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LegisLação e Processos TrabaLhisTas Maria Emilia Gonçalves Miranda de Barros Siomara Age Mendes Cortiano © Universidade Positivo 2019 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Thinkstock | © gettyimages Presidente da Divisão de Ensino Reitor Pró-Reitor Acadêmico Coordenação Geral de EAD Coordenação de Metodologia e Tecnologia Autoria Parecerista Supervisão Editorial Designer Gráfico Revisão Textual Prof. Paulo Arns da Cunha Prof. José Pio Martins Prof. Carlos Longo Rodrigo Poletto Profa. Roberta Galon Silva Maria Emilia Gonçalves Miranda de Barros Siomara Age Mendes Cortiano Juliana Hinterlang dos Santos Costa Felipe Guedes Antunes Theylonn Micael Anelise Machado 3Legislação e Processos Trabalhistas Caro aluno, A metodologia da Universidade Positivo apresenta materiais e tecnologias apropriadas que permitem o desenvolvimento e a interação entre alunos, docentes e recursos didáticos e tem por objetivo a comunização bidirecional entre os atores educacionais. O seu livro, que faz parte dessa metodologia, está inserido em um percurso de aprendi- zagem que busca direcionar a construção de seu conhecimento por meio da leitura, da con- textualização teórica-prática e das atividades individuais e colaborativas; e fundamentado nos seguintes propósitos: COMPREENDA SEU LIVRO valorizar suas experiências; incentivar a construção e a reconstrução do conhecimento; estimular a pesquisa; oportunizar a reflexão teórica e aplicação consciente dos temas abordados. Metodologia 4 Legislação e Processos Trabalhistas COMPREENDA SEU LIVRO Com base nessa metodologia, o livro apresenta a seguinte estrutura: Percurso Pergunta norteadora Ao final do Contextualizando o cenário, consta uma pergunta que estimulará sua reflexão sobre o cenário apresentado, com foco no desenvolvimento da sua capacidade de análise crítica. Tópicos que serão estudados Descrição dos conteúdos que serão estudados no capítulo. Boxes São caixas em destaque que podem apresentar uma citação, indicações de leitura, de filme, apresentação de um contexto, dicas, curiosidades etc. Recapitulando É o fechamento do capítulo. Visa sinte- tizar o que foi abordado, reto mando os objetivos do capítulo, a pergunta nortea- dora e fornecendo um direcionamento sobre os questionamentos feitos no decorrer do conteúdo. Pausa para refletir São perguntas que o instigam a refletir sobre algum ponto estudado no capítulo. Contextualizando o cenário Contextualização do tema que será estudado no capítulo, como um cenário que o oriente a respeito do assunto, relacionando teoria e prática. Objetivos do capítulo Indicam o que se espera que você aprenda ao final do estudo do capítulo, baseados nas necessida- des de aprendizagem do seu curso. Proposta de atividade Sugestão de atividade para que você desenvolva sua autonomia e siste- matize o que aprendeu no capítulo. Referências bibliográficas São todas as fontes utilizadas no capítulo, incluindo as fontes mencio- nadas nos boxes, adequadas ao Projeto Pedagógico do curso. 5Legislação e Processos Trabalhistas BOXES Assista Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações complementares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. Biografia Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. Contexto Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstram a situação histórica, social e cultural do assunto. Curiosidade Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. Dica Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. Exemplo Informação que retrata de forma obje tiva determinado assunto abordando a relação teoria-prática. Afirmação Citações e afirmativas pronunciadas por teóricos de relevância na área de estudo. Esclarecimento Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. 7Legislação e Processos Trabalhistas SUMÁRIO A autora ......................................................................................................... 14 A autora ......................................................................................................... 15 Capítulo 1 O direito constitucional trabalhista ................................................................. 17 1.1. Direito trabalhista no século XXI ............................................................... 17 1.1.1.A importância do direito do trabalho e sua origem....................................................................18 1.1.2.Aplicação dos princípios da proteção trabalhista ......................................................................19 1.1.3.Interpretação do direito do trabalho ........................................................................................21 1.2. O sistema legislativo das relações de trabalho ........................................... 22 1.2.1 A consolidação das leis do trabalho e a jurisprudência ..............................................................23 1.2.2.Convenções e acordos coletivos ............................................................................................. 24 1.3. A solução do Estado para os litígios ........................................................... 27 1.3.1.Solução não estatal de conflitos: comissões de conciliação prévia ............................................... 28 1.3.2.A organização da justiça do trabalho....................................................................................... 29 1.4.Resolução dos litígios dos trabalhadores sem vínculo de emprego .............. 30 1.4.1.Litígios de autônomos: ausência de relação de emprego ..........................................................30 1.4.2.Contratos de Direito Civil: sociedade, representação comercial, empreitada, cooperativa e outras....... 31 Referências .................................................................................................... 37 Capítulo 2 Direitos garantidos pela Constituição Federal ............................................................. 40 2.1. Princípios relativos às condições de trabalho, duração e outros aspectos ............40 2.1.1. Critérios de não discriminação no trabalho .............................................................................41 2.1.2. Não discriminação entre trabalho intelectual, técnico e manual ........................................................... 43 2.1.3. Proteção ao descanso ......................................................................................................................... 44 2.1.4. Proteção aos trabalhadores: participção nos lucros e na gestão da empresa ....................................... 45 2.2. A dignidade da pessoa humana e as proteções especiais ....................................46 2.2.1. Proteção às pessoas deficientes .......................................................................................................... 46 8Legislação e Processos Trabalhistas 2.2.2. A Proteção legal aos menores de idade ..................................................................................47 2.2.3. Proteção à mulher no mercado de trabalho.............................................................................. 48 2.2.4. Assédio moral e assédio sexual ..........................................................................................................49 2.3. Responsabilidade sócioambiental ............................................................. 52 2.3.1. Ambiente de trabalho adequado ..............................................................................................................54 2.3.2. Acidentes de trabalho e a Comissão Interna de Prevençãode Acidentes (CIPA) ....................................... 55 2.3.3. Periculosidade e insalubridade: os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) ................................... 56 2.4. Direitos relativos ao salário .................................................................................. 58 2.4.1. Proteção ao salário ................................................................................................................59 2.4.2. Proteção ao emprego ........................................................................................................... 60 2.4.3. Garantias coletivas ................................................................................................................................62 Referências ....................................................................................................64 Capítulo 3 Contrato de Trabalho ..............................................................................................................67 3.1. Contrato de trabalho dos empregados, estagiários e outros trabalhadores .............. 70 3.1.1. Requisitos da configuração do vínculo empregatício ...................................................................................70 3.1.2. Empregado, trabalhador eventual, trabalhador avulso e trabalho intermitente ..........................................72 3.1.3. Teletrabalho .......................................................................................................................... 