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Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 1 0. Técnicas Histológicas 0.1. Microscopia 0.1.1. A célula Existe uma enorme diversidade de células tanto em forma com em função (ex: eritrócitos, fibroblastos, neurónio, macrófago) - Núcleo: contém a informação genética da célula (DNA); controla a célula; síntese de RNA. Se for eucromático é mais claro (mais ativo: elevada densidade metabólica); caso seja heterocromático é mais escuro (menos ativo). - Ribossomas e Retículo Endoplasmático: parte das proteínas ce- lulares é sintetizada por ribossomas. RER está associado a ribos- somas e intervém na síntese proteica. REL não possui ribossomas e é importante na síntese de lípidos. - Aparelho de Golgi: modificação química das proteínas; produ- ção de glicoproteínas e proteoglicanos. - Vesículas: Lisossomas, enzimas hidrolíticas; peroxissomas, enzi- mas oxidativas (ex: eliminação de álcool). - Mitocôndrias: fornecem à célula a energia necessária para todas as reações do metabolismo. - Citoesqueleto: constituído por microtúbulos e microfilamentos. Função de suporte, transporte de substân- cias e motilidade dos organelos. 0.2. Histologia Estudo dos tecidos; associar forma à função. Tecido é um conjunto de células com a mesma origem e dife- renciadas do mesmo modo na forma e função (definição clássica). Tecido é cada um dos componentes mul- ticelulares elementares, microscópica e funcionalmente diferentes, que entram na constituição dos animais e das plantas e neles se associam para formar órgãos, aparelhos e sistemas (definição moderna). 0.3. Técnicas 0.3.1. Fixação Consiste em evitar a destruição das células pelas suas próprias enzimas (autólise) ou por bactérias; endu- recer os tecidos, para que possam suportar a ação de reagentes e as diversas manipulações a que vão ser submetidos (Impede os fenómenos de cadaverização (autólise e putrefação)). Há dois tipos de fixação: - Química: o fixador pode atuar diretamente nos tecidos ou ser aplicado por perfusão. Podemos usar mistu- ras de fixadores (ex: líquido de Bouin). Fixações longas, deve-se agitar a mistura para que a amostra fique totalmente fixada. Os fixadores são “insolubiladores” de proteínas (mantêm a estrutura do tecido); a peça a analisar deve ter apenas 1 cm3, para ser possível fixar tudo. O volume do fixador deve ser 20 vezes superior ao da peça. - Física: pode ser feita através do frio. 0.3.2. Desidratação Remoção gradual da água dos tecidos, sendo esta substituída por uma sequência de álcoois de concentra- ções crescentes (por exemplo, em soluções cada vez mais concentradas de etanol, até 100%). Deve ser lenta e gradual. 0.3.3. Diafanização Substituição do álcool por um líquido miscível (ex: benzol ou xilol, tornam o tecido transparente) tanto no álcool como na parafina. Se quisermos observar lípidos não podemos efetuar este procedimento, uma vez que estes se dissolvem no xilol. 0.3.4. Impregnação Consiste em mergulhar as peças em parafina fundida, geralmente a 60ºC, devido ao calor, o xilol ou benzol evaporam, e os espaços anteriormente ocupados por eles são ocupados pela parafina. Nota: existe um aparelho que faz os procedimentos desde a fixação até à impregnação. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 2 0.3.5. Inclusão Faz-se a polimerização da resina para se obter um bloco rígido, facilmente manuseável para a execução de cortes ultrafinos. 0.3.6. Corte Os blocos de parafina, contendo os tecidos incluídos, seccionados manualmente ou pela navalha de aço do micrótomo obtendo-se geralmente cortes de 5 a 10μm de espessura. 0.3.7. Colagem Os cortes são colados a lâminas de vidro, após serem distendidos em água quente operação que elimina as rugas. 0.3.8. Corte de congelação Há por vezes necessidade de fazer cortes de congelação, os quais podem atingir espessuras na ordem dos 300µm ou mais. Neste tipo de cortes, o elemento endurecedor é o arrefecimento brusco que pode ser con- seguido, por exemplo, com a aplicação de jatos de CO2 sobre as peças a congelar. Faz-se no crióstato, e a colagem é feita por adesão. 0.4. Coloração Remoção da parafina do corte através de banhos de xilol, seguidos de imersões em so- luções de álcool de concentração decrescente. Tem como função tornar os componentes visíveis e destacados uns dos outros (aumento do contraste). - Corante: para ter propriedades de corante tem de ter um anel benzeno. Apresentam cor porque absorvem radiações na gama 400 a 650 nm do espetro eletromagnético. São adquiridos na forma de sais. Coram por atividade química. - Corantes ácidos ligam-se a catiões (são aniónicos, libertam H+); corantes básicos ligam-se a aniões (são catiónicos, libertam OH-). Têm de haver sempre reações de ionização. - Componentes basófilos: basófilo: tem afinidade para bases (roxo). Coram com corantes básicos (ex: azul de metileno, tionina, fucsina básica) (catiónicos), são de natureza ácida (aniónica). - Componentes acidófilos: acidófilo (ou eosinófilo), tem afinidade para ácidos (rosa). Coram com corantes ácidos (ex: eosina B, laranja G, floxina) (aniónicos), são de natureza básica (catiónica). Corantes Sintéticos Azul de metileno Azul de toluidina Eosina Eritrosina Naturais Mineral: Amarelo de crómio Vegetal: Hemateína Animal: Carmim Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 3 - Ortocromasia: corantes que coram estruturas com a cor original em que existem em solução. - Metacromasia: corantes que coram com cor diferente da original em solução (quando as moléculas ocu- pam mais espaço do que o que devem). A substância indutora de metacromasia chama-se cromatrófica. - Hemateína&Eosina: Coloração bicromática mais usual em histologia animal. A hematoxilina quando é extraída não tem poder corante, só passa a ter quando é oxidada, tornando se hemateína. A hemateína é um corante de tonalidade azul que pode ser considerado o mais importante dos corantes naturais. A eo- sina é um corante ácido, de tonalidade avermelhada. - Tricrómio de Masson: Permite que as fibras de colagénio co- rem de maneira diferente das fibras musculares pelo que é ex- tremamente útil no domínio da histopatologia. - Colorações monocromáticas: São denominadas monocromá- ticas, pelo facto de nelas se usar apenas um corante básico (ex: tionina, azul de toluidina e azul de Unna). São muito uteis para estudar o citoplasma de neurónios, particularmente para evidenciar os corpúsculos de Nissl (aglomerados de RER e ribossomas que, juntamente com os núcleos, adquirem cor violeta ou azul). - Corantes neutros: Possuem moléculas em que tanto o radical ácido como o básico tem atividade corante. O eosinato de azul de metileno (precipitado: sal) é insolúvel em água, mas, solúvel em metanol. Contudo, este sal dissolvido nesse álcool dissocia-se parcialmente na presença de água, originando iões ácidos (ele- tronegativos) e iões básicos (eletropositivos). Romanowsky: As misturas de tipo Romanowsky possuem capacidade não só para evidenciar estruturas neutrófilas, acidó- filas e basófilas, mas também para revelar estruturas azurófilas; isto é, afins aos azures (como, por exemplo, as granulações inespecíficas de leucócitos). São exemplos de misturas de tipo Romanowsky: o corante de Wright e o corante de Leishman. Dado que possuem metanol, as misturas além de corantes também são fixadoras. - Corantes indiferentes: coram os lípidos não através de reação química, mas por afinidade física (isto é, limitam-se a dissolver neles, face à sua li- possolubilidade). As gorduras insaturadas reduzem o tetróxido de ósmio (OsO4) com a formação de compostos de cor preta que contêm ósmio ou o seu hidróxido. - Impregnações metálicas: Os métodos de impregnação metálica consistem essencialmente em provocar precipitados metálicos no interior dos tecidos, na sequência da redução de sais de prata (e de outros metais, como Os e Au). Métodos: de Bielschowsky,estudo Eosina (corante ácido) Azul de metileno (corante básico) NaCl e Eosinato de azul de metileno Eosinato de azul de metileno Vermelho de azul de metileno Azur de metileno+roxo de metileno Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 4 dos neurónios; do carbonato de prata amoniacal de Rio-Hortega, estudo de células da glia; Técnica de Go- mori, estudo das fibras reticulares do tecido conjuntivo. - Fucsina-resorcina de Weigert: Técnica de coloração que, utilizando a fucsina bá- sica, põe em destaque as fibras elásticas, as quais coram de violeta escuro. - Técnicas histoquímicas: • PAS (periodic acid-Schiff), identificação de estruturas com glicoproteínas neutras; • Reação de Pearls: deteta a presença de ferro (como Fe3+) que dentro das células forma complexos com uma proteína de ligação formando hemosside- rina. É produzido um composto azul insolúvel de ferrocianeto férrico (azul da Prússia). - Técnicas himunohistoquímicas/imunocitoquímicas: lidam com reações de tipo antigénio-anticorpo, são muito específicas sendo as que, inequivocamente, permitem identificar e localizar uma determinada subs- tância produzida por uma célula. Utilização de um anticorpo específico para um produto que se quer carac- terizar (o antigénio), anticorpo esse a que se liga uma substância marcadora que não altere a sua capacidade para se combinar com o antigénio. 0.5. Observação 0.5.1. Desidratação Passagem das lâminas por banhos de álcool de concentrações crescentes. 0.5.2. Montagem Utiliza-se um meio de montagem (ex: Entellan) cujo índice de refração ao secar é próximo ao do vidro em que é feita a lamela. 