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Povo, Cultura e Religião

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Povo, cultura e 
religião
Povo cultura religiao_book.indb 1 6/19/14 4:08 PM
Povo cultura religiao_book.indb 2 6/19/14 4:08 PM
Guilherme Cantieri Bordonal
Wilson Sanches
Thiago Rodrigo da Silva
Edison Lucas Fabricio
Povo, cultura e 
religião
Povo cultura religiao_book.indb 3 6/19/14 4:08 PM
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Sanches, Wilson
S194p Povo, cultura e religião / Wilson Sanches, Thiago 
Rodrigo da Silva, Edison Lucas Fabricio, Guilherme 
Cantieri Bordonal. – Londrina: Editora e Distribuidora 
Educacional S.A., 2014.
 192 p.
 ISBN 978-85-68075-40-1
 1. Conceito 2. Fenômeno. I. Silva, Thiago Rodrigo da. II. 
Fabricio, Edison Lucas. III. Bordonal, Guilherme Cantieri. 
IV. Título.
 CDD 291
© 2014 by Editora e Distribuidora Educacional S.A. 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, 
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e 
transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora 
e Distribuidora Educacional S.A.
Diretor editorial e de conteúdo: Roger Trimer
Gerente de produção editorial: Kelly Tavares
Supervisora de produção editorial: Silvana Afonso
Coordenador de produção editorial: Sérgio Nascimento
Editor: Casa de Ideias
Editor assistente: Marcos Guimarães
Revisão: Christiane Gradvohl Colas
Diagramação: Casa de Ideias
Povo cultura religiao_book.indb 4 6/19/14 4:08 PM
Unidade 1 — Definindo conceitos .................................1
Seção 1 Povo ......................................................................................3
Seção 2 Cultura ................................................................................10
Seção 3 Religião ...............................................................................15
Seção 4 Fundamentos da religião .....................................................20
4.1 Modernidade e religião ......................................................................24
4.2 Símbolos religiosos ............................................................................26
Unidade 2 — O fenômeno religioso ............................41
Seção 1 O politeísmo, o monoteísmo e as implicações 
civilizacionais na compreensão do tempo histórico ...........44
Seção 2 A explicação agostiniana para a natureza e seus reflexos 
culturais ..............................................................................56
Seção 3 O sincretismo religioso e o ecumenismo ............................73
Unidade 3 — As religiões monoteístas .........................89
Seção 1 Judaísmo .............................................................................91
Seção 2 Cristianismo ......................................................................107
Seção 3 Islamismo .........................................................................127
Unidade 4 — Religiões orientais ................................143
Seção 1 Hinduísmo ........................................................................146
Seção 2 Budismo ............................................................................157
Seção 3 Taoísmo ............................................................................165
Seção 4 Xintoísmo .........................................................................170
Sumário
Povo cultura religiao_book.indb 5 6/19/14 4:08 PM
Povo cultura religiao_book.indb 6 6/19/14 4:08 PM
Vivemos em um mundo extremamente complexo interligado por redes de 
comunicação cada vez mais avançadas que nos conectam instantaneamente 
a todos os cantos do planeta; sistemas de transportes que podem nos levar 
em algumas horas aos cantos mais longínquos do globo. Por conta disso, 
temos contatos cada vez mais frequentes com diferentes povos, diferentes 
formas de viver e concepções das mais diversas sobre a origem do mundo 
e qual será o seu fim. Portanto, o tempo presente exige que cada um de nós 
conheçamos aquilo que é a alteridade.
Conhecer o outro não é apenas um exercício de curiosidade, mas uma 
necessidade atual em virtude das características da nossa sociedade que é 
cada vez mais conectada; além disso, o conhecimento do outro leva a uma 
reflexão sobre quem nós somos. De fato, o pensamento antropológico já 
afirmou com todas as letras que o conhecimento do outro leva ao conheci-
mento de nós mesmos, e quando somos cegos em relação aos outros somos 
míopes em relação a nós mesmos, nossas formas de vida e nossos hábitos, 
nossas crenças.
Neste livro, caro leitor, queremos oferecer uma visão ampla sobre três 
temas de extrema importância para conhecermos nós mesmos e o outro bus-
cando uma explicação histórica e conceitual sobre “povo, cultura e religião”. 
Este conhecimento histórico e conceitual pode nos auxiliar a perceber, com 
um maior senso crítico, por que cada povo desenvolveu sua própria cultura 
e hábito, bem como suas vidas religiosas.
Para obtermos tal compreensão o livro foi estruturado da seguinte maneira:
A Unidade 1 tem por objetivo estabelecer alguns conceitos básicos para a 
discussão do tema proposto pela disciplina; assim, nesta unidade, a principal 
preocupação é definir o termo “povo” bem como sua origem, definir o termo 
“cultural” e o que é religião e como eles se interligam.
Apresentação
Povo cultura religiao_book.indb 7 6/19/14 4:08 PM
viii P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
Na Unidade 2 refletiremos juntos sobre “o fenômeno religioso”, ou seja, 
qual a influência da religião na organização da nossa vida em sociedade. Para 
compreender tal influência discutiremos o politeísmo e o monoteísmo e a 
influência agostiniana na concepção de religião que o ocidente desenvolveu.
A Unidade 3 faz uma abordagem sobre as três principais religiões mono-
teístas. Esta unidade se preocupará em apontar características essências do 
Judaísmo, do Cristianismo e do Islamismo. Essas religiões possuem uma história 
complexa e longa, porém o objetivo da unidade não será contemplar todos os 
assuntos referentes a estas religiões, mas fornecer uma visão ampla e conceitual 
sobre as bases destas religiões..
A Unidade 4 tem por objetivo apresentar alguns aspectos das religiões 
orientais; especificamente, discutiremos os principais aspectos do Hinduísmo, 
Budismo, Taoísmo e Xintoísmo. Nesta unidade teremos oportunidade de perce-
ber os distanciamentos e as aproximações das estruturas religiosas do ocidente 
e do oriente.
Caro leitores, deixo aqui um convite para iniciarmos o estudo sobre este 
tema que interessa a todos nós: “Povo, Cultura e Religião”. Vivemos em uma 
sociedade que desenvolveu historicamente as concepções do que é povo, de-
senvolveu seus hábitos culturais e suas estruturas religiosas, além disso vivemos 
em mundo de intenso contato com o outro, com aquele que é diferente de 
nós, conhecer o outro e as razões da alteridade é quase um dever inerente à 
vida presente
Bons estudos!
Prof. Wilson Sanches
Povo cultura religiao_book.indb 8 6/19/14 4:08 PM
Objetivos de aprendizagem: Nesta primeira unidade, faremos o 
estudo conceitual dos três termos que dão título à nossa disciplina 
Povo, cultura e religião. Ela é fundamental e será o alicerce para as 
demais unidades que estudaremos. É bom lembrar que a definição 
conceitual para qualquer assunto que se for estudar é prerrequisito 
para o desenvolvimento do trabalho. Na metodologia adotada neste 
trabalho. Entendemos que a religião é a grande força estruturante 
das civilizações, portanto, fique muito atento ao desenvolvimento 
desses conceitos.
Definindo 
conceitos
Unidade 1
Wilson Sanches
Guilherme Cantieri Bordonal
 Seção 1: Povo
Nesta seção analisaremos os aspectosque estruturam 
a formação dos diferentes povos.
 Seção 2: Cultura
Apresentaremos a cultura como o resultado das pre-
missas fornecidas pelas religiões. O estudo da cultura 
está muito presente nas pesquisas historiográficas, 
pois, com a modernidade, o multiculturalismo ga-
nhou muita força e é tema de muitos debates.
Povo cultura religiao_book.indb 1 6/19/14 4:08 PM
 Seção 3: Religião
Nesta seção trabalharemos com a religião, que se 
apresenta para nós como o principal elemento na 
formação dos povos e das culturas.
 Seção 4: Fundamentos da religião
Nesta seção poderemos aprofundar os aspectos 
estruturais das religiões, mostrando de que maneira 
cada religião se apresenta.
Povo cultura religiao_book.indb 2 6/19/14 4:08 PM
D e f i n i n d o c o n c e i t o s 3
Introdução ao estudo
Estamos diante de uma grande tarefa: debater elementos que estão pre-
sentes no nosso cotidiano e que fazem parte de nós de maneira intrínseca, 
ou seja, debater questões sobre povo, cultura e religião. Trata-se da junção de 
três termos dotados de grande potência discursiva. Eles carregam um amplo 
universo de valores, fornecendo inúmeras possibilidades de interpretações. 
Não são simples palavras; são monumentos construídos no decorrer do tempo. 
Dotados de amplitude, há de se ter sagacidade para percorrer esses caminhos 
tortuosos que já foram explorados por outros historiadores, pois foram muitos 
os discursos que buscaram legitimidade fazendo uso de práticas exercidas nos 
territórios do “Povo”, da “Cultura” e da “Religião”. 
Os três termos são usados com frequência nos debates historiográficos e, 
muitas vezes, de maneira automática, são lançados sem que se faça uma análise 
pormenorizada deles. São termos que estão no uso corrente do nosso ofício. 
Não se pretende, com essa disciplina, encerrar o debate sobre as implicações 
que envolvem esses temas, mas simplesmente proporcionar uma análise crítica 
de como esses termos foram construídos na História do Ocidente e de como 
exercem uma força muito grande na constituição do pensamento moderno e 
pós-moderno. A junção desses conceitos pode fornecer a caracterização que 
se tem do homem no mundo contemporâneo. A análise desse processo possi-
bilitará a compreensão da formação do Humanismo — como a possibilidade 
da formação de homens exemplares.
