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Direito material coletivo

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DIREITO PROCESSUAL COLETIVO
I. PARTE I: 
1.Direito Material Coletivo
1.1. Introdução
1.2. Denominação
1.3. Direitos ou Interesses Coletivos
1.3.1. Do Individual ao Coletivo
1.3.2. A dicotomia público e privado
1.3.3. A tricotomia público, privado e transindividual
1.4. A classificação constitucional dos interesses ou direitos 
1.4.1. Interesses ou Direitos Individuais e Coletivos
1.4.2. O Interesse Individual
1.4.3. O Interesse Coletivo: 
1.4.3.1. Direitos ou Interesses essencialmente Coletivos:
- público;
- difuso; 
- coletivo em sentido estrito.
1.4.3.2. Direito ou Interesse acidentalmente Coletivo
- individual homogêneo.
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INTRODUÇÃO
Na atualidade agitam-se questões de magnitude tal, que os 
tradicionais instrumentos jurídicos de solução mostram-se inábeis para 
resolvê-las. Não raro, os problemas, mui diversamente de outras épocas da 
história da humanidade, não se cingem em conflitos meramente 
individuais, circunscritos em disputas entre um indivíduo e outro, mas vão 
além para envolver grupos, comunidades, coletividades de pessoas. 
A complexidade da sociedade atual, que remonta aliás o pós 
segunda guerra mundial, por ser de produção, de troca, de consumo, de 
informação, de marketing etc de massa, obviamente fica sujeita igualmente 
a conflitos de massa de variada natureza, dando enseja à identificação de 
interesses que não cabem mais na esfera individual ou pública. 
Atingindo individualidades, pessoas determinadas e 
identificadas, podem as várias situações da vida atual também alcançar 
coletividades, definidas ou não, extrapolando a órbita individualista para 
atingir proporções que tocam a grupos, classes, conjunto de pessoas, 
determinadas ou não, mas ligadas entre si por elementos de direito ou de 
fato, a que se denominam interesses coletivos em sentido amplo, para 
abarcar as categorias de interesses público, difuso, coletivo em sentido 
estrito e até mesmo os agora conhecidos como individuais homogêneos.
Efetivamente, a sociedade de massas trouxe outra realidade 
não só ao Estado, mas igualmente ao Direito. Aquele, o Estado, de um 
modelo liberal, marcadamente individualista - fundado na apreensão 
exclusiva de bens e direitos, passou, ou está passando por imposição das 
transformações sociais que vimos experimentando, a outro, dito 
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democrático de direito, de cunho eminentemente social, onde a nota é a 
comunidade, e por isso a transindivudalidade; de outro lado, o direito, 
tendo à frente não mais violações individuais apenas mas também 
violações de massa, vê-se às voltas de uma revolução interna fazendo-o 
alcançar situações até então desprezadas ou relegadas a plano secundário.
Assim, já não se pode mais pensar no fenômeno jurídico sem 
consideração aos interesses coletivos (lato senso) que a sociedade moderna 
apresenta, trazendo à convivência inúmeros embates intercoletivos, 
marcados pela transpessoalidade, onde a questão central não se acha no 
individual mas sim no "coletivo".
Há, portanto, no seio da sociedade uma nova categoria de 
interesses. Os interesses do grupo, da classe, da coletividade ou mesmo de 
um sem-número de pessoas que a compõe, ditos interesses coletivos.
Não são, porém, interesses que apenas a atualidade conheceu. 
Na verdade, como lembra doutrina abalizada, esses interesses sempre 
existiram, desde que o homem passou a viver em grupo, em sociedade, uma 
vez que são conaturais a esta, mas a sociedade moderna, entretanto, 
colocou-os em maior evidência. 
No plano normativo interno, a Carta Magna de 1988 assimilou 
essa nova realidade. Desprendendo-se, com efeito, da tônica puramente 
individualística, onde o centro é o indivíduo, primou a Constituição 
Federal, de um lado, pela socialização dos direitos, constitucionalizando 
categorias até então ou meramente factuais ou sem tratamento jurídico 
adequado porque pontual e assistemático (categoria consumidora – art. 5º, 
XXXII; meio ambiente ecologicamente equilibrado – art. 225, caput; 
proteção integral da infância e juventude – art. 227; entre outros), e, de 
outro, instituindo mecanismos de tutela igualmente socializada (mandado 
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de segurança coletivo – art. LXX; ação popular de interesse público ou de 
interesse ambiental – art. 5º, LXXIII; ação civil pública e inquérito civil 
público, art. 129, III).
