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Taka Oguisso, Maria José Schmidt e Genival Fernandes de Freitas
INTRODUÇÃO
Antigamente, a ética ocupava-se quase exclusivamente da ação individual e era objeto de 
estudo de filósofos e teólogos. Hoje, por causa das transformações ocorridas na sociedade e dos 
avanços científicos e tecnológicos, a prioridade passou a ser não o indivíduo isolado mas o sujeito- 
social, com o envolvimento de muitas pessoas em grupos comunitários, profissionais, associações 
de classe e outros. De acordo com Barchifontaine,1 esses progressos, especialmente na área bio­
lógica, alteraram profundamente o ciclo de duração da vida humana: o nascer, o viver e o mor­
rer caem sob o controle da ciência, derrubando tradições e convicções que atribuíam a forças 
divinas muitas das manifestações do corpo, pois a ciência passou a controlá-las uma a uma com 
seu projeto de desvendar todo o código genético. Com isso, segundo esse autor, tais descobertas 
desafiam todos os códigos de ética, as argumentações filosóficas e as normas religiosas. Questões 
como eutanásia, pena de morte, homossexualismo e outros temas polêmicos, passaram a ser de­
batidos por cidadãos comuns.
Alguns marcos históricos delineiam a origem da Bioética como movimento social, com suas 
características e desdobramentos. O neologismo “bioética” foi cunhado, primeiramente, pelo 
médico americano Potter, da Universidade de Wisconsin, na década de 1970, com o lançamento 
do livro de sua autoria intitulado Bioethics bridge to the future. Potter utilizou o termo “bioéti­
ca” para expressar a necessidade de equilibrar a orientação científica da biologia com os valores 
humanos. Ao juntar num só campo os conhecimentos da Biologia e da Ética, objetivava ajudar 
a humanidade em direção a uma participação racional, mas cautelosa, no processo da evolução 
biológica e cultural.2
Que acontecimentos sociais contextualizavam a gênese da Bioética? A Bioética tem sua gê­
nese a partir de um contexto pluralista e interdisciplinar, deparando-se com problemas advindos 
dos avanços tecnológicos e suas repercussões na área da saúde.
De acordo com Pessini e Barchifontaine,3 a criação, em 1962, na cidade de Seattle, nos Es­
tados Unidos da América (EUA), de um Comitê composto por profissionais de áreas diversas 
da medicina, tinha o escopo de indicar quais as pessoas que primeiramente iriam se beneficiar 
com o uso de máquinas de hemodiálise, considerando-se a escassez desse recurso face à grande 
demanda de doentes renais. Fato que chamou a atenção, nesse evento, foi o interesse de pessoas 
de fora da área médica por questões dilemáticas em torno da Ética, porém comprometidas com 
as implicações da tomada de decisão envolvendo um tratamento médico.
Zoboli2 aponta outros eventos que propulsionaram as discussões em torno da Bioética, a 
saber:
a) em 1966, o professor Henry Beecher publicou um artigo em que denunciava cerca de 50 
investigações que infringiam as diretrizes éticas, pela não solicitação de consentimento 
dos sujeitos, predominância dos riscos sobre os benefícios, utilização de sujeitos vulnerá­
veis e emprego de grupo placebo em agravos que contavam com tratamento efetivo;
b) entre as décadas de 1930 e 1970, o serviço de saúde pública dos EUA desenvolveu uma 
série de estudos com o objetivo de comparar a saúde e a longevidade de dois grupos de
ÉTICA E BlOÉTICA NA ENFERMAGEM 9 5
sujeitos, u m co m sífilis e o u tro sem . Q u a tro c e n to s jovens negros fo ram inc lu ídos nesses 
estudos, e o g ru p o de su je itos com a d o en ça foi im p e d id o d e u tiliza r a te ra p ê u tic a efetiva 
e d isponível;
c) em 1960, foram utilizadas células cancerosas em 22 pacientes idosos, em um hospital 
de Nova York, com o objetivo de investigar se a diminuição na capacidade de rejeição 
às células cancerosas nas pessoas com câncer estava ligada à própria doença ou a outros 
fatores.
Um outro fato propulsor da Bioética, como relatam Pessini e Barchifontaine,3 na perspectiva 
de Jonsen, um teólogo e professor de Ética Médica na Universidade de Washington, ocorreu em 
1967, quando o professor Christian Barnard fez o primeiro transplante cardíaco da história. Os 
transplantes, em geral, suscitaram questões éticas e legais de fundo, tais como: a necessidade de 
uma legislação que definisse claramente o que poderia ser considerado como estado de morte 
encefálica e outros aspectos pertinentes e igualmente relevantes, como a doação de órgãos ou 
parte deles em vida ou a manifestação de vontade do potencial doador, o direito da família de 
autorizar a doação após a morte do ente familiar.
Os avanços da Biotecnologia na área médica têm provocado discussões no âmbito da Ética 
e da Bioética. Assim, hodiernamente, deparamo-nos também com os questionamentos éticos/ 
morais e legais acerca das pesquisas com células-tronco embrionárias. Assim, além dos interes­
ses econômicos e políticos para o desenvolvimento dessas pesquisas e tecnologias de ponta, faz- 
se necessário também avaliar os custos e benefícios a curto, médio e longo prazo, bem como as 
implicações de qualquer decisão no sentido de se investir nessa área, que parece tão promissora 
aos interesses de toda ordem, principalmente das grandes empresas particulares de capitais, bens 
e serviços entre diversas nações do mundo.
Há questões bioéticas que partem do início da vida humana até a sua finitude. Embora as 
regras de Direito Civil apontem os requisitos legais para a existência da personalidade jurídica 
da pessoa, a (in) capacidade legal da pessoa e suas implicações no mundo das leis, levantam-se 
questionamentos de fundo, tais como: Quando começa a vida humana para que tenhamos que 
respeitá-la? Em que consiste a dignidade da vida humana? Além dos posicionamentos morais 
acerca do aborto, da fertilização artificial, da utilização de células-tronco embrionárias, dentre 
outros aspectos, têm sido debatidos aspectos que envolvem questões éticas e legais sobre a morte 
e o processo de morrer. Sendo assim, as discussões da Bioética não se fecham como “verdades” 
prontas e acabadas. Ao contrário, tais questões têm provocado (inclusive por meio da mídia) 
uma maior disseminação das ideias a respeito da autonomia da vontade do paciente e/ou da fa­
mília na escolha do local da morte, das propostas terapêuticas que são apresentadas, bem como 
os custos, riscos e possíveis benefícios. É necessário discutir melhor os significados dos termos 
ética, moral e bioética, numa tentativa de aproximação dos seus princípios ou fundamentos à 
prática cotidiana do enfermeiro e de toda a equipe de saúde.
As temáticas discutidas pela Bioética envolvem também questões de ecologia, das biotec- 
nologias e da autonomia de vontade do cliente (paciente) para consentir, recusar ou declinar de 
propostas ou condutas terapêuticas, diagnosticas, assistenciais ou que englobem a pesquisa. O u­
tros temas têm sido alvo de preocupação para os bioeticistas, tais como: as relações profissionais- 
clientes e os direitos dos pacientes.
Em um estudo sobre questões éticas no trabalho da equipe de saúde, Santos, Beneri e Lu- 
nardi4 discutem que os direitos dos pacientes (como clientes dos serviços de saúde e das ações 
de enfermagem) parecem ser constantemente desrespeitados, constituindo um círculo vicioso, 
pois a equipe de saúde parece, muitas vezes, demonstrar não os conhecer e/ou não os cumprir, 
e os pacientes, por desconhecimento, não os exigem. Para essas autoras, os clientes, comumente, 
não têm sua autorização prévia solicitada na realização de procedimentos e recebem (ou podem 
receber de maneira não suficientemente esclarecedora) informações a respeito de diagnóstico, 
medicações, exames ou procedimentos que serão realizados. Em contrapartida, a obtenção do 
consentimento do cliente requer do profissional uma atitude de respeito a ele como um ser au­
tônomo e capaz para discernir o que julgar melhor para sua vida, e também de participar do seu 
autocuidado com base nas informações apresentadas pelos profissionais de saúde. No entanto,9 6 ÉTICA E BlOÊTICA NA ÉNFERMAGEM
3 : f r ° s*ber dps p™f a “ *
direitos quando internados em uma in stt • ~ ^ en âtlzam que os clientes desconhecem seus
naSr e l 4 e Se„,ren : X t ; ” r sa d ' M Z r " * 4 " * '
mento do Ciente como sujeito capaz de p a Í S ^ °
CONCEITUAÇÃO DE ÉTICA E BIOÉTICA
n ç r — r drsignifica caráter, costume, hábito ou modo de ser/Comorecnrl, ferego ̂ e
"3„3pdep̂ 0"3 LÍrJr°,07(8reg°d7 -
um grupo profissional ^ “ d' V« s' “ S“ a> <* d.veres de
Para Bofi;5 a ética considera concepções de fundo acerca da vido ■ ,
d ^ u T u ^ C Vtal°reS qU£ °rÍentam
boa índo le/á a Moral trata da prática reaM *** ^ pnnCipiOS e convicÇões, tem caráter ou 
valores culturalmente estabelecidos tim a PeSS° aS qT “ eXpreSsam Por costumes, hábitos e 
costumes e ua.ores c o n ^ f e “ “ “ “
que se hUman°’ P“™ d e te ™ »
As instituições de saúde enlreZlas os h õ » tiis Í f' a ” “ “ *1 VÍV' nd° ™ SOd' dade- 
convivem profissionalmente e tomam decisões q u e ^ fe to ^ “ SenCial™ente Por Pessoas> que 
dela dependem direta e ind iretam ^t i q f , a pr°pna lnstltulÇâo, as pessoas que
entender a ' “ d t u d l ‘1 "* 7 Í 7 P° ' ^
nos lembra valores princípios e n o r m a s Parte da cultura da organização. Ética
indica-nos o , u e T i e T co T ett e f u T a l ” ‘ ^ T ? ° ' “ f ”" » * 1— i
atos.» Fortes considera que os problem * e d ^ T é t í “ T ^ indÍTidu° S P° r 
são muitas vezes altamente complexos exieind ^ rf n os n0 cotidiano dos hospitais
tureza ética das decisõeTtornadas e Z ' K reSsaltem questionamentos sobre a „a-
valores como fundamentos a guiar as decisões c W r o f i Z ” ° d 3 dos Princípios e
se os interesses econômicos finZceiros e aerln da area d' saúd' . confrontando-
su , integridade e seguralrç, * “ “ “ “ d“ Patí“ tes, ° cespeito à
q u e . t s : ct pesso; tem * suaé* -
sua p ró p ria escolha, é possível se a p r o x i m a Z Z e â s ta n c fa r dos T ̂ * ’ ^ d e
significa q u e cada p esso a a p re se n ta u m m oH n rU • - • a valores d e ou tras pessoas. Isso
acordo com aquilo que acredita e adota c o m o d T 1™ '°’ d<*ermmando suaa condutas de
com valores £ J o s e l e ^ l t ^ I d o s t m o C d l c ” * d*
da l i b Z a ^ é r S t L o T r i A * P' “ “ * M« W ' ' ° ™ * * >
guiar , si próprio exe c e rfa u tZ d a d e s o b ’ ^ * libefdade' Ser livre
sua vida, exercer sua condicão de cidarlãr, c j denota a administração da
de determinados Z ” ' í 3 P m i'
A moral é parte da vida concmm e ria tl 2ZLTld ^ SUÍdt° “ “ ““ « u a i .
costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecidosZm q” f exPressam P»r
conformidade com os costumes e valores
É t ic a , e B io é t i c a n a E n f e r m a g e m 9 7
tionados pela ética. Uma pessoa pode ser moral (segue os costumes até por conveniência), mas 
não necessariamente ética, pois obedece a certas convicções.
Basicamente, a diferença entre esses termos consiste em que a Ética tem conotação filosófica 
na análise dos problemas, a Moral tem conotação sobrenatural e, por isso, é frequentemente con­
fundida com religião, e a Deontologia preocupa-se com os deveres de um grupo profissional em 
relação às suas atribuições e responsabilidades. Outro conceito importante a mencionar dentro 
desse campo seria a liberdade, ou seja, a faculdade ou poder de decidir ou agir segundo a própria 
determinação, respeitadas as regras legais instituídas. A liberdade deve abranger as faculdades de 
fazer ou não fazer o que se quer; de pensar livremente; de ir a e vir de qualquer parte, quando e 
como queira; de exceder qualquer profissão ou atividade, respeitadas as leis; de associar-se e de 
professar qualquer religião. .
Ambos os termos, Ética e Deontologia, vêm sendo substituídos poybioética (etimologica- 
mente, ética da vida), que, segundo Johnstone,9 seria um ramo ou subclasse da Ética, Assim, a 
ética médica e a ética da enfermagem seriam campos distintos de conhecimento nascidos, res­
pectivamente, da prática de medicina e da enfermagem./À Bioética baseia-se mais na razão e 
no juízo moral do que em uma corrente filosófica ou religiosa. Mesmo utilizando princípios e 
valores tradicionais, buscam-se soluções novas para problemas emergentes, como clonagem de 
seres vivos, experiências para alterar o genoma humano ou influir no código genético, além de 
outros trazidos pela engenharia genética.,/
Bankowski & Éevine10 referem que, ao contrário da ética médica com seu modelo médico, 
a bioética é interdisciplinar, refletindo a realidade de que as decisões médicas não podem mais 
ser baseadas exclusivamente na ciência médica/Àssim, a Bioética incorpora uma dimensão so­
cial, relacionada com justiça e direitos humanos, respeito pela dignidade humana, autonomia 
individual e respeito pelas comunidades, como uma necessidade de proteger a vida humana 
diante das descobertas e inovações científicas e tecnológicasAmnforme cita Gelain,11 a Bioética 
baseia suas reflexões sobre princípios, como autonomia, beneficência, justiça e respeito à vida, 
que permeiam as considerações e as análises críticas das situações que os avanços das ciências 
biomédicas apresentam.
A descrição das origens da Bioética nos Estados Unidos por Jonsen12 e na Europa por Sol- 
bakk13 demonstra que houve certa simultaneidade e paralelismo, pois, em ambos os continentes, 
a Bioética como um desmembramento da Ética surgiu no início da década de 1960. Sendo Bioé­
tica a ética da vida, supõe-se que tudo o que se opõe à vida transgride a Bioética, como a pobreza 
generalizada de certas camadas sociais, a poluição do meio ambiente, a escravidão, a violência 
urbana, a tortura, a pena de morte, entre muitos outros citados por Solbakk.13
Vale a pena ressaltar que, à medida que a problemática sociopolítica evidencia parte de uma 
humanidade empobrecida e marginalizada, a ciência dá os seus saltos com verdadeiras revolu­
ções no campo da Biologia e da Ecologia. As transformações vêm ocorrendo com reflexos em 
todos os campos do conhecimento, especialmente nas denominadas ciências da vida. Cada vez 
mais nenhuma ciência isolada é capaz de proceder a um diagnóstico adequado de determinadas 
situações e de oferecer soluções para problemas novos e de complexidade evidente.14
Desse modo, parece mais clara a ideia por que a Bioética teve sua gênese a partir de um con­
texto pluralista e interdisciplinar, levando-se em consideração os problemas advindos dos avanços 
tecnológicos e suas repercussões na área da saúde. Nessa perspectiva, o termo “biotecnologia” é 
entendido como um conjunto de técnicas e processos biológicos que possibilitam a utilização 
de matéria viva para degradar, sintetizar e produzir outros materiais. Engloba a elaboração das 
próprias técnicas, processos e ferramentas, assim como o melhoramento e a transformação das 
espécies, via seleção natural.15
Princípios éticos
Todas as teorias éticas contêm um ou mais princípios, que são guias para a tomada de deci­
sões e ações morais e sustentam a formação de juízos morais na prática profissional. Os princí­
pios éticos são universalmente importantes para todas as práticas de saúde, mas a maneira como
9 8 É t ic a e B io é t i c a n a E n f e r m a g e m
sao aplicados pode, numa determinada situação, diferir de uma cultura para outra. Os princípios
ap, 1CaVíe'S na PCSqU1Sa em enfcrmagem são essencialmente os mesmos que se aplicam na
rneirom ermage?!:.T“ t o ,na peSqUISa como na P^tica o paciente tem direitos e o enfer­
meiro tem a responsabilidade de proteger e defender esses direitos
tes de fiTó! fefere ^ qUe naSCeU 550 3n0S 3nteS de CrÍSt°' portanto século an-
o Im or ! d SregfS Cr , Sr T AriS“ teIeS e P,atâ° ' ensinava virtu des básicas tais como 
tudo enf Í u m ,T' ealdade e “ nfian?a entre amigos, justiça para os homens e, sobre-
d a l e a í d d f i d i T f " de 6 a benevo]ôncia nas relações humanas. A prática
da lealdade ou fidelidade era entendida como a prática da benevolência em relação aos outros
assim como ensina o preceitocristão ocidental de se fazer aos outros o que se deseja que e te
façam. Confucio dizia tambem que as coisas deveriam ser feitas pelo dever moral de fazer e
e te Pt°r h T 7 externo. Assim, para atingir a autoperfeição era necessário conhecer-se 
tentar, obstinadamente, fazer, sem se preocupar com o resultado e ao mesmo tempo saber que
em pre: ex is te m lim itações hu m an as. V ários desses p rinc íp io s são válidos a té h o je e u tilizados 
pelo s eticistas d e fo rm a universal.
Entre os muitos princípios éticos que guiam a prática da Enfermagem, uma publicação do
sdTaos T T Enfermeiras (CIE), preparada por Holzemer & Oguisso,17 enumera 
seis, aos quais Fry acrescenta o princípio da autonomia.
Portanto, os princípios éticos mais comuns são:
1. B eneficência o u b en ev o lên cia - p rin c íp io é tico de fazer o b e m e ev ita r o m al para o su ­
je ito ou p ara a sociedade. A g ir com ben ev o lên cia significa a ju d ar os o u tro s a o b te r o qu e
benefico para eles, ou que promova o bem-estar deles, reduzindo os riscos maléficos ou 
que possam lhes causar danos físicos ou psicológicos.
2. Nao maleficência - uma vez determinados os modos de praticar a beneficência o enfer­
meiro precisaria preocupar-se com a maneira de distribuir esses benefícios ou recursos 
en re seus pacientes. Como dispor seu tempo e sua assistência entre os vários pacientes
^ 3P~ ^ ° " de - — - 1 ou
3 r lde\ dade ~ PJ'lnciP1° de cnar confiança entre o profissional e o paciente. Trata-se de 
fato, de uma obrigação ou compromisso de ser fiel no relacionamento com o paciekte 
em que o enfermeiro deve cumprir promessas e manter a confiabilidade. A expectativa 
do paciente e de que os profissionais cumpram as palavras dadas. Somente em circuns­
tancias excepcionais, quando os benefícios da quebra da promessa são maiores que sua 
manutenção, e que se pode quebrá-la. A confiança é base para a confidência espontânea 
e os fatos revelados em confidência fazem parte do segredo profissional do enfermeiro '
4. Ju stiça p rin c ip io de ser eq u ita tiv o ou justo , isto é, igua ldade d e tra to e n tre iguais e tra-
mento diferenciado entre desiguais, de acordo com a necessidade individual. Isso signi- 
ca que as pessoas que tem necessidades de saúde iguais devem receber igual quantidade 
e serviços e recursos. E as pessoas com necessidades maiores que outras devem receber 
mais serviços que outras, de acordo com a correspondente necessidade. O princípio da 
justiça esta intimamente relacionado com os princípios da fidelidade e da veracidade
5. Veracidade - princípio ético de dizer sempre a verdade, não mentir e nem enganar pa-
b ? mUltaS Ur3S 3 Veracidade tem sido considerada como base para o esta-
ecimento e a manutençao da confiança entre os indivíduos. Um exemplo de variação 
cu tural seria sobre a quantidade de informação a ser prestada em ação ao diagnóstico e 
tratamento. Assim, pode ser difícil elaborar um formulário para obtenção do consenti­
mento do paciente, ao qual não tenha sido comunicado o seu diagnóstico. O profissional
. 6 aVa ar 3 imP°rtancia 9ue tena para o paciente conhecer o seu diagnóstico em rela- 
çao ao tratamento ou cuidado pretendido.
