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Estruturas Pré-Moldadas no Mundo

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Patrocínio de: 
 
   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
   
 
 
 
 
Autores coordenadores 
 
Carlos Chastre (Capítulos 1, 5, 7 e 11) 
Válter Lúcio (Capítulos 1, 5, 7 e 11) 
 
Autores colaboradores 
 
Arnold Van Acker (Capítulo 9) 
Barry Crisp (Capítulo 4) 
Daniela Gutstein (Capítulo 2) 
Filipe Saraiva (Capítulo 3) 
Íria Doniak (Capítulo 2) 
 Jason Krohn (Capítulo 13) 
 José Barros Viegas (Capítulo 3) 
 Marcelo Ferreira (Capítulo 8) 
 Marco Menegotto (Capítulo 10) 
 Mounir el Debs (Capítulo 6) 
 Simon Hughes (Capítulo 4) 
 Spyros Tsoukantas (Capítulos 11 e 12) 
 Stefano Pampanin (Capítulo 14) 
 
 
Tradução 
 
Dina Gouveia (Capítulos 4, 9, 10, 12, 13 e 14) 
 
Revisão técnica 
 
Carlos Chastre (Capítulos 4, 9, 10, 12, 13 e 14) 
Válter Lúcio (Capítulo 12) 
 
 
FICHA TÉCNICA 
 
 
Título:   Estruturas Pré‐moldadas no Mundo ‐ Aplicações e 
Comportamento Estrutural 
Autores coordenadores: Carlos Chastre, Válter Lúcio 
 
Autores colaboradores: Arnold Van Acker, Barry Crisp, Daniela Gutstein, 
Filipe Saraiva, Iria Doniak, Jason Krohn, José Barros Viegas, Marcelo 
Ferreira, Marco Menegotto, Mounir el Debs, Simon Hughes, Spyros 
Tsoukantas, Stefano Pampanin 
 
Tradução:  Dina Gouveia (Capítulos 4, 9, 10, 12, 13 e 14) 
Revisão técnica:   Carlos Chastre (Capítulos 4, 9, 10, 12, 13 e 14)  
Válter Lúcio (Capítulo 12) 
 
Editor:  Fundação da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade 
NOVA de Lisboa 
Capa:  Mafalda Neto 
Impressão: Editora Parma, Ltda. 
Av. Antônio Bardela, 280 ‐ CEP 07220‐020 
Cidade Satélite Cumbica ‐ Guarulhos ‐ SP ‐ Brasil 
 
ISBN: 978‐989‐97721‐1‐3 
Depósito Legal: 340230/12 
Tiragem: 500 exemplares 
 
Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro, o registo em suporte informático ou a 
transmissão através de qualquer processo eletrónico ou mecânico, sem a prévia autorização por 
escrito dos titulares dos direitos da edição.  
 
Março de 2012 
 
Impresso no Brasil 
 v 
Índice 
Prefácio 
Capítulo 1 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ………………………………..……………… 1 
Capítulo 2 
Estruturas de Concreto Pré‐moldado no Brasil: Normalização,  
Sustentabilidade e Aplicações ..………………….………………………..………… 7 
Capítulo 3 
Um olhar sobre a pré‐fabricação em betão em Portugal………..….………….… 39 
Capítulo 4 
Estruturas pré‐fabricadas em betão, em Melbourne, Austrália………………… 73 
Capítulo 5 
Torres pré‐fabricadas de betão para suporte de turbinas eólicas…….………… 91 
Capítulo 6 
Pesquisas em ligações de estruturas de concreto pré‐moldado……….……… 107 
Capítulo 7 
Ligações rígidas em estruturas pré‐fabricadas………………….……………… 137 
Capítulo 8 
Ligações semi‐rígidas em estruturas pré‐moldadas de concreto…...………… 167 
Capítulo 9 
Projeto de estruturas de betão pré‐fabricado às ações acidentais…………..… 187 
Capítulo 10 
Estruturas Pré‐fabricadas e o sismo de LʹAquila 2009 em Itália ...……….…… 209 
Capítulo 11 
Princípios básicos para a conceção de estruturas de edifícios em zonas 
sísmicas……………………………………………………………………………… 227 
Capítulo 12 
Disposições de projeto para edifícios pré‐moldados em zonas sísmicas ……. 249 
Capítulo 13 
Metodologia de projeto para diafragmas sísmicos …….………………..…...… 277 
Capítulo 14 
Implementação de ligações resistentes a momentos em edifícios  
pré‐fabricados de betão: oportunidades renovadas para a construção ……… 291 
 vi 
 
 vii 
 
 
Prefácio 
 
 
 
 
 
A  comissão  6  de  pré‐fabricados  da  fib  tem  a  importante  missão  de 
disseminar  o  estado  da  arte  da  pré‐fabricação  em  concreto  no mundo  e 
também  contribuir  para  o  desenvolvimento  tecnológico  deste  sistema 
construtivo.  Neste  contexto,  representantes  do  Brasil  e  de  Portugal 
entenderam  como  necessário  disseminar  informação  acerca  de  temas 
relevantes como sismos, ligações, cargas acidentais, aplicações, entre outros, 
na língua portuguesa, visando um maior alcance da informação.   
É  oportuno destacar  que  estes  trabalhos  existem  ‐  além da dedicação dos 
autores ‐ por dois outros fatores: as relações institucionais e a integração da 
academia com a iniciativa privada. 
Ressaltamos  aqui  a  importância  das  duas  entidades  que  representam  a 
pré‐fabricação em betão nos dois países, a ANIPB em Portugal e a ABCIC, 
no  Brasil,  cuja  visão  do  alcance  desta  obra  viabilizou  este  projeto,  com  o 
apoio de empresas associadas patrocinadoras. 
O apoio institucional da fib é uma grande mais‐valia, pois é a entidade que 
tem propiciado  a  existência da  comissão  6, onde profissionais de diversos 
países e atuantes no setor, quer na academia,  iniciativa pública ou privada 
como  professores,  consultores,  projetistas,  pré‐fabricadores  trocam  ideias, 
debatem,  pesquisam,  desenvolvem  e  somam  esforços  para  que,  cada  vez 
mais, o betão pré‐fabricado  cumpra o  seu papel  como  solução  sustentável 
em obras habitacionais e infraestruturas. Pode‐se aqui indistintamente citar: 
edificações comerciais e residenciais, pontes, viadutos, recintos desportivos, 
portos,  aeroportos,  torres  para  energia  eólica,  enfim...  todas  as 
possibilidades. 
 
 
 viii 
 
É milenar  a  tradição  de  construir  edificações  complexas  com  a  aplicação 
repetitiva de elementos simples. Os princípios fundadores da pré‐fabricação 
em  betão  contemporânea  são  os  mesmos  dos  ancestrais  construtores  – 
simplicidade  e  repetição  –  e mantêm‐se válidos na  atualidade. Esta  forma 
natural, quase instintiva de construir, dá resposta às necessidades atuais de 
rapidez,  qualidade,  economia,  segurança  e  sustentabilidade  ambiental 
tornando‐o num processo construtivo incontornável.   
Usa  matérias‐primas  locais,  reutiliza  os  desperdícios  industriais  e  os 
produtos  de  demolição  que,  sujeitos  a  processos  de  reciclagem,  podem 
entrar de novo na produção,  reduzindo consideravelmente, desta  forma, o 
“lixo”.   
No inicio do século XXI a pré‐fabricação em betão estende‐se a todas as áreas 
da construção. Este  livro  ilustra o que de melhor se faz, em todo o mundo, 
na  construção  com elementos pré‐fabricados em betão. Abre portas para a 
pré‐fabricação em betão do  futuro,  revelando as boas práticas do presente. 
Se este livro despertar novas vontades de utilizar a pré‐fabricação em betão 
terá cumprido a sua função. 
 
Íria Doniak 
ABCIC 
 
José Barros Viegas 
ANIPB 
 
 
1 
Estruturas pré‐moldadas no mundo  
Carlos Chastre1 & Válter Lúcio2  
Universidade NOVA de Lisboa, Portugal 
 
 
A indústria do betão pré‐fabricado é, por tradição, inovadora, precursora de 
novas tecnologias e de novos materiais. 
Importa  referir  que  se designam  estruturas  pré‐moldadas  todas  aquelas  que 
são  moldados  fora  do  local  da  sua  utilização  definitiva  e  estruturas  pré‐
fabricadas  as  que  são moldados  em  instalações  industriais. A produção de 
estruturas  com  elementos  pré‐fabricados  passa  pela  fabricação  dos 
elementos em ambientes que permitem um controlo de qualidade eficiente, 
garantindo a qualidade e durabilidade dos produtos pré‐fabricados. Esta é 
uma das vantagens das  estruturas pré‐fabricadas  em  relação  às  estruturas 
moldadas em obra. No entanto, as ligações entre elementos, quando não são 
projectadas  e  executadas  convenientemente,  podem  tornar‐se  numa 
desvantagem para  as  estruturas pré‐fabricadas. Os  técnicos de  engenharia 
têm hoje ao seu dispor materiais e conhecimento que permitem conceber e 
executar ligações eficientes e seguras e que não põem em causa a qualidade 
e a segurança das estruturas pré‐fabricadas. 
 
1 Engenheiro Civil, Mestre em Eng. de Estruturas, Doutorado em Eng. Civil.  
Professor Auxiliar na Universidade NOVA de Lisboa, Portugal.  
Membro da Comissão 6 ‐ Prefabrication da fib. 
 
