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Docência-de-Ensino-Superior-15

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Docência de Ensino Superior 
 
 
 
 
 
Faculdade de Minas 
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Sumário 
 
1 Introdução .................................................................................................. 4 
2 Dilemas da formação para a docência no ensino superior brasileiro ......... 4 
3 Didática e docência: traços conceituais ................................................... 12 
4 Docência no ensino superior: traços contextuais ..................................... 17 
Referências ................................................................................................... 20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Faculdade de Minas 
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FACULESTE 
 
A história do Instituto Faculeste, inicia com a realização do sonho de um 
grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Faculeste, como entidade 
oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A Faculeste tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos 
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, 
de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1 Introdução 
 
As últimas décadas têm sido caracterizadas por algumas significativas mudanças e 
transformações sociais que repercutem em diversas esferas da sociedade, afetando 
diretamente todos os níveis de educação. No Ensino Superior, essas 
transformações significam novos desafios frente à atuação docente, às Instituições 
de Ensino Superior (IES) e a própria maneira de fazer gestão universitária. 
2 Dilemas da formação para a docência no ensino superior 
brasileiro 
 
Considera-se a docência, independente do nível de ensino em que ela aconteça, 
uma ação humana. Reconhecer a dimensão humana da docência é admitir, assumir 
que ela se constitui histórica e socialmente e, por conseguinte, a formação é parte 
integrante da identidade profissional do professor; é a “humana docência, onde ser 
educador é ser o mestre de obras do projeto arquitetado para sermos humanos” 
(ARROYO, 2000, p.41). 
 
As discussões sobre a importância e o significado da formação e do 
desenvolvimento profissional dos professores que atuam na educação superior nos 
últimos anos tem se destacado pela diversidade de concepções e enfoques 
presentes nas pesquisas e na literatura nacional e internacional. Esses estudos 
destacam sobremaneira a urgência de (re)significar os processos formativos a partir 
dos conhecimentos pedagógicos, inerentes e necessários à profissão docente. A 
docência na educação superior é uma atividade complexa e, por conseguinte, como 
assevera Cunha (2008) 
 
[...] Só quando for reconhecida essa complexidade, 
poderemos avançar em processos de qualificação mais 
efetivos. Exige saberes específicos que têm um forte 
componente de construção na prática. Entretanto é uma 
prática que não se repete, é sempre única. Como tal exige 
capacidades para enfrentar situações não previstas. 
(CUNHA, 2008, p.466). 
 
 
 
 
 
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No sentido formal, docência é o trabalho dos professores e estes desempenham um 
conjunto de funções que ultrapassam as tarefas de ministrar aulas. As funções 
formativas convencionais como: ter um bom conhecimento sobre a disciplina, sobre 
como explicá-la foram tornando-se mais complexas com o tempo e com o 
surgimento de novas condições de trabalho. No que se refere ao trabalho docente 
no ensino superior, Zabalza (2004) atribui três funções aos professores 
universitários: o ensino, a pesquisa e a administração em diversos setores da 
instituição. A essas funções devem ser acrescentadas a orientação acadêmica de 
monografias, dissertações e teses. A autora afirma ainda que à essas funções 
agregam-se novas atribuições que o docente do ensino superior deve executar, 
tornando mais complexo o exercício profissional: 
 
[...] o que alguns chamaram de business (busca de 
financiamento, negociação de projetos e convênios com 
empresas e instituições, assessorias, participação como 
especialistas em diversas instâncias científicas, etc.). E as 
relações institucionais (que são entendidas de diferentes 
maneiras: da representação da própria universidade nas 
inúmeras áreas em que é exigida até a criação e a 
manutenção de uma ampla rede de relações com outras 
universidades, empresas e instituições buscando reforçar o 
caráter teórico e prático da formação e, em alguns casos, 
seu caráter internacional) (ZABALZA, 2004, p.109). 
 
Do ponto de vista da Lei 9394/96, o art. 13 estabelece as seguintes incumbências 
para os professores: 
(i) participar da elaboração do projeto pedagógico; 
(ii) elaborar e cumprir o plano de trabalho; 
(iii) zelar pela aprendizagem dos alunos; 
(iv) estabelecer estratégias de recuperação para alunos de menor 
rendimento; 
(v) ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos; 
(vi) participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à 
avaliação e ao desenvolvimento profissional (LDB.9394/96, art.13). 
 