1. Epitélios de Revestimento 1.1. Introdução 1.1.1. Introdução aos tecidos do organismo Existem 4 tipos de tecidos básicos: • Tecido epitelial: formado por células que revestem superfícies e que segregam moléculas. Tem pouca matriz extracelular (MEC). Função de revestimento e secreção. Avascular. • Tecido conjuntivo: caracterizado por uma grande quantidade de matriz extracelular que é produzida pelas suas próprias células. Função de apoio e proteção. • Tecido muscular: formado por células alongadas capazes de encurtar o seu comprimento (contração). Função de movimento. • Tecido nervoso: composto por células com longos prolongamentos emitidos pelo corpo celular que têm as funções especializadas em receber, gerar e transmitir impulsos nervosos. A maioria dos órgãos é constituída por dois componentes: o parênquima, composto pelas células respon- sáveis pelas funções típicas do órgão, e o estroma, que é o tecido de sustentação representado quase sem- pre pelo tecido conjuntivo. 1.1.2. Definição O tecido epitelial tem origem em 3 folhetos germinativos: ectoderme, mesoderme e endoderme: Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 5 1.1.3. Funções As principais funções são as de revestimento e secreção: revestimento de superfícies internas ou externas de órgãos ou do corpo como um todo (p. ex., na pele). Esta função está quase sempre associada a outras importantes atividades dos epitélios de revestimento, tais como proteção, absorção de iões e de moléculas (p. ex., nos rins e intestinos), perceção de estímulos (p. ex., o neuroepitélio olfatório e o gustativo). Outra importante atividade do tecido epitelial é a secreção, seja por células de epitélios de revestimento seja por células epiteliais que se reúnem para constituir estruturas especializadas em secreção que são as glândulas. Algumas células epiteliais, como as células mioepiteliais, são capazes de contração. Tudo o que entra ou sai do corpo deve atravessar o folheto epitelial. 1.1.4. Células Os epitélios são constituídos por células poliédricas, isto é, células que têm muitas faces. Estas células são justapostas, e, entre elas, há pouca substância extracelular. As células epiteliais geralmente aderem firme- mente umas às outras por meio de junções intercelulares. O facto de muitas vezes não se perceber o limite de cada célula ao microscópio deve se ao facto de as células criarem múl- tiplas invaginações. Para além destas caraterísticas, as células do epitélio apresentam polaridade, uma vez que os organelos não estão distribuídos nos mesmos sítios (por exemplo, o núcleo tem forma caraterística depen- dendo se a célula é alongada ou achatada). Praticamente todos os epitélios estão apoiados sobre tecido conjuntivo. No caso dos epitélios que revestem as cavidades de órgãos ocos, esta ca- mada de tecido conjuntivo recebe o nome de lâmina própria. A porção da célula epitelial voltada para o tecido conjuntivo é denominada porção basal ou polo basal, enquanto a extremidade oposta, geralmente voltada para uma cavidade ou espaço, é denominada porção apical ou polo api- cal. 1.1.5. Membrana basal Entre as células epiteliais e o tecido conjuntivo subjacente há uma delgada lâmina de moléculas. Esta é constituída por duas laminas: a basal e a reticular (fibras responsáveis pelas ligações da célula ao tecido). Esta estrutura só deve ser visível ao microscópio eletrónico (está no limite de resolução do microscópio ótico). Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 6 A lâmina basal prende-se ao tecido conjuntivo por meio de fibrilas de ancoragem constituídas por colagénio tipo VII. Os componentes das lâminas basais são segregados pelas células epiteliais, musculares, adiposas e de Schwann. As laminas basais têm várias funções: promover a adesão das células epiteliais ao tecido con- juntivo subjacente; filtrar moléculas; influenciar a polaridade das células; regular a proliferação e a diferen- ciação celular, organizar as proteínas nas membranas e servir como caminho e suporte migração de células. O nome membrana basal é usado para denominar uma camada situada abaixo de epitélios, visível ao mi- croscópio de luz e que se cora pela técnica PAS. 1.1.6. Especializações da superfície basolateral das células epiteliais As membranas laterais de muitos tipos de células epi- teliais exibem várias especi- alizações que consistem em junções intercelulares. Es- tas servem não só como lo- cais de adesão, mas eventu- almente também como ve- dantes e ainda podem ofe- recer canais para a comuni- cação entre células adjacen- tes. • Interdigitações: es- truturas associadas à mem- brana plasmática que con- tribuem para a coesão e co- municação entre as células. • Junções de oclusão: junções impermeáveis, costumam ser as junções mais apicais e vedam o espaço intercelular. Formam-se através da junção de folhetos externos de membranas adjacentes, que é feita em locais salientes dos folhetos. A quantidade de zonas de fusão tem correlação com a permeabilidade do epitélio. • Junções de adesão: esta junção circunda a célula toda e contribui para a aderência entre células adja- centes. Uma caraterística importante desta junção é a inserção de numerosos filamentos de actina em placas de material eletrão-denso contidas no citoplasma subjacente à membrana de junção. • Desmossoma: ou mácula de adesão, são estruturas complexas, em forma de disco, contidas na superfície da célula e que são sobrepostos a estruturas idênticas observáveis na superfície da célula adjacente. Os semicírculos (placas de a ancoragem, contêm principalmente caderinas) são unidos por proteínas trans- membranares (promovem uma adesão firme). Ao conjunto da zónula de oclusão e da zónula de adesão que circunda toda a parede lateral da região apical de muitos tipos de células epiteliais dá-se o nome de complexo unitivo. Membrana Basal Lamina Basal L. Lúcida (Integrinas e laminas) L. Densa (colagénio tipoo IV) Lamina reticular (colagénio tipo III) Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 7 a b c • Hemidesmossomas: podem ser encontrados na região de contato entre alguns tipos de células epiteliais e a sua lâmina basal. Estas junções têm a estrutura de metade de um desmossoma e prendema célula epitelial à lâmina basal. As placas de ancoragem contêm sobretudo integrinas. • Junções comunicantes: ou de hiato, podem existirem qualquer local das membranas laterais das células epiteliais, tornam possível a comunicação entre células e, portanto, troca de material. 1.1.7. Especializações da superfície apical das células epiteliais A superfície livre de muitos tipos de células epiteliais apresenta modificações com a função de aumentar a sua superfície ou mover partículas. • Microvilosidades: pequenas projeções no citoplasma. No seu interior existem filamentos de actina ligados ao citoesqueleto. O epitélio é coberto por glico- cálice (protege a célula contra agressões físicas e químicas), sendo que este é mais espesso quanto maior a absorção na superfície apical. Existem 3 tipos de microvilosidades: a) Prato estriado b) Bordadura em escova c) Estereocílios • Cílios e Flagelos: estruturas dotadas de movimento, com maior comprimento que as microvilosidades. Estrutura dos flagelos é análoga à dos cílios, porém são mais longos e limitados (1 por célula). 1.2. Classificação dos epitélios Os epitélios são classificados de acordo com o número de camadas de células que constituem folhetos epiteliais e conforme as caraterísticas morfológicas das células. Quanto às camadas: simples (só 1); estratificado (mais do que 1); pseudoestratificado (só tem 1, porém dá a ideia de estratificação); transição (específico das vias urinárias). Quanto à forma das células: pavimentoso (largura maior que altura, achatadas, núcleos alongados); cú- bico (largura e altura iguais, núcleos esféricos); colunar (altura maior que largura). Classificação Locais Típicos Funções principais Simples Pavi- mentoso - Endotélio (sistema vascular); - Mesotélio (cavidades corpo- rais); - Cápsula de Bowman (rim); - Espaços respiratórios no pul- mão. - Trocas; - Barreira; - Lubrificação. Simples Cúbico - Tubos pequenos de glândulas exócrinas; - Superfície do ovário; - Túbulos dos rins; - Folículos da tiroide. - Absorção; - Condução; - Barreira; - Secreção. Simples Colu- nar (pode ter prato estriado) - Intestino delgado; - Cólon; - Forro do estomago e glându- las gástricas; - Vesícula biliar. - Absorção; - Secreção. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 8 Pseudoestrati- ficado - Traqueia; - Arvore brônquica; - Canal deferente; - Canais eferentes do epidí- dimo. - Secreção; - Condução; - Absorção. Estratificado Pavimentoso (queratinizado ou não querati- nizado) - Epiderme; - Cavidade oral; - Esófago; - Vagina. - Barreira; - Proteção. Estratificado cúbico - Canais das glândulas sudorípa- ras; - Canais largos das glândulas exócrinas; - Junção anorretal. - Barreira; - Condução. Estratificado colunar (vê-se pela ca- mada de cima) - Canais largos das glândulas exócrinas; - Junção anorretal. - Barreira; - Condução. Transição - Cálices renais; - Ureteres; - Bexiga; - Uretra. - Barreira; - Propriedade distensí- vel. Notas: - Serosas: Constituídas por duas membranas (interna: visceral; externa: parietal), com líquido entre elas (diminui os choques). São exemplos a pleura e o peritoneu. É sempre revestida por epitélio simples pavimentoso (mesotélio). - Urotélio: epitélio de transição estratificado, aspeto arredon- dado (células guarda-chuva, cúpula redonda) podem ser binu- cleadas. 2. Epitélios Glandulares 2.1. Introdução As células epiteliais glandulares podem sintetizar, armazenar e eliminar proteínas (ex: pâncreas), lípidos (ex: glândulas sebáceas) ou complexos de carboidrato e proteínas (ex: glândulas salivares); as glândulas mamárias todos os três tipos de substâncias. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 9 As glândulas são sempre formadas a partir de epitélio de revestimento cujas células proliferam e invadem o tecido conjuntivo subjacente, sofrendo depois diferenciação adicional. 