Efetivamente, exaltando, já no preâmbulo, o estabelecimento 
de um Estado Democrático "destinado a assegurar o exercício dos direitos 
sociais e individuais", a Constituição Federal de 1988 pôs em relevo a 
promoção social do indivíduo (art. 3º) e assegurou-lhe direitos 
fundamentais coletivos (art. 5º, caput, e incisos XVI, XXI, XXXII, art. 170, 
V e VI) e instrumentos hábeis à sua efetivação (art. 5º, LXX e LXXIII; art. 
129, III, e par. 1º), além de reconhecer a existência de bens essencialmente 
coletivos ("lato sensu"), como aquele do artigo 225, caput, entre outros.
Portanto, a partir da Constituição Federal, pode-se identificar 
essa categoria de interesses ou direitos coletivos, que abarcam tanto o 
interesse público como o transindividual (difuso, coletivo em sentido 
estrito e individual homogêneo).
DENOMINAÇÃO
A doutrina clássica é dualista, pois separa direito e interesse, 
como também compreende o direito em duas categorias, ou seja, direito 
público e direito privado, numa compreensão dicotômica do direito, que já 
não mais atende a realidade social em que estamos inseridos pela presença 
inegável de outra categoria de interesses ditos sociais ou transindividuais.
Adverte-se que aqui não é lugar para entrar na discussão da 
atualidade dessa dicotomia, muito de Filosofia do Direito ou de Teoria 
Geral do Direito, mas se vê necessário considerá-la para se situar diante da 
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diversidade doutrinária no modo de tratamento tanto do direito material 
coletivo como do Direito Processual Coletivo.
Na verdade, importa ao Direito Processual Coletivo não 
propriamente considerar essa dicotomia, mas sobretudo criar condições de 
acesso dos novos direitos (ou interesse) à justiça. Portanto, o que conta em 
sede de Direito Processual Coletivo não é nem tanto saber dessa dicotomia 
e sim assegurar a efetivação dos direitos (ou interesses), como está posto na 
Constituição Federal, de maneira que mais relevante é buscar um critério 
que considere conjuntamente a titularidade, a proteção e a efetivação dos 
direitos coletivos (ou interesses coletivos), para sua efetiva tutela jurídica. 
Portanto, aqui em Direito Processual Coletivo o que conta é o 
acesso à justiça, a fazer com que o máximo de direitos ou interesses tenham 
amparo em instrumentos efetivos de proteção e efetivação no plano da 
realidade (acesso substancial à justiça).
Assim, uma e outra dicotomia se acham superadas na 
atualidade, pelo menos para assegurar o pleno acesso à justiça de toda 
emergência de direitos ou interesses que surjam no seio social. 
Mas vale dizer porque superadas. 
Primeiro, a dicotomia interesse e direito. 
Interesse é vocábulo a designar algum vínculo entre uma 
pessoa e um bem da vida, não importando qual; será interesse jurídico na 
medida em que uma ordem jurídica o assimile, pela sua relevância e 
importância que se lhe dá. Portanto, um interesse somente tem sentido se 
incorporado pela norma jurídica, porque relevante, a permitir que o 
pretendente a sua titularidade o possa exigir, passando então a ser tratado 
como direito. O direito, assim, nada mais seria que o interesse amparado 
pela norma jurídica, a possibilitar que uma determinada pessoa possa 
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exercitá-lo; o interesse sem essa assimilação pela norma jurídica seria um 
irrelevante jurídico, a não possibilitar seu acesso à justiça.Aqui está o problema. 
A norma jurídica não consegue exprimir toda gama de 
interesses relevantes, a merecerem amparo jurídico, como também nem 
todo interesse está conectado a pessoa determinada ou determinável; há 
relevantes interesses não expressos em norma jurídica, como também há 
interesses relevantes não conectados a pessoa certa ou determinável.
