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PENAL - TEORIA DO CRIME - MATERIAL GERAL

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1ª Aula de Direito Penal – Professora Claudine Rodembusch
CONCEITO DE DIREITO PENAL, HISTÓRIA DO DIREITO PENAL
Direito penal é um conjunto de regras, denominado DIREITO POSITIVO, o direito positivo estabelece as consequências e as sanções (PENA) a quem descumprir seus preceitos. 
O objetivo do Direito Penal: proteger os valores fundamentais: a vida, a saúde, propriedade, etc. Pela intimidação, e pela celebração de compromissos éticos entre o Estado e o indivíduo,
pelos quais se consiga o respeito às normas, menos por receio de punição e mais pela convicção da sua necessidade e justiça. 
Em suma: O Direito Penal é o ramo do direito público que define as infrações penais, estabelecendo as penas e as medidas de segurança aplicáveis aos infratores.
Direito Penal se verifica a voluntariedade da conduta humana, na capacidade do homem para um querer final. Desse modo, o âmbito da normatividade jurídico-penal limita-se às atividades finais humanas.
1.1. O Direito Penal no Estado Democrático de Direito. 
 
A CF/88, em seu art. 1º, caput, definiu o perfil político-constitucional do Brasil como o de um Estado Democrático de Direito. 
O Brasil não é apenas um Estado de Direito, mas um Estado Democrático de Direito. 
A leis possuem conteúdo e adequação social. 
Nenhuma conduta pode, materialmente , ser considerada criminosa se, de algum modo, não colocar em perigo valores fundamentais da sociedade. Vida, propriedade, saúde...
EXEMPLO
Imaginemos um tipo com a seguinte descrição: “ manifestar ponto de vista contrário ao regime político dominante ou opinião contrária à orientação política dominante: Pena – 6 meses a 1 ano de detenção”. Evidentemente, que este tipo não teria qualquer subsistência por ferir o princípio da dignidade da pessoa humana e, consequentemente, não resistir ao controle de compatibilidade vertical com os princípios insertos na ordem constitucional. 
De tudo que foi visto até o presente momento se chega as seguintes conclusões:
 
1. O Direito Penal brasileiro somente pode ser concebido à luz do perfil constitucional do Estado Democrático de Direito, devendo, portanto, ser um direito penal democrático.
 
2. Do Estado Democrático de Direito parte um gigantesco tentáculo, a regular todo o sistema penal, que é o princípio da dignidade da pessoa humana, de modo que toda incriminação contrária ao mesmo é substancialmente inconstitucional.
3. Da dignidade humana derivam princípios constitucionais do Direito Penal, cuja função é estabelecer limites á liberdade de seleção típica do legislador, buscando, com isso, uma definição material do crime. 
 
4. O legislador, no momento de escolher os interesses que merecerão a tutela penal, bem como o operador do direito, no instante em que vai proceder à adequação típica, devem, forçosamente, verificar se o conteúdo material daquela conduta atenta contra a dignidade humana ou os princípios que dela derivam. Em caso positivo, estará manifestada a inconstitucionalidade substancial da norma ou daquele enquadramento, devendo ser exercitado o controle técnico, afirmando a incompatibilidade vertical com o texto Magno.
5. A criação do tipo e a adequação concreta da conduta ao tipo devem operar-se em consonância com os princípios constitucionais do Direito Penal, os quais derivam da dignidade humana que, por sua vez, encontra fundamento no Estado Democrático de Direito. 
1.2. Características de alguns princípios penais limitadores decorrentes da dignidade humana.
Da dignidade nascem os demais princípios orientadores e limitadores do Direito Penal, sendo que será dado destaque para os principais:
Insignificância ou bagatela: A tipicidade (adequação) penal exige um mínimo de lesividade ao bem jurídico protegido. Só pode ser usada em caso concreto, pois o furto sem i não é insignificante, mas furtar uma bala é. 
Alteridade ou transcendentalidade: Ninguém pode ser punido por ter feito mal só a si mesmo. 
Deve-se atentar ao sujeito que se automutila para receber o seu seguro, isso é estelionato, art 171, CP.
Confiança: Espera-se que todos sigam as normas.
Se um medico, ao solicitar injeção de medicamento no paciente, receber a seringa com substancia letal e o paciente vir a óbito, ele terá agido com a confiança de que lhe seria entregue o medicamento correto. 
Adequação Social se num lugar afastado que não tem médicos, 	 uma parteira fizer um parto, não vai ser considerado crime. 
Por isso é que Jakobs afirma que determinadas formas de atividade permitida não podem ser incriminadas, uma vez que se tornam consagradas pelo uso histórico, isto é, costumeiro, aceitando-se como socialmente adequadas.
Intervenção Mínima: assenta-se na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, cujo art. 8º determinou que a lei só deve prever as penas estritamente necessárias.
	Se existe um recurso mais suave em condições de solucionar plenamente o conflito, torna-se abusivo e desnecessário aplicar outro mais traumático.
Proporcionalidade: Uma lei só vai valer se trouxer mais benefícios a sociedade.
Humanidade: Proibição de tortura, pena de morte, tratamento degradante ou desumano, trabalhos forçados, prisão perpetua. Do princípio da humanidade decorre a impossibilidade de a pena passar da pessoa do delinqüente, ressalvados alguns do efeitos extrapenais da condenação, como a obrigação de reparar o dano na esfera cível, que podem atingir os herdeiros do infrator até os limites da herança (CF, art. 5º, XLV).
Necessidade e idoneidade: a incriminação de determinada situação só pode ocorrer quando a tipificação revelar-se necessária, idônea e adequada ao fim a que se destina, ou seja, à concreta e real proteção do bem jurídico. 
2.1. Fases da Vingança Penal
	Na denominada fase da vingança privada, cometido um crime, ocorria a reação da vítima, dos parentes e até do grupo social (tribo).
o Talião, que limita à reação à ofensa a um mal idêntico ao praticado (sangue por sangue, olho por olho, dente por dente). Adotado no Código de Hamurabi (Babilônia), no Êxodo e na Lei das XII Tábuas, foi ele um grande avanço na história do Direito Penal por reduzir a abrangência da ação punitiva.
composição, sistema pelo qual o ofensor se livrava do castigo com a compra de sua liberdade (pagamento em moeda, gado, armas, etc). Adotada também pelo Código de Hamurabi, pelo Código de Manu (Índia), etc, foi a composição largamente aceita pelo Direito Germânico, sendo a origem remota das formas modernas de indenização do Direito Civil e da multa do Direito Penal.
Vingança Divina deve-se a influência decisiva da religião na vida dos povos antigos. 
Vingança Pública. No sentido de se dar maior estabilidade ao Estado. libertou-se a pena de seu caráter religioso, transformando-se a responsabilidade do grupo em individual (do autor do fato), em positiva contribuição ao aperfeiçoamento de humanização dos costumes penais.
2.2. Direito Penal dos Hebreus
	 
