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COLÉGIO SINODAL GUSTAVO ADOLFO O VINHO EM SOCIEDADE Das mesas egípcias até a contemporaneidade Camila Thaís Scheibler e Isabela Messer Alberto Lajeado, mês de 2020. Camila Thaís Scheibler e Isabela Messer Alberto O VINHO EM SOCIEDADE Das mesas egípcias até a contemporaneidade Pesquisa apresentada à disciplina de Química, como parte da avaliação do 2º trimestre do corrente ano. Professora: Luciana Fernandes Lajeado, julho de 2020. RESUMO A participação do vinho no cotidiano das pessoas se faz muito presente, despertando o interesse em degustar as diversas variedades e em buscar maior conhecimento sobre o assunto. A presente pesquisa tem como objetivo compreender a história da bebida ao longo de sua formação, analisando sua importância em cada momento da sociedade por meio de estudo em artigos científicos e sites especializados no tema. Verificou-se a existência do vinho desde o período inicial do Neolítico, correspondente a cerca de 8.000 anos atrás. Desde então, a bebida se fez muito importante na vida social da Grécia e Roma Antiga, sendo frequentemente citado em lendas ou mitos e se mantém até hoje em momentos de grande importância ou acompanhando as refeições. Além disso, analisou-se com profundidade o processo de formação do vinho, destacando a participação do álcool, sendo sua produção ligada às leveduras, as quais atuam como organismos responsáveis pela transformação de açúcar em etanol. Esse, apesar de muito associado a doenças como cirrose, desordens mentais e comportamentais, hipertrigliceridemia, distúrbios depressivos e enfraquecimento dos ossos e lesões, no vinho, apresenta-se em poucas quantidades como benéfico para a saúde, devido ao resveratrol, sendo esse o principal componente do vinho tinto. A ele são atribuídas inúmeras propriedades favoráveis ao bem-estar humano, como a limitação de propagação de células cancerosas, prevenção à diabetes, características anti-inflamatória, antibacteriana e entre outras. Palavras-chave: Vinho. História do vinho. Processo de formação do vinho. Álcool SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 5 2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 6 2.1. Histórico do vinho ........................................................................................... 6 2.1.1. A história do vinho segundo a ciência ..................................................... 6 2.1.2. A história do vinho conforme a bíblia ....................................................... 7 2.1.3. A história do vinho segundo as mitologias ............................................... 8 2.1.4. A história do vinho no Novo Mundo ......................................................... 8 2.2. Consumo do vinho ......................................................................................... 9 2.2.1. Na Antiguidade ........................................................................................ 9 2.2.2. Na Atualidade ........................................................................................ 10 2.3. Processo de fabricação ................................................................................ 11 2.3.1. Colheita ................................................................................................. 11 2.3.2. Desengrace e esmagamento ................................................................. 12 2.3.3. Fermentação e transfega ....................................................................... 12 2.3.4. Estabilização.......................................................................................... 13 2.3.5. Filtração ................................................................................................. 13 2.3.6. Maturação .............................................................................................. 14 2.3.7. Engarrafamento ..................................................................................... 14 2.4. Especificar como o álcool surge no vinho .................................................... 15 2.5. De que maneira o álcool existente no vinho atua no corpo humano ............ 16 3. CONCLUSÃO .................................................................................................... 