 
 
 
 
 
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O enunciado da LDB 9394/96 explicita a docência enquanto uma atividade 
especializada e que requer, consequentemente, uma formação especializada. 
Entretanto, a referida lei define que a formação inicial do professor universitário, ou 
aquela que antecede o ingresso do profissional no magistério do ensino superior, 
deve ocorrer em nível de pós-graduação, preferencialmente em programas de 
mestrado e doutorado, sendo entendida, nesse contexto, como “preparação” para o 
exercício docência nesse nível de ensino. Nesse sentido, ainda, o título de notório 
saber supre a exigência do título acadêmico. Embora importante, a existência desse 
dispositivo que assegura uma “preparação” mínima para o exercício da docência 
superior não tem garantido, em termos práticos, a formação necessária para tal 
tarefa. A palavra “preparar” empregada para designar o modo como tal profissional 
será formado carrega certa superficialidade e descompromisso. 
 
Como observam Anastasiou e Pimenta (2002, p. 40), a Lei 9394/96, não concebe o 
processo de formação para a docência no ensino superior como tal, mas apenas 
como “preparação” para o exercício do magistério, resumida à titulação acadêmica 
ou notório saber, reflete, e termina por sedimentar, a “antiga” crença de que para ser 
professor basta o conhecimento aprofundado de determinado conteúdo, 
desconsiderando pesquisas nacionais e internacionais sobre a importância da 
formação para a docência na educação superior. 
 
São raros os cursos de pós-graduação stricto sensu que oferecem disciplinas 
relacionadas à Docência no Ensino Superior e/ou o Estágio Docência Ensino 
Superior (obrigatório para estudantes bolsistas), sejam eles realizados em práticas 
de observação ou estudo de conteúdo teórico; e os que possuem, em grande 
maioria, apresentam carga horária restrita e geralmente não obrigatória aos pós-
graduandos. 
 
Os programas de pós-graduação, em especial stricto sensu, embora possam 
explicitar nos seus objetivos a formação para docência, notadamente articulam-se 
na formação depesquisadores para áreas especificas. Tanto é assim que, no 
conjunto das atividades oferecidas e requisitos dos programas, os estudos sobre a 
prática e o próprio exercício da docência ocupam espaço muito limitado. Em geral, a 
 
 
 
 
 
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preparação para docência fica a cargo de uma única disciplina (quando ela é 
oferecida), denominada Metodologia do Ensino Superior ou Didática do Ensino 
Superior, com carga horária média de 64 horas/aula. Apesar do irrisório numero de 
aulas, no conjunto das atividades previstas nos programas de pós-graduação, essa 
disciplina ocupa, segundo os dados encontrados na pesquisa, um importante papel 
na inserção dos professores da educação superior e nos estudos pedagógicos, 
embora a expectativa inicial dos pós-graduandos estivesse mais centrada em 
métodos e técnicas. 
 
Anastasiou e Pimenta (2002, p. 108) consideram que apesar da pouca carga horária 
dessa disciplina, são os únicos momentos de reflexão “sobre seu papel [do 
professor], sobre o ensinar e o aprender, o planejamento, a organização dos 
conteúdos curriculares, a metodologia, a avaliação, a realidade onde atuam”. 
 
Já Morosini (2000) considera que uma única disciplina, por si só, não “prepara” e 
sequer forma o professor para atender às exigências das Instituições de Ensino 
Superior brasileiras. Falar da docência na educação superior é lembrar que ela é 
composta não apenas de ensino, como está na tradução do que representa 
etimologicamente o termo em questão, mas é lembrar que docência para o 
professor das Instituições de Ensino Superior está ligada à extensão, à pesquisa e à 
administração também, conforme define a L.D.B. 9394/96, e o Plano Nacional de 
Graduação: indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. 
 
Veiga (2006) defende a formação do futuro professor universitário articulando 
conhecimento da área especifica e conhecimentos pedagógicos para que eles 
possam compreender e realizar, efetivamente, um trabalho que contemple a 
indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, condição, segundo a 
autora, indispensável à atividade reflexiva, problematizadora e inerente a docência. 
Faz parte dessa característica integradora a produção do conhecimento bem como 
sua socialização. Articula componentes curriculares e projetos de pesquisa e de 
intervenção, levando em conta que a realidade social não é objetivo de uma 
disciplina e isso exige o emprego de uma pluralidade metodológica. Ainda que pese 
 
 
 
 
 
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as discussões e proposições advindas de inúmeras pesquisas, as entrevistas com 
os pós graduandos que tinham experiência docente no ensino superior 
evidenciaram que eles se consideravam pouco capazes de articular o ensino, a 
pesquisa e a extensão nas instituições públicas de ensino superior onde 
trabalhavam, em função das inúmeras exigências administrativas, burocráticas e, 
principalmente nas instituições da rede particular, pois o trabalho docente é 
exclusivo ao ensino. 
 
