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7 TEORIA DO TIPO CRIME DOLOSO CULPOSO PRETERDOLOSO

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DIREITO PENAL 
 
TEORIA DO TIPO 
 
 
 
 
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Sumário 
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 3 
1.1 CONCEITO .................................................................................................................................... 3 
1.2 ESTRUTURA LEGAL DO TIPO ......................................................................................................... 3 
1.3 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO TIPO PENAL ............................................................................. 4 
2 CRIME DOLOSO/CULPOSO/PRETERDOLOSO ............................................................................. 6 
2.1 CRIME DOLOSO ............................................................................................................................ 6 
2.1.1 Teorias sobre o solo .........................................................................................................................6 
2.1.2 Espécies de dolo ..............................................................................................................................7 
2.2 CRIME CULPOSO .......................................................................................................................... 8 
2.2.1 Punibilidade da culpa .......................................................................................................................9 
2.2.2 Conceito de crime culposo ..............................................................................................................9 
2.2.3 Elementos do crime culposo ...........................................................................................................9 
2.2.4 Espécies de culpa .......................................................................................................................... 11 
2.2.5 Graus de culpa .............................................................................................................................. 12 
2.2.6 Compensação de culpas ............................................................................................................... 12 
2.2.7 Concorrência de culpas ................................................................................................................. 12 
2.2.8 Caráter excepcional do crime culposo/princípio da excepcionalidade do crime culposo (art. 18, 
parágrafo único, do CP) ................................................................................................................................ 13 
2.2.9 Exclusão da culpa .......................................................................................................................... 13 
2.3 CRIME PRETERDOLOSO .............................................................................................................. 13 
3 DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO .......................................................................... 14 
4 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA....................................................................................................... 14 
 
 
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ATUALIZADO EM 09/12/20171 
TEORIA DO TIPO 
1 INTRODUÇÃO 
 
1.1 CONCEITO 
O conceito de tipo é doutrinário. Tipo é o modelo genérico e abstrato formulado pela norma penal, 
descritivo da conduta criminosa (tipos incriminadores ou legais) ou da conduta permitida (tipos permissivos ou 
justificadores). Quando fala tipo legal é incriminador. 
Os tipos incriminadores estão previstos na parte especial do Código Penal e na legislação extravagante, 
não há tipos incriminadores na parte geral. Os tipos permissivos ou justificadores são as causas de exclusão da 
ilicitude, o legislador autoriza a prática de um fato típico. 
Não se pode confundir tipo e tipicidade. Zaffaroni diz que tipo é uma figura que resulta da imaginação 
do legislador, enquanto que o juízo de tipicidade é a averiguação que sobre uma conduta se efetua para saber 
se apresenta os caracteres imaginados pelo legislador. 
Funções da tipicidade: garantista para o cidadão, fundamentadora do direito de punir, função 
indiciária da ilicitude (gera presunção da ilicitude), função diferenciadora do erro (delimitar as circunstâncias 
que devem ser conhecidas pelo autor, sob pena de erro de tipo), função seletiva. 
1.2 ESTRUTURA LEGAL DO TIPO 
Todo tipo incriminador tem um núcleo (verbo do tipo penal). O núcleo é o ponto de partida da 
construção do tipo incriminador. Ao núcleo, o legislador acrescenta elementos ou elementares para a perfeita 
descrição da conduta criminosa. Esses elementos podem ser objetivos/descritivos, subjetivos ou normativos. 
 Os elementos objetivos ou descritivos são aqueles que revelam um juízo de certeza e que podem 
ser compreendidos por qualquer pessoa (exemplo: “alguém” no art. 121, CP). 
 
 
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 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de 
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, 
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do 
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas 
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos 
eventos anteriormente citados. 
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 Os elementos subjetivos dizem respeito ao aspecto anímico do agente, se referindo a uma 
especial finalidade buscada pelo agente (exemplo: art. 155, CP – subtrai para não devolver mais, 
ânimo de assenhoramento definitivo). 
 
