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HIGIENE DO TRABALHO Luiz Carlos Miyashiro 3 1 HIGIENE OCUPACIONAL – AGENTE FÍSICO RUÍDO O ruído tem se caracterizado como o agente que mais afeta a saúde dos trabalhadores, causando lesões tanto audíveis, como não audíveis. Ultimamente, este agente tem causado, inclusive, danos cognitivos, levando inúmeros trabalhadores à condição de estresse ocupacional. Daí a importância de se realizar ações efetivas de prevenção. A eficácia das ações não se baseia somente em treinamentos e orientações. É necessária a fiscalização constante através de inspeções oficiais e rondas diárias, principalmente quando há rotatividade de pessoas, o que exige constante reciclagem de instruções. 1.1 A lógica do som e as doenças ocupacionais O mecanismo do som, a princípio simples em uma base primária de conhecimento, contém diversas variáveis e um complexo sistema de entrelaçamentos com o cérebro e, como consequência, interferência em movimentos do corpo humano que, em um primeiro momento, pareciam não estar relacionados à audição. SAIBA MAIS No vídeo do Discovery Channel, “AUDIÇÃO - COMPLETO - DISCOVERY CHANNEL - CIÊNCIAS Já!”, você terá a explanação sobre o sistema auditivo do corpo humano. Dentre as inúmeras informações, você conhecerá como acontece a entrada de sinais auditivos pelo tímpano, cuja membrana vibra a cada som captado e emite sinais mecânicos para um trio de ossículos, chamados martelo, bigorna e estribo, que é o menor órgão do corpo humano (menor, inclusive, que um grão de arroz). Na cóclea, 15 mil células em forma de pelos mandam sinais elétricos ao cérebro. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=okJOgjXEtN0>. 4 Quando não previamente controlado, o ruído excessivo pode gerar sintomas “não audíveis”, como dores de cabeça e irritabilidade, além de gerar uma surdez temporária ou, no caso de exposição contínua, uma surdez permanente. É importante conhecer o efeito tardio da exposição ao ruído, quando o trabalhador já não consegue reverter quadros graves cujos efeitos poderiam ser amenizados ou anulados com a adoção de medidas simples, como o uso do protetor auricular. SAIBA MAIS No vídeo da empresa 3M, “Proteção Auditiva - vídeo de treinamento 3M”, é mostrada uma simulação de perda auditiva devido à exposição não controlada de ruído excessivo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dJfQM6DhzIs>. Como já foi mencionado, a exposição excessiva a ruídos gera alguns sintomas iniciais não audíveis, como: • Dores de cabeça; • Irritabilidade; • Insônia; • Cansaço excessivo; • Zumbido no ouvido. Dentro dos efeitos auditivos, temos: • Surdez temporária devido a uma exposição com alta carga de ruído em um determinado período de tempo; nestes casos, o poder de audição retorna após um período de descanso; • Surdez profissional ou permanente, normalmente em razão da ruptura do tímpano, ossículos ou outra estrutura sensorial, devido à exposição excessiva do ruído por um longo período de tempo, com irreversibilidade do poder auditivo. 5 A surdez profissional pode manifestar-se após longo período da exposição efetiva, daí a necessidade de controle imediato antes do aparecimento dos sintomas. 1.2 Medição e limites de tolerância O resultado da medição do nível de ruído no ambiente de trabalho é o que caracteriza o ambiente como “salubre” ou “insalubre”, resultando em pagamento ou não de adicional de insalubridade ao trabalhador. Uma medição mais abrangente com dosímetro de ruído, aparelhos calibrados e metodologia de avaliação traz maior garantia de confiabilidade nos dados obtidos. SAIBA MAIS O vídeo da Fundacentro “EPI - Proteção Auricular” oferece informações sobre os riscos da exposição excessiva ao ruído e o processo de avaliação. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rFXKpezKo_4&t=667s>. Já o vídeo “Instrumentação: Agentes Físicos”, também da Fundacentro, traz mais detalhes sobre a instrumentação de avaliação de todos os agentes físicos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ab8xfZJWYTk>. A seguir, você conhecerá algumas orientações para a correta medição do ruído, conforme Spinelli (2008): • Calibrar o medidor de ruído; • Posicionar o medidor para o maior nível de ruído na posição do cargo a ser avaliado; • Manter o medidor na altura da região auditiva (1,5 m do solo); • Não realizar a medição muito próxima a máquinas, em razão do campo magnético; • Utilizar o protetor de vento em ambientes externos; 6 • Não expor o equipamento à incidência de sol ou umidade; • Aguardar o tempo de estabilização de 5 segundos; • Desprezar picos de origem impulsiva. Para a medição de ruído contínuo, deve-se utilizar no aparelho circuito de compensação “A” ou dB(A) e escala de atenuação “slow” (lento). Para medição de ruído de impacto, deve-se utilizar circuito de compensação “C” ou dB(C) e escala de atenuação “fast” (rápido). Os limites de tolerância apresentados no Anexo 1 da Norma Regulamentadora n. 15 (BRASIL, 1978) caracterizam o nível de ruído como insalubre quando ultrapassam valores relacionados ao tempo de exposição. No entanto, devemos, para efeito da preservação da saúde do funcionário, trabalhar com valores de conforto auditivo. Na videoaula deste subtema você terá acesso ao conteúdo destes limites, extraído da NR 15: 7 Quadro 1.1: Norma Regulamentadora NR 15, Anexo n. 1 ANEXO N. 1 LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA RUÍDO CONTÍNUO OU INTERMITENTE NÍVEL DE RUÍDO dB(A) MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA PERMISSÍVEL 85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos 94 2 horas e 15 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos 1. Entende-se por Ruído Contínuo ou Intermitente, para os fins de aplicação de Limites de Tolerância, o ruído que não seja ruído de impacto. 2. Os níveis de ruído contínuo ou intermitente devem ser medidos em decibéis (dB) com instrumento de nível de pressão sonora operando no circuito de compensação "A" e circuito de resposta lenta (SLOW). As leituras devem ser feitas próximas ao ouvido do trabalhador. 3. Os tempos de exposição aos níveis de ruído não devem exceder os limites de tolerância fixados no Quadro deste anexo. 4. Para os valores encontrados de nível de ruído intermediário será considerada a máxima exposição diária permissível relativa ao nível imediatamente mais elevado. 8 5. Não é permitida exposição a níveis de ruído acima de 115 dB(A) para indivíduos que não estejam adequadamente protegidos. 6. Se durante a jornada de trabalho ocorrerem dois ou mais períodos de exposição a ruído de diferentes níveis, devem ser considerados os seus efeitos combinados, de forma que, se a soma das seguintes frações: 𝑪𝟏 𝑻𝟏 + 𝑪𝟐 𝑻𝟐 + 𝑪𝟑 𝑻𝟑 . . . + 𝑪𝒏 𝑻𝒏 exceder a unidade, a exposição estará acima do limite de tolerância. Na equação, Cn indica o tempo total que o trabalhador fica exposto a um nível de ruído específico, e Tn indica a máxima exposição diária permissível a este nível. 7. As atividades ou operações que exponham os trabalhadores a níveis de ruído, contínuo ou intermitente, superiores a 115 dB(A) sem proteção adequada, oferecerão risco grave e iminente. NR 15 - ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES ANEXO N. 2 LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA RUÍDOS DE IMPACTO 1. Entende-se por ruído de impacto aquele que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a 1 (um) segundo, a intervalos superiores a 1 (um) segundo. 2. Os níveis de impacto deverão ser avaliados em decibéis (dB), com medidor de nível de pressãosonora operando no circuito linear e circuito de resposta para impacto. As leituras devem ser feitas próximas ao ouvido do trabalhador. O limite de tolerância para ruído de impacto será de 130 dB (linear). Nos intervalos entre os picos, o ruído existente deverá ser avaliado como ruído contínuo. 