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ÉTICA PROFISSIONAL NA EDUCAÇÃO Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI Pedagogia – Prática Interdisciplinar II 21/11/2017 RESUMO A Pesquisa na qual será apresentada, tem como finalidade do tema, evidenciar a importância da Ética na Educação, e evidenciar sua aplicação quanto a sociedade em geral. A Ética apresenta discussão em todos os setores, na Educação não é diferente, pois a necessidade de obter cada dia as melhores condutas por parte não somente dos professores, mas também dos alunos, funcionários, e do contexto geral que envolve o ambiente escolar que assim buscam através da ética, regras que trarão benefícios à sociedade. A ética na educação tem como objetivo, uma educação comprometida, de qualidade que forme cidadãos de responsabilidade com princípios e valores, pois na nossa cultura, normalmente ouvimos falar que os professores são os exemplos para a sociedade e, consequentemente para os seus educandos, e realmente, é assim que tem que ser, pois estes profissionais da educação devem dispor-se a trabalhar em prol do outro para um bem comum, visando seu aluno como ser humano individual, e dessa forma, acaba resultando um cidadão melhor para a sociedade. Nessa perceptiva até mesmo o comportamento social e pessoal do professor precisa girar em torno dos princípios e valores da sociedade em que ele está inserido, sendo honesto, crítico, colaborador, ou seja, com um caráter integro e sem vínculos com vícios, ou qualquer outro costume que seja considerado antiético. Palavras-chave: Pesquisa. Ética. Educação. 1 INTRODUÇÃO No decorrer dos séculos, a importância da ética no sistema formativo dos cidadãos tem sido objeto de discussão de muitos filósofos, educadores e teóricos de diversas áreas do conhecimento. Especialmente, nos últimos anos, esse debate tem se tornado mais intenso, por inúmeros propósitos, dignos de destacar aqui dois deles. Um é de uma forma mais geral, e que diz respeito às profundas mudanças decorridas pela sociedade contemporânea, nos mais diversas áreas da vida humana. O segundo estende-se ao desafio de a educação preparar cidadãos que sejam, ao mesmo tempo, reflexivos e autônomos, no entanto sem a extinção dos vínculos de solidariedade social. Esses dois motivos têm concorrido para ampliar a contemplação sobre a relação ética na educação. Nesse ponto de vista, a educação colaborou para que os homens edifiquem suas relações colhendo referência nos valores defendidos na vida social, os quais ganham solidez em contextos sócios histórico inerente. Por seu lado, a escola é a instituição que, no mundo moderno, assume um duplo 2 compromisso: executar a sistematização, transmissão e (re)construção dos saberes historicamente produzidos, e promover a formação ética dos indivíduos, na perspectiva da construção e consolidação da cidadania plena. Por esse fato, a importância da ética entre professor-aluno merece uma fundamental importância, ainda mais quando é notória a proposição onde o professor é um profissional que, ao transmitir simplesmente a instrução, é responsável pela mediação entre o conhecimento e o educando, o que se faz por meio de sua prática pedagógica. Estabelecer relação entre educação e ética é um desafio, pela realidade do mundo em que vivemos. As contradições que aparecem, mostram um mundo de diversas possibilidades ao lado de uma realidade de autodestruição assustadora e é na escola que aparece a incerteza de como trabalhar a reflexão e reprodução de valores éticos. A educação precisa se constituir em ações éticas para a formação de um novo homem e uma sociedade mais digna. Educando as gerações futuras para que se comprometam com a ética voltada para a formação de uma nova realidade mais justa e igualitária e que se plante a esperança de um mundo melhor. A Educação e Ética possibilitam a redução de falta de estímulos nas pessoas do mundo inteiro, mesmo não sendo a educação a principal responsável pelos problemas atuais. Porém, o ambiente escolar é um espaço importante para que seja implantada uma nova realidade. Cabe aos profissionais da educação a tarefa de mudarem suas práticas e assumirem um papel transformador, comprometidos eticamente, fazendo com que a escola cumpra o seu papel na construção da de um mundo melhor para toda a sociedade, referenciando um processo amplo, completo e comprometido com as competências humanas. 