Seção 1 Povo
Você já ouviu falar que “a voz do povo é a voz de Deus”? Este ditado po-
pular apareceu com Tito Lívio, no original em latim “vox populi, vox Dei”. O 
ditado subsistiu aos anos, mas e a ideia de povo? Será que continua a mesma? 
Quando você ouve alguém falar que “tal povo é assim...”, ou “determinado 
povo deixou sua marca na história” ou, ainda, “que povo sem cultura”, quais são 
as coisas que vêm à sua mente? Para responder a estas questões discutiremos, 
nesta seção, a definição de povo. Mas não é uma coisa simples definir “povo”? 
De maneira alguma! Nossa preocupação e fazer a definição de povo de forma 
que esta definição possa servir de ferramentas necessárias e introdutórias para 
desenvolvermos as discussões no decorrer das demais unidades.
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4 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
A palavra “povo” tem origem no latim: populus. Podemos afirmar que 
a definição desse conceito é a de que “povo” é uma união de indivíduos 
que compartilham entre si crenças, práticas e símbolos, estabelecendo um 
sentimento de unidade e de identidade social. Contudo, essas experiências 
compartilhadas não criam barreiras rígidas e fixas. Logo, os povos podem 
sofrer transformações de acordo com os períodos históricos e com o próprio 
contato entre povos diferentes. É papel fundamental da História analisar essas 
mudanças para entender as relações e os movimentos internos e externos de 
diferentes sociedades.
Será que nossa identidade social é constituída apenas pelos símbolos 
nacionais ou há outros elementos que influenciam nesta construção?
Questões para reflexão
Nessa perspectiva, as pluralidades de cada indivíduo são suprimidas para 
formar um panorama geral que dê possibilidade para estudar os diferentes 
povos. Seria totalmente impossível levar em consideração a representação de 
todos os indivíduos que formam uma sociedade levando em conta suas parti-
cularidades, suas vicissitudes e suas representações. Desse modo, procura-se 
analisar os aspectos comuns que são compartilhados em um determinado grupo, 
sabendo que este é um procedimento arbitrário e redutor, o que, no entanto, 
possibilita a prática historiográfica. É importante ressaltar que algumas correntes 
historiográficas, como a micro-história, muito utilizada por Carlo Ginzburg, 
procuram selecionar um indivíduo de uma sociedade e, partindo desses as-
pectos, encontrar os elementos civilizacionais que moldam uma civilização. 
Leia atentamente o texto:
Em diversas partes do planeta existem nações reivindicando a formação 
de um território (Estado próprio), pois elas habitam países em que a na-
ção predominante é outra. Esses grupos, compostos por indivíduos que 
apresentam características históricas, religiosas, culturais, valores sociais, 
Atividades de aprendizagem
Povo cultura religiao_book.indb 4 6/19/14 4:08 PM
D e f i n i n d o c o n c e i t o s 5
entre outros elementos em comum, solicitam a criação de um país que 
será definido e delimitado por e a partir de relações de poder, sendo 
estabelecida uma unidade administrativa autônoma e reconhecida pela 
comunidade internacional. Entre as principais nações nessa situação estão:
Curdos: 
Com mais de 26 milhões de pessoas, os curdos são a maior nação sem 
território do mundo. Esses indivíduos habitam a Armênia, Azerbaijão, Irã, 
Iraque, Síria e Turquia. Essa nação, vítima de perseguições e massacres, 
reivindica a criação do Curdistão, entre o norte do Iraque, oeste da Turquia 
e noroeste do Irã.
Palestinos: 
Essa grande nação é composta por mais de sete milhões de pessoas 
que estão situadas no Oriente Médio. Os palestinos lutam pela formação 
de um território autônomo e a reincorporação de áreas ocupadas pelos 
israelenses. A Organização para Libertação da Palestina (OLP) é o principal 
grupo na busca pela criação de um Estado próprio.
Tibetanos: 
Os tibetanos ocupam o centro-leste do continente asiático, um ter-
ritório dominado pelo governo chinês, que oprime de forma violenta o 
movimento de autonomia dessa nação. Os mais de seis milhões de tibe-
tanos, de tradição budista, não aceitam a ocupação da China e solicitam 
a criação de um país.
Caxemires:
A região da Caxemira é dominada pela Índia, Paquistão e China, além 
de abrigar duas nações: muçulmanos (quatro milhões) e hindus (um mi-
lhão). A maioria dos habitantes (muçulmanos) deseja que o território seja 
anexado ao Paquistão, porém há grande oposição por parte dos hinduístas.
Fonte: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/geografia/
nacoes-sem-territorio.htm>
Com base no texto e na discussão que fizemos durante esta seção, 
construa um texto discursivo argumentativo, com no mínimo dois argu-
mentos, sobre os elementos que permitem que estes “povos desterrados” 
ainda possam continuar a ser chamados de povo.
O texto deve ter no mínimo 10 e no máximo 15 linhas.
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6 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
No livro O queijo e os vermes, Carlo Ginzburg analisou o processo de julgamento de Menocchio 
e, partindo dessa fonte documental, procurou perceber as características que compunham o 
imaginário e as estruturas sociais do período histórico da temporalidade destacada.
Para saber mais
O sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990) possui vários estudos que 
podem auxiliar o estudo da história. Ao fornecer as bases sociológicas que 
formou o povo alemão, em seu livro Os alemães ele definiuo conceito “povo” 
de uma maneira muito ampla:
Mas não é só o nome de um país que pode ter funções 
desta espécie — toda uma gama de símbolos verbais, 
entre eles, termos como “Pátria”, “Mãe Pátria” ou “Povo”, 
podem também tê-las. Até onde nos é dado apurar, os 
termos “nação” e “nacional” tornaram-se os mais gerais 
e mais amplamente usados símbolos desse gênero. Basta 
apenas perguntar o que distingue o termo “nação” de 
outros, como “país” ou “Estado”, para perceber a dife-
rença. Os próprios dados sociais a que esses termos se 
referem são em grande parte idênticos. Quanto aos fatos, 
descontados os desenvolvimentos locais ou regionais, 
expressões como “uma nação”, “um povo” ou “o povo de 
um país”, “os membros de um Estado”, são quase sempre 
sinônimos (ELIAS, 1997, p. 139-140). 
A criação do Estado foi fundamental, segundo Elias (1997), para a 
formação do povo alemão. E, no caso do Brasil, nós nos constituímos 
enquanto povo a partir da formação do Estado, ou foram outros os 
elementos importantes para a formação do povo brasileiro? Construa 
um texto argumentativo sobre a formação do povo brasileiro. O texto 
deverá ter no máximo 15 e no mínimo 10 linhas.
Utilize o texto a seguir (uma entrevista de Darcy Ribeiro) como 
material de apoio:
Meu livro mostra por que caminhos e como nós viemos, criando 
aquilo que eu chamo de Nova Roma. Roma com boa justificação... 
Atividades de aprendizagem
Povo cultura religiao_book.indb 6 6/19/14 4:08 PM
D e f i n i n d o c o n c e i t o s 7
Devemos estar atentos ao fato de que a formação da Alemanha está direta-
mente relacionada à criação do Estado alemão. Logo, vemos de que forma Elias 
relaciona os conceitos de “povo” com “Estado”. Na perspectiva de Norbert Elias, 
há uma proximidade muito grande entre os símbolos nacionais criados com o 
entendimento que se pode ter de um Povo. É muito interessante observar esse 
posicionamento de Elias (1997) porque estabelece essa mesma proximidade dos 
conceitos de povo, cultura e religião. As dificuldades encontradas para separar 
o que é um povo do que é uma nação também podem ser encontradas para 
analisar separadamente os três conceitos-chave dessa disciplina. No mesmo 
caminho interpretativo de Elias (1997), temos Nicola Abbagnano, que no seu 
Dicionário de filosofia faz a seguinte definição de povo: “Comunidade humana 
caracterizada pela vontade dos indivíduos que a compõem de viver sob a mesma 
ordenação jurídica” (ABBAGNANO, 2007, p. 916).
Se para Abbagnano (2007) um povo deve viver e compartilhar uma 
mesma ordenação jurídica, subentende-se que também deve compartilhar 
algum poder superior — como, por exemplo, um Estado — que atribua um 
regimento para as suas práticas. Contudo, o que é fundamental e que deve 
ser destacado nas duas perspectivas apresentadas é o fato de que um Povo é 
criado pela ação humana. A partir do momento que se adota esse parâmetro 
para definir este conceito podemos utilizar das ferramentas metodológicas 
oferecidas pela historiografia para entender melhor o processo de formação 
de cada povo.
Roma por quê? A grande presença no futuro da romanidade, dos neo-
latinos, é a nossa presença. Isso é o Brasil, uma Roma melhor porque 
mestiça, lavada em sangue negro, em sangue índio, sofrida e tropical. 
Com as vantagens imensas de um mundo enorme que não tem inverno 
e onde tudo é verde e lindo, e a vida é muito mais bela... E é uma 
gente que acompanha esse ambiente com uma alegria de viver que 
não se vê em outra parte. Esse país tropical, mestiço, orgulhoso de sua 
mestiçagem... Isso é que me levou muito tempo. Entender como isso 
se fez... Havia muita bibliografia sobre aspectos particulares, mas não 
uma visão de conjunto. Deixa eu contar pra vocês como é que isso se 
fez? (ALÔ ESCOLA, 2014).
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8 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
Não podemos nos esquecer, no entanto, que em civilizações da Antiguidade, 
como na Mesopotâmia e na Grécia Antiga, sociedades nas quais havia uma 
fragmentação política, o que mantinha a unidade desses povos era a língua e 
a religião. Portanto, nem sempre o Estado é o elemento unificador dos povos.
