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Bactérias 1 1 - Introdução As bactérias estão presentes em toda parte: no solo, na água, no ar e em outros seres vivos. Embora algumas espécies causem graves enfermidades, a função biológica desses microrganismos é indispensável, principalmente nos processos de fermentação e no tratamento de resíduos orgânicos. Bactéria é um ser procarionte, isto é, não possui núcleo propriamente dito, como ocorre nas células vegetais e animais, e o material genético, reunido numa determinada região celular, não se isola fisicamente do resto dos componentes celulares por uma membrana. Por isso, são consideradas um grupo de seres vivos à parte, embora algumas espécies sejam capazes de, como os vegetais, realizar fotossíntese. 2 2 - Conceito São células unicelulares, com parede rígida, procarióticas típicas, às vezes chamadas de bactérias verdadeiras. Apresentam diâmetros médios de 0,5 a 1 m e 2 a 5 m de comprimento. Podem ser móveis ou imóveis. Reproduzem-se por fissão binária simples. A substância nuclear não é delimitada por uma membrana. 3 3 - Citologia: a célula bacteriana 4 3.1 - Dimensões das células De forma geral, variam de 0,3µm por 0,8µm a 10µm por 25µm. As espécies de maior interesse possuem tamanho médio de 0,5 a 1,0µm por 2 a 5µm. 5 3.2 - Formatos das células Apresentam quatro formas fundamentais: cocos ou pequenas esferas; bacilos ou bastonetes retos; vibriões ou bastonetes curvos; espirilos ou filamentos em forma de hélice. 6 3.2.1 - Formatos das células: variações no formato básico * Culturas velhas ou culturas de meios impróprios de certas espécies bacterianas perdem a sua morfologia característica e assumem formas diversas da forma normal, formas de involução. * Em certas espécies bacterianas, tais variações da morfologia típica aparecem com grande freqüência em função de alterações mínimas nas condições de cultura, sendo chamadas de pleomorfismo. 7 3.2.2 - Agrupamento das células: cocos Cocos: pequenas esferas, tomam denominações diferentes de acordo com o seu agrupamento: micrococos, quando se separam completamente, ficando isolados. diplococo, quando se agrupam dois a dois; estreptococo, em cadeia; estafilococo, em forma de cacho de uva; 8 3.2.3 - Formatos das células: bacilos e espirilos Bacilos: em forma de bastonetes retos, mais restritamente denominam - se bacilos os bastonetes cujas extremidades são cortadas em ângulo reto. Quando as extremidades são arredondadas, toma a configuração oval, denominando-se então bacterium. Espirilos: em forma de hélice ou saca- rolha, e vibrião, em forma de vírgula, segmento de espiral. 9 3.3 - Parede celular (a) Revestimento externo das células bacterianas com espessura entre 10 e 25 nm (100 a 250 Ao). Representa de 10 a 40% de seu peso seco, determina a sua forma e protegem-nas das agressões do meio em que vivem. Ela é constituída por ácido diaminopimérico (DPA), ácido murâmico e ácido teicóico além de aminoácidos, carboidratos e lipídeos. Esses compostos estão reunidos para formar substâncias poliméricas complexas que, por sua vez, estruturam a parede celular. A rigidez da parede celular é conferida por uma macromolécula complexa denominada peptideoglicana (também chamada de mucopeptídeo ou mureína) forma a estrutura rígida da parede. 10 3.4 - Parede celular (b) A parede celular protege a célula, mantém a pressão osmótica intrabacteriana, impedindo o rompimento da célula devido à entrada de água, e funciona como suporte de antígenos somáticos bacterianos. As bactérias podem ser divididas em dois grupos, em função da composição e da estrutura de sua parede celular: bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. 11 3.5 - Parede celular (c) O peptoglicano, que confere rigidez à célula, está presente em menor quantidade nas Gram-negativas. O ácido teicóico, substância que é, possivelmente, o responsável pela fixação do corante de Gram na parede celular, está presente apenas nas bactérias Gram-positivas. A parede celular da bactéria Gram-positiva é mais espessa, chegando a 80 nm; enquanto a da Gram- negativa não ultrapassa 7,5 a 10 nm. 12 3.6 - Coloração de Gram O Método de Gram foi desenvolvido em 1884 pelo médico dinamarquês Christian Gram. É um método de coloração diferencial que permite dividir as bactérias em duas classes: Gram-positivas G(+) e Gram-negativas G(-). Trata-se de uma ferramenta essencial na classificação e diferenciação de bactérias. 