2 ÉTICA NA EDUCAÇÃO Quando se fala em ética na educação, logo se pensa na conduta do professor em relação aos alunos, porém o contexto de ética ultrapassa este pensamento, e estabelece princípios gerais que vão além da escola, abrangendo uma sociedade em geral. Cortella (2010 pg.106) nos apresenta a seguinte definição de ética: “Conjunto de princípios e valores da nossa conduta na vida junta”. Portanto ética é o que faz a limitação entre o que a natureza manda e nós decidimos. Nesta definição Cortella apresenta três grandes perguntas da vida humana: Quero? Devo? Posso? E então explica que há coisas que eu quero, mas não posso. Há coisas que eu posso, mas não devo, e há coisas que eu devo, mas não quero, o que faz refletir o professor, em sala quanto a sua 3 autonomiacom o aluno, assim como o aluno, diante de um professor, a gestão diante a escola, e a sociedade perante o mundo. Já Boff (1997), aponta o que é ser ético: “ético significa, portanto tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável, psicologicamente integrada e espiritualmente fecundada”, neste caso a educação que gira em torno dos educandos, tem como base, o papel do professor, que precisa ter o objetivo de sempre querer formar indivíduos conscientes de seus deveres e direitos, dentro da sociedade. É na escola que está constituído um espaço reflexivo e reprodutor da sociedade em que é inserida, e é através da educação que serão conquistados para todos uma nova realidade. Para isso é preciso que os profissionais que atuam na educação vão em busca de valores que formem um novo homem e uma nova sociedade. Para que isso aconteça, a ética e a educação devem andar juntas. Somente um ser humano educado com compromisso por parte do educador, vai melhorar sob todos os aspectos. Jorge Renato Johann diz que “a educação mobilizará sempre suas múltiplas dimensões de um ser biológico, social, espiritual, intelectual, psicológico, material, estético, ético, etc”. Será neste sentido que se poderá falar em educação e ética e em uma harmonização necessária e dentro de um contexto social. Fazer educação implica pensar e agir com ética. De acordo com a afirmação de Baptista (2005, p. 9). Na grande obra da construção humana, a educação entra como uma tarefa indispensável, atuando em um mundo e sobre seres marcados por diversidades incontáveis. É preciso ter clareza que a busca por uma educação ética, não será fácil e nem com todos os objetivos alcançados, sendo preciso buscar caminhos que levem para uma aproximação entre a educação e a ética. As Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (DCMsEI), falam em três princípios, que remetem com mais clareza as palavras de Boff, são os princípios éticos, estéticos e políticos. Sobre os princípios éticos comenta-se: valorização da autonomia, da responsabilidade, e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. Torna-se necessário que o professor em todo o tempo então aja com posturas bem definidas, com dinamismo, caráter, não pensando somente em lançar notas, e passar, ou reprovar seu aluno, assim como buscar a qualidade no processo educacional, ouvir e respeitar as opiniões dos alunos, não expor erros ou 4 deficiências de alunos na frente da classe, podendo seguir seu código de ética, e acima de tudo se tornar um modelo ser humano para seu aluno. Os educadores precisam investir, em sua prática educativa, testando possibilidades éticas em uma luta diária, sendo desafiadores na sua tarefa árdua de fazer uma educação com ética. Baptista (2005) chega a chamar a tarefa do professor de profissão de alto risco e de certo modo uma missão impossível (2005, p.27), tamanha é a sua responsabilidade de construir seres humanos livres, responsáveis, competentes e autônomos. Esta tarefa não pode ser reduzida a uma mera preparação técnica para um fazer competente, mas implica a construção de seres humanos por inteiro. Segundo a autora, os aspectos éticos se inserem na essência desta construção para garantir o ponto de equilíbrio entre a teoria e a prática, entre a racionalidade e a sensibilidade e outros aspectos que perfazem o humano. Uma mera preparação técnica, baseada mesmo que na excelência de informações, não construiria seres humanos inteiros. Constituir-se-ia em um ensino a reduzir-se em treinamento e ajustamentos de peças para uma grande engrenagem social. 