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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE Centro de Ensino à Distância Tema: Influências da comunidade local sobre o ecossistema do mangal no Bairro de Bandar em Metuge (2014 – 2018) Alberto Joaquim Didime Nanduva Pemba, Fevereiro de 2019 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE Centro de Ensino à Distância – CED Tema: Influências da comunidade local sobre o ecossistema do mangal no Bairro de Bandar em Metuge (2014 – 2018) Alberto Joaquim Didime Nanduva No 708140512 Orientada por: dr. José Cadre Mitilage Pemba, Fevereiro de 2019 Monografia científica submetida ao Centro de Ensino à Distância da Universidade Católica de Moçambique, para conclusão do grau de licenciatura em ensino de Biologia. II ÍNDICE Declaração ................................................................................................................................. V Dedicatória................................................................................................................................ VI Agradecimentos .......................................................................................................................VII Resumo .................................................................................................................................. VIII Lista de siglas e abreviaturas .................................................................................................... IX Lista de tabelas .......................................................................................................................... X Lista de figuras ......................................................................................................................... XI Lista de gráficos.......................................................................................................................XII CAPITULO I: INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1 1. Introdução ............................................................................................................................... 1 1.1 Delimitação do tema ......................................................................................................... 3 1.2 Justificativa ....................................................................................................................... 3 1.2.1 Relevância científica.................................................................................................. 4 1.2.2 Relevância social ....................................................................................................... 4 1.3 Problematização................................................................................................................ 4 1.4 Objectivos ......................................................................................................................... 5 1.4.1 Objectivo geral........................................................................................................... 5 1.4.2 Objectivos específicos ............................................................................................... 5 1.5 Hipóteses........................................................................................................................... 5 CAPITULO II – REVISÃO DA LITERATURA....................................................................... 7 2.1 Descrição do objecto de estudo ........................................................................................ 7 2.1.1 Generalidades ............................................................................................................ 7 2.1.2 Localização geográfica do distrito de Metuge ........................................................... 7 2.1.3 Características biofísicas ........................................................................................... 8 2.2 Fundamentação teórica ................................................................................................... 14 III 2.2.1 Impacto ambiental ................................................................................................... 14 2.2.2 Conceito de ecossistema .......................................................................................... 14 2.2.3 Caracterização de actividade antropogénica............................................................ 14 2.2.4 Conceito de ecossistema do mangal ........................................................................ 15 2.2.5 Características do ecossistema do mangal ............................................................... 16 2.2.6 Importância do ecossistema do mangal ................................................................... 17 2.2.7 Degradação do mangal ............................................................................................ 19 2.2.8 Comunidade local .................................................................................................... 20 2.2.9 Influências da comunidade local sobre o ecossistema do mangal ........................... 20 2.2.10 Distribuição do mangal em Moçambique .............................................................. 21 CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICO ................................................... 22 3.1 Métodos de abordagem ................................................................................................... 22 3.1.1 Método indutivo....................................................................................................... 22 3.1.2 Metodo hipotetico dedutivo ..................................................................................... 22 3.2 Universo.......................................................................................................................... 23 3.3 Amostra........................................................................................................................... 23 3.4 Métodos de procedimento............................................................................................... 23 3.4.1 Consulta bibliográfica.............................................................................................. 23 3.4.2 Método de observação ............................................................................................. 24 3.5 Técnicas de colecta de dados .......................................................................................... 25 3.5.1 Entrevista ................................................................................................................. 25 3.5.2 Inquérito................................................................................................................... 25 CAPÍTULO IV – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ....................................... 27 4.1 Condições da habitação da comunidade de Bandar........................................................ 28 4.2 Material de construção mais usado entre os habitantes de Bandar................................. 29 4.3 Causas da diminuição do mangal de Bandar .................................................................. 30 4.4 Principais usos do mangal em Bandar ............................................................................ 30 IV 4.5 Evolução do mangal em Bandar nos últimos 4 anos ...................................................... 31 4.6 Impactos resultantes do corte do mangal em Bandar ..................................................... 32 4.7 Situação sobre a gestão dos usos do mangal .................................................................. 33 4.8 Medidas de preservação do mangal de Bandar............................................................... 33 4.9 Discussãodos resultados ................................................................................................ 34 4.9.1 Categoria 1: Situação do ecossistema do mangal a nivel do distrito e de Bandar em particular ........................................................................................................................... 34 4.9.2 Categoria 2: Factores da degradação do mangal em Bandar ................................... 35 4.9.3 Categoria 3: Consequências da degradação do mangal em Bandar ........................ 35 4.9.4 Categoria 4: Estratégias de preservação do mangal em Bandar .............................. 35 CAPITULO V – CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................................. 37 5.1. Conclusão ...................................................................................................................... 37 5.2. Sugestões ....................................................................................................................... 38 Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 39 APÊNDICES ............................................................................................................................ 41 Anexos ...................................................................................................................................... 