74 3.1.4. Serviço voluntário ........................................................................................................................................74 3.2. Modalidades de contrato de trabalho ......................................................................... 75 3.2.1. Contrato por prazo indeterminado ........................................................................................................ 76 3.2.2. Contrato por prazo determinado .................................................................................................................. 77 3.2.3. Contrato de Trabalho a tempo parcial .............................................................................................................78 3.3. Contratação de pessoas com deficiência e outros contratos especiais ..................... 79 3.3.1. Contrato de trabalho de pessoas com deficiência ..................................................................................... 80 3.3.2. Contrato de trabalho do menor de idade e menor aprendiz .......................................................................81 3.3.3. Contrato de trabalho dos comissionistas ..................................................................................82 3.4. Contrato de trabalho temporário ................................................................................ 83 3.4.1. Trabalhador temporário e o Contrato de trabalho temporário .....................................................................83 3.4.2. Contrato de trabalho de estagiário e a diferença entre empregado e estagiário ....................... 86 3.4.3. Contrato de aprendizagem ...........................................................................................................................87 3.4.4. Contrato de experiência ............................................................................................................................ 88 Referências ....................................................................................................89 9Legislação e Processos Trabalhistas Capítulo 4 Contrato de trabalho, cláusulas contratuais, folha de pagamento e adicionais 92 4.1 Contrato de adesão e cláusulas abusivas .................................................................................... 92 4.1.1. Formação do contrato de trabalho .........................................................................................93 4.1.2. Fundamentos e noção de cláusulas abusivas .......................................................................... 94 4.1.3. Alteração posterior: o poder de direção do empregador e a abusividade ..................................95 4.1.4. Formas de ajuste salarial na contratação .................................................................................97 4.2. Celebração, vigência do contrato de trabalho e documentos importantes ............... 97 4.2.1. Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED .................................................... 98 4.2.2. eSocial ............................................................................................................................... 100 4.2.3. Cartões de ponto, mecânico e eletrônico .............................................................................. 102 4.2.4. Duração da jornada: descanso e horas extras ........................................................................ 103 4.3. Folhas de pagamento de empregados, empregadores e autônomos ........ 105 4.3.1. Folha de pagamento dos empregados ...................................................................................106 4.3.2. Folha de pagamento dos empregadores ............................................................................... 108 4.3.3. Folha de pagamento dos autônomos ....................................................................................109 4.3.4. Descontos permitidos .......................................................................................................... 110 4.4. Adicionais à remuneração ............................................................................................ 111 4.4.1. Salário e remuneração – componentes .................................................................................. 112 4.4.2. Trabalho noturno e Descanso Semanal Remunerado ................................................................................112 4.4.3. Abonos e adicionais de insalubridade e periculosidade .......................................................... 113 4.4.4. Ajudas de custo e diárias de viagem ..................................................................................... 115 Referências ...................................................................................................117 CAPÍTULO 5 Impostos e Contribuições Sociais incidentes sobre a Folha de Pagamento ...... 120 5.1. Encargos sociais: contribuição à Previdência Social devida pelo empregado e empregador .......................................................................... 122 5.1.1. Contribuição à Previdência Social ........................................................................................................122 5.1.2. Contribuição do empregado e do trabalhador avulso .......................................................................... 123 5.1.3. Contribuição do trabalhador autônomo, empresário e facultativo ..........................................124 5.2. Contribuição da empresa e contribuição sobre a folha de pagamento ................ 127 5.2.1. Contribuiçãoda empresa destinada à seguridade social ......................................................... 127 5.2.2. Contribuição social do salário-educação ................................................................................129 5.3. Imposto de Renda Retido na Fonte ......................................................... 130 5.3.1. Imposto de Renda Retido na Fonte (IRPF) devido pelo empregado ......................................................131 5.3.2. Rendimentos tributáveis ...................................................................................................................... 132 5.3.3. Base de cálculo: deduções permitidas ............................................................................................... 133 Legislação e Processos Trabalhistas10 5.4. Contribuição ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ........................ 137 5.4.1. FGTS ................................................................................................................................... 137 5.4.2. Contribuições sociais (multa adicional de 10%) .........................................................................................139 Referências .................................................................................................. 141 CAPÍTULO 6 Termo de rescisão contratual, férias contratuais e coletivas ...................................... 145 6.1. Férias individuais e coletivas ............................................................................... 146 6.1.1. Direito a férias .....................................................................................................................................146 6.1.2.Duração das férias e férias coletivas ..................................................................................................... 147 6.1.3. Abono pecuniário e férias em dobro ...................................................................................... 150 6.1.4. Afastamentos durante o período aquisitivo ........................................................................... 151 6.2. Termo de rescisão contratual .................................................................. 152 6.2.1. Modalidades de rescisão contratual: dispensa sem justa causa, com justa causa, a pedido do empregado e por acordo .......................................................................................................................... 153 6.2.2. Verbas rescisórias na rescisão pelo empregado ................................................................................... 154 6.2.3. Verbas rescisórias: recisão imotivada e recisão por justa causa .............................................. 155 6.2.4. Verbas rescisórias na rescisão por acordo ............................................................................ 159 6.3. Termo de rescisão contratual: aviso prévio e formalidades legais ........................160 6.3.1. Aviso prévio: finalidade, aviso prévio indenizado e trabalhado e prazos ...............................................160 6.3.2. Rescisão do contrato por prazo determinado ...................................................................................... 162 6.3.3. Formalidades legais na rescisão do contrato de trabalho .......................................................164 6.3.4. Rescisão: demais aspectos ...................................................................................................... 164 Referências .................................................................................................. 