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AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Renata Costa de Miranda Avaliação Antropométrica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Aplicar as técnicas de mensuração antropométrica de peso, estatura e determinação do índice de massa corporal. � Reconhecer a técnica de mensuração antropométrica das circunfe- rências corporais. � Enumerar as técnicas de mensuração antropométrica das dobras cutâneas. Introdução A avaliação antropométrica é um dos elementos utilizados para compor a avaliação nutricional. Ela se baseia na mensuração das dimensões físi- cas do corpo que podem ser avaliadas isoladamente ou em associação para indicar condições de saúde e doença, por exemplo, o progresso do crescimento ou os riscos nutricionais que surjam ao longo da vida. Neste capítulo, você irá estudar o que é avaliação antropométrica e a sua importância na avaliação nutricional. Também, conhecerá as técnicas para a realização das principais medidas antropométricas utilizadas na avaliação do estado nutricional de indivíduos e coletividades, além dos instrumentos empregados em tais medidas, bem como as vantagens e limitações de uso de cada uma. Antropometria básica A palavra antropometria tem origem grega, foi criada por meio dos termos anthro (corpo) e metria (medida). Apresenta-se como um método de investiga- ção científica em nutrição, se ocupando da medição das variações das dimen- sões físicas e da composição global do corpo humano. Desta forma, a avaliação nutricional é composta pela avaliação antropométrica, que compõe o exame físico, juntamente das avaliações dietética, clínica, metabólica e bioquímica. A utilização das informações antropométricas, para o diagnóstico nutricional, tem sido chamada de antropometria nutricional, essencial no diagnóstico e monitoramento do estado nutricional de indivíduos e coletividades, tanto na prática clínica, quanto em estudos epidemiológicos (VASCONCELOS, 2008; TADDEI, 2011). Na avaliação antropométrica, são usadas as medidas corporais associadas entre si, formando, então, os índices e seus respectivos indicadores, com base em padrões de referência. Por intermédio dos indicadores antropométricos, é possível estudar e acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento, de acordo com a faixa etária e sexo, avaliar a massa corporal total, estimar a composição corporal e a distribuição de gordura, permitindo, assim, identificar indivíduos que apresentem risco ou agravo nutricionais (VASCONCELOS, 2008). Existem vantagens e desvantagens (limitações) no uso da avaliação an- tropométrica, devendo, portanto, ser realizada e interpretada com cautela, observando-se o conjunto de outros indicadores da avaliação nutricional a fim de se evitar conclusões equivocadas a respeito da situação alimentar e nutricional de um indivíduo ou população. Contudo, as vantagens de sua aplicação são justificadas pelo uso de equi- pamentos de baixo custo e portáteis, por suas técnicas não invasivas, pela obtenção rápida dos resultados e fidedignidade do método. Mesmo com todas essas vantagens, deve-se considerar algumas situações em que os indicadores antropométricos se tornam limitantes, pois não identificam carências nutricio- nais específicas, não permitindo detectar alterações recentes na composição e distribuição dos tecidos corporais, além de depender do estado de saúde e hidratação do paciente. Apesar de ser composta por procedimentos aparentemente simples, a avaliação antropométrica deve ser realizada por um avaliador capacitado e treinado para o uso de técnicas corretas de coleta, proporcionando maior precisão das medidas. Assim, coleta deve ser realizada cuidadosamente, em ambiente apropriado e seguindo padronização. Os instrumentos utilizados na aferição das medidas precisam adequados e, frequentemente, calibrados. O avaliador deve optar por realizar a aferição da medida sempre do mesmo lado do corpo. Caso meça o outro lado, por qualquer motivo que seja, este fato deve ser documentado. As medidas necessitam ser realizadas de duas a três vezes, podendo ser útil o auxílio de um assistente durante a realização delas para registrar os resultados, enquanto o avaliador as lê em voz alta. Ao Avaliação Antropométrica2 término, o avaliador calcula e registra a média de cada medida aferida. Qualquer dificuldade encontrada no momento da mensuração deve ser documentada como, por exemplo, a presença de edema (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012, TADDEI, 2011; BRASIL, 2011). Caso mais de um profissional