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Bobbio - Capitulo II (1)

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II. A SOCIEDADE CIVIL
TÓPICO 1: AS VÁRIAS ACEPÇÕES;
 Ao longo do tempo a sociedade civil teve seu significado moldado, há alguns séculos os filósofos contratualistas como Hobbes, Maquiavel e Locke definiram a sociedade como a passante do estado da natureza humana para uma vida em conjunto com regras regidas pela presença do Estado a partir do contrato social que regulava as interações garantindo certas estabilidade e segurança aos indivíduos, porém em seu capitulo II, Bobbio redefine tais significados, onde para ele a Sociedade Civil é a interação das relações humanas a qual não são reguladas pelo poder estatal. 
Diferentemente do que era posto por exemplo por Hobbes que o Leviatã, o Estado Soberano, deveria agir em conformidade com suas vontades, a sociedade assim é tida como um fruto das necessidades humanas como a comercialização de bens e as interações entre as pessoas, e o Estado é edificado para frear a maldade conveniente da convivência social, como a violência, a ganancia e etc. 
As interações que regem o âmbito privado como os interesses particulares de parte da sociedade em desconexão ao Estado se dá o significado de Sociedade Civil, ao qual tem suas regras ilimitadas pelo direito privado, sendo que o direito de nascimento - os que são adquiridos por todos nós em nosso estado antissocial, em estado de natureza - são mantidos e resguardados por leis, no qual tais leis que protegem os direitos particulares são exercidas e monitoradas (caso sejam infligidas) pelo Estado, pelo Direito Público como exemplo o Direito Penal. 
Já no contexto contemporâneo, a sociedade civil se afasta do Estado por reger as relações de interesses particulares dos grupos sociais, porém se mantém interligada ao mesmo tempo, haja vista que os particulares, segundo Bobbio, podem fazer tudo o que a lei não proíbe sendo assim suas ações só podem ser postas em práticas em conformidades daquilo que o Estado lhes permite e julga a ser correto, por isso Bobbio ressalva que definir a sociedade civil é algo complexo sendo fruto de uma contraposição entre o âmbito político e não político além de sempre achar definições negativas. Diante disto, definir sociedade civil é algo árduo, em primeira análise, segundo os contratualistas a não presença do Estado para formular leis, aplicar sanções, monitorar as pessoas, torna o convívio extremamente difícil sem o mínimo de segurança para que se viva, entretanto, sem o Estado as pessoas são verdadeiramente livres sem que sejam guiadas por leis que somente são seguidas pelo uso da força de medidas que causem danos aos que infligem tais normas.
Por outro lado, Bobbio, atribui a sociedade Civil a raiz de vários conflitos sociais como os religiosos e econômicos ao qual é o Estado o interventor, o garantidor de uma harmonia solucionando os conflitos ou pelo menos tentando minimizar tais conflitos.
Em contrapartida quando o Estado começa a se desfragmentar, adentrar em uma crise, é o diálogo a soluções de inúmeras classes que compõe a sociedade civil que vem a possibilidade de permitir ao Estado se reerguer e torna-se vivo novamente, deste modo o Estado deve ser democraticamente aberto ao diálogo e a soluções de todas as classes, entretanto a de ser firme quando necessário para sanar os conflitos que rodeiam os cidadãos, para assim, garantir uma sociedade civil estatal harmônica e balanceada entre si.
· A sociedade civil, na linguagem política de hoje, faz parte da dicotomia sociedade civil/Estado. Para se delimitar o significado de sociedade civil, deve-se fazer o mesmo em relação ao Estado.
· Negativamente, por sociedade civil entende-se a esfera das relações sociais não reguladas pelo Estado. 
· Com a noção restritiva do Estado como órgão de poder coativo concorrem as ideias que deram origem ao mundo burguês: a afirmação de que os direitos individuais são independentes do Estado. O homem é naturalmente bom e não precisa do poder coativo do Estado para ver as coisas prosperarem. 
· Escritores alemães (Hegel e Marx) o uso de “sociedade civil” no significado de esfera das relações sociais distinta das relações políticas. Deve-se afirmar também que o direito civil, distinto do direito penal, compreende as matérias pertencentes ao direito privado. 
· Como a sociedade civil nasceu da contraposição entre uma esfera política e uma esfera não política, é mais fácil dela encontrar uma definição negativa do que uma positiva, porque nos tratados de direito público sempre está presente uma definição positiva do Estado: sociedade civil é o conjunto de relações não reguladas pelo Estado.