50 V Declaração Declaro que esta monografia científica é resultado da minha investigação pessoal sob orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado, na sua essência, em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico. Pemba, Fevereiro de 2019 _____________________________________________ (Alberto Joaquim Didime Nanduva) VI Dedicatória Dedico este trabalho à minha família, em especial aos meus filhos, que têm me acompanhado durante esse tempo todo. Dedico também a todos aqueles que directa ou indirectamente deram o seu contributo na realização desta monografia científica. VII Agradecimentos Agradeço em primeiro lugar a Deus e a todos que estiveram presentes em minha trajectória académica. Ao meu supervisor, pela orientação e correcção atenciosa para elaboração com sucesso desta monografia. A todos os docentes do curso de Biologia da Universidade Católica, Centro de Ensino a Distância, que ao longo dos anos deram o seu contributo durante a minha formação. Aos técnicos do Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE) e ao chefe do bairro de Bandar na vila de Metuge pela prontidão em fornecer informações relevantes para a concretização desta monografia. Vão ainda aos meus colegas do curso de Biologia e amigos que directa ou indirectamente contribuíram para a elaboração desta monografia científica. VIII Resumo O presente trabalho Influencias da comunidade local sobre o ecossistema do mangal no bairro de Bandar na vila de Metuge tem como objectivo adoptar medidas estratégicas para minimizar os impactos sobre esse ecossistema. O ecossistema do mangal tem desempenhado um papel preponderante no desenvolvimento económico, na protecção dos ambientes e da biodiversidade natural nas regiões costeiras. Contudo, nos últimos anos, o mangal da zona costeira de Bandar, reduziu significativamente por causa do crescente movimento migratório a procura de mecanismos de sustento das famílias. A maior parte de residências, estão em iminência de erosão costeira por causa de as mesmas serem implantadas em locais impróprios. Para o alcance dos objectivos foram colectadas no total 65 pessoas, dos quais 60 pessoas residentes do bairro e ainda entrevistados 4 técnicos do SDAE e 1 secretário do Bairro de Bandar. Segundo a comunidade local e evidências indicam que uma parte de residências foi devorada pelas águas do oceano, constituindo assim uma das consequências de influência da comunidade local sobre ecossistema do mangal. A costa de Bandar é zona habitacional que enfrenta muitos problemas por a maioria das casas estarem implantadas em áreas impróprias, designadamente marés, erosão costeira, ausência de drenagens pluvial, entre outros problemas ambientais. Porém a causa primária da perda de áreas de mangal nessa zona é atribuída à actividade humana como a construção de casas, combustível lenhoso para venda e sua subsistência. No entanto, segundo os nossos entrevistados, ainda não foram avançadas alternativas com vista a mitigar os problemas de modo a alcançar o desenvolvimento sustentável do mangal na área de estudo. Palavras-chave: Influencias, comunidade local, ecossistema e mangal. IX Lista de siglas e abreviaturas CED – Centro de Ensino à Distância EIA – Estudos Impactos Ambientais gráf – gráfico GD – Governo do Distrito ha – hectares INE – Instituto Nacional de Estatística m – metro MICOA – Ministério para Coordenação da Acção Ambiental PDM – Perfil Distrital de Metuge SDAE – Serviço Distrital de Actividades Económicas tab – tabela UCM – Universidade Católica de Moçambique X Lista de tabelas Tabela 1 – Principais espécies de mangal na costa moçambicana e sua utilização .................. 18 Tabela 2 – Causas da diminuição do mangal de Bandar .......................................................... 30 Tabela 3 – Principais usos do mangal em Bandar .................................................................... 31 Tabela 4 – Impactos resultantes do corte do mangal em Bandar ............................................. 33 XI Lista de figuras Fig. 1 – Solos argilosos e hidromórficos escuro-cinzento de Bandar em Metuge ..................... 9 Fig. 2 – Área de inundação junto ao mangal de Bandar em Metuge. ....................................... 10 Fig. 3 – Figura A ilustra as antigas áreas de mangal já devastadas e B corresponde o risco de erosão por consequência da devastação do mangal. ................................................................. 11 Fig. 4: Residências que estão cercadas pelas águas de inundação parecendo ilhota, sendo assim, no momento de maré alta ficam cercadas de água. ....................................................... 12 Fig. 5 – Diferentes usos de algumas espécies do mangal junto da comunidade de Bandar ..... 12 Fig. 6: Algumas espécies de crustáceos encontrados nos mangais da costa de Bandar. .......... 13 XII Lista de gráficos Gráfico 1 – Condições da habitação da comunidade de Bandar .............................................. 29 Gráfico 2 – Material de construção mais usado entre os habitantes de Bandar ....................... 29 Gráfico 3 – Evolução do mangal nos últimos 4 anos ............................................................... 32 Gráfico 4 – Medidas de preservação do mangal de Bandar ..................................................... 34 1 CAPITULO I: INTRODUÇÃO 1. Introdução A presente monografia intitulada “Influencias da comunidade local sobre o ecossistema do mangal no bairro de Bandar em Metuge”, será importante para se fazer uma abordagem atinente as acções antropogénicas que estão por detrás da degradação do mangal da zona costeira de Bandar que deixa a própria área em risco no que concerne a erosão costeira. A destruição do mangal tem trazido consequências muito graves tais como: perda da biodiversidade das florestas,diminuição da qualidade do ambiente, aumento da erosão e a elevação do nível do mar. Contudo, tenta-se arranjar soluções mitigadoras para o melhoramento das acções destruidoras que deixam a zona despida de floresta de mangal. Esse ecossistema tem uma grande importância para a vida da comunidade daquele ponto na medida que vão obtendo a madeira para construção de habitações, barcos de pesca, combustível lenhoso e carvão bem como a captura de diversos crustáceos para complementar a dieta alimentar. Por outro lado contribui para a estabilização e prevenção da erosão da linha costeira. Por estas razões, o mangal deveria ser um ecossistema muito protegido e até mesmo preservado através de plantio na linha da costa uma vez a área de estudo está devastada devido às acções a cima citadas. É de salientar que o crescimento da zona residencial de Bandar conhece uma aceleração como resultado da procura de espaços para edificação de habitações. Deste modo parte desta população de Bandar residiu outrora nos distritos de Ancuabe e Quissanga. Trata-se de uma zona habitacional que enfrenta muitos problemas por maioria das casas estarem implantadas em áreas impróprias, designadamente marés, erosão costeira, ausência de drenagens pluvial, entre outros problemas ambientais. Segundo a comunidade local e evidências indicam que uma parte de residências foi devorada pelas águas do mar, constituindo assim uma das consequências das influências da comunidade local sobre o ecossistema do mangal. 2 Esta monografia científica é destinada a obtenção do grau académico de licenciatura em ensino de Biologia. Ela está estruturada em cinco (5) capítulos. Aos quais se acrescentam as conclusões, as referências bibliográficas, apêndices e anexos. O primeiro capítulo é a parte introdutória onde é apresentado o tema e engloba a delimitação do tema da pesquisa, a sua justificativa, a problematização, hipóteses bem como os objectivos a alcançar. O segundo capítulo diz respeito a revisão da literatura onde são apresentados alguns conceitos e conteúdos que versam sobre o ecossistema do mangal. Todavia, são apresentadas ainda neste capítulo as características da área de estudo como a localização geográfica, os aspectos climáticos, pedológicos, hidrográficos, florísticos e faunísticos. No terceiro capítulo corresponde a metodologia adoptada para a execução desse trabalho que tem a ver com as componentes bibliográficas e de campo onde igualmente foram usadas técnicas que suscitaram até a fase final do mesmo. No quarto capítulo são interpretados e analisados os principais dados colhidos na base de ferramentas como entrevista, inquérito e observação, na fase do trabalho de campo. Na sequência disso, são produzidos tabelas, gráficos e inseridas imagens fotográficas mais relevantes para o estudo. As principais conclusões e sugestões são apresentadas no quinto e último capítulo onde, igualmente, são ostentados os apêndices e anexos. 3 1.1 Delimitação do tema A presente pesquisa foi realizada na vila sede do distrito de Metuge, concretamente na zona costeira do bairro de Bandar. Esta pesquisa fez uma análise comparativa de evolução do revestimento deste ecossistema dos últimos quatro (4) anos de forma a compreender as influências da comunidade local sobre o ecossistema do mangal em Bandar nesse espaço de tempo entre 2014 a 2018. 