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 19 5 1. INTRODUÇÃO A produção do vinho, antes de Cristo, por províncias egípcias, promoveu uma cultura fortemente ligada a tal bebida, visto que, a utilização dessa estava presente em várias facetas. Seja em eventos religiosos, seja em pinturas, esse povo mantinha forte ligação com o líquido. De acordo com Fonseca (2012 p.133) “O vinho era parte integrante da cultura dos antigos egípcios que podem ser considerados por esse motivo, a primeira civilização vinícola da história.” Já a Grécia que, ao ter contato com o comércio egípcio, incrementou o vinho na sua cultura. O produto possuía também grande valor econômico, muito utilizado em celebrações religiosas e na área da medicina, onde foi estudado por Hipócrates na cura de dores de cabeça e na recuperação de demais doenças. A sua produção está ligada às leveduras, as quais atuam como organismos responsáveis pela transformação de açúcar em etanol, dióxido de carbono e compõem um papel crucial para a fermentação alcoólica (JIMÉNEZ-MARTÍ et al., 2011). Por conseguinte, independentemente do tipo de vinho, esses têm como integrante tais elementos: água, etanol, açúcares, minerais, vitaminas, ácidos orgânicos, aminas bioativas, traços de proteínas e polifenóis. Em contrapartida, concentrações altas dessas substâncias podem elevar a toxicidade causando males como, dores de cabeça e afins. Portanto, a presente pesquisa tem como objetivo analisar as características químicas do vinho, bem como a sua atuação no organismo humano e a sua importância cultural. A relevância deste conhecimento se faz pelo fato de o vinho ser um produto muito comum em nossa sociedade e outras que nos antecedem; entretanto, seu uso exige cuidados, uma vez que, gera malefícios à saúde, caso consumido de forma exacerbada. 6 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Histórico do vinho O vinho já está presente nas refeições há milhares de anos, sendo difícil afirmar com precisão qual a sua origem. Diversas civilizações contam uma história para a sua criação, envolvendo a mitologia e a ciência. Contudo, cientistas acreditam que o vinho surgiu acidentalmente, quando um punhado de uvas fermentou espontaneamente. 2.1.1. A história do vinho segundo a ciência A ciência faz o uso da arqueologia para buscar a origem das primeiras videiras plantadas, utilizadas posteriormente para a produção do vinho. Nesse sentido, as pesquisas se direcionam à história das primeiras espécies da planta, que mais tarde originaram as diversas variedades usadas atualmente. A espécie Vitis vinifera L. subsp. sylvestris é conhecida como a espécie-mãe das variedades de uva, dando origem a 99% das espécies atuais. Em Ohalo, sítio arqueológico israelense, há comprovações de videiras existentes há 20.000 anos atrás, aproximadamente. Escavado em 1889, foram encontradas evidências de cultivo em pequena escala de diversas plantas 11.000 anos antes do início da agricultura. Diversos grãos de frutas e cereais permaneceram preservados sob condições anaeróbicas durante todo o tempo, permitindo um estudo aprofundado sob o material. Já na Geórgia, especificamente na região do Cáucaso, foram encontradas cerâmicas do período inicial do Neolítico(8.100-6.600 anos), como mostra a Figura 1, um jarro inteiro foi encontrado (figura A), além de fragmentos de demais peças (Figura B, C e D), todas contendo resquícios de vinho. No local, 8 jarros encontrados apresentavam a assinatura química do vinho: o ácido tartárico, além de outros componentes como o ácido málico, o ácido cítrico e ainda o ácido succínico. A pesquisa, publicada em novembro de 2017 na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences revelou o uso do vinho 1000 anos antes do que se acreditava, sendo uma grande descoberta para o período. Conforme o arqueólogo https://reserva85.com.br/vinho/castas-uva-vitis-vinifera/ https://reserva85.com.br/vinho/castas-uva-vitis-vinifera/ 7 Stephen Batiuk, em entrevista à revista Veja, “nosso estudo sugere que a viticultura foi o principal elemento do modo de vida neolítico, que viu nascer a agricultura e se estendeu pelo Cáucaso”. Figura 1: Jarros arqueológicos com a assinatura química do vinho Fonte: Mindia Jalabadze e cortesia do Museu Nacional da Geórgia. Os equipamentos mais antigos utilizados para a fabricação do vinho datam de 4.000 anos a.C., encontrados na Armênia. Já o Egito é responsável pelo registro das primeiras ânforas, que tinham como utilidade o armazenamento e transporte de líquidos, incluindo o vinho. 