*ACEPÇÕES: Mesmo numa noção tão vaga, podem-se distinguir diversas acepções conforme prevaleça a identificação do não-estatal com o pré-estatal, com o anti-estatal ou com o pós-estatal. 
· Na primeira dessas acepções admite-se que antes do Estado existem várias formas de associação que os indivíduos formam entre si para satisfação dos seus interesses, associações as quais o Estado se superpõe para regulá-las, mas sem vetar o seu desenvolvimento.
· Na segunda acepção surgem os grupos que lutam pela emancipação dos poderes políticos, os chamados contra poderes. 
· Já na terceira acepção, a sociedade civil representa o ideal de uma sociedade sem Estado.
· Primeira acepção: figura da pré-condição do Estado;
· Segunda acepção: antítese do Estado, ou seja, daquilo que se põe como alternativa do Estado;
· Terceira acepção: dissolução e fim do Estado.
· DEFINIÇÃO POSITIVISTA: Na definição positiva de sociedade civil, faz-se um repertório de tudo aquilo que foi desordenadamente empregado pela exigência de circunscrever o âmbito do Estado.
Pode-se dizer que sociedade civil é o lugar onde se desenvolvem os conflitos econômicos, sociais, ideológicos, religiosos que as instituições estatais têm o dever de resolver pela mediação ou repressão. Sujeitos desses conflitos são as classes sociais ou os grupos que representam. Esses grupos são os partidos políticos, que têm um pé na sociedade e o outro nas instituições governamentais. Os partidos políticos têm a função de selecionar e transmitir as demandas da sociedade civil objeto de divisão política.
Nas teorias sistêmicas da sociedade global, a sociedade civil ocupa o espaço reservado as demandas que se dirigem ao sistema político e as quais o sistema político tem o dever de responder. Uma sociedade torna-se tanto mais ingovernável quanto mais aumentam as demandas e não aumenta a capacidade das instituições de não as responder.
O Conceito de sociedade civil é um dos mais usados no discurso social e político moderno diversas classificações foram realizadas por distintos autores desde Aristóteles estes conceitos têm sido revistos por quase todos esses filósofos políticos ocidentais. A preocupação comum dos teóricos como Hobbes, Locke e Rousseau era de verificar as condições sobre as quais os seres humanos poderiam escapar do estado de natureza e entrar numa forma contratual de governo baseada na regra da lei, isto é, em uma sociedade civil. Deste modo um componente essencial desse uso do termo: Sociedade civil era o seu contraste com o estado de natureza imaginário, ou seja, o termo de sociedade civil significaria um novo estágio na evolução do governo e da própria civilidade humana.
Tomas Hobbes que foi um dos primeiros filósofos a tratar de forma sistemática a questão das origens de sociedade falava que o Estado fundada a partir do contrato precisaria gozar de absoluta soberania sendo inquestionável e tendo liberdade para arbitrar, inclusive sobre a vida e morte dos cidadãos, não poderia haver espaço para o questionamento do Estado porque isso implicaria ao retorno do estado de natureza. 
 Locke, que também foi um contratualista, mas um pouco divergente de Hobbes, afirmava que a vigência da liberdade e igualdade entre os indivíduos resultaria em uma relativa harmonia nas relações sociais, este também abordou em relação a propriedade privada que ele considerava que no estado de natureza já estariam presentes como direitos naturais do indivíduo, por isso para ele o papelfundamental do Estado independente da forma de governo seria exatamente proteger a propriedade.
Rousseau, discorre sobre a legitimidade do corpo político, no qual essas legitimidades só estariam asseguradas mediante realização efetiva dos interesses do soberano no qual a soberania para Rousseau estava localizada no povo.
· LEGITIMAÇÃO: Ligado ao tema da ingovernabilidade está o da legitimação. As instituições representam o poder legitimo, isto é, o poder cujas decisões são aceitas e cumpridas. Quando há uma crise governamental a sobrevivência do sistema político deve ser buscada na sociedade civil, na qual podem ser encontradas novas fontes de legitimação. 
Na sociedade civil inclui-se também o fenômeno da opinião pública entendida como a pública expressão de consenso e dissenso com respeito às instituições sem opinião pública, a sociedade civil está destinada a desaparecer. Isto pode ser notado num Estado totalitário, onde não há opinião pública, somente a opinião do Estado.
