mapas. As tropas dos países europeus foram deslocadas para concluir, em campo, a divisão feita sobre o papel. E, pouco a pouco, todas as regiões foram, efetivamente, ocupadas e conquistadas. Para que a dominação fosse concretizada, diversas medidas administrativas e de infraestrutura rodoviária, ferroviária e telegráfica foram introduzidas com o objetivo de exploração dos recursos coloniais. A despeito de toda a resistência dos soberanos africanos, em 1919, praticamente todo o continente estava sob o domínio estrangeiro. As exceções eram a Líbia, algumas regiões do Saara, da Libéria e a Etiópia. Nessa fase, a despeito dos esforços dos povos africanos, lutando pela defesa de suas soberanias recorrendo a estratégia do confronto, da aliança ou da submissão temporária, os europeus se saíram vitoriosos. Já o segundo período, que vai de 1919 a 1935, é considerado como o da adaptação. Nesse período, há uma mudança na postura dos africanos que passam a usar o protesto e a resistência como estratégias de luta. O período é marcado por movimentos de transformação e protestos pelo mundo. Em 1919, ocorre o fim da primeira guerra, a Rússia dos tzares está passando por uma revolução e ocorre o primeiro congresso Pan-africano* organizado por Du Bois. 9 Importante! O Pan-Africanismo foi um movimento nascido pós segunda guerra, por meio da Associação Universal para o Progresso dos Negros, fundada por Marcus Mosiah Garvey, e girava em torno do slogan “A África para os africanos!”. Por iniciativa do doutor em Heidelbeg e professor de sociologia em Atlanta, o negro norte-americano, William Edward Bughardt du Bois, vários congressos serão organizadose o primeiro acontecerá na cidade de Paris, em fevereiro de 1919. Nesse congresso é reivindicado um Código Internacional que garantisse, na África Tropical, o direito dos nativos, bem como um plano gradual que conduzisse à emancipação final das colônias. A ocupação europeia havia cessado e o momento tornou-se oportuno para o aumento dos movimentos e manifestações de resistência. Explodiram os protestos em oposição a ocupação em território africano. A partir de 1935, tem início um período de profunda indignação dos africanos, pois Mussolini com suas forças fascistas irá ocupar a Etiópia, um dos últimos bastiões da resistência africana. Essa situação crítica irá despertar em todas as partes do mundo, e não só nos negros africanos, a natureza desumana, racista e opressiva do colonialismo. Os movimentos de independência entram em ação a partir de então, e a estratégia passa a ser a da ação concreta. Serão travadas as lutas revolucionárias que, pouco a pouco, irão ter como consequência a libertação e independência dos países africanos. 10 Unidade: A África Colonizada (Séculos XIX-XX) Os antecedentes da ocupação De forma objetiva, os estudos feitos por historiadores africanos apontam para a permanente resistência dos povos africanos contra o invasor e o uso de estratégias de luta que se alteram de um período para o outro. Em 1919, entretanto, o continente estava quase que por completo ocupado por nações estrangeiras que controlavam todos os setores da vida da população. Tendo em vista a suposta submissão das nações, várias foram as respostas a respeito da postura e atitude dos líderes africanos diante do dominador. Qual foi o papel dos responsáveis pela defesa do povo, dos exércitos e do uso da força para impedir o avanço estrangeiro? São perguntas para as quais, na releitura da história, sob a perspectiva dos próprios africanos, estão sendo construídas novas respostas. Os africanos sempre deixaram claro sua determinação em opor-se ao domínio europeu e em manter sua soberania, bem como sua religião e seu modo de vida tradicional. Daí que, quando em 1895, os italianos com a conivência do Reino Unido e da França lançaram sua campanha contra a Etiópia, Menelik declarou: Os inimigos vêm agora se apoderar de nosso país e mudar nossa religião [...]. Nossos inimigos começaram a avançar abrindo caminho na terra como toupeiras. Com a ajuda de Deus, não lhes entregarei meu país [...]