3. Em caso de não se dispor de medidor do nível de pressão sonora com circuito de resposta para impacto, será válida a leitura feita no circuito de resposta rápida (FAST) e circuito de compensação "C". Neste caso, o limite de tolerância será de 120 dB(C). 4. As atividades ou operações que exponham os trabalhadores, sem proteção adequada, a níveis de ruído de impacto superiores a 140 dB (LINEAR), medidos no circuito de resposta para impacto, ou superiores a 130 dB(C), medidos no circuito de resposta rápida (FAST), oferecerão risco grave e iminente. 1.3 Medidas de prevenção do agente físico ruído As medidas de abrangência coletiva devem ser priorizadas em relação a ações individuais. As recomendações para uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual) de proteção auditiva podem parecer mais práticos e de menor custo, porém, falhas no 9 uso regular do equipamento podem gerar problemas de saúde no sistema auditivo do corpo humano. O isolamento acústico de fontes de ruído exige menos controle e maior confiabilidade na segurança dos funcionários. No infográfico deste subtema você encontrará os modos de controle do ruído: • Controle na fonte: troca de equipamento ou instalação de silenciador, manutenção preventiva, corretiva, lubrificação, isolamento acústico, mudança do processo, atenuação da vibração; • Controle no meio: isolamento na propagação, isolamento na área a proteger, isolamento no receptor. Materiais utilizados: lã de rocha, lã de vidro, mantas de borracha, cortiça, vidros, fibras de coco, chapas metálicas, madeira maciça, espuma elastomérica, dry wall (gesso acartonado), vermiculita, paredes duplas, janelas com vidros duplos; • Controle no homem: utilização de protetores auriculares. SAIBA MAIS O Programa de Conservação Auditiva (PCA), também denominado Programa de Prevenção de Perdas Auditivas (PPPA), corresponde a um conjunto de atividades que visam prevenir ou estabilizar as perdas auditivas ocupacionais por meio de um processo de melhoria contínua que requer conhecimento multidisciplinar, e se desenvolve por meio de atividades planejadas e coordenadas entre diversas áreas da empresa. Aprofunde-se, consultando o Guia de diretrizes e parâmetros mínimos para a elaboração e gestão do Programa de Conservação Auditiva (PCA) disponível em: <http://tiny.cc/0nse7y>. 10 Na elaboração e gestão do PCA devem ser contemplados no mínimo os seguintes aspectos: 1. Introdução e objetivos 2. Política da empresa 3. Responsabilidades e competências 4. Avaliação da exposição 5. Gerenciamento audiológico e controle médico 6. Medidas de controle coletivo 7. Gestão de Equipamentos de Proteção Auditiva 8. Educação/capacitação e motivação de trabalhadores e demais envolvidos no programa 9. Manutenção de registros 10. Avaliação do programa (CUNHA; SHIBUYA et al., 2018) Conclusão O material deste bloco traz a base que você precisa para compreender os conceitos dos limites de tolerância que envolvem o agente físico ruído e os meios de prevenção para que não haja prejuízos à saúde do trabalhador. As ações na fonte, no meio e no homem devem ser planejadas e esclarecidas à alta direção sobre a importância de investimentos nesta área, tendo sempre em mente que a proteção coletiva tem que ser prioridade. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras – NR – do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Disponível em: <http://tiny.cc/qw1j7y>. Acesso em: 28 maio 2019. CUNHA, Irlon de Ângelo da (coord.); SHIBUYA, Elisa Kayo et al. Guia de diretrizes e parâmetros mínimos para a elaboração e gestão do Programa de Conservação Auditiva (PCA). São Paulo: Fundacentro, 2018. Disponível em: <http://tiny.cc/0nse7y>. Acesso em: 28 maio 2019. SPINELLI, Robson. Higiene ocupacional: agentes biológicos, químicos e físicos. 2. ed. São Paulo: Editora Senac, 2008.