TÓPICO 2: A INTERPRETAÇÃO MARXIANA;
 
Marx discorre sobre a relação entre Estado e Sociedade Civil bastante influenciado pelo materialismo que foi uma crítica ao idealismo hegeliano, e também influenciado sobre as leituras de economistas políticos clássicos e pela própria situação política
 alemã na época. Na maioria de suas obras Marx era abordado seus pensamentos em torno do Estado e Sociedade Civil onde já evidenciavam as contradições da sociedade capitalista que penetram na filosofia idealista e política, para ele era preciso alcançar o conteúdo essencial da sociedade burguesa. Sua crítica dizia mais a respeito das operações da filosofia idealista que insistia em tornar o Estado, a população, o dinheiro como categorias descoladas da totalidade social. Marx chamou a atenção para a construção históricas das categorias, para ele, o Estado a Sociedade Civil, a mercadoria e o capital eram construções históricas que precisavam ser analisadas nesse sentido no caso ele descarta toda a herança contratualista que pressupõe a existência abstrata de uma natureza humana, para ele mesmo a essência das relações entre homens é construída historicamente e precisa ser explicada pela história.
Para demonstrar que o Estado não era um princípio de universalidade e de racionalidade nem uma instância para além dos interesses particulares como queria Hegel, tão pouco uma esfera instituída a partir de uma elaboração de um suposto pacto como queriam os contratualistas, Marx, recorreu ao estudo do Estado burguês concreto e dos princípios ideológicos que os orientaram. A evolução burguesa foi um marco histórico concreto que assegurou o início que Marx chama de emancipação política, a garantia de direitos invioláveis para a burguesia e a instauração de um 
Estado liberal, favorecendo a burguesia enquanto classe social pois esta incorporava o imenso acumulo de riquezas econômicas e poder políticos reunidos durante o período que Marx chamou acumulação primitiva de capital (o capital) no caso, a sociedade civil inaugurada a partir da revolução de 1989 libertou a burguesia das amarras da aristocracia feudal. A burguesia de posse da propriedade privada dos meios de produção passou a requerer ou descartar a força de trabalho necessária as atividades para a acumulação de capital, implicando a incorporação da função sistemática de trabalhadores do mercado de trabalho. Os trabalhadores por sua vez foram desapropriados de suas terras, destituídos dos meios de produção no período de acumulação primitiva restando apenas a venda da capacidade de trabalho em um mercado dominado por burgueses enriquecidos como forma de reprodução de sua vida. 
O Estado burguês como observou Marx vai ter seu principal papel na regulação dessas que são as regulações fundamentais da sociedade civil política burguesa que são as relações de produção, sendo assim o Estado é sempre uma instância em desfavor dos trabalhadores, já que ele pode regular mas nunca extinguir essa mediação fundamental da exploração do trabalho pelo capital. O Estado é uma esfera a favor dessas classes dominantes – burguesia – desde os seus primórdios na sociedade escravista da antiguidade que surgiu para proteger os interesses das classes dominantes e controlar as revoltas dos escravos. Inicialmente havia apenas alguns traços do Estado moderno com a presença de um corpo de policiais militares, de uma burocracia hierárquica, de cobradores de impostos, dos escrivas, mensageiros, em suma um corpo de funcionários públicos. Posteriormente novas configurações vão se inserindo e se aglutinando a esses traços essenciais. Dessa forma, Marx busca destacar como as relações sociais de poder sobre a Sociedade Civil são definidas pela manifestação de duas classes opostas de um lado a burguesia e da outra o proletariado, cuja existência remonta a uma organização particular da produção. Nota-se assim que para Marx o Estado não expressa uma superação da sociedade civil, mas sim um reflexo desta, na verdade o Estado contém a Sociedade Civil afim de conserva-la tal como ela é, no qual para Marx a sociedade civil coincide como um mento estrutural. 
· O uso atual da expressão sociedade civil, como tempo ligado ao Estado, ou sociedade política, é de derivação marxiana, e através deste, hegeliana. 
· O uso marxiano é redutivo ao hegeliano. A passagem canônica para o surgimento do termo sociedade civil nas visões de Hegel e estudada por Marx, concluiu que as instituições jurídicas e políticas tinham suas raízes nas relações materiais de existência, onde o conjunto disso incorpora o termo “sociedade civil”. 