É o que se passa com todos os interesses essencialmente 
coletivos, que ou não estão expressos em norma jurídica ao modo como 
estão os direitos individuais ou não estão vinculados a pessoa certa e 
determina, mas sim a pessoas indeterminadas e muitas vezes 
indetermináveis. 
Com isso, rompe-se com essa dicotomia, para tratar um e outro 
indistintamente, pelo menos em sede de Direito Processual Coletivo. 
Todavia, ainda é possível destacar três doutrinas, ou correntes 
doutrinárias, em torno dessa questão.
(a) doutrina clássica, que segue com a dicotomia, a admitir 
falar de direito apenas quando se possa atribui-lo a sujeito determinado ou 
determinável, por isso que não reconhece; do contrário, apenas cabe falar 
em interesse (quando não se consegue atribuir um interesse a pessoa certa 
ou determinável), sem uma proteção direta na norma jurídica (a 
consequência seria dizer, por exemplo, que o interesse ambiental não teria 
proteção direta, mas indireta). Por essa doutrina, portanto, somente se 
poderia falar em interesse difuso, interesse coletivo em sentido estrito e 
interesses individuais homogêneos (interesses transindividuais), não em 
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direitos difusos, direitos coletivos em sentido estrito e direitos individuais 
homogêneos. 
 (b) doutrina mais atual, chamada de revisionista, compreende 
a existência de direitos transindividuais, como os direitos difusos, direitos 
coletivos em sentido estrito e direitos individuais homogêneos. Essa 
doutrina atribui esses direitos a um “ser coletivo”, independentemente de 
identificação das pessoas que o compõem, reconhecendo assim os 
chamados direitos subjetivos coletivos, aqueles direitos atribuíveis a 
coletividades de pessoas, determináveis ou não. 
(c ) há, ainda, outra corrente, intitulada intermediária, a partir 
da concepção adotada pelo Código de Defesa do Consumidor (art. 81, 
parágrafo único, incisos I, II e III, da Lei n. 8.078/90), preocupada com a 
tutela prática dos direitos coletivos; por essa doutrina é irrelevante 
estabelecer diferença entre interesse e direito, pois se o interesse for 
juridicamente protegido será direito, ainda que não possa ser atribuído a 
certa e determinada pessoa. Por essa doutrina, interesse e direito se 
equivalem, portanto. 
Agora, sobre a segunda dicotomia, aquela entre direitos ou 
interesses público e privado. 
Não faz muito tempo em que se conhecia apenas a suma 
divisão dos interesses em público e privado. Essa divisão se estabeleceu 
especialmente a partir da Revolução Industrial, para separar aquilo que 
interessava a toda a população, à sociedade, por meio do Estado, daquilo 
que tinha pertinência apenas a particulares, ao privado. 
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Interesse público, assim, é concebido como o interesse do bem 
geral, relevantíssimo à sociedade como um todo, e o privado, o interesse 
pertinente ao indivíduo considerado isoladamente. Esta 
dicotomia, entretanto, está superada. Efetivamente, as transformações da 
sociedade contemporânea repercutiu sobremaneira no modo de vida das 
pessoas, a ponto de trazer situações não enquadráveis naquele modelo 
fincado em duas vertentes apenas. A complexidade da vida atual 
(decorrente sobretudo das transformações das relações de produção e de 
consumo, ambos de massa, aliada aos novos meios de investida contra o 
meio ambiente e consumidores), marcada assim pela heterogeneidade e 
multiplicidade, revela que entre esses dois extremos há categorias de 
interesses que igualmente merecem proteção jurídica, embora não sejam 
titularizados nem pelo Estado e nem pelo indivíduo. São os interesses 
transindividuais (difusos, coletivos e, em certa escala, os individuais 
homogêneos).
Na verdade existe uma categoria intermediária de interesses, 
configurada por interesses transindividuais, que nem coincidem com os 
interesses individuais e também nem se identifica com os interesses 
públicos.
A sociedade de massa, portanto, fez ressurgir as formações 
sociais ou corpos intermediários, tão repugnados pela Revolução Francesa, 
e com isso rompeu a tradicional distinção entre aqueles dois tipos de 
interesses (públicos e privados), trazendo ao cenário jurídico outra 
categoria de interesses: os transindividuais.
Há, entretanto, três correntes em torno dessa questão, que não 
se pode deixar de considera-las. 