 Os elementos normativos são aqueles cuja compreensão reclama um juízo de valor. Ex. mulher 
honesta no crime de rapto. Elementos normativos jurídicos ou impróprios (são aqueles que 
contêm conceitos da área do Direito. Exemplo: conceito de documento, conceito de funcionário 
público) e elementos extrajurídicos, culturais ou morais (aqueles cujos conceitos se relacionam a 
outras áreas, que não o direito. Ex. ato obsceno). 
Alguns autores, minoritariamente, falam ainda em elementos modais. Os elementos modais seriam 
aqueles relacionados ao tempo e ao lugar do crime e também ao modo de execução (exemplo: art. 123, CP – 
“durante o parto ou logo após”). 
O núcleo do tipo mais os elementos forma o tipo fundamental ou básico. O tipo fundamental é aquele 
que descreve a modalidade simples do crime. Em regra, os tipos fundamentais estão previstos no caput. Existe 
alguma exceção no Código Penal? Sim, art. 316, §1º. 
Excesso de exação: § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber 
indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de 
outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: 
 
Em alguns crimes, o legislador também prevê circunstâncias. Quando temos circunstâncias, surge o 
tipo derivado (matar alguém por motivo torpe). Circunstâncias são os dados que se agregam ao tipo 
fundamental para aumentar ou diminuir a pena. São, portanto, as qualificadoras, as figuras privilegiadas, as 
causas de aumento e de diminuição da pena. 
1.3 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO TIPO PENAL 
 Tipo incriminador x Tipo permissivo 
 
 Tipo fundamental x Tipo derivado. O derivado é autônomo 
 
 Tipo normal (neutro, acromático ou avalorado) x Tipo anormal: Tipo normal é o que contém somente 
elementos objetivos (matar – núcleo; alguém – elemento objetivo). Tipo anormal é o que contém 
elementos subjetivos e/ou normativos. 
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No finalismo penal todo tipo é anormal porque o dolo (elemento subjetivo) e a culpa (elemento 
normativo)estão no fato típico e fazem parte do tipo. 
 
 Tipo fechado (cerrado) x Tipo aberto: Tipo fechado é aquele que apresenta uma descrição minuciosa, 
detalhada da conduta criminosa. Tipo aberto é aquele que não apresenta uma descrição completa, 
pormenorizada da conduta criminosa. Os tipos abertos precisam se complementados por um juízo de 
valor no caso concreto (exemplo: ato obsceno). 
A norma penal em branco é complementada por lei ou ato administrativo, enquanto que o tipo aberto é 
complementado por um juízo de valor do operador do Direito. 
 
 Tipo congruente x Tipo incongruente: Tipo congruente é aquele em que há perfeita congruência entre a 
vontade do agente e o fato legalmente descrito (exemplo: crimes dolosos consumados). Tipo 
incongruente é aquele em que não há coincidência entre a vontade do agente o fato por ele praticado 
(exemplo: os crimes tentados, os crimes culposos, preterdoloso). 
 
 Tipo preventivo: essa nomenclatura foi recentemente usada pelo STJ no HC 211.823 (Informativo 493). 
No crime obstáculo, o legislador antecipa a tutela penal, incriminando de forma autônoma atos 
preparatórios de outro crime. O STJ ao falar de tipo preventivo se referia ao porte ilegal de arma de fogo 
(o legislador antecipa a tutela penal). 
 
 Tipo simples x Tipo misto: Tipo simples é aquele que contém somente um núcleo. Tipo misto é aquele 
que contém dois ou mais verbos, dois ou mais núcleos. O tipo misto pode ser alternativo ou cumulativo. O 
tipo misto alternativo é chamado de crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado. Se o agente praticar 
dois ou mais deles contra o mesmo objeto material, só vai responder por um crime. São ações sucessivas. 
Ex. adquirir veículo roubado e levar para sua casa (art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006). O tipo misto 
cumulativo é aquele em que existe dois ou mais núcleos e se o sujeito praticar dois ou mais deles, 
responderá por todos os crimes em concurso material (art. 244, CP). 
 
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) 
anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes 
proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente 
acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, 
gravemente enfermo. 
 
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#OBS.: não confundir com crimes de condutas conjugada. Só há um núcleo e várias condutas relacionadas a ele. 
Se cometer mais de um ocorre o concurso de crimes. 
 
Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou 
vigilância: 
I - Frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida; 
II - Frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de 
igual natureza; 
III - Resida ou trabalhe em casa de prostituição; 
IV - Mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública: 
2 CRIME DOLOSO/CULPOSO/PRETERDOLOSO 
2.1 CRIME DOLOSO 
2.1.1 Teorias sobre o dolo 
Teoria da representação/da possibilidade: para esta teoria, para que exista o dolo, basta a previsão do 
resultado – trata na verdade da culpa consciente. Para esta teoria haverá dolo eventual se o agente admitir, 
conscientemente, a possibilidade da ocorrência do resultado. 2 
Teoria da vontade: para esta teoria não basta a previsão do resultado. O agente deve ter a vontade de 
produzi-lo. 
Teoria do assentimento/consentimento/anuência: esta teoria complementa a teoria da vontade. Para 
ela, o dolo existe não apenas quando o agente tem vontade, mas também quando o agente assente com o 
resultado. 
O Código Penal brasileiro adotou as duas últimas teorias. A teoria da vontade diz respeito ao dolo direto, 
enquanto que a teoria do assentimento, do dolo eventual. A teoria da representação, em verdade, trata da 
culpa consciente, não do dolo. O dolo é formado por consciência – elemento intelectual – e vontade – elemento 
volitivo3. 
 
 
2 #Já caiu! Promotor de Justiça (MPE PR)/2019 
Em tema de Dolo Eventual, para qual das teorias abaixo nominadas basta que haja o conhecimento sobre a 
possibilidade de ocorrência do resultado para estar presente esta figura dolosa: Teoria da Possibilidade. 
 
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 CAIU NA DPEMET/2016: a semelhança entre culpa consciente e dolo eventual, que é a previsão do resultado. 
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2.1.2 Espécies de dolo 
Dolo natural x dolo normativo: o dolo natural (independe da consciência da ilicitude) é o dolo do 
finalismo, enquanto que o dolo normativo (consciência da ilicitude) é o dolo do sistema clássico. 
 Dolo genérico x dolo específico: essa divisão existia no sistema clássico. Dolo genérico é o que 
hoje, no finalismo, se chama de dolo, isto é, a intenção de realizar o núcleo do tipo. O antigo dolo específico é o 
atual elemento subjetivo do tipo ou elemento subjetivo específico, ou seja, a especial finalidade buscada pelo 
agente. 
 Dolus bonus x dolus malus: esta classificação está mais próxima do direito civil. No direito penal, 
esta classificação diz respeito aos motivos do crime, para aumentar ou diminuir a pena. Torpe – malus. 
Relevante valor social ou moral – bonus. 
 Dolo direto/determinado/imediato/intencional/incondicionado x dolo indireto: a vontade do 
agente é voltada para um determinado resultado. Há uma direção fixa, única. 
Já no dolo indireto, a vontade do agente não se dirige a um resultado preciso, determinado. Pode ser 
dividido em: 
a) Dolo alternativo: a vontade do agente se dirige, com igual intensidade, a produzir um ou outro 
resultado. No dolo alternativo, o agente sempre responderá pelo crime mais grave, consumado ou 
tentado. Ex. atira para matar ou ferir. No caso de tentativa responde por tentativa de homicídio, 
pois o CP adotou a teoria da vontade. Se teve a vontade deve responder por ela. 
b) Dolo eventual: o agente não quer o resultado, mas assume o risco de produzi-lo. 
O alemão Reinhard Frank desenvolveu a teoria positiva do conhecimento, que serve para identificar o 
dolo eventual. O agente pensa: “seja como for, der no que der, eu não deixarei de agir”. 
O Código Penal equipara o dolo direto ao dolo eventual. A maioria dos crimes é compatível tanto com 
o dolo direto como com o dolo eventual. Entretanto, alguns crimes somente admitem o dolo direto, a exemplo 
do crime de receptação (art. 180, do CP)> coisa que SABE ser produto de crime. Denunciação caluniosa – de que 
sabe inocente. STJ – o dolo eventual não é extraído da mente do autor, mas sim das circunstâncias. Há vários 
casos de racha envolvendo dolo eventual. Casos e embriaguez ao volante – analisar caso concreto. 
*#QUESTÃO #OUSESABER - O que é a teoria da cegueira deliberada ou teoria de Avestruz? 
R: A teoria da cegueira deliberada, também denominada teoria do avestruz, de origem norte-americana, está no 
âmbito dos crimes de lavagem de capitais e visa à tornar típica a conduta do agente que tem consciência sobre a 
possível origem ilícita dos bens ocultados por ele ou pela organização criminosa a qual integra, mas, mesmo 
assim, deliberadamente, cria mecanismos que o impedem de aperfeiçoar sua representação acerca dos fatos. Ao 
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evitar a consciência quanto à origem ilícita dos valores, assume os riscos de produzir o resultado, daí porque 
responde pelo delito de lavagem de capitais a título de dolo eventual. 
 