1.2 Justificativa A orla marítima de Bandar assume uma importância estratégica em termos ambientais, pelo que o aproveitamento das suas potencialidades responde as necessidades da comunidade local e desenvolvimento sustentável apoiada numa gestão integrada e coordenada dessa área. O mangal tem sido explorado pela comunidade local não tendo em consideração a gestão dos seus recursos numa base sustentável. No entanto, a pressão sobre esse ecossistema é relativamente alta ao longo do Bairro de Bandar em Metuge, com inúmeros benefícios para a população local extraindo lenha, material de construção, madeira, etc. O tema foi escolhido com vista a responder estes problemas sobre o mangal de modo a sensibilizar os praticantes para minimizar as acções humanas que vêm dizimando e pondo em risco a zona contra a erosão costeira e a degradação do ecossistema do mangal na área de estudo. Outra razão da escolha deste tema recai ao governo local para criar grupos de fiscais comunitários com objectivos de velar as actividades sobre esse ecossistema. De acordo com Uacane (2014, p. 216),“a acção antropogénica é o maior catalisador da erosão na orla marítima, devido sobretudo a destruição do revestimento vegetal natural (mangal) e, em particular pela ocupação de dunas para diversos usos sociais‖. A partir dessa ideia, pode-se entender que há necessidade de proteger o ecossistema do mangal que serve para fixar os solos, impedindo a erosão e, ao mesmo tempo, estabilizando a linha da costa, uma vez que são perdidas importantes fracções ecológicas desempenhadas por esse ecossistema. 4 1.2.1 Relevância científica As alterações constante ou seja o uso irracional desse ecossistema cria problemas como a degradação dos solos, erosão costeira entre outros problemas que inquietam a comunidade científica. Neste contexto, o autor considera que as várias áreas do saber (em particular nas ciências biológicas) devem ter em consideração os aspectos relacionados com o meio ambiente nas suas abordagens científicas. 1.2.2 Relevância social No âmbito social, este tema tem uma grande relevância dado que a principal causa da destruição do ecossistema do mangal é a acção humana como o corte para obtenção de combustível lenhoso, a construção de canoas e casas por parte da comunidade local. Posteriormente espera-se que a pesquisa traga melhoria no que diz respeito a minimização da acção nociva ao mangal de modo a evitar os impactos como a erosão, cheias, inundações e a consequente redução dos mariscos. 1.3 Problematização A faixa costeira do bairro de Bandar em Metuge, apresenta vários indicadores de destruição ou degradação do ecossistema do mangal. Evidências mostram a problemática da erosão costeira e a redução da captura dos mariscos como consequência da destruição do mangal na vila de Metuge e concretamente no bairro de Bandar. Luís (2011, p.48) salienta que ―até a década de 80 grande parte das actuais áreas de cobertura do mangal era coberta por densas árvores de mangal contrariamente ao período actual onde em alguns locais apenas se observam alguns vestígios da existência desse ecossistema‖. Segundo Saket (1994, p.18), ―a pressão sobre o mangal é relativamente alta ao longo da costa, com inúmeros benefícios para as populações locais extraindo lenha, material de construção, madeira, usando terras para salinas, para agricultura, etc‖. Analisando as ideias dá para entender que no distrito de Metuge em este ecossistema sofre alta pressão devido o aumento da população nas zonas ao redor do mangal, a necessidade de 5 emprego torna-se maior, e como solução imediata a população derruba as florestas de mangal de modo a obter estacas para a venda e dessa forma garantir a sua sobrevivência. O mangal produz mais de 95% do alimento que o homem captura no mar. Por essa razão, a sua manutenção é vital para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem em seu redor como tem se verificado em Bandar. A destruição do mangal gera grandes prejuízos, inclusive para economia, directa ou indirectamente, uma vez que são perdidas importantes fracções ecológicas desempenhadas por esses ecossistemas. A pesquisa do problema apresentado, tem como objectivo contribuir na sensibilização aos intervenientes do ambiente de Bandar com vista a minimizar os problemas sobre o mangal. Mediante a estes pressupostos levanta-se a seguinte questão: “Que medidas estratégicas podem ser adoptadas para minimizaro problema”? 1.4 Objectivos 1.4.1 Objectivo geral Adoptar medidas estratégicas para minimizar os problemas sobre o ecossistema do mangal no bairro de Bandar em Metuge. 1.4.2 Objectivos específicos Identificar as actividades da comunidade local que influenciam na degradação do ecossistema de mangal em Bandar. Explicar os factores de influência da comunidade local sobre o ecossistema do mangal no bairro de Bandar; Descrever as leis ambientais para promoção da fiscalização na zona costeira do bairro de Bandar no sentido de preservar o meio ambiente. 1.5 Hipóteses A proibição do abate dos mangais pode ajudar na minimização do problema; 6 A interdição de construções junto das áreas do mangal pode contribuir na melhoria do problema; A divulgação e aplicação de leis ambientais poderão influenciar positivamente na melhoria do problema em causa. 7 CAPITULO II – REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Descrição do objecto de estudo 2.1.1 Generalidades Na década de 1990 altura do conflito armado muitos pescadores vindo sobretudo de vários pontos da província afluíram ao distrito de Metuge com as suas famílias a procura de segurança. Assim dado que estas famílias e em particular as mulheres não podiam dividir as mesmas habitações com os pescadores, houve a necessidade de fazer mais casas precárias. O crescimento da zona residencial de Bandar conhece uma aceleração como resultado da procura de espaços para edificação de habitações precárias. Deste modo parte desta população de Bandar residiu outrora nos distritos de Ancuabe e Quissanga. Trata-se de uma zona habitacional que enfrenta muitos problemas por maioria das casas estarem implantadas em áreas impróprias, designadamente marés, erosão costeira, ausência de drenagens pluvial, entre outros problemas ambientais. Segundo a comunidade local e evidências indicam que uma parte de residências foi devorada pelas águas do oceano, constituindo assim uma das consequências das influências da comunidade local sobre o ecossistema do mangal. 2.1.2 Localização geográfica do distrito de Metuge O distrito de Metuge situa-se a 40 km a Oeste da cidade de Pemba, limitando-se a Norte com o distrito de Quissanga, a Sul com o distrito de Mecúfi, a oeste com o distrito de Ancuabe e a Este com a cidade de Pemba e o Oceano Índico. (PDM, 2015, p.12) O nome do distrito foi mudado de Pemba-Metuge para Metuge em Dezembro de 2013 ao mesmo tempo que o distrito de Pemba foi criado, cuja área coincide com o município do mesmo nome. O distrito está dividido em três postos administrativos nomeadamente Metuge, Messanja e Mieze. Observa o mapa no 1 sobre a localização geográfica do distrito de Metuge. https://pt.wikipedia.org/wiki/Oceano_%C3%8Dndico https://pt.wikipedia.org/wiki/Posto_administrativo https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Metuge&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Messanja&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Mieze&action=edit&redlink=1 8 Mapa 1: Localização geográfica do distrito de Metuge Fonte: ArcGis com base nos dados da Cenacarta 2018. 2.1.3 Características biofísicas 2.1.3.1 Aspectos climáticos O distrito de Metuge é caracterizado por um clima tropical húmido, com uma alta precipitação concentrada em 5 – 6 meses que permite definir duas estações: Uma húmida e quente, influenciada pelos ventos alísios, estendendo-se de Novembro a Abril. A outra estação é seca mais fresca que vai de Maio a Outubro (GD-Metuge, sd). Atendendo a classificação climática de Köppen, o distrito pertence a um clima tropical chuvoso de Savana. A humidade relativa anual é maior no distrito de Metuge, se comparado com outros distritos do interior pelo facto de estar próximo da costa que é influenciado pelas correntes dos ventos procedentes do Índico, com valores de 80 – 83 %, e menor no interior que varia de 68 – 69% 9 (MICOA, 2007). A precipitação média anual varia entre 800 e 1000 mm e a temperatura média durante o período de crescimento das culturas excede os 25ºC. MAE (2005, p.13). A área de estudo como integrante do distrito apresenta este tipo de clima, visto que Bandar é um dos bairros integrante da vila sede do distrito de Metuge. 2.1.3.2 Aspectos pedológicos De acordo com MICOA (2006, pa.44), a parte mineral do solo da área do mangal é formada a partir dos produtos de decomposição de rochas associados aos restos de plantas e de animais, trazidos de fora do ambiente por ondas e ventos, possuindo elevado índice de sal e de coloração cinza escura. Entretanto, os solos que se encontram no interior do mangal de Bandar em Metuge, são hidromórficos escuro-cinzento muito pesados de difícil lavouram no interior e na costa, apresentando-se com argila e mal drenados (Ottesen at all, 1995 citado por GD-Metuge, sd). Observa a Fig. 1. Fig. 1 – Solos argilosos e hidromórficos escuro-cinzento de Bandar em Metuge Fonte: Foto/autor/2018. 2.1.3.3 Aspectos hidrográficos Em áreas cobertas por floresta de mangal predominam os pântanos que no inverno se formam através das águas da chuva e marés altas, durante o escoamento superficial. ―Os pântanos fluviais são as formas mais características de ambientes resultantes de acumulação decorrente de acção fluvial‖ Muchangos (1994, p.24). 