	Substituiu-se a pena de talião pela multa, prisão e imposição de gravames físicos, sendo praticamente extinta a pena de morte, aplicando-se em seu lugar a prisão perpétua sem trabalhos forçados.Os crimes poderiam ser classificados em duas espécies: delitos contra a divindade e crimes contra o semelhante.
2.3. Direito Romano 
	Em Roma, Direito e Religião se separam. É praticamente abolida a pena de morte, substituída pelo exílio e pela deportação. Contribui o Direito Romano decisivamente para a evolução do Direito Penal com a criação de princípios penais sobre o erro, culpa, dolo, imputabilidade, coação irresistível, agravantes, atenuantes, legítima defesa, etc. 
2.4. Direito Germânico
	O Direito Penal germânico primitivo não era composto de leis escritas, mas constituído apenas pelo costume. Ditado por características acentuadamente de vingança primitiva, estava ele sujeito à reação indiscriminada e à composição. Não existia a distinção entre dolo, culpa e caso fortuito, determinando a punição do autor do fato sempre em relação ao dano por ele causado e não de acordo com o aspecto subjetivo de seu ato. 
2.5. Direito Canônico 
	A igreja contribuiude maneira relevante para a humanização do Direito Penal (por exemplo: proclamou a igualdade entre os homens), embora politicamente sua luta metódica visasse obter o predomínio do Papado sobre o poder temporal para proteger os interesses religiosos de dominação. 
A jurisdição penal eclesiástica, entretanto, era a favor da pena de morte, entregando-se o condenado ao poder civil para a execução.
2.6. Direito Medieval 	
	Era um direito penal pródigo na cominação da pena de morte, executada pelas formas mais cruéis (fogueira, fogo, afogamento, soterramento, enforcamento,...), visava especificamente à intimidação. As sanções penais eram desiguais, dependendo da condição social e política do réu, sendo comuns o confisco, a mutilação, os açoites,...
2ª Aula de Direito Penal – Professora Claudine Rodembusch
2.7. Período Humanitário
É no decorrer do Iluminismo que se inicia o denominado Período Humanitário do Direito Penal, movimento que pregou a reforma das leis e da administração da justiça penal no fim do século XVIII. Em 1764, Cesar Bonesana, Marquês de Beccaria, filósofo imbuído dos princípios pregados por Rousseau e Montesquieu, fez publicar em Milão a obra Dei Delitti e delle pene (Dos delitos e das penas), um pequeno livro que se tornou o símbolo liberal ao desumano panorama penal então vigente. Demonstrando a necessidade de reforma nas leis penais. São os seguintes os princípios pregados pelo filósofo:
 
1) Os cidadãos, por viverem em sociedade, cedem apenas uma parcela de sua liberdade e direitos. Por essa razão, não se podem aplicar penas que atinjam direitos não cedidos, como acontece nos casos da pena de morte e das sanções cruéis. 2) Só as leis podem fixar as penas, não se permitindo ao juiz interpretá-las ou aplicar sanções arbitrárias.
3) As leis devem ser conhecidas pelo povo, redigidas com clareza para que possam ser compreendidas e obedecidas por todos os cidadãos.
4) A prisão preventiva somente se justifica diante da prova da existência do crime e sua autoria. 5) Devem ser admitidas em Juízo todas as provas, inclusive a palavra dos condenados.
6) Não se justificam as penas de confisco, que atingem os herdeiros do condenado, e as infamantes, que recaem sobre toda a família do criminoso.
7) Não se deve permitir o testemunho secreto, a tortura para o interrogatório e os juízos de Deus, que não levam à descoberta da verdade.
8) A pena deve ser utilizada como profilaxia social, não só para intimidar o cidadão, mas também para recuperar o delinqüente.
2.8. Escola Clássica
 
	Para a escola clássica à pena, é tida como tutela jurídica, ou seja, como proteção aos bens jurídicos tutelados penalmente. A sanção não pode ser arbitrária; regula-se pelo dano sofrido. 
Deve-se mencionar a chamada Escola Correcionalista, de inspiração clássica considera o Direito como necessário a que se cumpra o destino do homem, como uma missão moral da descoberta da liberdade. Deve-se estudar o criminoso para corrigi-lo e recuperá-lo, por meio da pena indeterminada. Não se pode, segundo tais idéias, determinar a priori a duração da pena, devendo ela existir apenas enquanto necessária à recuperação do delinqüente.  
2.9. Período Criminológico e Escola Positiva
	O movimento criminológico do Direito Penal iniciou-se com os estudos do médico italiano e professor em Turim César Lombroso, que publicou em 1876 ou 1878, o famoso livro L’umo delinqüente studiato in rapporto, all’antropologia, alla medicina legale e alle discipline carcerarie, expondo suas teorias e abrindo nova etapa na evolução das idéias penais.
Considerando o crime como manifestação da personalidade humana e produto de várias causas, Lombroso estuda o delinqüente do ponto de vista biológico. Criou com seus estudos a Antropologia Criminal e, nela, a figura do criminoso nato. Apesar dos exageros da teoria lombrosiana, seus estudos abriram nova estrada na luta contra a criminalidade. São as seguintes as idéias de Lombroso:
1) O crime é um fenômeno biológico, não um ente jurídico.
2) O criminoso é um ser atávico e representa a regressão do homem ao primitivismo. É um selvagem e nasce delinqüente como outros nascem sábios ou doentios, fenômeno que na biologia é chamado de degeneração. 
3) O criminoso nato apresenta características físicas e morfológicas específicas, como assimetria craniana, fronte fugidia, zigomas salientes, face ampla e larga, cabelos abundantes e barba escassa, etc.
4) O criminoso nato é insensível fisicamente, resistente ao traumatismo, canhoto ou ambidestro, moralmente insensível, impulsivo, vaidoso e preguiçoso.
5) A causa da degeneração que conduz ao nascimento do criminoso é a epilepsia (evidente ou larvada), que ataca os centros nervosos, deturpa o desenvolvimento do organismo e produz regressões atávicas.
6) Existe a “loucura moral”, que deixa íntegra a inteligência, suprimindo, porém o senso moral.
7) O criminoso é, assim, um ser atávico, com fundo epilético e semelhante ao louco moral, doente antes que culpado e que deve ser tratado e não punido.
Apesar da evidente incoerência da definição do criminoso nato e dos exageros da escola positiva, os estudos de Lombroso ampliaram os horizontes do Direito Penal. 
A escola positiva, porém tem seu maior vulto em Henrique Ferri, criador da Sociologia Criminal. Discípulo de Lombroso dividiu os criminosos em cinco categorias: o nato, conforme propusera Lombroso; o louco, portador de doença mental; o habitual, produto do meio social; o ocasional, 
indivíduo sem firmeza de caráter e versátil na prática do crime; e o passional, homem honesto, mas de temperamento nervoso e sensibilidade exagerada.
Os princípios básicos da escola positiva são, em resumo: 
	
1) O crime é fenômeno natural e social, sujeito às influências do meio e de múltiplos fatores, exigindo o estudo experimental.
2) A responsabilidade penal é responsabilidade social, por viver o criminoso em sociedade, e tem por sua base a periculosidade. 
3) A pena é medida de defesa social, visando a recuperação do criminoso ou à sua neutralização.
4) O criminoso é sempre, psicologicamente, um anormal, de forma temporária ou permanente.
 	