6. C onfidencia lidade - p rin c íp io é tico d e sa lvaguardar a in fo rm ação de ca rá te r pessoal ob- 
i a d u ra n te ° exercíc io de sua função com o en fe rm e iro e m a n te r o c u n h o de segredo
pelos n L T en te sSaF ind0rT aÇa° ' n ã ° " ° m u n ic an d o a n in §u ém as confidências pessoais feitas 
p elo s pac ien tes. E v id en tem en te , observações técn icas relacionadas co m o d iagnóstico ou
É t ic a e B io é t ic a n a E n f e r m a g e m 9 9
terapêutica devem ser registradas nos prontuários, pois são do interesse de toda a equipe 
de saúde. No caso de o paciente revelar, confidencialmente, uma informação que seria do 
interesse de algum membro dessa equipe, deve-se solicitar autorização ao paciente para 
revelá-la ao profissional específico, ou solicitar que ele mesmo o faça, pessoalmente. Os 
dicionários brasileiros (Aurélio19 e Houaiss20) ainda não incluíram essa palavra, mas ela 
vem sendo amplamente usada nos escritos éticos e bioéticos, como tradução do inglês 
confidentiality, derivado de confidencial.
7. Autonomia - princípio ético que preceitua liberdade individual a cada um de determinar 
suas próprias ações, de acordo com sua escolha. Respeitar as pessoas como indivíduos 
autônomos significa reconhecer suas decisões, tomadas de acordo com seus valores e con­
vicções pessoais. Um dos problemas na aplicação do princípio da autonomia nos cuida­
dos de enfermagem é que o paciente pode apresentar diferentes níveis de capacidade de 
tomar uma decisão autônoma, dependendo de suas limitações internas (aptidão mental, 
nível de consciência, idade ou condição de saúde) ou externas (ambiente hospitalar, dis­
ponibilidade de recursos existentes, quantidade de informação prestada para a tomada 
de uma decisão fundamentada, entre outras).
Enfoques da Bioética
Podemos utilizar diversos enfoques na busca da compreensão dos eventos relativos à saúde 
e à vida humana. Nessa ótica, tendo em vista a pluralidade da Bioética, é minimamente aceitável 
que existam modos diferentes de ver alguns problemas ou dilemas éticos. Desse modo, Zoboli,2 
pautando-se em Anjos,21 e Pessini e Barchifontaine,3 destacam que, dentre os paradigmas mais 
utilizados na Bioética, podem ser elencados o do liberalismo, que tem nos direitos humanos a 
justificativa para o valor central da autonomia do indivíduo sobre seu próprio corpo e as decisões 
relativas à sua saúde; o das virtudes, que coloca a tônica na boa formação do caráter e da per­
sonalidade das pessoas ou dos profissionais; o da casuística, que incentiva a análise sistêmica de 
casos a fim de reunir características paradigmáticas que se prestarão para analogias em situações 
com circunstâncias semelhantes; o narrativo, que entende a intimidade e a identidade experi­
mentadas pelas pessoas ao contarem ou seguirem histórias como um instrumental facilitador da 
análise ética; o do cuidado, que defende a importância das relações interpessoais e da solicitude; e 
o principialista, pautado nos princípios da beneficência, não maleficência, autonomia e justiça.
O enfoque principialista da Bioética é o mais difundido. Esse referencial se pauta nos quatro 
princípios já citados anteriormente, os quais são compreendidos como normas gerais que dão 
abertura considerável para o juízo, não funcionando como um guia preciso de ação que informa 
exatamente como agir em cada circunstância.2 Para Zoboli, os princípios constituem referenciais 
que alertam para a necessidade de não ser maleficente, de ser justo, de respeitar a autonomia das 
pessoas e de ser beneficente para com elas; porém, determinar como essas orientações se dão na 
realidade é tarefa para o discernimento e o equacionamento éticos.
O paradigma da ética das virtudes volta-se em princípio aos agentes e não aos atos. Assim, 
além da correção das ações, importa se essas ações brotam do caráter firme e imutável do agente, 
que deve possuir certas características, como saber o que está fazendo e escolher, por seu pró­
prio bem, agir corretamente. Nesse sentido, o caráter indica a estabilidade necessária para que 
as virtudes sejam adquiridas de forma duradoura.2
No enfoque do cuidado, enfatizam-se as relações interpessoais, destacando-se a proposta de 
Gilligan,22 que aponta um outro enfoque para a Bioética pautado na valorização das relações. 
Assim, alguns elementos são essenciais para a compreensão da ética do cuidado: ter consciência 
da conexão entre as pessoas, reconhecendo a responsabilidade de uns pelos outros; entender a 
moralidade como resultante do reconhecimento dessa interconexão e acreditar que a comuni­
cação é o modo de solucionar conflitos.2
Diante dos diferentes enfoques da Bioética, que vêm sendo discutidos na atualidade, algumas 
qualidades são necessáriaspara que haja um diálogo entre as diferenças: tolerância e respeito às 
outras pessoas, grupos sociais ou comunidades, sobretudo respeitando e valorizando a vida hu­
1 0 0 É t ic a e B io é t i c a n a E n f e r m a g e m
mana na diversidade de sua expressão cultural e social. Nos dizeres de Zoboli,2 na dialética en­
tre o respeito ao pluralismo moral e o risco de incorrer no relativismo ético, a Bioética não pode 
perder de vista sua finalidade precípua, que é a promoção da saúde humana, da sobrevivência ce 
humanidade, da justiça social e da sabedoria que instruirá a humanidade quanto à sua responsa­
bilidade moral para com todos os seres viventes, sendo, assim, uma ponte para o futuro.
A TOMADA DE UMA DECISÃO ÉTICA
De acordo com Fry,18 a tomada de uma decisão ética depende de sensibilidade ética e de 
raciocínio moral (do latim mos, moris e que significa costume). A sensibilidade ética envolve a 
identificação dos aspectos éticos de uma dada situação que afetam o bem-estar do indivíduc 
com base na interpretação de seus comportamentos verbais e não verbais, a identificação de seus 
desejos ou necessidades e uma resposta ou ação apropriada. A sensibilidade ética do enfermei­
ro sofre a influência de cultura, religião, educação e experiências pessoais. O raciocínio moral e 
a habilidade de reconhecer e determinar o que deve ou não ser feito numa situação particular 
Trata-se de um processo cognitivo em que cada um determina a ação eticamente defensável pari 
resolver um conflito de valores. O estudo dos códigos de ética, padrões práticos de conduta ética, 
assim como sobre princípios éticos e a formação de valores, ajudará o enfermeiro a desenvolver 
a sensibilidade ética e a capacidade para o raciocínio moral e a integrar essas qualidades com: 
habilidades para a resolução de problemas.
O valor constitui um caráter ou uma qualidade atribuídos a uma pessoa ou coisa. Segun­
do Fry,18 os valores podem ser facilmente identificados na vida diária de cada pessoa, através de 
linguagem, atitude e padrões de comportamento que essa pessoa mantém. Basicamente os va­
lores podem ser pessoais, culturais e profissionais. Os valores pessoais são crenças e atitudes de 
um indivíduo, nas quais sua conduta, em geral, e sua visão dos fatos estão baseadas. Os valore: 
culturais estão relacionados com a cultura nativa de seu grupo familiar ou social. Esses valores 
afetam as crenças pessoais relacionadas com a saúde, a doença e a conduta que seria moralmente 
requerida na prestação de um cuidado de saúde. Todas as culturas valorizam a saúde; no entantc 
os meios de promovê-la ou alcançá-la variam de uma cultura para outra. Por exemplo, nas cul­
turas orientais, a idade pode ser mais valorizada que a educação formal. Muitas vezes, os valores 
culturais estão vinculados às crenças religiosas do grupo. Os valores profissionais são atributos 
gerais relacionados com o grupo profissional. Esses valores, na enfermagem, estão inseridos nc 
código de ética e no exercício da profissão. São ensinados a partir das escolas de enfermagem e 
os profissionais vão incorporando gradualmente os valores profissionais ao seu próprio sistems. 
pessoal de crenças.
Eventualmente podem ocorrer conflitos entre os valores pessoais ou culturais do enfermeirc 
e os valores profissionais, ou entre os valores do cliente/paciente e os do profissional de enfer­
magem, ou seja, entre os direitos do paciente e os deveres profissionais. Nesse caso, as diretrizes 
ético-profissionais, incluídas num código de ética, devem ser suficientes para dirimir a questãc 
tendo sempre em mente que os valores pessoais, religiosos ou culturais do enfermeiro não podem 
ser colocados acima dos direitos do paciente. Cabe ainda enfatizar que o enfermeiro deve estar 
sempre preparado para defender e proteger os direitos do paciente, assumindo integralmente í 
responsabilidade legal e profissional para com ele, assim como cooperar, no sentido de participar 
ativamente com os demais membros da equipe de saúde e de enfermagem para a prestação de 
assistência com qualidade ao paciente.
CONCLUSÃO
Na formação generalista do enfermeiro tem-se enfatizado o contexto histórico-ético-lega. 
da profissão, a evolução das bases históricas da legislação do exercício e do ensino da enfenr.s- 
gem (leis, decretos, resoluções, pareceres etc.), incluindo projetos de lei que poderão interferir 
na delimitação dos espaços de atuação profissional do enfermeiro.