A docência também é considerada uma atividade inerente ao processo educativo 
realizado tanto na educação básica quanto na educação superior. Entretanto, com 
relação a “formação de professores”, a concepção deles, em geral, restringiu-se a 
formação para magistério na educação básica. Poucos identificaram e defenderam 
a importância da formação docente no ensino superior, como se a formação 
específica para o magistério nesse nível fosse algo supérfluo, ou mesmo, 
desnecessário. Tal representação evidencia, por um lado, o desconhecimento sobre 
as especificidades do trabalho docente e, por outro, a desvalorização do 
conhecimento pedagógico. 
 
A maioria dos pós-graduandos associa a docência com o ensino e este com a 
transmissão de conhecimentos. A docência no ensino superior não se restringe a 
ação de transmitir, transferir de depositar no aluno o seu conhecimento e este, por 
sua vez, de forma passiva, aprende o conhecimento do professor e o reproduz, num 
circulo vicioso. 
 
Quanto mais os alunos se empenham em arquivar os 
‘depósitos’ que lhes são entregues, tanto menos agentes de 
sua transformação, como sujeitos. Quanto mais se lhes 
impõem a passividade, tanto mais, de maneira primária, ao 
invés de transformar o mundo, eles tendem a adaptarem-se 
à realidade fragmentada contida nos ‘depósitos recebidos’ 
(FREIRE, 1996, p.60). 
 
Não se trata de negar função da docência enquanto ação do ensinar, de 
transmissão de saber, mas não se pode tomar o ensino como único eixo norteador 
das atividades docentes no ensino superior. Negar a transmissão é negar a própria 
 
 
 
 
 
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ação do professor. Admiti-la é reconhecer que existe articulação entre o que é dado 
inicialmente - a transmissão, ao que é recriado, reconstruído no processo – a 
produção de novos conhecimentos. Para Anastasiou e Alves (2003, p.13), “o verbo 
ensinar [...] significa marcar com um sinal, que deverá ser de vida, busca e 
despertar para o conhecimento”. 
 
Na docência, o objeto de trabalho do professor é outro ser humano e é isso o que o 
diferencia do trabalho fabril. A profissão docente é complexa, sendo sua 
característica marcante, a incerteza e a ambiguidade. O professor depende, 
basicamente, de si próprio – ele é ator e observador da relação pedagógica. Ele 
pode, para contornar as incertezas e as necessidades, utilizar o conhecimento das 
boas práticas, mas elas raramente são transferíveis para outros contextos. As 
situações enfrentadas no dia-a-dia têm características diferentes, o resultado final 
do trabalho talvez nem venha a ser conhecido, principalmente em função dos 
sistemas de avaliação ou dos processos que examinam os alunos e culminam com 
os processos seletivos às universidades. 
 
O fato de tratar-se de um ser humano exige, em cada caso, modalidades 
adequadas de trabalho, tecnologias e conhecimentos. Assim, os saberes produzidos 
no trabalho são elementos fundamentais para a constituição da identidade do 
trabalhador. Para tanto, a docência para ser não pode prescindir do aprender, ou 
como ainda ensina Freire (1996): “Não há docência sem discência, as duas se 
explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à 
condição de objetos, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem 
aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p.23). 
 
Isso exige disponibilidade, ousadia, mudança e superação de conflitos e 
contradições. Como fazer? 
 
Insistir e investir na formação e na (re) valorização da docência. É necessário que a 
docência no ensino superior, ainda representada pelo dom, pelo sacerdócio, pela 
vocação ou inspiração divina ou a docência fundada na lógica humana cristalizada 
na retórica esvaziada sejam superadas. É preciso que a docência seja 
 
 
 
 
 
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compreendida enquanto profissão, como prática social concreta, que é também a 
prática pedagógica na sala de aula e para além dela. O que um professor é está 
diretamente relacionado àquilo que faz e às suas experiências de vida. Ninguém se 
forma no vazio. Formar-se supõe troca, experiência, interações sociais, 
aprendizagens. 
 