2.10. Tendência Contemporânea
 
	Hoje os penalistas passaram a preocupar-se com a pessoa do condenado em uma perspectiva humanista, instituindo-se a doutrina da Nova Defesa Social. Para esta, a sociedade deve proporcionar a adaptação do indivíduo ao convívio social. 
III – Fontes do Direito Penal
 	Fonte é o lugar de onde provém a norma. As fontes do direito penal podem ser materiais ou formais.
a) Fonte material: São também chamadas de fontes de produção ou substancial. Nos termos do art. 22, I, da CF, a fonte material da norma penal é o Estado, já que compete a União legislar sobre direito penal.
b) Fonte formal, de cognição ou de conhecimento: Subdividem-se, por sua vez, em: 
Formais imediatas: 
são as leis penais. As normas penais possuem técnica diferenciada, uma vez que o legislador não declara que uma conduta ou outra constitui crime. Na verdade, a norma penal descreve uma conduta (conduta típica) e estabelece uma pena para aqueles que a realizam. Há, entretanto, algumas normas penais com descrição e finalidade diversas. Por isso, pode-se dizer que os dispositivos penais se classificam da seguinte forma: 
Normas penais incriminadoras. 
São aquelas que definem as infrações e fixam as respectivas penas. Ex: art. 121. “Matar alguém” – É o chamado preceito primário da norma penal incriminadora. “Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos”. É o chamado preceito secundário. As normas penais incriminadoras estão previstas na Parte Especial do Código Penal e também nas leis especiais. 
Normas penais permissivas. 
São as que preveem a licitude ou a impunidade de determinados comportamentos, apesar de estes se enquadrarem na descrição típica. Podem estar na Parte Geral, nos arts. 20 a 25, que tratam de excludentes de ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, etc.), ou na própria parte especial (arts. 128, 142, etc).
Normas penais complementares ou explicativas. 
São as queesclarecem o significado de outras normas ou limitam o âmbito de sua aplicação. Podem estar na Parte Geral (arts. 4º, 5º, 7º, 10 a 12, etc) ou na Parte Especial (art. 327, p. ex. que define funcionário público para fins penais como sendo aquele que embora transitoriamente ou sem remuneração exerce cargo, emprego ou função pública)
Formais mediatas. 
São os costumes e os princípios gerais de direito. 
Costumes. 
Conjunto de normas de comportamento a que as pessoas obedecem de maneira uniforme e constante pela convicção de sua obrigatoriedade. O costume não revoga a lei, mas serve para integrá-la, uma vez que, em várias partes do Código Penal, o legislador se utiliza de expressões que ensejam a invocação do costume para chegar ao significado exato do texto. Exs: reputação (art. 139), dignidade e decoro (art. 140), ato obsceno (art. 233) etc. O costume também não cria delitos, em razão do princípio constitucional da reserva legal, pois, segundo este, “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (art. 5º XXXIX). 
Princípios gerais de direito. 
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, “são regras que se encontram na consciência dos povos e são universalmente aceitas, mesmo que não escritas. Tais regras, de caráter genérico, orientam a compreensão do sistema jurídico, em sua aplicação e integração, estejam ou não incluídas no direito positivo”. 
São comandos jurídicos de abrangência muito maior que as regras jurídicas; estas são dirigidas a uma situação concreta; os princípios regem um conjunto enorme de situações. Os princípios são de caráter genérico, orientam a compreensão do sistema jurídico, em sua aplicação e integração, estejam ou não incluídos expressamente no Direito positivo.
 De qualquer forma, não há dúvida de que o princípio positivado (explícita ou implicitamente) na CF tem relevância redobrada. Na verdade, a arte de entender o sistema jurídico reside justamente na capacidade de compaginar os raios de incidência de todos os princípios conjugadamente.
IV – Características da Lei Penal a) Exclusividade: 
Somente a norma penal define crimes e comina penas (princípio da legalidade).
Tem por finalidade buscar o exato significado da norma penal. Quanto à origem, ou seja, quanto ao sujeito que interpreta a lei, ela pode ser: autêntica ou legislativa, doutrinária ou científica e jurisprudencial ou judicial. 
Autentica ou legislativa: é a interpretação dada pela própria lei, feita pelo próprio legislador, a qual, em um de seus dispositivos, esclarece determinado assunto. Ex: o art. 150, §§ 4º e 5º, diz o que se considera e o que não se considera como “casa”, no crime de violação de domicílio. O conceito de funcionário público que é dado pelo art. 327 CP. Doutrinária ou Científica: é a interpretação feita pelos estudiosos, professores e autores de obras de direito, por seus livros, artigos, conferências, palestras, etc. 
Jurisprudencial ou Judicial: é aquela feita pelos tribunais e juízes em seus julgamentos. Quanto ao modo ou meio empregado, a interpretação pode ser: gramátical, literal ou sintática, teleológica ou lógica, histórica e sistemática. Gramatical, literal ou sintática: que leva em conta o sentido literal das palavras contidas na lei.
Teleológica ou lógica: que busca descobrir o seu significado por uma análise acerca dos fins a que ela se destina. Histórica: que avalia os debates que envolveram sua aprovação e os motivos que levaram à apresentação do projeto de lei. 
Sistemática: que busca o significado da norma pela integração com os demais dispositivos de uma mesma lei e com o sistema jurídico como um todo. Quanto ao resultado, a interpretação pode ser: declarativa, restritiva ou extensiva. 
Declarativa: nesta se conclui que a letra da lei corresponde exatamente àquilo que o legislador quis dizer. 
Restritiva: se conclui que o texto legal abrangeu mais do que queria o legislador (por isso a interpretação irá restringir seu alcance). 
Extensiva: quando se conclui que o texto da lei ficou aquém da intenção do legislador (por isso a interpretação irá ampliar sua aplicação). A interpretação restritiva restringe o significado, sempre partindo da ideia que a lei disse mais do que pretendia. Podemos citar o exemplo do artigo 28 do Código Penal, que dispõe que a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos, não excluiu a imputabilidade penal. Porém, a lei não atentou para o fato de que uma das espécies de embriaguez (patológica) pode vir a excluir a imputabilidade penal, quando interferir totalmente na capacidade do indivíduo. Já na interpretação extensiva ocorre o posto. A interpretação vai ampliar seu significado, pois a lei disse menos do que deveria. Podemos citar o exemplo da proibição legal da bigamia, prevista no artigo 235 do Código Penal. Naquela ocasião, a lei também quis, de maneira implícita, proibir a poligamia.
4.2. Interpretação Analógica e Analogia
 A interpretação analógica é possível quando, dentro do próprio texto legal, após uma sequência casuística, o legislador se vale de uma fórmula genérica, que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriores: 
Exs: 1) O crime de estelionato (art. 171), de acordo com a descrição legal, pode ser cometido mediante artifício, ardil ou qualquer outra fraude; 2) O art. 28, II, estabelece que não exclui o crime a embriaguez por álcool ou por substância de efeitos análogos (o intérprete deve verificar (para a adequação típica) se a substância concreta tem efeito análogo ao do álcool). 
Assim, na interpretação analógica fazem parte do sentido literal outras situações análogas às descritas. Em suma, ocorre a interpretação analógica quando a lei utiliza fórmulas específicas (dirigir sob a influência do álcool) seguida de uma cláusula genérica (ou outras substâncias de efeitos análogos). 
A analogia somente é aplicável em casos de lacuna da lei, ou seja, quando não há qualquer norma regulando o tema. Fazer uso dela significa aplicar uma norma penal a um fato não abrangido por ela nem por qualquer outra lei, em razão de tratar-se de fato semelhante àquele que a norma regulamenta. A analogia, portanto, é forma de integração da lei penal e não forma de interpretação. Na analogia o caso examinado não se enquadra no sentido literal possível e a ele se aplica, por analogia, outro dispositivo legal (em razão da semelhança). Onde há a mesma razão aplica-se o mesmo direito. Na analogia aplica-se uma lei prevista para um caso A a um caso B, semelhante, só se admite quando benéfica ao réu (in bonam partem). Por força da garantia da Lex stricta é impossível analogia contra o réu (in malam partem) em Direito Penal.
 Ex: No clássico exemplo do médico que está autorizado a fazer o aborto quando a gravidez resulta de estupro (art. 128, II CP) é possível analogia no seguinte caso: Maria ficou grávida em decorrência do estupro e mora em cidade longínqua que não há médico na região; há, apenas, uma parteira. Maria procura a parteira e esta realiza a manobra abortiva. Ocorre que a parteira responderá pelo crime de aborto, porque o legislador disse que tem de ser praticado apenas por médico. Para que não ocorra injustiça, teremos de fazer o uso da analogia, in bonam partem, para beneficiar a parteira. Seria uma analogia bonam partem, em favor de quem fez o aborto, logo, é admitida. Trata-se de causa de exclusão da ilicitude prevista exclusivamente para a hipótese de o médico realizar o aborto. No entanto, como não se trata de norma incriminadora, mas, ao contrário, permissiva (permite a prática de fato descrito como crime, no caso, o aborto), é possível estender o benefício, analogicamente. 
Não se pode esquecer: NOS DIAS DE HOJE, PODEMOS CONSIDERAR O DIREITO PENAL COMO SANCIONADOR E CONSTITUTIVO. 																																					
3ª Aula de Direito Penal – Professora Claudine Rodembusch
4.3. Princípio “in dúbio pro reo”
	Esgotada a atividade interpretativa sem que se tenha conseguido extrair o significado da norma, a solução será dar interpretação mais favorável ao acusado. Ou seja, sepersistir dúvida, após a utilização de todas as formas interpretativas, a questão deverá ser resolvida da maneira mais favorável ao réu. 
4.4. Princípio da vedação do bis in idem
 
	Significa que ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo fato. Além disso, por esse princípio, determinada circunstância não pode ser empregada duas vezes em relação ao mesmo crime, quer para agravar, quer para reduzir a pena. Assim, quando alguém comete um homicídio por motivo fútil, incide a qualificadora do art. 121, §2º, II do CP, mas não pode ser aplicada, concomitantemente, a agravante genérica do motivo fútil, prevista no art. 61, II, a.
4.5. Princípio da ofensividade 
Não há crime sem lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico alheio. Também é conhecido como princípio da lesividade.
	O princípio da ofensividade orienta tanto ao legislador, que não deve criminalizar condutas que não ofendam bens jurídicos, quanto o juiz, que deve verificar no caso concreto se houve lesão relevante ao bem jurídico tutelado pela norma.
V. Aplicação da Lei Penal e o Princípio da Legalidade
 
	Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
 
	Base Constitucional: Constituição Federal, art. 5º XXXIX.
 