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(a) Uma primeira corrente, denominada na doutrina de 
dicotomia pura ou clássica (ou estática), sustenta existir apenas os direitos 
ou interesses público e privado, não reconhecendo outros direitos além de 
um e outro. Portanto, é corrente que nega a existência de interesses ou 
direitos transindividuais.
(b) Outra corrente doutrinária, conhecida como corrente 
mitigada ou flexibilizada (ou temperada ou mista), reconhece a existência 
dos direitos transindividuais mas os colocam dentro dos interesses ou 
direitos públicos. Assim, para essa corrente doutrinária, aqueles interesses, 
sobretudo o difuso, seria espécie do gênero interesse público. 
(c) Finalmente, outra corrente, chamada de tricotômica (ou 
tripartite), compreende três categorias distintas de interesses ou direitos, 
quais sejam, o público, o transindividual e o privado. Isso em razão de ser 
inegável a existência de coletividades, que aqui se tem chamado de “ser 
coletivo” (doutrina designa corpo intermediário ou grupo intermediário), 
que se colocam entre o indivíduo e o Estado (este portador do interesse 
público, para sua plena realização). 
Mas, cabe ressaltar, que se adota outra doutrina (ou critério) na 
consideração dos direitos ou interesses, qual seja, a que os considera a 
partir da Constituição Federal. É critério unificador e sobretudo 
identificador, expressa ou implicitamente, dos interesses ou direitos 
amparados pela ordem jurídica brasileira. 
Daí por que se opta por designar os interesses ou direitos em 
individuais e coletivos, em atenção ao disposto no artigo 5º, caput, da 
Constituição Federal, seguindo aliás boa doutrina. 
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Portanto, e superada a doutrina que separa interesse e direito, 
como se pôs acima, o critério constitucional coloca os direitos ou interesses 
em individuais e coletivos, com uma subclassificação dos coletivos em 
público e transindividuais, estes compreendendo os difusos, coletivos em 
sentido estrito e individual homogêneo.
É um critério, ou um modelo ou ponto de vista, que também 
considera outra classificação, que também se encontra na doutrina, como 
trinária ou tricotômica dos interesses, de modo que estes se apresentariam 
como individual, público e transindividual (difusos, coletivos em sentido 
estrito e individual homogêneo). 
Aliás, é bom que se diga, a Constituição Federal se utiliza 
tanto da expressão direitos coletivos (art. 5º, caput) como da expressão 
interesses difusos e coletivos (art. 129, III), de maneira que em verdade soa 
até irrelevante destacar uma ou outra corrente em torna dessa questão. 
No entanto, há que se seguir, repita-se, o critério que está 
colocado na Constituição Federal, no artigo 5º, caput.
Assim, temos a seguinte classificação dos interesses: a) 
individual; b) coletivo, este subdivido em (1) público e (a) transindividual 
(difuso, coletivo em sentido estrito e individual homogêneo). 
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INTERESSE PÚBLICO
É o interesse pertinente à coletividade, à sociedade, 
representada peloEstado (lato senso), ou seja, interesse que se faz valer em 
relação ao Estado, como o interesse à segurança pública, à educação 
fundamental, à saúde pública, pertinente a todos em sociedade, mas que 
cada um tem diante do Estado.
Interesse público, portanto, é aquele concebido como o interesse 
do bem geral, relevantíssimo à sociedade como um todo, ou seja, interesses 
que se assentam em fato ou direito de proveito coletivo ou geral. Noutras 
palavras, aqueles que se entendam de benefício comum ou para proveito 
geral ou que traduzam uma necessidade coletiva, por isso que pertinente à 
sociedade como um todo, representada pelo Estado.
Caracteriza esse interesse, os seguintes elementos: 
(a) titularidade coletiva (sociedade), representada pelo Estado;
(b) indivisibilidade, pois de fruição comum, coletiva;
(c) originários da Constituição Federal, como valores 
constitucionais do povo brasileiro;
(d) unanimidade social ou consenso coletivo (ou 
conflituosidade coletiva mínima; manifestação social homogênea a exigir 
seus reconhecimento ou tutela);
(e) indisponibilidade do interesse. 
