Buscar

Seminário III - CIT - Diego Robert

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

IBET – INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS
MÓDULO IV - CONTROLE DA INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
SEMINÁRIO III – SISTEMA, COMPETÊNCIA E PRINCÍPIOS
 
DIEGO ROBERT FERNANDES MARIALVA
São José dos Campos - SP
2020
Questões:
1.	Que é sistema? Há diferença entre sistema e ordenamento jurídico? Pode-se dizer que o direito positivo se caracteriza como um sistema?
Resposta: Conforme leciona o Professor Paulo de Barros Carvalho “o sistema aparece como o objeto formado de porções que se vinculam debaixo de um princípio unitário ou como a composição de partes orientadas por um vetor em comum”. Pode-se, portanto, utilizar a palavra “sistema” como sinônimo de um conjunto, uma aglutinação de objetos ou coisas que pertencem ao mesmo gênero.
Assim, ao conjunto de normas jurídicas podemos dar o nome de sistema jurídico, conforme sinaliza o autor antes mencionado: “as normas jurídicas formam um sistema, na medida em que se relacionam de várias maneiras, segundo um princípio unificador”. Depreende-se a existência de um sistema jurídico também do fato de existir uma hierarquia entre as normas, de maneira que as normas inferiores encontram seu fundamento de validade nas normas de caráter superior.
Contudo, não se pode confundir sistema com ordenamento jurídico. Este é o conjunto de normas positivadas, união de dispositivos no texto bruto da lei. Vale dizer, “o direito posto não alcançaria o status de sistema, reservando-se o termo para designar a contribuição do cientista, a atividade do jurista”. Sendo assim, o conjunto de textos brutos que traduzem a lei pode ser chamado de ordenamento, ao passo que somente se estará diante de um sistema quando houver a interferência do jurista, interpretando a letra da lei e transformando-a em norma.
Diante dessa situação, tem-se que o direito positivo não pode se caracterizar como um sistema, eis que lhe falta para tanto a interpretação da norma. Com efeito, consoante mencionado, somente pode-se falar em sistema após a atividade do intérprete, de maneira que a letra pura da lei faz parte do ordenamento jurídico, mas não de um sistema jurídico.
2.	Que se entende por “sistema constitucional tributário”? Qual sua função no direito tributário?
Resposta: O sistema constitucional tributário é composto pelas normas, em sede de Constituição Federal, que tratam a respeito de tributos. É, portanto, o conjunto de normas constitucionais (na acepção de dispositivos constitucionais interpretados juridicamente) que preveem situações relativas ao direito tributário.
Sua função resulta em regular harmoniosamente a ligação entre sujeitos ativos e sujeitos passivos das relações jurídicas tributárias. O sistema constitucional tributário apresenta, para tanto, normas estruturais, quanto normas instituidoras de competência, bem como normas que regulam direta e expressamente alguns aspectos dos tributos. Assim, as normas presentes no sistema em questão são das mais amplas, dispondo sobre todas as questões que permeiam a instituição e a cobrança de tributos, o que elevou algumas regras ao patamar de princípios, como é o caso da legalidade. Dessa forma, o sistema constitucional tributário é completo, na medida em que todas as demais normas que venham a tratar sobre o assunto deverão estar de acordo com as previsões constitucionais.
3.	Que é princípio, como é e para que serve? Há diferença entre regras e princípios? No caso de conflito, qual deve prevalecer? E no caso de conflito entre princípios, qual critério deve informar a solução? (Vide anexos I e II).
Resposta: Conforme explica Ruy Samuel Espíndola, “norma é o gênero do qual os princípios, as regras e os valores são espécies”. O principal fator que diferencia os princípios das regras é o fato de que os primeiros são aplicáveis a um sem-número de situações, ao passo que as regras são específicas, isto é, aplicam-se “a uma situação jurídica determinada”5. Assim, enquanto os princípios podem ser ampliados e mitigados na medida dos interesses da sociedade, as regras são imutáveis, cabendo somente a possibilidade de interpretação mais branda ou severa.
Além disso, as regras vêm expressas no texto constitucional e nas leis infraconstitucionais, ao passo que os princípios poderão ser tanto positivados quanto consuetudinários.