2 Engenheiro Civil, Mestre em Eng. de Estruturas, Doutorado em Eng. Civil  
Pró‐Reitor da Universidade NOVA de Lisboa.Professor Associado na Universidade NOVA de Lisboa, Portugal.  
Sócio Gerente da empresa VERSOR ‐ Consultas, Estudos e Projectos Lda. 
Membro da Comissão 6 ‐ Prefabrication da fib. Coordenador do TG 6.14 da fib. 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
2 
Este  livro  divide‐se  em  duas  grandes  áreas;  numa  primeira  abordam‐se 
algumas aplicações de estruturas pré‐moldadas no mundo e, numa segunda, 
descreve‐se o seu comportamento estrutural face a diferentes acções. 
Em  termos de aplicações relata‐se nos capítulos 2 a 4 a experiência da pré‐
fabricação  em  três  países  de  diferentes  continentes:  o  Brasil,  Portugal  e  a 
Austrália.  Ressalta‐se,  neste  caso,  a  abordagem  que  a  indústria  da 
pré‐fabricação  fez  em  anteriores  ciclos  económicos  e  como  superou  as 
dificuldades encontradas. Para  finalizar esta parte do  livro,  revelam‐se, no 
capítulo 5, novas oportunidades que poderão surgir para a indústria da pré‐
fabricação. 
No  que  diz  respeito  ao  comportamento  estrutural  das  estruturas 
pré‐moldadas  dá‐se  um  especial  enfoque  no  comportamento  das  ligações 
(rígidas  e  semí‐rígidas),  com  os  capítulos  6  a  8  dedicados  à  investigação 
nesta área. Depois, atendendo ao facto do comportamento das estruturas ser 
diferente  conforme  se  está  em  zonas  sísmicas  ou  não, da mesma  forma  a 
conceção  da  estrutura  também  tem  de  ser  diferente.  Assim  sendo,  no 
capítulo  9  aborda‐se  o  projecto  de  estruturas  de  betão  pré‐fabricado  às 
acções acidentais, uma preocupação muito característica de países onde não 
há registo da ocorrência de sismos e onde as ligações e as estruturas são, por 
norma,  pouco  redundantes.  Por  fim,  reservou‐se  um  conjunto  de  cinco 
capítulos  aos  fenómenos  do  comportamento  das  estruturas  face  às  acções 
sísmicas. Nesta área, grande parte do  conhecimento e da  tecnologia actual 
advém  da  resposta  dada  pelos  investigadores,  engenheiros  e  construtores 
aos  fenómenos naturais que  afectam  as nossas  construções. Neste  sentido, 
relata‐se, no capítulo 10, a experiência do sismo de LʹAquila 2009, em Itália, 
e, nos  capítulos  11  e  12,  abordam‐se  os princípios  básicos  e  o projecto de 
estruturas  de  edifícios  pré‐fabricados  em  zonas  sísmicas.  No  capítulo  13 
descreve‐se  um  importante  programa  de  investigação  realizado  nos  EUA 
para  estudar  e viabilizar  a  inclusão de  estruturas pré‐fabricadas  em  zonas 
sísmicas. A  terminar, no capítulo 14, relata‐se a  implementação de  ligações 
dúcteis resistentes a momentos em edifícios pré‐fabricados de betão e do seu 
bom  desempenho  no  verdadeiro  teste  sísmico  que  foram  os  sismos  de 
Christchurch (2010‐2011). 
Em  particular,  no  Capítulo  2,  aborda‐se  o  tema  das  estruturas  de  betão 
pré‐moldado  no  Brasil,  começando  por  apresentar  o  histórico  da  pré‐
fabricação  em betão  e as vantagens deste  tipo de  construção. Em  seguida, 
desenvolvem‐se dois temas cada vez mais importantes na construção, como 
são  o  caso  da  sustentabilidade  e  da  normalização.  Por  fim,  mostram‐se 
alguns casos de aplicações da pré‐fabricação no Brasil.  
Estruturas pré‐moldadas no mundo 
 
3 
Por sua vez, no Capítulo 3, apresenta‐se um olhar sobre a pré‐fabricação em 
betão em Portugal. Começando por situar a  indústria da pré‐fabricação no 
panorama  português,  faz‐se,  em  seguida,  uma  descrição  das  vantagens  e 
dificuldades  tradicionais  na  utilização  de  elementos  estruturais 
pré‐fabricados  em Portugal. Na  continuação,  refere‐se o  tema das  ligações 
típicas utilizadas em viadutos e em edifícios. Por  fim, mostram‐se algumas 
realizações da indústria de pré‐fabricação portuguesa.   
O  desenvolvimento  da  pré‐fabricação  em  Melbourne,  na  Austrália,  é 
abordado no capítulo 4, onde se detalham e ilustram os conceitos (soluções, 
componentes, ligações e montagem) que têm sido adotados e desenvolvidos 
para  ir  ao  encontro  do mercado  local.  Em Melbourne  os  edifícios  variam 
entre dois e vários pisos e, em termos de metros quadrados, entre algumas 
centenas  a  dezenas  de milhares. Num mercado  onde  o  clima  tem  pouco 
impacto  nos  métodos  de  construção,  os  fatores  de  competição  são 
geralmente os custos e outros fatores indiretos, tais como a redução da mão 
de obra  in situ e a segurança. A pré‐fabricação em Melboune tem evoluído 
de  componentes modulares  simples  para  outros  projetos  de  componentes 
bastante  complexos  que  são,  contudo,  de  fabrico  e montagem  simples. A 
padronização,  em vez da modulação, permitiu o uso de  componentes que 
são  facilmente  produzidos  em  projetos de  arquitetura  arrojados. Além da 
segurança,  o  aspeto mais  crítico  realçado  no  sucesso  da  construção  pré‐
fabricada é o conceito  inicial. Para manter  todas as vantagens e  reduzir as 
limitações, é fundamental que o projeto seja concebido como uma estrutura 
pré‐fabricada desde o início. 
Atendendo  à  crescente  procura  de  novas  fontes  de  energia,  novas 
oportunidades  poderão  surgir  para  a  indústria  da  pré‐fabricação 
provenientes  deste  sector.  Num  mercado  até  agora  dominado  pelas 
estruturas de aço e com a crescente necessidade de  ir mais  longe, o  futuro 
deste  mercado  passará,  necessariamente,  pelas  estruturas  pré‐fabricadas. 
Neste sentido, destinou‐se o capítulo 5 para a apresentação de estruturas de 
suporte de turbinas eólicas. 
O objetivo do capítulo 6 é apresentar uma síntese da investigação realizada 
sobre ligações em estruturas de betão pré‐moldado desenvolvidas entre 2000 
e 2010 na Universidade de São Paulo e envolvendo dois  tipos de  ligações: 
pilar  ‐  fundação por meio de  cálice  e viga  ‐ pilar. No  caso da  ligação por 
cálice  de  fundação  são  apresentados  os  modelos  e  recomendações  para 
ligações  com  interface  lisa  e  rugosa. No  que  diz  respeito  à  ligação  viga  ‐ 
pilar,  apresentam‐se  os  estudos  realizados  com  almofada  de  argamassa 
modificada,  no  sentido  de  promover  uma  certa  rigidez  às  ligações  que 
seriam  articuladas,  o  que  conduz  a  um  comportamento  semi‐rígido  das 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
4 
ligações. Por fim, abordam‐se dois tipos de ligações viga ‐ pilar para edifícios 
industriais e para estruturas com diversos pisos.  
No  capítulo  7  descreve‐se  o  trabalho  que  tem  sido  desenvolvido  sobre 
ligações  rígidas  em  estruturas  pré‐fabricadas  na  Universidade NOVA  de 
Lisboa. Apresentam‐se estudos efectuados no âmbito das ligações viga‐pilar, 
pilar‐fundação,  parede  resistente‐fundação  e  painel  de  fachada‐pilar.  Os 
trabalhos  apresentados  referem‐se  a  estudos  sobre  o  comportamento  das 
ligações  para  acções  estáticas  mas,  em  alguns  casos,  também  o  seu 
comportamento para as acções sísmicas. 
No capítulo 8 apresentam‐se alguns trabalhos de investigação que têm vindo 
a  ser  realizados no NETPRE‐UFSCar,  em  colaboração  com a Universidade 
de  Nottingham,  em  Inglaterra,  no  âmbito  das  ligações  semi‐rígidas  em 
estruturas  pré‐moldadas  de  betão.  Referem‐se,  igualmente,  os  principais 
aspetos  das  estruturas  pré‐moldadas  com  ligações  viga‐pilar  resistentes  à 
flexão,  considerando  o  efeito  semi‐rígido  no  comportamento  global  das 
estruturas com diversos pisos.  
As estruturas pré‐fabricadas são mais sensíveis ao colapso progressivo após 
uma explosão ou outra ação acidental do que as estruturas betonadas in situ. 
Uma  estrutura  é normalmente projetada para  suportar  as  cargas  causadas 
pela sua função normal, mas deve haver uma probabilidade razoável de não 
colapsar  de  forma  catastrófica  sob  os  efeitos  de  um  uso  moderado  e 
inadequado  ou  de  um  acidente.  O  colapso  progressivo  é  um  eventorelativamente raro, porque requer ao mesmo tempo uma ação acidental para 
iniciar os danos locais e uma estrutura à qual falta a continuidade adequada, 
a  ductilidade  e  a  redundância  para  resistir  à  propagação  dos  danos.  É 
tecnicamente muito  difícil  e  economicamente  proibitivo  projetar  edifícios 
para uma  segurança  absoluta. Contudo,  é possível  construir  edifícios  com 
um grau aceitável de segurança em relação às ações acidentais. O objetivo do 
capítulo  9  é,  de  forma  sumária,  apresentar  o  conhecimento  atual  sobre  o 
assunto e  fornecer a orientação para o projeto de estruturas pré‐fabricadas 
que resistem ao colapso progressivo. 
No  capítulo  10  são  discutidas  as  características  do  sismo  que  atingiu  a 
cidade  de  Lʹ  Aquila,  em  Itália,  em  abril  de  2009.  Existia  uma  grande 
variedade de edifícios, desde monumentos medievais em pedra aos edifícios 
modernos de betão. São abordados os conceitos negligenciados no projeto, 
na construção e na utilização que conduziram aos danos observados. Dá‐se 
especial atenção às estruturas de betão pré‐fabricado, cujo comportamento é 
analisado  face  ao  sismo.  Embora  nenhuma  destas  estruturas  se  tenha 
desmoronado  ou  causado  vítimas,  algumas  sofreram danos  consideráveis, 
Estruturas pré‐moldadas no mundo 
 