10 Essas áreas de mangal são sujeitos a inundações periódicas e apresentam as melhores condições de solos e de disponibilidade hídrica onde a maior parte do ecossistema do mangal desenvolve suportando a alta salinidade das águas marinhas pela acção das marés. Observe a fig. 2. Fig. 2 – Área de inundação junto ao mangal de Bandar em Metuge. Fonte: Foto/autor/2018. 2.1.3.4 Aspectos florísticos O distrito de Metuge apresenta ―seis tipos florestais incluindo outras formações de vegetação não florestais nomeadamente áreas agrícolas e zonas de habitação (povoações). A classificação dos tipos florestais varia de florestas baixas densas, regularmente densas e abertas, assim como matagais, savanas, arbustos e mangal‖. Na área de estudo como integrante e por estar próxima da costa predomina a floresta de mangal. (SDAE-Metuge, sd). Em 2012 o distrito de Metuge contava com uma área florestal de cerca de 113.328 hectares composta por quatro tipos de florestas, nomeadamente miombo, florestas decíduas indiferenciadas, florestas sempre verdes de montanha e mosaico de vegetação costeira (mangal). A ocupação desordenada, o homem destruiu a vegetação que ali existia para erguer a sua habitação e outros fins. Contudo Bandar está despido da vegetação, salvo em lugares de difícil construção, apareceram alguns arbustos de mangal que também sofrem a pressão demográfica. Vide a figura 3. 11 Fig. 3 – Figura A ilustra as antigas áreas de mangal já devastadas e B corresponde o risco de erosão por consequência da devastação do mangal. Fonte: Foto/autor/2018. Como as imagens ilustram, pode-se dizer que o futuro do mangal da zona costeira de Bandar é ameaçador se não se efectuar actividades com a participação da comunidade em geral, governantes, académicos, órgãos de informação social e outros na reversão do actual cenário. Essas, interpretam que a comunidade cortou o mangal que defendia a costa contra a erosão e actualmente a água do mar acabou cercando algumas residências, sendo consequência da interferência da própria comunidade. Isso pode ser justificado na imagem da figura 4. Estas residências são habitadas pela comunidade do bairro de Bandar, em algumas vezes fica cheio de água do mar através do aumento do nível médio das águas do mar (maré alta). É notório que nos próximos anos essas residências cercadas de água poderão ser devoradas pelas águas de inundação se não for feita actividade de intervenção da acção marinha.Vestígios de mangal cortado Risco de erosão como consequência da interferência da comunidade local. A B 12 Fig. 4: Residências que estão cercadas pelas águas de inundação parecendo ilhota, sendo assim, no momento de maré alta ficam cercadas de água. Fonte: Foto/autor/2018. De acordo com MICOA (2006, p.33), há cerca de 5 espécies de árvores de mangal na costa moçambicana, das quais podem ser encontradas na zona costeira de Bandar, nomeadamente Avicennia marina, Sonneratia alba, Hieritiera littoralis, Rhizophora mucronata e Lumnitzera racemosa. Essas espécies, as suas raízes são usadas como medicamento para diarreias e as estacas para construção de casas e barcos, madeira e lenha. Como ilustra a fig. 5. Fig. 5 – Diferentes usos de algumas espécies do mangal junto da comunidade de Bandar 13 Fonte: Foto/autor/2018. 2.1.3.5 Aspectos faunísticos A fauna bravia no distrito de Metuge é muito variada. Existem habitats virgens e uma rica diversidade de espécies de grandes mamíferos, aves, répteis e crustáceos nas proximidades da costa devido a influência do Parque Nacional das Quirimbas principalmente a Norte do distrito (SDAE-Metuge, sd). No passado, em Metuge e Bandar em particular, possuía uma vegetação exuberante do mangal onde as espécies marinhas com maior destaque o camarão multiplicavam-se, e por outro lado o mangal defendia a costa contra erosão. (MICOA, 2006, p.43). Metuge tem uma densidade populacional elevada, especialmente originada por movimentos migratórios sazonais (relacionado com a prática de pesca e agricultura) e permanente relacionado com a sua localização próxima da cidade capital, serviços e empregos. De referir que no distrito há uma grande procura de espaços para a construção de residências. Na costa de Bandar encontra-se muito caranguejo sendo que a maior parte dos pescadores residentes naquele ponto, é a fácil actividade para o sustento das suas famílias e a dieta alimentar segundo os nossos entrevistados. Observa a figura 6. Fig. 6: Algumas espécies de crustáceos encontrados nos mangais da costa de Bandar. Fonte: Foto/autor/2018. 14 2.2 Fundamentação teórica 2.2.1 Impacto ambiental De acordo com Serra (2007, p.39), ―impacto ambiental é qualquer mudança do ambiente, para melhor ou para pior, especialmente com efeitos no ar, na terra, na água, e na saúde das pessoas, resultante de actividades humanas‖. Desta feita, o ―impacto ambiental não é obviamente, só resultado de uma determinada acção humana realizada sobre o ambiente mas sim a relação de mudanças sociais e ecológicas em movimento, o conjunto de um processo que não finaliza mas se redirecciona com as acções mitigadoras‖ (Serra, 2007, p.40). Por exemplo uma alteração de propriedades do meio ambiente, causada por actividades humanas que afectam a saúde, a segurança e o bem-estar da população, as actividades sociais, económicas e a qualidade dos recursos ambientais, que quando direccionadas às acções mitigadoras poderão minimizar os seus impactos para melhor. 2.2.2 Conceito de ecossistema Segundo Serra (2007, p.19), ―ecossistema é um complexo dinâmico das comunidades vegetais, animais e de micro organismos e seu ambiente não vivo, que interagem como uma unidade funcional‖. Canavilhas (2006, p.89), ecossistema é o ―conjunto de comunidades interdependentes cujos organismos reciclam matéria enquanto a energia flui através deles‖. Analisando a ideia dos autores a cima citados, pode-se concluir que o ecossistema é a combinação funcional dos organismos com os factores ambientais, introduzindo assim dois tipos de componentes interactivas no ecossistema: a componente abiótica (relacionada com os ambientes) e a componente biótica (relacionada com os seres vivos). 2.2.3 Caracterização de actividade antropogénica Para Serra (2007, p.18), ―actividade é qualquer acção de iniciativa pública ou privada, relacionada com a utilização ou exploração de componentes ambientais, a aplicação de 15 tecnologias ou processos produtivos, planos, programas, actos legislativos ou regulamentares, que afecta ou pode afectar o ambiente‖. Analisando a ideia do autor acima citado, pode-se concluir que as interferências humanas podem afectar o ambiente ou a degradação do meio, na medida em que o êxodo rural motivado pela procura de melhores condições de vida, provoca um aumento da densidade populacional na cidade, pois a pressão que exerce sobre as infra-estruturas de protecção e sobre os sistemas de drenagem e a desflorestação a volta da zona é mais elevada. Segundo Piliackas, (2007, p.78), ―actividade antropogénica é qualquer acção humana que, de alguma forma, interfira nos mecanismos naturais de funcionamento de uma unidade ecológica ou ecossistema‖. Portanto, é uma acção que causa algum tipo de impacto no ambiente ou num ecossistema interferindo em seu funcionamento natural. Além da acção humana directa sobre o meio natural, existe a presença dos chamados elementos antropogénicos, como construções e objectos humanos, que actuam como agentes de degradação e modificação do meio. Em relação a área de estudo a actividade praticada pelo homem vem influenciando directamente naquilo que é a alteração do ambiente, visto que todo ser humano necessita de um ambiente sadio para a sua estadia. 2.2.4 Conceito de ecossistema do mangal Segundo Lehninger (1977, p.11), ―o ecossistema do mangal é um tipo de formação vegetal constituída por plantas litorâneas que se desenvolvem num sistema regulado‖. Luís (2011, p.23) analisa a ideia de Kathiresan (2000), lembrando que o mangal é um grupo muito diverso de árvores não relacionadas umas com as outras, como as palmeiras, arbustos, plantas trepadeiras ou rastejantes de caule delgado e fetos, que partilham a capacidade de viverem em solos alagadiços e salinos sujeitos a uma inundação regular. Fazendo análise das citações a cima, pode-se verificar que os ecossistemas do mangal são plantas altamente especializadas que desenvolveram em adaptações excepcionais em relação às condições ambientais únicas e que suportam a elevada salinidade, nas quais podem ser encontradas no bairro de Bandar em Metuge. 16 O mangal é concebido como um ―ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestres e marinhos, característicos de regiões tropicais e subtropicais, podendo ser encontrado em áreas intermediárias, geralmente entre terra seca e o mar‖ (Pereira, 2005, p.18). Segundo Litulo at all (2008, p.36) ―refere-se ao mangal ou floresta de mangal como um termo para caracterizar uma variedade de comunidades costeiras da zona tropical e subtropical dominada por uma variedade de árvores e arbustos sempre verdes que crescem em regiões com água de elevada salinidade‖. Tal como abordam os autores, as florestas de mangal encontram-se em áreas relativamente protegidas, entre o continente e o mar, onde a energia das ondas do mar é reduzida, um exemplo concreto os mangais de Metuge, desenvolvem-se melhor em áreas expostas a um abastecimento contínuo em água salgada, principalmente em zonas de inundação (pântanos) que se encontram ao longo da costa. 