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RESUMO Atenção Primária

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Profa. Cláudia Du Bocage Santos Pinto 
 
Resumo: Atenção Primária em Saúde 
 
1) Introdução – Atenção Primária em Saúde (APS) 
Uma busca na literatura nos mostra que APS não é um termo de sentido único. Envolve 
uma polissemia que pode ser identificada em seus diversos sentidos: 
1) Um conjunto específico de ações 
2) Um nível de atenção 
3) Uma estratégia de organização do Sistema de Saúde 
4) Um princípio que deve orientar todas as ações de saúde 
Os dois primeiros sentidos são mais restritos. No primeiro podemos identificar a ideia 
ligada a um programa focalizado e seletivo, que oferta uma cesta reduzida de serviços. 
No segundo caso, estaria ligada a questão hierárquica do sistema. Já os dois últimos 
sentidos são mais abrangentes 
Exatamente por isso, é possível reconhecer a APS por diferentes denominações que essa 
estratégia recebeu nos diversos países que a adotam. A polissemia que envolve a APS se 
dá em função de derivações que apontam avanços ou especificidades: 
 Atenção Primária em Saúde 
 Atenção Primária Seletiva 
 Atenção Primária orientada para comunidade 
 Atenção Primária Renovada 
No Brasil, convencionou-se referir-se à APS como Atenção Básica em Saúde. Portanto os 
dois termos querem dizer a mesma coisa. 
Essas diferenças refletem não apenas os distintos contextos, mas também a evolução 
do conceito. 
 
 
MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL 
INSTITUTO INTEGRADO DE SAÚDE 
Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Saúde Coletiva 
Disciplina IMFC 
2) Origens 
Relatório Dawson 
Historicamente, a ideia da atenção primária foi utilizada como forma de organização dos 
sistemas de saúde pela 1ª vez no Relatório Dawson, em 1920 na Inglaterra. Este 
procurava contrapor-se às ideias difundidas pelo relatório Flexner, de cunho curativo, 
fundamentado no reducionismo biológico e na atenção individual. Buscava também se 
constituir em uma referência para a organização do modelo de atenção inglês que 
começava a preocupar as autoridades devido ao elevado custo, crescente complexidade 
da atenção médica e a baixa resolutividade. 
O relatório organizava a atenção em centros de saúde primários e secundários, serviços 
domiciliares, serviços suplementares e hospitais de ensino. Os centros de saúde 
primários e o serviço domiciliar deveriam estar organizados de maneira regionalizada e 
deveriam ser capazes de resolver a maior parte dos problemas de saúde, através do 
atendimento por médicos com formação em clínica geral. Os casos mais complexos, que 
o médico não conseguisse resolver deveriam ser encaminhados para os centros de 
atenção secundária ou hospitais. Daí tem origem também a questão da hierarquização 
dos níveis de atenção à saúde. Essa concepção influenciou a organização de sistemas de 
saúde por todo o mundo, definindo assim duas características básicas da APS: 
regionalização (distribuição dos serviços de saúde no país de acordo com bases 
populacionais e baseado em suas necessidades) e integralidade (indissociabilidade entre 
ações curativas e preventivas). 
Países buscaram então novas formas de organizar a atenção em vista de diminuir custos 
e aumentar a resolutividade, no caso de países desenvolvidos, e ampliar o acesso e 
diminuir inequidades, no caso de países pobres. 
 