A diferença entre as espécies normativas manifesta-se, ainda, no campo dos conflitos. Se duas regras não se coadunam entre si, uma delas deverá perder sua validade a fim de que a outra possa ser plenamente aplicável. Quanto aos princípios, o que ocorre é somente uma maior valoração de um em detrimento do outro, sem que qualquer dos dois perca sua vigência. Vale dizer, o conflito entre regras se resolve de maneira muito mais abrupta do que o conflito entre princípios.
Humberto Ávila estabelece a diferenciação entre regras e princípios de maneira bastante pontual, afirmando que “enquanto as regras são normas imediatamente descritivas, na medida em que estabelecem obrigações, permissões e proibições mediante a descrição da conduta a ser adotada, os princípios são normas imediatamente finalísticas, já que estabelecem um estado de coisas para cuja realização é necessária a adoção de determinados comportamentos”. Portanto, as regras preveem a conduta, positiva ou negativa, que deve ser adotada pelos cidadãos, ao passo que os princípios delineiam a maneira como os membros da sociedade devem se portar para alcançar determinado fim.
Quando se encontram em conflito um princípio e uma regra de mesmo nível hierárquico, deve prevalecer esta segunda, a qual “consiste numa espécie de decisão parlamentar preliminar acerca de um conflito de interesses”. Os princípios se aplicam a situações genéricas, servindo mais como uma linha interpretativa a guiar o jurista na aplicação das regras aos casos concretos. As regras, por sua vez, apresentam-se como soluções pré-determinadas aos possíveis conflitos que decorram das situações cotidianas. Diante de tal situação, devem as regras prevalecer, eis que específicas para o tema questionado, em contraposição aos princípios, que são genéricos. Tratando-se de um princípio e uma regra de níveis hierárquicos diversos, deverá prevalecer sempre aquele que estiver no nível superior.
4.	Identificar, nas situações a seguir, se algum princípio foi desrespeitado e, em caso afirmativo, indicar qual:
a) instituição e regulamentação de dever instrumental por meio de instrução normativa (vide anexo III);
Resposta: Conforme já fora decido pelo STJ no REsp n.º 724.779/RJ, a instituição ou regulamentação de dever instrumental por meio de instrução normativa não viola qualquer principio, desde que tal instrução não venha a produzir deveres ou criar interpretações que venha a violar a legislação tributária já existente. Caso tal ocorra podemos dizer que serão violados os princípios da legalidade, e de acordo com o caso concreto também com o principio da anterioridade.
b) estipulação de graus de risco da atividade laborativa (para o SAT) por meio de decreto (vide anexo IV);
Resposta: Não há ofensa a qualquer princípio. A isonomia resta preservada na medida em que a graduação dos riscos da atividade laborativa tem como fundamento (des)igualar os (des)iguais, na medida de suas (des)igualdades. Por outro lado, o STF já reconheceu a possibilidade de até mesmo um regulamento prever os conceitos de “grau de risco leve, médio e grave”, razão pela qual não se vislumbra ofensa ao princípio da legalidade.
c) multas sancionatórias na percentagem de 75% (vide anexos V e VI);
Resposta: A multa tributária no percentual de 75%, que em principio se justifica como maneira de coibir a prática dos ilícitos tributários viola os princípios da razoabilidade e da vedação do confisco, eis que é não é razoável que uma punição venha a equivaler a mais da metade do valor do tributo devido, culminando também com a violação ao principio da vedação do confisco, eis que multa em referida proporção traz caráter confiscatório para referida punição, fato proibido pela constituição no seu Art. 150, IV e que foi objeto de análise peloSTF em diversos casos, sendo o principal o Agravo Regimental em RE 523.471, de relatoria do Ministro Joaquim Barbosa.
d) imposto de importação com alíquota de 150%;
Resposta: O Imposto de Importação é um tributo eminentemente extrafiscal, na medida em que se propõe mais a auxiliar no equilíbrio da balança comercial do que propriamente na arrecadação monetária. Sendo assim, tendo em vista que as alíquotas do imposto tendem a variar conforme a essencialidade do bem tributado, as altas alíquotas acabam por ser um reflexo da capacidade contributiva, razão pela qual não ofende os limites constitucionais ao poder de tributar.
e) lei municipal ou distrital que institui responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa;
Resposta: O art. 6º da LC n. 116/2003 permitiu aos Municípios e ao Distrito Federal, por meio de lei, instituir, expressamente, responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, logo não vislumbro qualquer violação nesta hipótese.
f) elaboração, pelo CONFAZ, de lista de produtos semielaborados sujeitos à incidência do ICMS (vide anexo VII);
Resposta: Como o CONFAZ apenas elaborou a lista de produtos semielaborados sujeitos ao ICMS, não feriu princípio, uma vez que é de sua competência tal atribuição.
g) penhora, em execução fiscal, de automóvel de pequeno valor utilizado para transportar portador de necessidades especiais (vide anexo VIII).