estiver conduzindo tais procedimentos, medidas de precisão entre eles devem ser estabelecidas, comparando-se os resultados para, assim, reduzir a variabilidade e os erros associados (TAD- DEI, 2011). As medidas antropométricas mais utilizadas na composição da avaliação nutricional são: o peso ou massa corporal, a estatura (altura ou comprimento), as circunferências ou perímetros e as dobras ou pregas cutâneas (VASCONCELOS, 2008). Peso O peso ou massa corporal é a soma de todos os componentes corpóreos (massa óssea, massa muscular, massa gorda ou adiposa e massa residual), sendo aferido em balanças mecânicas de plataforma ou eletrônicas, balanças pediátricas ou, até mesmo, estimado a partir de equações que levam em consideração outras medidas antropométricas. No momento da pesagem, o indivíduo deve manter-se ereto e imóvel, com os braços ao longo do corpo, os pés juntos e sem calçados, vestindo apenas roupas leves. A medida do peso, normalmente, é associada a outras variáveis, como a estatura, podendo, contudo, ser usada isoladamente como estratégia de acompanhamento por fornecer uma estimativa grosseira dos estoques totais de gordura e músculo. Em casos, em que exista presença de edema ou vísceromegalia, a utilização do peso sozinho dificulta a avaliação do estado nutricional geral (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012). O significado da medida do peso sofre variação, de acordo com o contexto em que é avaliado. O peso atual ou real, por exemplo, é aquele aferido no momento da avaliação antropométrica. Esta medida pode ser influenciada por alterações no estado de fluidos do indivíduo. Já, o peso usual ou habitual é o mencionado pelo indivíduo e corresponde ao peso que o paciente, nor- malmente, mantém, podendo, inclusive, coincidir com o peso atual. É uma informação essencial a ser coletada, principalmente, na avaliação de risco nutricional, em casos patológicos. Enquanto isto, o peso ideal ou desejável é aquele considerado adequado para que determinado indivíduo mantenha um bom estado de saúde. No que diz respeito à adequação do peso, ele reflete a porcentagem de peso acima ou abaixo do ideal. E o peso ajustado é obtido 3Avaliação Antropométrica a partir da correção do peso ideal, quando a adequação do peso for inferior a 95% ou superior a 115%. Da mesma forma, a perda de peso é uma infor- mação extremamente relevante, necessitando ser levantada ou observada, pois dependendo do percentual de perda, em função do tempo, pode servir como um indicador de risco nutricional (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012; BLACKBURN et al., 1997). Estatura A estatura (altura ou comprimento) expressa o processo de crescimento linear do corpo humano, sendo medida, preferencialmente, a partir do uso de um estadiômetro fixo ou portátil. Como alternativa a esses instrumen- tos, pode-se utilizar uma fita métrica devidamente fixada na parede. Nos casos em que a estatura necessita ser estimada, é usada uma fita métrica flexível e inelástica, além da régua antropométrica (VASCONCELOS, 2008; BRASIL, 2011). Chama-se altura, quando a medição ocorre em pé, nas crianças maiores de dois anos até a idade adulta. No momento da mensuração, o indivíduo deve estar ereto, com os braços ao longo do corpo, sem calçados e/ou adornos na cabeça. É importante posicioná-lo de forma com que os calcanhares, as panturrilhas, as nádegas, a escápula e a parte posterior da cabeça, quando possível, encostem na superfícievertical do estadiômetro. A cabeça deve ser posicionada, com ajuda do avaliador, no plano horizontal de Frankfurt, em que uma linha imaginária passa pelas bordas inferiores da abertura dos orbitais (olhos), de maneira alinhada com as margens superiores dos con- dutores auditivos externos (orelhas) (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012; BRASIL, 2011). Observe na Figura 1 a ilustração do posionamento descrito para medição da altura. Por outro lado, é denominado comprimento, quando a medição é realizada em decúbito dorsal (deitado, de ventre para cima), em crianças até dois anos de idade (mesmo que elas já fiquem de pé), com a utilização de um infantômetro ou régua antropométrica (VASCONCELOS, 2008; BRASIL, 2011). Veja na Figura 2 a aferição do comprimento. Avaliação Antropométrica4 Figura 1. Aferição da altura em indivíduos maiores de dois anos. Fonte: Brasil (2011). Parte posterior da cabeça Ombros Nádegas Panturrilhas Calcanhares Figura 2. Aferição do comprimento em indivíduos até dois anos. Fonte: Brasil (2011). Parte mais alta da cabeça Parte de trás cabeça Ombros Nádegas Panturrilhas Calcanhares Encostar cursos na sola dos pés, com calcanhar e pés em 90° Pressionar joelhos (estender pernas) Segurar a cabeça no Plano do Frankfurt. 