Dolo refletido/de propósito x dolo de ímpeto/repentino: o dolo refletido é o dolo dos crimes 
premeditados, ou seja, é o dolo que resulta da reflexão do agente. O dolo repentino é o que ocorre a partir de 
uma explosão de ânimo, como o que acontece nos crimes passionais, que são motivados por uma paixão 
violenta. 
Dolo presumido/in re ipsa: é aquele que não precisa ser provado no caso concreto. O Brasil não admite 
o dolo presumido, porque ele levaria à responsabilidadeobjetiva. 
Dolo de dano x dolo de perigo: dolo de dano é aquele presente nos crimes de dano, ou seja, é aquele 
onde o agente quer ou assume o risco de efetivamente lesionar um bem jurídico. Já no dolo de perigo, presente 
nos crimes de perigo, o agente se contenta em expor o bem jurídico a uma probabilidade de dano. Exemplo: 
crime de perigo de contágio de doença venérea. 
Dolo geral/por erro sucessivo: diz respeito ao meio de execução do crime. O agente produz o resultado 
desejado, mas por uma forma diversa da inicialmente imaginada. O erro é irrelevante. Exemplo: jogar a vítima 
de uma ponte para que ela morra afogada, mas ela morre em razão de uma pancada na cabeça ocorrida em um 
choque com uma pedra. No dolo geral, uma única conduta é observada. Quanto à qualificadora, prevalece o 
entendimento de que o meio de execução considerado de ser aquele que o agente queria utilizar - majoritária. 
Contudo, existem entendimentos contrários, que consideram o meio de execução que efetivamente produziu o 
resultado. 
Dolo de primeiro grau x dolo de segundo grau/de consequências necessárias: No dolo de primeiro grau 
é aquele em que o agente quer e persegue um único resultado, utilizando-se, para tanto, dos meios necessários. 
Em verdade, esse dolo pode ser considerado como sendo o dolo direto. No dolo de segundo grau representa os 
efeitos colaterais da conduta. Essa terminologia é da lavra de Claus Roxin. Exemplo: colocar uma bomba no 
avião de Obama com a intenção de matá-lo (dolo de primeiro grau). Entretanto, é assumido o risco de matar as 
outras pessoas que eventualmente estejam presentes no avião (dolo de segundo grau). 
Dolo antecedente/atual/subsequente – antecedente é o suficiente para fixar a responsabilidade penal. 
Ele não precisa perdurar por todos os atos executórios. Apropriação indébita – subsequente. Estelionato – 
antecedente. 
2.2 CRIME CULPOSO 
No finalismo, a culpa é elemento da conduta. É um elemento normativo do tipo, isto é, elemento cuja 
compreensão reclama um juízo de valor. 
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Destarte, é possível dizer que os crimes culposos, em regra, estão previstos em tipos penais abertos. 
No entanto, existem algumas exceções à regra, como o caso da receptação qualificada (art. 180, §3º, do CP) e 
do art. 38, da Lei 11.343/2006. Tipos abertos precisam se complementados por um juízo de valor no caso 
concreto. 
2.2.1 Punibilidade da culpa 
Fundamento: 
O fundamento da punibilidade da culpa está no interesse público da proteção de bens jurídicos 
indispensáveis ao individuo e à sociedade. A Escola Positiva falava em necessidade social. O homem seria 
responsável porque vive em sociedade. 
No crime doloso e no crime culposo é desvalor do resultado é o mesmo. Nada obstante, nos crimes 
culposos, o desvalor da conduta é menor, e é por esse motivo que o legislador comina uma pena menor para 
estes crimes. 
2.2.2 Conceito de crime culposo 
Crime culposo é o que se verifica quando o agente, deixando de observar o dever objetivo de cuidado, 
por imprudência, negligência ou imperícia, realiza uma conduta voluntária, que produz um resultado 
naturalístico não previsto nem querido, mas objetivamente previsível, e, excepcionalmente, previsto e querido, 
que podia, com a devida atenção, ter evitado. 
O Código Penal Militar traz, em seu art. 33, uma boa definição do que seria o crime culposo: 
Art. 33. Diz-se o crime: 
(...) 
II - Culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou 
especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, 
prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo. 
2.2.3 Elementos do crime culposo 
Conduta voluntária: a conduta voluntária é penalmente lícita ou, mesmo quando ilícita, caracteriza um 
crime diverso. O agente quer praticar a conduta, mas não quer o resultado. 
A voluntariedade da conduta está atrelada à ação, não ao resultado. 
 