Resposta: A penhora deste bem, afronta o princípio da dignidade da pessoa humana, uma vez que o automóvel é utilizado para a subsistência do executado.
O rol de bens impenhoráveis não é taxativo e absoluto, podendo ser observado o caso concreto, expandido.
h) quebra do sigilo bancário em favor da fiscalização.
Resposta: Em que pese a razão da tutela da intimidade das pessoas, contida no artigo 5.º, Inciso X, da Constituição Federal, que prescreve que:
"são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação".
O direito à intimidade, a exemplo de outros direitos fundamentais, não é absoluto, passível de mitigação em certos casos previstos em lei e sempre de acordo com o devido processo legal para o afastamento do sigilo.
Portanto, não fere qualquer princípio a violação do sigilo bancário, nos casos previstos em lei.
i) a imposição da desistência das discussões judiciais e administrativas para adesão a parcelamento de débitos.
Resposta: Neste aspecto, entendo que fere princípio constitucional previsto no artigo 5º, inciso XXXV, segundo o qual diz:
“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”
Nas lições do Professor Paulo de Barros Carvalho, tal situação fere, ainda, o princípio da legalidade:
“O princípio da legalidade é limite objetivo que se presta, ao mesmo tempo, para oferecer segurança jurídica aos cidadãos, na certeza de que não serão compelidos a praticar ações diversas daquelas prescritas por representantes legislativos, e para assegurar observância ao primado constitucional da tripartição de poderes. (...) Se do consequente da regra advier a obrigação de dar, fazer ou não fazer alguma coisa, sua construção reivindicará a seleção de enunciados colhidos apenas a tão-somente no plano legal”.
j) desconsideração de negócio jurídico realizado pelo contribuinte mediante planejamento tributário em razão de ausência de propósito negocial nos atos praticados pelo contribuinte.
Resposta: O propósito negocial preconiza que: “qualquer negócio jurídico deve perseguir uma finalidade econômica (função social do contrato), tendo como objetivo principal otimizar os negócios da empresa. Se a única finalidade for a redução da carga tributária, o planejamento é considerado ilegal.”
Assim, no caso de haver proposito negocial é importante sopesar o princípio da legalidade tributária como sendo um dos alicerces para garantia do sistema normativo tributário. É de sabença que a obrigação tributária surge com a ocorrência do fato gerador (artigo 113, parágrafo 1º, do Código Tributário Nacional), ou seja, aquele fato previsto em lei no qual incide tributação.
Mais a mais, outro princípio é o da livre iniciativa (artigo 1º, IV e artigo 170 da Constituição), que é sustentáculo do sistema econômico brasileiro. O indivíduo é, em regra, livre da intervenção Estatal para gerir suas atividades da forma que melhor lhe convém. 
Igualmente é o princípio da propriedade, o qual é garantido pela Constituição Federal no art. 5º, XXII.
Em que pese os princípios acima, confronta-se o princípio da solidariedade social. A função do tributo é, em primeiro plano, custear os serviços prestados pelo Estado, essenciais para coletividade. É inegável que, apesar de a empresa possuir a livre iniciativa de optar pela forma menos onerosa do ponto de vista tributário, esta escolha produz efeitos negativos para a coletividade, vez que o Estado possuirá menos recursos para assegurar o bem-estar social.
Note-se, portanto, que há um latente conflito entre princípios. Põe-se em balanço o princípio da legalidade, livre iniciativa e o direito inviolável da propriedade, de um lado, e o princípio da solidariedade e da capacidade contributiva, de outro, questões de devem ser avaliadas conforme o caso concreto.