Qual o peso da religião para a concepção de povo ainda hoje?
Questões para reflexão
No entanto, gostaríamos de apresentar outra possibilidade de análise para 
a formação dos povos. Destacamos as interpretações feitas pelas concepções 
hegelianas. Segundo Hegel, as práticas de um povo devem ser compreen-
didas como expressões de forças metafísicas. Logo, deveríamos conhecer 
as expressões religiosas dos povos, pois ali estariam demonstradas todas 
as engrenagens que regiam as práticas daqueles indivíduos. Hegel (1993) 
cria a expressão Volksgeist — “Espírito de um povo” — justamente para 
demonstrar a força que esse espírito metafísico possuía nas suas conclusões 
filosóficas e históricas. Isso parece um pouco confuso? Vamos tentar desatar 
esses nós. Veja o esforço realizado por Robert Hartman para tentar explicar 
o pensamento de Hegel:
Se a História, como ele sustenta, é o autodesenvolvimento 
do Espírito, a realização da Ideia divina, de um plano 
cósmico, então o homem histórico deve ser um em que se 
concentram as potencialidades de seu tempo, a situação 
histórica. Mas ele é apenas uma fase no grande processo 
mundial, ligados aos estados individuais. Ao final do 
processo histórico, quando o Espírito já se realizou com-
pletamente, há um Estado global de Razão universal, de 
toda humanidade (HARTMAN, 2004, p. 14).
A palavra “metafísica” é de origem grega e significa “para além da física”. Andronico de Rodes, 
ao organizar a obra de Aristóteles, observou que havia um livro intitulado Física, e depois 
outro; ao outro deu-se o nome de Metafísica. No entanto, estudos neoplatônicos vão com-
preender a metafísica como “sobrenatural”; este é o sentido que utilizamos a expressão 
metafísica.
Para saber mais
Povo cultura religiao_book.indb 8 6/19/14 4:08 PM
D e f i n i n d o c o n c e i t o s 9
Desse modo, para Hegel, o Espírito que rege os movimentos históricos — e, 
consequentemente, a formação das civilizações — possui um plano cósmico. 
Essa perspectiva apresentada por Hegel foi muito influente nas concepções 
acerca das Teorias da História.
O livro A razão na história: uma introdução geral à filosofia da história, de Hegel, oferece-
-se como uma excelente oportunidade para compreendermos como os pensadores da moder-
nidade acreditavam na capacidade racional do homem. Esse livro, além de deixar profundas 
marcas na Teoria da História, é também uma boa fonte para entendermos o imaginário do 
homem moderno.
Para saber mais
Povo cultura religiao_book.indb 9 6/19/14 4:08 PM
10 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
Seção 2 Cultura
Você tem cultura? Qual povo é mais culto? São perguntas que para alguns 
podem parecer estranhas, mas para outros são extremamente normais. Mas 
afinal, o que você responderia? Quando falamos de cultura, sobre do que 
estamos falando? Falamos de algum tipo de refinamento, de conhecimento, 
de comportamento? Poderíamos falar sobre a cultura do brasileiro de uma 
maneira geral ou teríamos que falar de cultura em termos particulares, uma 
cultura para cada região do país, ou ainda uma cultura para cada município, 
ou teríamos cidades cada vez mais complexas que em seu interior há um 
grande número de culturas diferentes? Afinal o que é este emaranhado de 
coisas, gestos, conhecimentos, valores que chamamos de cultura e como ele 
altera a nossa vida cotidiana? 
Essas várias questões mostram a complexidade que o tema CULTURA pode 
assumir em um debate. Aqui; temos que nos preocupar em pensar a cultura 
como um termo sociológico, um termo muito caro a todas as ciências sociais 
que tornam o nosso objeto de estudo muito interessante. Mas vários cuidados 
sãonecessários para lidarmos com esse termo. 
O termo cultura nem sempre foi utilizado da mesma maneira pelas socie-
dades, e nem sempre foi utilizado da mesma maneira pelas Ciências Sociais. 
Por isso, faremos uma recuperação das suas diversas acepções.
O termo “cultura” deriva da palavra latina colere. A partir dos séculos XVIII 
e XIX, ele ganhou conotações diferentes daquelas empregadas pelos romanos 
da Antiguidade. Até então, esse termo era usado para se referir ao cuidado de 
plantas, de animais e ao trato agrário; “cultura” era a arte de se cultivar algo 
ligado à natureza. Entretanto, na Alemanha do século XVIII, este conceito passa 
a ganhar vínculos com a educação, criando a expectativa de que o homem 
era capaz de ser aprimorado. Na Alemanha setecentista, a cultura começou 
a ser o território para a formação (Bildung) e melhoramento do homem. Esse 
empreendimento feito pelos alemães será fundamental para todos os desdo-
bramentos culturais que aconteceram nos demais séculos da história alemã.
O estudo desses termos não pode ser feito de maneira fixa, mas procurando 
sempre visualizar os movimentos ocorridos nos diferentes processos históricos. 
Do século XVIII para o século XIX, há uma grande mudança no significado do 
termo “cultura”. No século XVIII, ele era usado para marcar uma distância 
dos valores burgueses dos valores da política e, assim, adquiria um status de 
Povo cultura religiao_book.indb 10 6/19/14 4:08 PM
D e f i n i n d o c o n c e i t o s 11
elegância e inteligência. Havia um embate muito grande entre a burguesia e 
a aristocracia na Alemanha. Mesmo com uma situação financeira invejável, 
haviam balizas de valores muito rígidas que separavam burgueses e aristocra-
tas. A formação de novos valores e a produção de uma história cultural foi 
incentivada pela burguesia para marcar as diferenças entre as classes sociais.
Outra ciência social que estudou o termo cultura foi a antropologia social. Para conhecer mais 
sobre esta ciência, sugerimos o Livro Aprender antropologia, de François Laplantine, lançado 
pela Editora Brasiliense.
Para saber mais
Já no século XIX, a cultura é utilizada como elemento unificador do Estado 
alemão prestes a ser construído. Nesse instante, a cultura deixou de ser um 
elemento da vaidade burguesa e passou a ser utilizada como uma potente força 
política, capaz de estabelecer a tardia unificação de uma Alemanha ainda frag-
mentada. Nesse momento, a cultura foi fundamental para formar elos de iden-
tidade para o povo alemão, como salienta Elias (1997, p. 130, grifo do autor):
Qual é o peso da cultura para a unidade de um país que apresenta uma 
diversidade cultural enorme?
Questões para reflexão
Crenças semelhantes foram inicialmente associadas ao 
termo alemão Kultur, por exemplo, quando era usado 
no sentido da cultivação ou educação de seres humanos 
de modo a realizarem plenamente todo o seu potencial. 
Mas em fins do século XIX e começo do atual, quando o 
termo “cultura” foi cada vez mais usado na acepção de 
“cultura nacional”, as conotações humanistas e morais, 
numa etapa inicial de sua carreira, passaram a segundo 
plano e finalmente desapareceram.
Aqui também pode-se observar como os estudos de povo, cultura e religião 
não podem ser realizados separadamente, pois são complementares, sendo 
muito difícil separá-los dentro de uma pesquisa. Assim como Elias (1997) e 
Povo cultura religiao_book.indb 11 6/19/14 4:08 PM
12 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
Abbagnano (2007) deram ao conceito de povo uma forte conotação política, o 
mesmo pode ser feito com o conceito de cultura, principalmente na Alemanha 
do século XIX. O uso feito desse termo para fins políticos — a unificação da 
Alemanha — desconsidera a cultura como território da formação e educação e 
da construção de valores humanísticos para abrigar valores de unidade nacio-
nais tão necessários naquele momento. A unificação feita com ferro e sangue 
teve como base valores culturais compartilhados. Devemos salientar, portanto, 
que a ideia de fazer uso da cultura com conotações políticas, ou seja, criar 
um ambiente cultural partindo de necessidades e das premissas do Estado, é 
um fenômeno moderno. Esse fenômeno, como veremos adiante, será muito 
criticado por estudiosos tradicionalistas, que interpretaram essas modificações 
como doenças civilizacionais do espírito moderno.
Como podemos ver, o termo cultura assume diversos significados, mas qual 
é o sentido que devemos atribuir ao termo cultura para uma disciplina que se 
propõe a articular este termo com os termos “povo” e “religião”? Não pode-
mos partir simplesmente do significado geral que se dá para a cultura como 
um amontoado de práticas dos povos: língua, artesanato, roupas, alimentação, 
práticas religiosas, relações familiares, entre outras. Claro que tudo isso é muito 
importante e a História deve se preocupar com esses objetos de estudo; no 
entanto, devemos dar prioridade para o significado atribuído à cultura na mo-
dernidade e a influência que isso teve na constituição do pensamento moderno, 
que resultou na concepção que temos hoje de educação, formação, civilização 
e da própria ideia de homem. A cultura passa a ser uma estufa para a criação 
e o melhoramento de homens. Esse é um dos momentos em que se coloca o 
projeto do humanismo em prática.
Como a cultura pode influenciar no melhoramento dos homens?
Questões para reflexão
Sendo assim, podemos estabelecer duas interpretações distintas para o termo 
“cultura”. Primeiro, podemos entendê-la como um processo de formação indi-
vidual, no qual o sujeito é preparado e educado para acumular determinadas 
informações que ampliam a sua visão de mundo. Em um segundo momento, 
também podemos entender a cultura como um sentido coletivo, no qual essas 
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D e f i n i n d o c o n c e i t o s 13
marcas de individualização são colocadas de lado para darem lugar ao sentido 
coletivo de um povo. O caso da Alemanha é interessante de ser destacado 
porque podemos visualizar muito bem como ocorreu essa passagem de uma 
conotação para outra (Figura 1.1). O sentido da cultura como educação no sé-
culo XVIII deu lugar ao sentido de cultura como força política e representante 
de uma nação no século XIX.