De acordo com Anastasiou e Pimenta (2010), a maioria das instituições de ensino 
superior no Brasil, embora seus professores possuam experiência significativa e 
mesmo anos de estudos em suas áreas específicas, predomina o despreparo e até 
um desconhecimento científico sobre processo de ensino/aprendizagem, pelo qual 
passam a ser responsáveis a partir do instante em que ingressam na sala de aula. 
As autoras avaliam que os pesquisadores dos vários campos do conhecimento 
(historiadores, químicos, filósofos, biólogos, cientistas políticos, físicos, 
matemáticos, artistas, etc.) e os profissionais das várias áreas (médicos, dentistas, 
engenheiros, advogados, economistas, etc.) adentram ocampo da docência no 
ensino superior como decorrência natural dessas suas atividades e por razões e 
interesses variados; trazem consigo imensa bagagem de conhecimentos nas suas 
respectivas áreas de pesquisa e de atuação profissional, na maioria das vezes 
nunca se questionaram sobre o que significa ser professor. Do mesmo modo, as 
instituições que os recebem já dão por suposto que o são, desobrigando-se, pois, 
de contribuir para torná-los (ANASTASIOU & PIMENTA, 2010). 
 
Com relação ao aprendizado da pratica docente constatou-se, a partir dos dados da 
pesquisa, que os pós-graduandos que declararam ter experiência como professores 
no ensino superior, referem-se a dois momentos: a experiência em sala de aula 
como alunos e como professores. Segundo as representações dos mestrandos e 
doutorandos a linha que separa essas duas experiências é muito tênue. 
 
[...] O professor universitário aprende a sê-lo mediante um 
processo de socialização em parte intuitiva, autodidata ou 
(...) seguindo a rotina dos “outros”. Isso se explica sem 
dúvida, devido à inexistência de uma formação específica 
como professor universitário. Nesse processo, joga um 
papel mais ou menos importante sua própria experiência 
como aluno, o modelo de ensino que predomina no sistema 
 
 
 
 
 
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universitário e as reações de seus alunos, embora não há 
que se descartar a capacidade autodidata do professor. Mas 
ela é insuficiente. Essa constatação tem incentivado 
iniciativas que valorizam a formação contínua, porém existe 
certo consenso de que a docência no ensino superior não 
requer uma formação específica (ANASTASIOU; PIMENTA, 
2010, p. 37). 
 
Nas representações dos pós-graduandos foi possível identificar certa “naturalização” 
da docência, ou seja, a docência é “aprendida” a partir da experiência discente, 
inspirada em antigos professores. Tal representação revela a seguinte premissa: se 
todos os professores foram alunos de outros professores e viveram as mediações 
de valores e práticas pedagógicas, lhes é, consequentemente, possível apreender 
visões de mundo, concepções epistemológicas, posições políticas e experiências 
didáticas. A naturalização da docência, de acordo com Cunha (2006) refere-se à 
manutenção dos processos de reprodução cultural como base da docência. 
 
O ensino, especialmente o ensino de graduação é entendido 
como decorrência das demais atividades, assumindo uma 
forma naturalizada de exercício. A naturalização da 
docência refere-se à manutenção dos processos de 
reprodução cultural como base da docência, ou seja, o 
professor ensina a partir da sua experiência como aluno, 
inspirado em seus antigos professores (CUNHA, 2006, 
p.258-259). 
 
Os mestrandos e doutorandos, que exerciam a atividade docente, tanto na rede 
pública como na rede privada de ensino superior declararam que aprenderam “na 
marra a dar aulas”. Afirmaram que as aulas que conseguiam programar eram a 
“imagem e semelhança” das aulas que haviam tido na graduação. Outros relataram 
que foram aprendendo pelo convívio com os pares e pela repetição e nas primeiras 
experiências em sala de aula; foi comum aos entrevistados que atuam ou aturam 
como professores, a utilização, mesmo sem se darem conta, de suas vivências 
como aluno, usando os “equipamentos” (modo de agir, falar, vestir, organização do 
trabalho, etc.) acumulado sobre as práticas docentes às quais foram submetidos 
desde o início de sua escolarização. Esse “equipamento”, portanto, não é fruto de 
processos de formação específica para a docência. É, muito mais, resultado da 
acumulação representações de docência que a eles se agregam por meio das 
 
 
 
 
 
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experiências escolares vividas e que se transforma em saber a ser utilizado na hora 
em que são desafiados a ensinar de maneira sistematizada. 
 
3 Didática e docência: traços conceituais 
 
Nesta seção, esboça-se quadro conceitual sobre a didática e sua relação intrínseca 
com a docência. Sendo esta última o processo desenvolvido por quem assume a 
função de professor, cabe discutir o que é próprio desse processo, em especial no 
que se refere ao conhecimento de base para desenvolvê-lo. Qual é a dimensão da 
didática nessa relação? 
 