5 
necessitando de reparações consideráveis, o que levou à quebra da atividade 
produtiva durante  algum  tempo. Também  se mostra  a  forma  eficaz  como 
foram  acionados  os  socorros  imediatos  e  os  posteriores  à  ocorrência  do 
sismo. 
Um  projeto  estrutural  adequado  é  fundamental  para  que  a  satisfação dos 
requisitos  fundamentais de uma  estrutura  sejam alcançados  sob a ação de 
um  sismo.  A  experiência  baseada  na  história  da  engenharia  sísmica  e  a 
experiência recente sobre o comportamento das estruturas de betão armado 
mostrou  que,  apesar  da  enorme  evolução  dos  meios  informáticos,  a 
satisfação  dos  requisitos  fundamentais  do  projeto  sísmico  não  pode  ser 
alcançada  diretamente  por  meio  de  cálculos,  tendo‐se  verificado  que  a 
observância  de  alguns  conceitos  básicos  de  projeto  é mais  importante. O 
capítulo 11 enfatizará a grande importância da primeira etapa do projeto, a 
chamada conceção estrutural. 
Em  seguida,  no  capítulo  12,  abordam‐se  as  disposições  de  projeto  para 
edifícios  pré‐fabricados  em  zonas  sísmicas.  Como  se  sabe,  a  principal 
diferença  entre  as  estruturas  de  betão  armado  tradicionais, monolíticas  e 
betonadas  no  local,  e  as  estruturas  pré‐fabricadas  correspondentes  é  que 
estas  últimas  são  compostas  por  vários  elementos  de  suporte  produzidos 
numa fábrica e não em obra. Por conseguinte, a estrutura é composta por um 
conjunto  de  ʺelementosʺ  que  são  reunidos  através  de  ʺligaçõesʺ.  Assim, 
quando  se  projetam  estruturas  pré‐fabricadas,  deve  ser  dada  especial 
atenção não só à sua resistênca e deformabilidade, mas também às ligações. 
Além  disso,  deve‐se  igualmente  considerar  a  sua  localização  no  sistema 
estrutural,  uma  vez  em  que  elas  afetam  a  resposta  da  estrutura  total  sob 
ações sísmicas. Torna‐se, portanto, óbvio que se levantem questões de regras 
adicionais  de  projeto  e  de  disposições  de  projeto,  em  comparação  com 
estruturas  monolíticas  equivalentes,  quando  se  lida  com  o  projeto  de 
estruturas  pré‐fabricadas  em  zonas  sísmicas.  Neste  capítulo  será  dada 
especial ênfase às ligações nos diversos sistemas de estruturas pré‐fabricadas 
e à sua influência na ductilidade e rigidez do sistema estrutural.  
No  início de  2003  o Conselho de Desenvolvimento  e  Investigação do PCI 
deu início a uma investigação que durou cerca de cinco anos e que tinha por 
objectivo o desenvolvimento de uma recomendação prática para a indústria 
de componentes, tendo em vista a conceção e construção dos diafragmas que 
usam  componentes de  betão pré‐fabricado/pré‐esforçado. A  construção de 
parques de  estacionamento  em betão pré‐fabricado  é uma das  actividades 
mais  importantes  da  indústria  de  pré‐fabricação  nos  EUA.  A  alternativa 
preferida pelos  construtores de parques de  estacionamento  é  a  construção 
em  diafragma  sem  camada  de  betão  complementar,  mas  esse  tipo  de 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
6 
construção  não  é  permitido  em  regiões de  alto  risco  sísmico. Além disso, 
alguns  parques  com  diafragmas  pré‐fabricados  sem  a  camada  de  betão 
complementar  não  tiveram  um  bom  comportamento  no  sismo  de 
Northridge, em 1994. No capítulo 13 apresenta‐se o projecto de investigação 
e os  seus principais  resultados  relacionados  com a metodologia de projeto 
para diafragmas sísmicos.  
Finalmente, no  capítulo 14,  começa‐se por questionar  se os  limites da pré‐
fabricação  são  reais  ou  subentendidos,  apresentam‐se  filosofias  e  soluções 
alternativas  de  projeto  sísmico  para  edifícios  de  betão  pré‐fabricados, 
mostrando‐se  igualmente  algumas  implementações  em  obra da  tecnologia 
PRESSS  desenvolvida  nos  EUA  no  final  da  década  de  90.  Em  seguida, 
reporta‐se o verdadeiro teste de desempenho sísmico da tecnologia PRESSS 
que foram os sismos de Christchurch (2010‐2011). Por fim sugere‐se, depois 
dos  sismos  de  L’Aquila  e  de Christchurch,  que  esta  é  uma  oportunidade 
para implementar ligações dúcteis resistentes a momentos em edifícios pré‐
fabricados de betão. 
 
2 
Estruturas de concreto           
pré‐moldadas no Brasil:  
Normalização, sustentabilidade e 
aplicações 
 
Íria Lícia Oliva Doniak1  
ABCIC  ‐ Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto  ‐ 
São Paulo, Brasil 
Daniela Gutstein2  
Intertechne Estruturas ‐ São Paulo, Brasil 
 
2.1  Introdução 
Esse  capítulo  tem  como  objetivo  proporcionar  uma  visão  sistêmica  do 
processo  de  pré‐fabricação  em  concreto  no  âmbito  da  construção  civil 
brasileira  que  vive  um  momento  ímpar  devido  às  demandas  crescentes 
ocasionadas  pelo  crescimento  econômico  dos  últimos  anos,  pelos 
investimentos do governo brasileiro e da iniciativa privada, bem como pelo 
preparo do país para sediar a Copa do Mundo de Futebol 2014 e os  Jogos 
Olímpicos  2016,  dentre  outros.  A  estrutura  pré‐fabricada  vem  sendo 
aplicada de  forma  crescente em diversos  setores do país,  como na área de 
energia,  transportes,  logística,  infraestrutura,  habitacional,  industrial  e 
 
1  Engenheira  Civil.  Presidente  Executiva  da  ABCIC  ‐  Associação  Brasileira  da  Construção 
Industrializada de Concreto. Membro da Comissão 6 ‐ Prefabrication da fib.  
2 Engenheira Civil. Doutorada em Eng. Civil. Coordenadora da CE de Lajes e Painéis Alveolares 
de Estruturas de Concreto Pré‐Moldado ‐ CB‐18/ABNT. 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
8 
comercial,  sempre  que  a  agilidade  de  construção  e  qualidade  são 
condicionantes para a viabilidade da obra.  
Para  isso,  apresenta‐se  inicialmente  um  histórico  da  pré‐fabricação  em 
concreto com o objetivo de situar o leitor quanto à evolução das aplicações e 
do desenvolvimento de  tecnologia da pré‐fabricação brasileira na escala do 
tempo. Em  seguida,  são discutidos os principais  conceitos  relacionados  às 
vantagens  e  desvantagens  do  emprego  da  pré‐fabricação  e  também  aos 
aspetos de sustentabilidade. Em Normalização mostra‐se o panorama geral 
das  normas  técnicas  brasileiras  existentese  em  fase  de  estudo  ou  revisão 
dentro do contexto da pré‐fabricação de concreto e seus principais aspetos. 
Por fim apresentam‐se em Aplicações de estruturas pré‐fabricadas algumas 
obras brasileirasimportantes, assim  como os principais  conceitos que estãoenvolvidos nos sistemas estruturais relacionados  (sistemas aporticados, em 
esqueleto,  painéis  portantes,  fachadas,  arquibancadas  e  fundações)  e 
conclusões.  
2.2.  Histórico da pré‐fabricação em concreto 
A industrialização da Construção Civil invariavelmente, ao longo da história 
da humanidade, está associada a questões sociais e mercadológicas. Aspetos 
conceituais  presentes  na  industrialização  como  coordenação  modular, 
engenharia  de  materiais  e  racionalização  já  estavam  presentes  na 
complexidade  das  obras  da Grécia Antiga  ou  da Arquitetura Gótica.   Na 
Europa,  após  a  Segunda Guerra Mundial  em  1942,  a  necessidade  de  um 
grande  número  de  unidades  habitacionais  e  infraestrutura,  aliando 
cronogramas  ousados, porém  com qualidade,  culminou no  surgimento de 
sistemas  construtivos  que  possibilitassem  elevada  produtividade. A  partir 
de então, deu‐se início ao aprimoramento, ao desenvolvimento tecnológico e 
à seleção das soluções iniciais. Nesse contexto a pré‐fabricação em concreto 
se tornou o meio mais difundido para a industrialização da construção civil.  
Remontando a história da pré‐fabricação no Brasil, o primeiro marco da pré‐
fabricação de  concreto,  segundo Vasconcelos  (2002)  corresponde  àobra do 
Hipódromo da Gávea no Rio de  Janeiro em 1926. Elementos pré‐moldados 
foram utilizados nas fundações e no muro que contorna o perímetro da área 
reservada  do  hipódromo.  Ao  final  da  década  de  50,  são  elaborados  os 
primeiros  projetos  pontuais  em  estrutura  pré‐moldada  e  são  executados 
vários  galpões  com  elementos  pré‐moldados  em  canteiro  de  obras  da 
construtora Mauá em São Paulo. 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
9 
É  no  início  da  década  de  60  que  se  inicia  de  fato  a  preocupação  com  a 
racionalização  e  industrialização  propriamente  dita  no  Brasil,  quando  são 
feitas  as  primeiras  experiências  com  componentes  pré‐fabricados  leves. 
Nesse  período  são  exemplos  os  painéis  artesanais  de  concreto  de  Carlos 
Milan, os painéis de  fibrocimento  e os aglomerados de  raspas de madeira 
(SERRA et al, 2005). Segundo Vasconcelos (2002), nesse período destacou‐se 
a  obra  industrial  do Curtume  Franco  Brasileiro,  em  Barueri,  que  utilizou 
concreto pré‐moldado em canteiro na execução dos pavilhões da fábrica. 
Outro  importante marco  foi em 1962, em que  foram utilizadas placas pré‐
moldadas  e  vigas  pré‐moldadas  protendidas  nos  prédios  de  escritórios  e 
almoxarifados,  do  Setor  Norte  do  Campus  da  Universidade  de  Brasília, 
projetado  pelo  arquiteto  Oscar  Niemeyer.  O  processo  de  fabricação  dos 
elementos  pré‐moldados  em  canteiro  foi  filmado  nessa  obra,  o  que  se 
constitui  num  importante  documentário  sobre  o  tema  (VASCONCELOS, 
2002).  
Outro  marco  importante  corresponde  à  utilização  de  pré‐fabricados  em 
estrutura  reticulada,  em  1964,  na  construção  do  Conjunto  Residencial  da 
Universidade  de  São  Paulo  (CRUSP)  para  abrigar  estudantes  de  outras 
cidades. Nessa obra foram construídos 12 prédios com 12 pavimentos cada 
utilizando de estrutura reticulada. Elementos pré‐moldados foram utilizados 
em sistemas estruturais inovadores para a época, constituindo doze edifícios 
de doze pavimentos, projetados pelo Fundo de Construção da Universidade 
de São Paulo (FUNDUSP). 
Em  1996  é  criado  pelo  governo  brasileiro  o  BNH  (Banco  Nacional  da 
Habitação)  com  a  finalidade  de  diminuir  o  déficit  habitacional  no  país 
impulsionando o setor da construção civil. Inicialmente adotou uma postura 
de incentivo ao emprego maciço de mão de obra não qualificada no canteiro 
de obras. Na metade da década de 70, o BNH muda a sua postura, adotando 
estímulos  tímidos  à  pré‐fabricação  em  concreto.  Segundo  Oliveira  apud 
Serra  et  al  (2005)  o  BNH  e  seus  agentes  patrocinam  a  pesquisa  e  o 
desenvolvimento  de  alguns  processosconstrutivos  a  base  de  componentes 
pré‐fabricados e organizam a instalação de canteiros experimentais na Bahia 
e em São Paulo, mas  infelizmente não obedecem às normas de qualidade e 
de  padronização.  A  construção  destes  edifícios  apresentou  muitos 
problemas patológicos  e de ordemfuncional, acrescendo  em muito o  custo 
da sua manutenção e, por isso, alguns tiveram até que ser demolidos. 
Nos  anos  70,  com  o  início  do  chamado  ʺMilagre  Brasileiro”,  o  Brasil  era 
considerado  como  o  país  do  futuro  e  o  investimento  em  tecnologia 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
10 
promoveu  a  ampliação  das  possibilidades  de  aplicações  do  concreto  pré‐
moldado.  
Assim, efetivamente no  início dos anos 1980, a pré‐fabricação começa a  ter 
maior  visibilidade  na  execução  de  obras  industriais  e  especialmente  em 
obras de empresas multinacionais, as quaisjá vinham adotando esse sistema 
construtivo  para  suas  obras  fora  do  Brasil. Nessas  obras  já  se  adotavam 
conceitos  de  industrialização  e  de  alta  produtividade,  com  exigências 
rigorosas no controle de qualidade. Essas características também motivaram 
a continuidade do emprego do pré‐fabricado na construção civil, em obras 
das grandes redes de hipermercados no Brasil, no início da década de 1990, 
devido  também à rapidez construtiva requerida nessas obras, contribuindo 
sobremaneira para consolidação desse conceito.  
Se por um lado a execução de obras industriais e comerciais difundiu a pré‐
fabricação,  por  outro,  o  sistema  construtivo  com  pré‐fabricado  passou 
naquele  momento  a  ser  associado  a  obras  com  pouca  liberdade 
arquitetônica.  Esse paradigma foi quebrado no final da década de 1990 com 
a introdução de novas conceções arquitetônicas e de inovações tecnológicas, 
em que o projeto arquitetônico pode ser voltado às demandas específicas e 
às  particulares  da  estrutura  pré‐fabricada,  aproveitando‐se  de  maior 
eficiência  estrutural  que  pode  ser  alcançada,  ampliando  ainda  mais  o 
emprego dos sistemas estruturais pré‐fabricados.  
Mais  recentemente,  a  busca  por  estruturas  que  sejam  sustentáveis  e 
adaptáveis (como para mudanças de utilização ou renovação arquitetônica) 
vem aumentando o emprego das estruturas pré‐fabricadas.  
Atualmente  evidencia‐se  a  grande  aplicabilidade  da  pré‐fabricação  em 
concreto em obras  industriais, comerciais, habitacionais e de  infraestrutura 
(pontes, viadutos, passarelas, portos, aeroportos e na área de energia), além 
da vasta aplicação em complexos esportivos como estádios e arenas (Figura 
2.1). A  indústria brasileira está apta à  fornecer estruturas e elementos pré‐
fabricados que podem ser empregados da fundação à fachada de edificações 
em  geral,  com  desenvolvimento  tecnológico  compatível  a  empresas 
internacionais desse segmento. 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
11 
 