Violação do dever objetivo de cuidado: dever objetivo de cuidado é o conjunto de regras impostas 
para todas as pessoas para a vida em sociedade. Essa violação se concretiza a partir da imprudência, negligência 
e imperícia (modalidades de culpa): 
 
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a) Imprudência: é chamada, ainda, de culpa positiva ou culpa in agendo. Consubstancia-se no fazer algo 
que a cautela não recomenda. A imprudência sempre se desenvolve paralelamente à conduta do 
agente. Exemplo: dirigir com excesso de velocidade 
b) Negligência: também chamada de culpa negativa ou culpa in omitendo. Negligenciar é deixar de fazer 
algo que a cautela recomenda. A negligência é anterior à conduta do agente. 
Exemplo: não trocar os pneus “carecas” do carro e, posteriormente, dirigir na chuva. 
c) Imperícia: também chamada de culpa profissional. É desenvolvida no exercício de uma arte, profissão 
ou ofício que o agente está autorizado a exercer, mas ele não reúne conhecimentos teóricos ou 
práticos para tanto. Exemplo: médico formado e com registro no CRM, mas que não detém 
conhecimentos necessários para o exercício da medicina. Nem toda culpa no meio profissional é 
imperícia. Médico que troca nome do medicamento na receita – negligência. Médico que prefere usar 
técnica mais arriscada e mata paciente – imprudência. 
 
#OBS.: Não se pode confundir a imperícia com o erro profissional. Naquela, a falha é do agente, e ele responde 
pelo crime culposo; neste, a culpa não é do agente, mas da própria ciência, dizendo respeito à falibilidade das 
regras científicas. Não há culpa. Doença sem cura. 
 
Qual a diferença entre inobservância de regra técnica (causa de aumento de pena no homicídio 
culposo) ou imperícia (culpa profissional): na imperícia o sujeito está autorizado a exercer uma profissão, mas 
não reúne conhecimentos teóricos para tanto. Ex. médico. A inobservância de regra técnica também ocorre no 
contexto de uma profissão, mas o que a caracteriza é o desleixo do agente. Ele tem conhecimento para exercer 
a profissão. Um bom médico, famoso, renomado, mas ele atua com desleixo. Ex. chega para trabalhar drogado. 
É algo mais que a imperícia. 
 
Resultado naturalístico involuntário: os crimes culposos são crimes materiais/causais, o que implica 
dizer que a consumação depende do resultado naturalístico. Eles são, logicamente, incompatíveis com a 
tentativa, a exceção da culpa imprópria , onde o resultado é voluntário. 
 
Nexo causal: todo crime material tem o nexo causal entre a conduta e o resultado naturalístico. 
 
Previsibilidade objetiva4: a previsibilidade é objetiva, porque ela é analisada de acordo com o juízo de 
um homem médio (também chamado, pelo STF, de homem standard), que é uma figura hipotética 
representativa da normalidade das pessoas. É o ser humano de inteligência e prudência medianas. Na análise do 
 
 
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 CAIU NA DPEMT/2016: a imprevisibilidade NÃO é considerado um elemento do crime culposo. 
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caso concreto, o juiz deve, hipoteticamente, substituir o agente pela figura do homem médio e indagar-se se o 
resultado poderia ser previsto por este. Para os institutos relacionados ao fato típico e à ilicitude, quando a 
análise se circunscreve a critérios objetivos, a figura do homem médio deve ser utilizada. Por outro lado, o 
homem médio é inaplicável aos institutos que dizem respeito à culpabilidade, quando a análise se volta para 
questões de índole subjetiva. 
 