5.	Que é, como é e para que serve a competência tributária? Quais as características da competência tributária? Qual a diferença entre competência tributária e capacidade tributária? Analisar a facultatividade do seu exercício relativamente à Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 101/00), que veda a transferência voluntária de receitas a entes que tenham deixado de instituir algum tributo de sua competência. (vide anexo IX)
Resposta: Competência tributária é o poder de criar tributos, sendo esse poder conferido pela Constituição Federal à União, aos Estados-membros, ao Distrito Federal e aos Municípios. O legislador constitucional determinou quais tributos cada ente político pode criar, bem como limitou esse poder de criação, impondo limites.
A competência tributária tem como características a privatividade, indelegabilidade, incaducabilidade, inalterabilidade, irrenunciabilidade e a facultatividade do seu exercício. Significa dizer que a competência é privativa do ente federativo a quem foi conferida, não podendo ser exercida por qualquer outro. Nesse ponto, a doutrina defende que somente a competência da União é privativa, na medida em que ela poderá criar impostos semelhantes aos dos estados e dos municípios sempre que se estiver na iminência ou em caso de guerra externa, na forma dos impostos extraordinários (artigo 154, inciso II, da Constituição Federal).
Por outro lado, pela característica da indelegabilidade tem-se que a competência atribuída a um ente federativo não pode ser transferida a outro ente, ou seja, não pode ser delegada. Somente a pessoa jurídica que recebeu a competência tem atribuição para exercê- la. Da mesma forma, não existe prazo para o exercício da competência tributária, isto é, a norma que atribuiu a competência não perde sua validade pelo decurso do tempo.
Não podemos nesse caso, confundir com o que ocorre hoje com o Imposto Territorial Rural, o qual pode, tendo em vista o inciso III, do § 4º do art. 153 da CF/1988 e a Lei n.º 11.250/2005, ser cobrado pelos municípios que optarem por tal e o produto da arrecadação ser destinado a estes mesmos municípios, verificamos com isso que não houve delegação da competência, mas sim uma permissão constitucional para que os Municípios que firmarem convênios com a União possa realizar a cobrança e arrecadação do tributo, mantendo a União a competência sobre referido tributo.
A inalterabilidade, por sua vez, decorre do fato de a Constituição Federal ser rígida, exigindo um processo legislativo mais elaborado para sua transformação. Além disso, a competência tributária é irrenunciável, de maneira que o ente público não poderá desistir da possibilidade que lhe foi atribuída. Poderá, contudo, não exercê-la, na forma da última característica mencionada:a facultatividade do exercício. Assim, o ente público não está obrigado a criar o tributo que lhe foi conferido. Contudo, resta analisar a facultatividade do exercício das competências tributárias perante a Lei de Responsabilidade Fiscal, que prevê sanções aos entes federativos que não criarem todos os tributos.
O artigo 11 e seu parágrafo único da mencionada lei vedam a transferência de recursos voluntários para os entes federativos que não efetuarem a previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação. Assim, pode- se, a priori, considerar que tal dispositivo inibiu a existência da característica da facultatividade do exercício das competências tributárias, eis que, não efetuando a criação e a arrecadação de todos os tributos a que estiver legitimado, o ente federativo não estará apto a receber receitas voluntárias.
Contudo, o entendimento é de que assim, estaríamos assumindo uma possibilidade de quebra com o pacto federativo e com a hierarquia das normas, na medida em que uma lei federal teria o condão de retirar uma possibilidade garantida aos municípios e estados- membros pela Constituição Federal (artigo 145). Nesse mesmo sentido é o posicionamento de Helly Lopes Meirelles, que afirma: “em resguardo da autonomia municipal, deve-se considerar que uma norma infraconstitucional não pode impor que o Município institua todos os tributos que lhe são cabíveis no âmbito de sua competência tributária, quando a própria Constituição, garantindo aquela autonomia, outorga- lhe a faculdade para a criação dos tributos, deixando-a à discrição do legislador municipal – como definido pelo art. 145 da CF”. Sendo assim, tem-se como correto o posicionamento apresentado por Hely Lopes Meirelles, no sentido de que a limitação às receitas voluntárias ofende a autonomia municipal e a presunção constitucional da facultatividade do exercício das competências tributárias.
6. Proposta de Reforma Tributária Nacional que substitua os impostos estaduais e municipais sobre bens e serviços, por um imposto único de competência da União por emenda constitucional viola os Princípios do Pacto Federativo e do Federalismo Fiscal? E se esta emenda prever expressamente o repasse obrigatório da integralidade ou parte do produto da arrecadação desse imposto único para os estados e municípios?