 
 
Figura 2.1  Estádio João Havelange em estrutura pré‐fabricada ‐ Rio de Janeiro/Brasil 
2.  Vantagens 
Apresentam‐se, a seguir, os conceitos elementares que estão envolvidos na 
conceção,  produção  e  montagem  de  estruturas  pré‐fabricadas  e  que  são 
considerados ao longo deste capítulo. São os seguintes:  
 Racionalização,  conjunto  de  ações  reformadoras  que  se  propõem  a 
substituir  práticas  rotineiras  convencionais  por  recursos  e  métodos 
baseados em raciocínio sistemático, visando a eliminar a casualidade das 
decisões (ROSSO,1980); 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
12 
 Industrialização, emprego de forma racional e mecanizada de materiais, 
meios  de  transportes  e  técnicas  construtivas  para  se  obter  maior 
produtividade; 
 Pré‐moldagem, processo de construçãoem que elementos estruturais ou 
parte  da  estrutura  de  uma  obra  são  moldados  fora  do  local  de  sua 
utilização definitiva; 
 Pré‐fabricação, processo de construção em que os elementos estruturais 
ou  parte  da  estrutura  de  uma  obra  são  moldados  em  instalações 
industriais. 
A  diferenciação  entre  as  definições  de  pré‐moldagem  e  de  pré‐fabricação 
tem como origem a ABNT NBR 9062:2006, em seus requisitos de elementos 
pré‐moldados  e  pré‐fabricados  (itens  3.10  e  3.11,  em  ordem), 
complementados  especialmente  pela  Seção  12  –  Controle  de  Execução  e 
Inspeção.  Adicionalmente,  as  prescrições  estabelecidas  na  ABNT  NBR 
14931:2004  e  ABNT  NBR  12655:2006  definem  condições  específicas  para 
elementos  pré‐fabricados: mão  de  obra  treinada  e  especializada,  concreto 
com desvio padrão máximo de 3,5 MPa (exceto para aqueles de consistência 
nula),  adoção  de máquinas  e  equipamentos  industriais,  processo  de  cura 
com temperatura controlada e controle tecnológico com inspeção vinculada 
a um processo de identificação e rastreabilidade dos produtos.  
O  fato de  que  os  elementos pré‐fabricados  sejam  submetidos  a  exigências 
mais rigorosas de execução e de controle não  indica necessariamente que a 
qualidade dos elementos pré‐moldados (em canteiro de obras) seja inferior a 
esses  elementos.  Em  ambas  condições  os  elementos  devem  atender  aos 
requisitos  previstos  na  normalização  aplicável  e  apresentar  conformidade 
com os projetos. A  indústria, por  se  tratar de uma  instalação permanente, 
para  ser qualificada  como  tal, deve manter o processo  sob  controle, o que 
envolve  a utilização de métodos padronizados, máquinas  e  equipamentos 
definidos, mão  de  obra  capacitada,  instrumentos  de medição,  inspeção  e 
ensaios aferidos, matérias‐primas selecionadas e com desempenho avaliado 
em  intervalos  estabelecidos.  Observadas  essas  diretrizes,  é  possível 
assegurar a qualidade requerida. 
Os  conceitos de  racionalização e de  industrialização, portanto, apresentam 
interface com a estrutura pré‐moldada e pré‐fabricada. É possível que uma 
indústria de pré‐fabricados não demonstre um processo racionalizado e que 
um  canteiro  de  produção  de  elementos  pré‐moldados  possa  ser 
extremamente  racionalizado.  Isso pode  ocorrer  se  a  indústria  não  atender 
aos requisitos normativos  (ABNT NBR 9062:2006  ‐  itens 12.1.2.1 a 12.1.2.5), 
enquanto  o  canteiro  atende  a  todos  os  critérios  de  conformidade  para  os 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
13 
elementos produzidos. No entanto, o processo industrial pode proporcionar 
maior racionalização da construção por ser mais viável, nessas condições, a 
implementação  gradativa  de  mecanização,  capacitação  e  comprovação 
experimental das resistências e padrões requeridos, o que pode resultar em 
maior economia, maior controle de qualidade e maior sustentabilidade.  
Em  relação  às  limitações para  adoção da pré‐fabricação no Brasil, pode‐se 
ressaltar  que  essas  limitações  não  estariam  correlacionadas  ao 
desenvolvimento  tecnológico  da  indústria.  A  indústria  nacional  tem 
investido  fortemente  na  adoção  de  tecnologias  compatíveis  com  as 
tendências  internacionais,  na  ampliação  da  capacidade  produtiva  de  suas 
instalações,  bem  como  nos  programas  de  qualidade,  produtividade, 
segurança  e  meio  ambiente.  As  barreiras  que  a  pré‐fabricação  brasileira 
ainda precisa vencer dizem  respeito a  aspetos  tributários, pois  é  tributada 
como  indústria,  diferentemente  do  que  ocorre  em  países  desenvolvidos. 
Além disso se devem também à falta de mecanização dos canteiros de obras, 
que já vem sendo revertida, com a escassez de mão de obra, bem como existe 
ainda a necessidade de difundir a cultura de pré‐fabricação em vários níveis, 
envolvendo  o meio  acadêmico,  técnico  e  governamental,  como  os  órgãos 
públicos ligados aos processos de licitação, entre outros. 
2.4.  A pré‐fabricação em concreto e a 
sustentabilidade 
Assim como para as demais estruturas de concreto, a pegada de carbono que 
está  associada  às  estruturas  pré‐fabricadas  deve  ser  considerada  em  duas 
perspetivas.  A  primeira  se  refere  desde  a  quantidade  de  energia  e  de 
carbono  envolvidos  até  a montagem  da  estrutura  e  demais  acabamentos 
para o término da obra no local, a qual está ligada com qualquer tratamento 
futuro para atingir a estética ou a manutenção requeridas pelos produtos ao 
longo da vida útil da estrutura. O segundo aspeto, mais significativo, refere‐
se a como o produto contribui para a eficiência energética da edificação ou 
do  projeto  como  um  todo.  Dessa  forma,  os  aspetos  de  sustentabilidade 
considerado na análise de estruturas em concreto em geral, valem  também 
para  as  estruturas  pré‐fabricadas,  porém  nesse  tipo  de  estrutura  pode‐se 
alcançar mais  facilmente  os  requisitos de  estruturas  sustentáveis devido  à 
maior racionalização da construção, que se dá por meio de: 
 economia das jazidas naturais; 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
14 
 minimização da produção de resíduos; 
 utilização  de  materiais  locais  e  aproveitamento  da  reciclagem  de 
materiais; 
 racionalização da obra; 
 preservação do patrimônio devido à  flexibilidade e adaptabilidade das 
edificações pré‐fabricadas e à redução de custos em manutenção e maior 
longevidade. 
A racionalização da construção, por sua vez, permite também a utilização de 
concretos  que  são  por  si  só  de  elevada  eficiência  energética,  ou  seja,  o 
consumo  de  cimento  é  minimizado  na  produção  dos  elementos  pré‐
moldados  com  relação  à  resistência  característica  do  concreto  produzido 
(consumo  de  cimento  em  kg  /  resistência  em MPa),  devido  aos  aspetos 
anteriores  e  também  à  utilização  mais  frequente  de  concreto  de  alta 
resistência, ou de alto desempenho, ou de concreto autoadensável.  
O  emprego  de  concretos  com  alta  resistência  mecânica  e  com  elevada 
durabilidade  (concreto de alto desempenho) pode  contribuir  sobremaneira 
para a sustentabilidade. Segundo Helene (2007)3  , ao aumentar a resistência 
dos  concretos,  é  possível  reduzir  as dimensões  dos  elementos  estruturais, 
principalmente os comprimidos, reduzindo os volumes  finais de materiais. 
Já o emprego de concretos autoadensáveis  tem sido ainda mais viabilizado 
nos  processos  industriais  de  produção  de  elementos  pré‐moldados  e  pré‐
fabricados  e  promove  a  produção  de  estruturas  ainda mais  sustentáveis. 
Além disso, permite maior eficiência produtiva das fábricas, viabiliza turnos 
noturnos de produção com menos ruídos, maior economia de formas (pelo 
menor  desgaste  das  mesmas  com  a  exclusão  da  etapa  de  vibração  do 
concreto), menor desgaste de equipamentos, da mão de obra empregada e 
da respetiva saúde dos trabalhadores.  
O  emprego  de  pré‐moldados  em  projetos  sustentáveis  pode  também 
proporcionar  maior  eficiência  energética  de  edificações,  tais  como  as 
relacionadas  ao  desempenho  térmico,  acústico  e  de  armazenamento  e 
aproveitamento  de  águas  pluviais.  Podem  ser  empregados  painéis  e  lajes 
pré‐moldadas para fins de isolamentos e passagem de tubulações, bem como 
em projetos de sistemas integrados – como mostrado em fib (CEB‐FIP, 2003) 
e SCHOKKER (2010).  
 