	A maioria dos autores considera o princípio da legalidade sinônimo de reserva legal, afirmando serem equivalentes as expressões.
Assim, a doutrina orienta-se maciçamente no sentido de não haver diferença conceitual entre legalidade e reserva legal. Fernando Capez discorda desse entendimento, e acredita que o princípio da legalidade é gênero que compreende duas espécies: reserva legal e anterioridade da lei penal. Com efeito, o princípio da legalidade corresponde aos enunciados dos arts. 5º XXXIX, da CF e 1º do Código Penal (“não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”) e contém nele embutidos, dois princípios diferentes: o da reserva legal, reservando para o estrito campo da lei a existência do crime e sua correspondente pena (não há crime sem lei que o defina, nem pena sem cominação legal), e o da anterioridade, exigindo que a lei esteja em vigor no momento da prática da infração penal (lei anterior e prévia cominação). 
Assim, a regra do art. 1º, denominada princípio da legalidade, compreende os princípios da reserva legal e da anterioridade.
5.1. Aspectos do princípio da legalidade.
 
a) Aspecto Político: trata-se de garantia constitucional fundamental do homem. O tipo exerce função garantidora do primado da liberdade porque, a partir do momento em que somente se pune alguém pela prática de crime previamente definido em lei, os membros da coletividade passam a ficar protegidos contra toda e qualquer invasão arbitrária do Estado em seu direito de liberdade.
Resumidamente, pode-se concluir que o princípio da legalidade, no campo penal, corresponde a uma aspiração básica e fundamental do homem, qual seja, a de ter uma proteção contra qualquer forma de tirania e arbítrio dos detentores do exercício do poder, capaz de lhe garantir a convivência em sociedade, sem o risco de ter a sua liberdade cerceada pelo Estado, a não ser nas hipóteses previamente estabelecidas em regras gerais, abstratas e impessoais.
b) Aspecto Jurídico: somente haverá crime quando existir perfeita correspondência entre a conduta praticada e a previsão legal.
	Obs. Só há crime quando presente a perfeita correspondência entre o fato e a descrição legal, torna-se impossível sua existência sem lei que o descreva. Conclui-se que só há crime nas hipóteses taxativamente previstas em lei.
Princípios Inerentes ao princípio da legalidade: são dois: reserva legal e anterioridade da lei penal.
	 
	1º) Princípio da Reserva Legal: somente a lei, em seu sentido mais estrito, pode definir crimes e cominar penalidades, pois “a matéria penal deve ser expressamente disciplinada por uma manifestação de vontade daquele poder estatal a que, por força da Constituição, compete a faculdade de legislar, isto é, o poder legislativo”. 
a) Reserva absoluta de lei: nenhuma outra fonte subalterna pode gerar a norma penal, uma vez que a reserva de lei proposta pela CF é absoluta, e não meramente relativa. Nem seria admissível que restrições a direitos individuais pudessem ser objeto de regramento unilateral pelo Poder Executivo. 
Assim, somente a lei, na sua concepção formal e estrita, emanada e aprovada pelo Poder Legislativo, por meio de procedimento adequado, pode criar tipos e impor penas.
b) Taxatividade e vedação ao emprego da analogia: a lei penal deve ser precisa, uma vez que um fato só será considerado criminoso se houver perfeita correspondência entre ele e a norma que o descreve. A lei penal delimita uma conduta lesiva, apta a pôr em perigo um bem jurídico relevante, e prescreve-lhe uma conseqüência punitiva. 
Ao fazê-lo, não permite que o tratamento punitivo cominado possa ser estendido a uma conduta que se mostre aproximada ou assemelhada. É que o princípio da legalidade ao estatuir que não há crime sem lei que o defina, exigiu que a lei definisse (descrevesse) a conduta delituosa em todos os seus elementos e circunstâncias a fim de que somente no caso de integral correspondência pudesse o agente ser punido.
Por esta razão o princípio da reserva legal veda por completo o emprego da analogia em matéria de norma penal incriminadora, encontrando-se esta delimitada pelo tipo legal a que corresponde. Em conseqüência, até por imperativo lógico, do princípio da reserva legal, resulta a proibição da analogia. Evidentemente a analogia in malam partem, que, por semelhança, amplia o rol da infrações penais e das penas. Não alcança, por isso, a analogia in bonam partem. Ao contrário da anterior, favorece o direito de liberdade, seja a exclusão da criminalidade, seja pelo tratamento mais favorável ao réu. c) Taxatividade e descrição genérica: a reserva legal impõe também que a descrição da conduta criminosa seja detalhada e específica, não se coadunando com tipos genéricos, demasiadamente abrangentes. O processo de generalização estabelece-se com a utilização de expressões vagas e sentido equívoco, capazes de alcançar qualquer comportamento humano e, por conseguinte, aptas a promover a mais completa subversão no sistema de garantias de legalidade. De nada adiantaria exigir a prévia definição da conduta na lei se fosse permitida a utilização de termos muitos amplos, tais como: “qualquer conduta contrária aos interesses nacionais”, etc. 
 Há que se atentar, no entanto, para certas exceções. A proibição de cláusulas gerais não alcança, evidentemente, os crimes culposos, porque neles, por mais atento observador que possa ser o legislador, não terá condições de pormenorizar todas as condutas humanas ensejadoras da composição típica. Qualquer tentativa de detalhamento de uma conduta culposa seria insuficiente para abarcar o imenso espectro de ações do ser humano.
Daí a razão, no caso de crimes culposos, das previsões típicas serem todas genéricas, limitando-se o legislador a dizer: “se o crime é culposo, pena de tanto a tanto”. Como poderia a lei antever todas as formas de cometer um homicídio por imprudência, negligência ou imperícia? Por isso, os tipos culposos são denominados abertos e excepcionam a regra da descrição pormenorizada.
No que tange às modalidades dolosas, salvo algumas exceções de tipos abertos, como ato obsceno, no qual não se definem os elementos da conduta, os crimes deverão ser descritos detalhadamente. As fórmulas excessivamente genéricas criam insegurança no meio social, deixando ao juiz larga e perigosa margem de discricionariedade.
 
d) Conteúdo material do princípio da reserva legal: se quer a busca de um conceito material, ontológico de crime, segundo o qual somente possam ser consideradas pelo legislador como delituosas as condutas que efetivamente coloquem em risco a existência da coletividade. Suponhamos, por exemplo, fosse criado um tipo penal definindo como criminoso o ato de sorrir, nos seguintes moldes:
 
“sorrir abertamente, em momentos de alegria, nervosismo ou felicidade– pena de seis meses a um ano de detenção”.
Formalmente, estariam preenchidas todas as garantias do princípio da reserva legal: fato previsto em lei e descrito com todos os seus elementos. A “olho nu” esse tipo é, no entanto, manifestamente inconstitucional, porque materialmente a conduta incriminada não representa qualquer ameaça à sociedade. 
	A criação de tipos penais que afrontem a dignidade da pessoa humana colide frontalmente com um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Por esse motivo, a moderna concepção do Direito Penal não deve ser dissociada de uma visão social, que busque justificativa na legitimidade da norma legal.
	2º) Princípio da anterioridade da lei penal: é necessário que a lei já esteja em vigor na data em que o fato é praticado. “Dado o princípio da reserva legal, a relação jurídica é definida pela lei vigente à data do fato. Um dos efeitos decorrentes da anterioridade da lei penal é a irretroatividade, pela qual a lei penal é editada para o futuro e não para o passado.
 