2.2.5 Características do ecossistema do mangal Em relação às características do ecossistema do mangal Pereira (2005, p55) diz que: Esse tipo de ecossistema apresenta característica importante por ser uma das poucas espécies vegetais que tolera a alta salinidade apresentada pelas águas e solos aluvionares, intervindo no prolongamento da costa em relação ao mar, reduzindo a acção das co rrentes marítimas, contribuindo para a contenção do avanço da erosão costeira. (p. 55). No que se refere a área de estudo os mangais ocorrem em áreas sujeitas à acção de marés, havendo neles uma lama negra como substrato. Caracterizam-se como biomas de interface, e são compostos pelas misturas de águas de drenagem continentaise oceânicas. Canavilhas (2006, p.43), argumenta que o ecossistema dos mangais age como ―construtor da terra‖, pois suas folhas ao se decomporem, transformam-se em detritos que criam uma forte actividade microbiana, constituindo-se base para cadeia alimentar e fonte de energia para os seres aquáticos. Para o caso da área de estudo, este ecossistema está entre os mais ameaçados de degradação e destruição, devido ao aumento exponencial da população na vila sede do distrito de Metuge 17 que tem havido consequências como as moradias em locais inadequados, principalmente ao longo da faixa costeira. 2.2.6 Importância do ecossistema do mangal De acordo com Schepis citado por Luís (2011, p.22),“o mangal desempenha um papel fundamental na sustentabilidade do meio ambiente natural e humano, podendo criar condições para o desenvolvimento de habitats favoráveis à fauna, contribuindo também para a manutenção da biodiversidade‖. De facto, o ecossistema do mangal contribui para a protecção das áreas costeiras contra a erosão e intrusão salina. Como estabilizador e protector da linha costeira contribui para a formação dos solos com a deposição e captura de sedimentos aluviais criam-se condições ecológicas que permitem o avanço dos solos do continente em direcção ao mar. Com relação à pesca, o mangal produz mais de 95% do alimento que o homem captura no mar. Por essa razão, a sua manutenção é vital para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem em seu contorno, como tem-se verificado em Bandar. Com relação à dinâmica dos solos, a vegetação dos mangais serve para fixar os solos, impedindo a erosão e, ao mesmo tempo, estabilizando a linha de costa. A destruição do mangal gera grandes prejuízos, inclusive para economia, directa ou indirectamente, uma vez que são perdidas importantes fracções ecológicas desempenhadas por esse ecossistema. No que concerne a importância do ecossistema do mangal Baia (1998, p13), relata dizendo que: O mangal constitui um recurso explorado pelas populações que vivem em áreas costeiras‖. Dos mangais obtém-se a madeira para a construção de habitações e barcos de pesca, para carvão vegetal (combustível lenhoso); capturam-se diversos crustáceos que servem para complementar a dieta alimentar. As árvores ainda podem ser usadas para extracção da tanina (corante), como plantas medicinais, assim como para a produção de mel (p.13). Para o caso de Bandar, a exploração do ecossistema do mangal, envolve diferentes grupos da população do distrito, e a actividade articula as necessidades das comunidades de pescadores, 18 camponeses, lenhadores, comerciantes formais e informais, artesãos e funcionários de serviços públicos. Em relação a urbanização no bairro é resultado do crescimento demográfico combinado com a expansão espacial através da construção em áreas anteriormente ocupadas por florestas (incluindo os mangais) entorno do distrito. Luís (2011, p.23), analisa a ideia de Kathiresan (2000), onde fundamenta a importância do ecossistema do mangal em 2 vertentes sendo económica e ecológica: A económica verifica-se na obtenção da madeira para construção de habitações, barcos de pesca, para combustível lenhoso e carvão bem como para captura de diversos crustáceos para complementar a dieta alimentar das comunidades. Por outro lado a ecológica reside na sua contribuição para a estabilização e prevenção da erosão da linha costeira (p.23). Hoje em dia, tem crescido a consciência do importante papel que os mangais representam na vida social e cultural das comunidades locais e na economia a todos os níveis assim como na protecção ambiental em geral. Observa o quadro 1. É desta feita que KULIMA (1999, 54), explica que o mangal é considerado um ecossistema de importância vital, tanto para a satisfação das necessidades humanas, como para a protecção do litoral contra a erosão, ou a conservação das espécies da fauna selvagem de forte valor patrimonial e cultural. O caso concreto da vila sede do distrito de Metuge, a maior parte das actividades económicas provêm dos mangais. Se formos a ver, a maioria dos pescadores utilizam os mangais para fazer os seus barcos e habitações, sendo também apanham caranguejo, camarão e outros crustáceos nos próprios mangais apesar do abate excessivo que eles fazem correndo o risco da erosão costeira que se verifica naquela comunidade. Tabela 1 – Principais espécies de mangal na costa moçambicana e sua utilização Nome local Espécie Uso Potencial Outras Aplicações Nˋthonha Rhizophora mucronata A infusão da casca usada para tingir redes. Estacas muito resistentes usadas para construção de casas. Combustível, extracção de raízes usadas como medicamento para diarreias. 19 Mˋmiko Bruguiera Gymnorrhiza Estacas para construção de casas e para lenha. Para vigas, andaimes e construção de barcos. Khatchatche Ceriips tagal Estacas usadas para construção de casas, lenha, madeira para construção de barcos. Madeira muito resistente, barrote para construção, estacas e espetos, carvão. Mˋpedje Avicennia marina Madeira para construção de canoas, folhas para forragem. Mˋpila Sonneratia alba Lenha e construção de barcos. Barrotes de construção, construção de canoas e extracção de mel. Nˋthili Xilocarpus granatum A infusão feita a partir do fruto toma-se geralmente para induzir o aborto (aparentemente tóxico em doses elevadas), lenha, cura de doenças estomacais e hérnia. Remos e espetos, medicinal (a casca cura, construção de canoas e extracção de cólera), combustível lenhoso e extracção de óleos. Fonte: KULIMA (1999, p.18) 2.2.7 Degradação do mangal KULIMA (1999, p.20), sustenta que a região costeira de Moçambique, com cerca de 2/3 do total da população concentrada, caracteriza-se pela degradação das florestas de mangal, especialmente nas zonas de grande concentração populacional, poluição da costa por poluentes como resíduos industriais lançados ao mar sem tratamento prévio, descargas das águas negras entre outros. No entanto, o uso extensivo das espécies vegetais na área em estudo como combustível lenhoso, para a construção de salinas, construção de palhotas, da redução do regime de inundações naturais e da abertura de áreas para a produção agrícola e a construção de infra- estruturas costeiras estão a contribuir para a degradação do mangal. Actualmente, a área total degradada dos mangais pareça ser reduzida, no geral ocorrem cortes descontrolados de mangais em zonas localizadas próximas dos centros urbanos devido a expansão das concentrações populacionais nestas áreas e não só, as pesquisas para a exploração de petróleo e gás natural também contribuem para a degradação do Mangal. 20 2.2.8 Comunidade local Segundo Castells (1999, p.24) ―Comunidade são movimentos de construção de identidades, como: a) identidade legitimadora: representada pelas instituições dominantes interessadas em expandir sua dominação; b) identidade de resistência: representada pelas pessoas em condições desvalorizadas e que resistem à dominação; c) identidade de projecto: quando as pessoas se mobilizam, criando uma identidade capaz de buscar a transformação social‖. Bourdin (2001, p.13), ―Local se trata de um espaço no qual esta em jogo não apenas aspectos geográfico territoriais, mas também elementos de ordem cultural, histórica, linguística, política, jurídica, de fluxo informacional e económico, etc.‖. No entanto Comunidade Local são agrupamentos de famílias e indivíduos vivendo numa circunscrição territorial de nível de localidade ou inferior que visa a salvaguarda de interesses comuns, através da protecção áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam cultivadas ou em pousio, florestas sítios de importância cultural, pastagens, fontes de águas e áreas de expansão. 2.2.9 Influências da comunidadelocal sobre o ecossistema do mangal Baia (1998, p.15), diz que ―o rápido crescimento da população ao longo da faixa costeira constitui uma ameaça contínua sobre a utilização do mangal‖. De acordo com Uacane (2014, p.212), ―os principais factores responsáveis pela erosão costeira, nomeadamente a dinâmica das águas marinhas sobre os inconsolidados e desprotegidos terrenos dunares e o consequente recuo da linha de costa são em parte motivados pela destruição do revestimento vegetal natural (mangal ou mesmo vegetação herbácea) pela acção antropogénicas‖. Assim, a fragilização dos terrenos dunares contíguos ao mar pela frequência humana quer para fins de pesca quer para construção de precárias infra-estruturas sociais, ou simplesmente, a ocupação do espaço dunar para diversos fins, sem devidas precauções, afiguram-se como catalisadores da erosão costeira. 