Conferência de Alma Ata 
Em 1978 a OMS e a UNICEF realizaram a Conferência Internacional sobre cuidados 
primários em saúde, em Alma Ata, onde foi proposto um acordo e uma meta entre os 
países membros para atingir o maior nível de saúde possível até o ano 2000, através da 
APS. Essa política ficou conhecida como “Saúde para todos no ano 2000”. A declaração 
de Alma Ata. A declaração propôs a instituição de serviços locais de saúde centrados nas 
necessidades de saúde da população, numa perspectiva interdisciplinar e com 
participação social na gestão e controle de suas atividades. 
Conceito adotado a partir da Conferência Internacional sobre cuidados primários em 
saúde, ocorrida em 1988 em Alma Ata: 
“Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em 
métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente 
aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, 
mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter 
em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e automedicação. 
Fazem parte integrante tanto do sistema de saúde do país, do qual constituem a função 
central e o foco principal, quanto do desenvolvimento social e econômico global da 
comunidade. Representam o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da 
comunidade com o sistema nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúde são 
levados o mais proximamente possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e 
constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde 
(OMS, 1978, p. 1-2). ” 
Apesar das metas da Declaração nunca terem sido atingidas plenamente, a APS tornou-
se uma referência fundamental para as reformas sanitárias ocorridas em diversos países 
nos anos 80 e 90. 
 
Atenção Primária Seletiva 
A Declaração de Alma-Ata foi criticada por agências internacionais com o argumento de 
ser muito abrangente e pouco propositiva. Assim, em contexto internacional adverso de 
baixo crescimento econômico e maior presença de governos conservadores, deu-se 
sequência, nos anos posteriores, a um embate entre a concepção de atenção primária 
à saúde integral e abrangente e a concepção restrita de APS, prevalecendo a última. Um 
ano após Alma-Ata, em 1979, a Fundação Rockefeller promoveu uma reunião na Itália 
com a colaboração de diversas agências internacionais onde foi discutida uma nova 
perspectiva: atenção primária à saúde seletiva, como estratégia para o controle de 
doenças em países em desenvolvimento. Então, paralelamente, muitos países e 
organizamos internacionais passaram a adotar a APS numa perspectiva focalizada, 
entendendo-a como um conjunto de ações de baixa complexidade, voltada para pobres. 
 
Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia 
Em 2002, Barbara Starfield traz sua visão sobre APS e suas importantes contribuições 
para o aprofundamento do conceito. Segundo Starfield (2002), a APS pode ser 
considerada “atenção de primeiro contato. Continua, global e coordenada que se 
proporciona à população sem distinção de gênero, ou enfermidade, ou sistema 
orgânico”. 
Starfield propõe ainda, uma série de atributos (princípios) da Atenção Primária, que 
caracterizam então seu perfil voltado a grande resolutividade das situações de saúde: 
 
 
Atributos Essenciais 
Primeiro contato (Acesso) 
Significa a possibilidade de chegar e utilizar, de fato, o serviço a cada evento e novo 
episódio. Para ser porta de acesso a sociedade deve reconhecê-lo como tal, sendo assim 
o primeiro recurso a ser buscado quando uma necessidade se apresenta. 
O acesso pressupõe: 
* Componente geográfico - distância e meio de transporte 
* Componente sócio-organizacional - horário de atendimento, fila de espera, 
barreiras de gênero ou culturais, etc 
Se utilizada como primeiro recurso a APS traz vantagens, como por exemplo: a redução 
de aspectos que tem sido vistos muitas vezes como barreira para a obtenção do cuidado 
necessário, como número de cirurgias, o uso de especialistas em doenças, o número de 
exames complementares, etc. Também aumentam as ações de prevenção e promoção 
da saúde. O acolhimento é uma importante estratégia para lidar com essa questão. 
Longitudinalidade 
A essência é a relação pessoal que se estabelece entre usuários e profissionais ao longo 
do tempo, independentemente do tipo de problemas de saúde, ou mesmo da presença 
de um. Pressupõe a existência de uma fonte regular de atenção e seu uso ao longo do 
tempo. A rotatividade de pessoal é algo que dificulta a criaçãode vínculos. 
Integralidade 
É a capacidade da equipe de saúde de lidar com a ampla gama de necessidades em saúde 
do indivíduo, da família ou das comunidades, seja resolvendo-os (o que se espera na 
maioria dos casos), ou referenciando-os a outros pontos de atenção à saúde (2ario, 
3ario, outros setores como educação, saneamento, habitação). Uma condição essencial 
aqui é a atuação interdisciplinar da equipe 
Coordenação 
Seria a organização das respostas ao conjunto de necessidades. É essencial para o 
sucesso dos demais atributos. Sem coordenação a longitudinalidade perde muito de seu 
potencial, a integralidade não é viável e o primeiro contato torna-se uma função 
puramente administrativa. A essência da coordenação é a informação. 
Com isso, percebe-se que a APS considera o sujeito em sua Singularidade, 
Complexidade, Integralidade e Inserção sociocultural. 
 