Esse campo compreende um domínio de conhecimento investigativo, disciplinar e 
profissional sobre o processo ensino-aprendizagem, que envolve o trabalho de 
sujeitos cognoscentes (professores e alunos) acerca do objeto cognoscível 
(conhecimento) em contextos situados, visando à formação humana. Dito de outro 
modo, são responsabilidade exclusiva da didática as teorizações e fundamentações 
conceituais e procedimentais sobre a relação entre professores e alunos em torno 
do conhecimento em situações determinadas de ensinar e aprender. Assim, a 
didática, na condição de campo de produção de conhecimento sobre o ensino, cria 
saberes fundamentais para a formação e a prática profissional de professores, 
razão pela qual ela se esboça como disciplina de cursos de licenciatura, 
responsáveis pela formação de professores, e se manifesta no ato de ensinar. 
 
Ensinar requer uma variada e complexa articulação de saberes passíveis de 
diversas formalizações teórico-científicas, científico-didáticas e pedagógicas. Esses 
conhecimentos são requeridos porque na atividade docente há inúmeros fatores 
implicados, por exemplo, a forma como o professor compreende e analisa as suas 
práticas educativas, articula diferentes saberes no seu ato de ensinar e age diante 
do inesperado e do desconhecido. 
 
Nesse sentido, considerando as discussões sobre a base de conhecimento 
profissional docente, sustenta-se a premissa de que o ofício de ensinar exige o 
 
 
 
 
 
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domínio do conteúdo, mas não somente. As sistematizações sobre o conhecimento 
que um professor deve possuir para ensinar focalizam vários saberes, sendo um 
deles ligado à especificidade didática. Porém, ainda assim, a síntese desses 
saberes representa o que a própria didática é, envolve e faz. 
 
Para tanto, será apresentado resumo dos quadros tipológicos de três autores – 
Tardif (2002), Gauthier (1998) e Shulman (1987) –, com o propósito de demarcar a 
centralidade da didática na sua relação com a docência. 
 
Tardif (2002) discute os saberes dos professores no trabalho, argumentando a favor 
da perspectiva de que o conhecimento é uma construção coletiva porque é 
partilhado por um grupo de agentes, sustentando-se por meio de um sistema 
educativo que o cria, utiliza-o e legitima-o, e decorre de práticas sociais. Dessa 
forma, é incongruente pensar saber docente, o qual é diverso, plural, temporal e não 
provém de uma única fonte, dissociado do trabalho dos professores. O quadro 
tipológico de Tardif (2002) faz referência a quatro saberes: 
i) formação profissional, conhecimentos sustentados pelos aportes das 
ciências da educação; 
ii) disciplinares, relacionados aos conteúdos das áreas de ensino; 
iii) curriculares, socialmente produzidos e que passam por uma seleção da 
instituição de ensino que os transforma em programas nos quais o 
professor deve aprender e aplicar aos seus alunos; 
iv) experienciais, mais diretamente constitutivos da cultura docente em ação. 
 
Do mesmo modo que Tardif, Gauthier (1998) defende o ensino como a mobilização 
de vários saberes, que formam uma espécie de reservatório, do qual o professor se 
abastece para responder a exigências específicas de situações concretas de 
trabalho. Esse reservatório contém saberes: 
i) disciplinares; 
ii) curriculares; 
iii) das ciências da educação; 
iv) da tradição pedagógica; 
v) experienciais; 
 
 
 
 
 
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vi) da ação pedagógica. 
 
Os disciplinares correspondem aos conhecimentos que se encontram à disposição 
dos professores com base em cada disciplina.O curricular está relacionado à forma 
como a escola e as demais instituições envolvidas no processo educativo 
selecionam e organizam os conteúdos das disciplinas. Entretanto, ao ensinar, o 
professor transforma, escolhe e recorta o currículo. É possível dizer que esse saber 
funciona como guia, e não conhecimento essencial. O das ciências da educação 
compreende os saberes que envolvem questões profissionais específicas, que 
servem de pano de fundo para o professor e membros da categoria – por exemplo, 
questões relacionadas a sistema escolar, conselho escolar, sindicato, carga horária, 
ou seja, referentes à instituição de ensino, próprias do trabalho de gestão 
educacional. O da tradição pedagógica corresponde às noções preconcebidas do 
que representa a escola e o ato de ensinar. Marcado pela tradição, esse 
conhecimento poderá apresentar fragilidades validadas ou não pelo saber 
experiencial e o da ação pedagógica. O experiencial, como o próprio nome sugere, 
está ligado à experiência do professor. De acordo com o autor, o docente “[...] 
realiza julgamentos privados, elaborando ao longo do tempo uma espécie de 
jurisprudência composta de truques, de estratagemas e de maneiras de fazer que, 
apesar de testadas, permanecem em segredo” (Gauthier, 1998, p. 33). O da ação 
pedagógica é “o saber experiencial dos professores a partir do momento em que se 
torna público e que é testado através das pesquisas realizadas em sala de aula” 
(Gauthier, 1998, p. 33). Gauthier defende que o saber da ação pedagógica deve ser 
explicitado por meio de pesquisas, pois é de suma importância para a 
profissionalização do ensino, visto que constitui um dos fundamentos da identidade 
profissional do professor. Ao evidenciar tais saberes, o autor sinaliza duas 
dimensões: uma epistemológica, no que se refere à natureza deles; e outra política, 
no que diz respeito ao êxito de um grupo social, ao delimitar um território que 
apresente o saber peculiar à determinada profissão. 
 