5.2. Retroatividade da Lei Penal Benéfica 
	
	O art. 2º, caput,do Código Penal determina “que ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela (da lei posterior) a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. Nessa mesma linha, a Constituição Federal em seu art. 5º XL, estabelece que lei penal só retroagirá para beneficiar o acusado. 
Assim, se uma pessoa comete um delito na vigência de determinada lei e, posteriormente, surge outra lei que deixa de considerar o fato como crime, deve-se considerar como se essa nova lei já estivesse em vigor na data do delito (retroatividade) e, dessa forma, não poderá o agente ser punido. O dispositivo é ainda mais abrangente quando determina que, mesmo já tendo havido condenação transitada em julgado em razão do crime, cessará a execução, ficando também afastados os efeitos penais da condenação. Por isso, se no futuro o sujeito vier a cometer novo crime, não será considerado reincidente.
	Já o parágrafo único do art. 2º dispõe que a lei posterior, que de qualquer modo favoreça o réu, aplica-se a fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Nessa hipótese, a lei posterior continua a considerar o fato como criminoso, mas traz alguma benesse ao acusado: pena menor, maior facilidade para obtenção de livramento condicional, etc.
	Dessa forma, pela combinação dos arts. 1º e 2º do Código Penal, podemos chegar a duas conclusões: 
	a) a norma penal, em regra, não pode atingir fatos passados. Não pode, portanto retroagir; 	
b) a norma penal mais benéfica, entretanto, retroage para atingir fatos pretéritos;
	Combinação de Leis: Discute-se qual a solução deve ser tomada quando uma nova lei é em parte benéfica e em parte prejudicial ao acusado. Duas são as opiniões a respeito:
a) Não se admite a combinação de leis, para se aplicar apenas as partes benéficas, pois nesse caso estaria o juiz criando uma terceira lei. Ele deve, portanto, escolher aquela que entenda mais favorável.
	 b) Admite-se a combinação. Segundo Damásio E. de Jesus, o juiz não está criando lei nova, mas movimentando-se dentro do campo legal em sua missão de integração legitima. Se ele pode escolher
uma ou outra lei para obedecer ao mandamento constitucional da Lex mitior, nada o impede de efetuar a combinação delas, com que estaria mais profundamente seguindo o preceito da Carta Magna. 
	Hipótese de lei posterior
	a) Abolitio criminis: lei posterior deixa de considerar fato como criminoso. 
Trata-se de lei posterior que revoga o tipo penal incriminador, passando o fato a ser considerado atípico.
	Como o comportamento deixou de constituir infração penal, o Estado perde a pretensão de impor ao agente qualquer pena, razão pela qual se opera a extinção de punibilidade, nos termos do art. 107, III do Código Penal. 
Conseqüências da abolitio criminis: o inquérito policial ou o processo são imediatamente trancados ou extintos, uma vez que não há mais razão de existir; se já houve sentença condenatória, cessam imediatamente a sua execução e todos os seus efeitos penais; no entanto os efeitos extrapenais continuam a existir, em face o disposto no art. 2º, caput, do Código Penal, segundo o qual cessam apenas os efeitos penais da condenação.
 Não é possível a ocorrência de abolitio criminis por medida provisória que não foi transformada em lei pelo Congresso Nacional, pois o Poder Executivo não tem a prerrogativa de concretizar disposições penais, atribuição essa privativa do Poder Legislativo, assim como inadmite-se abolitio criminis pelo costume, que não tem o condão de revogar a lei.
 b) Novatio legis in mellius: é a lei posterior (novatio legis) que, de qualquer modo, traz um benefício para o agente no caso concreto (in mellius). A lex mitior (lei melhor) é a lei mais benéfica, seja anterior ou posterior ao fato. Quando posterior, recebe o nome indicado neste item, significando nova lei em benefício do agente.
Tanto na abolitio criminis quanto na da alteração in mellius, a norma penal retroage e aplica-se imediatamente aos processos em julgamento, aos crimes cuja perseguição ainda não se iniciou e, também aos casos já encerrados por decisão transitada em julgado. Qualquer direito adquirido do Estado com a satisfação do jus puniend é atingido pela nova lei, por força do imperativo constitucional da retroatividade da lex mitior (art. 5º, XL).
c) Novatio legis in pejus: é a lei posterior (novatio legis) que, de qualquer modo, venha a agravar a situação do agente no caso concreto (in pejus). Nesse caso a lex mitior (lei melhor) é a lei anterior. A lei menos benéfica, seja anterior, seja posterior, recebe o nome de lex gravior (lei mais grave). Esta, quando posterior, tem a denominação que encabeça este item, significando nova lei em prejuízo do agente.
4ª Aula de Direito Penal – Professora Claudine Rodembusch
d) Novatio legis incriminadora: é a lei posterior que cria um tipo incriminador, tornando típica a conduta considerada irrelevante penal pela lei anterior. Na precisa observação de Francisco de Assis Toledo, “A lei penal mais grave não se aplica aos fatos ocorridos antes de sua vigência, seja quando cria figura penal até então inexistente, seja quando se limita a agravar as conseqüências jurídico-penais do fato, isto é, a pena ou a medida de segurança. Há, pois, uma proibição de retroatividade das normas mais severas de direito penal”.
Competência para a aplicação da “novatio legis in mellius”: se o processo estiver em primeira instância, a competência para aplicar a lei mais benéfica será do juiz de primeiro grau encarregado de prolatar a sentença. Se o processo estiver em grau de recurso, recairá sobre o tribunal incumbido de julgar o recurso.
5.3. Lei Excepcional ou Temporária
Lei excepcional é aquela feita para vigorar em épocas especiais, como guerra, calamidade, etc. É aprovada para vigorar enquanto perdurar o período excepcional.
Lei temporária é aquela feita para vigorar por determinado tempo, estabelecido previamente na própria lei. Assim, a lei traz em seu texto a data de cessação de sua vigência. É uma lei que desde a sua entrada em vigor está marcada para morrer.
Nessas hipóteses, determina o art. 3º do Código Penal que, embora cessadas as circunstâncias que a determinaram (lei excepcional) ou decorrido o prazo de sua duração (lei temporária), aplicam-se elas aos fatos praticados durante sua vigência. São, portanto leis ultrativas, pois regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo após sua revogação. Assim, um fato praticado durante a vigência de uma lei temporária ou excepcional continuará sendo por ela regulado, mesmo após sua auto-revogação e ainda que prejudique o agente.
Por exemplo: durante um surto epidêmico, cria-se um delito para aquele que omitir a notificação da varíola. Erradicada essa doença, cessa a vigência da norma excepcional, entretanto, não se poderá falar em abolitio criminis, pois a lei transitória incriminadora continuará alcançando o autor do crime, mesmodepois da cessação de sua vigência (a lei adere ao fato como se fosse um carrapato, acompanhando-o para sempre, mesmo após a sua morte). Tal restrição ao princípio da retroatividade in mellius, previsto no art. 5º XL, da CF, pois a nova lei mais benéfica fica impedida de retroagir. Isto se justifica porque, do contrário, ninguém respeitaria a norma transitória, na convicção de que, mais cedo ou mais tarde, ela desapareceria. Restringe-se, portanto, um princípio constitucional para se garantir outro, qual seja, o de que as leis devem proteger eficazmente os bens jurídicos (art. 5º CF, caput).
Fundamento: em regra, são leis de curta duração que perderiam toda a sua força intimidativa se não tivessem a ultratividade. 
5.4. Tempo do Crime
	O Código Penal adotou a teoria da atividade, segundo o qual “considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”. (art. 4º). Não se confunde tempo do crime com momento consumativo, que, nos termos do art. 14, I, do CP, ocorre quando se reúnem todos os elementos de sua definição legal
A importância da definição do tempo do crime tem a ver, por exemplo, com a definição da norma penal a ser aplicada, no reconhecimento ou não da menoridade do réu etc. Assim, suponha-se que uma pessoa com idade de 17 anos, 11 meses e 29 dias efetue disparo contra alguém, que morre apenas uma semana depois. Ora, o homicídio só se consumou com a morte (quando o agente já tinha 18 anos), mas o agente não poderá ser punido criminalmente, pois, nos termos do art. 4º do CP, considera-se praticado o delito no momento da ação (quando o agente ainda era menor de idade). No crime de homicídio doloso, a pena é aumentada de 1/3, se a vítima for menor de 14 anos. Suponha-se, assim, que o agente efetue um disparo contra uma pessoa de 13 anos, 11 meses e 29 dias, mas esta vem a falecer depois de já haver completado os 14 anos mencionados pela lei. Seria aplicável o aumento, considerando-se que o homicídio só se consumou quando a vítima já tinha 14 anos? A resposta é afirmativa, em razão do que dispõe o art. 4º do Código Penal.
5.5. Lugar do Crime
 