. Hoje, que os fortes me emprestem sua força e os fracos me ajudem com suas orações. BOAHEN, 2010, p. 5 Os dirigentes demonstravam confiança em sua capacidade de resistir, e a resistência incluía não apenas as armas, mas também no poder das magias, dos antepassados e em seus deuses (ou deus) que não deixariam de vir em seu auxílio. Como pedido para a intercessão dos deuses nos confrontos, recorriam-se às orações, aos sacrifícios ou às poções de feitiços. Nem sempre a relação entre europeus e africanos foi de conflito. Ainda no século XIX, algumas inovações europeias foram sendo introduzidas nos países africanos e bem aceitas pelos soberanos. De forma alguma, a instalação de escolas por missionários europeus eram vistas como ameaças à soberania dos africanos. Serra Leoa, já em 1826, tinha o Fourah Bay College e na Costa do Ouro e na Nigéria estavam em funcionamento, desde 1870, escolas primárias e duas escolas secundárias. A formação profissional também era uma preocupação dos líderes africanos. Dessa forma, os jovens, filhos de africanos ricos, já em 1887, eram enviados a Europa a fim de obterem formação intelectual e profissional. O contato com o continente europeu, após a abolição do tráfico de escravos, deixou clara a capacidade africana em se adaptar a um sistema econômico baseado na exportação de produtos agrícolas. A Nigéria exportava o óleo de palma, do Senegal e da Gâmbia saiam os amendoins, antes de 1880. E depois de sua reintrodução, em 1879, a Costa do Ouro exportava o cacau. Estas transformações foram se processando sem o controle europeu direto. 11 Para os africanos, a relação com a Europa não carecia de nenhum tipo de alteração e podia se manter como já era há séculos. Diante de qualquer tentativa de dominação, os africanos se julgavam capazes de resistir barrando-lhes o caminho. No entanto, fatores além do continente africano forjavam um novo cenário internacional no qual o destino dos africanos seria traçado por outras mãos. A revolução industrial e o processo tecnológico que ela trazia, introduzia novos equipamentos para a navegação – como o navio a vapor, a velocidade no transporte de pessoas – com as estradas de ferro e a possibilidade de comunicações a distância com agilidade e rapidez – o telégrafo. O desenvolvimento de armamentos também ganhou destaque com a criação da primeira metralhadora, a Maxim. A primeira metralhadora automática foi criada pelo norte-americano Hiram Maxim Fonte: Wikimedia Commons Até meados dos anos de 1960, a escola da historiografia colonial africana ignorava a resistência africana diante do avanço da dominação europeia. Vários membros desta escola defendiam a acolhida favorável e pacífica por parte dos africanos da dominação colonial, uma vez que ela não só os preservava da anarquia e das guerras civis, mas também lhes trazia algumas vantagens concretas. Daí declarações como as de Margery Perham: A maioria das tribos aceitou rapidamente a dominação europeia, considerando que ela fazia parte de uma ordem irresistível, da qual podiam extrair numerosas vantagens, essencialmente a paz, e inovações apaixonantes: ferrovias e estradas, lâmpadas, bicicletas, arados, culturas e alimentos novos e tudo o que podia ser adquirido ou provado nas cidades. Essa dominação trouxe às classes dirigentes – tradicionais ou recém-criadas – maior autoridade e segurança, bem como novas formas de riqueza e poder. Por muito tempo, apesar da extrema perplexidade que estas provocaram, as revoltas foram bastante raras, e não parece que a dominação tenha sido sentida como uma indignidade. BOAHEN, 2010, p. 10 12 Unidade: A África Colonizada (Séculos XIX-XX) Os europeus que agora olhavam para a África tinham novas ambições políticas, novas necessidades econômicas e tecnologia relativamente avançada. E, na Conferência de Berlim, realizada de novembro de 1884 a novembro de 1885, estabeleceu-se a partilha Afro-asiática. Da conferência participaram 15 países, dos quais 13 eram do continente europeu. Ainda estavam presentes representantes dos Estados Unidos e da Turquia. A Conferência Fonte: escola.mmo.co.mz Dentre os objetivos da Conferência, o principal era o de estabelecer regras para a ocupação do território africano pelas potências europeias que buscavam novas zonas de domínio, expansão territorial e exploração econômica. Os motivos expressos para a divisão do território expostos pelos colonizadores era o de ajudar os povos africanos no caminho de desenvolvimento, tendo em vista a incapacidade de decidirem sozinhos