2.1.2. A história do vinho conforme a bíblia A bebida já era mencionada diversas vezes na bíblia, que conta a sua versão do surgimento do vinho. Conforme nela escrita (Gênesis 9:20-25) “Noé, que era lavrador, plantou a primeira vinha. Bebeu o vinho, embriagou-se e ficou nu dentro da tenda”. Essa foi a história contada pelos cristãos ao longo dos séculos, onde Noé teria sido o primeiro cultivador das videiras e do vinho. 8 2.1.3. A história do vinho segundo as mitologias Diversas mitologias fazem o uso de Deuses para exemplificar a importância do vinho na sociedade. Na mitologia grega, o surgimento do vinho está relacionado ao deus Dionísio, que era também deus das festas e da fertilidade. Tal relação já demonstra o modo que a sociedade da época lidava com a bebida alcóolica, sendo muito relacionada às festas. Na mitologia romana o mesmo deus recebe o nome de Baco. Já a cultura egípcia não possuía um deus único para o vinho, porém sua criação estava ligada à Osíris, Deus da morte e também da agricultura. 2.1.4. A história do vinho no Novo Mundo O vinho chega às Américas por volta de 1550, com a colonização portuguesa e espanhola. Devido ao fato de as viagens serem longas, somente por mar, não era possível transportar a bebida, que não resistia às navegações. Por isso, a partir de 1552 começou-se a produzir vinho no continente americano. As primeiras videiras foram produzidas no México e no Peru, pelos espanhóis. Já na fração portuguesa (Brasil), Brás Cubas, nobre e explorador português foi o fundador de vinícolas no estado de são Paulo. É também de importante destaque a grande produção de vinhos e espumantes que ocorre atualmente no sul do país. Desde 1899, quando Manuel Peterlongo desembarca em Garibaldi, Rio grande do Sul, surgem vinícolas de renome internacional na região, hoje conhecida como Vale Dos Vinhedos, na serra gaúcha (Figura 2). Figura 2: Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves RS Fonte: Clube dos Vinhos Vinitude 9 2.2. Consumo do vinho A presença do vinho na sociedade se faz de diferentes formas, sendo de grande prestígio por todas as camadas sociais, não só em festas, mas também no dia a dia. Em muitos lugares, seu consumo sem moderação originava o alcoolismo, o que hoje ainda se vê acontecendo. Contudo, com os avanços sociais podemos ter uma melhor compreensão de como e quanto consumir. 2.2.1. Na Antiguidade Na Grécia Antiga o vinho era utilizado em larga escala, inclusive por crianças. Praticamente toda a população tinha acesso à bebida, porém com uma grande divergência na qualidade do produto. O vinho utilizado para abastecer o exército e os mais jovens era mais recente, menos processado e mais barato. Já os vinhos utilizados em grandes banquetes, pelos patrícios e a alta classe eram de origem fina, produzidos com maior cuidado e tempo. A região da Itália foi e ainda é pioneira na produção de vinho, e tem enriquecido muito com isso. Segundo o Blog Vinotícias, escrito por Márcio Oliveira, na cidade de Pompeia dois terços das moradias possuíam vinhedos, em grande parte para consumo próprio. Por ser uma bebida comum e de fácil acesso, era recorrente ocorrer problemas relacionados ao alcoolismo, devido ao grande consumo. Diante isso, passou-se a diluir o vinho em água, água quente e água do mar na proporção de uma parte de vinho para três de água, diminuindo a proporção de álcool na bebida. Na Macedônia o processo de diluição não agradou a população, que preferiu continuar bebendo vinho puro. Para a sociedade romana a bebida era tratada de forma parecida: era de consumo geral, mas com diferenças de classe. O vinho branco e doce era o mais apreciado, sendo mais comum entre pessoas de alto poder, assim como ocorria com os cartagineses. O alcoolismo não era bem visto aos olhos dessas sociedades, apesar de grandes nomes como Alexandre - O Grande e Marco Antônio serem conhecidos por sua constante embriaguez. O uso cotidiano da bebida a tornou barata, utilizada em 10 praticamente todas as refeições. Em eventos sociais, festas e conferências os vinhos eram essenciais, servindo de complemento