Voltando-se para Shulman (1987), verifica-se que a base de conhecimentos docente 
envolve sete tipos específicos: 
i) do conteúdo da matéria a ser ensinada; 
 
 
 
 
 
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ii) de pedagogia geral (conhecimentos produzidos por estudiosos da 
educação, sobretudo considerando princípios e estratégias de gestão e 
organização da classe para além do âmbito do sujeito); 
iii) do currículo, com especial domínio dos materiais e programas que servem 
como ferramentas para o ofício docente; 
iv) da especificidade pedagógica do conteúdo; 
v) dos alunos e de suas características; 
vi) dos contextos educativos, que vão desde o funcionamento do grupo ou da 
sala de aula, da gestão e do financiamento dos distritos escolares até o 
caráter das comunidades e culturas; 
vii) dos objetivos, metas e valores educacionais e de seus fundamentos 
filosóficos e históricos. 
 
Os estudos de Shulman (1987) evidenciam que o ensino começa com um ato da 
razão, continua com um processo de raciocínio, culmina com o desempenho e, 
então, reflete-se mais sobre ele, até que todo o processo se inicie novamente. 
Desse modo, o ensino é tido como compreensão e raciocínio, transformação e 
reflexão. Trata-se de processo de raciocínio pedagógico que torna potente a base 
de conhecimento profissional, no sentido em que age na articulação desses 
saberes, assim como na sua evocação para a ação, por meio de um movimento 
integrado de compreensão, transformação, instrução, avaliação, reflexão e nova 
compreensão, resultante da análise sistemática do ensino. 
 
A base sustentada por Shulman (1987) pode ser categorizada em três grandes 
frentes de conhecimento presentes no desenvolvimento cognitivo do professor: 
subject knowledge matter (conhecimento do conteúdo da matéria ensinada); 
pedagogical knowledge matter (conhecimento pedagógico da matéria); e curricular 
knowledge (conhecimento curricular). O primeiro diz respeito ao entendimento do 
professor acerca da estrutura da disciplina, sobre como ele organiza cognitivamente 
a matéria que será objeto de ensino. Essa compreensão requer ir além dos fatos e 
conceitos intrínsecos à disciplina e pressupõe observar as formas pelas quais os 
princípios fundamentais de uma área estão organizados. No tocante ao 
conhecimento pedagógico da matéria, prevalecem os modos de formular e trabalhar 
 
 
 
 
 
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o conteúdo de maneira a torná-lo compreensível aos alunos, incluindo analogias, 
ilustrações, exemplos, explanações e demonstrações. O conhecimento curricular se 
relaciona à capacidade de reconhecer o currículo como o conjunto de programas 
elaborados para o ensino de determinados assuntos em um dado nível, bem como a 
variedade de materiais didáticos disponíveis referentes àqueles programas. 
 
Um olhar comparativo dos saberes citados pelos autores mencionados (Tardif, 
2002; Gauthier, 1998; Shulman, 1987) permite notar que três fontes de 
conhecimento encontram assento em três categorizações: a fonte do conhecimento 
a ser ensinado ou a dos saberes disciplinares; a referente ao currículo; e a 
relacionada ao conhecimento da pedagogia ou das ciências da educação – nesse 
caso, conhecimento pedagógico geral para Shulman (1987), das ciências da 
educação para Gauthier (1998) e de formação profissional para Tardif (2002). 
 