os seus próprios destinos. Foi assim que, após a conferência, o continente tinha outro mapa e os países africanos passaram a conhecer e conviver com fronteiras distintas daquelas de seus antigos reinos, impérios e estados. O território ficou dividido entre as potências da época que participaram da conferência. Charge – Imperialismo e partilha da África Fonte: genius.com Portugal, que manteve suas antigas colônias, ficou com as atuais Angola e Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e São João Baptista de Ajudá. A Espanha obteve como colônias os atuais estados do Saara Ocidental, o Marrocos Espanhol e a Guiné Espanhol (atual Guiné Equatorial). A Argélia, junto com Tunísia, Marrocos, a África Ocidental Francesa (formada por Mauritânia, Senegal, Camarões, Mali, Guiné, Costa do Marfim, Níger, Burkina Faso e Daomé - hoje, Benin) e a África Equatorial Francesa (que abrangia a região dos atuais Gabão, República do Congo, República Centro-Africana e Chade)foram todos submetidos ao domínio da França, assim como a Somália Francesa (atual Djibouti) e as ilhas de Madagascar e Comores. A Bélgica, por sua vez, continuou dominando a região que foi o motivo de convocação da conferência, o Congo. A Alemanha, sede da conferência e com grande interesse expansionista, graças a ação do seu chanceler, Otto von Bismark*, ficou com a região conhecida atualmente como a República dos Camarões e o Togo, e as regiões onde estão atualmente o Tanzânia e a Namíbia. A Itália, que tal como a Alemanha vinha de uma unificação recente, deteve o litoral da Líbia, Somália e Eritréia. 13 Coube ao Reino Unido como colônias: o Egito, o atual Sudão, a África Oriental Britânica (Quênia e Uganda), Somalilândia Britânica, as atuais Zimbabwe e Botswana, o Estado Livre de Orange, a União Sul-Africana, Gâmbia, Serra Leoa, Nigéria, as províncias ocidentais de Camarões, Gana e Malawi. Apenas Libéria e Etiópia conseguiram manter suas soberanias nacionais e permaneceram independentes. Mapa – África Colonizada Fonte: UFMG 14 Unidade: A África Colonizada (Séculos XIX-XX) A resistência dos africanos Os africanos logo entenderam que a intenção dos europeus não era de permanecer trocando bens. O objetivo era exercer controle político direto sobre a África. A resistência armada dos africanos não era suficiente para enfrentar a ofensiva bélica dos novos colonizadores. As teses que defendem a conivência e aceitação pacífica da dominação por parte dos africanos é equivocada e não apresenta nenhum tipo de evidência que possa sustenta-las. Na verdade, a reação dos africanos foi exatamente inversa. Diante do avanço, eles tinham duas opções: ou renunciar sem resistência à soberania e à independência, ou defendê-las a qualquer custo. A despeito dos esforços dos africanos, viu-se que, ao final da primeira guerra, o domínio europeu sob o continente havia se concretizado. Permaneceram firmes em suas lutas de resistência apenas a Etiópia e a Libéria. Durante todo o período de dominação, os africanos nunca desistiram de ter restabelecida sua soberania. As estratégias de luta é que se alteraram no decorrer dos anos, e isto se deu na medida em que as intenções e objetivos dos colonizadores se tornavam mais claros e a exploração mais evidente. Num primeiro momento, que vai de 1880 a 1919, aproximadamente, as intenções dos países europeus pareciam as melhores com relação aos povos africanos. As medidas tomadas pelos europeus fizeram os líderes africanos pensar em diferentes estratégias, ora de confronto, ora de aliança ou de submissão temporária. A ocupação dos territórios era realizada efetivamente e todas as iniciativas de introduzir melhorias, fossem elas administrativas, de infraestrutura ou de comunicação tinham como objetivo a exploração dos recursos africanos, fossem eles animais, vegetais ou minerais em benefício exclusivo das potências metropolitanas, principalmente de suas empresas comerciais, minerais e financeiras. Para os líderes, a princípio, o objetivo não era derrubar o sistema, mas aprimorá-lo de forma a torná-lo menos opressivo, menos desumano, de modo a beneficiar tanto os africanos quanto os europeus. A preocupação principal era manter a soberania, seu patrimônio e sua cultura. O período seguinte que vai até 1935 será marcado pelas manifestações de