2.1 ALUNOS E GESTÃO ÉTICA O papel principal da escola, é fazer com que seus alunos adquiram conhecimento por meio de um processo de aprendizagem, e os ensinem da melhor forma possível, tudo que for necessário para serem “bons” cidadãos perante a sociedade. Assim cabe a escola trabalhar a ética, como forma de o indivíduo se tornar melhor, para si e para o mundo em que vive, pois, a sociedade tem passado por situações adversas que traz à tona o individualismo, e a perda cada vez maior de valores morais. Os seres humanos não são naturalmente responsáveis, comprometidos e solidários, no dizer de Assmann (2000, p. 20). [...] “estes são valores que precisam ser semeados e cultivados incessantemente”. Esta aprendizagem ética é tarefa da educação e será fruto de uma decisão consciente, de uma prática reflexiva permanente e que leve a ações efetivas e realizadoras. Mais uma vez, na tarefa desta iluminação, agora na afirmação de Baptista (2005, p. 39), entra a educação com uma de suas finalidades primordiais, que é tornar as pessoas capazes de fazer a sua diferença no tempo, contra a indiferença, a descrença, o pessimismo e a tentação da inocência. É nisto que se constitui o grande compromisso ético da educação, em que se evidencia claramente a necessidade da aproximação entre ambas. A proposta de Baptista é a de uma ética que possa salvaguardar a possibilidade de 5 futuro e que ela chama também de responsabilidade prospectiva (2005, p. 40). A autora se recusa a aceitar o medo como argumento ético e propõe a crença na força do bem. Será através de um debate criativo e prospectivo, exercitando a sua capacidade de sonhar e construir, que a humanidade poderá fazer a diferença, garantindo o direito à vida, o respeito pela liberdade e dignidade de cada ser ou a recusa de práticas de discriminação e de violência (BAPTISTA, p.41). É necessário que os alunos, não só aprendam ética, como coloquem a ética em prática no ambiente escolar, respeitando o trabalho dos professores e da gestão, não colando em avaliações, ou na elaboração de trabalhos, não praticando bullying com colegas, seguindo sempre as normas estabelecidas pela escola para o seu melhor funcionamento. Como os alunos e os professores, a escola conta com uma gestão, muitas vezes composta por diretores, coordenadores, assistentes, auxiliares, entre outros funcionários que tem um papel fundamental na construção de um ambiente educacional ético, e eles devem assim como os alunos e professores, cumprir com o seu papel de ser exemplo aos alunos, tratando os demais com respeito, orientando sempre de forma positiva a quem lhes procurar, criando condições físicas e pedagógicas que visem sempre o melhoramento da escola em geral, assim como solucionar todas es questões que envolvam escola e sociedade. Baptista (2005) chama a atenção para as implicações éticas decorrentes dos aspectos organizacionais e de gestão escolar que implicam a interação profissional no mundo educativo. Para que esta ação educativa possa ser democrática, solidária e justa, a sociedade do conhecimento precisa alicerçar-se em valores como o respeito pelo tempo do outro, a sensibilidade, a paciência, a atenção, a escuta e as atitudes de ajuda (2005, p. 54). 3. ENSINANDO A ÉTICA NA ESCOLA Não se ensina ética, pensando somente nela, pois ela nunca anda sozinha, e não necessariamente é vista como uma disciplina no ensino fundamental, mas pode ser tratada como um tema, até porque, no ensino médio, ela deve ser abordada dentro da filosofia, e então no ensino superior que ela aparece como matéria, uma disciplina. Mas, de qualquer forma ela pode ser abordada abertamente nas escolas, não somente em sala de aula, mas em palestras e/ou até mesmo na hora do intervalo, mostrando na prática o que é ser ético, o que é a ética. A melhor forma de ensinar ética na escola é dando exemplos, exemplos concretos de comportamentos, do dia a dia que nos mostram na prática como os indivíduos