21 Em torno das ideias dos diferentes autores acima citados, pode-se verificar que a destruição do revestimento vegetal associado ao ecossistema do mangal em Bandar, pode constituir um dos aspectos influenciados pela comunidade local. 2.2.10 Distribuição do mangal em Moçambique De acordo com o Schepis (1996, p.125), ―as florestas de mangal cobrem menos de 0,1% da superfície terrestre global. Em Moçambique, o mangal ocupa uma vasta linha da costa, a qual se estende do Sul a Norte em 2.770 Km2, caracterizado por uma grande diversidade de ambientes favoráveis ao desenvolvimento do mangal, tais como estuários, baías, deltas e planícies de inundações‖. Segundo MICOA (2006, p.64), ―Moçambique possui cerca de 400.000ha de mangal que constitui a maior cobertura de mangais na África Oriental. Ao sul do rio Save o mangal ocorre extensivamente no estuário Morrumbene, baia de Inhambane, Baía de Maputo e Inhaca. Completando a ideia dos autores a cima citados, pode-se referir que as maiores florestas de mangal ocorrem no centro do país, principalmente devido as descargas de água doce incluindo os deltas do Zambeze, Púnguè, Save e Búzi. 22 CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICO 3.1 Métodos de abordagem 3.1.1 Método indutivo Indução é um raciocínio mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares constatados, conclui-se uma verdade geral ou universal. Este método, parte do caso particular para o geral, deixando a generalização como um produto posterior da colecta de dados particulares, em número suficiente para cofirmarem a suposta realidade. Portanto, a partir de dados colhidos e observados no campo sobre a interferência humana associada a remoção do ecossistema do mangal da zona de Bandar, sobretudo a erosão costeira que se verifica naquela unidade territorial devido a este facto, foram feitas análise dos mesmos no sentido de se chegar a certas conclusões gerais. 3.1.2 Metodo hipotetico dedutivo O Método hipotético dedutivo consiste na construção de conjecturas baseada nas hipóteses, isto é, caso as hipóteses sejam, verdadeiras as conjecturas também serão. Tal método, proposto pelo filósofo austríaco Karl Popper, tem uma abordagem que busca a eliminação dos erros de uma hipótese. Faz isso a partir da ideia de testar a falsidade de uma proposição, ou seja, a partir de uma hipótese, estabelece-se que situação ou resultado experimental nega essa hipótese e tenta-se realizar experimentos para negá-la. Assim, a abordagem do método hipotético-dedutivo é a de buscar a verdade eliminando tudo o que é falso. Para Karl R. Popper (1975) o ―método científico parte de um problema (P1), ao qual se oferecesse uma espécie de solução provisória, uma teoria-tentativa (TT), passando- se depois a criticar a solução, com vista à eliminação do erro (EE) e, tal como no caso da dialética, esse processo se renovaria a si mesmo, dando surgimento a novos problemas (P2)‖. 23 3.2 Universo Lakatos e Marconi (2003, p.224), conceituam universo ou população como o ―conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum‖. Assim, fazem parte do universo 3.943 habitantes do bairro de Bandar. 3.3 Amostra De acordo com Marinho (1980), uma amostra de dados é um ―conjunto de dados colectados e/ou seleccionados de uma população estatística por um procedimento definido‖. Para este trabalho fizeram parte da amostra 65 pessoas, dos quais 60 pessoas inquiridas e residentes no bairro de Bandar, 4 técnicos do SDAE e 1 secretario do bairro. 3.4 Métodos de procedimento A metodologia adoptada para a realização desse trabalho traduz a maneira como essa pesquisa foi desenvolvida. Para este trabalho o autor realizou a pesquisa nas componentes bibliográficas e de observação. 3.4.1 Consulta bibliográfica Neste método consistiu na busca de informações inerentes ao tema a partir de livros, artigos científicos, trabalhos de conclusão de curso nomeadamente monografias, dissertações e teses em certos casos, documentos normativos existentes para o país sobre o ecossistema do mangal. No decorrer desta pesquisa foram feitas consultas de relatórios científicos elaborados sobre aspectos que fazem menção na área de estudo, como por exemplo relatórios de EIA sobre projectos de actividades económicas realizados no distrito e que nalgum momento foram úteis para este estudo, nomeadamente a venda de estacas para construção de casas sendo produto da floresta do mangal. Entre várias obras consultadas, aquelas que mais serviram para o embasamento teórico deste estudo destacam-se: Nanni (2005, p.7), no seu artigo “Preservação dos manguezais e seus reflexos” busca identificar e analisar a importância do mangal para o equilíbrio ambiental, explorando e https://pt.wikipedia.org/wiki/Dados https://pt.wikipedia.org/wiki/Popula%C3%A7%C3%A3o_(estat%C3%ADstica) 24 privilegiando o entendimento analítico que o assunto proporciona, visto que os mangais são essenciais para a manutenção da vida marinha e terrestre, além de abrigar uma avifauna que utiliza o mangal como área de alimentação, reprodução, desenvolvimento e refúgio. Para o mangal de Bandar, a capacidade de reciclar e reter nutrientes faz do mesmo, um ambiente de grande importância para a sobrevivência de milhares de espécies. Piliackas (2007, p.132), na sua obra “Breve histórico da acção antrópica sobre os ecossistemas costeiros do Brasil, com ênfase nos manguezais do estado de São Paulo” Está virado na actividade antropogénica, onde sustenta que além da acção humana directa sobre o meio natural, existe a presença dos chamados elementos antropogénicos, como construções e objectos humanos, que actuam como agentes de degradação e modificação do meio. Neste contexto, para o caso de Bandar, a comunidade local constrói em locais inadequados e cortam os poucos vestígios de revestimentos vegetais onde poderá provocar possíveis impactos irreversíveis. Este trabalho abre caminho para mais um subsídio de metodologia e análise de procedimentos de estudo dos factores antropogénicos da degradação do ecossistema do mangal, neste caso para o distrito de Metuge e no Bandar em particular. A selecção de literatura para este trabalho foi baseada nos conteúdos pesquisados nessas obras e sua relação com este tema. Assim como as formas de abordagem dos conteúdos que de certo modo motivaram nesta pesquisa. 3.4.2 Método de observação Neste método baseou-se em actividades de recolha de dados através de visitas de campo ao longo da faixa costeira para observação das áreas ocupadas pelas florestas do mangal na área abrangida pela pesquisa e verificar as acções antropogénicas locais e outras características relevantes para o estudo. Em seguida, foi feita a recolha de imagens fotográficas de aspectos mais relevantes relacionados com a matéria de estudo como testemunhas de transformações da floresta do mangal tanto de acções antropogénicas que eventualmente contribuembastante nesse processo. 25 Lakatos e Marconi (1999, p.221), fundamentam dizendo que a ―observação é uma técnica de colecta de informações de determinados aspectos da realidade‖. No entanto, no decurso de visitas de campo foram privilegiados para observação os seguintes aspectos: a) Observação do ecossistema do mangal no sentido de caracterizar a actual floresta local; b) Identificação de possíveis impactos decorrentes da actividade antropogénica como forma de sobrevivência da comunidade local; c) Observação de obras humanas cuja construção usaram estacas do mangal incluindo actividades de venda de recursos do mangal para apurar dados sobre as possíveis soluções para o melhoramento; 3.5 Técnicas de colecta de dados 3.5.1 Entrevista No que se refere a técnica de entrevista o autor usou esta técnica para recolher a sensibilidade de diversas individualidades em relação as actividades humanas que deixam a faixa costeira sem cobertura vegetal. Para tal, foram usados guiões de perguntas que se fez aos quatro (4) técnicos de Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE) e a um (1) secretário do bairro de Bandar no sentido de perceber o que está por detrás deste problema. Durante as entrevistas dirigidas na área de estudo, o autor apoiou-se de um gravador para o registo das declarações e anotações directas que foram feitas durante as entrevistas. 3.5.2 Inquérito Quanto ao inquérito recorreu-se a um conjunto de questões pré-elaboradas, sistemática e sequencialmente dispostas em itens que constituíram o tema da pesquisa, com objectivo de suscitar dos informantes respostas por escrito ou verbalmente sobre assunto que os informantes sabem opinar ou informar acerca do ecossistema do mangal. 26 Para esta técnica, destinou-se apenas aos residentes do bairro num total de 60 pessoas e duma forma aleatória. Este inquérito foi realizado durante 4 dias em Bandar junto do pessoal de apoio constituído por 4 inquiridores incluindo o autor. Com base nos dados do inquérito aplicado na área de estudo, foram representados tabelas e gráficos com propósito de analisar os resultados. Assim, no decurso do inquérito foram focalizados os seguintes aspectos: a) Condições de habitação da comunidade local; b) Material de construção mais usado entre as pessoas deste bairro; c) Degradação do mangal; d) Evolução do mangal local; e) Impactos do uso do mangal; f) Situação sobre a gestão do uso do mangal; g) Exploração do ecossistema do mangal; e h) Motivo da dedicação à exploração do ecossistema do mangal. 