13 3.6.1 - Coloração de Gram (a) 14 3.6.2 - Coloração de Gram (b) O método baseia-se na diferença de estrutura e composição da parede celular de bactérias. Certas bactérias são coradas por violeta de genciana e depois tratadas por iodo (lugol), formando um composto de coloração escura entre o iodo e o corante, o qual é fortemente retido pelas bactérias e não pode ser facilmente removido pelo tratamento subseqüente com álcool: são as bactérias Gram-positivas. Outras bactérias, as Gram - negativas, deixam-se descorar facilmente pelo álcool e por ácidos fracos. 15 3.6.3 - Coloração de Gram (c) Duas regras gerais: Cocos são geralmente Gram - positivos (com exceção do gênero Neisseria) ; Bacilos são geralmente Gram-negativos (com exceção dos gêneros Corynebacterium , Bacillus e Clostridium), assim como grande parte das bactérias patogênicas. O mecanismo de coloração se relaciona com a diferente composição da parede celular das bactérias. Nas Gram (+), a parede celular é constituída por uma espessa lâmina mucopeptídica, que retém o complexo iodo-proteína no interior do corpo bacteriano. Nas Gram (-), a parede celular é mais fina, e o tratamento com álcool aumenta a permeabilidade do invólucro externo lipopolissacarídico que circunda a camada mucopeptídica, propiciando a remoção do complexo. 16 3.6.4 - Coloração de Gram (d) 17 Característica da parede celular bacteriana Gram (+) Gram (-) Espessura +/- 20 nm +/- 10nm Ácido teicóico tem não tem Lipídios +/- 2% +/- 20% Peptoglicanos +/- 90% 5 a 10% Aminoácidos poucos muitos Camadas muitas 1 a 2 Polissacarídeos menos mais Cor violeta rósea Outras formam protoplastos formam esferoplastos 3.6.5 - Coloração de Gram (e) Gram I - Cristal de violeta: Solução A: violeta de cristal 1 g e álcool etílico 95% 10 ml Solução B: Oxalato de amónio - 0,8 g e água destilada - 80 ml Misturar as duas soluções. Gram II – reagente de lugol: iodo - 1 g iodeto de potássio - 2 g água destilada - 300 ml Gram III – Etanol a 90% Gram IV – solução de safranina safranina - 0,25 g (dissolvido em 10 ml de álcool etílico a 95%) água destilada - 100 ml 18 3.6.6 - Coloração de Gram (f): G(+) 19 Bactéria Gram-positiva Brevibacillus brevis (WA Clark 1977 - CDC Public Health Image Library; imagem de domínio público) 3.6.7 - Coloração de Gram (g): G(-) 20 Bactéria Gram-negativa Aeromonas hydrophila (WA Clark 1977 - CDC Public Health Image Library; imagem de domínio público) 3.7 - Estruturas externas à parede celular (a) Cápsula - estruturas que as protegem da ação dos leucócitos, que são as células de defesa do nosso corpo. Flagelos - que são como caudas, responsáveis pela sua movimentação. 21 3.8 - Estruturas externas (b) Fímbrias - estruturas mais finas e mais curtas que os flagelos, que são responsáveis pela aderência desses seres microscópicos às mucosas do nosso organismo e que também participam da reprodução das bactérias. 22 3.9 - Estruturas internas à parede celular: esporo (a) Endosporo (ou esporo) Algumas bactérias podem produzir esporos,estruturas que tornam a bactéria resistente ao calor, ao frio e a agentes químicos, como os desinfetantes. É uma célula altamente resistente, com corpo oval e parede espessa. Apresenta impenetrabilidade aos corantes e é resistente à maioria dos desinfetantes. 23 3.10 - Estruturas internas à parede celular: esporo (b) Endosporo (ou esporo) Gêneros Bacillus e Clostridium formam esporos. 24 3.11 - Estruturas internas à parede celular: esporo (c) Endosporo (ou esporo) Tamanho: maiores ou menores que o diâmetro da célula. Localização: terminal, subterminal ou central 25 3.12 - Estruturas internas à parede celular: esporulação Mecanismo de formação de esporo bacteriano 26 4 - Nutrição A maioria de interesse industrial é do tipo quimioorganotrófico. Utilizam sais de amônio e uréia (FN) e aminoácidos, purina e pirimidina (fatores de crescimento) para sínteses proteica e de ácidos nucleicos. 27 4.1 - Exigências nutritivas TIPO NUTRICIONAL ENERGIA FONTE DE CARBONO EXEMPLO Fotolitotrófico radiante CO2 Chromatium Fotoorganotrófico radiante orgânica Rhodopseudo monas Quimiolitotrófico química CO2 Thiobacillus Quimioorganotrófico química orgânica Escherichia 28 4.2 - Condições ambientais T : 32-37oC pH : 6,5 a 7,5 tensão O2 : aeróbios, anaeróbios estritos, anaeróbios facultativos, microaerófilos. 