Nessa direção, é de se esperar que um professor, seja ele da educação básica ou 
do ensino superior, diante da responsabilidade profissional de ensinar determinados 
conhecimentos aos seus alunos, questione-se não apenas sobre o que ele próprio 
sabe acerca desse conhecimento (conteúdo), mas, acima de tudo, sobre a forma de 
agir pedagogicamente para que seus alunos desenvolvam sua própria compreensão 
desse conteúdo. Esse movimento de reflexão, que envolve tomada de decisão 
sobre como ensinar, denominado por Shulman (1987) de raciocínio pedagógico, 
integra o processo ensino-aprendizagem, objeto da didática, reforçando a tese de 
que os saberes mobilizados pelo professor para lecionar, ainda que originários de 
diferentes fontes, articulam-se invariavelmente com a própria didática. 
 
Para ensinar, o professor necessita acionar a sua base de conhecimentos a fim de 
fazer escolhas e desenvolver ações visando a promover a aprendizagem de seus 
alunos. Logo, ensinar é um processo que requer escolhas adequadamente 
fundamentadas. Trata-se do trabalho especializado que especifica a docência, como 
defende Roldão (2007). Para essa autora, a função de ensinar é socioprática, porém 
o saber que envolve é teorizador, compósito e interpretativo. A ação de ensinar é 
inteligente e fundada em um domínio seguro do conhecimento, que emerge de 
vários saberes formais e do experiencial. Assim sendo, o professor precisa mobilizar 
 
 
 
 
 
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todo tipo de saber que possui, transformando-o em ato de ensinar enquanto 
construção de um processo de aprendizagem de outros e por outros. Nesse 
processo reside o que lhe é próprio, o ato de ensinar – que caracteriza a docência e, 
consequentemente, é alvo de investimento para sua profissionalidade. 
 
Ora, sendo a didática o domínio de conhecimento sobre o processo ensino-
aprendizagem e sendo o ensino a ação que especifica a função docente, os saberes 
que o professor possui, mobiliza, transforma e recria, a partir de nova compreensão, 
para ensinar e fazer o aluno aprender é a didática em si. Nesse sentido, esse 
campo, mais do que aquilo que faz o professor para ensinar, representa também a 
própria base de fundamentos acerca do que ele reflete, analisa, compara, escolhe, 
decide, propõe, implementa, avalia e registra para ensinar, constituindo-se, portanto, 
em síntese da sua base de conhecimento profissional e expressão objetiva de seu 
raciocínio pedagógico. 
 
Uma vez esboçados os principais traços conceituais que fundamentam acompreensão acerca da didática e da docência, cabe questionar como essa relação 
se manifesta no contexto do ensino superior. 
 
4 Docência no ensino superior: traços contextuais 
 
Os estudos sobre docência no ensino superior no Brasil são relativamente recentes, 
ganhando maior visibilidade com as publicações de Cunha (1998; 1999; 2006; 2007; 
2008; 2010); Castanho e Castanho (2001); Anastasiou (2001); Masetto (2001); 
Pimenta e Anastasiou (2002); e Almeida (2012). 
 
Cunha (2010) coordena um grupo de pesquisa sobre formação de professores, 
ensino e avaliação que se dedica, de modo preferencial, à educação superior. Seus 
estudos, em um primeiro momento, apontaram a necessidade de revitalização das 
formas de ensinar nesse nível, destacando práticas curriculares consideradas 
inovadoras e desenvolvendo teorizações sobre a base dos saberes docentes, na 
tentativa de romper com o paradigma dominante de ensino na modernidade. Em 
 
 
 
 
 
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fase subsequente, foi incorporada a necessidade de analisar os efeitos das políticas 
externas no ensino superior, com especial atenção à avaliação. Logo a problemática 
da formação para a docência universitária se manifestou, levando a investigação de 
trajetórias e lugares de formação da docência universitária e problematizando a falta 
de regulação e o consequente “não lugar” da formação desse professor 
 
Castanho e Castanho (2001) organizaram uma coletânea de temas e textos em 
metodologia do ensino superior, com a participação de autores com vasta 
experiência na área, dentre os quais, Kuenzer, Chizzotti, Severino, Veiga, 
Anastasiou, Wachowicz, Masetto e Placco. O livro, diante da qualidade dos textos e 
da abordagem sobre metodologia voltada especificamente para o ensino superior, 
tornou-se peça-chave dos cursos sobre DES que emergiram nos anos 2000, no 
âmbito da pós-graduação lato sensu, como meio de atenuar a ausência de 
formação específica para esse nível de ensino. Nessa coletânea, Anastasiou 
apresenta panorama da metodologia de ensino na universidade brasileira e 
Mazzetto, uma série de reflexões e sugestões práticas sobre atividades 
pedagógicas na sala de aula universitária. 
 