Resposta: Entendo que não viola nem o pacto federativo e nem o do federalismo fiscal. Os municípios continuarão tendo tributos que eles têm autonomia de fixar as regras, como o IPTU. Os estados também, com o ITCMD e o IPVA. O ICMS e o ISS continuariam sendo arrecadados para esses entes, só que via IBS, centralizando a arrecadação e unificando os cinco tributos.
No mesmo sentido, ainda que se tire o ICMS e o ISS da autonomia dos estados e municípios, isso viola a federação, isso porque, a ideia da federação passa também por uma ideia de federalismo fiscal.
Quando você dá atribuições para os entes da federação, você precisa dar os recursos, e essa reforma prevê justamente isso. Ela simplifica, traz a ideia de uma lei complementar única, nacional, para dispor sobre o IBS, mas mantém a arrecadação para estados e municípios. A ideia é de efetiva cooperação entre os entes.
7.	A Emenda Constitucional n. 39/02 acrescentou à Constituição o art. 149-A e parágrafo único, dispondo:
“Art. 149-A. Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III.
Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo de energia elétrica”.
Com fundamento nesse dispositivo, a Prefeitura de Itumambé instituiu o seguinte tributo:
Prefeitura Municipal de Itumambé, Decreto Municipal 3.708 de 10/10/03 (DOM 13/10/03)
Art. 1º Fica instituída contribuição para o custeio do serviço municipal de energia elétrica que tem como fato gerador a prestação do serviço de energia elétrica pelo Município.
Art. 2º A base de cálculo é o valor da fatura de consumo de energia elétrica.
§ 1º A alíquota é de 0,5%.
§ 2º Os contribuintes que morarem na região central pagarão 50% a mais do valor devido.
Art. 3º Contribuinte é o consumidor de energia elétrica.
Art. 4º Compete à Secretaria de Finanças fiscalizar o abatimento realizado pela concessionária.
Art. 5º A importância devida a título dessa contribuição deve ser paga até o último dia do mês subsequente e recolhida pela concessionária de energia elétrica juntamente com a fatura mensal de consumo, ficando a concessionária responsável pelo abatimento do montante recolhido da fatura municipal.
Parágrafo único. O não-pagamento da contribuição, ou o não repasse, implica multa de 150 UFIRs.
Art. 6º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, devendo produzir todos os seus efeitos a partir do dia 01/11/03.
{...].
Pergunta-se:
a) O sistema constitucional tributário brasileiro admite alterações na faixa de competência tributária das pessoas políticas? Há alguma vedação à ampliação da competência tributária municipal por meio de emenda constitucional? Em caso afirmativo, qual (is)?
Resposta: A alteração das competências tributárias é plenamente possível através de Emendas Constitucionais, uma vez que não se trata de matéria arrolada no §4º do artigo 60 da Constituição Federal. Ainda que o fosse, as cláusulas pétreas não podem ser abolidas, ou seja, extintas do texto constitucional, não havendo qualquer óbice a sua alteração.
Portanto, não subsiste possibilidade de vetar a alteração das competências tributárias por emenda constitucional. A restrição à competência tributária, contudo, não poderá ocorrer por via de lei complementar, haja vista que, diante da hierarquia das normas, não é possível que uma lei complementar venha a suprimir parte do texto constitucional, como é o caso das competências tributárias nele fixadas.
Existe vedação à ampliação da competência tributária municipal por meio de emenda constitucional.
De acordo com o inciso IV do § 4º do artigo 60 da Constituição Federal, que diz:
“(...)
não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
(...)
IV os direitos e garantias individuais”.
Dentre tais direitos encontra-se o de o contribuinte não ser tributado além dos limites constitucionalmente impostos.
Assim, não é dado ao constituinte derivado criar novas possibilidades de tributação, além daquelas previstas no texto originário.
Explica-nos Aires Ferdinando Barreto13, que dispõe:
“(...) dentro do espectro constitucional que preside o nosso sistema tributário, conclui-se que a Emenda nº 39/2002, por ter afrontado cláusulas pétreas, está insanavelmente viciada por inconstitucionalidade: primeiro porque implica a abolição dos limites do poder de reforma; derruba as balizas dessa diretriz para atribuir ao Município tributo cuja espécie a Constituição reservou à União (salvo a de sistemas de previdência); segundo, porque a emenda aniquila o direito individual de os contribuintes não serem tributados, à luz da imodificável discriminação de rendas, plasmada na Constituição.”