É t ic a e B io é t i c a n a E n f e r m a g e m 1 0 1
Diante de dilemas e conflitos éticos e legais, o profissional, assim como cidadão comum, 
precisa avaliar a situação, refletir sobre a questão e decidir. Zoboli2 considera que as pessoas 
envolvidas em um conflito ético não são vistas como adversárias numa pendência de direitos, 
mas como partícipes interdependentes de uma rede de relacionamentos de cuja continuidade 
depende a manutenção da vida de todos, de maneira que adquire centralidade a busca de uma 
solução não violenta para os conflitos... o juízo ético não pode ter por base apenas as regras, mas 
deve ser nutrido por uma vida vivida de forma suficientemente intensa para criar simpatia por 
tudo que é humano.
Com isso, a Ética e a Bioética podem nos ajudar a refletir os dilemas éticos e legais emergen­
tes na atualidade, respeitando as diferenças entre as pessoas, os grupos sociais e as diversidades 
culturais. Assim sendo, a Bioética será um liame entre as ciências biológicas e humanas numa 
perspectiva de resguardar os valores humanos da dignidade da vida dos seres viventes, protegen­
do-a, de forma independente, de quaisquer tipos de ideologias, opiniões ou crenças religiosas, ou 
mesmo ideias ateístas ou tradições morais. Com isso, vislumbram-se novos horizontes em relação 
à abrangência da Bioética, a qual tende a ocupar novos espaços nos currículos acadêmicos e no 
dia a dia das discussões dos cidadãos, considerando a diversidade cultural dos dias atuais.
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Genival Fernandes de Freitas e Taka Oguisso
INTERFACE ENTRE ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS NA AÇÃO 
GERENCIAL DO ENFERMEIRO
Estudos vêm sendo desenvolvidos sobre o papel e a inserção de uma Comissão de Ética de 
Enfermagem (CEE) nos estabelecimentos de saúde. Assim, em um trabalho realizado em qua- 
í c T f 1? 15 d° interior Paulista> com 18 enfermeiros participantes de CEE, foram apontadas as 
dificuldades para a implantação dessa Comissão naqueles hospitais, sobressaindo a falta de en­
tendimento, por parte dos profissionais de enfermagem, do regimento proposto pelo Conselho 
Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo (COREN-SP), especialmente sobre o papel 
que a CEE teria que desempenhar, bem como a falta de tempo para participar das reuniões e 
o receio de alguns profissionais em participar, especialmente pela sua conotação punitiva.1 Esse 
estudo mostrou que não basta determinar, regimentalmente, as atribuições das CEE nas insti- 
tiuiçoes de saude. É também necessário discutir seu verdadeiro papel nessas instituições para 
alem de zelar pelo exercício ético dos profissionais de enfermagem, contribuir para a melhoria 
da qualidade da assistência prestada ao paciente, assegurar que os profissionais cumpram bem 
suas obrigações/deveres e também que lhes sejam garantidos os seus direitos.
Em outro estudo sobre ocorrências éticas, isto é, casos de infração aos ditames éticos, envol­
vendo profissionais de enfermagem em um estabelecimento de saúde particular de São Paulo, 
com o objetivo de desvelar a atuação dos enfermeiros-gerentes e dos membros da CEE face a 
esses eventos, constatou-se que o receio da punição por parte dos profissionais envolvidos nas 
ocorrências éticas estava muito presente nos discursos daqueles enfermeiros. Inclusive, o refe­
rido estudo apontou para a necessidade de se desmistificar o medo da punição para facilitar a 
atuação desse órgão junto aos profissionais, destacando, ainda, a necessidade de se enfatizar o 
seu papel educativo.2
As atividades gerenciais do enfermeiro devem englobar ações educativas em relação às ocor­
rências éticas com os profissionais de enfermagem no dia a dia do exercício. As ocorrências éticas 
envolvem falhas técnicas ou de procedimentos decorrentes de negligência, imperícia e/ou im­
prudência do profissional no momento da realização de uma determinada técnica. No entanto 
tais ocorrências englobam também situações de relações de conflitos ou de dilemas, presentes 
no exercício e que requerem tomada de decisão do enfermeiro.2
Obviamente, essas ocorrências éticas têm, frequentemente, implicações legais, além das éti­
cas. Nessa otica, o art. 34 (CEPE-2007) menciona que "provocar, cooperar ou ser conivente ou 
omisso com qualquer forma de violência” é uma conduta antiética, por ferir princípios e normas 
éticas da profissão, além de crime por afrontar normas penais que visam assegurar a integridade 
e incolumidade do ser humano, ao receber assistência de enfermagem. Assim, ao tomar ciência 
de uma determinada conduta antiética, o profissional de enfermagem não poderá acumpliciar-se 
ou manter-se inerte, mas deve movimentar-se na intenção de coibir e punir os responsáveis, para 
nao ser corresponsabilizado no crime de maus-tratos a pacientes, pois a não comunicação poderá 
ser entendida como conivência do profissional de enfermagem com infração ética ou crime pelo 
qual podera ter que responder processualmente. Por conseguinte, o enfermeiro e demais profis-
C o m is s ã o d e É t ic a d e E n f e r m a g e m e m In s t it u iç õ e s d e Sa ú d e 1 0 3
sionais de enfermagem não poderão omitir-se da responsabilidade de comunicar situações que 
envolvam maus-tratos e representam um risco à integridade física e moral do paciente.
A responsabilidade profissional exige tomada de decisão por parte do enfermeiro, como lí­
der da equipe de enfermagem, perante uma determinada ocorrência prejudicial ao paciente. A 
decisão poderá ser a de encaminhar tal ocorrência para avaliação da CEE para que esta oriente o 
profissional envolvido, ou o encaminhamento para outras instâncias competentes, para averiguar 
tais fatos e impor restrições e penalidades aos faltosos, se for o caso. Na fase de apuração ou in­
vestigação da ocorrência, os membros da CEE desempenham um papel importante na elucidação 
dos fatos. Se houver necessidade de aplicar uma sanção administrativa, cabe à empresa fazê-lo 
com respaldo na legislação trabalhista, convenções coletivas de trabalho ou normas institucionais, 
respeitando-se os contratos individuais e coletivos de trabalho e os direitos e deveres oriundos 
da relação empregatícia. Se se tratar, no entanto, de uma proposta de punição na instância éti­
ca, cabe ao Conselho Regional de Enfermagem (COREN) do respectivo Estado aplicá-la, após 
o devido processo ético, excetuando-se o caso de cassação, a qual é da competência exclusiva 
do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Em qualquer instância ou caso de punição ao 
profissional faltoso, é possível haver recurso contra a decisão (dos Conselhos Regional e Federal 
de Enfermagem) perante o Poder Judiciário. Nesse sentido, a própria Constituição estabelece 
que, contra qualquer sentença ou decisão administrativa ou judicial, cabe revisão na Justiça, pois 
"a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito — art. 5-, inciso 
XXXV, da Constituição Federal, de 1988.
De fato, as dimensões ética e legal do exercício profissional permeiam as ações gerenciais e 
assistenciais do enfermeiro e da equipe de enfermagem. Nessa perspectiva, a responsabilidade é 
compreendida como um dever jurídico de responder pelos próprios atos ou de outrem, sempre 
que estes violem os direitos de terceiros protegidos por lei, e de reparar os danos causados. Desse 
modo, a responsabilidade pode ser decorrente de uma imposição legal ou moral e visa reparar 
ou satisfazer um dano causado a terceiro, como, por exemplo, ao paciente, após comprovação da 
culpa do profissional e da relação entre a conduta do profissional e a lesão acarretada a ele.
Ao gerenciar as atividades de enfermagem, faz-se mister que o enfermeiro atente à responsa­
bilidade profissional e à capacidade técnica e legal do profissional a quem se está delegando. Por 
exemplo, quando um enfermeiro delega para um auxiliar de enfermagem a realização de um de­
terminado procedimento, ele deve avaliar, a priori, se o profissional possui capacidade para assumir 
a incumbência proposta de forma segura e isenta de riscos ao paciente. Assim, se o profissional a 
quem se está delegando detém competências técnica e legal para assumir aquela atribuição, mas, 
ao executá-la, o faz de forma incorreta, quem assumiu tal proposta será responsável pelos seus 
atos e pelas conseqüências do seu agir. Até prova em contrário, quem delega uma determinada 
atividade a alguém capacitado, técnica e legalmente, para assumi-la, o faz com garantia da lei. 
Nesse caso,havendo imprudência do profissional que assumiu a incumbência que lhe foi delega­
da, excedendo ao que lhe competiria fazer ou o que a lei permite, ele responde pelos resultados 
adversos que forem comprovadamente decorrentes da sua imprudência.
Com o conhecimento técnico e científico cada vez mais aprimorado, aumenta proporcional­
mente a responsabilidade dos profissionais de saúde. Espera-se que enfermeiros e demais mem­
bros da equipe de enfermagem possam efetivamente compreender a dimensão do trabalho que 
executam e assumir, consciente e responsavelmente, a competência profisssional que a formação
técnica e a capacitação legal lhes outorga.3
É preciso que a atuação dos membros da CEE propicie um processo reflexivo constante 
da prática profissional, com base no CEPE-2007,3 na legislação do exercício e nas normas éti­
cas e morais vigentes, valorizando o agir responsável, o compromisso individual e institucional 
para uma educação permanente da equipe de enfermagem, pautando-se nos princípios da ética 
profissional de: justiça, equidade e honestidade, bem como valorizando as relações pessoais e o
respeito à vida humana na sua integridade.