para os debates políticos e filosóficos. Além disso, era muito utilizado em celebrações religiosas, como adoração aos Deuses (Figura 3), sendo também utilizado como remédio para dores de cabeça e pequenas enfermidades. Figura 3: Dionísio - o Deus do vinho Fonte: Mitologia e Arte 2.2.2. Na Atualidade Nos dias atuais o vinho ainda se faz muito presente nos cardápios, complementando refeições mais elaboradas ou outras mais simples, como uma pizza. A grande diferença é a legislação que fiscaliza o seu consumo, sendo permitido apenas para maiores de idade em função do uso do álcool na sua composição. O processamento do produto também alterou os sabores, mas ainda é possível encontrar vinícolas de produção artesanal, que mantém a originalidade da bebida. Seu consumo e produção é feito em todo o mundo, contendo uma enorme variedade de tipos e valores. Como na antiguidade, o vinho possui diferentes qualidades e características, influenciando seu preço e a classe de consumidores. Ainda assim, é uma bebida apreciada por quase toda população. 11 2.3. Processo de fabricação O vinho tinto não possui gás e também não recebe inserção extra de álcool, isto é, um vinho tranquilo, possui cor avermelhada e forte concentração de taninos, ao quais estão relacionados à cor e ao gosto. Para produzir o vinho tinto é necessário seguir determinados passos dentre colheita e recebimento, desengrace e esmagamento, fermentação e transfega, estabilização, filtração, maturação e, por fim, o engarrafamento (HUNOFF, 2017). Ademais, dentre esses processos, o que merece destaque é a colheita, uma vez que, o momento certo para realizá-la merece muita atenção do enólogo. 2.3.1. Colheita O estágio de maturação classifica o momento ideal da colheita, podendo variar entre castas – algumas variedades amadurecem mais cedo que outras – e as condições climatológicas. Logo, o terroir, por ser um conjunto de fatores naturais como solo, geografia, geologia e clima, influenciam no cultivo e qualidade da uva. Consequentemente, intervêm também na elaboração e resultado dos vinhos. Conforme notam ainda Pereira e Ribeiro (2008, p. 28), deve haver extrema cautela nesse período de colheita, valendo-se do plantio também: Claramente estão ligados à qualidade e devem ser supervisionados por agrônomos aptos para indicar os períodos corretos de plantio e colheita, evitando que o açúcar nas uvas seja em baixa quantidade,o que causará uma baixa fermentação, ou que a uva passe do ponto de maturação, quando a excessiva fermentação ocasiona um excesso de álcool e baixa acidez do vinho, além dos níveis recomendados. (PEREIRA; RIBEIRO, 2008, p. 28) Assim, com o intuito de evitar a oxidação da bebida, a colheita geralmente é feita em horários de temperaturas mais amenas, podendo ser feita manualmente (processo mais lento e caro) ou mecanicamente (mais rápido e barato) (ROSS, 2016). O controle da maturação é a parte fundamental para a realização da colheita. De acordo com Guerra (2002, p. 182), para apenas 1ºGL (Gay Lussac) de álcool, será necessário cerca de 18g/L de açúcar, visto que, o vinho é uma transformação do açúcar por álcool, pelas leveduras. Sob esse viés, no Brasil, a Lei nº 7.678, de 8/11/1988, indica que, para ser considerado um vinho de mesa, a bebida deve conter de 8,6ºGL a 14ºGL de álcool, sem inserção desse. Por conseguinte, exige-se que a fruta contenha ao menos 155g/L de açúcar. O acompanhamento da maturação pode 12 ser fenológico, qualidade e quantidade dos principais polifenóis da uva, fisiológico, observação das mudanças físicas da fruta, e tecnológico, acompanhamento de açúcares e acidez presentes de acordo com o destino do fruto. 