	Nos termos do art. 6º do Código Penal “considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”. Foi, portanto, adotada a teoria da ubiqüidade, segunda a qual o lugar do crime é tanto o da conduta quanto o do resultado.
5.6. Territorialidade
 
	Há várias teorias para fixar o âmbito de aplicação da norma penal:
 
A) Princípio da Territorialidade: a lei penal só tem aplicação no território do Estado que a editou, pouco importando a nacionalidade do sujeito ativo ou passivo.
B) Princípio da Territorialidade Absoluta: só a lei nacional é aplicável a fatos cometidos em seu território.
 
C) Princípio da Territorialidade Temperada: a lei nacional se aplica aos fatos praticados em seu território, mas excepcionalmente, permite a aplicação da lei estrangeira, quando assim estabelecer algum tratado ou convenção internacional.
Foi este o princípio adotado pelo art. 5º do Código Penal: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional ao crime cometido no território nacional.
Que se entende por território nacional? Abrange todo o espaço em que o Estado exerce sua soberania: solo, rios, lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa (12 milhas) e espaço aéreo. Os §§ 1º e 2º do art. 5º do Código Penal esclarecem ainda que: “Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar”. (§1º).
	“É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronave ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. (§2º).
Princípio da intraterritorialidade: há, no entanto, crimes que ocorrem no Brasil e a eles não podemos (ou não iremos) aplicar a lei penal brasileira. Incide, nesse caso, ou o Direito de um país estrangeiro (é o caso dos embaixadores, ou do crime ocorrido dentro de embarcação ou aeronave pública estrangeira, etc).
A isso se dá o nome de intraterritorialidade, que significa que a um crime ocorrido no Brasil vai ter incidência um Direito Penal que não é o nosso, que será aplicado por juiz estrangeiro de acordo com o devido processo do respectivo país. 
Sintetizando: quando o crime ocorre no Brasil, mas a ele se aplica o Direito estrangeiro ou internacional (por autoridade estrangeira, no país estrangeiro) fala-se em intraterritorialidade (que é fenômeno oposto à extraterritorialidade, que ocorre quando a um crime ocorrido no estrangeiro aplica-se a lei penal brasileira).
Observação Importante: NAVIO ABORTADOR: o denominado barco ou navio do aborto, que pertence a uma organização holandesa (Women on Waves), continua navegando pelo mundo todo. Em 29 de agosto de 2004 foi impedido de se aproximar de Portugal. Cuidando-se de embarcação privada e estando em alto mar (fora das 12 milhas marítimas que integram o território dos países), todo aborto que nele é realizado deveria ser punido, por força do princípio da bandeira ou do pavilhão, pelo país da bandeira do barco (Holanda, no caso). Ocorre que a Holanda não pune o aborto em várias situações e a gestante conta naquele país, com grande liberdade de atuação (no sentido de praticar o aborto).
Conclusão: nem no Brasil nem em Portugal (aliás, em nenhum país) pode-se punir o aborto feito no interior desse navio, quando ele se encontrar em alto-mar (leia-se: além das doze milhas). Isso é o que decorre das normas do chamado Direito Penal Internacional (que é o conjunto de regras que disciplinam o direito de punir de um Estado frente aos outros Estados). 
O famoso navio abortador já esteve próximo da costa brasileira e aqui foram realizados (conforme se noticiou) muitos abortos. Mas nada foi feito (nem seria mesmo possível) em termos de repressão penal.
Examinadas as regras de Direito Penal Internacional vigentes no Brasil (arts. 5º a 9º do CP), verifica-se que quando o crime ocorre a bordo de avião ou navio privado estrangeiro, só se aplica a lei penal brasileira se ele se encontra dentro do território brasileiro. Estando em alto-mar, deve-se respeitar a lei do pavilhão ou da bandeira (leia-se: a lei do país onde o avião ou navio está registrado). E se a lei desse país não pune o fato praticado, só resta concluir que não se trata de fato punível.
5.7. Extraterritorialidade
	Conceito: é a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos criminosos ocorridos no exterior.
Princípios Norteadores: 
 
	a) Princípio da nacionalidade ativa: Aplica-se a lei nacional do autor do crime, qualquer que tenha sido o local da infração.
	b) Princípio da nacionalidade passiva: A lei nacional do autor do crime aplica-se quando este for praticado contra o bem jurídico de seu próprio Estado ou contra pessoa de sua nacionalidade. 
c) Princípio da defesa real: Prevalece a lei referente à nacionalidade do bem jurídico lesado, qualquer que tenha sido o local da infração ou a nacionalidade do autor do delito. É também chamado de princípio da proteção. Se um russo praticar um delito contra o brasil, tem que analisar o bem lesado, dai se aplica a lei brasileira. 
d) Princípio da justiça universal: Todo Estado tem o direito de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do sujeito ativo e passivo, e o local da infração, desde que o agente esteja dentro de seu território. O brasileiro morto na indonesia com cocaína. 
e) Princípio da representação: A lei nacional é aplicável aos crimes cometidos no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas, desdeque não julgados no lugar do crime. Tipo o bis in idem, não pode condenar duas vezes
	Já vimos que o princípio da territorialidade temperada é a regra em nosso direito, cujas as exceções se iniciam no próprio art. 5º (decorrentes de tratados e convenções, nas quais a lei estrangeira pode ser aplicada a fato cometido no Brasil). O art. 7º, por sua vez, traça as seguintes regras referentes a aplicação da lei nacional a fatos ocorridos no exterior:
	“Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
	
I – os crimes:
	 