Um filme bem interessante para discutir a questão cultura é o Enigma de Kaspar House. O 
diretor Werner Herzog conta a história de um jovem que foi trancado a vida inteira em um 
cativeiro e, quando sai, precisa aprender a viver em sociedade.
Para saber mais
Figura 1.1 Mudança da concepção de Bildung do século XVIII para o século XIX
SÉCULO XVIII 
FORMAÇÃO 
CULTURA
SÉCULO XIX 
FORMAÇÃO 
POLÍTICA
FORMAÇÃO
(BILDUNG)
Fonte: Do autor (2012).
A partir do momento em que se deu prioridade para uma educação que 
ligasse o povo alemão ao Estado, não fornecendo elementos de formação hu-
manista para que se pudesse apreender a realidade, lançaram-se as bases para 
as acepções totalitárias do século XX, na qual deterioraram a individualidade 
da consciência que se tem de si para ver-se representado pelo Estado na per-
sonificação do Führer.
Não podemos esquecer de salientar que atualmente a cultura é usada pelos 
institutos educacionais no Brasil para a formação de estudantes para a atuação 
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14 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
no mercado de trabalho, ou seja, o que pauta a formação cultural, em boa 
medida, são as necessidades exigidas pelo mercado de trabalho.
A formação da Cultura ocidental está diretamente relacionada com a tradi-
ção judaico-cristã. Boa parte das referências para os mais variados campos do 
conhecimento partem das premissas fornecidas por essa tradição. No entanto, 
para realizarmos um estudo e uma compreensão mais profunda deoutras 
religiões e culturas, é necessário sair de uma postura etnocêntrica — etno-
centrismo é a postura em que o nosso próprio grupo é tomado como centro 
de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, 
nossos modelos, nossas definições do que é a existência — e que façamos um 
esforço de tentar interpretar o mundo não com os valores que possuímos, mas 
com as concepções do objeto que estamos pesquisando. O que queremos di-
zer com isso? Queremos afirmar que, para você entender o islã, o hinduísmo 
ou qualquer outra cultura, é importante que você tente pensar com os meios 
oferecidos pela tradição que está estudando. Há uma definição para este tipo 
de atitude: relativismo. O relativismo pode ser definido como a atitude ou 
doutrina que afirma que as verdades (morais, religiosas, políticas, científicas 
etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos. Ou 
seja, você quer entender o islã? Procure pensar como um muçulmano. Você 
quer entender um budista? Procure pensar como ele. Sem esse movimento, 
acabamos transferindo os valores da nossa cultura para interpretar as demais, o 
que acaba provocando graves erros de interpretação. A comparação de povos, 
religiões e culturas é um exercício que requer muito da nossa atenção.
Até que ponto podemos perceber a ligação da produção artística nacional — 
filmes, peças de teatro, projetos musicais, espetáculos de dança etc. — com os 
incentivos dados pelo Estado? Faça uma pesquisa em sua região e verifique 
os incentivos dados localmente para as artes.
Atividades de aprendizagem
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D e f i n i n d o c o n c e i t o s 15
Seção 3 Religião
“Religião não se discute!” Você já deve ter ouvido este dito popular várias 
vezes, no entanto, ele não encerra uma verdade. Por que religião não se discute? 
Porque estamos falando da fé de cada um, e isso é um assunto particular. Mas 
será que é tão particular assim? Vejamos: uma religião possui um corpo social, 
portanto, nós podemos investigar e discutir, do ponto de vista acadêmico. A 
questão fundamental aqui é perceber que a discussão da religião tem em vista 
articular este conceito com os conceitos de povo e religião. Aqui não discuti-
remos a fé, esta, sim, privada, mas a religião enquanto organismo social capaz 
de ser conhecido pelo intelecto humano.
O conceito de “religião” pode ser entendido como um conjunto de cren-
ças compartilhado entre um determinado grupo social que mantém relações 
com alguma ordem metafísica. Todo estudo direcionado para uma religião 
deve levar em consideração o concreto e o abstrato da prática estudada. É 
impossível estabelecer qualquer discurso acerca do estudo das religiões antes 
de fazer dois movimentos: primeiramente, um estudo sobre os aspectos sociais 
em que a religião surgiu e os movimentos que ela exerceu dentro do contexto 
estudado. Depois de feito isso, levar em consideração os próprios elementos 
que constituem o conjunto de crenças dessa religião. 
Qual o significado da expressão “o homem criou Deus à sua imagem 
e semelhança”, de Friedrich Nietzsche?
Questões para reflexão
Você percebeu que nosso intuito é estudar aquilo que é objetivo na religião, 
ou seja, seu contexto histórico e o conjunto de crenças que possui?
Há de se ter, portanto, certa sagacidade para analisar as características das 
crenças — práticas ligadas à metafísica — e as características das técnicas — 
práticas ligadas ao real — que constituem cada religião, como salienta Abbag-
nano (2007, p. 997-998):
Além disso, na definição proposta, convém sublinhar a 
diferença entre crença na garantia sobrenatural e as téc-
nicas que permitem obter ou conservar tal garantia. Por 
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16 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
técnicas entendem-se todos os atos ou práticas de culto: 
oração, sacrifício, ritual, cerimônia, serviço divino ou 
serviço social. A crença na garantia sobrenatural é a ati-
tude religiosa fundamental, podendo ser simplesmente 
interior e pessoal (religiosidade individual); ao contrário, 
as técnicas destinadas a obter e conservar essa garantia 
constituem o lado objetivo e público da religião, seu 
aspecto institucional.
Há várias religiões, e por isso convido você 
à seguinte reflexão: quantas vezes você viu 
uma prática religiosa diferente daquilo em 
que você acredita e você achou ela estranha? 
Mesmo que não se concorde, que não se acre-
dite ou até por mais irracionais que possam 
parecer certas religiões, se é que podemos 
afirmar isso, deve-se ter muito cuidado para 
não fazer um simples julgamento do que parece estranho e distante. Esse não 
é o papel a ser assumido pelo historiador, mas é parte integrante de seu ofício 
procurar diferentes maneiras de abordar os objetos de estudo, não para fazer da 
história um tribunal, mas para criar diferentes entendimentos acerca do outro. 
O discurso historiográfico possui a característica de delimitar fronteiras que 
se unem e se separam, podendo construir um respeito mútuo pelo diferente. 
Parte do conhecimento construído de si mesmo pode ser encontrada quando 
se entende melhor as práticas do outro.
Mesmo com todas as separações conceituais de crenças, práticas e dou-
trinas, é possível visualizar uma unidade imanente, ou seja, que é própria a 
todas as religiões, a qual apresenta-se inserida na crença na transcendência. 
A ideia que se pode ter sobre essa transcendência irá variar de acordo com as 
religiões, com os grupos sociais e com os períodos estudados; no entanto, ela 
sempre se faz presente. Mas, afinal de contas, o que significa transcendência? 
A transcendência é tudo aquilo que está para além do real, que extrapola as 
limitações do meio físico e que pode ser legitimada pelo conjunto de crenças 
compartilhadas. Todavia, essas crenças buscam legitimidade no âmbito social, 
como salienta Abbagnano (2007, p. 1002):
Ultrapassados os limites de controle dos acontecimen-
tos por meio de técnicas racionais — limites, ademais, 
bastante estreitos —, o homem reivindica liberdade de 
fé e entrega-se a crenças libertadoras ou consoladoras, a 
Indicamos a leitura do livro O que 
é religião, da Coleção Primeiros 
Passos (editora Brasiliense), de au-
toria de Rubem Alves.
Para saber mais
Povo cultura religiao_book.indb 16 6/19/14 4:08 PM
D e f i n i n d o c o n c e i t o s 17
técnicas que lhe prometam salvação infalível. Obtendo 
ou não o cumprimento dessas promessas, a função dessas 
técnicas é bem clara: dar esperança e coragem, dar-lhe 
segurança nas suas relações com os outros homens e 
com o mundo.
Muitos historiadores pensam que é fundamental saber que o estudo das 
religiões não pode ser feito buscando unidades fixas e uma coerência linear. 
Para eles, esse é um território que se dá no movimento, na mudança e nos 
novos significados dados aos valores. Nessa perspectiva, não se pode exigir 
do cristianismo, do judaísmo, do islamismo ou de qualquer outra religião a 
equidade para com as práticas e o mesmo entendimento que as fundaram, visto 
que toda religião deve ser estudada na relação com as necessidades sociais, as 
quais têm a característica de mudarem constantemente. O estudo das religiões 
se dá em um território movediço.
Como estudar a religião com autonomia, uma vez que ela permeia 
várias instâncias de nossas vidas?
Questões para reflexão
No entanto, para os estudiosos do tradicionalismo, o movimento que de-
vemos fazer é justamente o contrário. O importante é buscar no estudo das 
religiões as estruturas de permanência que transcendem o tempo histórico. Essas 
são as características que fundaram e fazem com que as religiões permaneçam 
sólidas apesar de todas as variações sociais. 
No Brasil há várias instituições de ensino superior que mantêm núcleos de estudode religião. 
Destacamos a revista científica Estudos de Religião (Universidade Metodista) e o Núcleo de 
Estudos da Religião da UFRGS.