devem agir. 6 Para que isto aconteça, os profissionais da educação precisam entender e assumir seu papel de educador, inserindo em seus planejamentos e em seus discursos, valores éticos. A aproximaçãoentre a educação e a ética é afirmada por Freire (2002) de forma explícita em sua obra Pedagogia da Autonomia, ao dizer que [...] “a prática educativa tem de ser, em si, um testemunho rigoroso de decência”. (p. 36). Esta afirmação se funda no próprio conceito de educação do autor, ao afirmar: “A necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética”. (FREIRE, 2002, p. 36). Diz o autor: Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso, nos tornamos seres éticos. [...] não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela (FREIRE, 2002, p. 36-37). 3.1 TUDO É CONVIVÊNCIA Até o século VI a.C. ethos (em grego arcaico) significava morada do humano, o lugar onde nós vivemos juntos. Depois, os gregos passaram a chamar de oikos, o que chamamos de ecologia. Se moramos juntos, temos que conviver bem. Os latinos traduziram isso por “moral” - morada, moradia – ou “hábito” - habitação. É onde vivemos juntos. Portanto, ética tem a ver com a nossa convivência. Não existe ser humano que tenha só vivencia, tudo para nós é convivência. A educação também nos forma eticamente para a convivência. Para Bárcena e Mélich (2000), a educação é apresentada como acontecimento ético fundamental. A aproximação entre a educação e a ética se constitui em condição de possibilidade da ação educativa. A argumentação destes autores continua se fundamentando no pensamento levinasiano da alteridade. Educar é cuidar do outro, indo ao encontro de suas necessidades e assumindo a responsabilidade de hospedá-lo de forma acolhedora. [...] caracterizar a ação educativa como uma relação de alteridade, como uma relação com o outro. [...] A educação aparecerá como uma ação hospitaleira, como a acolhida de um recém-chegado, de um estrangeiro. E desta resposta ao outro, desta heteronomia que funda a autonomia do sujeito, a relação educativa surgirá diante de nossos olhos como uma relação constitutivamente ética. A ética, então, como responsabilidade e 7 hospitalidade, não será entendida como uma mera finalidade da ação educativa, mas como sua condição de possibilidade (BÁRCENA e MÈLICH, 2000, p. 126). 4 CONTEXTO HISTÓRICO DE ÉTICA A ética é um sinalizador do desenvolvimento humano tanto cultural, como moral. A evolução do conceito de ética é determinada pela mudança dos valores morais. Quanto a valores e costumes vigentes, tudo teve início na cultura ocidental, na antiguidade Clássica, com os primeiros grandes filósofos a exemplo de Socrátes, Platão, e Aristóteles, que faziam de certa forma um estudo sobre o comportamento humano, querendo compreender como o homem teria valores universais, ou seja, de que forma o homem seria correto, virtuoso e ético, em um contexto onde a preocupação era voltada ao cenário político, com influência em um código moral estabelecido. Assim, segundo eles, as vontades e os desejos do ser humano, poderiam ser vistas como um perigo a sociedade em geral, devido a não saber como seria a conduta do mesmo, se não fossem éticos com suas vontades e desejos. Assim era necessário que se adquirissem bons comportamentos, para que diante a sociedade se pudesse viver de forma “acertada”, entre o justo e o injusto entre o certo e o errado. Na idade média, o conceito de ética muda para a influência de São Agostinho e São Tomás de Aquino, que defendiam onde ético era o encontro de Deus com o homem, para a felicidade plena, impondo uma ética religiosa e moral. 