Pimenta e Anastasiou (2002) oferecem contribuição singular para a área ao 
sistematizarem, na obra intitulada Docência no ensino superior, princípios 
postulares da identidade profissional, enfocando: as exigências atuais para o 
exercício da profissão e suas condições de trabalho; os aspectos históricos da 
universidade brasileira que forjaram um modelo de professor; a natureza do trabalho 
docente determinada em grande medida por modelos de conhecimento científico; e 
a proposição, de natureza didática, de superar cada vez mais a ideia de ensino 
centrado na exposição do professor para dar lugar a ideia de “ensinagem”, 
compreendida como “processo compartilhado de trabalhar os conhecimentos, no 
qual concorrem conteúdo, forma de ensinar e resultados mutuamente dependentes” 
(Pimenta; Anastasiou, 2002, p. 214). 
 
Almeida (2012) faz avançar a produção de conhecimento da área na medida em 
que parte das discussões sobre as transformações ocorridas na universidade 
contemporânea e da necessidade de formação pedagógica dos professores do 
 
 
 
 
 
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ensino superior para enfrentar a responsabilidade institucional de garantir a 
valorização e as possibilidades formativas por meio de ações políticas de gestão. 
Sem o interesse do docente e as condições oferecidas pela instituição onde realiza 
seu trabalho, o desenvolvimento profissional estará comprometido. 
 
A análise das produções desses autores permite elencar alguns traços que 
contextualizam a DES. O primeiro refere-se ao fato de que o ensino superior no 
Brasil, porque objetiva a formação para diferentes carreiras, tem requerido o 
protagonismo de profissionais e especialistas para dirigir o processo de transmissão 
e assimilação dos conteúdos necessários ao domínio do corpo conceitual de cada 
área. Nessa esteira, a docência universitária tem sido fortemente marcada pela 
ciência moderna e sua ênfase na racionalidade técnica, que eleva o peso do 
conhecimento específico da área e subalterniza a importância da formação 
pedagógica. Segundo Cunha (2010), a docência universitária afirmou-se com base 
nos saberes dos campos profissionais e científicos dos professores que, mediante 
as representações tradicionais de suas trajetórias, consolidavam um modo de 
ensinar. A autoridade destes, respaldada por uma hierarquia inquestionável nas 
instituições, legitimava a cultura estabelecida. 
 
O segundo traço contextual, em decorrência do anterior, diz respeito à ausência de 
legislação específica sobre a formação para a DES. De acordo com a Lei nº 9.394, 
de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –, e 
o Decreto nº 2.207, de 15 de abril de 1997, que regulamenta o sistema federal de 
ensino, a formação desse professor deve ocorrer no âmbito dos cursos de pós-
graduação, lato sensu ou stricto sensu, prioritariamente em programas de mestrado 
e doutorado. Via de regra, o mestrado e o doutorado em determinada área vêm 
consolidando-se como o lócus de formação do professor do ensino superior, em 
grande medida pela formação em pesquisa e especializada e por conta do 
dispositivo de que as instituições de ensino superior tenham o mínimo de um terço 
de seus docentes titulados na pós-graduação stricto sensu. Nessa perspectiva, não 
é difícil depreender que a formação específica para o ensino, processo constitutivo 
da docência, não encontra lugar nesse percurso. O professor do ensino superior é 
 
 
 
 
 
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catedrático, especialista de uma área e pesquisador, sem, necessariamente, contar 
com processo formativo específico para ser docente. 
 
O terceiro traço contextual relaciona-se à identidade. Como se tornar professor no 
ensino superior? A socialização profissional desse docente ocorre de forma intuitiva, 
replicadora do que seus mestres fizeram e da sua experiência de aluno. Sem contar 
a condição híbrida que permeia sua identidade, posto que ser professor decorre de 
ser determinado profissional, especialista e pesquisador. 
 
Esses traços contextuais confirmam a necessidade de afirmar a importância da 
formação em didática para o exercício da DES, visto que, com base em Roldão 
(2007), o docente profissional é aquele que ensina não apenas porque possui o 
conhecimento, mas porque sabe ensinar. É ser especialista da complexa 
capacidade de transformar o saber curricular mediado por um saber científico, por 
um domínio técnico-didático rigoroso, por uma postura meta-analítica, de 
questionamento intelectual da ação, de interpretação permanente e realimentação 
contínua, para que o aluno aprenda de forma contextualizada e com significado. 
 
 
 
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Andragogia 
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Recursos educacionais abertos: colaboração e cocriação 
Avaliação da aprendizagem no ensino superior 
Dimensões do processo ensino e aprendizagem na educação superior 
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