Para saber mais
Mas a história não pode se contentar em estudar somente os aspectos me-
tafísicos, ou sobrenaturais, da religião. Ela sempre exerceu um papel político 
muito forte desde a Antiguidade, moldando o imaginário, legitimando práticas 
econômicas e sendo força motriz de muitas guerras. Essa ligação entre a política 
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18 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
e a religião ainda pode ser notada na contemporaneidade: com certeza você 
já acompanhou os noticiários sobre os longos conflitos na região da Palestina. 
Em algum momento você já se deparou com as discussões acerca da aprovação 
das células-tronco embrionárias para pesquisa que recebe críticas dos líderes 
católicos e protestantes? Como estudar a relação das religiões com as novas 
formas de mídia? É possível estabelecer limites e diferenças entre o discurso 
científico e o discurso religioso? Qual desses territórios deve ter resoluções so-
bre questões éticas? Todos esses questionamentos podem ser entendidos como 
objetos do campo historiográfico.
Quais são os prós e os contras da religião para o avanço da ciência?
Questões para reflexão
Leia atentamente o texto a seguir:
O Estado Laico e a Democracia
A Constituição brasileira de 1824 estabelecia em seu artigo 5º: “A Religião 
Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas 
as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular 
em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior do Templo”.
A atual Constituição não repete tal disposição, nem institui qualquer 
outra religião como sendo a oficial do Estado. Ademais estabeleceu em 
seu artigo 19, I, o seguinte: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito 
Federal e aos Municípios: I — estabelecer cultos religiosos ou igrejas, 
subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles 
ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, 
na forma da lei, a colaboração de interesse público.”
Com base nesta disposição, o Estado brasileiro foi caracterizado como 
laico, palavra que, conforme o dicionário Aurélio, é sinônimo de leigo 
e antônimo de clérigo (sacerdote católico), pessoa que faz parte da pró-
pria estrutura da Igreja. Neste conceito, Estado leigo se difere de Estado 
Atividades de aprendizagem
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D e f i n i n d o c o n c e i t o s 19
religioso, no qual a religião faz parte da própria constituição do Estado. 
São exemplos de Estados religiosos o Vaticano, os Estados islâmicos e as 
vizinhas Argentina e Bolívia, em cujas constituições dispõem, respectiva-
mente: “Art. 2. El Gobierno Federal sostiene el culto Católico Apostólico 
Romano” — “Art. 3. Religion Oficial — El Estado reconoce y sostiene la 
religion Católica Apostólica y Romana. Garantiza el ejercício público de 
todo otro culto. Las relaciones con la Iglesia Católica se regirán mediante 
concordados y acuerdos entre el Estado Boliviano y la Santa Sede.”
Atualmente, o termo Estado laico vem sendo utilizado no Brasil como 
fundamento para a insurgência contra a instituição de feriados nacionais 
para comemorações de datas religiosas, a instituição de monumentos com 
conotação religiosa em logradouros públicos e contra o uso de símbolos 
religiosos em repartições públicas. Até mesmo a expressão “sob a proteção 
de Deus”, constante no preâmbulo da Constituição da República, vem 
sendo alvo de questionamentos.
É importante ressaltar que o conceito de Estado laico não deve se con-
fundir com Estado ateu, tendo em vista que o ateísmo e seus assemelhados 
também se incluem no direito à liberdade religiosa. É o direito de não ter 
uma religião, conforme disse Pontes de Miranda: “liberdade de crença 
compreende a liberdade de ter uma crença e a de não ter uma crença” 
(Comentários à Constituição de 1967).
Assim sendo, confundir Estado laico com Estado ateu é privilegiar esta 
crença (ou não crença) em detrimento das demais, o que afronta a Carta 
Magna (PEREIRA, 2001).
Utilizando o fragmento anterior e seus conhecimentos sobre o assunto 
elabore um texto dissertativo-argumentativo sobre o Estado laico no Brasil. 
O texto deverá ter entre 10 e 15 linhas.
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Seção 4 Fundamentos da religião
Geralmente as religiões nascem por uma inspiração sobrenatural, não é 
verdade? Não é alguém que senta e começa a pensar em como deveria ser uma 
religião; o elemento fundamental da religião é a ideia de revelação. Apesar de 
todas as religiões serem baseadas na revelação, é possível perceber certas es-
truturas comuns a todas elas. Vamos tentar compreender nesta seção, portanto, 
o que fundamenta as diversas religiões.
Além de estudarmos os conceitos principais do monoteísmo, temos que 
enfatizar sua importância para a formação da concepção que formamos de 
temporalidade. A ideia judaico-cristã de tempo trouxe a linearidade temporal 
como baliza para a estrutura de tempo. 
O processo de formação das religiões passa por algumas fases. Primei-
ramente, conseguimos visualizar em todas as religiões a existência de uma 
revelação da ordem metafísica. Ou seja, em determinado momento histórico, 
a ordem do transcendente atua no tempo histórico e deixa sua marca. Perce-
bemos, também, que essas revelações se somam a determinados eventos his-
tóricos. Estes, por sua vez, são fatores que moldam as práticas posteriores das 
religiões. Os ritos religiosos são oportunidades dadas pelas religiões para que 
os fiéis, ao praticarem o rito, relembrem e experimentem os principais eventos 
que formaram sua religião. A permanência desses eventos na história forma 
o que chamamos de tradição. São justamente as “tradições” que possuem a 
potência de formarem civilizações.
Se religião e tradição são diferentes, por que há uma preocupação em 
todas as religiões em manter uma determinada tradição?
Questões para reflexão
Então, neste momento, que tal pensarmos sobre a diferença entre os termos 
“religião” e “tradição”? Para auxiliar nossa análise, leremos um pequeno frag-
mento do texto A renovação do interesse pela tradição, de Whitaal N. Perry 
(2008, p. 15): 
A Religião, tomada com o actual sentido da palavra não 
pode ser considerada como o equivalente de Tradição, 
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D e f i n i n d o c o n c e i t o s 21
pois a prática ritual da Religião é um acto específico 
produzido num local e num instante específico com a 
exclusão de outros actos, locais e instantes, não deixando 
nada fora de si própria; adicionalmente, grande parte do 
que é considerado Religião pode ainda ser encontrado 
no mundo, enquanto a Tradição no seu sentido integral 
e vivo dificilmente sobrevive. Assim pode soar paradoxal 
afirmar, como agora o fazemos, que a Tradição tem origem 
na Religião. Reduzido a uma fórmula tem-se: a Religião 
é a Revelação de Deus ao homem, e a Tradição as suas 
aplicações e extensão total a todos os domínios.
Para fazermos a definição do uso que estamos dando ao termo “tradição”, 
citaremos um trecho do artigo Compreender a palavra “Tradição”, de Ali 
Lakhani (2007, p. 1):
Os termos “Tradição” e “Modernidade”, tal como usado 
por tradicionalistas com Seyyed Hossein Nasr, não são 
derivativos da diferenciação convencional entre os ter-
mos “tradicional” e “moderno”, apesar do uso particular 
que dão a estes termos tenha como premissa a estrutura 
metafísica descrita atrás. Isto pode ser confuso. Para Nasr, 
“Modernidade” é “aquilo que está separado do Trans-
cendente, dos princípios imutáveis que, na realidade, 
governam todas ascoisas e que são dados a conhecer 
ao homem através da revelação no seu sentido mais uni-
versal”, enquanto que “Tradição”, por contraste, designa 
esses mesmos princípios imutáveis, a sophia perennis ou 
sabedoria primordial, os quais estão fundados no Trans-
cendente. De acordo com essa definição, Modernidade 
não é necessariamente um sinônimo de contemporâneo 
(ou focado no futuro), nem Tradição é sinónimo de con-
tinuidade histórica (ou focado no passado). Tradição é, 
nesse sentido, meta-história: a sua única relação com 
o passado reside na ligação de uma particular tradição 
religiosa à sua fonte original, ou seja, à revelação que a 
autentica, a escrita que a fundou e as suas formas de ado-
ração, transmitidas através do ambiente protector de uma 
tradição particular. Mas esta relação entre uma tradição 
particular e as suas origens históricas é, de certa forma, 
acidental. A relação entre Tradição e Revelação trans-
cende a história. A Revelação, “no seu sentido mais uni-
versal”, não é um acontecimento histórico: está baseada 
no eterno presente e é contínua. A sua autenticação não 
pode ser reduzida à nossa capacidade para a colocar em 
qualquer momento da história, mas sim, garantida pela 
Povo cultura religiao_book.indb 21 6/19/14 4:08 PM
22 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
sua capacidade de ressoar como verdade no interior do 
santuário do Coração, cuja faculdade de discernimento 
é o Intelecto suprarracional. 
 A citação colocada é muito importante. Ela apresenta uma epistemolo-
gia que apresenta vários pontos que merecem uma atenção redobrada. Vamos 
enumerá-los para facilitar nossa explanação:
1. Primeiramente, Ali Lakhani realizou uma distinção entre os termos 
“Tradição” e “Modernidade”. Desde já, é importante que saibamos 
que o uso feito por ele desses conceitos está baseado na concepção da 
“escola” de estudos da religião chamada Filosofia Perene. Essa escola 
apresenta como principais pensadores René Guénon, Frithjof Schuon 
e Ananda Coomaraswamy. Alguns estudiosos gostam de chamá-los de 
tradicionalistas. Portanto, na distinção entre “tradição” e “modernidade” 
não encontramos nenhuma preocupação com a delimitação temporal. 
Essa é uma distinção epistemológica. Eles não são simples adjetivos. 