· Para Marx a sociedade civil é o lugar das relações econômicas, ou seja, sociedade civil passa a significar o conjunto das relações interindividuais de que estão fora, ou antes, do Estado. 
· A substituição da expressão “sociedade natural’’ por “sociedade civil’’ é comprovada pela obra A sagrada família (de Marx e Engels) onde se lê que “O estado moderno tem com base natural a sociedade civil, o homem da sociedade civil, isto é, o homem independente, unido ao outro homem apenas pelo vínculo do interesse privado e da necessidade natural inconsciente”.
Na tradição jusnaturalista o que chamamos de Estado, era chamado de sociedade civil. Para Marx a sociedade burguesa tem como uma classe que completou a emancipação política libertando-se dos vínculos do Estado absoluto e contrapondo ao Estado tradicional os direitos do homem e do cidadão que são, na realidade, os direitos que de agora em diante deverão proteger os próprios interesses de classe. Para Gramsci que considera as ideologias como parte da superestrutura e a sociedade civil como a esfera na qual agem aparatos ideológicos que buscam exercer a hegemonia, e através desta, obter o consenso. 
· Para Marx a sociedade civil é o conjunto das relações econômicas constitutivas da base material.
· DICTOMIAS: Para representar a contraposição sociedade civil/Estado, há outras dicotomias, como consenso/força, persuasão/coerção, moral/política, direção/domínio. A sociedade civil representa o momento da eticidade, onde uma classe dominante obtém o consenso, adquirindo legitimidade, o Estado representa o momento político estritamente entendido, através do qual é exercida a força, não menos necessária do que o consenso para conservar o poder. 
Assim, Gramsci recupera o significado jusnaturalista de sociedade civil como sociedade fundada sobre o consenso, com uma diferença, onde no pensamento jusnaturalista, a legitimidade do poder político depende de estar ele fundado sobre o contrato social, a sociedade do consenso por excelência é o Estado, enquanto para Gramsci, a sociedade do consenso é apenas aquela destinada a surgir da extinção do Estado.
TÓPICO 3: O SITEMA HEGELIANO 
O Hegelianismo é a corrente filosófica que tomou forma a partir dos pensamentos de Hegel que ganhou muito espaço na cultura moderna, apesar de ser um autor bastante controverso cuja a teoria da Sociedade civil é um mix de reflexões anteriores sobre este tema originada das fontes do republicanismo antigo e do iluminismo.De acordo com o hegelianismo haveria uma identificação entre o Racional e o Real o que significa que a realidade seria absolutamente justificável em todas as suas manifestações, de maneira mais específica Hegel identificava a Sociedade civil como um espaço historicamente concreto de interação social entre indivíduos. Tal interação era condicionada por três elementos: o sistema de necessidades – a economia, uma administração da justiça que protege a propriedade como a fonte de liberdade individual e a polícia a corporação como reguladora dessas duas últimas esferas (o sistema de necessidade, administração da justiça). A particularidade de Hegel está no fato dele reconhecer o papel das Organizações Civis Sociais, corporações, associações e comunidades das sociedades civis na mediação do relacionamento político entre o indivíduo e o Estado. 
Nota-se duas inovações na teoria da Sociedade Civil de Hegel, primeiro o reconhecimento da importância das associações independentes como componentes fundamentais da Sociedade Civil que desempenha o papel de mediador entre os indivíduos e o Estado, ou seja, como cita Bobbio, a Sociedade Civil constitui o momento intermediário entre a família e o Estado, segundo devido a importância que da as dimensões coloniais da existência humana. Além disso, nota-se também uma inovação em relação as teorizações anteriores nas medidas em que Hegel chama de Sociedade Civil aquela que seria pré-política, isto é, a fase da sociedade humana que era até então chamada de sociedade natural. 
O Hegelianismo criou também a ideia de uma autoconsciência sobre a qual a humanidade caminharia entre sentido e a razão continuamente. Tal pensamento liga-se a outro em que a história é a realização de um plano providencial no qual os fornecedores são integrantes de um evolucionismo de essência divina onde a realização terrena dessa forma divina ocorreria através dos Estados.
· Marx descobre a sociedade civil subjacente as instituições políticas estudando Hegel, e identifica essa sociedade com a esfera das relações econômicas. A categoria hegeliana da sociedade civil é mais complexa. Cada momento intermediário da eticidade entre família e Estado permite a construção de um esquema triádicos (conjunto de três pessoas ou coisas) que se contrapõe aos dois modelos diáticos: Aristotélico que é baseado na família/Estado. Jusnaturalista que é baseado na dicotomia estado de natureza/estado civil.