	LER ARTIGO 7
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República. Crimes contra a vida são, os homicídios e de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (Capítulo I da Parte Especial), e delitos contra a liberdade individual são os previstos no Capítulo VI (arts. 146 e seguintes CP);
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público. 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço. Podem ser incluídos os crimes previstos entre os arts. 312 a 326, bem como os constantes do Título XI, desde que praticados por agente considerado funcionário público para os efeitos penais, conceituado no art. 327 do CP;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. Trata-se de inovação do CP. O genocídio pode ser definido como crime perpetrado com a intenção de destruir grupos étnicos, sociais, religiosos ou nacionais e está previsto na Lei nº 2.889, de 1º-10-1956. Também são crimes de genocídio os ilícitos previstos nos arts. 208 e 401 do Código Penal Militar; 
Assim, o art. 7º prevê a aplicação da lei brasileira a crimes cometidos no estrangeiro, nas condições referidas em seus parágrafos e incisos. O inciso I refere-se aos casos de extraterritorialidade incondicionada, uma vez que é obrigatória a aplicação da lei brasileira ao crime cometido fora do território brasileiro. Peca a lei ao se referir aos crimes cometidos “no estrangeiro”, em vez de “fora do território nacional”.
Deve nesse caso utilizar-se a interpretação extensiva para se entender que “no estrangeiro” quer significar “fora do território nacional”.
	O inciso II do art. 7º prevê três hipóteses de aplicação da lei brasileira a autores de crimes cometidos no estrangeiro, desde que preenchidos os requisitos previstos no §2º (extraterritorialidade condicionada) do mesmo artigo. São casos de extraterritorialidade condicionada, pois dependem dessas condições. Tais casos são os seguintes: 
	II – os crimes:
	a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir. Utilizou-se, aqui, o princípio da justiça ou competência universal para a repressão aos delitos que atingem vários países, como atos de pirataria, o tráfico de mulheres, o tráfico de entorpecentes, a difusão de publicações obscenas, etc., todos objeto de convenções e tratados a que o Brasil aderiu;
	b) praticado por brasileiro. Tendo o país o dever de obrigar seu nacional a cumprir as leis, permite-se a aplicação da lei
O brasil se comprometeu a tentar acabar com atos de pirataria trafico de mulheres, entorpecentes e assim por diante brasileira ao crime por ele cometido no estrangeiro. Trata o dispositivo da aplicação do princípio da nacionalidade ou personalidade ativa; 
	c) praticados em aeronave ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. É uma regra subsidiária; aplica-se a lei brasileira quando, por qualquer razão, não forem julgados os crimes pelo Estado que deveria fazê-lo pelo princípio da territorialidade.
	A aplicação da lei brasileira, nessas três hipóteses, entretanto, fica subordinada a todas as condições estabelecidas no § 2º do art. 7º. Depende, portanto, das condições a seguir relacionadas:
a) Entrada do agente no território nacional. Não importa que a presença seja breve ou longa, a negócio ou a passeio, voluntária ou não, legal ou clandestina. A saída do agente não prejudicará o andamento da ação penal instaurada.
 
Basta que coloque os pés no pais pra iniciar a ação penal. O mesmo vale pra entrada em consulado.
b) Ser o fato punível também no país em que foi praticado. Em virtude da diversidade de legislações, é possível que um fato, considerado crime no Brasil, não o seja no país onde for ele praticado, impedindo-se a aplicação da lei brasileira. Na hipótese de o crime ter sido praticado em local onde nenhum país tem jurisdição (por exemplo, certas regiões polares), é possível a aplicação da lei brasileira.
 se uma pessoa faz um aborto num pais que permite isso, quando vir pro brasil a pessoa não pode ser punida. Se for cometido em região sem jurisdição é aplicada a lei do pais de origem. 
c) Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição. Como não são todos os delitos que permitem a extradição do agente, exclui-se a possibilidade de aplicação da lei brasileira nessa hipótese.
	d) Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena. Pode-se aplicar a lei brasileira somente quando o agente não foi julgado no  
Se foi absolvido ou cumpriu a pena fora, não volta a cumprir aqui (bis in idem) estrangeiro ou, se condenado, não executou a pena imposta.
	e) Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. Caso o agente tenha sido perdoado ou tenha ocorrido outra das causas de extinção da punibilidade, previstas no Brasil, no art. 107 do CP ou estando o agente ao abrigo de dispositivo da lei estrangeira que consigna outras hipóteses de causas extintivas ou lhes dá maior amplitude, não é possível a aplicação da lei nacional.
	O art. 7º, § 3º, prevê uma última hipótese de aplicação da lei brasileira: a do crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil. Exige o dispositivo em estudo, porém, além das condições já mencionadas, outras duas: 
- que não tenha sido pedida ou tenha sido negada a extradição;
	- que haja requisição do Ministério da Justiça.
5.8. Pena cumprida no Estrangeiro (art. 8º)
 
“A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas (as penas), ou nela é computada, quando idênticas”.
Assim, cumprida a pena pelo sujeito ativo do crime no estrangeiro, será ela descontada na execução pela lei brasileira quando forem idênticas (penas privativas de liberdade por exemplo), respondendo efetivamente o sentenciado pelo saldo a cumprir se a pena imposta no Brasil for mais severa. Se a pena cumprida no estrangeiro for superior a imposta no País, é evidente que esta não será executada.
No caso de penas diversas (privativas de liberdade e pecuniárias, por exemplo), aquela cumprida no estrangeiro atenuará a aplicada no Brasil, de acordo com a decisão do juiz no caso concreto, já que não há regras legais a respeito dos critérios de atenuação que devem ser obedecidos.
5.9. Eficácia da Sentença Estrangeira 
	Em regra a sentença estrangeira não pode ser executada no Brasil: a condenação penal é expressão da soberania de cada país e, desse modo, cada um executa sua pena. 
Ademais, é mais real a possibilidade de uma execução ter eficácia preventiva quando ela ocorre no local (e no país) em que se deu o crime. Por isso é que a sentença penal estrangeira, em regra, não pode ser executada no Brasil.
O art. 9º. do CP, entretanto, prevê duas exceções: “ A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: I – obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II – sujeitá-lo a medida de segurança. 	Parágrafo único. A homologação depende: a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta detratado, de requisição do Ministro da Justiça”.
Se a sentença estrangeira impôs medida de segurança a agente inimputável, não pode ser executada no Brasil, porque nosso sistema não permite tal reação estatal contra os inimputáveis.
	Para os efeitos previstos no art. 9º, a sentença estrangeira depende de homologação do STJ (CF, art. 105, I, i), com redação dada pela EC 45/2004. O STJ, no caso de homologação, não entra no mérito da sentença. Faz apenas um juízo de delibação, ou seja, um exame superficial da legalidade do ato.
Acordos Bilaterais: na atualidade o Brasil vem firmando acordos bilaterais de troca de presos (já o fez com Canadá, Estados Unidos, Espanha, Argentina, Chile, etc). Nesse caso, desde que haja concordância do próprio preso, faz-se uma troca: o estrangeiro cumprindo pena no Brasil vai para seu país de origem e um brasileiro, nas mesmas condições, vem cumprir pena no Brasil. 
*pra trazer o preso pra ca tem que ter a concordância dele.
Mas tudo depende da vontade do preso. Não é preciso que se respeite a regra de troca “um por um”. Pode ser que momentaneamente dois canadenses (condenados no Brasil) passem a cumprir pena no Canadá e, no futuro, dois brasileiros (condenados no Canadá) venham a cumprir pena no Brasil. Salienta-se que na troca de presos nenhum dos países que recebe o preso altera a quantidade de pena imposta, ainda que seja menor a pena (para o crime) no país que está recebendo o preso. O país recebe o preso para executar a pena (tão-somente). Não para julgá-lo outra vez.
5.10. Contagem de Prazo
	