29 5 - Reprodução Embora não tenham núcleo, as bactérias apresentam um cromossomo, denominado nucleóide, o qual é formado por uma única molécula enovelada de DNA dupla fita, associado a algumas proteínas. Além do DNA cromossômico, as bactérias apresentam um DNA extra, chamado plasmídio. Alguns plasmídios são responsáveis pela resistência das bactérias a alguns tipos de antibióticos. Transmitir características lembra reprodução e reprodução de bactéria pode ser de duas formas: assexuada e sexuada. 30 5.1. Reprodução assexuada A reprodução assexuada é um tipo de reprodução onde não ocorre variabilidade genética, ou seja, os indivíduos descendentes são idênticos cromossomicamente ao organismo matriz (genitor). Não envolve o encontro de gametas, também não ocorre a fecundação. Organismos oriundos a partir desse processo são tidos como clones. É uma forma de multiplicação repetitiva, tendo como princípio: sucessivas divisões mitóticas, ou mecanismo de bipartição, também chamada de divisão binária ou cissiparidade, processos de brotamento, partenogênese e propagação vegetativa. 5.1.1 - Reprodução assexuada Por divisão celular, também chamada de fissão binária ou cissiparidade. 32 5.1.2. Reprodução Assexuada de Bactérias Ocorre por divisão celular, também chamada de fissão binária ou cissiparidade. A célula-mãe sofre alongamento celular, seguido de invaginação da parede celular e migração do material nuclear (A). O filamento de DNA começa por fixar-se a uma invaginação da membrana plasmática e duplica- se (B). O novo filamento encontra-se preso noutro ponto a pouca distância do primeiro (C). Há formação da parede tranversal e distribuição do material celular para duascélulas filhas (D). Por fim ocorre a separação das células filhas (E). 5.2. Reprodução Sexuada de Bactérias Pode ocorrer por 3 mecanismos cujas principais diferenças estão relacionadas com a forma de transferência de material genético de uma célula para a outra: Por Conjugação; Por Transdução; Por Transformação. 5.3 - Reprodução sexuada: curiosidades Em bactérias G(+) como alguns estreptococos, há produção de uma substância chamada feromônio sexual, que funciona como um perfume para atrair outra, favorecendo o processo de conjugação. Seja a reprodução sexuada ou assexuada, o fato é que as bactérias se multiplicam com grande rapidez, podendo originar uma nova bactéria a cada vinte minutos (tempo de geração = tg). Matematicamente, é possível calcular a população o crescimento de um cultivo à partir de uma única ou de várias bactérias, pela equação: B = B0 2n Onde: n = t/tg (número de gerações que elas cumpriram num certo tempo t). B0 = número de bactérias no instante inicial 35 6 - Bactérias de interesse industrial (a) Acetobacter - Bastonetes; móveis ou imóveis; G(-); quimiorganotrófico; aeróbio estrito; T=30oC (5 a 42oC). Ex: Acetobacter aceti - vinagre Bacillus - Bastonetes; 0,3-2,2 mm por 1,3 a 7 mm; maioria móvel; G(+); quimioorganotrófico; aeróbio estrito ou anaeróbio facultativo. Ex: Bacillus subtilis - amilases Bacillus sphaericus - bioinseticida 36 6 - Bactérias de interesse industrial (b) Clostridium - Bastonetes; geralmente móveis, ocasionalmente imóveis; G(+); quimiorganotrófico; anaeróbio estrito. Ex: Clostridium acetobutylicum - acetona, butanol, etanol Lactobacillus - Bastonetes; imóveis; G(+); anaeróbio ou microaerófilo. Ex: Lactobacillus acidophilus - coalhada Lactobacillus delbrueckii - ácido lático Streptococcus - Células ovais ou esféricas; agrupadas em cadeias; diâmetro menor do que 2mm; G(+); quimiorganotrófico; anaeróbio facultativo; T=37oC. Ex: Streptococcus lactis - chucrute 37 7 - Bactérias patogênicas Escherichia - Bastonetes retos; 1,1-1,5 por 2-6 mm; móveis e imóveis; G(-); anaeróbio facultativo. Ex: Escherichia coli - saprófita intestinal, infecções urinárias. Staphylococcus - Cocos; agrupados em cachos; 0,5-1,0 mm; imóveis; G(+); quimioorganotrófico; aeróbio ou anaeróbio facultativo. T=35-40oC. Ex: Staphylococcus aureus - supurações, septicemias. Clostridium tetani - tétano Clostridium botulinum - botulismo Streptococcus pneumoniae - causa septicemia, infecção no ouvido médio, pneumonia e meningite. 38