· Nas lições berlinenses, a seção dedicada à sociedade civil está dividida em: Sistema das necessidades, administração da justiça e política. Alguns estudiosos chegaram a considerar a sociedade hegeliana como uma espécie de categoria residual, na qual Hegel, após tentar durante vinte anos sistematizar a matéria, terminou por recolher tudo o que não podia ser incluído na família e no Estado. 
· A divisão hegeliana pode ser compreendida se atentar para o fato de que a sociedade civil havia significado durando séculos o Estado na dupla contraposição: família, na tradição aristotélica, e estado de natureza, na tradição jusnaturalista.
· O que diferencia a sociedade civil de Hegel da de seus predecessores é que ela representa o primeiro momento de formação do Estado, que é o Estado jurídico-administrativo, cuja tarefa é regular relações externas, enquanto o Estado propriamente dito tem por tarefa realizar a adesão íntima do cidadão à totalidade de que faz parte (também chamado de Estado interior). 
· A distinção hegeliana entre Estado e sociedade civil é a distinção entre Estado inferior e Estado superior, onde este último é caracterizado pela constituição e pelos poderes constitucionais (poder monárquico, poder legislativo e poder governativo) e o inferior é caracterizado pelos poderes jurídicos subordinados (poder judiciário e poder administrativo). O poder judiciário tem a função de dirimir conflitos e o administrativo tem a função de prover a utilidade comum.
· O próprio Hegel reconhece que nos Estados antigos não existia a sociedade civil, e o erro dos descobridores desta é terem acreditado que nela poderiam exaurir a essência do Estado. A razão pela qual Hegel colocou o Estado acima do conceito de seus antecessores está no fato de se reconhecer ao Estado o direito de solicitar dos cidadãos o sacrifício de seus bens (através dos impostos) e da própria vida (quando se declara a guerra)
O que caracteriza um Estado são as relações que ele mantém com outro Estado. O Estado é sempre personagem da história e não a sociedade civil.
TÓPICO 4: A TRADIÇÃO JUSNATURALISTA 
De início, é importante ressaltar a dicotomia existente entre essas correntes de pensamentos jurídico-filosófica. O jus naturalismo é antagônica ao positivismo jurídico tradicional, já o positivismo jurídico é contrária a ideia de direito natural por que ele entende que o direito é o fenômeno humano que depende de uma positivação e essa positivação do positivismo é uma previsão que ela é expressa que no caso da nossa tradição civilis é uma previsão expressa na lei, assim o positivismo jurídico é antagônico a ideia de direito natural, pois na sua teoria tradicional, lá na obra Teoria Pura do direito de Kelsen, o positivismo jurídico não admite qualquer tipo de influência da moral sobre o direito. 
Primeiramente é importante entendermos sobre o que significa esse direito natural. O jus naturalismo é o direito natural e o direito natural recebe esse nome por que decorreria da natureza das coisas. Então assim como existem leis da física que são inerentes a natureza física, assim também o direito natural seria algo inerente a natureza humana e se ele é inerente a natureza humana ele tem que ter duas fontes ligadas a humanidade e essas duas fontes são: a razão e a moral. A contraposição de sociedade civil a sociedade natural acabou por fazer prevalecer no uso da expressão “sociedade civil” o significado de sociedade artificial. (p. 45) Antes de pontuar essas duas fontes (razão e moral) é importante ressaltar que essa concepção de direito natural compreende que existe um direito natural que está a cima da lei e se essa lei for contrária ao direito natural ela não será considerada válida, portanto, ela também não seria um direito. O Estado é a antítese do Estado de natureza. (p. 45) 
As fontes do direito natural desde a antiguidade clássica, mais precisamente na Grécia antiga a razão era vista como fonte de direito natural, pois para os gregos a acima da lei está o direito natural, acima da lei estava a razão e as leis produzidas pelos homens deveria ser uma expressão uma manifestação dessa razão da racionalidade humana, logo se uma lei fosse contrária a razão, contrária ao direito natural ela não poderia ser considerada direito. Sobre a consolidação do cristianismo como uma religiosidade oficial, com o cristianismo a vontade de Deus passou a ser considerada a fonte do direto natural. Santo agostinho já havia demonstrado que a vontade de Deus é igual a razão de Deus. 