Além do aspecto legal que envolve a responsabilidade profissional, Trevizan4 aponta que 
o valor básico inserido no CEPE é o respeito pelo ser humano, tendo como apoio a verdade, 
a privacidade, o sigilo, a responsabilidade, a beneficência e a autonomia. Nesse sentido, Pessi- 
ni e Barchifontaine5 consideram que a ética profissional é parte da ciência moral. Mais do que
1 0 4 COMISSÀO DE ÉTICA DE ENFERMAGEM EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE
limitar-se a um feixe de normas, ela procura a humanização do trabalho organizado, isto é, pro­
cura colocá-la a serviço do homem, da sua promoção e da sua finalidade social. É tarefa ainda 
da ética profissional detectar os fatores que, numa determinada sociedade, esvaziam a atividade 
profissional tornando-a alienada. Além de formular determinadas normas e cristalizá-las num 
código, é tarefa da ética profissional realizar uma reflexão crítica, questionadora e que tenha por 
finalidade salvar o humano, a hipoteca social de toda a atividade profissional. Por outro ângulo, 
Chaves6 refere que a base ética de que precisamos no setor de saúde tem de ser construída em 
nossas mentes e refletida em nossas ações, no âmbito em que cada um de nós atua, na educação, 
na pesquisa, no exercício profissional, na alocação de recursos, no manejo desses recursos e nos 
foros de decisão em todos os níveis.
OCORRÊNCIAS ÉTICAS DE ENFERMAGEM: DIREITOS E DEVERES 
DO PACIENTE
Com relação aos direitos e deveres do paciente, Gauderer7 destaca o direito do paciente de 
obter informações sobre seu caso, por meio de cópias do seu prontuário, cujos registros devem 
estar em letra legível, incluindo exames, bem como os registros nesses documentos, tais como: 
anotações, evoluções, prescrições, laudos, avaliações etc. Esse mesmo autor aponta que o pacien­
te, cônjuge ou filhos têm o direito de gravar ou filmar os atos médicos realizados, requerer que 
os profissionais se reúnam para discutir a patologia para a tomada de decisão mais adequada, 
morrer dignamente, escolhendo o local e a maneira que julgar melhor para morrer, recusando 
tratamentos onerosos e resultado imprevisto.7
Para os profissionais de enfermagem, um parâmetro para os direitos e deveres é o Código de 
Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE-2007), que elenca obrigações ou deveres em rela­
ção ao paciente, ao colega, às entidades de classe e à sociedade. Por exemplo, o dever profissional 
de assegurar uma assistência de enfermagem com isenção de riscos ou livre de danos decorrentes 
de negligência, imperícia ou imprudência está previsto em vários dispositivos desse Código.
Ante uma ocorrência ética de enfermagem, é preciso discernir sobre a abertura ou não de um 
processo de sindicância e proceder a uma investigação séria a respeito das causas desse evento, 
no que se refere à conduta do profissional e a outros fatores - tais como: sobrecarga de trabalho, 
deficiência de recursos humanos e materiais, do ponto de vista quantitativo e qualitativo, para o 
atendimento das necessidades da clientela, devendo ser levada em consideração a responsabili­
dade do indivíduo e dos gerentes, administradores ou responsáveis da instituição de saúde.
Também é necessário avaliar, com cuidado, os deveres do paciente em relação aos profissionais 
que o assistem e à instituição prestadora desses serviços. A esse respeito, Kfouri Neto8 ressalta 
alguns deveres do paciente, como seguir as orientações ou prescrições do profissional, pois não o 
fazendo, desobriga o profissional de continuar lhe prestando cuidados. Entretanto, o paciente não 
pode ser abandonado em meio à assistência; por isso, deve-se assegurar o acompanhamento por 
outro profissional, igualmente capacitado para tal, a fim de garantir a continuidade do cuidado, 
evitando, assim, a alegação de que houve abandono ou quebra da continuidade da assistência e, 
por conseguinte, infração ética por parte do profissional no que tange ao dever de não expor o 
paciente a situação de risco ou causar-lhe dano.
Cooperar com a assistência ou o tratamento constitui obrigação do paciente, devendo in­
formar todos os dados que sejam de interesse para esse fim e necessários para a elucidação de 
diagnóstico, implementação de condutas técnicas, com isso auxiliando o processo assistencial. 
Por outro lado, exige-se que o profissional seja capaz de ouvir o paciente, investigar cuidadosa­
mente suas queixas, respeitar suas crenças e convicções, tratá-lo com respeito em sua dignidade, 
aplicando todos os esforços, meios e recursos disponíveis, a fim de aliviar o sofrimento; e ajudar 
nas medidas terapêuticas e sem riscos desnecessários ou previsíveis.
Orientar os profissionais de enfermagem por meio de um processo educativo-reflexivo per­
manente deve ser missão precípua da CEE, visando à prevenção de ocorrências éticas danosas ao 
paciente no exercício da profissão. Desse modo, ao lembrar aqui alguns desses direitos e deveres 
dos profissionais de saúde, em geral, e da equipe de enfermagem, em particular, convém frisar
C o m is s ã o d e É t ic a d e E n f e r m a g e m e m In s t it u iç õ e s d e Sa ü d e 1 0 5
que tais obrigações devem ser sopesadas diante de cada caso concreto, seja pela chefia imediata 
de enfermagem, gerência ou diretoria de enfermagem, seja pela CEE ou outras instâncias inter­
nas ou externas nas instituições de saúde.
A CEE deve contribuir para a elucidação das ocorrências éticas por meio de um processo 
de sindicância imparcial e autônomo, zelando pelo cumprimento dos deveres e o respeito aos 
direitos dos profissionais de enfermagem, buscando a segurança e a qualidade da assistência. Essa 
contribuição da CEE se faz premente nos dias atuais, não só para identificar os casos de impe- 
rícia, negligência ou imprudência cometidos pelos profissionais envolvidos nessas ocorrências, 
mas sobretudo no dever de orientá-los e capacitá-los para mudanças necessárias na dinâmica do 
trabalho e nas relações interpessoais, necessárias para prevenir novas ocorrências. Essa missão 
deve ser desenvolvida em parceria com outras instâncias internas da instituição, como a educa­
ção continuada e as gerências do serviço de enfermagem.
CARACTERÍSTICAS DE UMA COMISSÃO DE ÉTICA DE ENFERMAGEM
A Lei 5.905, de 12/07/1973, ao criar os conselhos de fiscalização do exercício profissional 
de enfermagem, estabeleceu suas competências. Com o correr dos anos, aumentou o contingente 
de profissionais de enfermagem e, hoje, a enfermagem é o grupo numericamente mais expres­
sivo da área da saúde.
O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo, COREN-SP, promoveu, em 1993, um 
seminário para discutir a criação das Comissões de Ética de Enfermagem nos estabelecimentos 
de saúde. No ano seguinte, o Conselho Federal de Enfermagem, COFEN, normatizou a criação 
dessa Comissão nas instituições de saúde. O Regimento para a criação, formação e funciona­mento das Comissões de Ética de Enfermagem do COREN-SP foi oficializado, incentivando-se
a criação delas nos hospitais.
De acordo com esse Regimento, a CEE é um órgão representativo do COREN em caráter 
permanente junto às instituições de saúde, com funções educativas, fiscalizadoras e consultivas 
do exercício profissional e ético dos profissionais de enfermagem nas referidas instituições.
A CEE é reconhecida pela diretoria, chefia, gerência ou divisão de enfermagem da institui­
ção de saúde a que pertence, estabelecendo uma relação de independência e autonomia, asses­
sorando a instituição sobre os assuntos afetos a esta, cabendo-lhe comunicar sobre o calendário
de suas reuniões e/ou atividades.
São finalidades da CEE as que constam do art. 3a do referido Regimento, que englobam as
explicitadas na Resolução 172/94 do COFEN:
• garantir a conduta ética dos profissionais de enfermagem da instituição de saúde através 
da análise das intercorrências notificadas por meio de denúncia formal e auditoria;
• zelar pelo exercício ético dos profissionais de enfermagem da instituição;
• colaborar com o COREN no combate ao exercício ilegal da profissão e na tarefa de edu­
car, discutir, orientar e divulgar temas relativos à ética dos profissionais de enfermagem.
Para que a CEE seja criada e passe a atuar de forma a cumprir essa missão, é necessário obter 
da instituição de saúde e da gerência de enfermagem o apoio e o investimento em pessoal e em 
recursos materiais e físicos, propiciando local adequado para reuniões, orientações, consultas e 
acompanhamentos dos casos comunicados, pois não basta a existência de profissionais motivados 
para desenvolver as atividades desse órgão. É mister também apoio do COREN para orientar 
os membros da CEE, as gerências de enfermagem e os profissionais, desde o momento da ins­
tauração do processo eleitoral, à posse e desenvolvimento de suas atividades. Sem esse apoio, a 
CEE não poderá atingir seus objetivos e nem realizar um trabalho que possa contribuir para o 
desenvolvimento da profissão e o seu reconhecimento e credibilidade.