 
Atributos Derivados 
A orientação para a comunidade 
Se refere ao entendimento de que as necessidades em saúde dos indivíduos, das famílias 
e da população estão diretamente relacionadas ao contexto social e que o 
reconhecimento dessas necessidades pressupõe o conhecimento do contexto social da 
área de atuação das equipes de saúde. 
A orientação para a comunidade é feita por meio do conhecimento das necessidades de 
saúde da população adscrita em razão do contexto econômico e social em que vive e 
também da distribuição dos problemas de saúde e dos recursos disponíveis na 
comunidade, envolvendo dessa forma a participação da comunidade nas decisões sobre 
a sua saúde. 
Centralidade na família 
A centralidade na família só é alcançada com a consideração do contexto e da dinâmica 
familiar para melhor avaliar como responder às necessidades de cada membro e com o 
conhecimento dos membros e de seus problemas de saúde. 
Competência cultural 
Se dá por meio do reconhecimento de diferentes necessidades dos grupos 
populacionais, suas características étnicas, raciais e culturais, entendendo suas 
representações dos processos saúde-enfermidade. 
As equipes de saúde devem ser capacitadas a reconhecer as múltiplas particularidades 
e necessidades dessas subpopulações, que podem estar afastadas dos serviços pelas, 
como citadas anteriormente, peculiaridades culturais. 
 
Atenção Primária Renovada 
Mais recentemente, observou-se um movimento de renovação da atenção primária, 
impulsionado pelas agências internacionais de saúde – Organização Mundial da Saúde 
(OMS) e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) –, com recomendações para 
fortalecer a APS. Em 2005, divulgou o documento de posicionamento “Renovação da 
Atenção Primária em Saúde nas Américas”. A renovação proposta pela Opas subentende 
uma atualização e difusão da concepção abrangente de APS, com base nas propostas 
teóricas aportadas por Starfield. 
 