2.3.2. Desengrace e esmagamento A etapa do desengrace consistia, antigamente, em pisotear a fruta com os pés, com o objetivo de obter o suco interior. Porém, hodiernamente, usa-se uma máquina, apresentada na Figura 4, chamada desengaçadeira/esmagadeira que remove os engaços dos grãos (os quais adicionam um amargor indesejável ao vinho) e, de maneira sutil, rompe as cascas das uvas, para que o mosto-flor contido no grão seja liberado e entre em contato com o ar e com as células de leveduras da película. Figura 4: Máquina desengaçadeira/ esmagadeira de uva. Fonte: EMBRAPA Uva e Vinho (2005) 2.3.3. Fermentação e transfega É nessa etapa que acontece a transformação da glicose para o álcool. As leveduras se alimentam do açúcar natural presente no suco das uvas e o transformam em álcool e dióxido de carbono. Por conseguinte, a temperatura do ambiente deve estar de acordo com os padrões de crescimento das bactérias. Para o vinho tinto, é importante manter a temperatura entre 25ºC a 30ºC, visando aumentar a cor e os taninos presentes na bebida (PEREIRA; RIBEIRO, 2008) Durante a fermentação também é necessário analisar o tempo de contato do líquido com as cascas, pois essas são responsáveis pela coloração dos vinhos, logo, quanto mais tempo em contato com a casca, mais cores e sabores serão acrescentados à bebida. No fim da fermentação alcóolica (tumultuosa) ocorre a transfega, isto é, o ato de transferir de um tanque a outro o líquido, separando os 13 resíduos sólidos, matéria orgânica, bactérias e leveduras que se depositam no fundo do tanque, evitando assim que essas contaminem a bebida dando-a sabores indesejados. 2.3.4. Estabilização Após todos os processos fermentativos, ocorre o controle de qualidade do produto por meio da capacidade de estabilização, sendo essa dividida em 3 etapas: a estabilização ao calor, que evita a turbidez caso submetido a altas temperaturas; a estabilização ao frio, evitando a formação de cristais em baixas temperaturas; estabilização microbiológica, impede que novas fermentações ocorram. A estabilização do vinho é uma etapa crucial para torná-lo potável ao consumo, como é possível distinguir na Figura 5. Essa etapa consiste no rearranjo dos teores de ácidos, polifenóis, polissacarídeos e proteínas, pela ação do oxigênio, e sem essa parte o vinho, ao ser aberto para consumo, seria totalmente desestruturado. Consiste em, geralmente, colocar a bebida em barris feitos com madeira de carvalho, submetidos as altas e baixas temperaturas para testagem, além de possibilitar a entrada de oxigênio devido a ação do carvalho. Figura 5: Comparação entre vinho tinto antes da estabilização (esquerda) e após estabilização (direita). Fonte: HUNOFF, 2017 2.3.5. Filtração A filtração tem por objetivo retirar, em âmbito microscópico, as impurezas que tendem a causar um aspecto turvo ao vinho. Os tipos de filtro mais usados são: a terra (normalmente são a vácuo); a placas, ou lenticulares. Conforme indicam Pereira e Ribeiro (2008, p. 31), há dois métodos principais para realizar essa etapa: a adsorção e a tamisação. Na adsorção sendo dirigida às bebidas mais limpas e claras, os vinhos são filtrados utilizando-se uma placa de celulose. As leveduras e bactérias que 14 restaram, mortas durante processos anteriores, são agora filtradas, deixando de fazer parte do vinho. Já na tamisação, que é para vinhos com muitas impurezas, são utilizados filtros à terra, como mostra na Figura 6, sobre um suporte poroso. Retira-se pequenos detritos, como se o vinho passasse em uma peneira, de forma mais rápida, porém menos eficaz que a adsorção. Figura 6: Representação fotográfica do filtro à terra Fonte: EMBRAPA Uva e Vinho (2005) 2.3.6. Maturação O processo de amadurecimento do vinho pode, basicamente, ser feito em tanques de aço ou barris de carvalho. Os tanques limitam a entrada de oxigênio, mantendo então o vinho mais fresco. As barricas, por sua vez, são as mais utilizadas para os vinhos tintos, propiciam maior oxigenação à bebida, reduzindo a quantidade de taninos e a acidez, além de gerarem novos aromas e sabores. Comumente os vinhos permanecem 2 anos nessa etapa, porém pode variar drasticamente dependendo da região. 2.3.7. Engarrafamento Após a maturação e todos os períodos supracitados o vinho está pronto para ser engarrafado, levando em consideração que ao término dessa última etapa o produtor pode considerar deixar a bebida em repouso na vinícola ou selecioná-la para comercialização. Entretanto, tal repouso é benéfico, pois assegura que complicações como “a doença da garrafa”, causada pela exposição excessiva ao ambiente ou muitas agitações, sejam erradicadas. 