O jus naturalismo de base racional, outro nome para o constitucionalismo do pós positivismo, o positivismo crítico no qual nota-se que nos últimos anos tem havido uma reaproximação entre o direito e a moral e portanto uma reaproximação entre o jusnaturalismo e o positivismo embora tenham premissas antagônicas essas aproximação entre o jus naturalismo e o positivismo se dá exatamente na aproximação entre o direito e a moral que é promovida pelo constitucionalismo, assim o chamado de jus naturalismo de base nacional é parecido com o direito natural tradicional do jus naturalismo tradicional pois ele considera que existe algo acima da lei e a lei tira seu fundamento de validade e se algo está acima da lei, sabemos que é a constituição, mas a constituição é fenômeno positivado aprovado pelo poder legislativo então é um jus naturalismo de base racional, ou seja, produzida pelo homem, positivada.
 Por outro lado, a constituição também permite que o direito converse com a moral por meio da previsão de um principio de justiça material, normas abertas, direitos fundamentais e faz com o que a pessoas apliquea Constituição no qual ela precise de uma determinada concepção moral. Levando em consideração os fatos mencionados, os jus naturalistas de base racional e o constitucionalismo são parecidos com o direito natural tradicional o que permite a ela uma conversa entre o direito e a moral, porém por outro lado é evidente que o permite a ela uma conversa entre o direito e a moral, mas por outro lado, é evidente que o jusnaturalismo de base racional e o constitucionalismo é diferente de jus naturalismo tradicional por que aquilo que está acima das leis o constitucionalismo também é algo aprovado pelo poder legislativo, que é aprovado e produzido pelos homens.
O filósofo Aristóteles cita que a pólis ou cidade, que tem o caráter de comunidade independente e autossuficiente, ordenada à base de uma constituição, fez com que fosse considerada ao longo dos tempos como a origem histórica do Estado. Onde o Estado é o prosseguimento natural da sociedade familiar, de sociedade doméstica ou família, já para o modelo hobbesiano (jusnaturalista), onde o Estado é o oposto do estado natureza, na qual este último é constituído por indivíduos livres e iguais. Sociedade Civil de Aristóteles (sempre uma sociedade natural) x Sociedade civil de Hobbes (instituída ou artificial). (p. 45) A diferença é que enquanto a societas civilis do modelo aristotélico é sempre uma sociedade natural, no sentido de que corresponde perfeitamente à natureza social do homem, esta mesma societas civilis no modelo hobbesiano é uma sociedade instituída ou artificial.
Um exemplo do modelo jusnaturalista, citado por Kant é onde “o homem deve sair do estado de natureza, no qual cada um segue os caprichos da própria fantasia, e unir-se com todos os demais [...] submetendo-se a uma constrição externa publicamente legal [...] vale dizer que cada um deve, antes de qualquer outra coisa, ingressar num estado civil”. Tal persistência no modelo jusnaturalista passou a prevalecer com Hobbes, no uso da expressão “sociedade civil”, o significado de “sociedade artificial”.
Esta expressão “sociedade civil” foi empregada também para distinguir o âmbito de competência do Estado ou do poder civil, do âmbito de competência da Igreja, ou do poder religioso, ou seja, na contraposição sociedade civil/sociedade religiosa, se agregando à tradicional sociedade civil/sociedade doméstica.
A dicotomia família/Estado, que é o ponto de partida do modelo Aristotélico, com a dicotomia Igreja/Estado, fundamental na tradição do pensamento cristão.
TÓPICO 5: SOCIEDADE CIVIL COMO SOCIEDADE CIVILIZADA 
Hegel define a Sociedade Civil como formulada por associações, comunidades e corporações a qual exercia no meio uma influência de caráter normativo entre as pessoas e o Estado. Tal influência segundo Hegel era primordial para a construção de uma comunidade ética. Para Hegel a sociedade era uma formação de pilares históricos advindas de anos de interação entre pessoas da mesma comunidade ou distinta. Hegel então sustenta sua teoria em um tri pé, ou seja, com base em três teorias: o sistema necessidade – a economia, a comercialização de interesses que gere benefícios aos envolvidos com as compras e vendas de mercadoria, por exemplo. A administração da Justiça, essa tendo como principio a tutela do bem privado da propriedade por lei, para garantir ao indivíduo o direito econômico e para assim ter a sua liberdade individual e por fim, a polícia e a corporação que tinham como função garantir o funcionamento das outras porém Bobbio, ressalva que as teorias de Hegel são controvérsias tendo em vista que diversas ideias do autor foram extraídas de obrar de outros autores. 