2.2. Classificação das glândulas Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 10 Os epitélios que constituem as glândulas do corpo podem ser classificados de acordo com vários critérios. - Quanto ao número de células, maior parte das glândulas é multicelular, mas também existem glândulas unicelula- res como é o caso da célula caliciforme (encontrada no re- vestimento do intestino delgado ou do respiratório). - Quanto à integridade celular: • Merócrinas: a secre- ção acumulada em grãos de secreção é libertada pela célula por meio de exocitose, sem perda de outro material celular (ex: pâncreas). • Holócrinas: o produto de secreção é eliminado juntamente com toda a célula, processo que envolve a destruição da célula. Estas glândulas são responsáveis pelo odor, derivado da oxidação dos lípidos e putrefação da célula. • Apócrinas: o produto de secreção é descarregado junto com peque- nas porções do citoplasma apical (ex: glândulas mamárias). Perda parcial de integridade. - Quanto à posição: podem ser super- ficiais ou profundas. - Quanto ao destino do produto de secreção: • Endócrinas: para dentro. Na formação destas glândulas, a conexão com o epitélio é obliterada e reab- sorvida durante o desenvolvimento, isto é, não apresentam ducto excretor; as suas excreções são lan- çadas no sangue e transportadas para o seu local de ação pela corrente sanguínea. As glândulas endó- crinas podem ainda ser classificadas como: vesiculares, as células formam vesículas ou folículos preen- chidos de material segregado (ex: tiroide); cordonais, as células formam cordões, entermeados por ca- pilares sanguíneos (ex: adrenal); difusas, estão espalhadas (ex: células de Leydig). • Anficrina: pata dentro e para fora. Aficrinia glandular: órgãos que têm funções tanto endócrinas como exócrinas. Por exemplo, no pâncreas, as células acinosas segregam enzimas digestivas na cavidade in- testinal, enquanto as células das ilhotas de Langerhans segregam insulina e glucagon no sangue. Anficri- nia celular: o fígado, as células podem funcionar de ambas as maneiras. • Exócrina: para fora. Estas glândulas mantêm a sua conexão com o epitélio do qual se originaram que se denomina por ducto ou tubo excretor constituído por células epiteliais e através da qual as secreções são eliminadas, alcançando a superfície do corpo ou cavidade. Têm sempre duas porções: uma porção secretora (constituída por células responsáveis pelo processo secretório) e ductos excretores (que Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 11 transportam a secreção eliminada pelas células). As glândulas exócrinas podem ainda ser classificadas por outros critérios: ▪ Canal excretor: as glândulas simples têm somente um ducto, enquanto as compostas têm duc- tos ramificados (em corte transversal de uma glândula composta, costuma observar-se “figuras em 8”). ▪ Porção secretora: (adenómero), as glândulas podem ter adenómeros não ramificados ou rami- ficados (nestes, encontram-se adenómeros mais próximos uns dos outros). ▪ Forma do adenómero: as glândulas simples podem ser tubulares (cuja porção secretora tem o formato de um tubo), tubulares enoveladas, tubulares ramificadas ou acinosas (cuja porção se- cretora é esférica ou arredondada). As glândulas compostas podem ser tubulares, acinosas ou mistas tubuloacinosas ▪ Natureza do produto: O produto de secreção pode ser organizado (citogénico) ou não organi- zado (serosas, mucosas ou mistas). As unidades secretoras de algumas glândulas (mamárias, sudoríparas e salivares) são envolvidas por células mioepiteliais, células ramificadas que contêm miosina e um grande número de filamentos de actina. São capazes de contração, agindo na expulsão da secreção dessas glândulas. As grandes glândulas multicelulares normalmente são envolvidas poruma cápsula de tecido conjuntivo; prolongamentos da cápsula chamados septos dividem a glândula em porções menores chamadas lóbulos. Vasos sanguíneos e nervos penetram a glândula e subdividem-se no interior dos septos. Muitos dos ductos maiores das glân- dulas também passam pelos septos. 2.2.1. Ácinos Serosos Os ácinos serosos são pequenas porções secretoras formadas por células co- lunares ou piramidais (forma triangular). Apresentam um lúmen bastante re- duzido, o qual se continua por um ducto excretor. Os núcleos das células Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 12 acinosas são arredondados e situam-se na porção basal da célula. A região basal das células contém muito RNA (cora bem com hemateína). Enquanto a região apical é ocupada por grãos de secreção (corados de rosa pela eosina). Parte basal-roxo; parte apical-rosa. Têm uma polaridade bem definida. 2.2.2. Túbulo mucoso Os túbulos mucosos são estruturas tubulares com um lúmen dila- tado que se prolonga num ducto externo. As células são largas e ge- ralmente piramidais e os núcleos (têm cromatina condensada e co- ram facilmente com hemateína) ficam dilatados contra a base da cé- lula (a secreção é espessa). Ao contrário das células acinosas, o seu citoplasma é pouco corado, em azul claro. 2.2.3. Glândula mista Algumas moléculas são formadas tanto por ácinos serosos como por túbulos mucosos. 2.2.4. Biologia dos tecidos epiteliais - Polaridade: a distribuição de organelos na porção de citoplasma apoiada na lamina basal é diferente dos organelos encontrados no citoplasma da porção apical. O que significa que diferentes partes das cé- lulas possam ter diferentes funções e a própria membrana plasmática pode ter composição mole- cular diferente nos diferentes polos. - A área de contacto entre o epitélio e lamina pró- pria pode ser aumentada pela existência de uma interface irregular entre os dois tecidos, sob forma de in- vaginações do conjuntivo, chamadas papilas. - As glândulas são sensíveis tanto ao controlo nervoso como endócrino, sendo que geralmente um predo- mina sobre o outro. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 13 - Célula caliciforme: glândula unicelular encontrada no revestimento do intestino delgado ou do respiratório. Segrega muco para o lúmen de orgãos ocos tais como o intestino. É constituida pela tecav (vesículas com o que secreta- mucinogénio)e pelo pé (onde se encontra o núcleo e outros organelos). O mucinogénio é convertido em mucina quando hidratado sendo um dos componentes principais do muco. A célula caliciforme é PAS positiva (glicoproteínas do muco). 2.3. Sistema APUD Pearse (1961) defendia a sua origem a partir da crista neural. Substituída pela te- oria da origem difusa, a partir de células tronco multipotentes com implantação em vários locais. Este sistema foi inicialmente conhecido como APUD (Aminer Precursor Uptake Descarboxylation). Fazem secreção parácrina de norepinefrina ou se- rotonina. Existem cerca de 35 tipos diferentes numa grande varie- dade de tecidos. Tem pouco RER e muito REL, possui ribossomas li- vres e tem grânulos secretores delimitados por membrana. 3. Tecido Conjuntivo 3.1. Origem e função O tecido conjuntivo tem origem na mesoderme e, ao contrário dos restantes tecidos, é constituído maiori- tariamente por matriz extracelular em vez de células. Tem variadas funções como a sustentação, proteção, preenchimento, armazenamento, troca de metabolitos, função sensitiva, proteção contra a infeção e repa- ração. O tecido conjuntivo divide-se em dois: células e matriz, que por sua vez se divide em fibras (de 3 tipos), componente amorfo e plasma intersticial. 3.2. Classificação Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 14 Há diversas variedades de tecidos conjuntivos, os nomes dados refletem o componente predominante ou a organização estrutural do tecido. 3.2.1. Tecido conjuntivo propriamente dito - Tecido conjuntivo laxo: (fraco e translucido) suporta estruturas normalmente sujeitas a pressão e atritos pequenos, preenche espaços entre grupos de células musculares, suporta células epiteliais e forma camadas em torno dos vasos sanguíneos. É também encontrado nas papilas da derme, na hipoderme, nas membranas serosas que revestem as cavidades peritoneais e pleurais e nas glândulas. Contém todos os elementos estruturais típicos do tecido conjuntivo, não havendo predominância de qualquer um dos componentes. As células mais númerosas são os fibroblastos e macrófagos, mas to- dos os outros tipos celulares do tecido conjuntivo também estão presentes, além de fibras dos sistemas colagénio e elástico. O tecido conjuntivo laxo tem uma consistência delicada, é flexivel, bem vascularizado e não muito resistente a trações. Este tecido ainda se pode dividir em ordenado (lameloso) e não-ordenado (2D ou 3D). - Tecido conjuntivo denso: (forte e rígido) é adaptado para oferecer re- sistência e proteção aos tecidos. É formado pelos mesmos componen- tes encontrados no tecido conjun- tivo laxo, entretanto, existem me- nos células e uma clara predomi- nância de fibras de colagénio. Este tecido é menos flexível e mais re- sistente à tensão que o laxo. O tecido denso também se subdivide em ordenado (aponevrótico (plantas dos pés e mãos) e tendinoso (nos tendões, estruturas alongadas e cilíndricas que conectam os músculos estriados aos ossos)), que apresenta feixes de colagénio paralelos uns aos outros alinhados com fibroblastos; e não-ordenado (fibroso), onde as fibras de colagénio são organizadas em feixes sem uma orientação definida. 