5 SENTIDO E ALCANCE DA EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA SOCIAL De fato, nenhum indivíduo escapa da educação, pois ela ocorre em todos os espaços sociais, sendo um deles o escolar. Assumindo um real significado para os grupos humanos que o vivenciam, a educação revela um caráter eminentemente social, considerando o contexto no qual se realiza. Nessa lógica, ela “[…] é um dos principais meios de realização de mudança social ou, pelo menos um dos recursos de adaptações das pessoas, em um mundo em mudança […]”. (BRANDÃO, p. 23). A educação sempre está fundada em uma visão de mundo, de conhecimento e de homem. Essa visão assume um caráter de transformar ou não frente a realidade social, o que acaba por influenciar diretamente o processo formativo dos indivíduos. Assim, sempre há uma intencionalidade na prática pedagógica. Essas ações são orientadas por concepções que se originam em função de determinados condicionantes de natureza política, econômica, social, cultural etc. 8 Devido aos avanços tecnológicos e científicos de grande alcance, a sociedade contemporânea é marcada por diversas incertezas. Todavia, essa mesma sociedade convive com um expressivo crescimento de problemas graves, como, por exemplo, fome e miséria que avassalam continentes e regiões bastante diferenciadas do planeta. Neste contexto, cabe perguntar: O significa educar? Que valores éticos devem ser defendidos em um mundo que, de repente, ficou pequeno e globalizado, considerando o avanço do conhecimento e suas repercussões sobre a vida das pessoas? No mundo atual, a educação vê-se diante de diversos problemas, frente aos quais precisa-se posicionar de forma crítica. Dentre esses problemas, está a formação para a cidadania plena, a necessidade do respeito à diversidade cultural, a democratização tanto da sociedade quanto do próprio espaço escolar e o combate à violência. Chauí (2000) enfatiza que os atos de violência cometidos contra os homens caracterizam-se como ações que retiram dos indivíduos sua autonomia, desumanizando-os. Situando o debate no âmbito da formação cultural brasileira, a autora ressalta que nossa sociedade revela também diversas formas de violência simbólica, sendo: [...] marcada pela estrutura hierárquica do espaço social que determina a forma de uma sociedade fortemente verticalizada em todos os seus aspectos: nela, as relações sociais e intersubjetivas são sempre realizadas como relação entre um superior, que manda, e um inferior, que obedece. As diferenças e assimetrias são sempre transformadas em desigualdades que reforçam a relação mando-obediência. O outro jamais é reconhecido como sujeito nem como sujeito de direitos, jamais é reconhecido como subjetividade nem como alteridade. (p. 89). As políticas públicas definidas para a educação no país investem, cada vez mais, em ações que estabelecem e consolidam a relação educação e cidadania, bem como em outros temas a ela relacionados como democracia, justiça, solidariedade e autonomia. A escola tem a importante função de contribuir para fortalecer a democracia. É o compromisso com a democratização de suas práticas que contribui para que ela seja, de fato, um espaço público, e a configura como um local que reconhece a necessidade do respeito à percepção do outro, “[...] num mundo social intersubjetivamente partilhado” (HABERMAS, 2004, p. 109). Trata-se de defender uma educação escolar que efetivamente contribua para ajudar os indivíduos a reconhecer o outro, respeitando suas diferenças. Mas, é preciso que os professores tenham como preocupação básica a formação integral dos seus alunos, articulando duas grandes dimensões – moral e intelectual – com vistas ao desenvolvimento da autonomia do indivíduo. Na perspectiva filosófica de Kant (1985), a autonomia dos sujeitos corresponde à conquista da sua maioridade intelectual e moral. É por meio de uma consciência autônoma, que os indivíduos 9 sabem resolver problemas diversos, desenvolvendo uma reflexão própria. Para tanto, é preciso utilizar conhecimentos e não apenas informações, e apoiar-se em princípios éticos e não apenas em vivências que, muitas vezes, podem não traduzir os valores morais do coletivo. As expressões que Freire (2002) utiliza sãopensar certo e pensar errado (p.37). O pensar certo se dará na medida em que o educador abandona uma postura dogmática a respeito de uma interpretação do mundo e de suas coisas. Mas como não há pensar certo à margem de princípios éticos... (FREIRE, 2002, p. 37). Freire defende assim o princípio da pluralidade de pensamento, da humildade de quem sabe mudar de ideia e assumir uma nova postura, a relatividade do mundo e dos fatos, a necessidade de dialogar e aceitar o pensamento de outrem e a coerência de quem é aberto, receptivo, acolhedor e sabe assumir a exigência de mudança. Sem dúvida, toda educação exige, em alguma medida, o diálogo entre os sujeitos que realizam. Assim, a ética torna-se indispensável, sobretudo, porque pode contribuir para o processo de humanização dos homens, considerando os valores que norteiam suas condutas. Portanto, toda a proposta pedagógica de Freire se alinha com a necessidade de se aproximar educação à ética. Trata-se de uma educação da esperança na medida em que acredita que, ao se assumir uma postura e um comprometimento ético, será possível a construção de um mundo cada vez mais humano. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente texto teve como objetivo discutir a relação que se estabelece entre ética e educação, apontando aspectos importantes para sua compreensão, à luz da concepção de educação em uma dupla direção – como uma prática social historicamente situada e em seu caráter formal, quando se processa na escola. No mundo contemporâneo, a escola é mais importante instituição responsável pela formação ética do indivíduo. Entretanto, para cumprir essa missão, enfrenta diversos desafios. Dentre estes, dois merecem destaque e dizem respeito diretamente ao trabalho dos educadores: a) transformar a escola em um espaço que efetivamente respeite a diversidade cultural; b) pensar uma sociedade que se democratiza ao mesmo tempo em que contribui para a democratização da escola e, em um movimento dialético, é influenciado por esse mesmo espaço. Na perspectiva discutida neste trabalho, a prática educativa precisa considerar e valorizar, na formação dos educandos, a defesa de princípios éticos diversos, e sua autonomia, responsabilidade, 10 solidariedade, criatividade e sensibilidade. Também é necessário estimular e respeitar a participação dos educandos nas mais variadas práticas sociais, bem como naquelas planejadas, realizadas e avaliadas pela escola. Essa postura concorre para combater quaisquer formas de discriminação, e promover a integração entre as diversas áreas do conhecimento, visando ampliar a formação e o exercício pleno da cidadania. A ética não possui um caráter normativo, por isso não nos indica o que devemos fazer, como faz a moral. Assim, se a moral diz que devemos obedeces às leis, a ética nos leva a indagar porque devemos obediência às leis. Trazendo essa reflexão para o campo pedagógico, podemos pensar o que significa o respeito na relação professor-aluno? E mais: será que os docentes também não devem respeitar os educandos, quando o mais comum é pensar na proposição inversa? Em suma, há uma relação muito estreita entre ética e educação! Em decorrência disso, a dimensão ética na relação professor-aluno assume grande importância, pois educação e ética estarão sempre alinhadas, como condição de possibilidade uma da outra. Nesse sentido, merece registrar que em uma relação pedagógica o que se aprende, de fato, não é tanto o conteúdo ensinado, mas, sobretudo, a natureza do vínculo entre educador e educando que se estabelece na relação. Enfim, a educação só pode ser entendida como acontecimento ético porque a ação educativa precisará sempre se constituir em uma prática consciente e direcionada no sentido do outro. REFERÊNCIAS Artigo extraído do site www.multirio.rj.gov.br a partir de uma entrevista concedida à série de TV MultiRio, do fascículo Conceito & Acão (parte I) http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/10388-%C3%A9tica-e- educa%C3A7%C3%A3o http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2016/02/Patricia-Rangel.pdf htpp://pt.wikipedia.org.wiki/%C3%89tica_na_educa%C3%A7%C3% https://www.portaleducação.com.br/conteudo/artigos/direito/etica-na-educacao-faz-toda-a- deferenca/48226 https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/o-que-etica.htm BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 38 ed. São Paulo: Brasiliense, 1996. http://www.multirio.rj.gov.br/ http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2016/02/Patricia-Rangel.pdf 11 CANIVEZ, Patrice. Educar o cidadão? São Paulo: Papirus, 1991. CHAUÍ, Marilena. Brasil. Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: 2000. COUTINHO, Carlos Nelson. Cidadania e modernidade. Palestra proferida na Embratel, Rio de Janeiro, 20 mai. 1994, Mimeo.
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