A Resolução do COFEN e o Regimento do COREN são instrumentos legais importantes, 
mas insuficientes para a existência de uma CEE eficiente e que atenda às necessidades de asses- 
soria, consultoria e orientação dos profissionais de enfermagem nas instituições de saúde. Por isso 
é necessário que o COREN e as instituições de saúde invistam na formação de profissionais que
1 0 6 C o m is s ã o d e É t ic a d e E n f e r m a g e m e m In s t it u iç õ e s d e Sa ú d e
j atU ar,n a C E E ' P reP arando-os ad e q u ad a m e n te . C o n v ém le m b ra r q u e a fo rm ação cu rricu 
r n a graduaçao nao p ro p ic ia esse p re p a ro p ara en ferm eiros, e a m aio ria deles n u n ca trab a lh o u 
em u m a in stanc ia co m o essa. A fa lta de in v estim en to s nessa fo rm ação p o d e rá c o ^ - m e e r a
COREN ass T ç ^ ^ de nas l i ç õ e s de saude Cabe aoOREN assessorar, de forma permanente, os membros da CEE, envolvendo também as chefias 
de enfermagem, em especial as de escalão mais elevado
n,talEmKe,Stud0 pÍOnej ro sobre “ frações éticas envolvendo pessoal de enfermagem em um hos­
pital publico de grande porte, destinado ao ensino Mendes e Caldas Ir9 dpctap a
«o.al do 62 denúncias, 90% pantitasn dos psúpdos
FrritTs » T a c " d o ^ den4nciaf C72-5%^ ^ses dados corroboraram os achados de
, !!’ acordo com os quais, de um total de 114 ocorrências ou infrações éticas levantadas 
pela CEE, no penedo de 1995 a 2002, 97,37% delas haviam sido comunicadas pelos enferme 
os da instituição. Acredita-se que tal fato se deva à maior autonom.a e tomada de d“ S “ do' 
nfermeiro para encaminhar as ocorrências para a apreciação da CEE.
e Ca 1H T s T ? kÇã0 305 eStUd°S antenormente mencionados, convém ressaltar que Mendes 
e Caldas Jr.9 destacam a seguinte tipificação das denúncias: maus-tratos aos pacientes fofender 
humilhar, nao alimentar, agressões físicas e assédio sexual); indisciplina (agressões físicas entre 
membros da equipe, nao cumprimento de ordens superiores, desrespeito a colegas dormir du 
ran e o serviço, algazarra, jogos, arrombamento de porta); negligência (descuido de material co
^é^ni^a do d e n u n c ia d o ^ ln e f id ê n c iT ^ e s e m ^ e lf i io i ^ o m p l e t o ^ e ^ r a n ^ p a r t e das ta re fiis^ o lid 6
com conh' c,mento de suas
à CEEm47O20/afPartÍda’ Freitasl° apontou *ue> daquele total de 114 ocorrências encaminhadas 
um procedimento prescrito ou solicitado pelo médico ou pelo enfermeiro (não fazer mudança
bstituiçao aos atendentes de enfermagem, os quais somente poderiam exercer atividades'ele­
mentares de enfermagem, conforme a Resolução COFEN I8S/1QQS - r
específica regulada em lei ^ " 5' P° r na° terem formação
§ i p i i i = = s
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA COMISSÃO DE 
ETICA DE ENFERMAGEM 
Das eleições
COMISSÀO DE ÉTICA DE ENFERMAGEM EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE 1 0 7
formação e funcionamento da CEE do COREN-SP estabelece, no art. 4- ss, que “os membros da 
CEE deverão ser eleitos por meio do voto facultativo, secreto e direto dos seus pares”.
Em relação ao processo das eleições, uma comissão eleitoral composta de voluntários será 
responsável pela organização, apuração e publicização do pleito (art. 52). Quando já existir uma 
CEE, a escolha da comissão eleitoral será feita pela diretoria, chefia ou divisão de enfermagem 
das instituições, ressaltando-se que os membros da comissão eleitoral não poderão concorrer ao 
pleito.
Recomenda-se que a convocação para a eleição seja feita com antecedência mínima de 60 
dias da data estipulada para a votação, sendo este o prazo, também, para as inscrições e divulga­
ção dos nomes dos candidatos. Estes serão subdivididos em: grupo I, composto por enfermeiros, 
e grupo II, por técnicos e auxiliares de enfermagem.
Os candidatos à eleição para CEE devem, no ato da inscrição, indicar até dois fiscais para 
acompanharem o desenrolar de todo o processo eleitoral. As inscrições dos candidatos serão en­
cerradas 30 dias antes da data de realização da eleição, quando a comissão eleitoral deverá enviar 
a relação dos nomes dos candidatos para o COREN, que procederá à verificação das condições
de elegibilidade dos mesmos.
De acordo com o Regimento, art. 7S, são critérios de elegibilidade dos candidatos: ter no
mínimo dois anos de inscrição definitiva; estar quite com as obrigações junto ao COREN (paga­
mento das anuidades) e não estar respondendo a processo ético ou administrativo no COREN
ou na instituição em que atuam profissionalmente.
Cabe uma pequena ponderação sobre este último critério, se ele não fere princípio constitu­
cional, segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença 
penal condenatória (Constituição, art. 5a, inciso LVII). Será que a mera condição de estar respon­
dendo a processo ético, sem ter ocorrido a condenação, pode ser impedimento para participar 
de eleição? Em outro parágrafo do Regimento, art. 72, o COREN estipula ainda que o candidato 
a CEE não esteja envolvido em processo ético no COREN. Ora, esse envolvimento poder ser 
como testemunha ou mesmo como parte, e não deveria haver cerceamento de liberdade para 
concorrer ao pleito da CEE da instituição em que atua. Seria plausível, porém, dispor no Regi­
mento da CEE que, caso o candidato eleito na CEE venha a ser condenado em processo etico 
e/ou administrativo, poderá ser afastado das suas funções da referida comissão até o trânsito em 
julgado da decisão tomada na primeira instância. Assim, ainda que a decisão do COREN seja 
pela culpabilidade, o membro eleito da CEE ainda terá direito a recorrer para instância superior, 
ou seja, o COFEN, e ao próprio Poder Judiciário, considerando-se que qualquer decisão extra­
judicial poderá ser revista ou até mesmo modificada pelo Poder Judiciário.
Havendo homologação dos candidatos à CEE pelo COREN, será designada a data de votação 
pela comissão eleitoral.Cada categoria profissional vota em seus pares, ou seja, enfermeiro vota 
no candidato enfermeiro e auxiliares/técnicos votam em seus colegas. O processo eleitoral deve 
ser aberto e encerrado pelo presidente da comissão eleitoral. A apuraçao deve ser feita imedia­
tamente após o encerramento do pleito e assistida por todos os interessados. Serão considerados 
eleitos os que obtiverem maior número de votos válidos nos respectivos grupos I e II, devendo o 
resultado ser enviado para o COREN, no prazo máximo de 30 dias, para ratificação da eleição e 
dos eleitos. Havendo empate dos candidatos, os critérios de desempate serão: o tempo de exer­
cício do candidato na instituição de saúde onde atua, na categoria em que foi eleito. Persistindo 
o empate, o número de registro mais antigo no conselho será considerado o eleito. Há possibili­
dade de impugnação da eleição por meio de recurso dirigido à comissão eleitoral, à CEE vigente 
e/ou ao COREN. Normalmente, designa-se a data da posse no mês de maio.
Competências da Comissão de Ética de Enfermagem
Compete às CEEs: divulgar e fiscalizar o exato cumprimento do Código de Ética dos Pro­
fissionais de Enfermagem e da Lei do Exercício Profissional de Enfermagem, bem como do seu 
Decreto regulamentador; as resoluções e decisões dos Conselhos Federal e Regionais nas ins­
tituições; opinar, normatizar, orientar e fiscalizar sempre em relação ao desempenho ético da
1 0 8 C o m is s ã o d e É t ic a d e E n f e r m a g e m e m In s t it u iç õ e s d e Sa ü d e
profissão, manter atualizado o cadastro de todos os profissionais de enfermagem da instituição- 
realizar sindicância sobre fato notificado, quando julgar necessário, convocando os profissionais 
envolvidos e suas testemunhas, tomando a termo (isto é, ouvindo e relatando por escrito] seus 
poimentos, bem como verificando o exercício ético da profissão, as condições oferecidas pela 
institmçao para tal e a qualidade do atendimento prestado à clientela atendida, sugerindo mu­
danças na dinamica de trabalho da equipe de enfermagem conforme considere necessário para 
- semPenho seSuro da assistência de enfermagem aos clientes; encaminhar relatório de sindi-
ça"oéticaOI! r PT eCder A “ C°nSelh°’ “ ^ ^ 3° ^ qUand° h°UVer indícios de infra- çao etica, arrolando-se os documentos comprobatórios.
de seu F ? t nte ^ CEE' 7 Substitut0' deve ^cam inhar o parecer da Comissão ao COREN 
de seu Estado sempre que houver caracterização de infração ética que justifique a sindicância
nrofiss' r 3 m dlSC1Plinar 7 > : advertência, censura, multa, suspensão do exercício 
profissional ou mesmo cassaçao, embora essa última medida seja da competência exclusiva do 
Conselho Federal e não do Regional. Os conselhos de qualquer profissão detêm o d ire ito le pu- 
mr ou impor uma penalidade ou sanção ao infrator, devendo fazê-lo por meio de processo ético 
e com a devida fundamentação legal e ética. Ademais, a cassação somente poderá ser decidida
m agem ^ortanto c°nforme «5 do Código de Ética dos Profissionais de Enfer-
Cons^hn, J í T 6 C° mp,etênCÍa excbsiva da última instância na hierarquia dos Conselhos de fiscalizaçao do exercício da profissão.