3.2.2. Tecidos com propriedades especiais - Predominância de fibras: • Tecido elástico: é composto por feixes espessos e paralelos de fibras elásticas. O espaço entre as fibras é ocupado por fibras finas de colagénio e fibrócitos. A abundância de fibras elásticas neste tecido confere-lhe uma cor amarela típica e grande elasticidade. • Tecido reticular: é muito delicado, forma uma rede tridimensional que suporta as células de alguns órgãos. É constituído por fibras reticulares intimamente associadas a fibroblastos especializados, chamados de células reticulares (estão dispersas ao longo da matriz). - Predominância de células: tecido condroide, tecido pigmentar. - Tecido mucoso: tem consistência gelatinosa graças à preponderância de substância fundamental com- posta predominantemente de ácido hialurónico com pouquíssimas fibras. As principais células desse tecido são os fibroblastos. O tecido mucoso é o principal componente do cordão umbilical, no qual ele é referido como geleia de Wharton. Encontra-se também na polpa jovem dos dentes. Laxo ordenado (tecido lameloso) Laxo não-ordenado (membranoso) Denso ordenado (tendinoso) Denso ordenado (aponevrótico) Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 15 3.3. Células do conjuntivo (Residentes) Os tecidos conjuntivos apresentam diversos tipos de células com diferentes origens e funções. Os tecidos embrionários são o mesenquima (informe, pode originar vários tipos celulares) e o tecido mucoso. Ambos são tecidos indife- renciados. Do mesenquima, originam-se, por exemplo, os fibroblastos. 3.3.1. Fibroblastos Fibroblastos, são as células mais comuns do tecido conjuntivo, têm capacidade de modu- lar a sua capacidade metabólica, o que re- flete na sua morfologia. Estes sintetizam proteínas de colagénio e elastina envolvidas em fatores de crescimento mais comuns do tecido conjuntivo. - Os fibróblastos produzem muita matriz extracelular, apresentam um núcleo grande, com nucléolo bastante evidente (fracamente corado) e citoplasma abundade e basófilo. Distinguem-se dos outros por apresentarem mais prolongamentos citoplasmáticos, RER, complexo de Golgi mais desenvolvido, maior quantidade de mitocondrias e gotículas de lípidos. - Os fibrócitos apresentam menor atividade, são células mais alongadas com menos projeções, e mais pequenas que os fibroblastos.Apresentam ainda um núcleo mais pequeno, alongado e escuro. 3.3.2. Macrófagos Os macrófagos têm características morfológicas muito variáveis que de- pendem de seu estado de atividade funcional e do tecido que habitam. São caraterizados por apresentarem superfície irregular com protusões e reentrâncias que caraterizam a sua grande atividade de pinocitose e fago- citose. Geralmente, contêm um complexo de Golgi bem desenvolvido, muitos lisossomas e RER proeminente. Os macrófagos derivam de células precursoras da medula óssea que se dividem, produzindo os monócitos, os quais circulam no sangue, que numa segunda etapa penetram no tecido conjuntivo, onde sofrem maturação e se transformam em macrófagos. Os macrófagos atuam como elemento de defesa (atividade fagocitária) mas também são células secretoras de substâncias que participam na defesa e reparo dos tecidos. Os macrófagos estão distribuídos na maioria dos órgãos e constituem o sistema fagocitário mononuclear. Quando o que é necessário remover é difícil ou muito grande, podem-se fundir e dar origem a células gigantes de corpo estranho ou agrupar-se em células epiteliais mais células gigantes de Langerhans. Em algumas regiões, os macrófagos recebem nomes especiais, por exemplo, células de Kupffer no fígado, micróglia no sistema nervoso central, células de Langerhans na pele, e osteoclastos no tecido ósseo. 3.3.3. Plasmócitos Os plasmócitos são células grandes e ovoides que contêm um citoplasma basófilo que reflete sua riqueza em RER, o complexo de Golgi e os centrí- olos localizam-se numa região próxima do núcleo (esférico, com grumos de cromatina), a qual aparece pouco corada. Os plasmócitos são pouco numerosos no tecido conjuntivo normal, exceto nos locais sujeitos à penetração de bactérias e proteínas estranhas, como a mucosa intestinal. Uma vez que os plasmócitos são células derivadas dos linfócitos B, são responsáveis pela síntese de anticorpos, isto é, glicoproteínas da família das imunoglobulinas, produzidas em resposta à penetração de moléculas estranhas ao organismo. 3.3.4. Mastócitos São amplamente distribuídos pelo corpo, porém são particularmente abundantes na derme e nos tratos di- gestivo e respiratório. Os mastócitos imaturos circulam no sangue, cruzam a parede dos vasos sanguíneos e penetram nos tecidos onde proliferam e se diferenciam. O mastócito maturo é uma célula globulosa, gran- Células mesenquimatosas (indiferenciadas) Fibroblastos (F) Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 16 de e com citoplasma repleto de grânulos que coram intensamente. O núcleo é pequeno, esférico, central e de difícil observação. A principal função é a produção e libertação de mediadores químicos de resposta inflamatória, como histamina e ou heparina, que ficam ar- mazenadas nos grânulos (metecromáticos). A sua superfície contém re- cetores específicos para a imunoglobulina E, libertada pelo linfócito B aquando de um primeiro encontro com um certo antigénio; quando existe um segundo encontro, os mastócitos são responsáveis pela rea- ção alérgica, libertando histamina que causa a contração do músculo liso nos brônquios. A heparina tem ação anticoagulante. Em casos ex- tremos pode ocorrer choque anafilático. 3.3.5. Leucócitos Em situações normais, os tecidos conjuntivos contêm leucócitos vindos do sangue, que atravessam os vasos por diapedese. No entanto, como são células especializadas na defesa, o seu número aumenta muito quando os tecidos são invadidos por microrganismos. A inflamação do te- cido é devida ao aumento da permeabilidade vascular (devido à histamina, o que provoca calor, edema e vermelhidão) e à quimiotaxia, isto é, fenó- meno pelo qual tipos específicos de células são atraídas por moléculas. A dor deve-se à ação de mediadores químicos nas terminações nervosas. Os leucócitos não voltam ao sangue depois de terem residido no tecido conjuntivo, com exceção dos linfócitos. 3.3.6. Adipócitos Células adiposas são células do tecido conjuntivo que se tornaram especializadas no armazenamento de energia na forma de triglicerídeos (gorduras neutras). 3.4. Componente amorfo É uma mistura complexa de substâncias, rica em Na+ e água de solvatação, quimicamente ligada a proteínas de estrutura complexa. Preenche os espaços entre as células e as fibras do tecido conjuntivo e, como é viscoso, atua como lubrificante e como barreira à penetração de microrganismos invasores. É constituído essencialmente por glicosaminoglicanos (GAGs) (substância mais abundante no componente amorfo), pro- teoglicanos e glicoproteínas: • GAGs: (mucopolissacarídios ácidos) são polímeros lineares formados por unidades repetidas dissaca- rídicas em geral compostas de ácido urónico e de uma hexosamina (pode ser a glicosamina ou a ga- lactosamina). • Proteoglicanos: GAGs sulfatados ligados por covalência ou proteínas. Além de atuarem como compo- nentes estruturais da matriz, tanto os proteoglicanos de superfície como aqueles da matriz extrace- lular ligam-se também a fatores de crescimento. De acordo com a sua composição molecular e localização, é vulgar denominar os proteogli- canos por nomes específicos (ex: Agrecana, na cartilagem). Estão constantemente a ser degradados e sintetizados. • Glicoproteínas: compostos de proteínas ligadas a cadeias de glícidos. Ao contrário dos proteoglicanos, nestas moléculas predomina o com- ponente proteico. Desempenham um papel importante na interação entre células adjacentes e ajudam as células a aderir aos substratos. 3.5. Plasma intersticial Idêntico ao plasma sanguíneo em conteúdo de iões e substâncias difusíveis. Água e nutrientes saem devido à pressão hidrostática nas artérias e entram à pressão osmótica nas veias. Glicoproteína Proteoglicano Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 17 3.6. Fibras As fibras do tecido conjuntivo são formadas por proteínas que se polimeri- zam formando estruturas muito alongadas. Os três tipos principais de fibras do tecido conjuntivo são as de colagénio, as reticulares e as elásticas, em que as duas primeiras são constituídas por colagénio e a terceira por elastina. Em muitos casos, as características morfológicas e funcionais dos tecidos são da- das pelo tipo predominante de fibra neles presentes, que confere as proprie- dades específicas ao tecido. 3.6.1. Fibras de colagénio Os vários tipos de colagénio (a molécula unidade de colagénio, tropocolagénio, tem 3 cadeias polipeptícas (alfa)) são encontrados na pele, no osso, na cartilagem, no músculo liso e na lamina basal, sendo que o colagénio é a proteína mais abundante do organismo e é acidófila (cora de rosa com H&E). De acordo com a sua estrutura e função, os colagénios são classificados nos seguintes grupos: • Colagénios que formam longas fibrilas: tipo I, II (cartilagem hialina e elástica), III (fibras reticulares), V ou XI. O colagénio I é o mais abundante sendo amplamente distribuído no organismo. • Colagénios associados a fibrilas: são estruturas curtas que ligam as fibras de colagénio umas às outras e a outros componentes da matriz extracelular. Tipo IX, XII e XIV. • Colagénios que formam rede: tipo IV, um dos principais constituintes das laminas basais, desempe- nhando o papel de aderência e filtração. • Colagénios de ancoragem: do tipo VII e é encontrado nas fibrilas que ancoram as fibras de colagénio tipo I à lamina basal. A síntese de colagénio é realizada por células do conjuntivo como os fi- broblastos e os condrócitos. Os principais aminoácidos são a glicina (33,5%) e a hidroxiprolina (10%); alguns aminoácidos como a hidroxipro- lina e a hidroxilisina são caraterísticos do colagénio. - As fibras de colagénio tipo I (tripla hélice) são as mais numerosas no tecido conjuntivo. São birrefringentes (dupla refração) em microscopia de polarização, pois são constituídas por moléculas alongadas arranjadas paralelamente umas às outras, formando feixes. Ao microscópio são aci- dófilas corandode rosa pela eosina, azul pelo tricrómio de Mallory, verde pelo tricrómio de Masson e em vermelho pelo vermelho de Sírio. A renovação do colagénio é em geral muito lenta (ex: tendões). Para ser renovado, primeiro tem de ser de- gradado por colagenases. 