resistência ou, como preferem os autores, de protestos. Os grupos formados por jovens, estudantes, intelectuais, sindicatos, clubes de funcionários, associações de ajuda mútua, além de grupos religiosos ocupavam-se em criar estratégias para divulgar o sentimento de nacionalismo entre os africanos e assim mobilizar a sociedade para a luta contra o domínio estrangeiro. Sendo assim O envio de petições e delegações as autoridades metropolitanas e locais, as greves, os boicotes, sobretudo a imprensa e os congressos internacionais, foram as armas ou táticas então adotadas, ao contrário do que ocorrera no período anterior a Primeira Guerra Mundial, em que as rebeliões e os tumultos predominaram como formas de resistência. O período do entre guerras foi, incontestavelmente, a idade de ouro do jornalismo na África, de modo geral, e, em particular, na África ocidental, enquanto a organização de congressos pan-africanos tornava-se igualmente arma característica do movimento anticolonial. BOAHEN, 2010, p. 17 15 O período a partir de 1935 verá o desencadeamento das lutas revolucionárias pela independência. Os movimentos nacionais, a partir de 1935 e, sobretudo, após a segunda guerra, tinham dois objetivos, a princípio, antagônicos. Por um lado, os africanos queriam se libertar do julgo das potências europeias a que estavam submetidos e, por outro, queriam evitar que as fronteiras dos países criados pela Conferência de Berlim se rompessem criando novos países e, com eles, novos conflitos. O primeiro país a se libertar foi a Costa do Ouro em 1951. A transição se deu de forma pacífica, o que infelizmente não será a regra para os demais países que também irão empreender sua luta por independência. Em 1957, a Costa do Ouro, adota o nome de Gana. As marcas do colonialismo no continente africano ainda podem ser vistas e sentidas. E, em alguns países, cuja independência se deu tardiamente, os conflitos entre grupos rivais, que por força da Conferência foram reunidos num mesmo país, continuam fazendo suas vítimas. 16 Unidade: A África Colonizada (Séculos XIX-XX) Algumas Considerações As consequências da partilha do continente africano entre as potências europeias é alvo de muitos questionamentos. Os estudos atuais procuram corrigir algumas ideias já cristalizadas sobre a submissão do africano com relação à dominação estrangeira. Também é tarefa atual aprofundar-se nas estratégias de resistência adotada pelos africanos. Muitos elementos carecem de um olhar mais crítico e aprofundado. A dominação não tira apenas autonomia político-econômica do dominado, mas, como aconteceu na África, transforma radicalmente a forma de populações inteiras se verem e olharem o mundo ao seu redor. Ao reunir diferentes etnias, muitas vezes, rivais entre si, os europeus ajudaram a reacender discórdias e disputas que existiam há séculos entre tribos e clãs. O elemento psicológico, assim como o religioso, têm papel fundamental neste processo de identidade, como nação, que foi sendo formado durante e após o período de dominação. Quais foram as forças, além das bélicas, que submeteram povos de guerreiros temidos por séculos? O que, depois da dominação estrangeira, permanece das origens culturais e das tradições de um povo? Até mesmo o idioma falado ou a fé professada são estrangeiros. Uma vez independentes, o que resgatar? Estas e muitas outras questões estão aguardando as respostas que, talvez um dia, pacificarão o continente africano, berço da raça humana. 17 Material Complementar Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, sugiro o documentário sobre o processo de resistência e independência de Gana. Vídeos: Cabo Verde e Guiné-Bissau: Heróis da Independência Africana – Nova África: http://www.pordentrodaafrica.com/videos/programa-de-tv-conta-a-historia-de-tres-herois-da-independencia-africana Acessado em 06/12/2014. 18 Unidade: A África Colonizada (Séculos XIX-XX) Referências BOAHEN, A. A. A África diante do desafio colonial in BOAHEN, A. A (editor). História Geral da África VII - África sob a dominação colonial de 1880-1935. Brasília: UNESCO, 2010. HERNANDES, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à História Contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. 19 Anotações
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