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INTERESSE TRANSINDIVIDUAIS 
O termo "transindividual" melhor designa essa nova categoria 
de direitos ou interesses. O prefixo "trans" permite a passagem do 
individual para o plural sem que aquele deixe de existir, pois os interesses 
transindividuais não aniquilam os individuais, mas apenas os colocam 
noutra perspectiva, a coletiva (lato sensu), de modo que não estão em 
posição hierárquica superior, acima ou além do indivíduo. Perpassam-no.
O Código de Defesa do Consumidor, acertadamente, pôs fim à 
à imprecisão terminológica, tratando esses interesses como interesses 
transindividuais (cf. art. 81, parágrafo único, incisos I e II), estabelecendo 
que são interesses ou direitos difusos os transindividuais, de natureza 
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por 
circunstâncias de fato (inciso I) e coletivos os transindividuais de natureza 
indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas 
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base (inciso II).
Há, ainda, os interesses individuais homogêneos, que não são 
propriamente transindividuais mas eles são equiparados para fins de tutela 
jurídica (judicial ou extrajudicial), como conceituados pelo mesmo Código 
de Defesa do Consumidor, no artigo 81, parágrafo primeiro, inciso III 
(interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os 
decorrentes de origem comum). 
Há, como evidenciado, uma categoria de interesses que 
suplanta individualidades. São interesses (ou direitos) cuja característica 
central é ostentarem titularidade disseminada em diversas pessoas, as vezes 
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determinadas ou determináveis (coletivos em sentido estrito e individual 
homogêneo) e as vezes indeterminadas (difusos). 
ESPÉCIES DE INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS
 
São espécies de interesses ou direitos transindividuais: (a) os 
interesses difusos; (b) os interesses coletivos em sentido estrito; (c) os 
interesses individuais homogêneos.
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INTERESSES COLETIVOS EM SENTIDO ESTRITO 
 
São interesses que surge a partir do homem socialmente 
engajado, não considerado como indivíduo isolado, mas sim, como 
membro de comunidades menores ou grupos que se perfilham entre o 
indivíduo e o Estado.
Expressam uma categoria cuja individualidade se perde para a 
transindividualidade. No instante em que o homem se articula socialmente 
na busca de interesses que não é apenas seu mas de uma coletividade 
inteira, definida ou definível, põe-se noutra dimensão, porque esses 
interesses sintetizados não mais coincide com o seu interesse 
individualmente considerado. É uma metamorfose impar, em que o 
indivíduo faz o todo mas o todo não corresponde ao indivíduo, como que 
nascendo da reunião de individualidades uma certa alma coletiva distinta. 
É, assim, uma síntese de interesses, não mera soma ou aglomeração. Se há 
um interesse individual ao emprego, vinculado a certa pessoa, esse mesmo 
interesse articulado com o dos demais indivíduos de uma certa classe ou 
categoria, faz surgir uma nova ordem de interesses, qual o interesse 
coletivo ao pleno emprego, de modo que o emprego passa a ser visto e 
defendido coletivamente, de modo mais amplo e eficaz.
São interesses que embora extrapolem individualidades, 
ostentam titularidade definida, à medida que encerrada em grupo 
determinado ou determinável (associação, sindicato, família, ou outros 
grupos intermediários). Interesses, portanto, vinculados ao homem 
socialmente considerado, aspecto aliás que implica certa organização deles, 
interesses.
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Deveras, e aproveitando os interesses coletivos dizem respeito 
ao homem socialmente vinculado e não ao homem isoladamente 
considerado. Colhem, pois, o homem não como simples pessoa física 
tomada à parte, mas sim como membro de grupos autônomos e 
juridicamente definidos, tais como o associado de um sindicato, o membro 
de uma família, o profissional vinculado a uma corporação, os acionistas de 
uma grande sociedade anônima, o condomínio de um edifício de 
apartamentos.
Contudo, o Código de Defesa do Consumidor, no que andou 
bem - evitando dúvidas e discussões doutrinárias prejudiciais à sua tutela, 
não só definiu o que seja interesses coletivos em sentido estrito como 
também forneceu suas notas caracterizadoras. Com efeito, o legislador 
consumerista estabeleceu que são coletivos os interesses (ou direitos) 
transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria 
ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma 
relação jurídica base (art. 81, inciso II).