27 CAPÍTULO IV – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Para o desenvolvimento do presente capítulo, foram feitos trabalhos de campo onde traçou-se técnicas de inquérito, entrevista e o método de observação com objectivo de recolher dados referente às influências da comunidade sobre o ecossistema do mangal. Essas técnicas foram aplicadas no distrito de Metuge concretamente no bairro de Bandar e no Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE), onde o autor achou que eram locais que detinham dados que subsidiariam o conhecimento sobre os aspectos em estudo (observa os anexos). Para a pesquisa do problema, foram cruzados métodos e técnicas de pesquisa entre os quais se destacam as técnicas de entrevista e inquérito e o método de observação directa, onde inicialmente foram traçados guiões para a efectivação das respectivas técnicas. (observa os apêndices). No que concerne ao inquérito, referir que estava destinado aos intervenientes da actividade, neste caso a comunidade local, durante quatro dias onde visava recolher informações de base referentes a remoção da cobertura vegetal do mangal existente, com vista a traçar estratégias adequadas para o seu melhoramento em benefício da comunidade. Por se tratar duma actividade ilegal, não existem dados estatísticos sobre o número total dos praticantes dessa actividade mas o autor inquiriu 60 habitantes. Assim 90% dos inquiridos são do sexo masculino, 10% são do sexo feminino e cerca de 70% possuem idade compreendida entre 19 a 30 anos, 25% para a faixa etária de 32-39 e os restantes maiores de 40 anos. Tudo isso, indica que na sua maioria é a camada jovem que mais pratica actividades devastadoras ao ecossistema do mangal. Em relação às entrevistas, referir que foram feitas ao técnico do Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE) e ao secretário do bairro de Bandar em número de dois e pretendia identificar as actividades antropogénicas que influenciam na degradação do ecossistema do mangal e as consequências da sua degradação. A observação directa foi feita na área abrangida pela pesquisa, que visava observar o ecossistema do mangal no sentido de caracterizar a actual floresta local e observar as 28 construções feitas de produtos de mangal para apurar dados sobre as possíveis estratégias para o melhoramento. Portanto, a apresentação dos resultados da pesquisa efectuada, faz uma combinação de dados adquiridos nas variadas técnicas e métodos de pesquisa. Assim, apresenta-se os seguintes resultados: Segundo dados obtidos a partir do inquérito, a maioria dos exploradores do mangal provêem de outros pontos do distrito, isto é, em algumas aldeias adjacentes. Estes afluíram a zona de Bandar com as suas famílias a procura de melhores condições de vida, o que deixa a zona em situação de risco à erosão provocada pela procura de espaços para edificação de habitações precárias. 4.1 Condições da habitação da comunidade de Bandar Segundo Baia (2004, p.172), ―a urbanização é resultado do crescimento demográfico combinado com a expansão espacial através da construção de casas em áreas anteriormente ocupadas por florestas incluindo o mangal‖. Entorno da ideia acima citada, pode-se dizer que em relação às condições de habitação da área de estudo, a comunidade local, possui na sua maioria habitações de produtos provenientes do mangal como por exemplo as estacas. Segundo dados obtidos a partir do inquérito indicam que poucos vivem em casa de alvenaria sendo assim, dos 60 inquiridos 5% vivem em casas de blocos de cimento, 17% habitam nas casas de blocos de adobe, 13% de madeira e zinco e 65% habitam em casas de pau a pique o que constitui a minoria. E referir que o regime de propriedade a maioria vive nas casas próprias. Observa o gráfico 1. Esses dados leva-nos a concluir que a comunidade de Bandar usa na sua maioria estacas de mangal para construção de suas casas sendo um dos motivos da sua devastação naquele ponto do país. 29 Gráfico 1 – Condições da habitação da comunidade de Bandar Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. 4.2 Material de construção mais usado entre os habitantes de Bandar De acordo com MICOA, (1996, p.30), ―o mangal constitui um recurso explorado pelas populações que vivem em áreas costeiras, isto é do mangal obtém-se a madeira para a construção de habitações e barcos de pesca‖. Segundo dados do inquérito, o material de construção mais usado entre os habitantes de Bandar são as estacas do mangal. Dos 60 inquiridos, 80% usam estacas do mangal para erguer as suas casas, 8% usam o material convencional e 12% pronunciaram que usam outras estacas diferentes do mangal. Vide o gráfico 2. Gráfico 2 – Material de construção mais usado entre os habitantes de Bandar 30 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. 4.3 Causas da diminuição do mangal de Bandar De acordo com MICOA (2006, p.38), ―o crescimento da população urbana e a falta de oportunidade de emprego no sector industrial contribui bastante para a alta pressão sobre a destruição do mangal‖. Segundo dados do inquérito o mangal da área de estudo tem diminuído destacando-se a causa principal a actividade de corte e comercialização de estacas domangal, o crescimento do distrito para áreas ocupadas pelo mangal e sem deixar de lado a pesca. Como a tabela 1 ilustra. Tabela 2 – Causas da diminuição do mangal de Bandar Causa da diminuição No de respostas Percentagem Corte e comercialização de estacas do mangal 41 68% Pesca 7 12% Crescimento da vila para áreas ocupadas pelo mangal 9 15% Prática da agricultura junto às zonas do mangal 3 5% Processos de aquacultura 0 0% Produção de sal nas salinas 0 0% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. A partir da tabela 1, há necessidade de concluir que as influências da comunidade local através do corte e comercialização de estacas do mangal, o crescimento da vila para áreas ocupadas do mangal e a pesca são as principais actividades que diminuem a cobertura vegetal de árvores de mangal que se verifica actualmente em Bandar. 4.4 Principais usos do mangal em Bandar De acordo com Schepis citado por Luís (2011, p.22),“o mangal desempenha um papel fundamental na sustentabilidade do meio ambiente natural e humano, podendo criar condições para o desenvolvimento de habitats favoráveis à fauna, contribuindo também para a manutenção da biodiversidade‖. 31 Questionados se as famílias faziam o uso do mangal houve a necessidade de indicar as principais utilidades que fazem do mesmo, onde na sua maioria referiam-se da venda de estacas para o sustento familiar e da construção, sendo as principais utilidades do mangal em Bandar. Vide a tabela 2. Não obstante, a distância média das comunidades que normalmente utilizam o mangal fica próximo das suas casas mais ou menos uma média entre 300 a 400 metros segundo dados do inquérito. Tabela 3 – Principais usos do mangal em Bandar Tipos de uso No de respostas Percentagem Venda de estacas 22 37% Construção 19 32% Captura de caranguejo e pesca 11 18% Lenha 5 8% Carvão 3 5% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. Em relação à utilidade do mangal, pode-se concluir que na área de estudo predomina a venda de estacas e sem deixar de lado a crescente construção de residências na sua maioria como referimos no gráfico 1. 4.5 Evolução do mangal em Bandar nos últimos 4 anos Questionados qual teria sido a evolução do mangal local nos últimos 4 anos, cerca de 95% disseram que tem diminuído por causa do corte e venda de estacas nesta zona. Em relação a acentuação desta actividade é de salientar que segundo os inquiridos já era assim antes de 2015. Observa o gráf. 3. No que concerne a evolução do mangal o gráfico ilustra que tem diminuído isso a partir dos anos 90, esta foi na época em que verificou-se um êxodo rural principalmente das aldeias circunvizinhas como apontamos nos princípios desse capítulo. 32 Gráfico 3 – Evolução do mangal nos últimos 4 anos 3% 95% 2% 0% 70% 7% 20% 3% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Tem aumentado/Já era assim antes de 2014 Tem diminuido/A partir dos anos 90 Mantem-se estável/A partir de 2000 Mais recentemente (a partir de 2018) Evolução do mangal Acentuação da evolução Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. 4.6 Impactos resultantes do corte do mangal em Bandar Luís (2011, p.32), aponta que a ―destruição do mangal tem trazido consequências muito trágicas como a perda da biodiversidade das florestas, diminuição da qualidade do ambiente e aumento da erosão‖. Segundo os nossos inquiridos, os impactos resultantes face ao corte do mangal a maior parte deles referiram-se do aumento da erosão, sendo o actual problema que se verifica na área de estudo. Quanto à escassez de estacas para a construção, alguns intervenientes referiram-se como um dos grandes problemas resultante do abate do mangal como Avicennia marina. No caso dos pescadores disseram que um dos problemas que resultam da devastação do mangal é a perda da biodiversidade marinha como o caranguejo e alguns crustáceos e ainda outros dizem que o mar invade facilmente o litoral tal como a tabela 3 ilustra. 