		A forma de contagem de prazos penais está regulada pelo art. 10 do Código Penal, que determina que o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Assim, se uma pena começa a ser cumprida às 23h30min, os 30 minutos restantes serão contados como sendo o 1º dia. 
O prazo penal distingue-se do prazo processual, pois, neste, exclui-se o 1º dia da contagem, conforme estabelece o art. 798, §1º, do Código de Processo Penal. Assim, se o réu é intimado da sentença no dia 10 de abril, o prazo para recorrer começa a fluir apenas no dia 11 (se for dia útil).
Os prazos penais são improrrogáveis. Assim, se o prazo termina em um sábado, domingo ou feriado, estará ele encerrado. Ao contrário, os prazos processuais prorrogam-se até o 1º dia útil subsequente.
5.11. Frações não Computáveis da Pena
	Se o montante final da pena, resultante das operações cabíveis nas diversas fases de sua fixação, não for número inteiro, deverá o juiz desprezar as frações de dia nas penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, e, na pena de multa, as frações de real, após a atualização feita pelo contador judicial (art.11).	
Assim, se uma pessoa for condenada a 20 dias de detenção, e o juiz reduzir a pena em 2/3 (em razão da tentativa, p. ex.), o resultado final seria um dízimo (6,66). Dessa forma, nos termos do dispositivo acima mencionado, o juiz aplicará a pena de 6 dias de detenção.
Suponha-se, ainda, que o juiz fixe pena de 10 dias-multa, e que tenha de reduzi-la de 2/3, em face da tentativa. Segundo o critério em análise, a pena final deverá ser de 3 dias-multa. Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, os autos irão para o contador para a devida atualização do valor. Caso o montante final não seja número inteiro, deverão ser desprezados os centavos. Ex: R$ 55,14 (o condenado pagará R$ 55,00).
5.12. Legislação Especial
		O art. 12. estabelece que as regras da Parte Geral do Código Penal “aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso”.
		Esse dispositivo consagra a aplicação subsidiária das normas gerais do direito penal à legislação especial, desde que esta não trate o tema de forma diferente. 
Todas as legislações penais especiais valem na lei penal. 
Ex: o art. 14, II, do Código Penal, que trata do instituto da tentativa, aplica-se aos crimes previstos em lei especial, mas é vedado nas contravenções penais, uma vez que o art. 4º da Lei das Contravenções Penais declara que não é punível a tentativa de contravenção. DECRETO-LEI Nº 3.688, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941		
VI – Classificação Doutrinária dos Crimes
1) Crimes Instantâneos, Permanentes e Instantâneos de Efeitos Permanentes: essa classificação se refere à duração do momento consumativo.
Crime instantâneo: é aquele cuja consumação ocorre em um só instante, sem continuidade temporal. Ex: no crime de estupro (art. 213), o crime se consuma no instante em que é praticada a conjunção carnal ou outro ato libidinoso.
Crime permanente: é aquele cujo momento consumativo se prolonga no tempo por vontade do agente. Ex: no crime de seqüestro (art. 148), a consumação ocorre no momento em que a vítima é privada de sua liberdade, mas a infração continua consumando-se enquanto a vítima permanecer em poder do seqüestrador. Outro exemplo art. 149.
Crime instantâneo de efeitos permanentes: é aquele cuja consumação se dá em determinado instante, mas seus efeitos são irreversíveis. Ex: homicídio (art. 121).
2) Crimes Comissivos e Omissivos: essa classificação diz respeito ao meio de execução empregado para a prática do crime.
Crime comissivo é aquele praticado por uma ação. Crime omissivo é aquele no qual o agente comete o crime ao deixar de fazer alguma coisa. Os crimes omissivos se subdividem em:
	a) Omissivos próprios: também chamados de puros, que se perfazem pela simples abstenção, independentemente de um resultado posterior. Ex: omissão de socorro (art. 135), que se aperfeiçoa pela simples ausência de socorro.
b) Omissivos Impróprios: também chamados de comissivos por omissão, nos quais o agente, por uma omissão inicial, dá causa a um resultado posterior, que ele tinha o dever jurídico de evitar. Ex: a mãe, que tinha o dever jurídico de alimentar o filho, deixa de fazê-lo, provocando a morte da criança. A mãe responde pelo homicídio. 
3) Crimes Materiais, Formais e de Mera Conduta: essa classificação se refere ao resultado do crime como condicionante de sua consumação. 
Crimes materiais: são aqueles em que a lei descreve uma ação e um resultado, e exige a ocorrência deste para que o crime esteja consumado. Ex: no estelionato (art. 171), a lei descreve a ação (empregar fraude para induzir ou manter alguém em erro) e o resultado (obter vantagem ilícita em prejuízo alheio), e, pela forma a como está redigido o dispositivo, pode-se concluir que o estelionato somente se consuma no momento em que o agente obtém a vantagem ilícita por ele visada.
Crimes formais: são aqueles em que a lei descreve uma ação e um resultado, mas a redação do dispositivo deixa claro que o crime consuma-se no momento da ação, sendo o resultado mero exaurimento do delito.
 Ex: o art. 159 do CP descreve o crime de extorsão mediante seqüestro: seqüestrar pessoa (ação) com o fim de obter qualquer vantagem como condição ou preço do resgate (resultado). O crime, por ser formal, consuma-se no exato momento em que a vítima é seqüestrada. A obtenção do resgate é irrelevante para o fim da consumação, sendo, portanto, mero exaurimento. 
Crime de mera conduta: são aqueles em relação aos quais a lei descreve apenas uma conduta e, portanto, consumam-se no exato momento em que esta é praticada.
Ex: violação de domicílio (art. 150), no qual a lei incrimina a simples conduta de ingressar ou permanecer em domicílio alheio sem a autorização do morador.
4) Crimes de Dano e de Perigo: 
Crimes de dano: são aqueles que pressupõem uma efetiva lesão ao bem jurídico tutelado. 
Exs: homicídio, furto, etc. 
Crimes de perigo: são os que se consumam com a mera situação de risco a que fica exposto o objeto material do crime.
Exs: crime de periclitação da vida e da saúde (art. 132); rixa (art. 137) etc.
Os crimes de perigo, por sua vez, subdividem-se em:
a) Crimes de perigo abstrato (ou presumido): em relação a esses crimes a lei descreve uma conduta e presume que o agente, ao realizá-la, expõe o bem jurídico a risco. Trata-se de presunção absoluta (não admite prova em contrário), bastando à acusação provar que o agente praticou a conduta descrita no tipopara que se presuma ter havido a situação de perigo. Ex: crime de rixa (art. 137). 
Luiz Flávio Gomes alega haver inconstitucionalidade nessa modalidade de infração penal por afronta ao princípio da ofensividade (ou lesividade), segundo o qual a existência de um delito pressupõe efetiva lesão ao bem jurídico ou, ao menos, um risco efetivo de lesão, o que não ocorre nos crimes de perigo abstrato. Acontece que a jurisprudência não tem reconhecido essa inconstitucionalidade, já que o mencionado princípio da ofensividade não exsurge claramente do texto constitucional. 
b) Crimes de perigo concreto: nesses delitos a acusação tem de provar que pessoa certa e determinada foi exposta a uma situação de risco em face da conduta do sujeito. Em suma, há que se provar que o perigo efetivamente ocorreu, pois este não é presumido. Ex: crime de periclitação da vida e da saúde (art. 132), no qual o tipo penal exige que a vida ou a saúde de pessoa determinada seja exposta a perigo direto e iminente. 
c) Crimes de perigo individual: são os que expõem a risco o interesse de uma só pessoa ou de grupo limitado de pessoas. Exs: arts. 130 a 137 do Código Penal.
d) Crimes de perigo comum: também chamado de coletivo, são os que expõem a risco número indeterminado de pessoas. Exs: arts. 250 a 259 do Código Penal. 
5) Crimes Comuns, Próprios e de Mão Própria: dizem respeito ao sujeito ativo da infração penal.
Crimes comuns: são aqueles que podem ser praticados por qualquer pessoa. Exs: furto, roubo, homicídio, etc.
Crimes próprios: são os que só podem ser cometidos por determinada categoria de pessoas, por exigir o tipo penal certa qualidade ou característica do sujeito ativo. 
Exs: infanticídio (art. 123), que só pode ser praticado pela mãe, sob a influência do estado puerperal; corrupção passiva (art. 317), que só pode ser cometido por funcionário público, etc.
Crimes de mão própria: são aqueles cuja conduta descrita no tipo penal só pode ser executada por uma única pessoa e, por isso, não admitem coautoria. 
Exs: o falso testemunho (art. 342) só pode ser cometido pela pessoa que está prestando o depoimento naquele exato instante; o crime de dirigir veículo sem habilitação (art. 309 do CTB) só pode ser cometido por quem está conduzindo o veículo.

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