 
3) Papel da APS no Sistema de Saúde 
O aprofundamento dos conceitos nos faz perceber que, dentro dessa perspectiva 
ampliada de atenção primária, essa se mistura e se confunde com a questão da 
organização do Sistema de Atenção à Saúde, de maneira quase que indissociável. 
Sistemas de Atenção à Saúde (SAS) constituem respostas sociais deliberadamente 
organizadas para responder às necessidades, demandas e preferências das sociedades, 
devendo ser articulados pelas necessidades de saúde da população, que se expressam 
em situações demográficas e epidemiológicas singulares (Mendes, 2009). 
Os SAS podem se apresentar, na prática, por meio de diferentes formas organizacionais. 
As tipologias mais comuns são o Sistema fragmentado, e as Redes de Atenção à Saúde. 
Os Sistemas fragmentados se organizam por meio de pontos isolados e sem 
comunicação, e assim, incapazes de prestar atenção contínua e integral à população. Há 
uma visão de estrutura hierárquica, que se fundamenta em um conceito de 
complexidade equivocado, ao estabelecer que a APS é menos complexa que os demais 
níveis de atenção. Essa visão distorcida leva a banalização e uma sobrevalorização das 
práticas que exigem maior densidade tecnológica. Não se deve confundir, portanto, alto 
custo com complexidade, pois nem sempre caminham juntos. 
As Redes de Atenção à Saúde são aquelas organizadas em uma rede integrada 
poliárquica de pontos de atenção à saúde que presta assistência contínua e integral a 
uma população definida com comunicação fluida entre os diferentes níveis de atenção 
à saúde. Aqui, a concepção de hierarquia é substituída pela de poliarquia, e o sistema se 
organiza sob a forma de uma rede horizontal de atenção à saúde de distintas densidades 
tecnológicas, sem grau de importância entre eles. Todos são igualmente importantes 
para que se cumpram os objetivos das Redes de Atenção à Saúde. Esse é o modelo 
adotado por sistemas de saúde universais, baseados na Atenção Primária como centro 
coordenador do cuidado. 
A APS é então uma proposta sobre a forma de organização dos serviços, que vem sendo 
desenvolvida nas últimas décadas e que se reporta ao modelo de Atenção, se 
adequando para responder às necessidades e características particulares de cada 
população. Dessa forma a APS se modifica de acordo com o contexto – a lista de 
problemas atendidos pode variar, o tipo de profissional demandado pode variar, além 
de outros aspectos do serviço. 
É muito importante não confundir a questão da complexidade com os níveis de atenção. 
Essa não é uma característica que distingue os demais níveis de atenção. APS se 
diferencia dos demais níveis (2ario e 3ario) por suas qualidades únicas, relacionadas aos 
atributos citados anteriormente. 
APS no Sistema de Saúde 
Em movimentos de Reforma Sanitária ocorridos pelo mundo foi atribuído a APS papel 
crucial no reordenamento do Sistema, atuando como porta de entrada, e ordenadora 
de todo o sistema (Maestro). Isso porque a APS corresponde a um nível de atenção que 
está mais próximo das pessoas, das famílias, da comunidade, sendo capaz de resolver e 
a maioria dos problemas e coordenar o conjunto de ações e serviços dos demais níveis 
do sistema de saúde. 
Vários trabalhos já puderam constatar o impacto positivo da APS na saúde da população, 
no alcance de maior equidade, na maior satisfação dos usuários e nos menores custos 
para os sistemas de saúde. 
Na primeira metade dos anos 90 surgiu nos EUA a proposta de redes de atenção à saúde, 
que avançou pelos sistemas públicos da Europa ocidental e Canadá (Mendes, 1999). O 
Canadá é um exemplo de país que foi bem-sucedido em sua experiência. Lá as redes se 
desenvolveram sob a forma de sistema integrado de saúde, em que a porta de entrada 
são os médicos de família e o planejamento tem como base a necessidade da população 
 
4) APS no SUS 
O Brasil seguiu essa linha no desenvolvimento do SUS. Mas até chegar lá, viveu algumas 
experiências relacionadas à atenção primária, que podem ser pontuadas desde o início 
do século passado. 
 Em 1924 os centros de saúde organizavam-se a partir de uma base populacional 
e trabalhavam com educação sanitária. 
 Em 1940 foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) que realizou ações 
curativas e preventivas para doenças infecciosas voltado para populações 
específicas, sendo ampliado nas décadas de 50 e 60 para outras regiões. 
 Anos 70 foi lançado o PIASS que tinha o objetivo de fazer chegar às populações 
excluídas do acesso um conjunto de ações médicas simplificadas, configurando-
o como uma ação focalizada. 
A partir da Reforma Sanitária as concepções ampliadas da APS foram incorporadas ao 
ideário reformista, compreendendo a necessidade de reorientação do modelo 
assistencial, tornando-se o contato prioritário da população com o sistema de saúde. 
APS X AB 
A adoção do termo Atenção Básica no contexto brasileiro se deu em função das políticas 
focalizadas empreendidas no país que assumiram a noção de “cuidados primários em 
saúde”, de medicina simplificada e focalizada para pobres, difundida pelo BancoMundial. Com isso quando do Surgimento do SUS e da adoção da APS para reorientação 
do Sistema de Saúde, decidiu-se pela adoção do termo Atenção Básica para que se 
fizesse clara distinção das práticas adotadas na década anterior. 
A concepção da APS desenvolveu-se em sintonia com os princípios do SUS. Esta passou 
a ser diretriz norteadora e articuladora para transformação do modelo de atenção à 
saúde vigente. As portarias que orientaram o processo de descentralização e definiram 
o papel de protagonismo dos municípios na nova dinâmica do sistema, trouxeram 
também o PSF formalmente instituído através da NOB 96. Esta se constituiu na maior 
estratégia de configuração da ABS no Brasil, aprofundando o processo de 
territorialização e responsabilidade sanitária das equipes de saúde. 
Estratégia Saúde da Família 
Hoje a ESF é uma política de envergadura, encarada como prioritária dentro do sistema. 
Alcançou ampla extensão territorial, cobertura populacional, capilaridade e 
legitimidade. 
Diante da crise do modelo de atenção hospitalocêntrico colocava-se a necessidade de 
formulação de propostas que consolidassem a reforma iniciada com a criação do SUS e 
os avanços decorridos da descentralização dos serviços de saúde para os municípios com 
a NOB 93. Em 1994, em resposta a essa demanda surgiu o PSF, inspirado em modelos 
pontuais nacionais, e nos modelos de APS do Canadá, Cuba, Inglaterra e Suécia. 
Inicialmente foi rotulado como Programa, mas depois passou a ser chamado de 
Estratégia, pois foge a concepção usual dos demais Programas concebidos pelo MS, já 
que não é uma intervenção vertical e paralela às atividades dos serviços de saúde. Se 
apresenta como uma proposta de reorganização da AP, enquanto uma estratégia que 
possibilita a integração e promove a organização das atividades em um território 
definido, com o propósito de proporcionar o enfrentamento e resolução dos problemas 
identificados. 
 
5) Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) 
Dentro desse contexto e nessa linha temporal, foi lançada a primeira PNAB, através da 
Portaria 648 de 2006. Esta foi substituída em 2011 pela Portaria 2.488 que revisou as 
diretrizes e normas para organização da AB, ESF e PACS. Mais recentemente, em 2017, 
foi editada a Portaria 2.436, sendo esta a PNAB vigente. 
A PNAB segue os mesmos preceitos consolidados da APS o que pode ser observado por 
seus fundamentos e diretrizes: 
1) Ter território adstrito permitir o planejamento, a programação descentralizada 
e o desenvolvimento de ações setoriais e intersetoriais com impacto na situação 
de saúde da população. 
2) Possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade e 
resolutivos, caracterizados como a porta de entrada aberta e preferencial da 
rede de atenção, acolhendo os usuários e promovendo a vinculação e 
corresponsabilização pela atenção às suas necessidades de saúde. 
3) Adscrever os usuários e desenvolver relações de vínculo e responsabilização 
entre as equipes e a população adscrita, garantindo a continuidade das ações de 
saúde e a longitudinalidade do cuidado. 
4) Coordenar a integralidade em seus vários aspectos, e em última análise, 
deslocando o processo de trabalho centrado em procedimentos, profissionais 
para um processo centrado no usuário. 
5) Estimular a participação dos usuários como forma de ampliar sua autonomia e 
capacidade na construção do cuidado à sua saúde. 
 
Equipe Básica 
A equipe de saúde da família (eSF) é necessariamente uma equipe multiprofissional 
composta por, no mínimo: (I) médico generalista, ou especialista em Saúde da Família, 
ou médico de Família e Comunidade; (II) enfermeiro generalista ou especialista em 
Saúde da Família; (III) auxiliar ou técnico de enfermagem; e (IV) agentes comunitários 
de saúde. Podem ser acrescentados a essa composição os profissionais de Saúde Bucal: 
cirurgião-dentista generalista ou especialista em Saúde da Família, auxiliar e/ou técnico 
em Saúde Bucal. 
 