168 CAPÍTULO 7 Sanções disciplinares ...................................................................................................172 7.1. Poder disciplinar ................................................................................................... 173 7.1.1. Objetivo do poder disciplinar e a subordinação ...................................................................... 173 7.1.2. Tipos de punições: advertência e suspensão ........................................................................................ 174 7.1.3. Sanções não admitidas ..........................................................................................................................175 7.1.4. Dispensa: a maior punição ................................................................................................................... 176 7.2. Punição por falta grave: casos em que há possibilidade da despedida por justa causa do empregado ................................................. 177 7.2.1. Ato de improbidade e má conduta: distinção ...................................................................................... 178 7.2.2. Mau procedimento .............................................................................................................................. 179 7.2.3. Negociação habitual ............................................................................................................. 180 7.2.4. Condenação criminal ............................................................................................................ 181 11Legislação e Processos Trabalhistas 7.3. Faltas graves que ensejam a despedida por justa causa do empregado ........ 182 7.3.1. Desídia ................................................................................................................................. 182 7.3.2. Embriaguez e violação de segredo da empresa ...................................................................................184 7.3.3. Ato de indisciplina ou insubordinação e abandono de emprego ..........................................................185 7.3.4. Ofensas físicas, lesões à honra, à boa fama e prática de jogos de azar ....................................186 7.4. Outras faltas para a justa causa............................................................... 189 7.4.1. Critério taxativo da lei ...........................................................................................................190 7.4.2. Demais aspectos sobre faltas graves ..................................................................................................... 191 Referências .................................................................................................. 195 CAPÍTULO 8 Responsabilidade civil do empregador .......................................................... 199 8.1. Por parte do empregador: acidente do trabalho e discriminação .............. 199 8.1.1. Distinção entre danos morais e danos materiais ....................................................................200 8.1.2. Acidente do trabalho ..........................................................................................................................202 8.1.3. Discriminação ...................................................................................................................... 203 8.1.4. Assédio moral e Assédio Sexual ............................................................................................204 8.2 A responsabilidade civil do e pregador em relação aos atos do empregado ........ 207 8.2.1. Danos a terceiros .................................................................................................................208 8.2.2. Danos morais no assédio moral e sexual ............................................................................................ 209 8.3. A responsabilidade do tomador de serviços na chamada “terceirização” ...........210 8.3.1. Danos morais e materiais na terceirização ........................................................................................... 211 8.3.2. Análise sob a ótica da prevenção de litígios ......................................................................................... 2128.4. Reparação de danos e ônus da prova ................................................................ 214 8.4.1. Danos causados pelo trabalhador ......................................................................................... 215 8.4.2. O trabalho em condições análogas ao de escravo ..............................................................................216 Referências .................................................................................................. 218 Legislação e Processos Trabalhistas12 13Legislação e Processos Trabalhistas Esta disciplina trata dos fundamentos do Direito do Trabalho, o qual visa proteger as relações trabalhistas em nosso meio social, com especial atenção aos trabalhadores, mas também estudando outras situações, como o terceiro contratado por uma empresa a servi- ço de outra, por exemplo. O conteúdo que será abordado não é alheio ao público em geral: todos necessitam de informações sobre seus direitos, sejam empregados ou empregadores. O objetivo mais importante do Direito do Trabalho é a estabilização das relações so- ciais. Conforme se ajustam os direitos e as obrigações de ambas as partes – empregado e empregador –, muitos litígios são evitados. Há, ainda, a necessidade de garantir a dignida- de ao trabalhador, conforme estabelece a Constituição Federal (1988). Entender os fundamentos do Direito do Trabalho é essencial à formação de um pro- fissional capacitado e atualizado. Vamos, agora, conhecer esse importante campo da área do Direito. APRESENTAÇÃO 14 Legislação e Processos Trabalhistas A professora Maria Emilia Gonçalves Miranda de Barros é Mestre em Direito Politico e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e graduada em Direito pela Universidade de São Paulo – USP. Atua há mais de 25 anos na área jurídica de instituições financeiras de grande porte e como docente desde 2004. Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/1279370601167323> A AUTORA 15Legislação e Processos Trabalhistas A professora Siomara Age Mendes Cortiano é Mestre em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Especialista em Direito Econômico e Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Especialista em Tecnologias Educacionais e Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). É consultora em EAD e tem experiência em educação a distância e na gestão de projetos de e-learning. Pesquisa Direito Autoral em EAD e produção de conteúdos educacionais multimídia. Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/2834587872186160> A AUTORA 16 Legislação e Processos Trabalhistas OBJETIVOS DO CAPÍTULO • Reconhecer as origens e princípios de Direito do Trabalho, de forma a embasar as práticas utilizadas nas relações trabalhistas e identificá-las, identificando, a partir disso, possíveis proteções jurídicas; • Interpretar e mitigar possíveis prejuízos na administração das relações trabalhistas em uma organização; • Reconhecer as instâncias legais que decidem sobre as questões trabalhistas no Brasil. 1 TÓPICOS DE ESTUDO Direito trabalhista no Século XXI • A importância do direito do Trabalho e sua origem. • Aplicação dos Princípios da prote- ção trabalhista. • Interpretação do Direito do Trabalho. CAPÍTULO 1 Direito Constitucional Trabalhista 3 A solução do Estado para os litígios • Solução não estatal de Conflitos: Comissões de conciliação prévia e Acordos Coletivos. • A Organização da Justiça do Trabalho. 2 O sistema Legislativo das Relações do Trabalho • A Consolidação das Leis do Trabalho e a Jurisprudência. • Convenções e Acordos Coletivos. 4 Resolução dos litígios: trabalhadores sem vínculo de emprego • Litígios dos Autônomos: ausência da relação de emprego. • Contratos de Direito Civil: Sociedade,Representação Comercial, Empreitada, Cooperativas e outras. 1. O direito constitucional trabalhista Neste capítulo estudaremos alguns aspectos da legislação brasileira com relação à proteção do trabalhador. Inicialmente, veremos os rumos do Direito do Trabalho e sua base mais importante: a Constituição Federal. Discutiremos também como o Estado brasi- leiro aborda e resolve os conflitos entre empregados e empregadores. Analisaremos, na sequência, os princípios mais importantes que norteiam a constru- ção e a interpretação do Direito do Trabalho, ou seja, as ideias gerais que o fundamentam. O Direito do Trabalho tem a função de resguardar os direitos dos trabalhadores, que são a parte mais frágil na relação de emprego. A estruturação do setor de proteção laboral engloba o judiciário, as convenções, os acordos coletivos e, até mesmo, os tratados inter- nacionais sobre a matéria, entre outros. Esclarecimento Quando nos referimos à “matéria” do Direito do Trabalho, estamos englobando todo o ramo do Direito do Trabalho como parte da ciência jurídica. No primeiro tópico, estudaremos como se desenvolveu o Direito do Trabalho até os nossos dias e de que forma aplicamos os seus princípios. 