3.6.2. Fibras elásticas O sistema elástico é composto por 3 tipos de fibras: oxitalânica (100% de microfibrilas), elauninica (poucas microfibrilas) e elástica. Numa primeira fase, as fibras oxitalânicas são formadas por microfi- brilas compostas por glicoproteínas como a fibrilina. No segundo está- gio de desenvolvimento, ocorre deposição de elastina entre as micro- fibrilas, formando as fibras elaunicas (encontradas ao redor de glându- las sudoríparas e na derme). Finalmente, a elastina continua a acumu- lar-se no centro do feixe de microfibrilas, compondo as fibras elásti- cas, encontradas nas orelhas, pele e vasos sanguíneos perto do coração. As principais células produtoras de elastina são os fibroblastos e músculo liso dos vasos sanguíneos. A elastina é rica em glicina e prolina, esta contém 2 aminoácidos incomuns (desmosina e isodesmosina) for- mados por ligações covalentes entre 4 resíduos de lisina. Vermelho de Sírio Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 18 3.6.3. Fibras reticulares As fibras reticulares (classicamente conhecidas por reticulina), são formadas por colagénio tipo III associado a um elevado teor de glicoproteínas e proteoglicanos, contendo um alto conteúdo hexoses (cerca de 12% em comparação a 1% de fibras de colagénio). São extremamente finas, formando uma rede extensa em determinados órgãos. Constituem redes em redor de células de órgãos parenquimatosos como as glândulas en- dócrinas e uma rede flexível em órgãos que são sujeitos a mudanças fisio- lógicas de forma ou volume (ex: artérias, fígado, baço). Estas fibras não são visíveis em preparados corados pela H&E, mas podem ser visualiza- das em cor preta por impregnação com sais de prata. Coram de verde pelo vermelho de Sírio e são PAS- positivas. 4. Tecido Adiposo e Cartilagem 4.1. Tecido Adiposo O tecido adiposo é um tipo especial de conjuntivo no qual se observa predominância de células adiposas (adipócitos). Estas células podem ser encontradas isoladas ou em pequenos grupos no tecido conjuntivo la- xo, porém a maioria delas forma grandes agregados, constituindo o tecido adiposo distribuído pelo corpo. Constitui o maior reservatório energético do organismo (triglicéridos), têm ainda outras funções como: preenchimento de espaços; suporte mecânico; isolamento térmico; formação de almofadas amortecedoras de choques; produção de calor e despertar do sono hibernal; modelação de superfície corporal. O tecido adiposo tem também atividade secretora, sintetizando diversos tipos de moléculas. Como o tecido adiposo modela a superfície corporal, é responsável pelas diferenças entre mulher e homem: • Disposição condroide: num homem de peso normal, existe numa percentagem de 15 a 20%. Situado no abdómen, glúteos e coxas. • Disposição ginóide: numa mulher de peso normal, existe numa percentagem de 20 a 25%. Situado nas mamas, glúteos e coxas. 4.1.1. Processamento A amostra pode ser fixada através de fixação física pelo frio (criofixação, para se poderem ver os lípidos), sendo feitos depois cortes (através de um micrómetro) e por fim ser corada (corantes indiferentes, coram os lípidos por afinidade física, ou seja, por lipossubilidade). Pode ser feita, no entanto, uma pré-fixação com tetróxido de ósmio (as gorduras insaturadas reduzem o tetróxido de ósmio (Os04) com a formação de com- postos de cor preta que contêm ósmio ou o seu hidróxido). Existem duas variedades de tecido adiposo: o adiposo comum ou unilocular (gordura branca), cujas células completamente desenvolvidas têm um a gotícula de gordura que ocupa todo o citoplasma e o adiposo mul- tilocular (gordura castanha), formado por células com numerosas gotículas lipídicas e muitas mitocôndrias. 4.1.2. Tecido adiposo unilocular Praticamente todo o tecido adiposo encontrado em adultos humanos é do tipo unilocular, sendo a sua acu- mulação em determinados locais influenciada pelo sexo e idade do individuo. Este tecido forma uma camada disposta sob a pele, sendo uniforme por todo o corpo do recém-nascido. - Morfologia: A cor varia entre o branco e o amarelo, dependendo da dieta. Apresenta septos de conjuntivo que contêm vasos e nervos (muito vascularizado), dos septos partem fibras reticulares (colagénio III) que vão sustentar as células. As células são esféricas e poliédri- cas. O plasmalema da célula apresenta inúmeras vesí- culas de pinocitose. A envolver cada célula adiposa existe o glicocálice (matriz gelatinosa e nutritiva). - Metabolismo: O tecido adiposo unilocular também é um órgão secretor, sintetizando várias moléculas como Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 19 a leptina, que são transportadas pelo sangue e lípase proteica (que fica ligada à superfície das células endo- teliais dos capilares sanguíneos situados em volta dos adipócitos). A leptina é uma hormona proteica cons- tituída por 164 aminoácidos, esta molécula participa na regulação da quantidade de tecido adiposo no corpo e na ingestão de alimentos. A leptina atua principalmente no hipotálamo, diminuindo a ingestão de alimen- tos e aumentando o gasto de energia. • Deposição e mobilização dos lípidos: Os lípidos armazenados nas células adiposas são principalmente triglicerídeos, isto é, ésteres de ácidos gordos e glicerol. Os triglicerídeos armazenados originam-se da seguinte maneira: 1. Absorvidos da alimentação e trazidos até às células adiposas como triglicerídeos dos quilimicrões (partículas formadas por células epiteliais do intestino delgado, a partir dos nutrientes absorvidos). 2. Oriundos do fígado e transportados até ao tecido adiposo através de triglicerídeos constituintes das lipoproteínas de pequeno peso molecular (ou VLDL). 3. Da síntese nas próprias células adiposas, a partir da glicólise. Nos capilares sanguíneos do tecido adiposo as lipoproteínas são atacadas pela lípase lipoproteíca, liber- tando ácidos gordos e glicerol que se difundem para o adipócito onde formam triglicerídeos e são armaze- nados. As células adiposas podem sintetizar ácidos gordos e glicerol a partir de glicose, processo que é acelerado pela insulina. Esta hormona estimula também a penetração da glicose na célula adiposa. Quando é necessária, a hidrólise dos triglicerídeos é desencadeada principalmente pela norepinefrina (neurotrans- missor que ativa a lípase que hidrolisa os triglicerídeos novamente em glicerol e ácidos gordos que se difun- dem para o capilar, os ácidos gordos, quase insolúveis em água, ligam-se à porção hidrofóbica das moléculas de albumina e são transportados para outros tecidos, nos quais serão utilizados como fonte de energia). Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 20 - Controlo do apetite e obesidade: A leptina, se- cretada pelo tecido adiposo, atua principalmente no hipotálamo, diminuindo a ingestão de alimen- tos e aumentando o consume de triglicerídeos. A leptina é necessária para clivar a molécula percur- sora propiromelanocortina, o que permite a produ- ção de α-MSH. Níveis baixos desta hormona ativam as vias anoréxicas da melancortina estimulando a ingestão de alimentos. • Obesidade hipertrófica: aumenta o tamanho das células. • Obesidade hiperplástica: ou hipercelular, au- menta o número de células. 4.1.3. Tecido adiposo multilocular Este tecido também é denominado por gordura castanha devido à abundante vascularização e às numerosas mitocôndrias. Cujos citocromos têm uma cor acastanhada. - Morfologia: Mais esponjoso (devido às microgotículas), as suas células são menores que as do tecido unilocular e têm forma poligonal, contendo numerosas gotículas lipídicas no seu citoplasma. Ao contrário do unilocular, a distribuição do tecido multilocular é limitadalocalizando-se em áreas específicas, como este tecido não cresce, a sua quantidade num ser hu- mano adulto é extremamente reduzida. Neste tecido, as células formam um arranjo epiteloide, com massas compactas em associação com capilares sanguíneos. - Metabolismo: especializado na produção de calor (na espécie humana, a quantidade significativa deste te- cido num recém-nascido é significativa de termorregu- lação) estimulado pela norepinefrina, que acelera a oxi- dação dos ácidos gordos, produzindo calor em vez de ATP. Uma vez que as mitocôndrias apresentam na membrana interna uma proteína transmembranar de- nominada UCP1 que possibilita que os protões voltem para a matriz mitocondrial sem passarem pela ATP sin- tetase. Em consequência, a energia gerada pelo fluxo de protões não é usada para sintetizar ATP, sendo dis- sipada como calor. 4.2. Tecido Cartilagíneo O tecido cartilagíneo é uma forma especializada de te- cido conjuntivo de consistência rígida. Desempenha as funções: suporte dos tecidos moles; absorção de cho- ques; revestimento de superfícies articulares; facilita o deslizamento; essencial no crescimento de ossos lon- gos; é o primeiro esqueleto do embrião. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 21 4.2.1. Constituição Como os demais tipos de conjuntivo, o tecido cartila- gíneo contém células, os condrócitos, e abundante material extracelular, que constitui a matriz (basófila), formada por colagénio ou colagénio mais elastina, em associações com macromoléculas de proteoglicanos, ácido hialurónico e glicoproteínas. O componente amorfo é rico em glicosaminoglicanos acídicos. O tecido cartilaginoso não contém vasos sanguíneos, sendo nutrido pelos capilares do conjuntivo envol- vente pericôndrio (exceto as cartilagens articulares e fibrosas). O tecido cartilagíneo é também desprovido de vasos linfáticos e de nervos. • Pericôndrio: camada de tecido conjuntivo denso (camada fibrosa, mais afastada; camada condro- génica, mais perto) é responsável pela oxigenação, nutrição e eliminação de produtos do meta- bolismo da cartilagem, bom como constitui uma fonte de novos condrócitos. É formado por conjuntivo rico em fibras de colagénio tipo I na parte mais superficial, porém é gradativamente mais rico em células à medida que se aproxima da cartilagem. • Condrócitos: forma alongada, mas mais profundamente são arredondados e formam grupos isogénicos, pois as suas células são originárias de um mesmo condroblasto. As cavidades da matriz ocupadas pelos condrócitos são as lacunas (condroplastos). São células produtoras de matriz e, portanto, de colagénio (essecialmento tipo II), proteoglicanos e glicoproteínas. Como a condronectina. Assim, apresentam abundância de RER. Também pelo facto de as cartilagens serem desprovidas de capilares sanguíneos, as células vivem sob baixas tensões de oxigénio. 