Sendo assim, a emenda constitucional que visa a ampliação da competência tributária municipal é inconstitucional, eis que não preserva as cláusulas pétreas.
b) Os Municípios podem, na criação de tal contribuição, com fundamento no art. 149-A da CF, utilizar uma das materialidades que lhes foram atribuídas constitucionalmente para a instituição de impostos? E das materialidades atribuídas aos Estados, Distrito Federal e União por ocasião da repartição constitucional das competências para instituição de impostos? Há vedação constitucional quanto à materialidade eleita: “consumir energia”? Justifique (vide anexo X).
Resposta: Os municípios não podem utilizar das materialidades previstas para a instituição de impostos, bem como não poderão invadir a esfera de competência prevista para os demais entes federativos, sob pena de ferir o sistema de competências tributárias estabelecido pela ConstituiçãoFederal.
Somente a União pode instituir imposto extraordinário sobre hipóteses que sejam da competência de outro ente federativo, na forma do artigo 154, inciso II, da Constituição Federal.
Desta forma, a competência da União é privativa e somente ela pode ingressar no âmbito de competência dos estados e dos municípios, sendo plenamente vedado aos municípios utilizarem das competências outorgadas a outros entes. No caso da energia elétrica, em específico, o §3º do artigo 155 da Constituição Federal prevê a impossibilidade de qualquer outro imposto, além do ICMS, incidir sobre as operações relativas a energia elétrica.
Contudo, em que pese a legislação em analise ter nuances de imposto, para que realmente fosse, seria preciso que a receita não fosse vinculada à prestação que a origina, o que não ocorre. No caso desta lei ficticia, a materialidade escolhida não corresponde ao artigo 149-A da Constituição Federal, razão pela qual a lei vem a ser inconstitucional.
c) Quais princípios tributários não foram observados pela Prefeitura de Itumambé ao instituir esse tributo? A Prefeitura pode escolher quais princípios tributários quer aplicar e afastar os outros?
Resposta: O tributo instituído pela Prefeitura de Itumambé, infringiu diversos princípios tributários. Inicialmente, não foi observado o princípio da legalidade, na medida em que o tributo foi instituído por um Decreto Municipal, quando deveria ter sido instituído por lei. Além disso, consoante mencionado na questão anterior, a prestação de energia elétrica não é passível de ser tributada com contribuição, na medida em que não se enquadra na hipótese do artigo 149-A bem como infringe o pacto federativo, pois somente a União pode instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, na forma do artigo 149 da Constituição Federal.
Os parágrafos do artigo 2º, por sua vez, infringem o princípio da isonomia, na medida em que o endereço não é capaz de demonstrar a igualdade entre determinado grupo de contribuintes que residem na região mencionada.
Por fim, a lei ofende o princípio da anterioridade, pois os tributos somente podem ser cobrados no exercício anual posterior e depois de decorridos 90 dias da data em que foi publicada a lei que os instituiu. Assim, ao publicar uma lei na data de 13/10/2003 e prever a cobrança do tributo a partir de 1º/11/2003 restou contrariado o princípio da anterioridade, de maneira que a contribuição somente poderia ser cobrada a partir de 14/01/2004.
Paradoxalmente a Prefeitura até poderia aplicar o princípio que atendesse seus interesses sob o argumento do bem da coletividade. Contudo, a questões estaria sujeita ao crivo judicial em eventual alegação de inconstitucionalidade.
d) A alteração do prazo de pagamento deve respeitar o princípio da anterioridade? Em qual o critério da Regra-Matriz de Incidência figura o prazo para pagamento do tributo? (Vide anexo XI).
Resposta: O princípio da anterioridade decorre do artigo 150, inciso III, e do §6º do artigo 195, ambos da Constituição Federal. No primeiro caso, aplica-se aos tributos em geral, determinando-se que é vedado cobrar tributos no mesmo exercício financeiro e antes de decorridos 90 dias da lei que os instituiu ou aumentou. Já o segundo dispositivo refere- se apenas às contribuições sociais, determinando que elas somente poderão ser exigidas após o decurso do prazo de 90 dias da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não sendo necessário o respeito à anterioridade do exercício.