“Tradição” é entendido aqui como aquilo que pertence, provém e é 
fruto direto da manifestação do transcendente, do plano divino, eterno e 
perfeito. Para esses autores, somente essa realidade é capaz de produzir 
uma cultura permanente, sólida e com durabilidade temporal. Logo, a 
“modernidade” é tratada com aquilo que não é fruto ou resultado das 
ações transcendentais. É aquilo que mantém um contato somente com 
o efêmero, passageiro e imperfeito. Novamente, a “, Modernidade” não 
é tratada aqui como um período histórico, mas como uma maneira de 
se interpretarem os eventos existentes.
2. Para esses autores, o que possibilita a transmissão dessas tradições são 
as práticas religiosas, que mantêm um contato direto com a ordem 
transcendente que as moldam eternamente. Logo, a tradição não se liga 
ou se limita ao passado, pois ela é atualizada eternamente no presente, 
transcendendo, assim, o tempo. 
Para explicar com exatidão o significado do termo “sabedoria perene”, 
recorreremos a um dos maiores estudiosos do tema, Frithjof Schuon, (2008, 
p. 33, grifos do autor). Nesse parágrafo do texto “A filosofia perene”, ele 
sintetiza rapidamente o significado da sophia perene, expressão análoga à 
sabedoria perene:
O termo philosophia perennis, corretamente utilizado 
desde a Renascença e ao qual os neoescolásticos deram 
Povo cultura religiao_book.indb 22 6/19/14 4:08 PM
D e f i n i n d o c o n c e i t o s 23
bastante uso, significa a totalidade das verdades primor-
diais e universais — e, por essa razão, dos axiomas meta-
físicos — cuja formulação não pertence a nenhum sistema 
em particular. Da mesma forma poderíamos referir-nos a 
uma religio perennis, designando-se através deste termo 
a essência de todas as religiões; isso significa a essência 
de todas as formas de adoração, de todas as formas de 
oração, e de todos os sistemas de moralidade, tal como 
a sophia perennis é a essência de todos os dogmas e de 
todas as expressões de sabedoria. Preferimos o termo 
sophia em relação ao de philosophia, pela simples razão 
que o segundo termo é menos directo e porque invoca 
associações com um sistema de ideias totalmente profano 
e demasiadas vezes aberrante.
Novamente, vamos enumerar alguns pontos que achamos de máxima im-
portância no texto anterior para facilitar nossa explanação:
1. Schuon nos mostra, então, que o termo filosofia perene é usado desde o 
Renascimento. Esse termo significa a totalidade das verdades universais. 
Devemos observar, portanto, que a filosofia perene não está relacionada 
ou delimitada a nenhuma temporalidade ou historicidade, mas ela 
transcende, está além das limitações temporais. Sendo assim, existe a 
possibilidade de diferentes culturas expressarem as mesmas verdades 
independentemente das formas e estilos que usarão para fazer isso.
2. Quando Schuon fala da religio perennis, ele se refere a uma perspectiva 
apresentada em seu livro Unidade transcendente das religiões. Nesse 
estudo, Schuon nos fornece a perspectiva de que apesar das diferenças 
históricas, morais, rituais, sacerdotais, simbólicas das religiões, existe 
uma unidade que as transcende, visto que todas elas nos remetem ao 
mesmo objeto a ser apreendido: o transcendente.
3. Por fim, Schuon faz uma distinção entre os termos “filosofia perene” 
e “filosofia”. Para ele, a filosofia perene é fruto das revelações trans-
cendentais que podem ser experimentadas e conhecidas nas religiões 
tradicionais. Portanto, ela não é uma criação humana, não pertence ao 
plano temporal. Logo, ela pode ser somente apreendida pelo homem. 
No caso, o termo filosofia é entendido como o tipo de conhecimento 
produzido pelo homem. Para Schuon, esse tipo de conhecimento não 
possui o mesmo valor da filosofia perene, pois não possui a substancia-
lidade do transcendente. 
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24 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
O estudo desses assuntos em História é realmente fascinante. Nós podemos 
encontrar perspectivas que se chocam frontalmente. Parte do ofício do histo-
riador está em saber considerar esses enfrentamentos. 
4.1 Modernidade e religião
O filósofo alemão do século XIX, Friedrich Nietzsche, via a modernidade 
como um grande atraso para o desenvolvimento do espírito humano. Para ele, 
a modernidade começara com Sócrates, pois a partir do momento que ele in-
fluenciou o Ocidente na busca pela verdade e na capacidade do conhecimento 
do homem para resolver as tensões existenciais, o Ocidente declinou, pois 
perdeu a capacidade tensional expressada nas tragédias gregas. Para Nietzsche, 
a modernidade era um resultado dos movimentos empreendidos por Sócrates e 
deveria ser transvalorada. Nietzsche acreditava que a permanência dos valores 
transcendentais estavam muito presentes na modernidade.
Agora vejam que interessante. René Guénon é considerado um grande 
crítico da modernidade. Mas, para este importante autor da Filosofia Perene, 
a modernidade carece justamente dos elementos metafísicos. Portanto, nós 
temos dois autores: Nietzsche e Guénon. Para o primeiro, a modernidade 
está fundamentada em valores metafísicos. Para o segundo, ela carece jus-
tamente desses valores. Leia o trecho do livro A crise do mundo moderno e 
confira as críticas contundentes que esse metafísico lançou nos alicerces da 
modernidade: 
Parece que o poder financeiro domina a política toda, 
que a concorrência comercial exerce uma influência 
preponderante sobre as relações entre os povos. [...]. 
Por aí se pode ainda, mais uma vez, constatar o efeito 
duma dessas sugestões, àsquais atrás fazíamos alusão, 
sugestões que agem tanto melhor quanto correspondem 
às tendências da mentalidade geral. E o efeito desta su-
gestão é que os meios econômicos acabam por determinar 
realmente quase tudo o que se produz no domínio social. 
Sem dúvida, a massa sempre foi levada de um modo ou 
outro e poder-se-ia dizer que seu papel histórico consiste 
sobretudo em se deixar levar, pois representa somente 
um elemento passivo, uma ‘matéria’ no sentido aristoté-
lico; hoje porém basta, para conduzi-la, dispor de meios 
puramente materiais, desta vez no sentido comum da 
palavra, o que bem mostra o grau de envelhecimento de 
nossa época. Ao mesmo tempo se faz crer a esta massa 
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D e f i n i n d o c o n c e i t o s 25
que ela não é conduzida, que ela age espontaneamente 
governando-se a si mesma. O fato de que ela assim o 
crê, permite entrever até que ponto pode chegar a sua 
ininteligência (GUÉNON, 1927, p. 81).
1. A crítica realizada por Guénon à modernidade é muito pesada. Para 
ele, a modernidade é regida simplesmente pelos fatores econômicos. 
A riqueza material é a única fonte de distinção social existente na mo-
dernidade. Isso é uma marca da ausência do contato e experiência de 
relação com o transcendente que, segundo ele, determina diretamente o 
caráter de nossa época. Portanto, tem-se aqui a perspectiva de que para 
a formação dos valores morais, civilizacionais e éticos é necessário que 
se tenha uma ligação com a tradição, com a religião e com a revelação. 
As simples transações comerciais não são capazes de fornecer as bases 
culturais para a formação das civilizações. Por isso, a modernidade para 
Guénon está em crise.
2. Conseguimos perceber claramente a crítica dirigida ao materialismo 
histórico. Devemos ressaltar que Karl Marx nunca usou a expressão 
“materialismo histórico”. Ele falou em “materialismo dialético” — não 
vamos entrar nas implicações conceituais desse termo. O materialismo 
histórico é considerado a tradição de produção intelectual que utiliza 
como referências as premissas metodológicas do pensamento de Karl 
Marx. Para esse autor, as relações econômicas eram as responsáveis 
pela delimitação dos demais aspectos da sociedade. Logo, para um 
pesquisador entender a religião, a cultura e a formação das civilizações 
era necessário compreender as estruturas econômicas que regiam a 
sociedade, pois as demais instâncias eram reflexos da economia. Esse 
tipo de análise representa para Guénon um erro grave, pois não leva 
em consideração os aspectos metafísicos que são os verdadeiros fun-
dadores de civilizações.
3. Na parte final da citação, vemos a preocupação de Guénon sobre os 
efeitos das premissas materialistas na condução das massas, que mesmo 
sendo conduzidas pelos elementos de puerilidade, ainda possuem a sen-
sação de serem elas as condutoras dos processos históricos. Os governos 
democráticos da modernidade seriam um exemplo dessa degradação 
do espírito humano.
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Você concorda com a posição apresentada por Frithjof Schuon sobre 
a unidade transcendente das religiões?
Questões para reflexão
Schuon interpretou a modernidade na mesma direção de Guénon:
A humanidade vive normalmente num símbolo, que é 
uma indicação rumo ao Céu, uma abertura para o infinito. 
A ciência moderna transpassou as fronteiras protetoras 
deste símbolo e com isso destruiu o próprio símbolo 
(SCHUON, 2006, p. 43).
Uma discussão interessante sobre modernidade e religião está no artigo: “O discurso religioso 
na modernidade liquida: Polissemia e autoritarismo no neopentecostalismo brasileiro contem-
porâneo”. Disponível em: <http://www3.est.edu.br/nepp/revista/019/ano08n2_07.pdf>.
Para saber mais
4.2 Símbolos religiosos
Antes de entrarmos na explicação sobre a importância dos símbolos para 
as religiões, vamos propor um questionamento que acreditamos ser pertinente: 
mas, afinal, quais são os critérios usados para sabermos se uma prática faz 
parte ou não de uma religião? Como separar o que é e o que não é religião? 