Caracterizam esse direito ou interesse igualmente quatro 
elementos: 
(a) titularidade em grupo (categoria ou classe) de pessoas 
determinadas ou determináveis, minimamente organizado;
(b) sua indivisibilidade (fruição comum por todos os 
integrantes do grupo; a satisfação de um integrante do grupo satisfaz a 
todos, como a lesão de um atinge a todos);
(c) originários de uma relação jurídica base, ou entre os 
membros do grupo ou com uma parte contrária;
(d) síntese de interesse de um grupo, categoria ou classe. 
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INTERESSES DIFUSOS
 
 Difusos, por sua vez, são os interesses transindividuais 
indivisíveis, de pessoas indeterminadas, ligadas por uma situação de fato. 
São como um feixe de interesses individuais, com pontos em comum. 
São interesses ou direitos titularizados por uma cadeia abstrata 
de pessoas, ligadas por vínculos fáticos exsurgidos de alguma 
circunstancial identidade de situação, passíveis de lesões disseminadas 
entre todos os titulares.
Como enunciado no CDC (art. 81, inciso I), são interesses ou 
direitos transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares 
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. 
Por conseguinte, esses interesses gravitam em torno de fatos 
genéricos, acidentais e mutáveis, o que lhes outorgam certa fluidez e 
abstração não encontráveis nos interesses coletivos em sentido estrito, 
indeterminando sua titularidade sem qualquer possibilidade de 
determinação das pessoas que integram essa coletividade. 
Realmente, é o estar numa mesma metrópole, integrar uma 
mesma população ribeirinha, ser alvo de uma mesma publicidade enganosa 
ou abusiva, o consumo de um mesmo produto, etc, que dá ensejo a que 
pessoas sejam ao mesmo tempo beneficiadas ou lesadas por um 
acontecimento qualquer, sem que haja mínimo vínculo jurídico entre elas. 
É decorrência do surgimento das massas, fruto da existência dos 
conglomerados urbanos, explosãodemográfica, produção e consumo em 
massa, revolução industrial etc.
É possível, assim, destacar as seguintes características desses 
interesses ou direitos. 
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(1) uma, pertine à sua titularidade. Porque ostentam base 
transindividual, sua titularidade, tal qual nos interesses coletivos, acha-se 
disseminada entre pessoas. No entanto, diversamente destes, estas não são 
determinadas e muito menos determináveis. Pertencem, pois, a uma série 
indeterminada de pessoas1. 
(2) refere à indivisibilidade do objeto. Objeto desses interesses 
será sempre um bem coletivo, insuscetível de divisão, por isso que a 
satisfação de um interessado implica necessariamente a satisfação de todos, 
ao mesmo tempo em que a lesão de um implica a lesão de toda a 
coletividade.
(3) intensa litigiosidade interna.
Acentuou-se, linhas atrás, que esses interesses não se apoiam 
numa relação-base bem definida, repousando em fatos genéricos, acidentais 
e mutáveis, aspecto que tonar fluido o vínculo entre as pessoas, 
indeterminando os sujeitos interessados. Isso dá uma característica peculiar 
aos interesses difusos, qual sua intensa litigiosidade interna, produto do 
entrechoque de idéias (interesses) reinantes no seio das massas. Aqui, os 
interesses surgem contrapostos, não definidos como nos conflitos 
individuais, em que as posições contrapostas parecem todas sustentáveis.
Efetivamente, o interesse num empreendimento de lazer numa 
dada região pode se contrapor ao interesse ao um meio ambiente 
ecologicamente equilibrado; o interesse na instalação de uma hidrelétrica 
não coincide com o interesse na proteção dos mananciais; o interesse em 
1 Nelson Nery Júnior, Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz e Édis Milaré salientam que a nota 
característica do interesse difuso está na sua titularidade ativa: não tem ele por titular uma pessoa, nem 
mesmo um grupo bem determinado de pessoas (Ação Civil Pública e a Tutela Jurisdicional dos Interesses 
Difusos, Ed. Saraiva, 1984, p. 56).
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produzir e vender em larga escala pode se contrapor ao interesse em 
preservar o consumidor de investidas escusas do fornecedor; etc.