. . . / ' j ' ” “ comPetências regimentais da CEE, cabe-lhe, no caso de não se cons-
r “ Í o a° d“ ' “ Si" dicânda’ arrol“ d° tod“ « documentos, elaborando
: c e°e : processo na própria ins,,tuiçí°- d»
Trata-se, na verdade, de uma impropriedade terminológica do Regimento ao confundir sin- 
icãnc .a com processo, pois não há processo a ser arquivado quando a decisão do c i s a d o da 
CEE e encerrar e arqurvar , denúncia. Haverá somente denúncia arquivada ou s in d ic à n i arquT
est, f o r T d S ^ e Z ^ s PfOCeSS° éUC° arqU‘Vad° S°me" " ^ duando
Alem do mais os membros da CEE devem dar ciência à diretoria, chefia, gerência ou divisão 
e enfermagem sobre todos os relatórios conclusivos das sindicâncias instauradas pela comissão 
em como solicitar-lhes quando necessário, informações que possam ajudar na elucidação de 
denuncias que estão sendo apuradas. Çao ae
Ressalte-se, ainda, que a CEE pode elaborar, em parceria com o Conselho de classe padrões 
eticos suscitados por modernos métodos de diagnóstico e terapêutica de complexa tecnologia
L m b T n c i l T c E E ° é am 'T ^ en fe rm ag em e Por §ruPos m ultiprofissionais. Essa in ­
cu m b ên c ia da C EE e m u ito im p o rta n te , su sc itando a discussão e a p ro p o sição d e n o rm atizacõ es
atualizadas acerca de novas tecnologias na área da saúde, devendo fazê-lo com a participação
das sociedades de especialistas em enfermagem, cujos membros detêm conhecimentos mais
ra os em suas respectivas areas de atuação. Essa parceria de especialistas, CEE Conselho e
d t“ ed: í l da ClaSS£ POde — ~ mais SÓlid0S e fundamentados
Os membros da CEE devem eleger o presidente, o vice-presidente e o secretário- comparecer
as reuniões ordinanas ou extraordinárias; participar dos debates; e desenvolver suas atribuições a
fim de garantir o exercício do amplo direito de defesa dos profissionais que vierem T r ^ o n d e r 
a sindicâncias, de acordo com o art. K> do Regimento. responder
Estrutura, composição e funcionamento da Comissão de Ética de Enfermagem
A CEE deverá ser composta por enfermeiros, técnicos e/ou auxiliares de enfermagem em 
p gados no estabelecimento onde atuam profissionalmente, salvo os profissionais que exerçam 
cargos de diretor chefe/gerente de enfermagem, na referida instituição, ou que e am memb " 
da diretoria nos orgãos de classe - art. 11 do Regimento. membros
C o m is s ã o d e É t ic a d e E n f e r m a g e m e m In s t it u iç õ e s d e Sa ú d e 1 0 9
Conforme recomendado pelo parágrafo único do art. 11 desse Regimento, poderá o estabe­
lecimento de saúde fazer com que instituições de ensino que solicitem campo de estágio tam­
bém se comprometam a participar de processos de sindicância, quando necessário. No entanto, 
esse dispositivo precisaria ainda ser bem discutido com representantes das instituições de ensino 
para tornar exeqüível sua aplicabilidade no campo de estágio de graduandos de enfermagem ou 
de nível médio, para que os professores possam estar cientes e participantes de eventuais pro­
cedimentos de sindicância.
Quanto à composição da CEE, é recomendado que haja, em seu quadro de pessoal de en­
fermagem, no mínimo 10 enfermeiros. Sua composição deverá ser de cinco membros efetivos e 
cinco suplentes, sendo três enfermeiros e dois técnicos e/ou auxiliares efetivos e igual número de 
suplentes. Os membros efetivos serão indicados para as funções de presidente, vice-presidente 
e secretário por votação interna dos membros eleitos da CEE, devendo os dois primeiros cargos 
serem ocupados por enfermeiros. Os membros efetivos poderão requerer a participação dos su­
plentes nas atividades do colegiado; entretanto, as deliberações somente poderão ocorrer com a 
presença da maioria simples de seus membros, ou seja, metade mais um.
Os arts. 14,15 e 16 do referido Regimento da CEE especificam as atribuições do presidente, 
do vice e do secretário. Ao primeiro compete: presidir, coordenar e dirigir as reuniões da comissão; 
planejar e controlar as ações programadas; elaborar relatório das sindicâncias; elaborar parecer 
final para o Conselho Regional sempre que houver indícios fortes de infração ética por parte do 
profissional envolvido na denúncia. Ao vice-presidente compete: participar das atividades pla­
nejadas e desenvolvidas pelos membros da CEE; assessorar o presidente ou substituí-lo. O se­
cretário incumbe-se de: secretariar as reuniões e elaborar atas; verificar quórum nas sindicâncias; 
realizar convocações dos envolvidos em sindicâncias éticas; organizar arquivos de sindicâncias; 
executar atividades internas que lhe forem delegadas; elaborar, em conjunto com o presidente 
ou vice, os relatórios das sindicâncias.
Convém ressaltar a importância do papel educativo da CEE em parceria com o Serviço de 
Educação Continuada do estabelecimento,buscando a prevenção das ocorrências éticas com os 
profissionais de enfermagem, as quais podem dar ensejo à abertura de sindicâncias éticas, me­
diante denúncias formais e realizadas por qualquer membro da equipe de saúde, pelos familiares 
e/ou pelo próprio paciente/cliente.
Ademais, deve-se enfatizar a premente necessidade de um trabalho de caráter consultivo 
da CEE, ou seja, espera-se que essa comissão possa ser um elo entre os profissionais de enfer­
magem e os Conselhos de classe, além de outras entidades de classe representativas, no sentido 
de propiciar a discussão a partir de questionamentos acerca dos dilemas éticos suscitados no 
exercício e na práxis cotidiana. Assim, quando um profissional tem dúvidas se pode ou se tem 
respaldo ético e legal para executar determinada ação procedimental, deve-se reportar, primei­
ramente, à CEE. Esta poderá responder ao profissional com base nas regulamentações éticas e 
legais vigentes e, caso a dúvida persista, poderá levar o questionamento a outras instâncias. Esse 
trabalho consultivo dos profissionais e da CEE nos estabelecimentos de saúde pode contribuir 
muito com outras pessoas em diversos locais de trabalho, as quais podem estar vivenciando a 
mesma situação problemática. Daí a necessidade de compartilhar essas situações e uniformizar 
as orientações e condutas éticas preconizadas para os profissionais.
Em relação ao funcionamento da CEE, está deverá reunir-se, uma vez por mês ordinariamen­
te, em dia, hora e local previamente determinados, não havendo empecilhos para convocações 
extraordinárias, sempre que houver necessidade e urgência de deliberações. A ausência injusti­
ficada a mais de três sessões consecutivas e/ou alternadas excluirá automaticamente o membro 
efetivo da CEE, sendo substituído pelo suplente respectivo, atendendo à ordem de votação nu­
mérica, ou seja, será convocado primeiro o mais votado, conforme a categoria a que pertence 
o substituído. Destaque-se que o quórum para as decisões corresponde à maioria simples dos 
membros da comissão.
Havendo desistência de um ou mais membros da CEE, eles serão substituídos pelos respec­
tivos suplentes, de acordo com o percentual de votos obtidos na eleição. Na ausência de suplen­
tes, pode-se convocar um novo pleito para completar o mandato, cientificando-se o COREN.
1 1 0 C o m is s ã o d e É t ic a d e E n f e r m a g e m e m In s t it u iç õ e s d e Sa ú d e
Excepcionalmente, pode-se indicar nomes (no máximo três] de profissionais ao Conselho para 
preenchimento das vagas.
Em ocorrendo envolvimento de um dos membros da CEE em ocorrência ética e que resulte 
em sindicância, o membro envolvido deve ser convocado a prestar esclarecimentos, normalmente 
ficando impossibilitado de continuar exercendo suas atividades junto à CEE enquanto durar a 
sindicância. Na hipótese de um profissional convocado não comparecer na data da sindicância, 
deverá apresentar justificativa à CEE no prazo de até três dias após a referida data designada à 
sessão.
O Regimento da CEE dá grande ênfase à atividade sindicatória dessa comissão, o que revela 
a importância e a relevância dadas pelo COREN a esse tipo de ação. Entretanto a CEE precisa 
também promover a prevenção concomitante por meio de ações educativas, em parceria com 
outros serviços internos do estabelecimento de saúde. Havendo necessidade da participação de 
profissionais de outras áreas, estes poderão ser convidados a prestar esclarecimentos na CEE.
SINDICÂNCIA ÉTICA: COM O SE FAZ E QUANDO 
SE FAZ NECESSÁRIA?
De acordo com Plácido e Silva,11 sindicância consiste no ato de examinar, inquirir e tomar 
informações. Na técnica jurídica, a sindicância é o procedimento com o objetivo de determinar 
a exata situação de um fato. Assim, a sindicância se realiza através de diligências ou de medidas, 
tendentes a colher informações desejadas e necessárias ao seu objetivo, determinadas e dirigidas 
por uma pessoa, a quem se incumbiu esse encargo. Praticamente, a sindicância resulta num pro­
cesso de informações acerca de fatos que se quer apurar, tendo, assim, significação equivalente 
a investigação, devassa ou inquérito. Para esse mesmo autor, é chamado contraditório o princí­
pio constitucional, segundo o qual é assegurado a toda pessoa, uma vez demandada em juízo, 
o direito de ampla defesa da acusação ou para proteção do seu direito, de acordo com o art. 5fi, 
inciso LV, da Constituição Federal, utilizando-se de todos os meios admitidos, legalmente, para 
salvaguardar os seus direitos contra os fatos alegados na denúncia.
A CEE, ao receber notificação de uma determinada ocorrência ética, deve avaliar, criteriosa­
mente, se há elementos formais e materiais para a abertura de uma sindicância ética ou não. Essa 
é uma incumbência da CEE e não da chefia de enfermagem, gerência ou supervisão. Com isso, 
o chefe, gerente, supervisor ou qualquer profissional de enfermagem que queira levar ao conhe­
cimento da CEE um determinado fato que julga importante, por supor que seja uma infração 
ética, deve relatar tais fatos citando: dia, hora, local da ocorrência e nomes das pessoas envolvi­
das, destacando também se houve ou não prejuízo e de que ordem e monta, seja em relação ao 
paciente, a colegas ou à instituição. Essa notificação precisa ser feita formalmente, ou seja, por 
escrito, assinada e datada, pois a CEE não deve aceitar denúncia anônima. A notificação deve ser 
breve, clara e objetiva, atendo-se aos fatos, sem juízo de valor, não sendo necessário caracterizar 
qual o tipo de infração ou enquadramento ético-legal.
Entretanto, antes de notificar a CEE, o enfermeiro ou outro profissional de enfermagem que 
queira fazer esse encaminhamento, embora não seja obrigatório, deve, apriori, comunicar a sua 
decisão ao suposto faltoso de encaminhar a ocorrência para a avaliação e orientação da CEE. Esse 
passo é de grande relevância, considerando-se os princípios da ampla defesa e do contraditório, 
segundo os quais a pessoa acusada tem o direito de saber com a maior brevidade possível qual a 
imputação ou acusação lhe pesa, para que possa arrolar testemunhas a seu favor, articular sua de­
fesa oral ou escrita, indo contra aquela imputação antes que a CEE solicite seu comparecimento 
para apresentar suas alegações. Sem essa comunicação prévia do denunciante ao suposto faltoso, 
ocorre uma situação de grande desconforto, constrangimento e perplexidade do denunciado ao 
ser “intimado”, como é popularmente conhecida essa convocação.