1.1. Direito trabalhista no século XXI Neste tópico veremos a importância do Direito do Trabalho em nossos dias e como ele evoluiu até o momento. A Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, in- clui a proteção ao trabalhador e os direitos trabalhistas no capítulo constitucional que trata dos Direitos Sociais. Afirmação O professor José Afonso da Silva (2009, p. 37) ensina que a Constituição “é a lei fundamental de um Estado ou, dito de outra forma, é o conjunto de normas que organiza os elementos que formam o Estado”. É importante salientar que o Direito do Trabalho ganhou mais eficácia após a Constituição Federal de 1988, pois o trabalho começou a ser tratado como a mais impor- tante forma de trazer dignidade à pessoa humana 18 Legislação e Processos Trabalhistas Agora, estudaremos a origem da pro- teção ao trabalho, a conceituação e função dos princípios do Direito do Trabalho, além da forma como se dá a sua interpretação, tanto na formação da lei trabalhista quanto na aplicação diária, utilizando esses mesmos princípios e as fontes de Direito do Trabalho (lei, jurisprudência, costumes e outras). 1.1.1. A importância do direito do trabalho e sua origem A partir da Revolução Industrial, a prestação de serviços, antes mais fluida e elemen- tar, transformou o trabalho em emprego. Assim, os trabalhadores passaram a receber salá- rios que os subordinavam ao poder econômico do empregador - era uma nova época, com outras diretrizes sociais e econômicas (MARTINS, 2013). Com a invenção das primeiras máquinas, apareceram as indústrias, intensificando a exploração do trabalhador, que passava horas em locais insalubres, sujeito a explosões e incêndios, entre outros problemas. Além disso, os trabalhadores eram obrigados a jorna- das excessivas de trabalho. Como bem salienta Martins (2013): Com o surgimento da máquina a vapor, houve a instalação das indústrias onde existisse carvão, como ocorreu na Inglaterra. [...] O trabalhador prestava serviços em condições insalubres, su- jeitos a incêndios, explosões, intoxicação por gases, inundações, desmoronamentos, prestando serviços por baixos salários e sujeito a várias horas de trabalho, além de oito. Ocorriam muitos acidentes de trabalho, além de várias doenças decorrentes dos gases da poeira, do trabalho em local encharcado, principalmente a tuberculose, a asma e pneumonia. Trabalhavam direta ou in- diretamente nas minas toda a família, o pai, a mulher, os filhos, os filhos dos filhos, etc. (p. 6). Desde essa época, o patrão – proprietário das máquinas e que, portanto, detinha a for- ça produtiva – mandava o trabalhador executarsuas atividades como e onde bem quisesse, além de impor péssimas condições de trabalho. Como contextualiza Martins (2012), a necessidade de o Estado intervir era urgente, pois abusos como horas excessivas e maus tratos eram extremos contra todos. O autor ob- serva que a situação era ainda mais grave no caso das mulheres e menores de idade, que chegavam a trabalhar mais de 16 horas por dia, recebendo a metade do salário pago aos homens. © n ir ow or ld // S hu tt er st oc k 19Legislação e Processos Trabalhistas Nesse cenário, os trabalhadores começaram a se mobilizar, diferentes movimentos sociais começaram a emergir e surgiram as primeiras leis proibindo práticas abusivas. A jor- nada de trabalho foi limitada pela legislação e, posteriormente, houve a regulação do tra- balho da mulher, dos menores, dos trabalhos perigosos, do descanso e dos intervalos na jornada, entre muitas outras regras que visavam melhorar as condições de trabalho. O Direito do Trabalho surgiu, assim, para limitar os excessos do empregador em rela- ção à exploração e para modificar as condições do trabalho, como, por exemplo, meio am- biente adequado e respeito à pessoa do trabalhador. Assista Não deixe de conferir o filme Germinal (1993), baseado na obra homônima de Émile Zola, que retrata a exploração dos trabalhadores franceses pela aristocracia burguesa e sua luta por condições dignas de trabalho. Nos dias atuais, o bom conhecimento das normas trabalhistas e a negociação eficaz de acordos coletivos pelas empresas evitam inúmeras demandas judiciais, o que é muito importante do ponto de vista econômico e social. Para que isso aconteça, veremos quais são os princípios do direito do trabalho, tema que vamos discutir a seguir. 1.1.2. Aplicação dos princípios da proteção trabalhista No Brasil, a Constituição Federal passou a contemplar direitos sociais no seu tex- to a partir de 1934, incluindo, entre outros, a garantia de liberdade sindical e a igualdade salarial. Entre as normas que estão na Constituição Federal e nas próprias leis trabalhistas existem alguns princípios que são tidos como “princípios fundamentais”. Tais princípios inspiram a formação, interpretação e a aplicação das leis às situações fáticas e orientam a aplicação do direito do trabalho. Vejamos a seguir os princípios basilares do Direito do Trabalho: 20 Legislação e Processos Trabalhistas Princípio da proteção ou tutelar: tem por objetivo compensar a inferioridade econô- mica e jurídica do trabalhador. Quando houver dúvida na interpretação de uma norma (entre várias possíveis), deve ser adotada a mais favorável ao empregado. Quando duas normas dispuserem sobre a matéria aplicável a um caso específico, também prevalece a norma mais favorável ao trabalhador 1 Princípio da irrenunciabilidade de direitos: outro princípio que complementa o da tutela é o da irrenunciabilidade de direitos. Nesse sentido, estabelece o Art. 9 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): “serão nulos de pleno direito os atos prati- cados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação”. Por este princípio, portanto, fica proibido qual- quer acordo realizado entre as partes que tenha como objetivo a renúncia de quaisquer direitos do trabalhador. Casos clássicos são os dos acordos entre as partes renunciando a verbas salariais ou ao descanso a que o trabalhador tenha direito. Nesses exemplos, poderia haver um acordo, mas sem valor legal, pois seria para desvirtuar, impedir ou fraudar a lei, já que os direitos trabalhistas são, em princípio, irrenunciáveis. 2 Princípio da primazia da realidade ou verdade real: de acordo com este princípio, prioriza-se a verdade real – ou seja, os fatos, quando em confronto com a verdade formal. Na observação de documentos, por exemplo, deve-se estar atento se estes correspondem à realidade. Este princípio é muito utilizado para prevenir e verificar se há fraudes na aplicação do contrato de trabalho. São comuns casos de previsão contratual que não são direitos aplicados na prática. Uma situação bastante frequente é a seguinte: o empregado trabalha efetivamente em uma função – de gerente, por exemplo, organizando e administrando a área –, mas em sua carteira de trabalho consta o registro de auxiliar administrativo. Neste caso, o que é levado em conta é a realidade, e não o que consta formalmente em documentos. 3 Princípio da continuidade da relação de emprego: em regra, os contratos de trabalho terão validade por prazo indeterminado, havendo continuidade da relação de emprego. Um exemplo de continuidade do contrato de trabalho é a transferência do empregado para trabalhar em outra localidade que não seu domicílio, mas permane- cendo na mesma relação de emprego. 4 Agora que já conhecemos esses princípios fundamentais, vamos tratar da interpreta- ção do Direito de Trabalho, que envolve a busca das fontes e o amparo ao trabalhador. 21Legislação e Processos Trabalhistas 1.1.3. Interpretação do direito do trabalho A interpretação das normas e de outras fontes do Direito do Trabalho sempre leva em consideração o que for mais favorável ao trabalhador. Em nosso ordenamento jurídico, existem simultaneamente normas estatais (por exemplo, leis, medidas provisórias) e não estatais (por exemplo, convenção coletiva). Para cada situação de conflito ou de dúvida, é necessário verificar se existe um direito aplicável. Segundo Nascimento (2013): A proteção ao assalariado nem sempre é total e satisfatoriamente dispensada pelo Estado. Às vezes, normas não estatais cumprem melhor esse fim. Por tal razão, o direito do trabalho acolhe o princípio de que as condições mais benéficas ao trabalhador são sempre prioritárias. Assim, se a lei ordinária garante férias de 30 dias e a convenção coletiva assegura férias de 60 dias, esta será a norma fundamental aplicável. (p. 111). As principais fontes do Direito do Trabalho são Nascimento (2013): • Leis: são todos os atos que possuem caráter normativo, desde a Constituição Federal, a CLT e outras leis trabalhistas (como a que disciplina o FGTS – Lei n.