3 Em palestra realizada pelo autor no 49o Congresso Brasileiro do Concreto (IBRACON), em 
Bento Gonçalves, sobre Concreto e Sustentabilidade. 
 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
15 
Dentre  os  benefícios  mais  importantes  citados  por  SCHOKKER  (2010),destacam‐se: 
 a  possibilidade  de  reutilização  ou  reciclagem  dos  elementos  pré‐
moldados; 
 a  minimização  de  fôrmas  e  andaimes,  de  interferência  e  lixo  no 
ambiente, maximizando o controle de qualidade; 
 a otimização e muitas vezes a minimização das dimensões das seções e 
dos materiais utilizados com o emprego do concreto protendido; 
 as  melhorias  no  conforto  térmico  e  na  eficiência  energética, 
maximizando a reflexão solar e a inércia térmica da edificação ; 
 a possibilidade de melhoria da qualidade do ar  interno,  reduzindo ou 
eliminando os compostos orgânicos voláteis (VOCs)4 ; 
 o controle da planta de produção, que pode aumentar significativamente 
a vida útil da estrutura em até 100 anos; 
 a possibilidade de minimizar a infiltração de ar e umidade por meio do 
emprego de painéis pré‐fabricados de concreto e também de controlar as 
ações de  resfriamento  e  aquecimento na  estrutura pela  inércia  térmica 
dos elementos de concreto; 
 a  resiliência,  ou  poder  de  recuperação  da  estrutura,  particularmente 
contra  ataques  terroristas  e  desastres  naturais,  tais  como  incêndios, 
furacões, tornados e enchentes (mudanças climáticas). 
Assim,  quando  se  tem  um  controle  de  qualidade  e  rastreabilidade  do 
processo  aliado  ao uso do desenvolvimento  tecnológico,  como o  ambiente 
industrial  propícia,  passa  a  ser  possível  racionalizar  com  maior  eficácia. 
Havendo maior compatibilidade entre projeto e produção, com a adoção de 
concretos de alto desempenho e autoadensável, é possível otimizar a seção 
dos  elementos,  utilizar  concreto  protendido  em  alguns  produtos  e, 
consequentemente, poupar as  jazidas naturais. Isso também é possível pela 
adoção e incorporação de materiais recicláveis cujo controle também é maior 
 
4 VOCs  (Volatileorganiccompounds, ou compostos orgânicos voláteis) degradam a qualidade 
do ar interno devido à liberação de gases que são provenientes de novos produtos (como de 
acabamentos  internos,  carpetes,  móveis  e  os  resultantes  de madeira  manufaturada  como 
laminados e MDF). Combinam‐se com outros produtos manufaturados químicos presentes no 
ar  e  formam  camada  de  ozônio  no  pavimento.  Pisos  polidos  de  concreto  não  requerem 
revestimentos  como  o  carpete  e  outros,  assim  como  paredes  de  concreto  não  requerem 
acabamentos de outros materiais, os quaisapresentem esses compostos, podendo‐se optar por 
outros materiais de baixo nível de VOCs  como selantes, impermeabilizantes e outros. 
 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
16 
na indústria. Com qualidade garantida, a vida útil das estruturas também é 
assegurada. A adoção de tecnologia avançada requer maior qualificação da 
mão  de  obra  e,  por  isso,  as  indústrias  investem  em  capacitação  de  seus 
funcionários  (escolaridade  e  treinamentos),  que  envolve  as  temáticas  de 
cultura, de segurança e de consciência ambiental. Enfim é um ciclo virtuoso, 
especialmente nas empresas detentoras do Selo Excelência ABCIC, que em 
síntese, é um mecanismo de controle, medição e de progressão do sistema da 
qualidade  nas  empresas  de  sistemas  pré‐fabricados  que  participam  desse 
programa  desenvolvido  pela  ABCIC  (Associação  Brasileira  da 
Industrialização  da  Construção  Civil),  em  consonância  com  as  normas 
técnicas vigentes.  
2.5.  Normalização  
2.5.1.  Contexto geral da normalização de estruturas de 
concreto 
A  normalização  técnica  tem  como  princípio  registrar  o  conhecimento 
adquirido  e  aprovado  por  consenso,  voluntariamente,  sobre  um 
determinado  tema,  de  forma  a  trazer  benefícios  para  a  sociedade 
(BATTAGIN,  2011).  Esses  benefícios  podem  ser  traduzidos  em  segurança 
(como no caso das estruturas), podem ser materiais (caso do estabelecimento 
de  saudáveis  ambientes  de  concorrência  comercial)  ou  simplesmente,  na 
facilidade de entendimento entre partes.  
A hierarquia da normalização brasileira de estruturas de concretotem como 
base  o  atendimento  a  documentos  gerais  que  regem  a  construção  de 
estruturas  civis, elaboradas  com qualquer material, para uma determinada 
tipologia de obra. São as normas de ações e segurança e correlatas, para as 
obras  de  edificações,  por  exemplo.  A  normalização  de  estruturas  pré‐
moldadas de concreto, por sua vez, segue as regras estabelecidas nas normas 
de  concreto  (em  âmbito  geral),  na  norma  específica  elaborada  para  as 
estruturas  pré‐moldadas  (ABNT  NBR  9062)  e  nas  demais  normas  de 
produtos (como a norma de Lajes Alveolares de Estruturas de Concreto Pré‐
Moldadas). 
A Figura 2.2 ilustra a hierarquia da normalização brasileira de estruturas de 
concreto onde  se  insere a norma de  estruturas de  concreto pré‐moldado  e 
sintetiza  a  atual  condição  das  normas  para  estruturas  de  edificações 
correntes.  
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
17 
 
 Figura 2.2  Hierarquia da normalização brasileira de concreto para estruturas de edifícios 
(Fonte: Battagin, 2011) 
 
 
ABNT NBR 14432 – Exigências de resistência ao 
fogo de elementos construtivos de edificações 
ABNT NBR 6118 
Projeto de estruturas de 
concreto
ABNT NBR 12655 
Concreto de cimento 
Portland – Preparo, 
controle e recebimento
Especificações de cimento (8 Normas) 
ABNT NBR 7211 – Agregados para concreto 
ABNT NBR 11768 – Aditivos para concreto 
ABNT NBR 13956 – Sílica ativa para uso em 
cimento Portland, concreto, argamassa e pasta 
ABNT NBR 15894 – Metacaulim para uso com 
cimento em concreto, argamassa e pasta 
ABNT NBR 14931 
Execução de estruturas de concreto 
ABNT NBR 7212 – Concreto 
dosado em central 
ABNT NBR 15900 – Água para amassamento do 
concreto
ABNT NBR 15200 – Projeto de 
estruturas de concreto em situação 
de Incêndio 
Ensaios de concreto fresco 
Ensaios de concreto endurecido 
ABNT 15696 – Formas e 
escoramentos para estruturas 
deconcreto
ABNT NBR 8953 – Classificação do 
concreto por grupos de resistência, 
massa específica e consistência
Normas de aço e outros insumos 
ABNT NBR 15873 – Coordenação modular para 
edificações 
ABNT NBR 15575 – Edifícios habitacionais de até 
cinco pavimentos – Desempenho
ABNT NBR 6122 – Projeto e execução 
de fundações
ABNT NBR 8681 – Ações e segurança nas 
estruturas 
ABNT NBR 6120 – Cargas para o cálculo de 
estruturas de edificações 
ABNT NBR 15421 – Projeto de estruturas 
resistentes a sismos 
ABNT NBR 6123 – Forças devidas ao vento em 
difi õ
Ensaios de cimento 
Ensaios de agregados ABNT NBR 15577 
Ensaios de aditivos 
ABNT NBR 15823 – Concreto 
autoadensavel 
Ensaios de sílicaativa 
Ensaios de 
Ensaios de aguaEnsaios 
ABNT NBR 9062 
Projeto e execução de estruturas pré-
moldadas de concreto
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
18 
 
Pode‐se observar na Figura 2.2 as demais normas relacionadas que servem a 
todos os  tipos de estruturas  (concreto, madeira, aço, etc)  indicadas  com as 
bordas azuis tracejadas. Na Figura 2.3 mostra‐se em detalhe onde se inserem 
as normas específicas de produtos pré‐moldados já existentes, em elaboração 
e planejamento. Além dessas, existem outras normas relacionadas à artefatos 
de concreto pré‐moldado, bem como demais normas de referência (como de 
métodos de ensaios e procedimentos laboratoriais válidos para estruturas de 
concreto  em  geral)  que  não  estão  incluídas  nesse  organograma  por 
simplificação. 
No  contexto  internacional,  normas  específicas  e  manuais  aplicados  aos 
sistemas  e  produtos  pré‐fabricados  têm  sido  publicados  e  revisados 
constantemente,  envolvendo  representantes  do meio  acadêmico  e  da  área 
tecnológica.  Têm  direcionado  o  desenvolvimento  de  normas  técnicas  no 
âmbitodo CEN (EuropeanCommittee for Standardization) e demais órgãos 
internacionais  de  normalização.  Assim,  para  a  complementação  da 
normalização de  estruturas pré‐moldadas  também podem  ser  consultados 
os  manuais  do  PCI  (Precast/Prestressed  Concrete  Institute)  e  da  fib 
(CEB‐FIP) (Fédération Internationale du Béton) relacionados aos temas. 
 