5Avaliação Antropométrica Além do método direto de medição da estatura, existem os métodos indire- tos que funcionam como uma alternativa para os casos de pacientes acamados e incapazes de ficarem em pé ou de maneira ereta, em situações como escoliose, cifose (curvatura da coluna), paralisia ou paralisia cerebral, distrofia muscular e contraturas (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012). Os métodos indiretos de mensuração da estatura podem ser realizados com auxílio de régua antropométrica e fita métrica e são, por exemplo: a medida da altura do joelho, a envergadura ou meia envergadura (extensão do braço) e a altura recumbente (em posição deitada). Após a realização da medida mais conveniente, aplica-se o valor encontrado em equações de estimativa que podem variar de acordo com sexo, faixa etária e grupo populacional de interesse (VITOLO, 2008; MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012). Índice de Massa Corporal (IMC) As medidas corporais abordadas são conhecidas como medidas primárias. Contudo, quando são utilizadas de forma combinada, ou seja, duas ou mais medidas associadas, constituem as medidas secundárias, os chamados índices antropométricos. O índice mais utilizado para o diagnóstico nutricional é o IMC (VITOLO, 2008). Este índice foi proposto por Lambert Quetelet, reconhecido como o pai da antropometria. Expressa a relação entre o peso corporal (kg) e o quadrado da estatura (m): IMC = Peso (kg) Estatura2 (m) O IMC se caracteriza por ser facilmente cálculado com base em medidas de baixo custo e não invasivas, podendo ser utilizado para identificar o estado nutricional em todas as fases da vida (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012). Nas crianças e adolescentes, o indicador IMC para idade, relaciona o índice à idade cronológica do indivíduo. Em gestantes, ele é utilizado em associação à semana gestacional. Já, em adultos e idosos, o IMC é aplicado isoladamente e com pontos de corte diferenciados (VITOLO, 2008). Avaliação Antropométrica6 Enquanto que, em adultos, a classificação apropriada (eutrofia) do estado nutricional varia entre 18,5 e 24,99 kg/m2, em idosos, ela corresponde aos valores de 22 e 26,99 kg/m2. Assim, os valores abaixo ou acima da faixa correspondente à eutrofia são considerados baixo peso ou sobrepeso/obesi- dade, respectivamente (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995; THE NUTRITION SCREENING INITIATIVE, 1994). Apesar de ser internacionalmente utilizado, é importante reconhecer que o IMC apre- senta uma importante limitação no que diz respeito à sua incapacidade de distinguir a composição corporal do indivíduo. Portanto, dois indivíduos, com composição corporal completamente diferente, podem apresentar o mesmo valor de IMC, como por exemplo, um obeso e um atleta. Por essa razão, o IMC pode dignosticar os indivíduos de maneira incorreta, geralmente, subestimando a prevalência de excesso de peso (elevado percentual de gordura corporal) e, a partir disso, o risco de doenças crônicas não transmissíveis (ANJOS, 1992). Circunferências corporais Circunferências ou perímetros são medidas antropométricas que permitem avaliar o crescimento de partes do corpo e a distribuição de tecidos, por meio de fita métrica flexível e inelástica, com atenção para não comprimir a pele no processo de aferição (VASCONCELOS, 2008; NACIF; VIEBIG, 2007). Os perímetros cefálico, abdominal e torácico são, geralmente, medidos em crianças até cinco anos de idade, a fim de serem avaliados o crescimento e o desenvolvimento adequados de determinados órgãos. Estas medidas podem, ainda, ser relacionadas entre si para estabelecer disgnósticos nutricionais, como é o caso da relação perímetro torácico e perímetro cefálico (VASCON- CELOS, 2008). Também, as circunferências do braço ou braquial e da panturrilha são realizadas com fita métrica flexível e inelástica no lado não dominante do corpo. Elas podem ser usadas como indicadores de reservas de massa magra e gorda, identificando presença de desnutrição (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012). Desta forma, circunferência do braço é medida no ponto médio entre o processo acrômio da escápula e o processo olécrano na ponta do cotovelo. Esta 7Avaliação Antropométrica medida é, usualmente, combinada à medida da dobra cutânea do tríceps para calcular, de modo indireto, a área muscular e a área de