º 8.036/91, por exemplo) até medidas provisórias e portarias do Ministério do Trabalho, entre outros. • Sentença Normativa: são as decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) ou do Tribunal Superior do Trabalho (TST). A própria Constituição Federal dá com- petência à justiça do trabalho para estabelecer normas e condições de trabalho. • Convenção e acordo coletivo: envolvem a autonomia dos sindicatos nas negocia- ções coletivas. As convenções são assinadas entre dois ou mais sindicatos, enquan- to os acordos são assinados entre uma ou mais empresas e o sindicato da categoria profissional. • Regulamento da empresa: é normalmente organizado pelos próprios interessa- dos, os empregadores e, em alguns casos, em comum acordo com os empregados. • Disposições contratuais do contra- to de trabalho: de acordo com o art. 8º da CLT, as determinações a respeito das condições de trabalho darão origem a direitos e deveres a empregados e empregadores. © N on w ar it / / S hu tt er st oc k 22 Legislação e Processos Trabalhistas • Usos e costumes: muitos costumes se tornam direito do trabalhador pela sua ha- bitualidade. Exemplo: a gratificação de natal foi oferecida espontaneamente com habitualidade e, posteriormente, se tornou obrigatória, resultando no 13º salário, hoje um direito do trabalhador. • Normas internacionais: tratados e convenções também são fontes de direitos e obrigações, como ocorre com os da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que obrigam seus signatários, inclusive o Brasil. Com relação ao direito constitucionaltrabalhista, temos um grande número de nor- mas que coexistem e são utilizados pelo Direito do Trabalho, inclusive juntamente com ou- tras fontes. Utiliza-se essas outras fontes se a lei não estabelecer nada sobre a matéria; nesse caso, utiliza-se a regra que for mais favorável ao trabalhador. Veremos a seguir como se estrutura o sistema legislativo e a resolução de controvér- sias trabalhistas de forma pacífica perante o Poder Judiciário. 1.2. O sistema legislativo das relações de trabalho O sistema brasileiro das relações de trabalho compreende a edição de leis trabalhistas e a estrutura do Poder Judiciário. A Constituição Federal de 1988, em seu art. n.º 114 e, posteriormente, a denominada reforma do judiciário, com a Emenda Constitucional n.º 45, ampliaram bastante a atuação da justiça do trabalho, trazendo para ela a competência relativa às demandas oriundas da rela- ção de trabalho, ainda que sem relações de emprego. Os autônomos, por exemplo, são trabalhadores terceirizados contratados pela empre- sa, mas que não têm relação de emprego. Depois da reforma do judiciário, tudo o que diz res- peito à relação de trabalho do autônomo com a empresa é julgado pela justiça do trabalho. Após a Constituição Federal, houve ainda a chamada flexibilização, quando outras normas surgiram para possibilitar que as regras se tornassem menos rígida e, dentre elas, as relativas à jornada de trabalho e ao trabalho em tempo parcial, por exemplo. Recentemente, por meio da Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017, o país passou por mais uma profunda alteração no ordenamento jurídico que regula as relações trabalhistas desde a instituição da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943. Essa lei, reconhecida como reforma trabalhista, altera, cria e revoga mais de 100 artigos e parágrafos da CLT. Imagina-se que tal reforma irá mudar de forma substancial o mercado de trabalho brasileiro nos próximos anos. A seguir, examinaremos a aplicação da CLT e a utilização da jurisprudência, importantes fontes de Direito do Trabalho, além do papel das convenções e dos acordos coletivos. 23Legislação e Processos Trabalhistas 1.2.1 A consolidação das leis do trabalho e a jurisprudência Há três diferentes grupos de leis que, simultaneamente, aplicamos nas relações de trabalho: a Constituição Federal, a CLT e as outras leis de conteúdo trabalhista A CLT é fruto de uma situação política que tinha o corporativismo e a forte interven- ção do Estado como características. As críticas dirigidas à CLT é de que ela era antiqua- da, gerava enormes prejuízos às relações sindicais e fazia pouca menção às negociações coletivas. Com a reforma trabalhista, uma série de itens foram inseridos sobre o Direito Coletivo do Trabalho. Um dos pontos principais da reforma trabalhista foi a introdução do Art. 611- A, na CLT, o qual diz que o acordo coletivo tem prevalência sobre a lei. A maio- ria dos itens busca flexibilizar dispositivos sobre jornada de trabalho e remuneração. A atuação do judiciário, de acordo com a reforma, restringe-se, no que diz respeito aos acor- dos coletivos, a analisar sua conformidade aos elementos juridicamente formais, e não ao conteúdo. Inobstante as inovações trazidas pela reforma trabalhista, cabe ao Poder Judiciário solucionar os impasses que surgem em função da interpretação das normas trabalhistas. É nesse contexto que a jurisprudência adquire relevância para o Direito do Trabalho. Jurisprudência “é o modo pelo qual o Judiciário aplica reiteradamente o direi- to” (CARRION, 2010, p. 85) ou “o conjunto de decisões proferidas pelos Tribunais, de forma a constituir uma diretriz, uma orientação sobre o tema, para os casos futuros” (NASCIMENTO, 2013, p. 102). Pode ser utilizada pelo advogado, como fundamento para a sua argumentação, e pelo juiz, como embasamento para a decisão na sentença – que é a decisão final nessa fase. Na atualidade, a jurisprudência não obriga a decisão do juiz. No entanto, se a juris- prudência for contrária ao que o juiz decidir, a parte prejudicada poderá recorrer ao tribu- nal para pedir que a decisão seja revista. A própria CLT (Art. 8º) trata do uso das fontes de Direito do Trabalho, estabelecendo que, na falta de disposições legais ou contratuais, os tribunais e as autoridades administra- tivas decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência e de acordo com os usos e costumes, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o in- teresse público. É importante destacar que a analogia é usada pelo intérprete quando não existe nor- ma para a situação específica. Nesse caso, é utilizada uma norma de um caso parecido. Já a equidade é usada quando o intérprete precisa retificar as distorções da lei, fazendo justiça, utilizando os valores sociais e outras fontes. 24 Legislação e Processos Trabalhistas Agora, vamos analisar outras importantes fontes de Direito do Trabalho, das quais surgem inúmeros direitos para o trabalhador: as convenções e os acordos coletivos. 1.2.2. Convenções e acordos coletivos As convenções e os acordos coletivos também são consideradas fontes de Direito do Trabalho por gerarem direitos aos trabalhadores. A reforma trabalhista de 2017 trouxe significativas alterações no que diz respeito às negociações coletivas. O Art. n.º 611-A representa um dos grandes fundamentos da refor- ma trabalhista, prevendo que “a convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho tem prevalência sobre a lei (…)” (BRASIL, 2017), significa dizer que o negociado prevalece sobre o legislado nas hipóteses previstas na própria legislação trabalhista. As convenções coletivas são definidas no Art. n.º 611 da CLT como : “o acordo de ca- ráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômi- cas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho” (BRASIL, 1943). O Art.n.° 611-A, incluído na reforma trabalhista, lista um rol de temas passíveis de negociação coletiva. Por sua vez, o Art.n.º 611-B, também inserido pela Lei 13.467/2017, estabelece limitações expressas à autonomia sindical nas negociações coletivas, deixando claro que quaisquer alterações que visem suprimir ou reduzir os direitos ali elencados cons- tituirão objeto ilícito. Alterou-se também a redação do §3º, do Art. 614, da CLT, extinguindo a ultratividade da convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. Tal princípio estabelece que as cláu- sulas negociadas entre as partes se incorporam ao contrato individual de trabalho mesmo após o término do prazo estipulado no acordo ou convenção coletiva. Esse princípio da ultratividade havia sido convencionado por meio da jurisprudên- cia dos tribunais trabalhistas, tendo em vista que a redação anterior desse parágrafo men- cionava que: “não será permitido estipular duração de Convenção ou Acordo superior a 2 (dois) anos” (BRASIL, 2017). A reforma do § 3º do Art. 614, da CLT, é uma resposta do legislador ao Poder Judiciário Trabalhista, excluindo a possibilidade de que as cláusulas negociadas vigorem até que novo instrumento seja celebrado. Em síntese, essas foram as principais alterações concernentes à negociação coletiva incorporadas ao texto consolidado pela Lei 13.467/2017. É importante salientar que, em decorrência do efeito normativo, a convenção coleti- va se aplica a todos os trabalhadores da categoria, não apenas aos que são associados ao 25Legislação e Processos Trabalhistas sindicato em questão. Nesse caso, é necessário delinear o que é uma categoria. Martins (2013) esclarece que: Nossa legislação quando trata de categoria, usa as expressões “categoria econômica” e “ca-tegoria profissional”. A “categoria econômica” é a que ocorre quando há solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas, cons- tituindo vínculo social básico entre essas pessoas (parágrafo primeiro do art. 511 da CLT) É também chamada categoria dos empregadores. Categoria Profissional ocorre quando existe similitude de vida oriunda da profissão de trabalho em comum, em situação de emprego na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas. É também chamada categoria dos trabalhadores. (p. 796). Apesar da reforma trabalhista ter trazido grandes mudanças nas convenções e nos acordos coletivos de trabalho, há limitações constitucionais ao poder de negociar que fo- ram expressamente previstas na legislação. Isto está evidenciado na redação do Art. 611-B da CLT, que diz expressamente que não são ilícitas as cláusulas negociadas que su- primam ou reduzam os direitos arrolados nos seus trinta incisos. A norma possui, inclusi- ve, a seguinte trecho: “objeto ilícito de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho” (BRASIL,2017). Constata-se que muitos direitos trabalhistas foram poupados da negociação coletiva, demonstrando que a prevalência do negociado sobre o legislado está longe de ser absolu- ta. Caberá a Justiça do Trabalho fazer o controle e a fiscalização da liberdade de negocia- ção outorgada aos entes sindicais à luz da previsão do Art. n.