O Agente Comunitário de Saúde (ACS) 
A origem deste profissional remete às visitadoras sanitárias, ligadas ao Serviço especial 
de Saúde Púbica (Sesp), criado em 1942. O papel das visitadoras era realizar visitas 
domiciliares, atividades de promoção à saúde, prevenção de doenças, monitoramento 
e acompanhamento de grupos de risco, além de vigilância sanitária. Atividades que 
estão ligadas até hoje a atuação dos ACS. 
Em 1987, foram lançadas as bases para a transformação do trabalho dos agentes 
comunitários em política pública, a partir do Programa de Agentes de Saúde do Ceará 
que, de proposta de socorro às populações atingidas pela seca, se transformou em uma 
ampla ação de promoção à saúde, utilizando o trabalho dos ACS em larga escala. 
Percebe-se que os Agentes Comunitários são anteriores à criação do SUS. 
Um ano depois, com a aprovação da Constituição Federal e do Sistema Único de Saúde, 
o Brasil teria, pela primeira vez, uma política pública nacional que privilegiasse uma 
concepção ampliada de saúde. É criado então o Programa de Agentes Comunitários de 
Saúde (PACS), a partir de toda experiência já desenvolvida no país. 
A melhora dos indicadores de saúde apresentados pelos municípios que adotaram o 
PACS favoreceu a criação do Programa de Saúde da Família (PSF), em 1994. Este passou 
a ser entendido como uma estratégia que altera o modelo assistencial de saúde 
centrado na doença, no médico e no hospital para responder à demanda por atenção 
integral — como manda o SUS. Juntos, PACS e PSF passaram a compor a Estratégia de 
Saúde da Família (ESF). 
 
Desafios da PNAB 
Ao longo dos anos foram apontadas dificuldades no sistema de saúde que atuam como 
entraves para a expansão e qualificação da APS no país. Diante disso ficou claro que o 
fortalecimento da AB demandava a elaboração de estratégias relacionadas a: 
Melhoria das condições estruturais 
A Portaria 341/2013 instituiu o Programa de Requalificação das UBS. Criou mecanismos 
de repasse de recursos financeiros para a reforma de UBS como forma de prover 
infraestrutura adequada às equipes de AB. Para pleitear a habilitação ao incentivo o 
município deve cumprir o trâmite necessário. As UBS devem se adequar aos 
regramentos previstos pela Anvisa e PNAB. 
Recursos Humanos 
Um dos maiores e mais críticos problemas que enfrenta a Atenção Básica no país. O 
problema tem origens profundas e perpassa questões como a baixa valorização política 
e social da APS, que reflete a dificuldade de captação de médicos para atuação em APS, 
que acabam em sua maioria buscando especialidades mais valorizadas. O espaço da APS 
é constantemente relacionado a precárias condições de trabalho e vínculos 
empregatícios, com baixos salários e falta de plano de carreiras. Além disso há a questão 
da própria formação dos profissionais que não é satisfatória e abrangente nas questões 
relacionadas a saúde coletiva. Além dos profissionais da ponta, é necessária também a 
capacitação dos gestores, atores fundamentais para o bom funcionamento do sistema 
de saúde. Esse panorama implica na alta rotatividade de profissionais na área, o que 
inviabiliza a concretização de preceitos da APS, como a longitudinalidade, com criação 
de vínculos e acompanhamento adequado dos usuários. 
A falta de médicos voltados para atuar APS no Brasil é crítica. O perfil do médico 
necessário para composição das equipes que atuam em APS seria o de médico 
generalista, especialista em medicina da família e comunidade. 
Financiamento 
Assim como todas as outras ações e políticas do SUS, a APS não conta com recursos 
suficientes. Isso impacta todas as outras dificuldades já citadas numa espécie de ciclo 
vicioso. A falta de recursos dificulta a valorização da APS, que por sua vez, por ser pouco 
valorizada também não é vista como prioritária para recebimento de mais recursos. 
Demanda reprimida na média complexidade 
Esse é um problema que pode ter como causas a falta derecursos e a falta de 
resolutividade da AB. Nesse último caso, a falta de resolutividade leva a 
encaminhamentos desnecessários a especialistas, contribuindo para longas filas de 
espera. Além da capacitação dos médicos, o que por si só já reduziria a demanda 
reprimida, medidas de ampliação do escopo da AB e a integração matricial de 
especialistas com a AB contribuiriam em muito para a resolutividade. Quanto ao escopo 
da AB, não há uma definição precisa sobre o que cabe ou não a AB e o que deve ser 
encaminhado aos demais níveis de atenção. Como regra geral, sempre que possível 
deve-se aumentar o campo de atuação da AB. Nesse sentido a atuação dos NASF, com 
a possibilidade de incorporação de médicos especialistas como homeopatas, 
acumpunturistas, ginecologistas e pediatras são boas estratégias para o atendimento 
pela AB de necessidades específicas identificadas nas populações. Quanto a integração 
matricial, essa visa prover retaguarda para as equipes de saúde, o que se daria pela 
transferência de conhecimentos especializados aos profissionais e com a 
implementação de formas inovadoras e itinerantes de assistência especializada, visando 
aumentar a resolutividade e reduzir o referenciamento. Uma estratégia interessante 
seria a difusão do uso do tele-saúde. 
 
Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) 
Os NASF foram criados e 2008 com objetivo de apoiar as equipes de APS no Brasil, no 
sentido de ampliar a resolutividade. 
Na perspectiva de ampliar a capacidade de resposta à maior parte dos problemas de 
saúde da população na atenção básica, o Ministério da Saúde, a partir de experiências 
municipais e de debates nacionais, criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família, por 
meio da Portaria nº 154, de 24 de janeiro de 2008, republicada em 4 de março de 2008. 
O NASF é uma equipe com profissionais de diferentes áreas de conhecimento e atua 
com os profissionais das equipes de Saúde da Família e das equipes de Atenção Básica, 
compartilhando e apoiando as práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade 
das equipes de AB, bem como agregando práticas, na atenção básica, que ampliem o 
seu escopo de ofertas. Sua composição deve ser definida pelos próprios gestores 
municipais e as equipes de AB, mediante critérios de prioridades identificadas a partir 
das necessidades locais e da disponibilidade de profissionais de cada uma das diferentes 
ocupações. 
O NASF constitui-se em retaguarda especializada para as equipes de Atenção 
Básica/Saúde da Família, atuando no lócus da própria AB. Desenvolve trabalhos 
compartilhado e colaborativo em pelo menos duas dimensões: clínico-assistencial e 
técnico-pedagógica. A primeira produz ou incide sobre a ação clínica direta com os 
usuários; e a segunda produz ação de apoio educativo com e para as equipes. Sua 
atuação pode se dar também do por meio de ações que envolvem coletivos, tais como 
ações sobre os riscos e vulnerabilidades populacionais ou mesmo em relação ao 
processo de trabalho coletivo de uma equipe. 
O NASF, portanto, faz parte da Atenção Básica, mas não se constitui como um serviço 
com espaço físico independente. Isso quer dizer que os profissionais do Núcleo utilizam-
se do próprio espaço das Unidades Básicas de Saúde e do território adstrito para o 
desenvolvimento do seu trabalho. Eles atuam a partir das demandas identificadas no 
trabalho conjunto com as equipes vinculadas, de forma integrada à Rede de Atenção à 
Saúde e seus serviços, além de outras redes como o Sistema Único da Assistência Social 
(Suas), redes sociais e comunitárias. 
 
6) Conclusão 
O conceito de APS passou por vários momentos ao longo da história. O conceito adotado 
e difundido no Brasil envolve as questões do primeiro contato, da criação de vínculos, 
do atendimento integral e da coordenação de todas as ações do sistema de atenção à 
saúde, sendo este último fundamental para tornar possíveis os demais atributos. 
Com isso, pode ser percebida a importância da APS no contexto das Redes de Atenção 
à Saúde, que mais do que nunca, após a regulamentação da Lei 8080 passaram a ser 
mandatórios para o bom funcionamento e consolidação dos preceitos do SUS. 
Nesse sentido, de acordo com o que vem sendo proposto pela PNAB, é muito 
importante a constante avaliação, com o reconhecimento das eventuais deficiências 
apresentadas pelo sistema, e a proposição de estratégias que contribuam para se 
reforçar a APS, e assim torna-la efetivamente a grande ordenadora e responsável pela 
concretização dos princípios do SUS. 
 
 
Referências Bibliográficas 
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Conselho Nacional de Secretários de Saúde. – Brasília: CONASS, 2011. 
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