15 Para o engarrafamento é necessário apenas uma garrafa, geralmente de vidro e bem higienizada, para evitar que a bebida azede, e uma rolha, ou tampa similar. A rolha normalmente é feita de cortiça, pois serve como forte isolante ao passo que é leve, proporcionando facilidade na sua retirada. Em contrapartida, atualmente, vem sendo utilizado rolhas plásticas sintéticas para substituir a de origem vegetal, ambas possuem características similares, sendo, então, de escolha do produtor. A maioria dos vinhos utiliza-se da garrafa de vidro, que podem variar de tamanho, desde 187 mililitros, passando pelo formato padrão, de 750 mililitros, até 130 litros, o maior volume de garrafas padronizadas. Esses compartimentos costumam modificar de acordo com a região de produção, porém, não alteram as características do vinho. Recomenda-se que após colocada a rolha na garrafa, essa seja mantida por 3 horas em pé. E, após isso, seja mantida horizontalmente, deitada, para que a rolha umedeça, o que evita a entrada de ar na garrafa. 2.4. Especificar como o álcool surge no vinho O vinho é produzido através da fermentação alcoólica, que ocorre quando microrganismos, chamados de leveduras, transformam açúcares em etanol (álcool), energia (calor) e gás carbônico (CO2), além de produtos secundários. As leveduras mais utilizadas para a formação do álcool no vinho são as Saccharomyces cerevisiae - por ter uma resistência maior ao próprio álcool produzido e ao SO2 (dióxido de enxofre, principal conservante dos vinhos). Essas leveduras podem ser tanto anaeróbicas quando necessário, porém, para a produção do vinho tinto é necessário que esses microrganismos trabalhem de forma aeróbica, pois facilita o processo de transformação do açúcar. A glicose que as leveduras consomem é produzida integralmente pela própria uva, sem adições, durante o processo de maturação da fruta, logo ressaltando a importânciado cultivo e plantio. É na etapa de desengrace que o mosto-flor é liberado e fica exposto à oxidação e à ação de leveduras. Entretanto, apesar de o primeiro contato entre açúcar e levedura já ter acontecido, apenas no período da fermentação é que as leveduras atuam com seu devido papel. (SIMÕES, 2018) A fermentação se divide em várias etapas, sendo a fermentação tumultuosa ou alcoólica como principal, pois é onde ocorre uma grande formação de gás carbônico e aquecimento em pouco tempo, geralmente cerca de dois ou três dias, havendo então 16 a transformação do açúcar em álcool. Além do mais, Pereira e Ribeiro (2008, p. 29) destacam outros dois tipos de fermentações que ocorrem após a transfega: A fermentação lenta, onde o pouco açúcar restante diminui a intensidade da fermentação, e o mosto das uvas é totalmente transformado em vinho; a fermentação malotática, onde ocorre a transformação de ácidos málicos em ácidos láticos, dando aos vinhos sabores e aromas diferenciados, que constituem as características peculiares de vários vinhos. (PEREIRA; RIBEIRO, 2008) A filtragem caracteriza o encerramento do processo de transformação alcoólica, pois essa filtra o mosto e as leveduras por meio de membranas de poros minúsculos. Assim, o vinho transforma-se em um líquido mais puro, pois reduz sensivelmente a opacidade da bebida, o que propicia uma melhor característica visual. 2.5. De que maneira o álcool existente no vinho atua no corpo humano Devido ao seu passado como remédio, o vinho, é a mais antiga prescrição médica documentada. O grego Hipócrates (cerca de 450 a.C.), tido como o pai da medicina, realizou experimentos com diferentes tipos de vinhos para o tratamento de doenças. O grego sustentava que: "o vinho é apropriado para a humanidade, tanto para o corpo saudável quanto para o corpo doente". (BANIGAN, 2018) Já nos tempos contemporâneos, o “Paradoxo Francês” exemplifica tal benefício que o vinho proporciona para a saúde, em especial para prevenir doenças coronárias, uma vez que, os franceses apresentarem altos índices de sedentarismo, tabagismo, alto consumo de gorduras saturadas e os maiores níveis de colesterol quando comparados com outras populações porém menores indícios de doenças cardiovasculares. (ZAGONEL et al., 2019) As ações antioxidantes presentes na bebida representam grande influência em relação aos benefícios do consumo. Entre os diferentes polifenóis do vinho, o resveratrol apresenta maior destaque, e é maior alvo de estudos científicos. (MORAES; LOCATELLI, 2010) Consoante a Zagonel, Ogliari e Gemeli, características dessa substância favorecem a prevenção e o tratamento de doenças: A ele são atribuídas propriedades