Por outro lado, à CEE cabe o juízo discricionário, ou seja, o discernimento sobre a abertura 
ou não de um procedimento sindicatório contra o(s] denunciado(s], devendo fundamentar sua 
decisão nas normas de conduta ética vigentes. Mesmo que no CEPE não se encontre nenhum
C o m is s ã o d e É t ic a d e E n f e r m a g e m e m In s t it u iç õ e s d e Sa ú d e 1 1 1
enquadramento para aquela situação, nada obsta a abertura desse procedimento, desde que de­
monstrada nos princípios da ética, em geral, e dos valores norteadores do agir profissional.
Exemplifiquemos com uma situação encaminhada para análise da CEE, cujos membros de­
verão decidir pela abertura ou não de uma sindicância ética, justificando a decisão:
O auxiliar de enfermagem X atua, profissionalmente, em um determinado hospital de grande 
porte. X está formado há 15 anos e trabalha atualmente em uma seção médico-cirúrgica das 7 às 13 h. 
Há aproximadamente uma semana, X cuidou de um paciente (Senhor P), internado há 12 dias com 
diagnóstico de diabetes insulinodependente, apresentando uma instabilidade glicêmica muito signifi­
cativa e necessitando de controles constantes da glicemia a cada 2 horas.
Durante o plantão do auxiliar X, às 10 e às 12 h, do dia 14/02/2005, o referido auxiliar esque­
ceu de realizar o dextro prescrito para o paciente, Senhor P; no entanto, ele registrou no prontuário dois 
valores de glicemia correspondentes aos horários das 10 e do meio-dia, como se houvesse realizado o 
exame. As 14 h e 45 min, opaciente, Senhor P, apresentou mal-estar e sudorese intensa. O enfermeiro 
do período da tarde verificou a glicemia naquele momento e constatou o valor igual a 422, e foi ve­
rificar o que havia sido anotado pelo auxiliar X naquele dia, no período da manhã, e constatou que 
existiam dois registros de glicemia: às 10 h, no valor de 95, e ao meio-dia, no valor de 101.
O enfermeiro da tarde conversou com o paciente e sua esposa, os quais afirmaram que não tinha 
sido feito o exame das 10 e das 12 horas. O enfermeiro discutiu com seu colega do período da manhã 
e, juntos, conversaram demoradamente com o auxiliar X sobre o ocorrido, tendo o mesmo assumido 
que não fez o dextro das 10 e do meio-dia porque estava sobrecarregado, cuidando de quatro pacientes 
naquele dia e, quando se apercebeu do esquecimento, já era quase hora de passagem de plantão.
Supondo que a ocorrência tenha sido encaminhada para apreciação ou orientação da Comis­
são de Etica de Enfermagem e sendo você um dos membros dessa Comissão, propomos as seguintes 
indagações, a título de reflexão, para subsidiar a tomada de decisão:
• Analise a situação e suas conseqüências em face do cliente, do profissional e da instituição de 
saúde. Houve infração ética? Se sim, justifique ética e legalmente.
• Que orientações a CEE daria ao profissional envolvido tendo em vista a ocorrência e suas 
conseqüências?
• Quais os encaminhamentos que a CEE deveria dar ao caso?
• Como a CEE orientaria a chefia do setor e o profissional sobre ocorrências dessa natureza?
• Como a CEE caracterizaria a ocorrência? (Houve negligência, imperícia ou imprudência?) 
Justifique.
• Que tipo de punição a CEE recomendaria nesse caso, considerando que o profissional nunca 
se envolveu com evento dessa natureza?
• Você concorda ou não com a abertura de uma sindicância, nesse caso, a fim de averiguar os 
fatos que envolvem essa ocorrência?
MEDO DE PUNIÇÃO X PROCESSO EDUCATIVO EFICAZ
Em estudo anteriormente citado, foi identificada uma categoria denominada desmistificação 
do medo da punição, percebida por enfermeiros-gerentes e membros da CEE, quanto ao receio 
do profissional de sofrer algum tipo de punição ao cometer uma determinada falha ou um erro 
na sua prática, sobretudo quando esse evento repercute em prejuízo do paciente. Os enfermeiros 
indicaram a necessidade de superar esse medo por meio da divulgação das funções da Comis­
são de Ética aos profissionais de enfermagem, valorizando-se a atividade educativa desse órgão, 
em vez de punitiva. Essa expectativa vem corroborar os resultados do estudo de outros autores, 
como Vermoch,12 segundo o qual é devido ao medo de punição que muitos profissionais de en­
fermagem têm receio de comunicar ocorrências de erros no exercício de suas atividades e, con­
sequentemente, podem não aproveitar as oportunidades de aprender com esses erros.
Esse medo de punição, que pode incluir até demissão, é justificável, pois Carvalho e Cassiani,13 
ao analisarem os erros mais comuns e fatores de risco na administração de medicamentos em 
uma unidade básica de saúde do Estado de São Paulo, concluíram que uma das intervenções
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realizadas se baseou na punição dos profissionais de enfermagem envolvidos nas ocorrências de 
erros no preparo e na administração de medicamentos. Para solucionar esse problema, essas au­
toras apresentaram propostas para minimizar as ocorrências de erros que pudessem causar da­
nos aos clientes, tais como: a orientação e a atualização dos profissionais de enfermagem sobre 
novos conhecimentos técnicos.
Em estudo de Mayo e Duncan14 acerca das percepções dos enfermeiros sobre as causas das 
ocorrências de erros de medicação, apontou-se que apenas 45,6% do total de enfermeiros con­
sultados (n = 983] acreditava que os erros são relatados ou comunicados a quem de direito. As 
autoras atribuem tal fato ao medo da punição ou da reprovação por parte da gerência do serviço 
de enfermagem ou da própria instituição de saúde.
Esses e outros estudos evidenciam a necessidade de se desmistificar o medo da punição 
como conseqüência da comunicação de uma ocorrência ética a quem de direito, ou seja, à CEE, 
a qual devera avaliar a necessidade de abertura de sindicância para ouvir o profissional envolvi­
do na ocorrência e orientá-lo. Esse trabalho educativo e preventivo das ocorrências éticas, por 
parte da Comissão de Ética, é de fundamental importância, para prevenir a repetição de ocor­
rências que podem trazer algum dano ao cliente/consumidor dos serviços de enfermagem, seja 
físico (como lesao corporal, por exemplo), seja, moral ou patrimonial. Daí o papel da CEE no 
sentido de tomar providências em relação à ocorrência e ao envolvido, orientando esse último 
quanto à responsabilidade profissional e às conseqüências do seu agir ou da sua omissão. Assim, 
cumprindo o papel não de punir mas de orientar os profissionais de enfermagem no exercício 
de suas atividades, a CEE deve fazer o seguimento do profissional que incorreu em uma falta 
acompanhando seu processo educativo e observando sua atitude profissional e o desempenho 
das ações de enfermagem.
Por isso, ao trabalhar uma ocorrência ética, os membros da CEE precisam envolver a gerên­
cia do serviço de enfermagem, o serviço de educação continuada da instituição e as unidades de 
en ermagem, a fim de envidar esforços conjuntos comprometendo todos no propósito de educar 
e prevenir outras ocorrências. A CEE poderá orientar os profissionais de enfermagem envolvidos 
nas ocorrências de erros de medicação a procurar se aprimorar em cálculos de dosagens, vias de 
admimstraçao, diluição, velocidade de infusão, assepsia e outros cuidados. Essa orientação seria 
inexequível se não houvesse parceria da CEE com o setor de Educação Continuada.
O estudo de Freitas10 revelou, também, algumas reciprocidades de perspectivas nos discursos 
de enfermeiros, membros da CEE e de enfermeiros-gerentes, sujeitos do estudo, em relação aos 
seus projetos de ação nas ocorrências éticas. Desse modo, o sigilo ético foi apontado como uma 
expectativa do enfermeiro-gerente em relação aos membros da CEE. O enfermeiro-chefe ou 
gerente espera que os membros da CEE observem o sigilo em relação ao profissional envolvido 
na ocorrência etica, ao setor ou unidade onde se deu a ocorrência e aos fatos relatados, evitando 
enegrir a imagem do profissional. Por outro lado, os enfermeiros membros da Comissão de Ética 
têm a expectativa de que os enfermeiros-chefes ou gerentes sejam capazes de discernir quando, 
como e o que encaminhar para apreciação da CEE, agindo de uma maneira igualitária em rela- 
Ça° a t ° dos os profissionais envolvidos nessas ocorrências. Além da reciprocidade de expectati­
vas, podemos perceber que a preocupação dos enfermeiros - participantes do estudo - retratava 
a premente necessidade de se tratar com isonomia e sigilo todos os profissionais envolvidos nas 
ocorrências eticas. Essa postura de respeito ao profissional ajudará a desmistificar o medo em 
relaçao a esse encaminhamento, aumentando a chance de sucesso das medidas propostas para 
prevenir futuras ocorrências e diminuindo a omissão de registro e encaminhamento das situações 
para as devidas providências junto à CEE.
CAMINHOS PARA ATUAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA 
DE ENFERMAGEM
As atividades da CEE não se limitam às ocorrências éticas ou a eventos prejudiciais acarre­
tados ao cliente/consumidor dos serviços de enfermagem ou ao colega de trabalho. O papel da
C o m is s ã o d e É t ic a d e E n f e r m a g e m e m In s t it u iç õ e s d e Sa ú d e 1 1 3
CEE nessas ocorrências é de grande importância para assegurar uma assistência de enfermagem 
segura, ou seja, isenta de riscos ou danos à clientela assistida. Nessa perpectiva, faz-se necessária 
a participação efetiva do enfermeiro no gerenciamento das situações que envolvem as ocorrên­
cias eticas nas instituições de saúde. Para isso é imprescindível