Ausência de previsão: o resultado era objetivamente previsível para o homem médio, mas, no caso 
concreto, o agente não previu. 
2.2.4 Espécies de culpa 
 Culpa inconsciente/sem previsão/ex ignorantia x culpa consciente/com previsão/ex lascivia: na culpa 
inconsciente, o agente não prevê o resultado objetivamente previsível, isto é, o resultado que era previsível 
para o homem standard. Na culpa consciente, o agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que ele 
não ocorrerá.Não se pode confundir a culpa consciente com o dolo eventual. Para a culpa consciente, o Código Penal adota a 
teoria da representação, ou seja, o agente prevê o resultado, mas não o quer, nem assume o risco de produzi-lo. 
Agora, no dolo eventual, o Código Penal adota a teoria do consentimento, indicando que o agente prevê o 
resultado e assume o risco de produzi-lo. 
 Culpa própria x culpa imprópria/por extensão/por equiparação/por assimilação: Na culpa própria, é a 
culpa propriamente dita, quando o agente não quer o resultado, nem assume o risco de produzi-lo. Já na culpa 
imprópria, o agente, após prever o resultado, e desejar a sua produção, realiza a conduta por erro inescusável - 
evitável - quanto à ilicitude do fato. O agente supõe presente uma causa de exclusão da ilicitude, mas esta 
suposição é equivocada. Se for inevitável exclui a tipicidade. Aqui se adota a teoria limitada da culpabilidade. 
A culpa imprópria é uma figura híbrida, pois, na verdade, ela é um dolo, que o legislador decidiu punir como 
culpa, por razões de política criminal. Ela está prevista no art. 20, §1º, do CP, e ocorre no contexto de uma 
descriminante putativa (“situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima”). 
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por 
crime culposo, se previsto em lei. 
Descriminantes putativas: § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, 
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva 
de culpa e o fato é punível como crime culposo. 
 
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 É a única hipótese de crime culposo que admite tentativa, pois que, em verdade, a culpa imprópria é 
dolo. 
 Culpa mediata/indireta: é aquela em que o agente produz o resultado indiretamente a titulo de culpa. 
Vítima torturada dentro de veículo parado no acostamento. Ela foge e é atropelada. 
 Culpa presumida/in re ipsa: é aquela que decorre da simples inobservância de uma regra legal ou 
regulamentar. Foi abolida do direito penal brasileiro, pois que a culpa deve sempre ser provada. 
2.2.5 Graus de culpa 
 Não existem graus de culpa no direito penal. Neste, ou a culpa existe e o agente responde pelo crime 
culposo, ou ela não existe e ele não responde. 
2.2.6 Compensação de culpas 
Eventual culpa da vítima não compensa ou exclui a culpa do agente. A culpa da vítima somente poderá 
ser utilizada na dosimetria da pena base, conforme o art. 59, caput, do CP. Só ocorre a compensação no âmbito 
privado. 
 Não se pode olvidar, contudo, que se a culpa é exclusiva da vítima, o agente não responderá por crime 
algum. 
2.2.7 Concorrência de culpas 
 É perfeitamente possível a concorrência de culpas no direito penal, hipótese em que duas ou mais 
pessoas concorrem, culposamente, para a produção do resultado naturalístico. 
 Na hipótese, não se pode falar em concurso de pessoas, porque o vínculo subjetivo não se faz presente. 
* #SELIGANADIVERGÊNCIA #UMPOUCODEDOUTRINA: 
1ª Corrente (MAJORITÁRIA): A doutrina tradicional e a jurisprudência brasileira admitem a concorrência 
coautoria na concorrência de culpas, mas não participação. Qualquer causação culposa importa em violação do 
dever objetivo de cuidado, fazendo do agente autor e não partícipe. Ex: o passageiro está sendo tão negligente 
quanto o motorista, sendo coautor. 
2ª Corrente (Cleber Masson, LFG): Não admite nem coautoria, nem participação na concorrência de culpas em 
face da ausência de vínculo subjetivo entre os envolvidos. 
#SELIGA: Luiz Flávio Gomes entende que as situações em que se vislumbra a coautoria poderiam ser 
solucionadas pelo instituto da autoria colateral. 
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3ª Corrente (Fernando Capez): É possível a coautoria e a participação em concorrência de culpas, sendo autor 
aquele que realiza o núcleo do tipo doloso e partícipe aquele que concorre para isso, sem cometer o núcleo 
verbal da ação. 
2.2.8 Caráter excepcional do crime culposo/princípio da excepcionalidade do crime culposo (art. 18, 
parágrafo único, do CP) 
 