Figura 2.3  Hierarquia da normalização brasileira de estruturas de concreto pré‐moldadas 
 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
19 
2.5.2. Normas de estruturas de concreto pré‐moldadas 
no Brasil 
A partir da publicação da  revisão da norma de  estruturas de  concreto  foi 
iniciado  o  processo  de  revisão  da  norma  de  estruturas  de  concreto 
pré‐moldadas, que por  sua vez  é  a norma de  referência para  os produtos 
pré‐moldados já existentes ou em elaboração. Assim, em 2006 foi publicada a 
revisão  da  norma  Projeto  e  Execução  de  Estruturas  de  Concreto  Pré‐
moldado  (ABNT NBR 9062:2006), com as atualizações  frente às prescrições 
da norma Projeto de Estruturas de Concreto  (ABNT NBR  6118:2003), bem 
como às tendências internacionais de normalização e inovações tecnológicas 
na  área  de  estruturas  pré‐moldadas.  Para  isso,  foram  utilizados  como 
referência  as  normas  e  manuais  internacionais  citados  anteriormente  e 
também o Selo de Excelência ABCIC  (Associação Brasileira da Construção 
Industrializada de Concreto) dentro do contexto da ABNT NBR 9062. O Selo 
foi um importante material de consulta uma vez que seu conteúdo  já havia 
sido  discutido  e  consensado  por  diversos  fabricantes  de  produtos  pré‐
moldados em Comitês de estudo específicos da ABCIC. 
A  atual ABNT NBR9062  trouxe  especificações  importantes para  estruturas 
pré‐moldadas  e  pré‐fabricadas,  do  projeto  à  produção,  em  queseus 
elementos  também  podem  ser  projetados  tendo  como  base  ensaios  de 
comprovação  experimental.  Merecem  destaque  nesta  norma  os  aspetos 
relacionados à estruturas e produtos pré‐moldados: 
 Classificação  dos  elementos  em  pré‐moldados  e  pré‐fabricados  (com 
maior detalhamento ao longo do corpo da noma) 
 Estabilidade global de estruturas pré‐moldadas 
 Tolerâncias de fabricação 
 Projeto acompanhado por verificação experimental 
 Limites de deslocabilidade em condições de serviço 
 Dimensionamento e detalhamento de elementos 
 Durabilidade: cobrimento das armaduras 
 Aspetos de segurança das estruturas 
 Atualização  das  referências  normativas,  destacando‐se  aquelas 
relacionadas a ações provenientes de sismo e incêndio, entre outras. 
No  entanto,  o  detalhamento  atribuído  a  alguns  produtos  específicos  pré‐
moldados  não  foi  tratado  na  última  versão  da  ABNT  NBR  9062. 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
20 
Recentemente,  no  âmbito  do  Comitê  Brasileiro  de  Cimento,  Concreto  e 
Agregados  (ABNT/CB‐18),  foi  criada  a  Comissão  de  Estudos  de  Lajes  e 
Painéis Alveolares de Estruturas de Concreto Pré‐fabricadas  (CE‐18:600.19) 
que  tem como principal objetivo a normalização desses dois produtos pré‐
fabricados. Inicialmente essa Comissão trabalhou na elaboração e publicação 
da norma de Lajes Alveolares Pré‐moldadas de Concreto Protendido (ABNT 
NBR14861, publicada em outubro de 2011).  
Essa  norma  tem  em  seu  escopo  prescrições  importantes  que  seguem  as 
diretrizes internacionais de normalização, mas também os aspetos técnicos e 
construtivos da  cultura de  engenharia  brasileira,  já que  as  lajes  alveolares 
são produtos muito difundidos na  construção  civil do país,  em diferentes 
sistemas construtivos adotados, tais como nas estruturas pré‐fabricadas, pré‐
moldadas, mistas e híbridas.Essa Comissão de Estudos tomou como base as 
diretrizes da EN  1168  (Precast Concrete Products–Hollow Core Slabs),  em 
sua  última  versão  de  2005,  que  é  referenciada  pelo  Eurocode2  para  as 
especificações do produto  laje alveolar. No contexto  internacional,  também 
foram utilizados os manuais do fib (CEB‐FIP) e PCI, bem como o manual de 
lajes alveolares ASSAP (Association of Manufacturers of Prestressed Hollow 
Core Floors).  
No  contexto  nacional,  a  Comissão  adotou  como  referência  as  diversas 
publicações  do  setor  como  aquelas  provenientes  de  consenso  interno  da 
ABCIC  (como  o  Selo  de  Excelência)  e  do  NETPRE/UFSCar  (Núcleo  de 
Estudos de Estruturas Pré‐Moldadas de Concreto, da Universidade Federal 
de  São  Carlos),  entre  outros.  Foram  utilizadas  publicações  e  resultados 
experimentais de estudos realizados em parceria entre o NETPRE/UFSCar e 
fabricantes  de  lajes  alveolares  (Figura  2.4),  que  forneceram  indicativos 
importantes do comportamento desses elementos no Brasil.  
 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
21 
 
Figura 2.4  Ensaio de cisalhamento de lajes alveolares protendidas pré‐fabricadas em 
instalações de fábrica com parceria do meio acadêmico. 
Embora as lajes alveolares já tenham sido muito estudadas pela comunidade 
internacional  sob  diversos  aspetos  (comportamento  estrutural  à  flexão,  ao 
cisalhamento, ao fogo e a solicitações dinâmicas, por exemplo), a Comissão 
considerou  que  as  mesmas  devem  ser  analisadas  à  luz  da  cultura  de 
utilização  das  lajes  alveolares  nas  obras  brasileiras,  onde  os  projetos 
apresentam  condições  particulares  em  relação  aos  projeto  usuais  norte‐
americanos e europeus.  
A norma ABNT NBR 14861:2011 prevê em seu texto tópicos importantes de 
definições, como da laje alveolar propriamente dita, da capa estrutural e do 
capeamento,  das  chavetas  e  do  chaveteamento,  entre  outros.  Em  seguida, 
são  abordadas  prescrições  de  projeto  das  seções  transversais  de  lajes 
alveolares  (como  o  comportamento  à  flexão  e  ao  cisalhamento)  e  dos 
sistemas  estruturais  formados  pelas  lajes  alveolares  (comportamento  dos 
sistemas  de  pisos  com  continuidade  e  efeito  diafragma,  entre  outros), 
considerando  as  condições  especiais  de  carregamento  que  podem  estar 
submetidos os elementos e os sistemas de pisos.   Além disso,  são  também 
abordados aspetos de fabricação, montagem e solidarização dos sistemas de 
pisos  em  obra,  além  de  controle  de  qualidade  desde  a  fabricação  até  a 
finalização  propriamente  dita  dos  sistemas  de  pisos  formados  pelas  lajes 
alveolares.  Para  isto,  a  presente  norma  aborda  em  capítulo  exclusivo  os 
assuntos relacionados ao Capeamento Estrutural, com definição pioneira em 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
22 
normas  técnicas  brasileiras,  incluindo  também  atribuições  de 
responsabilidades, entre outros.  
Para a realização desse  trabalho, a Comissão contou com a participação da 
ABCIC, especialmente na coordenação dos trabalhos do Grupo 1 (Materiais, 
Produto  e  Produção),  com  o NETPRE,  na  coordenação  dos  trabalhos  do 
Grupo  2  (Dimensionamento de  seções  transversais de  lajes  alveolares pré‐
fabricadas  e Verificações de projeto)  e  com o apoio de  fabricantes de  lajes 
alveolares, por meio de representante do setor na coordenação do Grupo 3 
(Dimensionamento  de  sistemas  estruturais  e  Critérios  de  projeto)  e  da 
própria Comissão de Norma. Também contou com o apoio da ABECE e de 
diversas  empresas  de  projeto  de  estruturas  pré‐moldadas,  dentre  outros 
membros participantes. Além  disso,  foi  muito  importante  a  troca  de 
informações ao  longo do processo ocorridas entre as  comissões da  fib  (em 
especial  fib  Comission  6  on  prefabrication)  e  PCI  por  intermédio  dos 
representantes brasileiros da ABCIC nessas comissões. 
Maiores  informações sobre esse projeto de norma,tais como sobre a  forma 
de  trabalho,  principais  assuntos,  membros  envolvidos  e  documentos  de 
referência podem ser encontradas em Gutstein et al. (2010). 
2.5.3. Outras normas relacionadas relevantes  
A  norma  ABNT  NBR  15200:2004  –  Projeto  de  Estruturas  de  Concreto 
submetidas a  Incêndio, está atualmente em  fase  final de revisão no âmbito 
do  CB‐2/ABNT.  Dentre  os  seus  principais  aspetos,  merece  destaque  a 
inserção de prescrições específicas para estruturas ou elementos estruturais 
pré‐moldados  ou  pré‐fabricados  de  concretono  escopo  da  norma.  Desta 
forma,  o  atual  Projeto ABNT NBR  15200  permite  que  normas  específicas 
possam  ser  consultadas  para  esses  elementos  e  na  ausência  de  normas 
brasileiras  específicas  aplicam‐se  as  recomendações  dessa  norma  (Projeto 
ABNT  NBR15200).  Esse  projeto  também  prevê  que  ʺpara  situações  não 
cobertas por esta Norma ou cobertas de maneira simplificada, o responsável 
técnico  pelo  projeto  pode  usar  procedimentos  aceitos  pela  comunidade 
tecnocientíficaou  normas  internacionais  que  foram  aplicáveis,  desde  que 
demonstrado o atendimento ao nível desegurança previsto por esta Normaʺ. 
(Projeto ABNT NBR 15200: outubro de 2011). 
Dessa maneira  as  comissões de  normas  tem  um  trabalho  importante  pela 
frente que passa pela discussão dos aspetos de  incêndio para as estruturas 
pré‐moldadas,  considerando  novamente  as  particularidades  de  aplicação 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
23 
dessas estruturas nos projetos e obras brasileiras, além das particularidades 
dos sistemas e produtos pré‐moldados com relação às estruturas de concreto 
moldadas in locu. O avanço do Projeto de norma ABNT NBR 15200 consiste 
no fato em que estes assuntos serão tratados sob a condução e participação 
maior  de  especialistas  do  setor  de  pré‐moldados,  além  dos  demais 
especialistas  que  normalmente  contribuem  para  a  norma  de  projeto  de 
incêndio de estruturas de concreto. Assim, o planejamento dos trabalhos das 
comissões de estudo responsáveis por essa tarefa terá como enfoque garantir 
o  tempo  e  recursos  necessários  para  analisar  e  discutir  os  aspetos 
particulares  da  estrutura  pré‐moldada  quando  submetida  ao  incêndio.  O 
projeto de revisão da ABNT NBR 15200 poderá estar aprovado no primeiro 
trimestre de 2012. 
Recentemente  também  foi  iniciada  no  âmbito  da  ABNT  a  elaboração  da 
norma de estacas pré‐moldadas, que  são muito empregadas na construção 
civil brasileira. Essa norma  tem como objetivo atualizar e complementar as 
prescrições desses elementos que até o presente momento constam somente 
na ABNT NBR 9062 e no anexo da ABNT NBR 6122 ‐ Projeto e execução de 
fundações, na sua última versão publicada em 2010. 
Além  das  normas  citadas,  demais  normas  relacionadas  à  estruturas  de 
concreto  e  estruturas pré‐moldadas  são  apresentadas  em Battagin  (2011)  e 
demais referências.   
2.6.  Aplicações da pré‐fabricação no Brasil 
As  soluções  estruturais  mais  comumente  adotadas  pela  construção  pré‐
fabricada  brasileira  são  aquelas  que  empregam  sistemas 
estruturaisaporticados,  em  esqueleto  e  de  painéis  portantes,  que,  por  sua 
vez,  podem  estar  associados  aos  sistemas  pré‐fabricados  depisos  e  de 
fachadas,  ou  entre  si. Além  disso,  os  pré‐fabricados  também  tem  grande 
aplicação no Brasil em estruturas mistas e híbridas, onde a estrutura de uma 
determinada  obra  é  composta  pela  associação  da  estrutura  de  concreto 
pré‐fabricada com estrutura metálica, no primeiro caso e com estrutura de 
concreto moldado  in  locu,  no  segundo. A  escolha dentre  as  opções  se dá 
durante a conceção de projeto arquitetônico, em conjunto com o projetista da 
estrutura e o responsável pela execução da obra, considerando os aspetos de 
logística  (produção,  transporte, montagem  da  estrutura,  além  da mão‐de‐
obrae  equipamentos  requeridos),  gerenciamento  e  planejamento  da  obra. 
Além  disso,  a  tradição  e  a  experiência  dos  responsáveis  e  empresas 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
24 
envolvidos  em  cada  empreendimento  (know‐how)  influenciam 
indiretamente na escolha do sistema estrutural a ser utilizado.   
No  projeto  de  estrutura  pré‐fabricada  de  uma  forma  geral  valem  as 
prescrições das normas  técnicas vigentes, como aquelas discutidas no  item 
anterior.  Merecem  atenção  as  verificações  de  projeto  das  situações 
transitórias, onde  se deve  levar em  conta as  tolerâncias de  fabricação e de 
montagem  dos  elementos.  Consideram‐se  como  situações  transitórias  as 
etapas intermediárias entre a produção e a montagem efetiva dos elementos 
após  a  execução  das  ligações  (desmoldagem, movimentação,  transporte  e 
montagem). Também devem ser previstas acomodações das ligações até que 
atinjam sua capacidade resistente de projeto.   Nesse  item  apresentam‐se 
aplicações  de  estruturas  pré‐fabricadas  em  algumas  obras 
brasileirasimportantes,  assim  como  os  principais  conceitos  que  estão 
envolvidosnos sistemas estruturais apresentados.Demais aspetos de projeto 
e produção de estruturas e elementos pré‐fabricados podem ser encontrados 
em Doniak e Gutstein (2011). 
2.6.1 Sistemas aporticados 
São  formados  por  pórticos  planos,  compostos  por  pilares  e  vigas  de 
fechamento  (Figura  2.5).  São  usualmente  denominados  no  Brasil  por 
galpões,  onde  são  comuns  os  galpões  utilizados  para  fins  industriais,  de 
instalações  comercias  (como  centros  de  distribuição  e  condomínios 
logísticos) e de agronegócio (Figura 2.6).  
   