gordura do braço. A su- perfície muscular do braço, sem considerar, a área óssea é, então, estabelecida, a partir de uma correção (subtração) que varia conforme o sexo do indivíduo. Tal medida se configura como uma boa indicação das reservas de gordura e músculo esquelético em adultos. Sendo assim, pode ser utilizada na avaliação de uma possível desnutrição proteico-energética, resultado de enfermidade crônica, estresse, distúrbios alimentares, cirurgias múltiplas ou uma dieta inadequada (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012; VASCONCELOS, 2008). Já, a medida da circunferência da panturrilha precisa ser realizada posi- cionando a fita na circunferência máxima da panturrilha. Ela fornece a medida mais sensível da massa muscular nos idosos, sendo, também, recomendada na avaliação nutricional de pacientes acamados, porque permite a estimativa de peso e estatura. Deve-se, porém, dar atenção a presença de edema nos membros inferiores, muito comum em gestantes e idosos, antes de considerar a medição dessa circunferência (VASCONCELOS, 2008). Logo, as circunferências da cintura, do quadril e do pescoço dizem respeito, direta e indiretamente, à concentração de gordura, principalmente, na região abdominal que caracteriza risco de doenças crônicas associadas à obesidade e à síndrome metabólica. A circunferência da cintura é avaliada no ponto médio entre a crista ilíaca e o rebordo da última costela, no final da expiração (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995). Tanto na prática, quanto em estudos científicos, a circunferência da cintura é aquela que apresenta uma maior variação com relação às diferentes técnicas de medição empregadas. Muitas vezes, ela é calculada na parte mais estreita do tronco, entre a crista ilíaca e o rebordo da última costela, mas também, pode ser: na altura da cicatriz umbilical; um centímetro acima da cicatriz umbilical; um centímetro acima da crista ilíaca; na altura da crita ilíaca; ou, até mesmo, no ponto logo abaixo da última costela. Tal situação pode gerar problemas, como a falta de padronização entre os dados, levando a comparações equivocadas (VITOLO, 2008). Assim, a circunferência do quadril é medida posicionando-se a fita métrica na área mais saliente do quadril e, é utilizada, principalmente, na relação cintura/quadril (RCQ que possui consistente associação ao risco cardiovascular (VITOLO, 2008; VASCONCELOS, 2008). Da mesma maneira, associação semelhante se encontranos valores elevados da circunferência do pescoço, que é uma medida relacionada, positivamente, ao IMC, sendo, portanto, uma ferramenta de indicação para excesso de peso. Avaliação Antropométrica8 Ela também é aferida com fita métrica flexível e inelástica na altura média do pescoço (VITOLO, 2008). Existem, ainda, as medidas de circunferência do pulso e largura do cotovelo realizadas com fita métrica e régua antropométrica, respectivamente. Quando estas medidas são associadas à estatura, por exemplo, são capazes de determinar a compleição ou estrutura óssea do indivíduo (pequena, média ou grande), ajudando na estimativa do peso ideal (VITOLO, 2008). Dobras cutâneas Dobras ou pregas cutâneas são medidas antropométricas que permitem estimar a composição corporal, precisamente, a gordura corporal, a partir da espessura da dobra de gordura ou da dobra subcutânea. Tal medida admite que há uma associação direta entre a distribuição da gordura subcutânea e a gordura corporal interna em indivíduos de mesma faixa etária e sexo (VITOLO, 2008; VASCONCELOS, 2008). A partir de estudos científicos, verificou-se que a utilização da medida de gordura subcutânea, em locais específicos, oferece boa estimativa da gordura corporal total. As dobras cutâneas podem ser calculadas em diversas partes do corpo, porém, as dobras facilmente avaliadas e que melhor correspondem à estimativa de gordura corporal total são aquelas localizadas acima do tríceps (dobra cutânea tricipital) e do bíceps (dobra cutânea bicipital), abaixo da escápula (dobra cutânea subescapular) e acima da crista ilíaca (dobra cutânea suprailíaca). A mensuração ocorre, preferencialmente, do lado direito do corpo e para isso é utilizado um instrumento de precisão chamado de adipômetro ou plicômetro, mas também, reconhecido como compasso ou calibrador. Na determinação das dobras cutâneas, se deve dar preferência à utilização de adipômetros com vali- dade e reconhecimento científicos (VASCONCELOS, 2008; VITOLO, 2008). A avaliação da dobra cutânea tricipital necessita ser realizada sobre o músculo posterior do braço (triceps), especificamente, no ponto médio entre a projeção lateral do acrômio da escápula e a margem inferior do olécrano da ulna. Agora, para medir a dobra cutânea bicipital é utilizado o mesmo 9Avaliação Antropométrica ponto médio da dobra tricipital, contudo, a medida deve ser realizada, por sua vez, na parte anterior do braço, sobre o músculo biceps. Já, a dobra cutânea subscapular é calculada cerca de um centímetro abaixo do ângulo inferior da escápula, em um ângulo de 45º. A mensuração da dobra cutânea suprai- líaca, por sua vez, deve ocorrer acima da crista ilíaca, na linha axilar media. Além das dobras mencionadas, existem outras menos utilizadas, mas que se destacam na avaliação de populações específicas, como é o caso da dobra cutânea peitoral, da dobra cutânea axilar média, da dobra cutânea abdominal, da dobra cutânea da panturrilha e dobra cutânea da coxa (VITOLO, 2018). Assim, a medida das dobras cutâneas é um método simples e de baixo custo, todavia a sua validade depende da precisão do avaliador, que necessita de exaustivo treinamento para o destacamento correto da prega. A precisão da medida diminui com o aumento da prega, impedindo uma precisa aferição em indivíduos obesos. Em casos de edema local ou generalizado, bem como desidratação do paciente, esta técnica se torna inviável ou pouco fidedigna (VITOLO, 2008). Outras limitações relacionadas ao uso das dobras cutâneas tratam das variações na quantidade e distribuição da gordura corporal, de acordo com o sexo, a idade, a etnia e, até mesmo a genética, além da precisão do instrumento utilizado (calibragem), bem como, a ausência de padrões de referências para diversas populações ao redor do mundo (VASCONCELOS, 2008; VITOLO, 2008; MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2012). Após a realização das medidas, as dobras podem ser utilizadas de forma isolada, com propósito de se avaliar sua adequação com relação a valores de referência ou como indicadores de acompanhamento, quando avaliadas de forma seriada. No entanto, para estimar a quantidade de gordura corporal, recomenda-se a utilização de equações que levem em consideração mais de uma dobra cutânea, tendo sido desenvolvidas e validadas em grupos popula- cionais semelhantes ao de interesse para garantir melhor precisão no resultado (VITOLO, 2008). Inicialmente, é preciso estimar a densidade corporal, geralmente, por meio da equação de Siri. De posse da densidade corporal, as equações mais utilizadas para estimar o percentual de gordura corporal total, em adultos, são as equações de Durnin e Womersly, sendo também aplicadas as de Jackson e Pollock. Em crianças e adolescentes, as mais empregadas são equações de Slaughter, que utilizam apenas duas dobras cutâneas, as dobras tricipital e subscapular. Tal equação leva em consideração o importante impacto da puberdade nessa fase da vida e a sua relação com a distribuição de gordura corporal (VITOLO, 2008). Avaliação Antropométrica10 Com isso, ainda que a utilização das dobras cutâneas apresente algumas limitações intrínsecas e extrínsicas ao método, é possível considerá-las como um parâmetro antropométrico adequado e efetivo nas avaliações da compo- sição corporal e, consequentemente, na avaliação nutricional de indivíduos e coletividades. ANJOS, L. A. Índice de massa corporal (massa corporal.estatura-2) como indicador do estado nutricional de adultos: revisão de literatura. Revista de Saúde Pública, v. 26, p. 431-436, 1992. BLACKBURN, G. et al. Nutrition and metabolic assessment of the hospitalized patient. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition, v. 1, p. 11-22, 1977. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional — SISVAN. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011. MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S. 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Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004. GOMES, L. P. S. et al. Métodos de obtenção de dados antropométricos confiáveis. Ciências Biológicas e de Saúde, v. 3, n. 1, p. 87-100, 2015. 11Avaliação Antropométrica MELO, A. P. F. et al. Métodos de estimativa de peso corporal e altura em adultos hospita- lizados: uma análise comparativa. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, v. 16, n. 4, p. 475-484, 2014. NAVARRO, A. M.; MARCHINI, J. S. Uso de medidas antropométricas para estimar gordura corporal em adultos. Nutrire: Revista da Sociedade Brasileira de Alimentos e Nutrição, v. 19, p. 31-47, 2000. Avaliação Antropométrica12 Conteúdo:
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