O caráter excepcional significa que o crime culposo deve estar expressamente previsto em lei. Se o 
legislador não previu expressamente a modalidade culposa, o crime somente poderá ser punido a titulo de dolo. 
Exemplo: homicídio culposo (art. 121, §3º, do CP). Normalidade do dolo e excepcionalidade da culpa. 
Nos crimes contra o patrimônio o único punido a título de culpa é o crime de receptação. 
2.2.9 Exclusão da culpa 
Caso fortuito e força maior: já foram vistos quando do estudo da conduta. 
Erro profissional: já foi visto quando do estudo da imperícia. 
Princípio da confiança: quem respeita as regras jurídicas e da vida em coletividade pode confiar que os 
outros também respeitarão. 
Risco tolerado: diz respeito às atividades perigosas imprescindíveis para o desenvolvimento da 
sociedade. Testar aeronave pela primeira vez. Médico que opera em condições precárias. 
2.3 CRIME PRETERDOLOSO 
Essa palavra tem origem no latim praeter dolum, que significa “além do dolo”. Em outras palavras, 
uma conduta dolosa produz um resultado culposo mais grave do que o desejado pelo agente. O resultado deve 
ser ao menos previsível. A culpa no resultado tem que ser provada, pois não se admite o brocado versari in re 
illicta – quem se envolve com coisa ilícita é responsável pelo resultado fortuito. 
É por isso que se diz que no crime preterdoloso existe dolo no antecedente, e culpa no consequente. O 
preterdolo é elemento subjetivo (dolo) - normativo (culpa – depende de juízo de valor). O exemplo mais 
explícito do Código Penal é o da lesão corporal seguida de morte, tipificada pelo art. 129, §3º. 
Todo crime preterdoloso é crime qualificado pelo resultado: um resultado culposo qualifica uma 
conduta dolosa. Nada obstante, nem todo crime qualificado pelo resultado é preterdoloso. Deste modo, é 
possível dizer que crime qualificado pelo resultado é um gênero, que tem quatro espécies: 
a) Crime doloso qualificado pelo resultado culposo (preterdoloso); 
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b) Crime doloso qualificado pelo resultado doloso (ex.: latrocínio. O latrocínio pode ser preterdoloso, caso 
o homicídio seja culposo); 
c) Crime culposo qualificado pelo resultado culposo (ex.: incêndio culposo qualificado pela morte culposa – 
art. 258, parte final, do CP); 
d) Crime culposo qualificado pelo resultado doloso (ex.: homicídio culposo qualificado pela omissão de 
socorro dolosa). 
 
#TABELASALVANDOVIDAS: 
Conduta antecedente Conduta consequente 
(resultado agravador) 
Exemplos: 
Dolo na conduta Dolo no resultado agravador Latrocínio (art. 157, §3º, parte final, 
CP). 
#OBS: O latrocínio pode ser 
preterdoloso, caso o homicídio seja 
culposo. 
Dolo na conduta Culpa no resultado 
agravador 
APENAS este é o crime preterdoloso. 
Ex: Lesão seguida de morte (art. 129, 
§3º, CP). 
Culpa na conduta Culpa no resultado 
agravador 
Formas qualificadas de perigo comum 
do art. 258, parte final, CP. Ex: incêndio 
culposo com morte culposa. 
Culpa na conduta Dolo no resultado agravador Lesão corporal culposa no trânsito (art. 
303, par. único, do CTb). 
 
#QUESTÃODEPROVA: Todo o crime preterdoloso é crime qualificado pelo resultado, sendo, inclusive, uma 
espécie deste gênero. Todavia, o contrário não é verdadeiro, pois nem todo o crime qualificado pelo resultado 
é preterdoloso. 
 
3 DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO 
 
DIPLOMA DISPOSITIVO 
Código Penal Art. 18 
 
4 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA 
 
- Anotações de aula 
15 
 
- Direito Penal - Parte Geral - Vol. 1 – Cleber Masson 
- Informativos STF e STJ (Dizer o Direito)

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