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AULA 2 Manuella Soussa Braga Disciplina de Trauma Dental - 2020/2 Abordagem Inicial do Paciente Traumatizado O traumatismo dentário é considerado uma situação emergencial. Se o trauma estiver relacionado com acidentes que comprometam a vida do paciente, o atendimento médico deverá ser priorizado. Entretanto, quando não há risco de morte, o atendimento inicial pode ser realizado no consultório odontológico. Após um trauma, o paciente traumatizado pode recorrer por 3 caminhos: trauma > hospital Geralmente ocorre com traumas que tiveram fatores etiológicos mais severos (como acidente de carro e moto, por exemplo) e o paciente corre risco de vida. É o local mais fácil e mais simples do paciente procurar. Depois do atendimento no hospital, o paciente é encaminhado ao dentista. trauma > unidade de saúde ou consultório particular O dentista é o primeiro a ter contato e deve tomar a decisão do exame emergencial. trauma > o paciente não procura ninguém Geralmente acontece em casos em que, após o trauma, não há nada estético evidente incomodando o paciente e ele considera que não há necessidade de atendimento. No entanto, traumas como luxações e fraturas radiculares podem não mostrar problemas estéticos. Para todos os 3 casos, o protocolo de atendimento inicial é bastante semelhante! ANAMNESE ● Identificação e dados pessoais ● Condição sistêmica ● Imunização ● Histórico de trauma anterior Identificação Deve-se fazer uma anamnese bem feita, levantando dados de identificação e contato do paciente. No caso de pacientes crianças, é super importante que se direcione as perguntas pro responsável, para que este possa confirmar as respostas e para que nenhuma informação errada seja coletada. Quando o paciente te procura após o trauma e se observa sinais de confusão mental, deve-se encaminhar o paciente imediatamente para o hospital, pois pode ser indícios de traumatismo craniano. Condição Sistêmica Deve-se questionar a condição de saúde sistêmica do paciente, incluindo alergias, medicamentos utilizados e doenças, por exemplo. Nos atendimentos de traumatismo dentário, geralmente na consulta inicial já se tem uma necessidade de intervir, então tem que saber toda a condição sistêmica desse paciente. Imunização Deve-se questionar se o paciente está com a vacinação em dia, principalmente nos casos de reimplante dentário e principalmente em relação a vacina contra o tétano (vacina penta e tríplice - 3 doses com 2, 4 e 6 meses e 2 reforços com 15 meses e 4 a 6 anos de idade). Histórico de trauma anterior Questionar se há histórico de trauma anterior, pois, em algumas situações, pode se tratar de um trauma reincidente (por exemplo: há um trauma de um ICS e, na radiografia, esse elemento está todo reabsorvido, provavelmente o incisivo sofreu naquele momento um segundo trauma que levou a uma reabsorção avançada). Traumas repetidos podem influenciar os testes de sensibilidade pulpar e a capacidade de recuperação da polpa e do periodonto. Além disso, episódios repetidos de trauma em um mesmo dente podem justificar a presença de lesões extensas e reabsorções radiculares. Além disso, três perguntas são essenciais para determinação do histórico de traumatismo dentário durante o atendimento inicial do paciente traumatizado: Como ocorreu o trauma? Dependendo do fator etiológico você consegue imaginar o que vai ser encontrado durante o exame clínico, ajudando a definir o tipo de trauma e a gravidade do problema. Onde ocorreu o trauma? Você consegue sugerir o grau de contaminação do ambiente que o trauma aconteceu, sendo importante principalmente nos casos de avulsão e reimplante. Quando ocorreu o trauma? O tempo decorrido entre a ocorrência do traumatismo e a procura pelo tratamento interfere no prognóstico de cada caso. AULA 2 Manuella Soussa Braga Disciplina de Trauma Dental - 2020/2 EXAME CLÍNICO EXTRA-ORAL subjetivo e objetivo No exame clínico subjetivo, deve-se perguntar sobre a presença de sinais e sintomas , principalmente nos casos que você é o primeiro a atender o paciente. Sinais e sintomas como cefaleia, sangramento pelo nariz e confusão mental, por exemplo, podem indicar traumatismo craniano. Também é preciso observar a presença de assimetrias e deslocamento da linha média (pode indicar fraturas ósseas) e limitação de movimento de abertura e fechamento da boca (indicando possível traumatismo na ATM). EXAME CLÍNICO INTRA-ORAL Deve-se analisar a presença de contusões, abrasões e lacerações em tecido mole , bem como a presença de fístulas e tumefações (sugerem necrose do dente). Ainda no tecido mole e nos casos de fraturas coronárias e avulsões, o fragmento dentário e o dente podem ter penetrado em algum tecido. Após o traumatismo, a visualização das estruturas dentárias é dificultada pela presença de sangue. Portanto, antes da avaliação, é