Figura 2.5  Sistemas aporticados, sendo (a) galpão industrial com ventilação e iluminação 
natural ‐ Plenitude Design em Arujá e (b) condomínio logístico Marco Boni em 
Cotia, SP. 
(a) (b) 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
25 
 
 
 
Figura 2.6  Sistemas aporticados ‐ Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados, em Laranjeiras, 
SE, sendo (a) transporte devigas pré‐moldadas de grande comprimento ‐ 
situação transitória de projeto e (b) obra da área de armazenamento. 
O condomínio logístico Marco Boni (Figura 2.5‐b) utiliza o pré‐fabricado de 
concreto  com  um  planejamento  de  arquitetura  voltado  para  o  conforto 
ambiental e menor consumo de energia, tais como, sistema de cobertura com 
telhas  zipadas, paredes ventiladas,  aberturas  laterais  com venezianas para 
ventilação,  iluminação  natural  e  duto  interno  para  entrada  de  iluminação 
zenital. Os galpões de  condomínios  logísticos  e obras  industriais  têm  tido 
aplicação  crescente  no  Brasil,  onde  em  recente  pesquisa  conduzida  pelo 
setor, compõem os dois primeiros lugares no ranking. 
2.6.2 Sistema esqueleto 
O sistema esqueleto é  formado por pilares, vigas e  lajes. Apresenta grande 
flexibilidade  sob  o  aspeto  arquitetônico,  pois  possibilita  a  conceção  de 
estrutura com grandes vãos, que pode estar associada a diferentes sistemas 
de  fechamento. Pode ser aplicável em estruturas de apenas um pavimento, 
(a)
(b)
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
26 
de média altura (com até 20 pavimentos) ou de edifícios altos (acima de 20 
pavimentos)  como  edifícios  industriais  e  de  centros  comerciais  de  grande 
porte. 
Soluções  diferenciadas  para  edifícios  baixos  a  edifícios  altos  são  adotadas 
para  o  atendimento  dos  requisitos  de  estabilidade  global.  A  estabilidade 
global da  edificação  está  relacionadaà  altura  e  à  esbeltez da  edificação,  às 
ações  laterais  (vento  e desaprumo),  à  eficácia da  transmissão dos  esforços 
para as  fundações e à  limitação dos movimentos da estruturaem  todas as 
fases construtivas desde a montagem.  
 
 
Figura 2.7  Exemplos de sistema estrutural em esqueleto ‐ Boulevard Shopping e Estação de 
Integração Vilarinho ‐ Belo Horizonte, MG. 
 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
27 
Em  edifícios  altos,  tem  sido  comum  a  subdivisão  da  estrutura  em 
subestruturas de  contraventamento,  que  lhe  confere  rigidez  para  as  ações 
horizontais,  e  em  estrutura  contraventada,  que  transfere  os  esforços 
provenientes de ações horizontais para a anterior, por meio de ligações viga‐
pilar articuladas. Também podem ser projetados como pórtico espacial com 
ligações semi‐rígidas entre vigas e entre pilares, aliados a sistemas de pisos 
que absorvem e distribuem os esforços horizontais para os demais elementos 
por efeito diafragma. Este tipo de conceção estrutural é bastante adotado em 
estruturas  pré‐fabricadas  de  shopping  centers,  dentre  outros  (Figura  2.7). 
Nesse caso, os sistemas de piso devem ter rigidez no plano e detalhamento 
de  projeto  para  garantir  o  funcionamento  como  chapa.  Em  edifícios 
multipavimentos, a estrutura pode ser mais onerosa quanto maior o número 
de  ligações entre elementos que concorrem no mesmo nó, para atender aos 
requisitos de estabilidade global (Figura 2.7). 
No Brasil, há registro de estruturas integralmente pré‐moldadas construídas 
em  sistemas  estruturais  de  esqueleto,  como  o  Shopping  Boulevard  com  7 
pavimentos e com até dez andares, como o Shopping Via Brasil no Rio de 
Janeiro, RJ  (GUTSTEIN  et  al.,  2010).  Também  são  encontradas  edificações 
mais  altas  construídas  com  sistema  híbrido,  combinando  a  estrutura  pré‐
fabricada  com  elementos  de  concreto moldado  no  local,  como  o  Edifício 
Comercial Terra Firme em São José, SC (Figura 2.8). 
O  edifício  comercial  São  José  da  Terra  Firme  foi  planejado  com  lojas  no 
pavimento  térreo  e  dois  andares  de  garagens,  que  totalizam 
aproximadamente 24 mil m2, distribuídos em 14 pavimentos.   Nessa obra, 
utiliza‐se  o  sistema  estrutural  em  esqueleto  subdivido  em  estrutura 
contraventada e de contraventamento. O contraventamentoé conferido pelo 
núcleo rígido de elementos localizados na região da escada e nos elevadores 
e  pelo  efeito  diafragma  dos  pisos  compostos  por  lajes  alveolares 
solidarizadas com as vigas por meio de suas  ligações  laje‐viga e viga‐pilar 
edo capeamento estrutural. São utilizadas vigas protendidas pré‐moldadas 
apoiadas  em  pilares  de  concreto  moldado  no  local  com  resistência 
característica fck=30 MPa, mesma resistência especificada para as vigas e lajes 
alveolares  protendidas,  ambas  com  cordoalhas  aderentes  (sistema  de 
protensão por pré‐tração). Para a execução dos pilares utilizam‐se formas de 
madeira compensada e escoramento metálico. As vigas e lajes pré moldadas 
são  transportadas  até  a  obra  em  caminhões  trucks,  sem  necessidade  de 
adaptações, e na montagem do edifício é utilizado um guindaste  tipo grua 
com  capacidade  para  3  tf,  e  lança  de  30 m.  Os  pré‐moldados  são  então 
apoiados nos pilares através de armaduras de esperas, sem necessidade de 
escoramento.  Em  uma  segunda  etapa  de  concretagem  são  montadas  as 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
28 
fôrmas  e  concretadas  as  ligações.  Para  finalizar,  as  lajes  alveolares  são 
transportadas  por  dispositivos  especiais  (balancim  e  garras)  que  evitam 
fissuras longitudinais por esforço de flexão transversal não previsto. Depois 
são colocadas as armaduras complementares para as vigas e lajes e inicia‐se 
a  última  etapa  de  concretagem,  que  pode  ser  feita  de  duas  maneiras: 
primeiro é concretada a camada inicial de 15 cm e depois o capeamento de 
5cm, ou executa‐se uma concretagem única, onde viga e capa são cobertas 
em  uma  só  operação.  É  importante  destacar  que  as  peças  possuíam 
comprimento máximo de 8 m, e por esta razão o transporte com caminhões 
“trucks” foi realizado sem dificuldades, mesmo dentro de um centro urbano. 
De  acordo  com  os  especialistas  foram  grandes  as  vantagens  ao  adotar  o 
sistema misto  na  construção  desse  edifício:  grande  parte  da  logística  de 
concretagem  no  canteiro  foi  eliminada,  houve  melhor  adaptabilidade  de 
peças  e melhoria das  condições de  segurança. Também  se obteve  redução 
drástica  de  formas  e  escoramentos  e  menor  geração  de  resíduos.  A 
estimativa de  redução de custos em  relação a uma estrutura convencional, 
moldada  no  local,  é  de  ordem  de  20%.  Mas,  ao  adotar  esse  sistema  é 
imprescindível um efetivo planejamento ainda na fase de projetos. O tempo 
de projeto e desenvolvimento  foi significativamente maior do que o  tempo 
de  execução, mas  isto  se  refletiu  em  agilidade  de  operações,  e  resultados 
satisfatórios  nas  interfacesprojeto,  produção  e  montagem  de  maneira  a 
reduzir modificações no  canteiro. Outro aspeto destacado  foi a velocidade 
imprimida  aos  serviços  subseqüentes,  principalmente  instalações,  que  já 
nascem compatibilizadas. As passagens das tubulações foram concentradas 
em  shafts,  e quando necessário, as  furações nas vigas previstas no projeto 
foram executadas na fábrica durante a produção, inclusive as aberturas para 
instalação do ar condicionado nas vigas armadas de contorno.  
Outra  aplicação  do  sistema  em  esqueleto,  híbrido  com  elementos  pré‐
moldados  em  edifícios  altos  corresponde  ao  edifício  Pátio Dom  Luís,  em 
Recife no nordeste brasileiro (Figura 2.9). Esse empreendimento é composto 
por  um  shopping  com  5  níveis  e  4  torres.  São  2  níveis  de  garagens 
(subterrâneo), 3 níveis de lojas, a partir de onde nascem 2 torres comerciais 
com  20  pavimentos  e  2  residenciais  com  24  pavimentos,  totalizando 
56.000m2 de área construída.    
A estrutura dessa obra  também é  formada por vigas e  lajes pré‐fabricadas 
protendidas,  por  pilares  moldados  no  local  e  por  núcleo  rígido  de 
contraventamento  na  região  das  escadas  e  nos  elevadores.  As  sacadas 
também são pré‐fabricadas. 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
29 
 
 
Figura 2.8     Obra do Edifício Comercial Terra 
Firme em São José, SC, com 14 
pavimentos em sistema híbrido. 
Figura 2.9     Empreendimento Pátio 
Dom Luís em Fortaleza, 
CE, composta de vigas e 
lajes pré‐fabricadas 
protendidas e pilares 
moldados no local e torres 
de 24 e 20 pavimentos. 
 