4.2.2. Crescimento O crescimento pode ser aposicional, por aposição a partir da periferia (a partir de células do pericôndrio ou intersticial, nos interstícios, isto é, por divisão mitótica dos condrócitos pré-exis- tentes. Este ultimo só ocorre nas primeiras fases de vida da cartilagem. 4.2.3. Tipos de cartilagem Conforme as diversas necessidades funcionais do organismo, as cartilagens diferenciam-se em 3 tipos: cartilagem hialina, que é a mais comum e cuja matriz contém delicadas fibrilas constituídas principalmente de colagénio tipo II; cartilagem elástica, que contém poucas fibrilas de colagénio tipo II e abundantes fibras elásticas; e cartilagem fibrosa, que apresenta matriz constituída preponderantemente por fibras de colagénio tipo I. - Cartilagem hialina: é o tipo de cartilagem mais frequente no corpo humano. A fresco, apresenta-se azul- acizentada (semi-translúcido), com aspeto de um gel firme (alto teor em água). Forma o primeiro esqueleto do embrião, que posteriormente é substituido por um esqueleto ósseo. No adulto, a cartilagem hialina é encontrada principalmente na parede das fossas nasais, traqueia e brônquios, na extremidade ventral das costelas e recobrindo as superfícies articulares dos ossos longos (articulações com grande mobilidade). Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 22 A cartilagem hialina é formada por fibrilas de colagénio tipo II associadas a ácido hialurónico, proteoglicanos muito hidratados e glicoproteínas. Outro componente importante da matriz da cartilagem hialina é a glico- proteína estrutural condronectina, uma macromolécula com sítios de ligação para condrócitos, fibrilas de colagénio tipo II e glicosarninoglicanos. - Cartilagem elástica: É semelhante à hialina, porém, além de colagénio tipo II, apresenta fibras elásticas. Apresenta pericôndrio e cresce, principalmemte, por aposição. A elastina confere a este tipo de cartilagem uma cor amarelada (a fresco), estas fibras podem ser vizualizadas corando-as com hematoxilina de Verhoeff, fuccina-resorcinada de Weigert e orceína de Unna-Taenza. Em comparação com a hialina, a apresenta me- nos matriz, sendo esta constituída por colagénio, elastina e componente amorfo (condromucóide). É menos sujeita a processos degenerativos do que a hialina. Pode ser encontrada: no pavilhão auricular, parede do canal auditivo externo; trompa de Eustáquio e epiglote. - Cartilagem fibrosa: é um tecido com caraterísticas intermediárias entre o conjuntivo denso e a cartilagem hialina. A fibro cartilagem está sempre associada a conjuntivo denso, sendo imprecisos os limites entre os dois. A matriz é acidófila, contém fibras de colagénio tipo I. Os condrócitos formam frequentemente formam frequentemente filas alongadas, o componente amorfo é escasso, limitado à proximidade das lacunas, formando cápsulas basófilas, metacromáticas e PAS-positivas. Neste tipo de cartilagem não existe pericô ndrio. A sua localização situa-se: nos discos intervertebrais; sínfise púbica; menisco da articulação do joelho; discos articulares, local de inserção de alguns ligamentos e tendões. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 23 5. Tecido Ósseo É o principal componente do esqueleto (uma pessoa adulta possui 206 ossos), serve de suporte para os tecidos moles e protege os órgãos vitais, aloja e protege a medula óssea, proporciona apoio aos músculos esqueléticos e amplia as forças geradas na contração muscular. Além disso, funciona como depósito de iões (ex: cálcio e fosfato), mantendo-os constantes nos líquidos corporais e absorvem toxinas e metais pesados. O tecido ósseo é um tipo especializado de conjuntivo formado por células e material extracelular calcificado, a matriz óssea. 5.1. Matriz óssea É composta por uma parte orgânica (35% em peso fresco), constituída por fibras de colagénio essencial- mente tipo I (a sua organização origina a birrefringência, confere tensão e união) e componente amorfo (proteoglicanos, osteocalcina, osteonectina, entre outros) e por uma parte inorgânica (65% em peso seco) constituída por depósitos de fosfato de cálcio similares a cristais de hidroxiapatita e outros iões como o citrato e o carbonato. A matriz mineralizada torna o tecido ósseo difícil de ser cortado no micrótomo, logo utilizam-se as técnicas de desgaste (não preserva as células) e de descalcificação (é retirada a parte mineral do osso com solução ácida) do tecido ósseo após a sua fixação, de modo a que as células possam ser estudadas. 5.2. Tipos de ossos - Ossos longos: a dimensão predominante é o comprimento e o osso é espesso. Ex: fémur, tíbia. - Ossos curtos: não há uma dimensão que, ni- tidamente, predomine sobre as outras. Ex: ossos cárpicos. - Ossos planos: a superfície é grande, mas a es- pessura é pequena. Ex: ossos ilíacos, abóbada craniana. A nível macroscópico, a superfície de um osso é constituída por osso compacto (sem cavida- des visíveis) e por osso esponjoso (com muitas cavidades intercomunicantes). Nos ossos longos, as extremidades ou epífises são formadas por osso esponjosocom uma delgada camada superficial compacta. A diá- fise (parte cilíndrica) é quase totalmente com- pacta com pequena quantidade de osso es- ponjoso na parte profunda, delimitando o ca- nal medular. Os ossos curtos têm o centro esponjoso, sendo recobertos por uma camada compacta. Nos ossos planos, que constituem a abóbada craniana, existem duas camadas de osso com- pacto separados por osso esponjoso. As cavidades do osso esponjoso e canal medular são ocupadas por medula óssea. No recém-nascido é ver- melha devido ao elevado teor de hemácias; à medida que vai sendo infiltrada por tecido adiposo, torna-se amarela. A nível microscópico, existem 2 tipos de tecido ósseo: o imaturo ou primário e o maduro, secundário ou lamelar. Os dois tipos contêm as mesmas células e os mesmos constituintes da matriz. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 24 - Osso imaturo: é o primeiro a ser for- mado, sendo depois substituído por osso maduro ou secundário. Apresenta fibras de colagénio desorganizadas, menor quantidade de minerais e mais osteócitos. - Osso maduro: é a variedade geralmente en- contrada no adulto, apre- sentando fi- bras de colagé- nio organizadas em lamelas paralelas umas às outras ou em camadas concêntricas em torno de canais com vasos e nervos – sistema de Havers ou osteónios. Em cada lamela, as fibras estão paralelas entre si e perpendiculares às da lamela seguinte (a orientação das fibras provoca tensão). As lacunas que contêm os osteócitos estão geralmente situadas entre as lamelas, chamam-se em osteoplastos. - Sistemas de Havers: são caraterísticos da diáfise dos ossos e constituem cilindros paralelos à diáfise, formados por 4 a 20 la- melas concêntricas; no centro, o canal é revestido por endósteo. Os canais de Havers comunicam entre si e com a cavidade medu- lar e externa do osso por meio de canais transversais ou oblíquos – canais de Volkmann (não apre- sentam lamelas ósseas concên- tricas). As superfícies internas e externas dos ossos são recobertas por células oste- ogénicas e tecido conjuntivo que constituem o endósteo e o periósteo, res- petivamente. A camada mais superficial do periósteo contém principalmente fibras de colagénio e fibroblastos. As fibras de Sharpey são feixes de fibras de colagénio do periósteo que penetram o tecido ósseo e prendem firmemente o periósteo ao osso. As principais funções do endósteo e do periósteo são a nutrição do tecido ósseo e o fornecimento de novos osteoblastos para o crescimento e recuperação do osso. 5.3. Articulações São estruturas formadas por tecido conjuntivo que unem os ossos uns aos outros para constituírem o es- queleto. Podem ser classificadas em diartroses (dotadas de grande mobilidade) e em sinartroses (onde não ocorrem movimentos). Nas diartroses existe uma cápsula que liga as extremidades ósseas, delimitando uma cavidade fechada, a cavidade articular (que contém líquido sinovial, com elevado teor de ácido hialurónico). O deslizamento das superfí- cies articulares que são revestidas por cartilagem hialina, sem peri- côndrio, é facilitado pelo efeito lubrificante do ácido hialurónico. A resistência da cartilagem é um eficiente amortecedor das pres- sões mecânicas intermitentes que são exercidas sobre a cartilagem articular. 