necessário realizar a limpeza da área com água ou soro fisiológico. Nos tecidos dentários , deve-se analisar a presença de trincas, deslocamento dentários e fraturas coronárias (complicadas - quando há exposição pulpar - e não complicadas - quando não há exposição pulpar), observando até onde vai essa fratura (se está confinada a coroa ou se já se estendeu à raiz do dente - fraturas corona-radiculares - invadindo o espaço biológico), escurecimento dentário (nesses casos, ou o dente tem tratamento endodôntico ou está necrosado) e posição dos dentes na arcada. No caso em que o paciente traumatizado tenha vindo encaminhado do hospital ao consultório, também deve-se observarse ele veio com uma contenção instalada e, se sim, se essa contenção é rígida ou flexível, a quanto tempo está instalada, se pode remover, se deve trocar etc. TESTES PERIRRADICULARES percussão, palpação e mobilidade Os testes perirradiculares compreendem os testes de percussão, palpação e de mobilidade. Esses testes deverão ser feitos somente quando não houver dor exagerada pelo paciente. Espera-se que o dente seja sensível à manipulação inicialmente, sendo a persistência ou a recorrência de sensibilidade no período pós-trauma indicativas da necessidade do tratamento da patologia. Quando há dor na percussão, provavelmente houve um traumatismo de suporte (como uma luxação). A palpação apical é necessária, pois pode-se encontrar espículas ósseas que sugerem fratura de maxila e mandíbula. TESTE DE MOBILIDADE O teste de mobilidade deve ser feito com o cabo de espelho pela vestibular e o dedo na palatina (nunca os dois dedos pinçando). A presença de certa mobilidade pode indicar traumatismo nos tecidos de suportes e se os dentes adjacentes também se movimentam, sugere-se uma fratura de maxila/mandíbula. TESTE DE SENSIBILIDADE teste de frio, calor e teste elétrico Assim como os testes perirradiculares, o teste de sensibilidade só deve ser realizado depois que o paciente já está condicionado, ou seja, está confortado e não está mais sentindo aquela dor exagerada. O teste pelo frio é o mais acessível e é o mais indicado. AULA 2 Manuella Soussa Braga Disciplina de Trauma Dental - 2020/2 Os testes de sensibilidade podem falhar! Por isso, é recomendado esperar por um segundo sinal clínico para que o diagnóstico de necrose pulpar seja confirmado (como presença de lesão na radiografia, presença de f ístula, edema, abscesso e reabsorção inflamatória, por exemplo). A Associação Americana de Endodontia diz que depois de 3 meses de parestesia a chance de ter ocorrido necrose é muito grande. Mesmo assim, é preferível utilizar a recomendação do segundo sinal clínico, principalmente em dentes com o ápice aberto, já que abrir um dente assim pode interromper o processo de formação radicular. TESTE DE VITALIDADE oximetria de pulso e fluxometria laser doppler A oximetria de pulso mede o fluxo sanguíneo do dente pelo nível de saturação de oxigênio, podendo confirmar, dessa forma, a vitalidade por meio do suprimento sanguíneo da polpa. A fluxometria laser doppler é um outro método e mostra a circulação sanguínea do dente. Não há evidência que os testes de vitalidade são melhores que os testes de sensibilidade. A maioria dos estudos que mostram que os testes de vitalidade são melhores tem desenhos ineficientes e problemas metodológicos (LIMA, T. F. R. et al., 2019). No primeiro mês, é recomendado que o paciente traumatizado retorne ao consultório semanalmente. EXAME RADIOGRÁFICO Deve-se terminar a consulta com uma radiografia. É muito importante, pois detecta se o dente traumatizado tem ápice aberto ou fechado. Também observa-se se há o aumento do espaço pericementário e reabsorções. Em síntese, por meio do exame radiográfico o clínico poderá verificar: - estágio da rizogênese - sinais de necrose pulpar - sequelas pós-trauma (calcificações e reabsorções) A tomografia de feixe cônico é extremamente importante nos casos de trauma dentário, pois permitem uma visão tridimensional do dente traumatizado e tecidos de suporte adjacente. Além disso, a TCFC ajuda a determinar a localização, extensão e direção da fratura Por exemplo, na radiografia intra-oral observa-se uma possível fratura radicular horizontal no terço médio que, teoricamente, teria um bom prognóstico. No entanto, ao realizar a TC observou-se que era uma fratura oblíqua que terminava no terço cervical que, por ser área de contaminação, possui um prognóstico ruim. REFERÊNCIAS BOURGUIGNON, C. et al. International Association of Dental Traumatology guidelines for the management of traumatic dental injuries: Fractures e luxations. Dental Traumatology , v. 36, p. 314-330, 2020. LIMA, T. F. R. et al. Vitality Tests for Pulp Diagnosis of Traumatized Teeth: A Systematic Review. JOE , v. 45, n. 5, p. 490-499, 2019.
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