Fique tranquilo! Existem alguns parâmetros. Por mais divergentes e distantes 
que possam parecer as religiões, elas apresentam pontos de contato que nos 
permitem colocá-las num mesmo grupo. Podemos enumerá-los:
1. Toda religião se apresenta como uma expressão universal do transcen-
dente. Ou seja, toda religião se oferece ao ser humano como uma pos-
sibilidade de religá-lo ao plano transcendental. De alguma maneira o 
homem se separou da ordem perfeita que o criou e o ambiente religioso 
é o território, o caminho, o veículo oferecido pelo plano divino para 
religar o homem a ele.
Povo cultura religiao_book.indb 26 6/19/14 4:08 PM
D e f i n i n d o c o n c e i t o s 27
2. Toda religião se afirma como necessária. Seria muito estranho nós es-
cutarmos um sacerdote ou um praticante de uma religião dizer que as 
práticas que moldam a sua fé são feitas gratuitamente e não apresentam 
nenhum valor significativo.
3. As religiões afirmam a capacidade do transcendente em mudar o ho-
mem e ao mesmo tempo a impossibilidade do homem em alterar o 
transcendente. Tornando mais claro: Deus pode modificar o homem, 
mas o homem não pode modificar Deus!
4. As religiões sempre oferecem uma resposta para algumas dúvidas inte-
lectuais do homem, como: O que é o bem? O que nos espera depois 
da morte? O que é a Justiça?
5. Toda religião possui uma simbologia capaz de religar o finito ao infinito.
Essas são as características básicas que formam as religiões. Para compre-
endermos as religiões, é muito importante que se tenha a distinção entre o 
infinito e o finito. Muito dos erros cometidos pelos estudiosos das religiões 
está vinculado à incapacidade de perceber a diferença entre essas duas ordens. 
Vamos entendê-las?
O infinito é a ordem não criada. Ele é o próprio absoluto, ou seja, não está 
condicionado a nada. Ele não tem começo, meio e fim. Ele é sempre presente, 
logo, não está sujeito às determinações temporais. O plano finito é a ordem 
criada, faz parte de uma série de existências relativas. Tudo o que existe no 
plano finito está numa relação de dependência com outros elementos também 
finitos. Para que ele exista é necessário que outras coisas também existam e 
possibilitem sua existência.
É bom que saibamos que é uma impossibilidade a ordem finita compreen-
der a ordem infinita em sua totalidade. Sendo assim, como o homem — que 
pertence à ordem finita — é capaz de saber algo sobre Deus — que é a própria 
ordem infinita? Para realizar essa transição, esse contato, as religiões fazem uso 
dos símbolos. Os símbolos usados pelas religiões funcionam como pontes de 
ligação entre o transcendente e o imanente. Por isso, é de fundamental impor-
tância compreendê-los para que se saiba do que as religiões estão falando. Mas, 
afinal, por que as religiões possuem símbolos e práticas muitas vezes diferentes 
e contraditórios entre si?
Para tentar responder a esse questionamento, vamos recorrer ao uso de uma 
metáfora para exemplificar melhor nossa explicação: imagine que você precisa 
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realizar uma viagem da cidade de São Paulo para a cidade do Rio de Janeiro. 
Sabemos que podemos realizar esse trajeto de várias maneiras diferentes. De 
carro, de bicicleta, de avião, de helicóptero, de ônibus ou até mesmo a pé. Cada 
meio de realizar o trajeto apresenta algumas vantagens e desvantagens. Uns 
podem preferir a privacidade de viajar com seu próprio carro, outros gostariam 
de ganhar tempo e preferem o avião, algumas pessoas têm medo de avião, 
enfim, as possibilidades são inúmeras. O fato essencial é: todos eles sairão de 
São Pauloe chegarão ao Rio de Janeiro. A teoria defendida por Frithjof Schuon 
se assemelha com a metáfora apresentada. Todas as religiões se apresentam 
como caminhos que religam o homem ao absoluto. Logo, todas elas, apesar 
de suas divergências e diferenças, nos remetem ao mesmo plano.
Se todas as religiões, dentro da perspectiva de Schuon, nos levam ao mesmo 
local, podemos então pegar alguns aspectos do cristianismo que achamos 
pertinentes e misturar com doutrinas budistas 
e algumas práticas islâmicas, ou seja, fazermos 
um “mix” das religiões? Isso para Schuon seria 
um grande erro. Assim como é impossível ir-
mos de carro e helicóptero ao mesmo tempo 
de São Paulo ao Rio de Janeiro, também é 
impossível chegarmos ao absoluto fragmen-
tando as religiões. Elas são formas integrais e 
perfeitas dadas pelo transcendente para religar 
o homem à ordem superior. Muitas vezes, a 
historiografia desconsidera esses aspectos.
Outro importante fator que merece nossa 
atenção nas estruturas das religiões é a diferença entre esoterismo e exoterismo. 
Vamos defini-los?
Esoterismo são as práticas internas das religiões direcionadas somente a 
um grupo de iniciados. Exoterismo são as práticas exteriores realizadas pelas 
religiões, como explica René Guénon:
De todas as doutrinas tradicionais, a do Islão é talvez 
aquela onde a distinção entre as suas duas partes comple-
mentares — as quais podemos designar por exoterismo e 
esoterismo — é mais acentuada. Estas são, de acordo com 
a terminologia árabe, as-chari’ah (com o significado literal 
de a “grande estrada”), comum a todos, e al-haqiqah (a 
“verdade” interior), reservada à elite, não por virtude de 
qualquer decisão arbitrária, mas devido à própria natureza 
Livro emblemático da antropologia 
é a obra de James George Frazer 
intitulado O Ramo de ouro (1982). 
O autor aborda uma enorme diver-
sidade de mitos,  lendas e relatos 
de magia e religião, dos mais dife-
rentes povos do mundo, deba-
tendo a questão principal do “deus 
imolado”.
Para saber mais
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D e f i n i n d o c o n c e i t o s 29
das coisas, pois nem todos possuem a aptidão ou as “qua-
lificações” necessárias para alcançar este conhecimento. 
As duas são frequentemente comparadas, de forma a ex-
primirem o seu respectivo carácter “exterior” e “interior”, 
à casca e ao caroço, à pele exterior de um fruto e à sua 
polpa (al-qshir wa’l-lubb), ou ainda, à sua circunferência 
e ao seu centro (GUÉNON, 2009, p. 109). 
Nesta unidade você aprendeu que:
 A palavra “povo” tem origem no latim: populus. Ela pode ter por definição: 
união de indivíduos que compartilham entre si crenças, práticas e símbolos 
estabelecendo um sentimento de unidade e de identidade social.
 Norbert Elias e Nicola Abbagnano nos ajudam, com seus estudos, a 
perceber uma moderna definição de povo.
 Que o termo “cultura” possui duas interpretações distintas. Primeira-
mente, podemos entendê-la como um processo de formação individual, 
no qual o sujeito é preparado e educado para acumular determinadas 
informações que ampliam a sua visão de mundo. Em um segundo mo-
mento, também podemos entender a cultura como um sentido coletivo, 
no qual essas marcas de individualização são colocadas de lado para 
darem lugar ao sentido coletivo de um povo.
 O termo “religião” pode ser entendido como um conjunto de crenças 
compartilhado entre um determinado grupo social que mantém relações 
com alguma ordem metafísica.
 O processo de formação das religiões passa por algumas fases. Todas 
as religiões possuem uma revelação da ordem metafísica. Essas revela-
ções se somam a determinados eventos históricos. Estes, por sua vez, 
são fatores que moldam as práticas posteriores das religiões. Os ritos 
religiosos são oportunidades dadas pelas religiões para que os fiéis, 
ao praticarem o rito, relembrem e experimentem os principais eventos 
que formaram sua religião. A permanência desses eventos na história 
forma o que chamamos de tradição. São justamente as “tradições” que 
possuem a potência de formarem civilizações.
Fique ligado!
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30 P O V O , C U L T U R A E R E L I G I Ã O
De antemão, é bom ressaltarmos que é possível encontrar outras de-
finições para os termos que trabalhamos nesta primeira unidade. Não 
se preocupe! Saiba que isso é bom e que o conhecimento se faz jus-
tamente nessas tensões que encontramos entre diferentes perspectivas. 
Fique ciente de que com quantos mais pontos de vista conflitantes você 
tiver contato, maiores serão as possibilidades de entendimento sobre o 
assunto estudado.
Seguem algumas indicações de leituras para continuar os estudos 
sobre o tema:
Massa e poder, de Elias Canetti. Neste livro o autor conseguiu retratar 
alguns motivos que levam à formação do fenômeno das massas na História 
contemporânea.
Hitler e os alemães, de Eric Voegelin. Livro recentemente editado no 
Brasil e que faz uma análise precisa do problema intelectivo da Alemanha, 
que aderiu passivamente ao nazismo.
Os alemães, de Norbert Elias. O livro aborda os elementos culturais, 
sociais e políticos que contribuíram para a formação da Alemanha no 
século XIX.
Considerações extemporâneas, de Friedrich Nietzsche. Extremamente 
polêmicas, essas considerações colocam a atenção sobre os problemas 
culturais europeus do século XVIII e XIX. Elas estão dividas em quatro tex-
tos diferentes que abordam questões diferentes sobre a modernidade. Sem 
dúvida, a mais importante, para os historiadores é a “Segunda Considera-
ção Extemporânea: Da Utilidade e Desvantagem da História para a vida.
Filosofias da Índia, de Heinrich Zimmer. Uma ótima introdução para 
os alunos que desejarem conhecer um pouco mais sobre a cultura e a 
religião indiana.