5.4. Células As células do tecido ósseo são: os osteócitos, que se situam em cavidades ou lacunas no interior da matriz; os osteoblastos, que sintetizam a parte orgânica da matriz e se localizam na sua periferia; e os osteoclastos, Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 25 células gigantes, móveis e multinucleadas que reabsorvem o tecido ósseo, participando dos processos de remodelação dos ossos. - Osteócitos: são encontrados no interior da matriz óssea, ocupando as lacunas das quais partem canalículos (essenciais para estabelecerem contacto por meio de junções comu- nicantes e, portanto, para a sua nutrição), cada lacuna contém apenas um osteócito. São células achatadas que exibem pequena quantidade de RER, com complexo de Golgi pouco desenvolvido e núcleo com cromatina condensada, o que indica pequena atividade sintética, embora os osteócitos sejam essenciais para a manutenção da matriz óssea. - Osteoblastos: são as células que sintetizam a parte orgânica (colágeno tipo I, proteogli- canos e glicoproteínas) da matriz óssea. Sintetizam também osteonectina (facilita a depo- sição de Ca) e osteocalcina (estimula a atividade dos osteoblastos). Os osteoblastos são capazes de concentrar fosfato de cálcio, participando na mineralização da matriz. Dis- põem-se sempre nas superfícies ósseas, lado a lado, num arranjo que lembra um epitélio simples. Quando em intensa atividade sintética são cuboides com citoplasma basófilo (1), senão são achatadas e a basófilia diminui (2). Uma vez aprisionado pela matriz recém- sintetizada, o osteoblasto passa a ser chamado de osteócito. A matriz deposita-se ao redor do corpo da célula e dos seus prolongamentos, formando assim as lacunas e os canaliculos. A matriz óssea recém-formada, adjacente aos osteoblastos ativos e que ainda não está calcificada chama-se osteóide. - Osteoclastos: ao contrário dos outros tipos de células que advêm de uma célula mesenquimal, os osteoclastos derivam de uma célula-tronco hematopoética. São células móveis, gigantes, multinucleadas e extensamente ramificadas (invaginações do plasma- lema), com a função de remoção da matriz óssea (lacunas de Howship). A remoção da matriz é feita do seguinte modo: os osteoclastos segregam H+, colagenase e outras hidrolases que digerem a matriz orgânica e dissolvem os cristais de sais de cálcio. 5.5. Osteógenese O tecido ósseo é formado por um processo chamado ossificação intramembranosa, que ocorre no interior de uma membrana conjuntiva, ou pelo processo de ossificação endocondral, o qual se inicia sobre um molde de cartilagem hialina, que gradualmente é destruído e substituido por tecido ósseo formado a partir de células do conjuntivo adjacente. O crescimento é aposicional 5.5.1. Ossificação intramembranosa Ocorre no interior de membranas do tecido conjuntivo, contribuindo para o crescimento dos ossos curtos e aumento da espessura dos ossos longos. É o processo formador dos ossos frontal, parietal e partes do ocipital, do temporal e dos maxilares superior e inferior. 1 2 Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 26 O local da membrana conjuntiva onde a ossificação começa chama- se centro de ossificação primário, onde ocorre diferenciação de células mesenquimatosas em osteoblastos e síntese de osteóide (matriz ainda não mineralizada) que logo se mineraliza englobando alguns osteoblastos que se transformam em osteócitos. Como vários destes grupos surgem quase simultaneamente no centro de ossificação, há confluência das traves ósseas formadas, conferindo ao osso um aspeto esponjoso. Entre as traves formam- se cavidades que são penetradas por vasos sanguíneos e células mesenquimatosas indiferenciadas, que darão origem à medula óssea. Os vários centros de ossificação crescem radicalmente acabando por substituir a membrana conjuntiva preexistente A parte da membrana que não sofre ossificação vai formar o periósteo e o endeósteo. 5.5.2. Ossificação endocondral É a principal responsável pela formação dos ossos curtos e longos, tendo ínicio sobre uma peça de cartilagem hialina. Consiste essencialmente em 2 processos. Primeiro, a cartilagem hialina sofre modi- ficações havendo hipertrofia dos condrócitos, redução da matriz cartilaginosa a finos tabiques, a sua mineralização e a morte dos condrócitos por apoptose. Segundo, as cavidades previamente ocupadas pelos Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 27 condrócitos são invadidas por capilares sanguíneos e células osteogénicas vindas do conjuntivo adjacente. Estas células diferenciam-se em osteo- blastos,que depositarão matriz óssea sobre os tabiques de cartilagem calcificada. Deste modo, onde antes havia tecido cartilagíneo há agora teci- do ósseo, sem que ocorra transfor- mação de um no outro. Os tabiques de matriz calcificada da cartilagem servem apenas de ponto de apoio à ossificação. - Zona de repouso: na qual existe carti- lagem hialina sem qualquer alteração morfológica. - Zona de cartilagem seriada: ou proliferação, na qual os condrócitos se dividem rapidamente e formam fileiras ou colunas paralelas de células achatadas e empilhadas no sentido longitudinal do osso. - Zona de cartilagem calcificada: zona em que ocorre a mineralização dos tabiques delgados de matriz car- tilagínea e termina a apoptose dos condrócitos. - Zona de ossificação: zona em que aparece tecido ósseo. Capilares sanguíneos e células osteoprogenitoras originadas pelo periósteo, que invadem as cavidades deixadas pelos condrócitos mortos. As células oste- oprogenitoras diferenciam-se em osteoblastos, que formam uma camada contínua sobre os restos da matriz cartilagínea calcificada. Sobre esses restos de matriz cartilagínea, os osteoblastos depositam a matriz óssea. 5.6. Patologia 5.6.1. Fracturas Nos locais de fratura óseea ocorre hemorragia, destruição de matriz e morte de células ósseas, removidas pelos macrofagos. O periósteo e endósteo respondem com intensa proliferação, constituindo um colar à volta da fratura. Este processo evolui de modo a aparecer o calo óssepa, isto é, tecido imaturo que une provisoriamente as extremidades do osso fraturado e que depois será trocado por tecido ósseo secundário. Outras patologias do tecido ósseo são: osteoporose, raquitismo, osteomalacia, gigantismo, acromegalia, nanismo hipofisário. 6. Tecido Muscular 6.1. Introdução O tecido muscular é constituído por células alongadas, que contêm grande quantidade de filamentos cito- plasmáticos de proteínas contráteis, as quais, por sua vez, geram as forças necessárias para a contração deste tecido, utilizando a energia contida nas moléculas de ATP. As células musculares têm origem mesodérmica, e sua diferenciação ocorre pela síntese de proteínas fila- mentosas, simultaneamente ao alongamento das células. Determinados componentes das células musculares receberam nomes especiais. A membrana celular é chamada de sarcolema; o citosol, de sarcoplasma, e o retículo endoplasmático liso, de retículo sarcoplas- mático. 6.2. Crescimento O crescimento deste tecido é feito por dois processos: • Hipertrofia: crescimento muscular devido ao aumento do volume das células, e, portanto, ao aumento do seu tamanho. • Hiperplasia: crescimento muscular devido ao aumento do número de células. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 28 6.3. Tipos de tecido muscular Distingue-se 3 tipos de tecido muscular de acordo com as suas caraterísticas morfológicas e funcionais: o muscular estriado esquelético, formado por feixes de células cilíndricas muito longas e multinucleadas, que apresentam estriações transversais; o muscular estriado cardíaco, formado por células longas e ramificadas, que se unem por meio de discos intercalares (as células também apresentam estrias transversais); o músculo liso, formado por aglomerados de células fusiformes que não têm estrias transversais. 6.3.1. Estriado esquelético É formado por feixes de células muito longas (até 30cm), cilíndricas, multi- nucleadas, que contêm muitos filamentos, as miofibrilhas. As fibras origi- nam-se no embrião pela fusão de mioblastos. Os núcleos localizam-se na pe- riferia das fibras, perto do sarcolema (membrana plasmática), localização esta que ajuda a distinguir do músculo cardíaco (os núcleos neste são cen- trais). A variação do diâmetro das fibras está relacionada com a idade, o sexo, o estado de nutrição e exercício físico. Num músculo, as fibras musculares estão organizadas em grupos de feixes, sendo o conjunto de feixes envolvido por uma camada de tecido conjuntivo denominado epimísio, que recobre o músculo inteiro. Do epimísio partem finos septos de tecido conjuntivo que se dirigem para o interior do músculo, separando os feixes. Esses septos constituem o perimísio. Por fim, o perimísio envolve os feixes de fibras. Cada fibra mus- cular, individualmente, é envolvida pelo endomísio, que é formado pela lamina basal da fibra, associada a fibras reticulares. Assim, esta organização do tecido conjuntivo permite que a força de contração gerada por uma fibra atue sobre o músculo inteiro e que os vasos sanguíneos penetrem o músculo. • Células de contração lenta ou vermelhas: pequenas, vascularizadas, ricas em mitocôndrias e mioglobina (res- piração aeróbia). • Células de contração rápida ou brancas: células grandes, pobres em mioglobina. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 29 - Organização das fibras musculares esqueléticas: ao microscópio ótico, as fibras mostram estriações trans- versais, pela alternância de faixas claras e escuras que correspondem, respetivamente, à banda I (de iso- trópica) e à banda A (de anisotrópica). No centro de cada banda I, temos uma linha transversal escura, a linha Z. Cada miofibrilha (sendo cada fibra constituída por muitas) é constituída por proteínas e é envolvida por RER. A estriação da microfibrila deve-se, portanto, à repetição de unidades iguais, denominadas sarcómeros, formadas pela zona que fica entre duas linhas Z (contendo, portanto, a banda A, separando duas bandas I). A banda A apresenta uma zona mais clara no seu centro, a banda H. O microscópio eletrónico revela a existência, nas miofibrilhas de filamentos finos de actina e filamentos grossos de miosina organizados através de proteínas desmina que ligam as miofibrilhas umas às outras. Por sua vez, o conjunto de miofibrilhas liga-se à membrana da célula muscular através de outras proteínas como a distrofina. A banda I é formada somente por filamentos de actina, a banda A é formada por filamentos finos e grossos, e a banda H, somente por filamentos grossos de miosina. • Filamentos finos de actina: partem da linha Z e vão até à borda ex- terna da banda H. São formados por 3 proteínas: a actina, a tro- pomiosina e troponina. A actina apresenta-se sob a forma de polí- meros longos, formados por monómeros globulares que se enrolam formando uma dupla hélice. A tropomiosina é uma molécula longa e fina, constituída por duas cadeias enroladas e que se localiza em redor da actina, tapando os locais de interação com a miosina. Já a troponina é um complexo de 3 subunidades: a T liga-se à tropomiosina, a C ao cálcio e a I ao local ativo da actina com a miosina. • Filamentos grossos de miosina: ocupam a região central do sarcó- mero. A molécula de miosina é grande, sendo formada por 2 péptidos enrolados em hélice. Numa das suas extremidades, apresenta uma sali- ência globular ou cabeça, que contém locais específicos para a combina- ção com ATP. Para além disso, têm também um local de combinação com a actina. A zona mais escura da banda A, deve-se, portanto, à interdigitação dos filamentos de actina e miosina. A banda H representa a sobreposição apenas da parte da “cauda” da miosina e a linha M as ligações laterais entre os filamentos grossos. - Contração dos músculos: depende da disponibilidade de Ca2+: o retículo endoplasmático armazena e re- gula o fluxo desses iões e envolve grupos de miofilamentos, separando-os em feixes cilíndricos. Quando a membrana do retículo sarcoplasmático é despolarizada por um estímulo nervoso, o Ca2+ sai sem gasto de energia e liga-se à troponina, possibilitando a formação de pontes entre a actina e a miosina. Na etapa seguinte, o ATP decompõe-se em ADP+Pi, libertando energia, por consequência, ocorre uma deformação da cabeça e parte da cauda da miosina, o que empurra o filamento de actina, promovendo o seu desliza- mento. As pontes entre a actina e a miosina desfazem-se quando uma nova molécula de ATP se une à mio- sina. Quandocessa a despolarização, a membrana do retículo sarcoplasmático, por transporte ativo, trans- fere Ca2+ para o interior das cisternas, o que interrompe a atividade contráctil. Ao ocorrer contração a banda H e a banda I diminuem (pois os filamentos de actina penetram a banda A) de tamanho. - Unidade motora: fibra nervosa (neurónio motor) e as fibras muscula- res por elas inervadas. Os nervos motores ramificam-se no tecido con- juntivo do perimísio, originando numerosos ramos. No local de contacto com a fibra muscular, o nervo perde a bainha de mielina e forma uma dilatação, denominada placa motora ou junção mioneural. O sarcolema forma dobras juncionais. O terminal axónico liberta acetilcolina que se prende aos recetores localizados nas dobras juncionais, tornando o sar- colema mais permeável ao sódio, resultando na sua despolarização. O excesso de acetilcolina é hidrolisado pela colinesterase. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 30 - Fusos musculares e corpúsculos tendíneos de Golgi: todos os músculos es- queléticos contêm recetores que captam modificações no próprio musculo, denominados fusos musculares. Estas estruturas são constituídas por uma cápsula de tecido conjuntivo que delimita um espaço que contém fluído e fibras intrafusais. As fibras intrafusais podem ser de dois tipos: • Fibras com bolsa nuclear; • Fibras com cadeia nuclear. Estes fusos são inervados sensitivamente (anuloespiral ou fluorescente); as informações detetadas nos fusos musculares são conduzidas para a medula espinal. Nas proximidades da inserção muscular, os tendões apresentam feixes de fibras de colagénio encapsuladas, nas quais penetram fibras nervosas senso- riais, constituindo os corpúsculos tendinídeos de Golgi. 6.3.2. Estriado cardíaco O músculo do coração é constituído por células alongadas e ramificadas que se prendem por meio de junções intercelulares complexas. Estas células apresentam, tal como as do músculo esquelético, estriações transversais, mas só apresentam um a dois núcleos (ao contrário das fibras esqueléticas que são multinucleadas) localizados centralmente. As fibras cardíacas são circundadas por uma delicada bainha de tecido conjuntivo, equivalente ao endomísio do músculo esquelético, que con- tém abundante rede de capilares sanguíneos. Uma caraterística exclusiva do músculo cardíaco é o facto de apresentar linhas transversais fortemente coráveis que apare- cem em intervalos irregulares ao longo da célula, denominadas discos intercalares (aparecem como linhas ou aspeto em escada). Podem distinguir-se 3 tipos de discos intercalares: • Zónulas de adesão: servem para ancorar os filamentos de ac- tina dos sarcómeros terminais. • Desmossomas: unem as células, impossibilitando que se separem durante a contração. • Junções comunicantes: responsáveis pela continuidade iónica entre células adjacentes (sincício). No musculo cardíaco, o sistema T e o retículo sarcoplasmático não são tão bem organizados, existindo ape- nas um túbulo T por sarcómero (em vez de dois como no esquelético) e formando díades em vez de tríades. Este tecido apresenta intenso metabolismo aeróbio, apresentando muitas mitocôndrias (40% do volume citoplasmático); armazena ácidos gordos soba forma de triglicerídeos, encontrados nas gotículas lipídicas do citoplasma e uma pequena quantidade de glicogénio. Há presença de grânulos secretores junto do aparelho de Golgi. Estes são abundantes nas células musculares da aurícula esquerda e percursores do péptido atrial vasoativo (hipotensão). As Fibras de Purkinje constituem um sistema espe- cial de condução do estímulo elétrico no coração que permite que este se contraia de maneira coordenada. As fibras de Purkinje são mais claras e menos homo- géneas que as fibras vulgares. https://pt.wikipedia.org/wiki/Cora%C3%A7%C3%A3o Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 31 6.3.3. Liso O músculo liso é formado pela associação de células longas e fusiformes, mais espessas no centro afilando-se nas extremidades, com núcleo único e central. As células são revestidas por lâmina basal e unidas por fibras reticulares, são acidófi- las e sem estriações transversais. O sarcolema dessas células apresenta grande quantidade de depressões com o as- peto e as dimensões das vesículas de pinocitose, denominadas cavéolas. As cavéolas contêm iões Ca2+ que serão utilizados para dar início ao processo de contração. No sarcoplasma encontra-se RER, um aparelho de Golgi pouco desenvolvido, poucos grânulos de glicogénio e mitocôndrias escassas perinucleares. O sarco- lema contém uma grande quantidade de vesícula pinocitose em diferentes estágios de formação. No tecido muscular liso, embora a contração (involuntária) dependa do deslizamento de filamentos de ac- tina e miosina, não existem sarcómeros nem troponina, embora existam filamentos de actina estabilizados pela tropomiosina. Os filamentos de miosina só se formam no momento de contração. Estas células mus- culares contêm miosina II, enquanto que noutros tecido musculares aa miosina é do tipo I. A contração das células musculares dá-se da seguinte maneira: 1. Sob o estímulo do sistema nervoso, Ca2+ migra do meio extracelular para o citosol (não existe REL); 2. Ca2+ combina-se com calmodulina, ativando a enzima quinase da cadeia leve da miosina II, fosforilando a miosina. Assim, as moléculas distendem-se e deixam descobertos os sítios com atividade de ATPase e que se combinam com a ac- tina. 3. Liberta-se energia que deforma a cabeça da miosina e permite o deslizamento entre a actina e a miosina II. Como estas 2 pro- teínas estão ligadas a filamen- tos de desmina e vimentina, que, por sua vez, prendem-se aos corpos densos, a célula con- trai-se como um todo. Histologia Funcional_2017/2018 Ana Rita Vieira 32 6.4. Regeneração O músculo cardíaco não se regenera, sendo a lesão invadida por fibroblastos que formam uma cicatriz de conjuntivo denso. No músculo esquelético, as células satélite regeneram o músculo, proliferando por divisão mitótica e fundindo-se umas às outras para formar fibras musculares. Ocorrendo lesão no músculo liso, as células entram em mitose. 7. Tecido Nervoso O tecido nervoso é distribuído pelo organismo, interligando-se e formando uma rede de comunicações, que constitui o sistema nervoso. Anatomicamente, este sistema é divido em: sistema nervoso central (SNC), formado pelo encéfalo, constituintes neurais do sistema fotorre- cetor e espinal medula; sistema nervoso periférico (SNP), formado pelos nervos e por pequenos agregados de células nervosas denominadas gânglios nervosos. Funcionalmente, o tecido nervoso divide-se na parte sensitiva, que capta a informação e na motora, que lança a informação e se divide em parassimpática e simpática. As funções principais do sistema nervoso são: 1. Detetar, transmitir, analisar e utilizar as informações geradas pelos estímulos sensoriais representa- dos por calor, luz, energia mecânica e modificações químicas do ambiente externo e interno. 2. Organizar e coordenar o funcionamento de quase todas as funções do organismo. O tecido nervoso apresenta dois componentes principais: os neurónios, células geralmente com muitos prolongamentos e vários tipos de células da glia, que sustentam os neurónios e participam noutras funções importantes. No SNC há uma segregação entre os corpos celulares dos neurónios e os seus prolongamentos. Isso faz com que sejam reconhecidas no encéfalo e na medula espinal duas porções distintas, denominadas substância branca (não contém corpos celulares de neurónios, sendo constituída por prolongamentos de neurónios e células da glia) e substância cinzenta (formada principalmente por corpos celulares dos neurónios e células da glia, contendo também prolongamentos de neurónios). 7.1. Embriologia O tecido nervoso surge no epitélio, neuroepitélio. Alguns neurónios migram (cristas neuronais) para
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