º 611-B. Analisando os incisos do Art. n.º 611-B, nota-se que o legislador se preocupou com a possível inconstitucionalidade das negociações coletivas celebradas após a reforma traba- lhista, baseadas no artigo anterior (611-A), de modo que fez constar, taxativamente, que existem direitos que não são passíveis de negociação coletiva. Para ilustrar, veja um modelo de acordo coletivo: 26 Legislação e Processos Trabalhistas Acordo coletivo de trabalho (Redução da jornada de trabalho) I – PARTES: EMPRESA: , inscrita no CNPJ/MF n.º , com sede na Rua , n.º , Bairro , CEP n.º , Cidade, Estado, representada pelo sócio e adminis trador, Sr(a). , nacionalidade, estado civil, portador do CPF n.º e do RG n.º , residente e domiciliado na Rua , n.º , Bairro , CEP n.º , Cidade, Estado ; SINDICATO: , inscrita no CNPJ/MF n.º , com sede na Rua , n.º , Bairro , CEP n.º , Cidade, Estado, representa- da pelo diretor. II - DISPOSIÇÕES Por este instrumento particular, as partes celebram, com fulcro no art. 58-A da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT – o presente acordo coletivo de trabalho, que será regido pelas seguintes normas: Art. 1º. A jornada de trabalho atualmente vigente de todos os trabalhadores, estipulada em 44 (quarenta e quatro) horas semanais está prevista na cláusula ___ dos respectivos con- tratos individuais de trabalho e será alterada nos termos dos art. s subsequentes. Art. 2º. Os trabalhadores abrangidos pelo presente acordo coletivo de trabalho passarão a laborar em regime de tempo parcial, cumprindo jornada laborativa de 25 horas semanais, de segunda à sexta-feira. Art. 3º. Em decorrência da redução da jornada laborativa prevista no art. anterior, a remu- neração dos empregados sofrerá a redução proporcional à quantidade de horas diminuídas. Art. 4º. Ficam mantidas as demais cláusulas constantes dos contratos individuais de traba- lho de cada um. Art. 5º. O presente acordo é celebrado após autorização dos trabalhadores, manifestada em assembleia especificamente convocada para esta finalidade, no dia / / . Art. 6º. O presente acordo entra em vigor na data da sua publicação e vigerá por um ano. Cidade e data. 27Legislação e Processos Trabalhistas Atualmente, as convenções e os acordos coletivos não precisam mais de homologa- ção pelo Poder Judiciário, cabendo apenas o arquivamento no Ministério do Trabalho para que entrem em vigor em três dias, conforme o Art. 614 da CLT. Vamos agora estudar um pouco sobre o Poder Judiciário trabalhista: como funciona e quais são os conflitos que não são resolvidos em seu âmbito, mas de forma particular e amigável entre as partes. 1.3. A solução do Estado para os litígios Os conflitos entre empregados e empregadores são resolvidos cada vez mais pelas próprias partes, de forma amigável e por meio de Comissões de Conciliação Prévia (CCP). Os sindicatos e as empresas podem instituir CCP – com representantes de emprega- dos e empregadores –, que possuem a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais de trabalho, segundo Art. 625-A da CLT (BRASIL, 1943). Além disso, há a solução dos litígios pela justiça do trabalho, que é exercida em todo o território nacional pelo Poder Judiciário Federal. Esclarecimento De acordo com o Dicionário Aurélio, um litígio pode ser entendido como: “1 Questão judicial; demanda, pleito. 2 Disputa, contenda, pendência, querela” (FERREIRA, 2000, p. 429). Na justiça do trabalho, julgam-se os conflitos oriundos da relação trabalhista, sejam eles individuais ou coletivos. A justiça do trabalho compreende os juízes trabalhistas que operam na primeira instância e nos Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs), bem como ministros que ope- ram no Tribunal Superior do Trabalho (TST). A seguir, veremos de que forma os conflitos trabalhistas podem ser resolvidos sem a in- tervenção do Estado. 28 Legislação e Processos Trabalhistas 1.3.1. Solução não estatal de conflitos: comissões de conciliação prévia As Comissões de Conciliação Prévia foram instituídas pela Lei n.º 9.9588/2000, a qual incluiu na CLT, os Arts 625 – AA e seguintes, como uma forma alternativa de solução não estatal de conflitos. As CPPs adotam o princípio da paridade, ou seja, são formadas por igual número de representantes dos empregados e dos empregadores. O objetivo das CPPS é antecipar a resolução dos conflitos individuais do trabalho, evitando a proposição de ações judiciais. É facultativa, ou seja, o empregado pode escolher que a sua ação seja primeiro vista e solucionada pela CPP ou pode ir diretamente ao Poder Judiciário. As CPPSs podem ser constituídas na empresa ou no âmbito sindical. As demandas podem ser submetidas à conciliação prévia se houver CCP nas empresas e intersindicais. Já no acordo coletivo, as negociações se desenvolvem em várias esferas. No Brasil, a principal é a da categoria econômica e profissional: empregadores que pertencem a deter- minada base territorial e os empregados dessa categoria. Assim, o acordo coletivo prevê a negociação por categoria, entre sindicato e empre- sas. Toda a categoria é beneficiada com o acordo. Poderá haver acordo ou convenção co- letiva para resolver a negociação entre os empregados, representados pelo sindicato da categoria e o sindicato dos empregadores. O acordo coletivo, quando analisando sob outros aspectos, possui uma abrangência menor: é um ajuste entre o sindicato de uma categoria de trabalhadores e uma ou mais empresas. Vamos ver agora de que forma o sistema judiciário trabalhista se organiza. © H ur st P ho to // S hu tt er st oc k 29Legislação e Processos Trabalhistas 1.3.2. A organização da justiça do trabalho Cabe à Justiça do Trabalho a missão de resolver os litígios das ações relativas às rela- ções de trabalho e até mesmo ações morais e patrimoniais, desde que oriundas da relação de trabalho. Antes de 2004, a Justiça do Trabalhoservia apenas ao julgamento de casos relacio- nados à relação de emprego, ou seja, à relação entre empregador e empregado regida pela CLT. Os outros trabalhadores (como os autônomos, por exemplo) não podiam se valer da Justiça Trabalhista, o que os obrigava a utilizar a estrutura da Justiça Comum. Mas qual a diferença? A Justiça do Trabalho é uma esfera especializada do Poder Judiciário brasileiro. A sua estrutura é totalmente voltada para assegurar o cumprimento das leis trabalhistas, diferente da Justiça Comum, que decide sobre vários assuntos (como crimes, casamentos, falências, impostos etc.), o que a torna uma Justiça não especializada. O Poder Judiciário do Brasil é dividido em esfera federal e estadual. No âmbito estadual, temos o Tribunal de Justiça de cada Estado (sempre com sede na respectiva capital) e os juízes de primeira instância, que trabalham nos fóruns de cada cidade. Já em âmbito federal, temos a Justiça Federal, a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho. Todos os funcionários dos fóruns trabalhistas, inclusive os juízes, são servidores públicos federais. A Justiça do Trabalho – que, como vimos, integra a esfera federal – é organizada em três esferas: a) os juízes do trabalho, que atuam em primeira instância; b) os Tribunais Regionais do Trabalho, que atuam em segunda instância; c) o Tribunal Superior do Trabalho, que é uma instância especial. A primeira instância é a que está mais próxima do conflito. É por isso que as ações trabalhistas começam por ela. Após a decisão do juiz, porém, pode ser que alguma das par- tes (empregado ou empregador) não concorde e queira recorrer. Nesse caso, o recurso será endereçado à segunda instância, que fica a cargo dos TRTs. Se após a decisão de se- gunda instância alguma das partes continuar não concordando, poderá recorrer mais uma vez, dessa vez ao TST, que está sediado em Brasília (DF). Como o Brasil é um país com grande número populacional, há uma enorme quantida- de de processos na Justiça do Trabalho. Essa quantidade, somada aos recursos que podem ser interpostos a partir das decisões proferidas, é que faz com que haja lentidão para o tér- mino dos conflitos. Vamos examinar agora o interessante tema dos trabalhadores que não possuem a proteção da legislação trabalhista nem seus litígios julgados pela Justiça do Trabalho. 