33 Tabela 4 – Impactos resultantes do corte do mangal em Bandar Impacto do corte do mangal No de resposta Percentagem Aumenta a erosão na margem do mar 12 20% O mar invade facilmente o litoral 6 10% Começa a escassear lenha 4 7% Começam a escassear as estacas para construção 24 40% Começa a escassear produtos marinhos (caranguejo) 14 23% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. Com base na tabela 3, pode se verificar que o impacto mais notável da degradação do mangal é a escassez do material para construção e a crescente erosão registada que é comprovada pelas imagens (ver figura 3). Vê-se que a actividade das marés tem provocado a degradação das terras pelo mar e a alteração da linha da costa que começou a verificar-se momentos depois da destruição e extinção do mangal. 4.7 Situação sobre a gestão dos usos do mangal No que concerne a autorização da exploração, quase 100% dos inquiridos referiram que ninguém autoriza para cortar o mangal. A instituição que mais tutela na gestão do mesmo é o SDAE segundo dados do inquérito. De acordo com os nossos inquiridos a maioria referiu que não sabe se a comunidade local foi ouvida sobre a gestão do mangal. 4.8 Medidas de preservação do mangal de Bandar De acordo com o MICOA (1996, p.26), ―uma das medidas da preservação do mangal é a fiscalização dos exploradores do mesmo de modo a não permitir o corte indiscriminado que leva a degradação do ecossistema‖. Questionados que medidas de preservação do mangal deveriam ser adoptadas quase a maioria dos 60 inquiridos referiram-se do aumento e da promoção da fiscalização. Apenas 1 inquirido optou que houvesse um corte escalonado. Como o gráfico 4 ilustra. 34 Gráfico 4 – Medidas de preservação do mangal de Bandar 53% 14%2% 10% 21% 0% Medidas de preservação do mangal de Bandar Aumentar ou promover a fiscalização Estabelecer regras acertadas Proibir o corte Introduzir cobrança de uma taxa Promover um corte escalonado Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do inquérito, 2018. 4.9 Discussão dos resultados As informações presentes nas entrevistas foram agrupadas em quatro categorias. A categoria 1 aborda da situação actual do ecossistema do mangal a nivel do distrito e de Bandar em particular; a Categoria 2 trata dos factores da degradação do mangal em Bandar; a Categoria 3 tem a ver com as consequências da degradação do mangal em Bandar e a Categoria 4 refere das estratégias de preservação do mangal em Bandar. 4.9.1 Categoria 1: Situação do ecossistema do mangal a nivel do distrito e de Bandar em particular Nesta categoria, pretende-se conhecer a situação do ecossistema do mangal na área de estudo. Desta feita, segundo os nossos entrevistados o ecossistema do mangal na area tende a diminuir tudo isso deve-se pelo facto das influencias da comunidade local,onde na sua maioria corta o mangal para a venda das suas estacas segundo eles, para suprir as suas necessidades. Não obstante, o aumento exponecial da populacao a nivel do distrito tende a aumentar. Razao pela qual, invade-se a area coberta pelo mangal. 35 4.9.2 Categoria 2: Factores da degradação do mangal em Bandar Nesta categoria pretendemos saber o porque a floresta de Bandar esta despida de mangal. Os nossos entrevistados referiram que o rápido crescimento da população do distrito que se verifica na área de estudo pode contribuir bastante para a alta pressão sobre a degradação do mangal de Bandar. Na verdade a biodiversidade natural da área de estudo apresenta vestígios do revestimento vegetal associada à essa causa. 4.9.3 Categoria 3: Consequências da degradação do mangal em Bandar De acordo com os nossos entrevistados, o mangal desempenha um papel preponderante, não só na vida das populações como também evitam os efeitos ecológicos negativos. Isso pode-se explicar doutra maneira, dizendo que refere-se da vida da população na medida em que ela mesma, vai usar para as suas necessidades quer dizer da vida social e económica. Quando se fala que o mangal evita os efeitos negativos, constitui uma verdade porque o estado actual da orla marítima de Bandar é ameaçador por consequência da influência da comunidade sobre o ecossistema do mangal. Portanto, a remoção do revestimento vegetal associado ao ecossistema do mangal tem causado consequências eminentes que deixou a orla em risco devido a acção das ondas. 4.9.4 Categoria 4: Estratégias de preservação do mangal em Bandar Nesta última categoria pretendemos igualmente saber o que deve ser feito para reduzir a acção humana sobre esse rico ecossistema que fica dizimada pela população sem se importar dos subsequentes efeitos. Todavia, os nossos entrevistados argumentam dizendo que deve ser feira uma focalização do mangal, visto que a comunidade local é a principal utilizadora desse recurso, por isso deve ser envolvida em todas as decisões relacionadas com o uso do mangal. A maior parte dos exploradores a comunidade local aproveita-se no período da tarde para o corte e transporte já que a essa hora a probabilidade de encontrar fiscais na área em estudo é muito reduzida e deficiente. Como se não bastasse a sensibilização da comunidade local principalmente na área em estudo, de forma a despertá-la e a consciencializá-la da importância das florestas, bem como 36 os graves problemas que advêm da má utilização da floresta e as suas consequências no futuro. Para o efeito, os órgãos da comunicação social e locais, televisão e rádio devem desempenhar um papel preponderante na difusão de mensagens para a preservação do mangal. E ainda a exploração sustentável dos recursos florestais a participação da comunidade local e de Moçambique no geral, o envolvimento activo das diversas instituições estatais e privadas ligadas ao sector e dos seus respectivos agentes locais, para a contenção da pressão exagerada sobre a floresta do mangal, oferecendo-se como alternativas, a defesa, a conservação e um controlo mais efectivo dos recursos florestais, para uma exploração florestal mais equilibrada, que permita não só a regeneração das áreas degradadas, como também o aumento da flora. 37 CAPITULO V – CONCLUSÕES E SUGESTÕES 5.1. Conclusão Chegado ao fim deste trabalho, pode-se concluir que as influências da comunidade local sobre o ecossistema do mangal de Bandar estão associadas à destruição da cobertura vegetal para fins de construções precárias sobre a linha da costa resultando na fácil destruição dessas infra- estruturas pelas águas e constituindo assim um dos problemas ambientais influenciado pela acção humana. Portanto, é sabido que a degradação do mangal tem trazido efeitos muito graves tais como: a perda da biodiversidade natural local, diminuição da qualidade do ambiente e aumento da erosão costeira. Por conseguinte, mediante estas razões destacam-se dois fenómenos absolutamente incompatíveis do ponto de vista ecológico ambiental, nomeadamente, a intensificação desenfreada de diversas construções, na sua maioria precárias, junto da costa que definem esta unidade territorial litorânea e intensificação da erosão costeira. A interferência antropogénica sobre o ecossistema do mangal tem facilitado na aceleração dos processos erosivos sobre os terrenos marginais contíguos à linha da costa de Bandar. Os motivos que levam aos intervenientes a remover o mangal nocivamente é a falta de emprego e sem deixar de lado os rendimentos elevados que esse ecossistema oferece, como referiram os nossos entrevistados. Os factores que influenciam na degradação do ecossistema do mangal estão ligados a ocupação de espaço de mangal, removendo o respectivo revestimento vegetal e ao problema aliado no desconhecimento da importância ecológica desse ecossistema. Quanto à evolução do mangal nos últimos 3 anos na área de estudo tende a reduzir. Entretanto, de acordo com os resultados de inquérito este ecossistema tem diminuído e em termos de acentuação o mangal vinha sofrendo da acção humana antes de 2015, sendo que a drástica redução se verificou essencialmente entre 2010 a 2012, momento em que muitos habitantes daquele ponto afluíram-se em massa a procura de melhores condições de vida. 38 5.2. Sugestões Sugerimos às instituições de direito, que proporcionem momentos de sensibilização as comunidades locais no sentido de reverter a situação cada vez galopante sobre devastação das áreas do ecossistema do mangal de Bandar. Que se façam mais estudos acerca desta temática, com vista a encontrar soluções mais fiáveis sobre as possibilidades de uso sustentável das áreas do mangal em Bandar. Ainda ao governo local, que crie organizações de fiscais comunitários que possam velar pelo supervisionamento do mangal atribuindo multa aos indivíduos que transgridem as leis de protecção e conservação do mangal. 39 Referências Bibliográficas 1. Baia, A. H. M. (1998). Uma análise da degradação da Floresta de Mangal - o caso de Nhangau. Tese de Licenciatura, UEM. Maputo. 2. Baia, A. H. M. (2004). A exploração do ecossistema dos mangais enquanto apropriação do espaço na cidade de Angoche, Espaço e Tempo, São Paulo. 3. Bourdin, A. (2001). A questão local. Rio de Janeiro: DP&A. 4. Canavilhas, J. (2006). O novo ecossistema mediático. São Paulo: Disponível em: www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-o-novo-ecossistema-mediatico.pdf, Acessado em 17 de Junho de 2018 as 13:53h 5. Castells, M. (1999). O poder da identidade. 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