Sociedade civil significa sociedade civilizada. O progresso da sociedade onde a humanidade passou e continua a passar do estado selvagem dos povos caçadores sem propriedade e sem Estado ao estado bárbaro dos povos que iniciavam na agricultura e introduziram os primeiros germes de propriedade, ao estado civil caracterizado pela instituição da propriedade, do comércio e do Estado. Para Ferguson o estado de natureza aparece os barbáries e o estado civil aparece a elegantia, que para ele dizia ser cível não porque se diferencia da sociedade doméstica ou da sociedade natural, mas porque se contrapõe as sociedades primitivas. Para Hegel, os Estados antigos, tanto os despóticos quanto as repúblicas gregas, não possuíam uma sociedade civil.
Rousseau no Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, descreve o estado de natureza, no qual a condição do homem natural não necessita da vida em sociedade, onde a natureza o serve apenas para necessidades essenciais, sendo feliz com o seu estado. Logo descreve o estado de corrupção em que o homem cai após a instituição da propriedade privada, que estimula os instintos egoístas, e após a invenção da agricultura e da metalurgia que faz com que tenha uma dominação entre o homem mais forte e o mais fraco.
Para muitos escritores, sociedade civil tem o significado de sociedade política, para Rousseau, sociedade civil significa sociedade civilizada, porém não tirando a hipótese de ser sociedade política, onde esta última o homem deve sair para instituir república fundada sobre o contrato social.
TÓPICO 6: O DEBATE ATUAL 
O significado predominante foi o de sociedade política ou Estado, diferenciada da sociedade doméstica, da sociedade natural, e da sociedade religiosa. Segundo Hegel, para qual pela primeira vez a sociedade civil não compreende mais ao Estado na sua globalidade, mas representa apenas um momento no processo de formação do Estado. Prosseguindo com Marx, que concentrando a atenção sobre o sistema das necessidades que constitui apenas o primeiro momento da sociedade civil hegliana, compreende na sociedade civil exclusivamente as relações materiais ou econômicas e, com uma inversão já completa do significado tradicional, não apenas separa a sociedade civil do Estado como dela faz o momento ao mesmo tempo fundante antitético.
No debate atual a contraposição permaneceu, onde a sociedade civil é anteado do Estado entrou de tal maneira na prática cotidiana, que necessita de um esforço para se convencer que, durante séculos, a mesma expressão foi usada para designar aquele conjunto de instituições e de normas que hoje constituem exatamente o que se chama de Estado, onde ninguém poderia mais chamar de sociedade civil.
Com a doutrina do direito natural e com o contratualismo, o Estado passou a ser visto, sobretudo em seu aspecto de associação voluntária para a defesa da vida, da propriedade, da liberdade.
Para Maquiavel, o Estado não pode mais ser assemelhado como uma forma de sociedade, quando ele diz sobre Estado, pretende citar do máximo poder que se exerce sobre os habitantes de um território, e do aparato de que alguns homens se servem para adquiri-lo e conservá-lo. Entretanto o Estado-sociedade passa a ser o Estado-máquina.
A contraposição entre a sociedade e o Estado com o nascimento da sociedade burguesa é a consequência natural de uma diferenciação que ocorre nas coisas e uma divisão de tarefas, cada vez mais necessária, entre os que se ocupam de “riqueza de nações” e os que se ocupam das instituições políticas. A socialização do Estado através do desenvolvimento das várias formas de participação nas opções políticas, do crescimento das organizações de massa que exercem direta ou indiretamente algum poder político, na qual a expressão “estado social” poder ser entendida não somente no Estado que permeou a sociedade, mas também no sentido do Estado permeado pela sociedade.
Dois processos que representam duas figuras, como cidadão participante e cidadão protegido é que o Estado que faz a sociedade (conduziria o Estado sem sociedade, ao Estado totalitário) e da sociedade que se faz o Estado (sociedade sem Estado, ou seja, extinção do Estado).
Sociedade e Estado agem como dois momentos necessários, distintos, porém interdependentes, do sistema social em sua complexidade e sua articulação interna.

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