30 Legislação e Processos Trabalhistas 1.4.Resolução dos litígios dos trabalhadores sem vínculo de emprego A nova redação dada à Constituição Federal de 1988, pela Emenda Constitucional n.º 45/04, substitui a expressão “relação de emprego” (que corresponde ao trabalho su- bordinado) pela expressão “relação de trabalho” (que corresponde a qualquer relação que envolva trabalho), trazendo para a competência da Justiça do Trabalho a relação civil do trabalhador. Assim, a CLT passa a oferecer proteção não apenas aos que estão dentro da relação de emprego, mas sim daqueles que estão em uma relação de trabalho. Nesse sentido, os conflitos relativos a serviços de empreitada, prestados por autônomos, por representantes comerciais autônomos são de competência da Justiça do Trabalho. Nos próximos tópicos, analisaremos a situação de alguns trabalhadores não ampara- dos pela CLT e que, portanto, não possuem vínculo de emprego, mas que são agora estu- dados pelo Direito do Trabalho 1.4.1. Litígios de autônomos: ausência de relação de emprego Uma outra alteração trazida pela reforma trabalhista, foi em relação ao trabalhador autônomo, que passa a ser conceituado pela CLT, no Art. 442 – B: “ A contratação do autô- nomo, cumpridas por este todas as formalidades legais, com ou sem exclusividade, de forma contínua ou não, afasta a qualidade de empregado prevista no Art. 3º desta Consolidação.” (BRASIL,2017). Assim, com o intuito de legalizar o trabalho, o Art. n.º 442-B veda a possibilidade do estabelecimento de vínculo empregatício com trabalhadores autônomos, mesmo em caso de relação exclusiva e contínua. Esse artigo limita o entendimento que perdurou por mui- to tempo na Justiça do Trabalho, isto é, o de que a relação com trabalhadores autônomos, quando feita de forma exclusiva e contínua, caracterizava-se como uma forma de burlar as obrigações trabalhistas. A justiça do trabalho, portanto, atuava de forma a restabelecer esse vínculo. Isso foi, de certa forma, resolvido pela atual reforma. De acordo com este novo dispositivo legal, é possível que um trabalhador execute trabalhos autônomos para determinado contratante de forma contínua e exclusiva, sem que isso se configure em vínculo empregatício. Isto não significa dizer que um empregado pode ser substituído simplesmente por um trabalhador autônomo sem riscos de reclama- ções trabalhistas. As diferenças entre o trabalhador empregado e o autônomo persistem. Se um trabalhador “autônomo” prestar serviços com habitualidade, pessoalidade e sob or- dens, caracteriza-se a subordinação jurídica, e ele passa a ser visto como um empregado, com todos os direitos inerentes. 31Legislação e Processos Trabalhistas Concluindo: no caso de litígios entre autônomos e empregadores cabe a Justiça do Trabalho resolvê-los por se tratar de relação de trabalho, inobstante as alterações promovi- das pela reforma trabalhista. No tópico a seguir, vamos estudar alguns contratos do Direito Civil. 1.4.2. Contratos de Direito Civil: sociedade, representação comercial, empreitada, cooperativa e outras Vamos examinar agora alguns tipos de contratos adotados rotineiramente pelas em- presas e que não são regidos pelo Direito do Trabalho. • Contrato de sociedade: pelo contrato de sociedade, duas ou mais pessoas se obri- gam a combinar esforços ou recursos para alcançarem fins comuns. Conforme de- finido pelo Código Civil (Art. 981), “celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados” (BRASIL,2002). Você pode conferir um exemplo de contrato de sociedade limitada abaixo: Contrato de Sociedade Limitada “CONTRATO DE CONSTITUIÇÃO DE (Nome Empresarial da sociedade limitada) 1. Fulano de Tal (nome civil completo), nacionalidade, estado civil, regime de bens (se casado), data de nascimento (se solteiro), profissão, n.º do CPF, tipo do documento de identidade, seu número, órgão expedidor e UF onde foi emitido, domicílio e resi- dência (endereço completo: tipo e nome do logradouro, número, complemento, bair- ro/distrito, município, Unidade Federativa e CEP) e 2. Beltrano de Tal (qualificação idem acima) constituem uma sociedade limitada, me- diante as seguintes cláusulas: Cláusula Primeira – A sociedade adota o nome empresarial , e tem sede e domicilio na (endereço completo: tipo e nome do logradouro, número, complemento, bairro/distrito, município, Unidade Federativa e CEP). Cláusula Segunda – A sociedade tem por objeto . Cláusula Terceira – A sociedade iniciará suas atividades em __/ _ /__e seu prazo de duração é indeterminado. 32 Legislação e Processos Trabalhistas Cláusula Quarta – O capital social é R$ reais dividido em quo- tas de valor nominal R$ real, integralizadas, neste ato, em moeda corrente do País, pelos sócios: Nome Nº de quotas Valor Total Cláusula Quinta – As quotas são indivisíveis e não poderão ser cedidas ou transferidas a ter- ceiros sem o consentimento do(s) outro(s) sócio(s), a quem fica assegurado, em igualdade de condições e preço direito de preferência para a sua aquisição se postas à venda. Cláusula Sexta – A responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor desuas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. Cláusula Sétima – A administração da sociedade caberá a com todos os poderes e atribuições necessários à administração e representação da socieda- de, autorizado o uso do nome empresarial, vedado, no entanto, fazê-lo em atividades estra- nhas ao interesse social ou assumir obrigações seja em favor de qualquer dos quotistas ou de terceiros, bem como onerar ou alienar bens imóveis da sociedade, sem autorização do(s) ou- tro(s) sócio(s). Cláusula Oitava – Ao término de cada exercício social, em 31 de dezembro, o(s) administra- dor(es) prestará(ão) contas justificadas de sua(s) administração(ões), procedendo à elabora- ção do inventário, do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico, cabendo aos sócios, na proporção de suas quotas, os lucros ou perdas apurados. Cláusula Nona – Nos quatro meses seguintes ao término do exercício social, os sócios deli- berarão sobre as contas e designarão administrador(es) quando for o caso. Cláusula Décima – A sociedade poderá a qualquer tempo, abrir ou fechar filial ou outra de- pendência, mediante alteração contratual assinada por todos os sócios. Cláusula Décima Primeira – Os sócios poderão, de comum acordo, fixar uma retirada men- sal, a título de “pro labore” para o(s) sócio(s) administrador(es), observadas as disposições regulamentares pertinentes. Cláusula Décima Segunda – Falecendo ou sendo interditado qualquer sócio, a sociedade continuará suas atividades com os herdeiros, sucessores e o incapaz. Não sendo possível ou inexistindo interesse destes ou do(s) sócio(s) remanescente(s), o valor de seus haveres será apurado e liquidado com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, ve- rificada em balanço especialmente levantado. 33Legislação e Processos Trabalhistas • Contrato de representação comercial: é o contrato que tem por objeto a media- ção para a realização de negócios mercantis, por meio do qual os representantes agenciam propostas ou pedidos que são transmitidos aos representados, de modo não eventual e sem que haja relação de emprego (Art. 1º da Lei n.º 4.886/65). Os representantes comerciais são vendedores das mercadorias que representam. Na verdade, trata-se do mesmo trabalho exercido pelos vendedores internos, mas estes permanecem nas empresas, contratados e com vínculo empregatício. A di- ferença está, portanto, no poder da direção de exigir a subordinação perante os empregados, que não pode ser exercido perante os representantes comerciais. Hoje, mesmo não havendo a relação de emprego, há a competência reconhecida à Justiça do Trabalho para julgar as desavenças entre o representante comercial e a empresa que o contrata. 34 Legislação e Processos Trabalhistas Veja um exemplo de contrato de representação comercial abaixo: CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL I – QUALIFICAÇÃO DAS PARTES Contratante: , inscrita no CNPJ/MF n.º , com sede na Rua , n.º , Bairro , CEP n.º , Cidade, Estado, representada pelo sócio e administrador, Sr(a). , nacionalidade, estado civil, portador do CPF n.º e do RG n.º , residente e domiciliado na Rua , n.º , Bairro , CEP n.º , Cidade, Estado ; Contratado: Sr(a). , nacionalidade , estado civil, portador do CPF n.º e do RG n.º , residente e domiciliado na Rua , n.º , Bairro , CEP n.