Quanto à situação dos tributos em geral, o texto constitucional é claro ao mencionar as duas hipóteses em que se aplica o princípio da anterioridade: instituição ou majoração de tributos.
Já quanto às contribuições sociais, impende verificar se a alteração do prazo para pagamento se enquadra entre as modificações que estão sujeitas à anterioridade nonagesimal. Nesse ponto, o Supremo Tribunal Federal entendeu que “somente nos casos em que a lei cria ou modifica tributos a anterioridade é absoluta. O princípio da anterioridade diz respeito à criação e ao aumento do tributo, não à mudança de prazo de recolhimento. [...] nada existe que indique que a simples mudança de prazo de recolhimento constitua situação que faça depender a exigência do decurso da vacatio legis”.
A obrigação tributária é um dos elementos essenciais da regra-matriz de incidência tributária e por força do art. 150, I da Constituição Federal de 1988 deve ser instituída exclusivamente por Lei, de modo que a única conclusão possível seria a de que ato normativo infralegal não é instrumento hábil para fixar o prazo de pagamento do tributo. Trata-se de um silogismo lógico:
Premissa maior: Toda obrigação tributária deve ser veiculada por Lei;
Premissa menor: O prazo para pagamento do tributo é um dos elementos da obrigação tributária;
Conclusão: Logo, o prazo para pagamento do tributo deve ser veiculado por Lei.
Assim, concluímos que merecem ser revisitadas as premissas abordadas nos julgados dos Tribunais Superiores acerca da conclusão de que o prazo de recolhimento do tributo pode ser fixado por ato normativo infralegal, a fim de manter-se intacta a coerência do raciocínio pelo critério material.
8. Como a conjugação das noções de sistema, competência e princípios com a ideia de hierarquia normativa pode significar limitações ao poder de tributar? Qual o papel do intérprete nessa construção?
Resposta: Partindo da premissa que o sistema normativo compreende o conjunto necessário para a aplicação do direito. Temos os princípios como normas basilares que norteiam todo o ordenamento jurídico, podendo-se compreender facilmente a técnica utilizada pelo legislador: enunciar limites, em forma de princípios, para que estes sejam amplamente atendidos e respeitados. Mais que isso, em matéria Tributária espera-se que não só se respeite os princípios, mas que se aplique ao direito material, para que, desta forma, a segurança jurídica, dispensada por estes, venham a abarcar todas as situações, estabelecendo, assim, que a tributação seja suficiente à consecução dos fins sociais e, acima de tudo, não seja um meio utilizado para exigir prestações insuportáveis aos cidadãos.
É sabido, entretanto, que os princípios não são as únicas formas de limitação utilizada pelo legislador; este ainda dispôs as imunidades, isenções e anistias, que são áreas nas quais, por determinados motivos, situações ou pessoas, o Ente Político não pode tributar. Estabelecendo, desta forma, outras garantias ao contribuinte.
Resta, portanto, a lição de que, apesar de detentores da competência tributária, os Entes políticos não têm poder absoluto sobre as finanças dos cidadãos brasileiros, estando estes salvaguardados por princípios importantíssimos, capazes de assegurar o equilíbrio fiscal no território nacional.
Finalmente, em conclusão à temática proposta, resta de toda relevância o apreço mais detalhado e com maiores debates aos princípios constitucionais tributários, dado o momento histórico vivenciado pelo Brasil, de conscientização das massas e reivindicação de um Estado mais justo, no qual todas as pessoas possam ser contempladas pela justiça fiscal.
A desídia no estudo das limitações ao poder de tributar pode trazer sérias consequências à sociedade, uma vez que cidadãos mal informados não compreende o funcionamento da máquina fiscal, ficando, desta forma, sujeito as intempéries da má tributação. Sendo, por conseguinte, tolhido de direitos legítimos.
Por fim, insta mencionar que os princípios constitucionais tributários existem para impedir que a atividade tributária do Estado seja feita de forma devastadora, invadindo o patrimônio do contribuinte de forma desordenada, provocando um verdadeiro efeito confiscatório. Resta, portanto, a exigência do cumprimento dos princípios, limitando, desta forma, a atividade do Estado e promovendo maior segurança aos contribuintes.
17

Outros materiais