Na Figura 2.10, apresenta‐se outro exemplo de edificação em esqueleto em 
estrutura pré‐fabricada (Figura 2.10‐a), cujos painéis de vedação da fachada 
são  fixados  nos  pilares  e  nas  vigas  da  fachada  em  fase  posterior  (Figura 
2.10‐b).  
 
 
Figura 2.10  Obra do edifício da Universidade Universo em Recife, PE – 12 pavimentos em 
estrutura pré‐fabricada. 
(a) (b) 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
30 
2.6.3 Painéis Portantes 
Nos  sistemas  estruturais  formados  por  painéis  portantes,  a  estrutura  é 
formada  por  painéis  verticais  portantes  localizados  nas  extremidades 
(fachadas), que servem de apoio para os sistemas de pisos. Como permitem 
que a estrutura tenha grandes vãos livres, a arquitetura tem disponibilidade 
para  criar  o  projeto  de  acordo  com  as  exigências  do  cliente,  utilizando 
divisórias  leves  para  definição  da  disposição  interna,  que  pode  ser 
facilmente  modificada  se  necessário.  Esses  sistemas  são  utilizados  em 
conjuntos habitacionais, escritórios, hospitais e escolas. 
A agilidade de construção é uma grande vantagem desse sistema, uma vez 
que os painéis externos portantes e de vedação substituem os elementos de 
vedação tradicionais,compostos de tijolos e blocos, minimizando também os 
desperdícios. O  edifício do  condomínio Piemonte  em Belo Horizonte, MG 
(Figura 2.11) foi construído em sistema pré‐moldado em canteiro, composto 
predominantemente por painéis estruturais de 2,8 m x 3,5 m apoiados em 
pré‐lajes. Os painéis possuem espessura de 10  cm e 12  cm para os painéis 
internos  e  externos,  em  ordem  e  peso  de  até  3,5  t  cada.  O  concreto  de 
capeamento  estrutural  e  de  solidarização  das  lajes  com  os  elementos  de 
apoio confere a rigidez e estabilidade global do conjunto, onde os esforços 
horizontais  e  verticais  da  edificação  são  transferidos  para  as  fundações 
moldadas  in  situ.  Cada  andar  do  edifício  foi montado  em  uma  semana, 
totalizando seis meses para o término da obra. 
 
Figura 2.11  Montagem de painéis em edifício residencial – Condomínio Piemonte ‐ Belo 
Horizonte, MG. 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
31 
2.6.4 Fachadas  
Fachadas  pré‐fabricadas  podem  ser  utilizadas  em  qualquer  tipo  de 
construção.Podem  ser  concebidas  com  elementos  de  painéis  verticais 
portantes  e/ou  com  painéis  arquitetônicos. Os  elementos  de  fachadas  que 
possuem  função estrutural  têm  também a  função de vedação e decorativa. 
Suportam  as  cargas  verticais  dos  pavimentos  e  dos  painéis  superiores  e 
dispensam uso de pilares nas bordas e de vigas de extremidade para apoio 
de  pisos,  como  apresentado  em  2.6.3,  podendo  ser  boa  alternativa 
econômica. Outravantagem da utilização de painéis estruturais consiste no 
fato de que a construção  fica protegida  internamente num estágio bastante 
inicial da obra. 
As  fachadas  arquitetônicas  de  concreto  são  geralmente  empregadas  em 
combinação com as estruturas de esqueleto (item 2.6.2), em que a estrutura 
interna é composta de pilares e vigas. Nesse caso os painéis não estruturais 
de fachadas possuem funções de fechamento e de acabamento e são fixados 
na estrutura, que pode ser de concreto pré‐moldado, concreto moldado no 
local ou metálica. 
 
 Figura 2.12 Edifício Plaza Iguatemi, em São Paulo, SP: (a) Fachada com elementos e painéis 
pré‐fabricados arquitetônicos; (b) Elemento arquitetônico pré‐fabricado que 
compõe o arco na entrada. 
(b)(a) 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
32 
As  fachadas  também  podem  ser  compostas  da  associação  de  painéis 
arquitetônicos  (estruturais  ou de  vedação)  bem  como  a demais  elementos 
arquitetônicos para conferir o acabamento final da estrutura. 
Os  elementos  arquitetônicos  de  concreto  pré‐fabricado  são  amplamente 
utilizados  nos  Estados  Unidos  e  na  Europa.  No  Brasil,  a  utilização 
especialmente  de  painéis  arquitetônicos  tem  crescido  nos  últimos  anos, 
podendo‐se citar obras  ícones como o edifício Plaza Iguatemi (Figura 2.12), 
na Av. Faria Lima em São Paulo, SP (ABCIC, 2008). 
2.6.4 Arquibancadas 
A aplicação da estrutura pré‐fabricada em estádios, arenas e passarelas tem 
sido cada vez maior e mais  importante nos projetos brasileiros recentes. ʺO 
Brasil se prepara para receber torcedores do mundo todo em 2014 com uma 
infraestrutura  de  estádios  compatível  com  a  fama  de  país  do  futebolʺ 
(ABCIC,  2011). A  tecnologia de  estrutura pré‐fabricada  está no  centro dos 
projetos  de  12  estádios  em  construção  ou  em  reformulação  dentro  dos 
preparativos  para  a  Copa.  A  estrutura  pré‐fabricada  é  importante  aliada 
nessas obras devido à importância da qualidade e velocidade de construção, 
bem  como  à  necessidade  de  minimização  dos  impactos  de  entorno  e 
atendimento aos requisitos de sustentabilidade.  
A  Figura  2.13  mostra  o  estádio  Governador  Magalhães  Pinto,  mais 
conhecido  como  Mineirão  em  fase  de  modernização,  construído  em 
estrutura pré‐fabricada  na  cidade de Belo Horizonte, MG. Na  Figura  2.14 
mostra‐se  a  arquibancada  do  setor  em  ampliação  do  sambódromo  da 
Marquês de Sapucaí no Rio de Janeiro, para a utilização no carnaval de 2012 
e nos Jogos Olímpicos 2016. A ampliação e reforma do sambódromo (Figura 
2.14‐a)  está  sendo  feita  para  atender  às  necessidades dos  jogos  olímpicos, 
resgatando o projeto original de Oscar Niemeyer e ampliando a capacidade 
de  público  de  60000  para  77688  pessoas.  Nessa  obra,  os  pilares  foram 
moldados  no  local,  onde  se  apóiam  lajes  alveolares  pré‐fabricadas  e  nos 
pisos  superiores  estrutura pré‐fabricada  composta  em  síntese de vigas  em 
balanço para apoio dos níveis de lajes e vigas jacaré que sustentam os bancos 
de  arquibancadas.  A  complexidade  de montagem  dessa  obra  é  um  fator 
importante  a  ser  considerado,  devido  às  dificuldades  de  acesso,  maior 
extensão de alcance dos guindastes e prazos reduzidos. 
 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
33 
 
 
 
 
 
 
Figura 2.13  Arquibancadas em equipamentos esportivos brasileiros, sendo, (a) e (b) estádio 
do Mineirão, (c) arquibancada da Arena do Pan e (d) arquibancada esportiva. 
 
Figura 2.14  Ampliação e remodelagem do sambódromo da Marques de Sapucaí em estrutura 
pré‐fabricada ‐ Rio de Janeiro, RJ, sendo (a) implosão da estrutura antiga na 
área de ampliação e (b) montagem da estrutura pré‐fabricada de ampliação. 
2.6.5 Fundações com elementos pré‐fabricados 
Elementos  pré‐fabricados  também  têm  sido  utilizados  em  sistemas  de 
estruturas de fundações. Como fundação profunda em estacas pré‐moldadas 
de  concreto,  entende‐se  o  sistema  formado  pelo  conjunto  do  elemento 
Estruturas pré‐moldadas no mundo ‐ Aplicações e comportamento estrutural 
 
34 
estrutural de  estaca pré‐moldada de  concreto  armado  ou protendido,  que 
pode  ser  vibrada  ou  centrifugada  (Figura  2.15)  e  o  maciço  de  solo 
envolvente,  ao  longo  do  elemento  e  sob  a  base,  com  ampla  faixa  de 
capacidade  de  carga,  desde  100kN  até  5000kN.  No  entanto  outras 
características de desempenho  como módulo de elasticidade do  concreto e 
resistência à  tração são muito  importantes, devido aos esforços a que esses 
elementos são solicitados durante a sua cravação, na implantação das estacas 
no solo e demais situações  transitórias.Para esses elementos,  também estão 
previstas  a  realização  de  ensaios  estáticos  e  dinâmicos  conforme  a ABNT 
NBR6122:2010. As  estacas  pré‐fabricadas  também  podem  ser  empregadas 
em  meios  altamente  agressivos  como  em  plataformas  flutuantes,  dentre 
outros. 
  
Figura 2.15  Estacas pré‐fabricadas: (a) Produção de estacas pré‐fabricadas centrifugadase (b) 
armazenamento. 
2.7.   Considerações Finais 
A  pré‐fabricação  em  concreto  é  uma  possibilidade  de  industrialização  da 
construção, ou de parte dela, que passa cada vez mais a ser considerada para 
aplicações  em  obras  dediferentes  portes  e  complexidades  e  se  viabiliza  a 
partir da necessidade de atender cronogramas cada vez mais ousados, sem 
que  haja  perda  de  qualidade,  pelo  contrário,  de  forma  que  venha  ao 
encontro da sustentabilidade.  
No Brasil, vivencia‐se um momento em que a escassez de mão de obra vem 
trazendo a industria da pré‐fabricação ao aperfeiçoamento e à intensificação 
de  suas  aplicações,  paralelamente  ao  avanço  no  desenvolvimento 
tecnológico  dos materiais.  Novas  possibilidades  de  aplicação  vem  sendo 
Estruturas de concreto pré‐moldadas no Brasil: Normalização, sustentabilidade e aplicações 
 
35 
viabilizadas contribuindo para o desenvolvimento da engenharia estrutural. 
O tema é amplo e, portanto as autoras deixam uma vasta bibliografia a ser 
pesquisada, para os que desejarem um maior aprofundamento no tema. 
Referências bibliográficas  
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA CONSTRUÇÃO INDUSTRIALIZADA

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