que limitam a propagação de células cancerosas, protegem as células nervosas de danos, ajudam a prevenir a diabetes, atuam como um agente antienvelhecimento e possuem características anti-inflamatória, antibacteriana, antifúngica, antiviral, 17 antimutagênica, antimetostática e antidiferenciadora e atividades antiproliferativas e antiangiogênicas. (ZAGONEL et al., 2019, p. 122) Outrossim, é evidente que, o vinho, por tratar-se de uma bebida alcoólica, gera complicação para a vida de quem o consome sem moderações. O ideal de ingestão diária permanece entre 30 gramas de álcool por dia, equivalente a duas taças para homens e uma para mulheres, dado que, de acordo com a médica gastroenterologista, com ênfase em hepatologia e transplante hepático e professora da Universidade Positivo (Curitiba), Daphne Benatti Morsolett, em entrevista para a Gazeta do Povo, “o organismo da mulher tolera muito menos álcool que o masculino. Para produzir danos, como a cirrose, a taxa de álcool necessária é de 50% em relação aos homens.” Logo, doenças como cirrose, desordens mentais e comportamentais, hipertrigliceridemia, distúrbios depressivos e enfraquecimento dos ossos e lesões, além de apresentar interações negativas com medicamentos são alguns dos impactos que a ingestão excessiva de álcool causa, e também é destacada como a causa de diversos problemas sociais, a exemplo da violência, acidentes de trânsito e morte, uma vez que, a substância age de forma alucinógena e distorce a realidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada ano ocorrem, aproximadamente, 3,3 milhões de mortes no mundo como resultado do consumo nocivo do álcool, o Brasil, ademais, ultrapassou a média global do consumo de bebidas alcoólicas. 18 3. CONCLUSÃO Nesta revisão química e histórica sobre o vinho tinto, é apresentado sua composição contendo tais elementos: água, etanol, açúcares, minerais, vitaminas, ácidos orgânicos, aminas bioativas, traços de proteínas e polifenóis, além de altos níveis de antioxidantes provenientes da casca e sementes da uva, isso porque o vinho tinto permanece por um tempo prolongado em contato com as cascas da uva, ao contrário do vinho branco que permanece por pouco tempo em contato com essas, logo, sua cor vermelha e textura grossa tem procedência dessa longa proximidade. O antioxidante com maiores concentração em tintos e ação benéfica é o resveratrol, o qual é grande alvo de muitas pesquisas científicas atualmente, e esse vem apresentando resultados positivos em relação à prevenção e tratamento de várias doenças de caráter cardiovascular e alguns tipos de câncer. No entanto, deve-se salientar que o consumo do vinho deve ser moderado, a dose recomendada é de mais ou menos 30 g de álcool por dia para homens (equivalente a duas taças) e metade para mulheres, caso contrário, complicações como cirrose, desordens mentais e comportamentais, hipertrigliceridemia, distúrbios depressivos e enfraquecimento dos ossos e lesões, além de apresentar interações negativas com medicamentos, devido à ingestão sem moderações. A produção do vinho, antes de Cristo, por províncias egípcias, promoveu uma cultura fortemente ligada a tal bebida, visto que, a utilização dessa estava presente em várias facetas. Seja em eventos religiosos, seja em pinturas, esse povo mantinha forte ligação com o líquido. 19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ZAGONEL, Jessica; OGLIARI, Nathalia; GEMELLI, Andrei. (2018). Uma breve revisão sobre os benefícios e malefícios da ingestão de vinho. Evidência - Ciência e Biotecnologia. 18. 117. 10.18593/eba.v18i2.16982. BANIGAN, Melissa. A história dos fascinantes tratamentos de saúde com vinho na França. BBC Travel. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-tra- 48359842#:~:text=O%20m%C3%A9dico%20grego%20Hip%C3%B3crates%2C%20 conhecido,quanto%20para%20o%20corpo%20doente%22. Acesso em: 11 jul 2020. FONSECA, Sofia; JANÉ, Maria Rosa Guasch; IBRAHIM, Mahmoud. O vinho no Antigo Egito: uma história mediterrânea. Mundo Antigo, v. 1, n. 1, p. 139-55, 2012. JIMÉNEZ-MARTÍ, E. et al. Towards an understanding of the adaptation of wine yeasts to must: relevance of the osmotic stress response. Applied Microbiology and Biotechnology, v.89, p.1551-1561, 2011. 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