Massa produz massa, gerando conflitos de grandes dimensões, 
cuja solução não se enquadra no clássico modelo dualista (Tício x Mévio), 
mas reclama parâmetros outros de solução, ante a profunda contradição dos 
interesses em jogo. 
(4) sua transição ou mutação no tempo e no espaço.
Esses interesses, como se disse alhures, estão fincados em 
situações de fato, não num vínculo jurídico básico, contingenciais e 
mutáveis no tempo e no espaço. Por isso, são igualmente contingenciais e 
mutáveis, tal qual a situação fática da qual se originaram. Aparecem e 
desaparecem, criam e recriam, surgem e ressurgem, vão e voltam, 
transformam-se conforme as circunstâncias que a dimensão de fato oferece. 
Daí sua tendência à transição e mutação no tempo e no espaço.
Por essa razão, devem ser exercitados no tempo e momento 
oportunos, às vezes de modo emergencial, a fim de que sua tutela não se 
esmaeça ou torne-se inútil. Seu exercício e tutela devem ser, assim, 
compatíveis com sua natureza mutante e muitas vezes operada em breve 
espaço temporal e espacial.
Daí o dever de primar-se pela prevenção no campo desses 
interesses, pois sua transitoriedade ou mutabilidade torna a reparação 
insuficiente e muitas vezes inútil. Por isso é que se diz, com acerto, que não 
há nesse campo reparação substancial da lesão ocorrida.
 (5) sua indisponibilidade no campo relacional-jurídico, 
consequente de sua afetação indeterminada positiva ou negativamente. 
Realmente, a impossibilidade de determinar os sujeitos 
interessados nessa gama de interesses torna-os indisponíveis, de modo que 
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aquele que titularizar seu exercício dele não poderá dispor (transacionando, 
por exemplo), justamente por não lhes pertence.
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INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
 
O Código de Defesa do Consumidor colocou ao lado dos 
interesses transindividuais uma outra categoria de interesses: os individuais 
homogêneos, definindo-os como aqueles decorrentes de origem comum 
(art. 81, inciso III).
Na verdade, não são propriamente interesses transind. São 
interesses individuais com causa comum que afeta um número específico 
de pessoas, embora de forma e com consequências diversas para cada uma 
delas. Por isso é que são artificialmente transindividuais. 
Caracterizam-nos a ausência de uma relação jurídica-base 
entre os indivíduos, porquanto o vínculo entre eles decorre do próprio fato 
comum que ensejou a lesão ou traz perigo de lesão ao direito. Assentam-se, 
pois, numa base fática comum.
Distinguem-se dos interesses individuais à medida que 
decorrem de uma origem comum que atinge diversas pessoas ao mesmo 
tempo, ou seja, são diversas afetações individuais, particulares, originárias 
de uma mesma causa, o que coloca os prejudicados envolvidos em uma 
mesma situação, embora cada um deles possa expor pretensões com 
conteúdo e extensão distintos.
A base comum reclamada na sua identificação é que une os 
interesses, permitindo que se aglutinem para melhor serem tutelados. E é 
justamente essa base comum que impregna esses interesses de uma certa 
aura coletiva, a possibilitar sua defesa coletiva, diante da existências de 
pretensões comuns.
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Mas essa base comum por si só não é capaz de sintetizar as 
individualidades. Verdadeiramente, será a opção de busca coletiva de sua 
defesa que unirão os indivíduos, homogeneizando os interesses. Portanto, é 
a opção de tutela coletiva que coletiviza esses interesses ou direito. 
Mas essa opção decorre de os vários indivíduos que compõe o 
grupo terem interesses ou direitos semelhantes, não iguais, a permitir sua 
defesa coletiva, tratada pela doutrina como homogeneidade de pretensões. 
Pode-se, com isso, destacar suas características, por quatro 
elementos que os marcam. 
(a) titularizado em grupo de pessoas certas e determinadas 
(determinabilidade dos sujeitos, pluralidade de vítimas);
(b) originários de um fato comum a todos;
(c) divisibilidade do interesse ou direito entre os sujeitos 
determinados ou determináveis;
(d) homogeneidade de interesses ou direitos (pretensões ou 
núcleo comum de questões de direito ou de fato a unir os sujeitos), a 
permitir a tutela coletiva.

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