O jardim das aflições, de Olavo de Carvalho. Nesse livro há uma 
viagem pela história das ideias desde Epicuro até a produção intelectual 
no Brasil atual. Os diagnósticos de Olavo de Carvalho são arrasadores e 
preocupantes.
Para concluir o estudo da unidade
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O imbecil coletivo, de Olavo de Carvalho. Neste livro, o autor des-
creve a precariedade do pensamento brasileiro. Baseando-se em artigos 
de revistas, jornais, discursos oficiais e cenas do cotidiano, Olavo expõe 
o problema civilizacional do Brasil.
As religiões políticas, de Eric Voegelin. Leitura fundamental para 
aqueles que desejam entender a relação entre política e religião na 
Antiguidade.
Eutífron, de Platão. Belíssimo diálogo em que Sócrates se propõe a 
entender a religiosidade.
 1. No limiar do século XX, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, 
o historiador francês Ernest Lavisse fornecia as instruções para o 
ensino da História aos jovens de seu tempo, das quais reproduz-se 
o trecho seguinte: 
Ao ensino histórico incumbe o dever glorioso de 
fazer amar e de fazer compreender a pátria, todos 
os nossos heróis do passado, mesmo envoltos em 
lendas. Se o estudante não leva consigo a viva 
lembrança de nossas glórias nacionais, se não sabe 
que nossos ancestrais combateram por mil campos 
de batalha por nobres causas, se não aprendeu o 
que custou o sangue e o esforço para constituir a 
unidade da pátria e retirar, em seguida, do caos de 
nossas instituições envelhecidas, as leis sagradas 
que nos fizeram livres, se não se torna um cidadão 
compenetrado de seus deveres e um soldado que 
ama sua bandeira, o professor perdeu seu tempo.
 Com o auxílio das ideias defendidas pelo historiador Lavisse e os 
estudos realizados na disciplina de Povo, cultura e religião julgue os 
itens que se seguem e assinale a alternativa que apresenta a relação 
correta entre a pesquisa historiográfica e a cultura.
Atividades de aprendizagem da unidadePovo cultura religiao_book.indb 31 6/19/14 4:08 PM
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a) A História é escrita pelos pesquisadores e deve ser ensinada pelos 
mestres com o compromisso de quem pesquisa e ensina as grandes 
questões de seu tempo, sendo assim, não podemos estabelecer 
nenhuma relação significativa entre o estudo da história e sua 
influência na cultura.
b) A visão excessivamente patriótica do autor expõe concepções 
que, no alvorecer do século XX, entendiam que o historiador tinha 
como função glorificar a nação, o Estado e as instituições, o que 
demonstra a separação entre história e cultura.
c) O “ensino histórico”, no contexto do Brasil contemporâneo, deve 
ser, sobretudo, um instrumento de combate para fazer que as ar-
mas intelectuais estejam a favor da unidade da pátria e do amor 
de cada cidadão pela sua bandeira promovendo a guerra cultural 
necessária para justificar o estudo da história.
d) O estudo da história está diretamente relacionado com as questões 
culturais, pois, como vimos, dependendo da epistemologia da cor-
rente historiográfica podem-se produzir ou alterar determinados 
tipos de cultura.
e) A revolução metodológica no ensino da História tornou-a, no fim 
do século XX, completamente racional e neutra, sem qualquer 
possibilidade de interferência da ideologia na teoria cultural con-
temporânea; logo, história e cultura são territórios de pesquisa e 
atuação distintos.
 2. Leia o texto a seguir e responda à questão proposta pelo exercício:
Eu era garotão ainda quando a Força Expedicioná-
ria Brasileira chegou à Itália. Passaram na minha 
cidade, porque foram de Salerno para Siena. Fazia 
parte do batalhão um cidadão italiano, que veio para 
cá pequenino e depois se naturalizou. O pai deste 
soldado tinha deixado uma filha pequena na Itália 
com um irmão que não conseguia ter filho nenhum. 
Então o rapaz sabia que tinha uma irmã em Paola, 
que ele não conhecia e que era criada por um tio. 
Pediu consentimento para os oficiais e chegou em 
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Paola, chegou lá para conhecer a irmã. Não sabia 
nem falar italiano, só falava português. Ninguém 
entendia nada. Aí procuraram o meu pai, que falava 
bem o português e meu pai serviu de intérprete para 
ele poder conhecer a irmã (Depoimento de Vicenzo 
Figlino) (GOMES, 1999, p. 35).
 Uma das formas que o historiador utiliza para estudar uma época é 
recolher depoimentos de pessoas que viveram experiências no pas-
sado. O depoimento anterior pode estar identificado por um tipo de 
memória ligado a um contexto histórico. Observamos por esse de-
poimento o contato direto entre dois povos: o brasileiro e o italiano. 
Sobre a relação do estudo da História com o estudo das relações de 
formação dos povos assinale a alternativa correta:
a) A História pode utilizar-se dos aspectos sociais para produzir 
pesquisas que estudem a formação e relação de diferentes povos.
b) A História é sempre oficial, sendo assim, torna-se impossível re-
lacionarmos num estudo povo e história.
c) A História nunca é oficial, o que impossibilita o estudo da forma-
ção dos povos pela história.
d) A História é fruto do social e de acordo com o que vimos no tre-
cho citado, é somente uma construção discursiva da cidadania 
italiana.
e) A História apresenta-se como uma excelente ferramenta de estudo 
para a formação e integração de diferentes povos.
 3. Leia o texto a seguir e responda à questão proposta:
Em 1992, por ocasião dos 500 anos de viagem de 
Colombo, houve intenso e extenso debate nas Amé-
ricas e na Europa sobre o vocabulário adequado para 
descrever a chegada dos europeus ao continente. 
Uma crítica devastadora foi então feita ao uso da 
palavra descobrimento, por representar um insupor-
tável etnocentrismo europeu. [...] Sete anos depois, 
o Brasil entra na febre dos 500 anos. No entanto, nas 
celebrações oficiais e oficiosas, nas reportagens da 
mídia, nas exposições, nos seminários acadêmicos, 
a terminologia empregada para descrever a chegada 
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dos portugueses às nossas praias é uma só. Com uma 
ou outra exceção, em geral vinda de algum chato in-
conveniente, celebra-se o descobrimento do Brasil. 
[...] O genocídio que a palavra encobre seria fenô-
meno exclusivamente espanhol, fruto da truculência 
dos conquistadores. Em nosso caso, as relações com 
os nativos teriam sido amigáveis. Nada melhor para 
exprimir esta visão do que a consagração da carta 
de Caminha, como certidão de nascimento do país. 
[...] O mesmo empreendimento colonizador que 
dizimou em três séculos 3 milhões de nativos foi 
também responsável pela importação, nos mesmos 
três séculos, de 3 milhões de escravos africanos, 
cuja sorte não foi melhor. Se as palavras não são 
para encobrir as coisas, só há uma expressão para 
descrever o que se passou desde 1500: conquista 
com genocídio de índios, seguida de colonização 
com escravidão africana. Daí viemos, em cima disso 
foram construídos os alicerces de nossa sociedade. 
Descobrir o Brasil de hoje é tirar o véu que o des-
cobrimento lança sobre este lado inescapável de 
nossa herança (CARVALHO, 1999, p. 1).
A partir do texto, analise as afirmações seguintes sobre a discussão 
que envolve a temática relativa aos 500 anos do Descobrimento 
do Brasil.
I. A chegada dos portugueses no Brasil foi um importante evento his-
tórico que proporcionou um encontro de duas culturas diferentes.
II. É possível afirmar que o Descobrimento em si não merecia ne-
nhuma comemoração festiva, pois o episódio foi, na verdade, um 
evento cultural sem relação com a História.
III. O “encobrimento” da história brasileira consistiria fundamental-
mente em apresentar o Descobrimento e a colonização como um 
processo político sem relações com a História
Quais estão correta(s)?
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
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d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
 4. O Sermão da Montanha é visto aqui como o texto que melhor ex-
prime o cerne da mensagem do Novo Testamento e como uma síntese 
perfeita da tradição cristã. Pode-se ler toda a Bíblia, do Gênesis ao 
Apocalipse, mas dificilmente se encontrará algo que supere a sabe-
doria do Sermão. O texto concentra o maior número de doutrinas 
e conselhos espirituais perenes e universais de toda a Escritura. Boa 
parte de tudo aquilo que o leitor da Bíblia dela se recorda deriva do 
Sermão. Ninguém menos que Santo Agostinho (2002) chamou-o “re-
gra perfeita” da vida virtuosa. Fonte de instruções espirituais e morais, 
o Sermão da Montanha é encarado como a quintessência mesma do 
Cristianismo.
Com base no texto e em seus conhecimentos assinale a alternativa 
que melhor define a Filosofia Perene.
a) A Filosofia Perene não está relacionada ou delimitada a nenhuma 
temporalidade ou historicidade, mas ela transcende, está além das 
limitações temporais. 
b) Na Filosofia Perene não existe a possibilidade de diferentes cul-
turas expressarem as mesmas verdades independentemente das 
formas e estilos que usarão para fazer isso.
c) A Filosofia Perene está relacionada ou delimitada a uma tempo-
ralidade ou historicidade, ela não transcende, nem vai além das 
limitações temporais. 
d) A possibilidade de diferentes culturas expressarem as mesmas 
verdades independentemente das formas e estilos que usarão é 
negada pelos estudiosos da Filosofia Perene.
e) A Filosofia Perene não consegue perceber os elementos universais, 
sobretudo no caso religioso, uma vez que as mensagens religiosas 
não têm caráter universal.
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