º , Cidade, Estado. I – DISPOSIÇÕES CONTRATUAIS As partes acima qualificadas, manifestando livremente a sua vontade, celebram o presente contrato de representação contratual nos seguintes termos: OBJETO Cláusula 1ª. O objeto do presente contrato é a representação comercial de venda de bens produzidos pela CONTRATADA. PAGAMENTO Cláusula 2ª. Pela execução do objeto descrito na cláusula anterior e cumprimento das obriga- ções previstas na cláusula 4ª, a CONTRATANTE pagará à CONTRATADA a importância fixa mensal de R$ , (por extenso). Parágrafo primeiro. O pagamento deverá ser realizado até o dia do mês subsequente ao da prestação dos serviços. Parágrafo segundo. O atraso no pagamento importará a incidência de multa de % (por ex- tenso) sobre o valor previsto nesta cláusula e os serviços poderão ser suspensos se o atraso persistir por mais de (por extenso) dias. 35Legislação e Processos Trabalhistas COMISSÃO Cláusula 3ª. Além do valor previsto na cláusula anterior, a CONTRATANTE pagará a CONTRATADA __% (por extenso) sobre cada produto comercializado, valor que será pago mensalmente, no mesmo prazo previsto no parágrafo primeiro da cláusula anterior. OBRIGAÇÕES DAS PARTES Cláusula 4ª. Compete à CONTRATADA divulgar amplamente os bens e serviços co- mercializa- dos pela CONTRATANTE, pelos meios publicitários que dispor, bem como proceder ao processo completo de venda, desde o recebimento do pedido até a en- trega do bem. Cláusula 5ª. Compete à CONTRATANTE: I - disponibilizar exclusivamente à CONTRATADA os bens que produz, sendo ve- dada a contratação de outra empresa à mesma finalidade; II – manter estoque e atender imediatamente a todos os pedidos apresentados pela CONTRATADA; III – responder pela qualidade dos bens que produz e que serão comercializados pela CONTRATANTE; IV – prestar assistência à CONTRATADA em todo o processo de venda e pós-venda; V – reparar eventuais produtos danificados que sejam devolvidos pelos consumidores. RESCISÃO Cláusula 6ª. Qualquer das partes pode requerer a rescisão do presente contrato, sem ônus, desde que proceda à comunicação com ___ (por extenso) dias de antecedência. VIGÊNCIA Cláusula 8ª. O presente contrato vigerá por prazo indeterminado, a partir da sua assinatura. FORO Cláusula 9ª. Fica eleito o foro de (Cidade e Estado) para dirimir eventuais conflitos oriundos do presente contrato. DISPOSIÇÃO FINAL Por estarem justos e acordados, firmam o presente contrato em duas vias de igual teor, junta- mente com duas testemunhas. 36 Legislação e Processos Trabalhistas • Cidade, de de . Contratante Contratado Testemunhas: Nome: Nome: RG n.º: RG n.º: Contrato de empreitada: o contrato de empreitada possui um objetivo expresso a ser alcançado: uma obra ou uma prestação de serviço deve ser concluída. O em- preiteiro não é umempregado, mas um prestador de serviço, que exerce atividade por conta própria, constituindo-se na figura do autônomo. Suas desavenças, desde que resultantes da prestação de serviços, são resolvidas pela Justiça do Trabalho. • Cooperativas de trabalho: as cooperativas, quando corretamente constituídas, contribuem para que a população excluída do mercado de trabalho consiga ter par- ticipação na economia. Normalmente, o que se crítica não são as cooperativas, mas a precarização das condições de trabalho. Por vezes, as cooperativas de traba- lho são utilizadas para a empresa fugir das obrigações trabalhistas. Considerando as características especiais do contrato de trabalho, como a importân- cia da realidade dos fatos em relação ao que consta nos documentos é o princípio da pri- mazia da realidade. As empresas, por meio de seus órgãos administrativos e de direção, devem atentar nos cuidados diários para não haver problemas junto aos prestadores de serviços e perante os próprios empregados. O Direito do Trabalho, como sistema jurídico, tem na relação empregatícia sua base, a partir da qual se constroem os princípios e as regras, demarcando suas características próprias. Apresentamos nesse capítulo alguns conceitos, princípios e a importância do Direito do Trabalho, incluindo figuras alheias a ele, mas que também podem ser enquadradas, como é o caso dos autônomos. Tratamos também de dispositivos que foram impactados pela reforma trabalhista de 2017. 37Legislação e Processos Trabalhistas Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulga- da em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- tuicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18/01/2016. .Decreto-lei n.º 5452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 18/01/2016. . Emenda Constitucional n.º 45, de 30 de dezembro de 2004. Altera dispositivos dos Arts. 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, acrescenta os Arts. 103-A, 103B, 111- A e 130-A, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/emendas/emc/emc45.htm>. Acesso em: 11/05/2016. . Lei n.º 4886, de 9 de dezembro de 1965. Regula as atividades dos representantes comerciais autônomos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4886. htm>. Acesso em: 18/01/2016. . Lei n.º 8.420, de 8 de maio de 1992. Introduz alterações na Lei n° 4.886, de 9 de dezembro de 1965, que regula as atividades dos representantes comerciais autônomos. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8420.htm>. Acesso em: 11/05/2016. . Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 11/05/2016. .Lei n.º 9.958, de 12 de janeiro de 2000. Altera e acrescenta art. s à Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9958.htm>. . Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho ( CLT). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13467. htm>. CARRION, V. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2010. DELGADO, M. G. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2010. FERREIRA, A. B. H. Litígio. Miniaurélio século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. 04. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. GERMINAL. Direção: Claude Berri. Produção: Bodo Scriba, Claude Berri e Pierre Grunstein. França: AMLF, 1993. MARTINS, S. P. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2013. NASCIMENTO, A. M. Iniciação ao Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2013. SILVA, O. P e. A Nova Face do Direito do Trabalho: Tecnologia, desemprego, Trabalho Autônomo e Trabalho Informal. Revista do Advogado, Ano XXV, n.º 82. São Paulo: AASP, 2005, p. 95-103. PORTAL DO EMPREENDEDOR. Modelo do contrato padrão, 2016. Disponível em: <www.portaldoempreendedor.gov.br/sociedades-empresarias-limitadas/contrato- -padrao/modelo-do-contrato-padrao>. Acesso em: 19/04/2016. Repercussão geral: recurso discute atuação da Justiça do Trabalho entre representante co- mercial e empresa representada. Supremo Tribunal Federal, 2012. Disponível em: <www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=209394> Acesso em 06/03/2016. SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. 39Legislação e Processos Trabalhistas OBJETIVOS DO CAPÍTULO • Compreender e aplicar os principais conceitos relativos à proteção ao trabalhador, garantidos na Constituição Federal; • Identificar os direitos e deveres da empresa ou entidade e as formas de contrata- ção de empregados e demais colaboradores, respeitando a condição humana; • Verificar e interpretar o compromisso legal entre empregado e empregador. CAPÍTULO 2 Direitos garantidos pela Constituição Federal TÓPICOS DE ESTUDO 1 Princípios relativos às condições de trabalho, duração e outros aspectos 3 Responsabilidade sócioambiental • Critérios de não discriminação no trabalho. • Não distinção entre trabalho intelec- tual, técnico e manual. • Proteção ao descanso. • Proteção aos trabalhadores: par- ticipação nos lucros e na gestão da empresa • Assédio Moral e Assédio Sexual. • Ambiente de trabalho adequado. • Acidentes de trabalho e a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). • Periculosidade e Insalubridade: os Equipamentos de Proteção Individual (EPI). 2 A dignidade da Pessoa Humana e as Proteções especiais 4 Direitos relativos ao Salário • Proteção às Pessoas deficientes. • A Proteção legal aos Menores de Idade. • Proteção à mulher e ao seu mercado de trabalho. • Assédio Moral e Assédio Sexual. • Proteção ao salário. • Proteção ao emprego. • Garantias Coletivas . 40 Legislação e Processos Trabalhistas 2. Direitos garantidos pela Constituição Federal Neste capítulo vamos estudar a orientação da Constituição Federal, nossa lei maior, em relação aos direitos do trabalhador. A Constituição Federal de 1988, resultado de um processo de redemocratização da nação brasileira, alterou por completo o sistema de proteção do direito do trabalho em seu viés constitucional. Percebeu-se uma grande preocupação do legislador constituinte em proteger o tra- balho, especialmente, pelo grande número de dispositivos constitucionais reservados à matéria trabalhista. As principais bases dos direitos assegurados pela Constituição são a dignidade huma- na, que não pode existir sem um trabalho adequado, e a igualdade entre todos, pois a Constituição de 1988 deu maior dimensão ao princípio da igualdade. O Art. 7º, XXX e XXXI, proíbe “diferenças de salários de exercício de funções e de critério de admissão por moti- vo de sexo, idade, cor ou estado civil”. Protege ainda o portador de deficiência, declarando que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (BRASIL, 1988). Esclarecimento A música Um homem também chora, composta por Gonzaguinha, fala sobre a importância do trabalho para a honra do homem. A atual configuração da jornada de trabalho, com a concessão de períodos de descan- so, é significativa para a manutenção da qualidade de vida do trabalhador. Nos próximos tópicos, falaremos sobre a duração do trabalho e a não discriminação no trabalho,
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